terça-feira, 20 de outubro de 2015

VELHO TESTAMENTO

Gênesis                                                                       
Êxodo
Levítico
Números                                                                  
Deuteronômio                                                        
Josué                                                                      
Juízes
Rute                                                                        
I Samuel                                                                
II Samuel                                                              
I Reis                                                
II Reis                                            
I e II Crônicas – com textos incluídos em Samuel e Reis.
Esdras                                                                    
Neemias                                                                
Ester                                                                      
Jó                                                                          
Salmos                                            
Provérbios                                                              
Eclesiastes                                                              
Cantares                                                                
Isaías
Jeremias                                  
Lamentações de Jeremias                                      
Ezequiel                                                                  
Daniel                                                                    
Oseias                                                                    
Joel                                                                          
Amós                                                                      
Obadias                                                              
Jonas                                                                      
Miqueias                                                                
Naum                                                                    
Habacuque                                                            
Sofonias                                                                
Ageu                                                                      
Zacarias                                                              
Malaquias                                                                

Gênesis 1 a 3

Gênesis 1

O Primeiro Dia da Criação (Gên 1.1-5)

“1 No princípio, criou Deus os céus e a terra.
“2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
4 Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
5 E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.”

No princípio Deus criou, no hebraico, bará, que significa criar a partir do nada, todo o universo, sem nenhuma matéria existente anterior e nenhuma energia existente anterior.
No verso 2 nós temos a afirmação de que a terra era sem forma e vazia.
No hebraico, a palavra para  “sem forma” é “tohu”, que significa desértico.
E para vazio a palavra é  “bohu”, que significa  “um vazio sem utilidade”, isto é, algo que não pode ser utilizado na forma em que se encontra.
E a palavra para abismo, é tehom, indicando as profundezas das águas por sobre as quais o Espírito Santo pairava no início da criação.
O Espírito estava pronto e preparado para gerar todas as coisas que seriam chamadas à existência pela palavra de ordem de Deus.
Vemos no ato de Deus ter feito separação entre luz e trevas (v. 4), entre águas e águas (1.6) para criar o firmamento no meio das águas que estavam envolvendo toda a terra, e a que estava acima da terra, o seu poder para separar-nos do mundo para Ele, das trevas do pecado para a luz de Cristo, e formar no final de tudo, a partir de um vazio e de um nada um lindo jardim no nosso coração para que o Espírito habite nele eternamente; assim, como do vazio da terra fez no final um lindo jardim para a habitação do homem que criou.
A citação no verso 4 de que “viu Deus que a luz era boa” indica claramente pela ausência da mesma citação para as trevas, que onde não haja uma ação de Deus criando luz, a condição natural é de trevas.
A bondade incomparável de Deus demanda que tudo o que Ele cria, tudo que é fruto da sua ação, seja bom.
É importante lembrar que quando Deus criou a luz no primeiro dia o sol não havia sido ainda criado,  pois somente o seria no quarto dia.
E já há uma referência a tarde e manhã, sem a existência do sol.
Antes de criar o corpo celeste que iluminaria a terra (o sol), e que viria a ser a fonte permanente de luz sobre a terra, Deus criou a luz.



O Segundo Dia da Criação (Gên 1:6-8)


“6 E disse Deus: haja um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
7 Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento. E assim foi.
8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.” (Gên 1.6-8).

Deus disse no verso 6, que houvesse uma expansão (firmamento) no meio das águas, e isto significa abrir um espaço entre as águas, para formar os céus, e fez isto separando as águas das águas.
E Deus fez a expansão e separação das águas que estavam debaixo do firmamento, das águas que estavam sobre o firmamento.
Assim o que é dito aqui é que Deus criou os céus, como se conclui no verso 8.
Não havia nenhum céu envolvendo a terra antes do segundo dia.
Esta é a primeira verdade nesta revelação. Uma segunda, é que a água foi o elemento básico na criação, pois em II Pe 3. 5, se afirma que a terra surgiu da água e através da água pela palavra de Deus.
E realmente a água é o elemento básico sustentador da vida do mundo físico.
Agora a palavra "expansão, ou firmamento" é a palavra râqiya,  que no hebraico, significa expansão. Significa esparramar para fora.
E aqui é dito que o espaço está sendo ampliado. Isto pode ser mais do que uma citação à atmosfera que envolve a terra, pois pode incluir também a idéia da formação do espaço onde seriam colocados todos os astros do universo no quarto dia da criação, inclusive o sol e a lua.
Pelo relato bíblico, a terra seria portanto o centro do universo, o centro da concentração das atenções de Deus, especialmente em razão do propósito por Ele fixado de criar o homem para habitá-la.
“Porque assim diz o Senhor que criou os céus, o único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a fez para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro.” (Is 45.18).    
O verso 8 conclui a breve narrativa do segundo dia da criação, afirmando que Deus chamou ao firmamento que criou de céus. Certamente é uma referência ao universo e não ao terceiro céu que é a habitação de Deus e dos anjos, dos serafins, dos querubins, dos santos que partiram para a sua morada celestial.




O Terceiro Dia da Criação  (Gên 1:9-13)


“9 E disse Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi.
10 Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao ajuntamento das águas mares. E viu Deus que isso era bom.
11 E disse Deus: Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, dêem fruto que tenha em si a sua semente, sobre a terra. E assim foi.
12 A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo as suas espécies, e árvores que davam fruto que tinha em si a sua semente, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.
13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.”

A terra ainda estava despovoada, inabitável e não em sua forma final até o terceiro dia da criação.
Até agora nós tínhamos uma terra informe, totalmente envolvida pelas águas. Havia a luz e a vastidão de um universo que havia sido criado no dia anterior (segundo dia). E nós chegamos ao terceiro dia no verso 9. "Então Deus disse:” “Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca.”. E assim se fez. A porção seca chamou Terra, e ao ajuntamento das águas, Mares. E então, no terceiro dia, Deus começou a amoldar e a povoar a terra.
As águas se moviam enquanto se juntavam ao redor dos continentes que estavam sendo formados, para dar origem aos mares.
A expressão “segundo a sua espécie”, no verso 12, relativa à reprodução, é repetida dez vezes no primeiro capítulo de Gênesis.
A palavra hebraica para "tipo" é “min”, que indica a limitação de variação.
Uma planta só pode produzir algo de seu próprio tipo.
Uma árvore só pode produzir algo de seu próprio tipo.
Isto põe por terra qualquer teoria relativa à possibilidade de evolução de uma espécie inferior para outra espécie superior.



O Quarto Dia da Criação (Gên 1:14-19)


“14 E disse Deus: haja luminares no firmamento do céu, para fazerem separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para estações, e para dias e anos;
15 e sirvam de luminares no firmamento do céu, para alumiar a terra. E assim foi.
16 Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; fez também as estrelas.
17 E Deus os pôs no firmamento do céu para alumiar a terra,
18 para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.
19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.”

O nosso texto de Gênesis 1:14-19, descreve a criação de todos os luminares, os corpos estelares que ocupam o espaço infinito ao redor de nós.  
Nestes versos 14 a 19 do primeiro capítulo  é afirmado de modo simples e direto que foi Deus quem fez todos os corpos celestes.
Quando A Bíblia diz que Deus fez as estrelas juntamente com o sol e a lua, está afirmando algo sobre o Seu imenso poder.
Aquela pequena declaração simples para algo tão imenso e complexo, como é o universo, e tudo o que ele contém, mostra que não há nada maravilhoso demais para aquele que é a verdadeira maravilha, o próprio Senhor.
As estrelas no céu dão testemunho da santidade e do poder de Deus. São imensas fogueiras queimando no universo, com diversos níveis de luminosidade e calor. Elas servem para nos trazer à lembrança que o nosso Deus é um fogo consumidor (Hb 12.29).
São bilhões e bilhões de estrelas queimando continuamente no universo como vários altares acesos para celebrarem a santidade do Altíssimo, do nosso amado Senhor. Como não seríamos convencidos da necessidade da santidade para habitarmos com um Deus que é Ele próprio um fogo consumidor e purificador?
Os raios de luz de todas estas estrelas atravessam o universo em todas as direções, por causa da forma esférica de todas elas, e a velocidade que Deus deu à luz é uma velocidade espantosa, muitas vezes maior do que a do som. Na verdade, é a maior velocidade que existe no universo. A velocidade da luz é de aproximadamente 300 mil km/s, e a do som é de 340 m/s.
Uma outra função para os astros colocados por Deus no universo, além de iluminarem e fazerem separação entre o dia e a noite, foi a de servirem para sinais, para estações, para dias e anos (Gên 1.14).
Assim, com a criação do sol, da lua e das estrelas, Deus criaria um dia de 24 horas, que inclui um período diurno e outro noturno.
Cada dia seria marcado por um amanhecer e por um anoitecer.
O verbo usado no verso 14 para “fazerem”, no hebraico, é hayvom, que significa “para servir”. Deus deu estes corpos luminosos para servirem. Para servirem de “sinais”, otth, no  hebraico, que tem usualmente a conotação normal de um sinal para os habitantes da terra.
E quais foram estes sinais? Eles são descritos no texto. Seriam sinais que apontariam as estações, os dias e os anos. Então não foi o homem quem inventou o calendário.
Foi o próprio Deus que determinou um meio para marcar o tempo do homem na terra.
E as estações seriam os sinais maiores para a marcação deste tempo, pelas suas características bem distintivas, nos períodos do outono, inverno, primavera e verão.
E o sol é um determinador de anos porque leva um ano inteiro para a terra completar uma volta em torno do sol. Assim são os corpos celestiais que nos ditam quando nós devemos trabalhar e quando nós devemos descansar, quando nós estamos acordados e quando nós dormimos.
Como em todos os dias da criação, a conclusão dos atos criativos de Deus é feita com a citação: “Houve tarde e manhã”, e na seqüência é citado o dia respectivo da tarde e manhã que houve naquele dia, aqui em Gên 1.19, o quarto dia, em que Deus criou todos os astros que existem no universo, com exceção da terra, que havia sido criada no primeiro dia. É importante ver que até mesmo o satélite da terra, que é a lua, foi também criada neste quarto dia, lançando-se por terra a teoria que afirma que ela teria sido formada por desprendimento de materiais que saíram da terra.




Quinto Dia da Criação (Gên 1:20-23)


“20 E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra no firmamento do céu.
21 Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres viventes que se arrastavam, os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa, segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.
22 Então Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as águas dos mares; e multipliquem-se as aves sobre a terra.
23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.” (Gên 1.20-23).

Até o quinto dia não havia sido criado um só ser do reino animal. Como vimos antes, o reino vegetal havia sido criado no terceiro dia, e agora, no quinto dia, Deus começa a criar tudo do reino animal, com exceção dos mamíferos e répteis terrestres, incluindo aqui os insetos e outras formas de vida, que citaremos na parte relativa à criação do sexto dia, dia em que foi criado também o homem, como o último ato da criação de Deus.
Quando Deus formou os vegetais no terceiro dia, Ele não usou a palavra hebraica nephesh, traduzida por “alma”, e a palavra raiâh,  “vivente”, em Gên 2.7. As árvores são seres vivos, mas não estão dotadas desta percepção do ambiente em que vivem e nem podem se mover como os animais.
Por isso as mesmas palavras hebraicas citadas anteriormente são usadas também em Gên 1.21 para designar a criação dos “seres viventes” (animais) no quinto dia da criação, bem como em Gên 1.24 para a criação dos demais animais no sexto dia.
Apesar destes animais demonstrarem que são formas de vida inteligente, e dotados, muitos deles dos mesmos órgãos que compõem o corpo humano, no entanto há uma imensa distinção entre o homem e qualquer um deles, porque o homem está dotado de um espírito que lhe permite comunicar-se com Deus, e adquirir as virtudes morais de Deus, e tem várias faculdades em seu espírito como a da vontade e direção própria.
O homem tem também a capacidade de se auto conhecer e tem um destino eterno, em razão de ter um espírito.
O verso 21 começa com “Criou pois Deus”. Estes animais são seres criados. E a palavra usada aqui no hebraico é bará, a palavra para criar.
E os criou com a capacidade de se reproduzirem, e isto não é algo natural, mas um milagre, a demonstração prática da existência do poder de Deus, que foi colocado em todos os seres fecundos da criação, exatamente para darem este testemunho silencioso de que há um Criador que planejou todas as coisas e as chama à existência pelo Seu poder.


O Sexto Dia da Criação (Gên 1.24-31)

“24 E disse Deus: Produza a terra seres viventes segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis, e animais selvagens segundo as suas espécies. E assim foi.
25 Deus, pois, fez os animais selvagens segundo as suas espécies, e os animais domésticos segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.
26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.
27 Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
28 Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.
29 Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento.
30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todo ser vivente que se arrasta sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento. E assim foi.
31 E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto.”

Até agora nós estudamos os cinco primeiros dias da criação. Os primeiros cinco dias estavam realmente equipando a casa na qual o homem moraria. O homem é o governante da terra. O homem é o pináculo da criação de Deus, criado à Sua imagem. Assim, por ser o homem diferente de tudo o mais na criação, por ser a coroa da criação, a sua casa foi preparada e receberia o toque final no sexto dia com a criação dos animais que vivem sobre a terra seca, antes que o homem fosse finalmente criado.
E no sexto dia, como já dissemos antes, houve este último retoque na criação, antes de ser formado o homem. No começo do sexto dia foi necessário criar as criaturas da terra que são identificadas nos versos 24 e 25 em três categorias: animais domésticos, répteis e animais selvagens. Este foi o toque final de Deus para preparar a casa na qual o homem moraria.
O homem era o objeto. O homem era o assunto principal aqui. Era a criação do homem com o propósito remissório que Deus realmente tinha em mente. Tudo perecerá no universo. Tudo sairá da existência no universo. As estrelas cairão, de acordo com o livro de Apocalipse; e o sol e a lua acabarão. O universo inteiro será enrolado como um rolo de papel. A criação inteira derreterá com calor abrasador. E tudo sairá de existência. Mas não o homem.
O homem é pois o personagem principal, e o desdobramento completo da criação é um teatro no qual a grande saga remissória possa ser terminada com Deus buscando uma noiva para o Seu Filho, como Deus busca demonstrar a Sua graça e misericórdia e compaixão e poder de salvação, tanto para os homens, como para os anjos.
Em Gên 1.30 vemos Deus dizendo que os animais foram criados  para servirem de mantimento para o homem. Ora, está implícito aqui que além de se alimentar do leite e dos ovos de alguns deles, ele também se alimentaria deles.
Nos versos 26 e 27 lemos: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”.
Aqui está o ápice da criação que é a razão de tudo o mais que foi criado. Não foi o homem que foi criado para o boi, mas o boi para o homem. E é neste mesmo sentido que Jesus disse aos fariseus legalistas que davam mais importância ao sábado do que ao homem, que foi o sábado que foi criado para o homem, e não o homem para o sábado.
E o domínio do homem sobre a criação foi declarado e determinado por Deus.
Quanto à criação do homem há um ponto distintivo quanto ao modo usado na palavra de ordem divina. Para as demais coisas temos um haja, um produza, um povoe, mas aqui temos um façamos. Façamos o homem à nossa imagem.
E o homem não foi criado para pertencer a si mesmo, mas foi dado pelo Pai ao Filho. Como lemos em Col 1.16 que tudo foi feito por meio de Jesus e para ele.
E esta vida espiritual do céu não foi recebida pelo homem quando se diz em Gên 2.7 que Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente, porque o que se diz aqui é uma referência ao dom da respiração, o mesmo que foi dado aos animais como se depreende de Gên 7.22: “Tudo o que tinha fôlego de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu.”.
Quem determina a capacidade para receber esta vida do céu não é esta referência ao fôlego de vida porque os animais também o receberam e não têm tal capacidade; mas o que nos dá tal capacidade é o fato de termos sido criados à imagem conforme a semelhança de Deus.
Em Gên 1.27 se afirma: “Criou pois o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”. A humanidade é portanto composta de homens e mulheres. E Deus instituiu o casamento conforme está expresso na citação à unidade do casal constante de Gên 2.23,24.
Assim, para o casamento do homem com a mulher Deus previu um propósito mais elevado do que a simples reprodução, pois o casamento serviria de sinal para a união que há entre Cristo e a igreja.
E dentre as coisas reveladas acerca da criação do homem, além da responsabilidade que ele recebeu de dar nomes a todas as criaturas, foi-lhe também dada a incumbência de cultivar e guardar o jardim do Éden (Gên 2.15).
Havia um trabalho que lhe foi designado. Não havia ainda suor do rosto e canseira porque não havia pecado.
E no jardim que Deus plantou para o homem fez brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista  e boa para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gên 2.9). E estas duas árvores foram destacadas como árvores sem igual, e sobre as quais Deus havia determinado propósitos e ordens específicas para o homem.  
E depois de ordenar ao homem que cultivasse e guardasse o jardim, Deus “lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gên 2.16,17). Isto foi uma advertência.
Assim a responsabilidade do homem era aprender sobre a criação e glorificar a Deus pelas suas maravilhas e então classificar e moldar a criação de forma que isto fosse em todos os sentidos para a honra e glória do Criador. Agora se lembre, que não havia nenhum temor e não havia morte.
E apesar de ter sido grandemente afetado pela queda ao pecado, e com isto, pela morte, nós vivemos ainda num mundo que foi projetado por Deus para manifestar a Sua glória. E isto é ensinado expressamente em vários lugares da Bíblia.



O Descanso de Deus Relativo à Criação (Gên 2.1-3)
   
 
“1 Assim foram acabados os céus e a terra, com todo o seu exército.
2 Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que fizera.
3 Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera.”

O sétimo dia é muito importante porque é em relação a ele que é usada pela primeira vez a palavra "santo" na Escritura.
A palavra hebraica "kedesh",  traduzida "santificado" no verso 3, é a palavra "santo".
A raiz "kedesh", significa ser cortado ou separado. E santidade, é portanto elevação ou exaltação sobre o nível habitual.
Assim o sétimo dia é um dia especial. É um dia separado.
É um dia cortado dos outros porque seguiu imediatamente à conclusão de todas as coisas criadas nos seis dias anteriores a ele.
É um dia exaltado, porque Deus abençoou e santificou este dia, isto é, Ele declarou que este dia deve ser santo.
Este dia é um dia especial para Deus, porque a partir dele se cumpriu o Seu decreto fixado na eternidade, e indicava a condição de descanso eterno pretendida por Deus para Ele e suas criaturas, especialmente o homem que criara.
O sétimo dia é dia de descanso, não no sentido de repor a energia perdida, mas no sentido de não trabalhar, de não se ocupar o homem com coisas que sejam do seu interesse, mas com as que são de Deus, em comunhão com Ele.



Detalhes sobre a Criação do Homem (Gên 2.4-7)

“4 Eis as origens dos céus e da terra, quando foram criados. No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus
5 não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra.
6 Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra.
7 E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” (Gên 2.4-7).

Esta porção da Escritura é um desdobramento da narrativa referente à criação do homem no sexto dia, conforme registro de Gên 1.26-30, em que se diz que Deus criou o homem à sua imagem conforme a sua semelhança para ter domínio sobre a terra e tudo o que há na terra.
A partir deste segundo capitulo de Gênesis a revelação irá se concentrar no desvendamento da história da redenção.
Gênesis foi escrito por Moisés, a mando de Deus, para este propósito. Para revelar a história da redenção do homem que se extraviou por causa do pecado.
Tanto é assim, que a narrativa da criação foi condensada em poucas palavras, comparativamente a tudo o mais que é relatado em Gênesis.
E assim, Gênesis 2.4 é introduzido com uma nota explicativa de que a partir dali seria informada a gênese dos céus e da terra quando foram criados. Ora, a palavra para “gênese” no hebraico, é “toledoth”, que significa gerações.
A primeira geração do gênero humano foi a de Adão e Eva, e será a primeira a ser portanto apresentada em ordem.
O livro de Gênesis dará o registro de outras gerações, como a genealogia de Caim, de Adão, de Sem, filho de Noé etc.
Por isso Gênesis 2.4, literalmente no hebraico é introduzido por: “Estas são as gerações”.
Os versos 5 e 6 nos apresentam o cenário em que o homem foi criado. E no verso 5 é dito o seguinte: “Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.”.
O que parece estar sendo dito aqui é que antes da criação do homem não havia nenhuma “planta do campo”, ou “erva do campo” sobre a terra, porque não haviam ainda brotado.
E o autor sagrado não estava se referindo às condições existentes antes do terceiro dia, quando não havia realmente nenhuma planta sobre a terra porque o reino vegetal foi formado no terceiro dia da criação.
Ora, mas sabemos que depois do sexto dia havia a condição de se cultivar as plantas  do campo porque o homem havia sido criado. Então a condição de não terem brotado ainda foi provavelmente por falta da chuva? Foi isto, mais muito mais do que isto. Estas plantas ou ervas que são cultiváveis e dependentes de se lavrar o solo pelo homem, são em sua grande maioria dependentes de períodos de chuva intercalados com períodos de estiagem.
Estas plantas agrícolas dependem das condições de umidade do solo que lhes são propícias para o seu desenvolvimento, e é por isso que são cultivadas pelo homem nas épocas mais favoráveis conforme o conhecimento que adquiriu sobre as exigências de cada tipo de cultura.
E assim, é imprescindível que o solo seja lavrado pelo homem para o cultivo de verduras, legumes e grãos.
Mas o  homem não necessitava lavrar o solo quando estava sem pecado no Éden.
Isto foi uma das conseqüênc
ias da queda no pecado, como se vê em Gên 3.23: “O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado.”.
A terra da qual o homem fora formado por Deus e que garantiria o suprimento de alimentos para ele de forma contínua e espontânea, sem exigir cuidados da parte do homem no que tange à sua fertilização e manejo, dependeria agora, depois do pecado, de que o homem a trabalhasse para poder obter o seu alimento.
A terra como que não se mostraria mais completamente favorável ao homem, pois, seria como que se recusasse a lhe fornecer o necessário para a sua subsistência, e por causa da maldição que foi trazida sobre ela, em razão do pecado, tudo o que o homem tirasse dela para a sua provisão contínua, deveria ser agora, resultante do seu próprio esforço, lavrando o solo em face das exigências de tais culturas e combatendo pragas, doenças  e ervas daninhas, no trabalho que deveria fazer em relação ao manejo do solo e trato das culturas.
Então, não há dúvida que a produção de safras agrícolas seria dependente daquilo que Gênesis chama de planta ou erva do campo cuja produção exige que a terra seja lavrada pelo homem, e isto só passou a acontecer depois da queda no pecado, pois se diz em Gênesis 3.17 que por causa do pecado a terra foi amaldiçoada e por isso a condição inteiramente abençoada que ela apresentava anteriormente seria conturbada pela maldição, uma vez que o sustento que o homem obteria dela durante todos os dias de sua vida seria em fadigas, e a razão disto é que a terra passaria a produzir cardos e abrolhos (ervas daninhas) que são concorrentes de nutrientes com a erva do campo da qual o homem se alimentaria.
A expressão hebraica para erva do campo em Gên 3.18 é a mesma usada em Gên 2.5. Há portanto uma relação entre a queda e o fato de o homem ter que começar a lavrar o solo para cultivar as plantas agrícolas, pois estas plantas foram criadas por Deus com esta característica de serem dependentes de serem cultivadas pelo homem, pois de outra forma não podem ser produzidas em abundância.
Em Gên 2.5, a palavra para arbusto (erva), em hebraico, é “siach",  e a palavra para planta é "êseb".  É citado planta do campo ou erva do campo, porque, como vimos, a referência aqui é àqueles vegetais que são cultivados em campos agrícolas.
Isto é um sinal da parte de Deus nem tanto para castigar o homem por causa do pecado, mas para lembrar-lhe que não está mais num mundo perfeito como era antes da queda no pecado.
De fato não é tarefa fácil a de produzir alimentos, porque são inúmeros os inimigos da alimentação do homem, e deste modo, são também, indiretamente, do próprio homem, porque depende destes alimentos para a sua subsistência.
Agora, quando Gên 2.5 fala de planta e erva do campo, a referência é principalmente às centenas de espécies de leguminosas, verduras e cereais apropriados para a alimentação humana e também do gado.
E está registrado em Gên 2.5 que não havia tal produção agrícola antes da queda porque Deus não havia ainda feito chover sobre a terra, e porque não havia homem para lavrar o solo. Como vimos, a chuva veio como conseqüência da entrada do pecado no mundo, e é maravilhoso o fato de que realmente a produção dos campos agrícolas é dependente da regularidade das chuvas.
Gên 2.6 diz o seguinte:”Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.”. Isto significa que a condição perfeita para a terra seria esta que havia sobre toda a superfície do globo.
Um suprimento perfeito de água subterrânea garantido pelo poder de Deus. Veja que a referência não é a orvalho, mas a uma quantidade adequada de umidade que provinha do interior da terra e que regava a superfície. Por isso é usada a palavra neblina, mas não no sentido de que entendemos esta palavra.
A idéia do autor sagrado era a de mostrar que não havia erosão de solos por águas pluviais, e nem a irregularidade da precipitação de chuvas, em razão da maldição da terra por causa do pecado, mas uma como que cortina suave de águas que garantiam a rega adequada da superfície do solo.
No hebraico, a palavra para “neblina” é  “ed”,  que significa uma fonte, e literalmente é “águas do fundo”, que aforam à superfície do solo.
E assim é descrita a criação do homem no verso 7: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.”. E nós sabemos que Deus criou o homem à sua própria imagem conforme é dito em Gên 1.26. E aqui se diz como ele fez isto. Ele formou o homem do pó.
Quanto ao corpo do homem que foi formado da terra, é fascinante o fato de que muitos dos elementos químicos básicos que compõem as rochas e os solos, estão também presentes na estrutura física do corpo humano, e são necessários para alimentar o corpo, mantendo-o em vida (fósforo, nitrogênio, potássio, cálcio, oxigênio, ferro, magnésio, boro, carbono etc).
Depois de ter formado o corpo do homem do pó da terra, Deus lhe soprou nas narinas o fôlego de vida e o homem passou a ser alma vivente (Gên 2.7).
O fôlego de vida veio de Deus tanto para o homem quanto para os animais (Gên 7.21,22).
Assim Deus assoprou vida literalmente em tudo que vive; tudo o que é animado. Respiração é "ruah", no hebraico. É a mesma palavra para "vento." A mesma palavra para "espírito.".
E não é esta a palavra usada em Gên 2.7 quando se fala em fôlego de vida, e em alma vivente, e como já estudamos anteriormente, nós vimos que a palavra "nephesh", em hebraico, para alma, em Gên 2.7, é tanto usada para se referir à vida animada do homem quanto à de todos os demais seres vivos, excetuando-se os vegetais.
 E já estudamos também que o que identifica o homem como diferente de tudo o mais na criação é a imagem e semelhança com Deus citada em Gên 1.26.





O Homem no Jardim do Éden  (Gênesis 2.8-17)


“8 Então plantou o Senhor Deus um jardim, da banda do oriente, no Éden; e pôs ali o homem que tinha formado.
9 E o Senhor Deus fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
10 E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços.
11 O nome do primeiro é Pisom: este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro;
12 e o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio, e a pedra de berilo.
13 O nome do segundo rio é Giom: este é o que rodeia toda a terra de Cuche.
14 O nome do terceiro rio é Tigre: este é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto rio é o Eufrates.
15 Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar.
16 Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente;
17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”

A partir do segundo capítulo, o autor se concentra em detalhar a criação do homem.
Isto porque o propósito da revelação feita por Deus não é o de narrar a história de qualquer outro assunto, senão a história da redenção do homem.
O propósito é o de narrar a redenção, porque quando Moisés começou a registrar a revelação escrita conforme lhe fora ordenado por Deus, o pecado já estava no mundo há muito tempo, e Deus já havia chamado Abraão para começar a partir dele, a formação de Israel, e mais do que isto, fez promessas específicas ao patriarca relativas à salvação de pessoas em todas as nações, por meio da união com o seu descendente (de Abraão) que é Cristo.
O assunto é o da redenção do homem que havia caído no pecado, e que sujeitou toda a raça humana à condenação eterna, porque aquela comunhão e conhecimento de Deus que o homem tinha no princípio, foi perdido por causa do pecado.
Deus revelou então através de Moisés como foi que isto aconteceu, e quais as providências que Ele havia tomado para livrar o homem desta condição de estar espiritualmente adormecido, morto, e impossibilitado, por natureza, de conhecer o seu criador.
Nós vimos anteriormente que Deus havia colocado uma restrição para o homem quanto o uso que deveria fazer dos frutos das árvores do jardim, proibindo-lhe o acesso a apenas um tipo de fruto.
Então apesar de ter sido criado para dominar sobre todas as coisas da terra, o homem deveria fazê-lo dentro dos limites e restrições impostos por Deus.
Assim, todo o planeta terra estava sob o domínio do homem, mas ele precisava de uma casa. E ao plantar um jardim para o homem, Deus foi o primeiro jardineiro.
No princípio, a terra inteira era "boa", a terra inteira era "muito boa", mas Deus fez uma casa especial para o homem.
Com isto queria mostrar que o homem foi criado para receber dEle bênçãos sobre bênçãos.
Que o propósito da criação do homem, foi para que vivesse sem pecado, sendo continuamente abençoado pelo cuidado de Deus.
Podemos chamar isto de bênção dentro da bênção.
A terra e tudo o mais que foi criado era uma perfeição e uma bênção para o homem, mas Deus avançou no seu cuidado em relação ao homem, dando-lhe um jardim com tudo o que era agradável à vista e bom para alimento. E mesmo ao homem caído no pecado Deus revelou até onde vai a extensão do seu amor por ele, dando o Seu próprio Filho para morrer no lugar do pecador, de maneira que este agora redimido do pecado, possa receber graça sobre graça (Jo 1.16), em que está incluída esta condição de receber bênção sobre bênção.
Quem duvidará da intenção de bondade de Deus para com o homem, à vista destas coisas?
A palavra hebraica Éden, significa prazer, delícia.
Um jardim fala de alegria, beleza, prazer, descanso e tudo o mais que é agradável.
E Deus compartilhava isto com o homem antes da queda no pecado.
Quando Moisés escreve que o jardim estava ao leste, podemos entender disto que estava ao leste de Israel.
E de fato a descrição relativa à localização do jardim afirma que havia um rio que regava o Éden, e que saindo dele se repartia em quatro braços, chamados de Pisom, Giom, Tigre e Eufrates, sendo, que é dito que o Tigre corria pelo oriente da Assíria.
A bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates, corre no sentido noroeste a sudeste, desembocando no Golfo Pérsico.
O rio Tigre fica localizado à leste do Eufrates.
E a capital da Assíria, Nínive, ficava junto e à leste do rio Tigre.
A nascente destes rios fica atualmente nos montes da Armênia, próximo ao Monte Arará.
O dilúvio deve ter alterado em muito o curso destes rios, bem como as alterações topográficas havidas ao longo dos anos, uma vez que se afirma que tanto eles quanto os rios Pisom e Giom, eram quatro braços que se dividiam a partir do grande rio que cortava o jardim do Éden.
Então, provavelmente, o Éden ficava num território ao norte das terras de Havilá, rodeada pelo rio Pisom (Gên 2.11); da terra de Cuxe, circundada pelo rio Giom (Gên 2.13), e da Assíria, que era banhada pelo rio Tigre.
O local exato onde estava o jardim não é relevante, mas o fato de ser um lugar real sobre a terra conforme as descrições relativas à sua localização, que são feitas na Palavra, e que tinha dimensões imensas, já que era do rio que o cortava que procediam estes quatro grandes rios citados na Palavra de Deus.
Como informações adicionais podemos dizer que Cuxe era um dos filhos de Cão, filho de Noé, e pai de Ninrode (Gên 10.6-12), que edificou a cidade de Nínive na Assíria (Gên 10.11).
E Havilá, que passou a ser o nome de uma cidade, rodeada pelo rio Pisom, era também um outro filho de Cuxe, além de Ninrode (Gên 10.7).
Cuxe era neto de Noé, e Ninrode e Havilá, bisnetos de Noé, pois ambos eram filhos de Cuxe.
Vemos com isso que o autor de Gênesis usou nomes de pessoas e de  lugares para o jardim do Éden, numa perspectiva pós-diluviana, pois não é dito qual era o nome destes rios nos dias de Adão, e devemos considerar que as cidades e nações que são citadas (Cuxe, Havilá, Assíria), não existiam, e foram fundadas depois do dilúvio pelos descendentes de Noé.
A própria Bíblia registra sobre Havilá que era um dos termos dos ismaelitas, e que ficava ao norte de Sur, cidade fronteiriça ao Egito (Gên 25.18), e que veio a ser ocupada nos dias de Saul pelos amalequitas (I Sm 15.7).
Como Cuxe e Havilá ocupavam o território da Arábia, estas cidades estavam portanto localizadas à sudoeste do Tigre e Eufrates.
Então os rios Giom e Pisom corriam no extremo oposto ao Tigre e Eufrates, próximo ao território de Canaã, e dirigindo-se em direção ao Egito, desembocando provavelmente no Mar Vermelho.  
Há uma importante lição que é dada na revelação de ter Deus formado um jardim para a habitação do homem, porque isto mostra que é Deus quem designa o local de habitação eterna do homem.
É Ele quem prepara as muitas moradas onde o homem deve residir em comunhão com Ele.
A terra toda fora dada ao homem, mas o local onde o homem deveria habitar foi designado e preparado por Deus.
Isto nos lembra também que somos portanto peregrinos e forasteiros neste mundo, porque ainda não se manifestou o lugar da nossa habitação eterna. Mas ele será tanto ou mais magnífico do que o próprio jardim do Éden.
A perfeição e beleza exterior do Éden, falavam da perfeição e beleza interior de Deus e do seu caráter, também refinado, sensível, estético, uma vez que Ele escolheu as espécies de árvores e minerais mais preciosos e belos para formar o jardim.
E somente o homem poderia reconhecer a grandeza, a majestade, a bondade, a perfeição, o amor e os demais atributos divinos, e responder a isto Lhe devolvendo o cuidado e atenção recebidos na forma de comunhão, gratidão, amor e louvor.
O Éden passou, e toda glória terrena passará, mas o Senhor não muda, a Sua glória não murcha, e o Seu amor e bondade são eternos.
Assim, a criação do homem revela em todos os sentidos a glória de Deus, quer ao ter recebido dEle um magnífico jardim como local de habitação, quer pela expressão da Sua graça, justiça e misericórdia ao salvar pecadores por meio da oferta que fez para cobrir os pecados: o corpo do Seu próprio Filho, que foi dado por nós, em Sua morte na cruz.
E é por meio de Jesus que aquela condição inicial, antes do pecado, está sendo restaurada.
É Ele quem tira o pecado do homem, para que o homem possa ser reconciliado em santidade com Deus.
É por isso que havia no meio do jardim duas árvores especiais e diferentes das demais.
Uma era a árvore da vida (que representava a vida de Jesus em nos), e a outra árvore era a chamada árvore do conhecimento do bem e do mal (que representava a tentativa do homem de viver independentemente de Deus).(Gên 2.9)
O fruto da árvore da vida tinha uma propriedade sobrenatural de dar vida eterna àquele que o comesse.
Entretanto, o pecado é um impedimento para que se tenha vida eterna, uma vez que o homem foi expulso do jardim para que não comesse do fruto da árvore da vida.
Alguns afirmam que se ele o tivesse comido, ficaria sujeito para sempre ao estado de pecado eterno, sem possibilidade de salvação, mas entendemos que a mensagem que nos é passada pela expulsão do homem do Éden para que não lançasse mão do fruto da árvore da vida, é a de que pecado e vida eterna são coisas incompatíveis, porque o salário do pecado, isto é a sua paga, a sua conseqüência, é a morte, e não a vida.
Por isso temos recebido a vida eterna em Cristo Jesus por meio do arrependimento e do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que removerá pela santificação, inteiramente o pecado de nossa natureza, quando estivermos na glória.
E havia outra árvore especial no jardim, a árvore do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto foi vedado por Deus ao homem, e do qual tendo este comido, transgrediu o mandamento do Senhor, e por esta razão a criação ficou sujeitada à vaidade e à maldição.
Quanto ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal devemos dizer que esta árvore era também uma árvore real, como a árvore da vida, pois o autor bíblico não usou nenhuma linguagem figurada para se referir à mesma.
Era uma árvore que, como se diz em Gên 3.6 que a “árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento”.
Note que era uma árvore bela à vista e cujo fruto era comestível, e não venenoso.
Até mesmo porque não havia nada em tudo o que Deus havia criado nos seis dias da criação que não fosse muito bom, até que o pecado entrasse no mundo.
Não havia nenhum espinho, nenhuma praga, nenhum veneno.
Nada poderia fazer mal ao organismo do homem, porque até então, nenhum ser vivo, fosse planta ou animal, ou mesmo substância mineral, poderia fazer-lhe qualquer mal.
Estas alterações na constituição de determinados seres foram introduzidas por Deus depois da queda no pecado, em razão de a terra, o homem, a mulher, e a serpente terem sido amaldiçoados.
Assim, aquela árvore era uma prova para o homem. Ela era um teste da sua obediência.
Não que houvesse qualquer coisa na árvore que fosse tóxica.
A árvore era somente um teste.
E se o homem comesse do seu fruto, o ato de desobediência seria o mal que ele experimentaria.
E Deus o amaldiçoaria então por causa daquela desobediência, e ele morreria.
E antes do pecado, ainda que o homem não fosse um bebê, ele tinha a inocência de um bebê, pois não conhecia nem o bem, nem o mal.
Mas no dia em que comeu do fruto o homem e sua mulher perderam a inocência, e passaram a ter uma consciência objetiva do mal a partir do momento que haviam desobedecido a Deus.
E assim, o desfrutar da comunhão com Deus; a condição de habitar no maravilhoso jardim do Éden, onde tudo era perfeito e agradável, dependeria de o homem vencer as tentações do diabo, e permanecer em obediência a Deus, passando pela prova dessa obediência que consistiria em não comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
E para o homem que vence o pecado e é obediente a Deus em tudo, o lugar da sua habitação é eterno e maravilhoso, porque é isto o que Deus tem planejado para aqueles que O amam, para que possam se encantar e desfrutar todas as Suas bênçãos em perfeita comunhão com Ele.
E esta será certamente a condição de todo cristão na glória, a de perfeita obediência a Deus, conforme Ele lhes tem prometido.
E bem farão todos aqueles que se esforçarem para caminharem de modo obediente a Deus, mediante a Sua Palavra, por meio da graça do Senhor e do poder do Espírito.





Detalhes sobre a Criação da Mulher  (Gên 2.18-25)

“18 Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.
19 Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais do campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome.
20 Assim o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
21 Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar;
22 e da costela que o senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem.
23 Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.
24 Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.
25 E ambos estavam nus, o homem e sua mulher; e não se envergonhavam.”

Nós vimos no primeiro capítulo de Gênesis que Deus criou o homem à Sua imagem, e tendo feito o gênero humano, homem e mulher, ordenou-lhes que se multiplicassem e enchessem a terra (1.26-28).
Agora, o segundo capítulo vai descrever o modo e o propósito da criação da mulher (2.18-25).
Apesar de haver bilhões de pessoas na terra, todos viemos do relacionamento de um único casal (Adão e Eva), e podemos considerar que apesar de muitos, somos participantes de uma mesma família, designada por raça humana.
Deus poderia ter criado todos os homens do mesmo modo que criou os anjos. Todos ao mesmo tempo, e sem que houvesse necessidade de se reproduzirem. Mas Ele criou laços de família para que as pessoas aprendessem a compartilhar a amizade, o amor, o relacionamento, o serviço mútuo,  no seio familiar.
E os maridos amariam suas respectivas esposas como Cristo ama a igreja, e as esposas também amariam e respeitariam os seus próprios maridos.
Os filhos honrariam e obedeceriam a seus pais.
E assim, dentro na família, se aprenderia o amor, respeito, honra e obediência que são principalmente devidos a Deus.
E o amor praticado no seio familiar seria  estendido em auxílio e cooperação mútua entre as diversas famílias da terra.
E a raça humana seria um só corpo edificado no amor de Deus.
Como o pecado impediu o cumprimento deste propósito com todas as famílias da terra, porque não são poucos os que resistem à Sua vontade e ao que planejou para a humanidade, Deus está formando uma grande família com pessoas de todas as tribos, povos e nações, na qual cumprirá este Seu propósito eterno (Ef 2.9; 3.15).    
Por isso Deus disse depois de ter criado Adão que não era bom que o homem estivesse só, isto é, solitário.
Ele deveria estar em companhia de outras pessoas, especialmente de quem lhe fosse íntimo, e não há maior relacionamento de intimidade do que o que há entre cônjuges, sendo seguido pelo que há entre pais e filhos.
E Deus deu início aos tipos de relacionamentos, criando o mais íntimo e desinteressado de todos eles: o que há entre o homem e a mulher dentro do casamento.
Deus deu uma só esposa para Adão que foi formada a partir da sua própria costela. Não criou mais de uma, a partir daquela costela.
Poderia ter feito mais de uma se o quisesse, mas revelou que o homem deve ser esposo de uma só mulher, e a mulher, está ligada a um só marido, enquanto ambos viverem.
Os laços do matrimônio são por isso indissolúveis,  enquanto viverem os cônjuges.
Este laço de relacionamento é o fundamento de todos os deveres mútuos e obrigações do matrimônio.
Então, enquanto o laço permanecer, ninguém pode se abster legalmente de levar a cabo os próprios deveres do matrimônio, nem proibir o seu desempenho.
A mulher não foi criada porque Deus viu que o homem estava só. Não. A criação da mulher já fazia parte do plano original de Deus de trazer as pessoas à existência através do relacionamento conjugal.
Em Gên 1.27 a palavra “homem” em “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem,”, é também “Adão”, Adam, no original hebraico, que tem também o sentido de gênero humano, incluindo tanto o homem quanto a mulher.
E assim, a mulher seria uma “auxiliadora idônea” ao homem, porque com ela, associada ao homem, Deus poderia dar pleno cumprimento ao Seu propósito de que o homem se relacionasse com o seu próximo e o amasse, e se multiplicasse sobre a terra.
Esta auxiliadora ou ajudadora,  idônea ou satisfatória, no hebraico é "êzer keneghdo",  e significa um ajudante como ele, ou correspondente a ele.
Alguém que é um ajuste perfeito para o gênero humano ser capaz de reproduzir e governar toda a criação, porque este governo geral foi dado a ambos, tanto ao homem quanto à mulher (Gên 1.27,28).
Entretanto, dentro do casamento, note bem: no matrimônio, Deus estabeleceu o marido como cabeça, isto é como líder, em relação à esposa, e por isso fez a mulher a partir do homem, e não o homem a partir da mulher.
Assim, estando ainda no sexto dia da criação, depois de ter formado o homem do pó da terra, Deus iria agora formar a mulher, fazendo a primeira cirurgia do mundo, anestesiando o homem com um sono profundo para retirar uma de suas costelas, e tornou a fechar o lugar com carne (Gên 2.21).
E quando Deus trouxe a mulher ao homem este entoou a primeira canção de amor quando disse: “Esta, afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.” (Gên 2.23).
O homem em sua admiração e emoção foi levado a compor esta poesia.
Quanta alegria e felicidade lhe trouxeram o encontro com Eva. E foi Deus quem criou e aproximou o primeiro casal, e Ele continua ainda  aproximando casais pelo amor, especialmente quando oram a Ele lhe pedindo isto.
E então ele lhe dá um nome: “será chamada varoa", isto é, será chamada mulher, porque no hebraico, homem é "ish", e mulher é "ishah".
Mas "ishah" não é da mesma raiz hebraica de "ish".
Note que a palavra homem ish possui a consoante hebraica yodh com som de “i” na pronúncia, e a palavra mulher não possui este yodh, pois tem o  “i”  pronunciado como vogal, que não aparece portanto no texto, porque o  hebraico não possuía vogal no texto escrito.
Além disso, possui em sua raiz, a consoante hê, sendo assim de raízes completamente distintas.
A palavra "ishah" vem de uma raiz que significa "suave, macio".
Esta foi a primeira impressão dele sobre a mulher; ela era suave (Gên 2.23)
E quando Adão procurou uma palavra para definir a mulher, ele a chamou de “suave”.
E isto estava bem de acordo com o desígnio de Deus para a mulher, especialmente no seu papel dentro do casamento e mesmo na sociedade.
E à vista da satisfação do homem expressada na declaração que fez para a sua esposa, o Senhor acrescentou o que deve ocorrer portanto com os filhos em relação ao lar paterno, quando decidem se casar.
Eles devem deixar pai e mãe e se unirem, tornando-se uma só carne. Isto é dito em Gên 2.24: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”.
Isto não significa que abandonarão para sempre seus pais, que os rejeitarão em sua condição de pais, ou que deixarão de honrá-los, mas isto significa que sairão de debaixo da dependência paterna e dirigirão o seu próprio lar, assim como seus pais edificaram o deles.
E outra coisa importante que se aprende desta declaração de Deus em Gên 2.24 é que existe somente uma forma aprovada de relacionamento sexual perante Ele: a do homem com a mulher dentro do casamento.
E então há um comentário final interessante no verso 25 de que "o homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam.”.
Veja que a referência é: “e sua mulher”, indicando a condição matrimonial entre Adão e Eva.
Eles estavam nus e não estavam envergonhados porque não conheciam qualquer tipo de malícia.
Eles não sabiam que os desejos sexuais poderiam ser usados para maus propósitos.
Eles não sabiam que o desejo sexual pudesse ser pervertido e torcido.
Eles não tinham um mínimo pensamento mau em suas imaginações.
Eles se amavam profundamente, de modo íntimo mas respeitoso, sem mácula, sem agressividade, sem dominação.
A vergonha é produzida pela consciência do mal que possa existir em determinada coisa.
Nós sentimos vergonha em nossas vidas como pecadores porque nós temos pensamentos maus, porque nós temos desejos maus.
Mas isto não existia antes da queda.
E havia uma beleza maravilhosa naquele matrimônio sem qualquer mácula. Eles desfrutaram em plenitude o que se recomenda em Hb 13.4: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.”.
Deus os uniu, e eles desfrutaram a alegria completa daquela relação.



A Queda do Homem em Razão do Pecado (Gên 3.1-7)

“1 Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.
4 Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis.
5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.
6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.
7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”

A queda do homem descrita no terceiro capítulo de Gênesis não é apenas a sua própria queda, mas de todo o universo, porque mediante a sua queda toda a criação foi sujeitada à maldição de Deus.
Tudo envelhece e se corrompe pelo uso, desde então.
Tudo perdeu o seu caráter eterno.
O pecado do homem influenciou tudo o mais na criação.
Gênesis 3 revela como a criação perfeita, boa, de Deus, se tornou corrompida e má.
Satanás, que tinha sido expulso do céu por causa da sua rebelião, tentou Eva valendo-se de uma serpente.
Ele entrou na serpente e falou através dela.
Não é de se admirar que tenha entrado na serpente, pois vimos Jesus permitindo que demônios entrassem em porcos conforme lhe haviam rogado. Sem a permissão de Deus isto não pode suceder, muito menos o ato de falar por meio dos agentes que possuem, mas o fato é que isto foi concedido a Satanás, porque de outra sorte, a obediência da mulher e do homem não poderia ser provada.
Este é um dos motivos porque Deus não nos livra de todas as tentações.
Ele nos concede poder e graça para resistir e não cair nas tentações, mas de modo nenhum nos poupa, porque é exatamente por elas que a nossa fé, fidelidade, obediência, perseverança, são provadas, e o nosso caráter fortalecido e confirmado no bem.
Ainda que Deus mesmo a ninguém tente e nem possa ser tentado.
Mas Satanás em seu ódio a Ele e a tudo o que criou, acaba servindo ao propósito de Deus de colocar a nossa fé à prova para que se firme e cresça, por meio das tentações.    
Satanás queria conduzir Eva e Adão ao pecado. Ele queria fazer com que eles desobedecessem a Deus. Ele queria corromper a criação boa de Deus.
E a estratégia usada por Satanás é a mentira, ou o engano.
O que Satanás precisa fazer para efetuar o resultado esperado por ele é criar uma mentira na qual Eva creia.
Ele tem que  enganá-la para que ela venha a pecar.
E por isso que Jesus em João 8:44 chama Satanás de “pai da mentira".
Satanás mente sobre o caráter de Deus, e ele mente sobre a Palavra de Deus.
E é nisso onde o ataque dele se concentra inevitavelmente.
Satanás que caiu e no momento que caiu levou um terço dos anjos juntamente com ele volta-se agora para atingir a criação mais alta de Deus no mundo natural: o homem.
E ele se volta para Eva disfarçado na serpente, como se fosse um "anjo de luz", de acordo com 2º coríntios 11:14. Ele quer que você acredite que ele está lhe contando a verdade, e que o Deus da Bíblia é mentiroso.
Essa é a sua estratégia. Se ele pode conseguir que você creia que o caráter de Deus não pode ser confiável e, na Palavra de Deus como não sendo a verdade, e portanto não digna de ser aceita e confiada, mas que nele você pode confiar, naquilo que está afirmando, então ele alcança a sua meta.
Ele conseguiu que Eva duvidasse do caráter de Deus, duvidasse da palavra de Deus, e acreditasse nele, Satanás.
Satanás chega a Eva argumentando que se ela lhe ouvisse experimentaria alegrias das quais Deus gostaria de privá-la.
Ele se esforça para que Eva rebaixe o conceito de Deus na visão dela, e então viesse a descrer na palavra de Deus, e a dar crédito não àquilo que Deus afirmou, mas àquilo que lhe apontava o seu próprio desejo e sentimentos.
E Satanás disse à mulher: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”. Como a dizer sutilmente: “Reflita sobre o significado real desta ordem. Ela é razoável? Você tem liberdade para questionar Deus; você tem liberdade para duvidar de Deus; você tem liberdade para desconfiar de Deus.”
E isso conduziu Eva à desobediência.
Quando fazemos a suposição de que aquilo que Deus disse está sujeito ao nosso julgamento, nós estamos a um passo de pecar, nos tornando desobedientes e incrédulos.
E toda transgressão da vontade de Deus, todo pecado, traz em seu bojo esta idéia da relativização dos mandamentos de Deus, do questionamento ainda que indireto da Sua vontade soberana.
Assim Eva é deslocada da firme posição de estar seguramente confiada na soberania de Deus para a sua provisão pessoal, para a de fazer valer aquilo que passaria a considerar como seus direitos.
Satanás conseguira o seu intento, fazendo com que pensasse que a sua liberdade estava sendo tolhida, que Deus lhe estava impondo restrições.
Colocou um desejo em seu coração e agora ordena que não o satisfaça. Qual é a lógica que há nisso?
A da cruz que estava oculta aos olhos de Eva.
A nossa vontade deve ser submetida a Deus. Importa que seja feita a vontade dele e não a nossa, ainda que seja muito grande o nosso desejo de ser ou obter algo.
A cruz trata com o eu, e impõe o tom correto aos nossos desejos, fazendo com que deixemos que sejam governados pelo Senhor e não pela nossa própria vontade.
O que o Senhor tem dito que é lícito e conveniente faremos, mas o que nos é vedado, ou mesmo que sendo lícito, seja inconveniente, isto não faremos, assistidos pela Sua graça que opera em nós, enquanto sujeitos à Sua santa vontade.
Mas Eva e lembrou que havia uma penalidade atrelada ao ato da desobediência.
Ela disse para Satanás que não deveria comer ou tocar no fruto da árvore que estava no meio do jardim, para que não morresse.
E observando que já havia conseguido o intento de lançar a dúvida no coração da mulher em relação à verdade da Palavra de Deus, Satanás foi ousado e direto contrariando diretamente a afirmação daquilo que Deus havia dito, diizendo: “é certo que não morrereis”, e para gerar convicção em Eva apresentou um argumento para sua afirmação: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.”. (Gên 3.3,4).
E o resultado imediato está relatado no verso 6: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu.”.
E o admirável nisto tudo é que apesar de Eva ter conhecido o caráter de Deus, tendo experiência do Seu amor e bondade, ela deixou que o seu desejo falasse mais alto e não questionou Satanás em nada do que ele disse, e não levantou qualquer suspeita sobre as afirmações que ele estava fazendo; ainda que ela não soubesse que estava falando com um anjo caído, com o arqui Inimigo de Deus.
Seria de se esperar que ela partisse em defesa de Deus, de Seu caráter, de Sua Palavra, e que permanecesse fiel e obediente à Sua vontade.
Mas não é exatamente isto que se espera também de nós quando confrontados pela tentação e pelas cobiças que operam na nossa carne?
Assim, o ponto é este: se o que fazemos não é completamente, de todo o coração, sem reservas, confiando na sabedoria e bondade de Deus, nós estamos em dificuldade. Nós pecamos.
E Eva pecou, não quando ela comeu. Ela pecou quando ela deixou de acreditar que Deus era bom e somente bom. E que importava ser obedecido em tudo. Mas se achamos que pode haver alguma falha no caráter de Deus, é bem provável que não confiemos inteiramente na Sua Palavra.
Antes do pecado ela poderia ter resistido a tudo pela graça divina que lhe seria concedida caso obedecesse à Palavra, sem a dificuldade que todos nós temos depçois que o pecado entrou no mundo, porque, uma vez estando debaixo do seu senhorio, ele é muito mais forte do que a nossa própria vontade.
O que queremos dizer é que Eva não tinha tanta impulsão para desobedecer no ato da desobediência original, quanto a que passou a ter depois que pecou, e juntamente com ela toda a humanidade, em razão do domínio e habitação do pecado em nossa natureza terrena.
O pecado que reina na carne luta contra a nossa mente e diz que não é o que Deus quer que importa, mas o que nós queremos.
Todo pecado em nós dá boa acolhida às mentiras de Satanás: de que há prazer lá fora; que há satisfação lá fora; que há diversão lá fora; que há alegria lá fora; que o mundo tem tudo o quanto possa nos satisfazer; e que Deus está sempre tentando nos restringir.
E nós pecamos quando pensamos que por causa de Deus estamos perdendo a nossa possibilidade de sermos livres e felizes.
E temos dado crédito à mentira de Satanás quando afirma ousadamente que Deus é um mentiroso ao declarar que o salário do pecado é a morte, e afinal temos pecado e não temos morrido. Satanás cria a falsa idéia de que não há e não haverá qualquer julgamento contra o pecado.
Esquecidos que já estamos naturalmente julgados e mortos espiritualmente falando, porque não temos real comunhão com Deus, a menos que Ele nos redima em Jesus Cristo.  
Assim Eva não chegou a conhecer o bem e o mal do modo que ela pensou que conheceria, isto é, tal como Satanás lhe mentira, dizendo que seria na exata forma como Deus os conhece.
Deus conhece o bem e o mal, guardadas as devidas proporções, pois que seu conhecimento é perfeito e onisciente, do modo que um cirurgião de câncer sabe sobre o câncer que é muito diferente do modo que um paciente o conhece.
E como Eva conheceu o mal ?
O mal estava no coração de Eva.
Ela não conheceu o mal por algum efeito mágico na fruta, mas conheceu o mal no seu próprio coração.
Ela tinha desconfiado do caráter de Deus. Ela tinha impugnado os motivos de Deus, e ela tinha desobedecido a Palavra de Deus.
Desde então, o homem ainda procura cobrir a vergonha do estado pecaminoso da sua alma, não mais com vestes de figueira, mas com apanágios psicológicos, com sistemas positivistas de pensamento, com sistema de auto-ajuda que procurem elevar a sua auto- estima.
Mas perguntamos, qual é a eficácia destas coisas para limpar um coração corrompido pelo pecado, e de uma má consciência, que são as fontes onde residem e de onde brotam de fato, todos os nossos sentimentos de fraquza, insucesso e toda sorte de perturbações da alma e do espírito?
Vestes de figueira não cobrirão a vergonha da sua nudez diante de um Deus santo e temível.
Esconder-se atrás das árvores, não mais do jardim do Éden, mas de uma má consciência, para fugir da presença de um Deus amoroso e fiel que nos busca para nos resgatar da condição má em que nos encontramos em nossa própria natureza, continua sendo um sentimento universal, produzido pelo pecado original.
Por isso o caminho de volta para Deus, para o reino dos céus, desde o Éden e para sempre, deverá ser feito por meio de violência, ou seja, por esforço deliberado para o exercício de fé e obediência e sujeição ao Deus que nos procura para ter comunhão conosco.
E então mais adiante vemos Adão não assumindo a sua culpa de modo responsável, ao contrário ele lançou a culpa no próprio Deus e não em Eva. Ele não disse “Essa mulher que me levou a fazer isto”, mas “a mulher que você me deu”. Em outras palavras: a culpa é sua por ter criado e me dado esta mulher.
Não houve o mínimo arrependimento traduzido em atitude voltada para a mudança e correção do erro, pela aceitação responsável do erro, pelo reconhecimento sincero da culpa e pela confissão da maldade.
Mas ao contrário disto vemos vergonha, fuga, desculpa esfarrapada. E então Deus pronuncia uma maldição neles. Deus os amaldiçoou. E o universo inteiro sentiu as conseqüências desta maldição.
E então ambos foram expulsos do jardim.
Deus deixou uma porta aberta para que o pecador pudesse entrar por ela na Sua presença. Cristo é esta porta e não há nenhuma outra para tal propósito.
Deus pode perdoar os pecadores em Cristo. E não é maravilhoso saber isso, que apesar da realidade de tudo aquilo que somos, que Deus perdoa os pecadores? Essa é a glória do evangelho.
Deus colocou nossa iniqüidade em Cristo. Grande realidade. Ele carregou nossos pecados no Seu próprio corpo. Ele foi feito pecado por nós, e assim Deus O castigou no nosso lugar, para que possamos ser levantados da queda a que nos sujeitou Adão em razão do pecado.
O homem foi criado em estado perfeito por Deus e foi colocado no topo da criação. Mas o pecado o derrubou das alturas em que havia sido colocado por Deus, mas pela Sua exclusiva graça e misericórdia, Ele tem levantado os pecadores que crêem por intermédio de Cristo, para que estejam para sempre, em Sua santa presença.



Confrontação no Éden (Gên 3.8-13)

“8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.
9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?
10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me.
11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12 Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi.
13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi.”

Devemos aprender do que Deus fez no Éden logo depois que o primeiro casal pecou. Aprender do diálogo que Ele teve com o homem e com a mulher logo depois da queda, e que antecedeu o proferimento da maldição da serpente, da mulher, do homem e da terra por causa do pecado.        
Quando Deus confrontou Adão e Eva no Éden depois da queda, e os amaldiçoou, bem como a serpente e toda a terra, não foi por um pequeno motivo.
O pecado conturbaria o propósito de Deus para a criação.
A humanidade sujeitada ao pecado e ao diabo passaria a ser, destrutiva, mentirosa, assassina das coisas boas e eternas, que  Deus havia criado e especialmente aquelas que estavam sendo cultivadas no espírito do homem, como o amor, a bondade, a paz, a alegria, o domínio próprio, enfim, todas as virtudes que fazem parte do caráter do próprio Deus.
E quando Adão e Eva ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da Sua presença entre as árvores do jardim (Gên 3.8).
Isto representava uma mudança dramática no relacionamento deles com Deus.
O endurecimento produzido pelo pecado se revelou no conteúdo e no modo das respostas que ambos deram a Deus, quando foram confrontados por Ele.
Nenhum dos dois mostrou arrependimento ou lamentou pelo que haviam feito.
Não demonstraram tristeza diante de Deus.
Não assumiram a própria culpa declarando-se culpados, ao contrário, deram respostas evasivas e com troca de acusações.
O pecado faz com que atribuamos os nossos fracassos a outros e não a nós mesmos.
Faz com que tentemos nos justificar condenando a outros.
E foi o que Adão e Eva fizeram quando foram confrontados por Deus. Eles haviam duvidado da bondade de Deus, e agora, no estado de pecado não creram, não confiaram na Sua graça e misericórdia para serem perdoados através do arrependimento e confissão da sua culpa.
Assim, eles ofenderam duplamente a Deus, quando fugiram da Sua presença, quando ouviram a Sua voz no jardim.
Eles o consideraram como alguém mal e disposto a destruí-los, e foi por isso que fugiram.
Eles tiveram medo de Deus porque viram que estavam nus.
Tinham vergonha de estarem nus, porque agora estavam sendo dominados por maus pensamentos.
E eles conheciam a santidade e pureza de Deus.
Na verdade eles queriam evitar Deus, se fosse possível. Mas o Senhor não os deixou entregues à própria sorte, e veio confrontá-los e prestar contas juntamente com eles dos atos que haviam praticado e das coisas que estavam sentindo.
Eles estavam endurecidos pelo pecado, conforme demonstraram em suas atitudes e respostas, e de nada adiantaria Deus argumentar com eles para convencê-los acerca da Sua graça e misericórdia.
Aquela era a hora das trevas, Satanás havia triunfado em seu intento de induzir o homem e a mulher ao pecado, e não restou a Deus senão a alternativa de punir o pecado, naquele momento, com a morte espiritual, pela quebra da comunhão de Adão e Eva com Ele, e pela punição da falta com o proferimento de maldições, e com a expulsão do homem e da mulher do jardim.
O pecado manifestou a sua face terrível e o seu poder de manter escravizada a alma humana.
Uma vez debaixo da escravidão do pecado, o homem fica dependente de que Deus use os meios de graça necessários para conduzi-lo ao arrependimento, para que possa ser libertado.
E somente o poder da graça de Deus pode libertar o homem da escravidão do pecado.
Somente o Filho Unigênito de Deus pode libertar aqueles que são escravos por natureza deste inimigo terrível que conduz o homem tanto à morte física, quanto espiritual e eterna.
O pecado é como um vício terrível ligado à alma humana, e do qual o homem não pode se livrar por si mesmo.
Ele pode entender que o que tem feito é errado.
Pode sentir vergonha da sua condição em pecado, tal como Adão e Eva sentiram.
Pode reconhecer que Deus é santo e que não pode estar em comunhão com Ele enquanto estiver escravizado ao pecado.
Pode saber que há um julgamento de Deus sobre o pecado.
Pode sentir a sua consciência culpada.
Pode fazer resoluções de mudar sua vida e deixar de fazer as coisas erradas que faz, mas não pode parar de pecar, nem pode se arrepender honestamente, porque o poder do pecado é maior do que todos os poderes que existem na natureza humana.
Somente o poder de Deus pode vencer o pecado.
E para tanto, o homem deve se sujeitar a Deus.
Deve pedir-lhe humildemente que o ajude a se livrar dessa escravidão que é mais forte do que tudo o que há no mundo.  
Por isso a Bíblia indica ao homem qual é o caminho que ele deve seguir para obter o favor, a graça de Deus. Ele deve lamentar, chorar as suas misérias humildemente diante do Senhor, esperando que Ele estenda a Sua mão poderosa, e o liberte e o abençoe.
Adão e Eva tentaram cobrir a vergonha da sua nudez com folhas de figueira, mas isto não foi suficiente, porque a nudez do pecado é sentida no coração, e não pode ser acobertada.
Somente pela fé e pelo arrependimento é que pode ser coberta pelo sangue de Jesus.
Não há outro modo para se livrar da culpa do pecado, e alcançar uma boa consciência diante de Deus.
Conseguimos esta boa consciência pela certeza de que fomos de fato perdoados de todos os nossos pecados e que toda a nossa culpa foi removida, pelo sacrifício de Jesus, para o ato de justificação que nos reconciliou para sempre com Deus.    
Aquele foi o pôr de sol mais triste já testemunhado pela história do mundo.
Pois foi naquele entardecer que a criação foi amaldiçoada por Deus.
E foi quando a amizade foi rompida e toda a humanidade passou a estar debaixo da ira de Deus.
A ira do julgamento do pecado que sujeitou o homem à morte, tal como havia sido alertado anteriormente.
As trevas do pecado receberam a justa sentença divina, e somente por meio do sangue de Jesus, o homem poderia voltar a ter paz com Deus.  
“O Filho do homem veio buscar e salvar o perdido.” (Lc 19.10).
O próprio Jesus proferiu estas maravilhosas palavras quando se referiu à conversão de Zaqueu, o publicano.
E esta missão de buscar o pecador perdido começou no jardim do Éden, quando o Senhor Deus veio ao encontro de Adão e Eva depois de terem caído no pecado.
Como Ele lhes havia alertado que no dia em que eles O desobedecessem comendo o fruto, que lhes havia proibido, eles certamente morreriam, é bem provável que ambos tenham pensado que seriam aniquilados pela ira de Deus quando Ele os encontrasse, e por isso fugiram da Sua presença e tentaram se esconder entre as árvores do jardim.
Mas Deus veio buscar o pecador escondido.
E aqui nós achamos a primeira visão da graça, a primeira expressão de misericórdia, a primeira indicação de que poderia haver uma possibilidade para a reconciliação.
No verso 9 nós lemos: “E chamou o Senhor Deus ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?”.
Isto não é certamente o que se poderia imaginar, porque se eles desobedecessem a Deus, eles iriam morrer, e pensamos em algum ato imediato de julgamento divino caindo sobre as cabeças deles. Mas ao invés, nós achamos Deus iniciando uma confrontação que começa de uma forma muito branda.
Aqui está revelada pela  primeira vez a verdade do evangelho: Deus busca o pecador e lhe pergunta onde ele está.
Há uma sentença de morte sobre o pecador, mas Deus vem buscá-lo para que possa ser salvo desta condenação.
O homem está morto em seus pecados, mas Deus vem buscá-lo para que tenha vida, e a tenha em abundância. E Deus ainda busca os pecadores.
A nossa própria consciência nos acusa e condena acerca do fato de sermos pecadores.
E Satanás é o grande acusador que nos aponta os nossos pecados e tenta nos fazer sentir que Deus não tem qualquer misericórdia para pessoas corrompidas pelo pecado como nós.
Mas neste ato de busca de Adão e Eva, depois de terem pecado, Deus revelou a grande mentira do diabo, e o quanto a nossa própria consciência sujeita ao pecado nos engana e é uma má consciência nos dizendo que não podemos ter confiança em que Deus possa ser bondoso e perdoador em relação a nós, um a vez tendo nós lhe ofendido de maneira tão terrível com os nossos pecados. Seria de se esperar vingança e ressentimento e não oportunidade e perdão.
Mas a graça superabundou onde abundou o pecado. A graça se revelou infinitamente rica, pela primeira vez, por Adão e Eva terem sido poupados pela longanimidade de Deus, apesar de não terem manifestado qualquer tipo de arrependimento em relação ao seu pecado.
A graça reteve a  destruição deles.
Quando Deus perguntou a Adão onde ele estava, ele não o fez porque não soubesse onde ele havia se escondido, pois Ele sabe tudo, Ele é onisciente. Ele sabia onde Adão estava. O que Ele queria era que Adão reconhecesse a sua condição atual, e que  confessasse o seu pecado, porque é Deus misericordioso, compassivo, longânimo, perdoador, e estava manifestando estes seus atributos a Adão de forma que ele pudesse achar lugar para o arrependimento.
A palavra "chamou", “ikrrá”, no mesmo versículo (3.9), “Chamou o Senhor Deus ao homem”, significa no hebraico o ato de chamar alguém para uma prestação de contas. É usada em várias passagens do Velho Testamento como por exemplo em Gên 12.18; 20.9; 26.9.10. Dt 25.8. Deus chama Adão para responder por seus atos perante Ele, mas é uma aproximação bastante compassiva.
Antes do pecado, Adão falava somente a verdade e amava somente a verdade, mas o engano havia entrado agora no seu coração. Ele não consegue ser inteiramente honesto em dizer em plena sinceridade a Deus tudo o que estava sentindo e pensando.
O pecado tem esta característica de levar o homem a ser indulgente para com as suas faltas, e ser parcial na justa avaliação delas.
E Adão não sentiu repulsa pelo seu pecado. Não ficou entristecido pelo fato de ter desagradado Aquele que tanto o amava e que lhe manifestava diretamente este amor todas as vezes que ia ter com ele no jardim.
E Adão não ficou horrorizado com o próprio pecado, ao contrário ele ficou horrorizado com Deus porque teve medo de Deus.
Ele teve medo das conseqüências, mas não teve nenhum temor em relação ao mal que havia aprisionado a sua mente e coração.
Depois de ter confrontado Adão, Deus confrontou Eva: “Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.”. Adão não tentou proteger Eva. E cabia a ele, no casamento, a função de proteger a sua esposa.
Ao contrário, ele direcionou a atenção de Deus para ela, procurando achar alívio na sua própria responsabilidade.
Ele fez, como se costuma dizer popularmente: “tirou o corpo fora” e lançou toda a carga sobre sua esposa.
Aquela relação maravilhosa que havia antes do pecado foi inteiramente torcida.
E do mesmo modo que fez com Adão, Deus deu à mulher uma oportunidade para arrependimento quando lhe perguntou o que ela havia feito.
Mas, tal como o seu marido, a mulher não assumiu a sua culpa, e a jogou inteiramente sobre a serpente.
E pensou que poderia ser justificada perante Deus pelo fato de ter sido enganada pela serpente. “A culpa é toda do diabo.”.
É o que muitos pensam erroneamente. Há mesmo cristãos que pensam que tudo o que fazem de errado não é por causa do seu próprio pecado, mas que é sempre por causa do diabo.
“Foi o diabo que me fez fazer aquilo. Não fui eu o culpado. O culpado foi o diabo!”.
É muito comum se ouvir isto. Ainda que não se possa inocentar o maligno que veio realmente roubar, matar e destruir, sendo ele o pai da mentira, nem por isso, não podemos transferir a responsabilidade pelos nossos maus pensamentos e atos inteiramente para a conta de Satanás.
Como afirma Tiago: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” (Tg 1.15).
O homem é inteiramente responsável por todos os seus atos. A cura está portanto em exatamente reconhecer esta responsabilidade e confessá-la a Deus. Porque isto é a verdade quanto à nossa condição em relação ao pecado. E é portanto somente confessando a própria culpa que se pode achar o favor e graça de Deus.




A Maldição da Serpente (Gênesis 3.14,15)

“14 Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.
15 Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”

Satanás conseguiu se prover de filhos espirituais através do êxito do seu propósito em tentar a mulher a pecar, e ao conseguir com que esta também convencesse o seu marido a comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
O descendente da mulher que ferirá a cabeça do diabo é sem qualquer sombra de dúvida o Senhor Jesus, que sendo Deus, foi concebido no ventre de Maria para vir a este mundo destruir as obras do diabo, esmagando a sua cabeça.
Este ato de esmagar a cabeça da serpente, seria feito através de um ferimento “do calcanhar” do Senhor pelo diabo, a saber a humilhação, perseguição que foi permitido que o diabo lhe fizesse, e que culminou com a Sua morte na cruz; e não somente isto, esta ferida que é produzida no calcanhar pelo diabo, na descendência bendita da mulher, é também feita naqueles que são de Cristo.
Satanás se proveu de uma descendência em toda a humanidade, por meio do pecado, mas Deus prometeu levantar desta descendência muitos que seriam inimigos do diabo, e não seriam mais seus descendentes, porque viria Aquele que lhe esmagaria a cabeça, e lhe despojaria do seu poder sobre todos os homens, de maneira que aqueles que se unissem ao Redentor, seriam livrados do seu senhorio maligno.
Por isso, há uma maldição sobre os animais, e especialmente sobre a serpente, como conseqüência do pecado do homem, e há também uma maldição específica sobre Satanás, por ter a sua cabeça esmagada pelo descendente da mulher, que é Cristo.
Nós temos a partir destes versículos de Gênesis, o começo da maldição divina. Nós temos a maldição que Ele proferiu sobre a serpente; que é sobretudo a maldição de Satanás.
É importante verificar que Satanás foi lançado juntamente com muitos demônios à terra, depois que eles se rebelaram no céu, e muitos demônios foram colocados em cadeias num lugar que a Bíblia chama de abismo.
E eles ainda permanecem lá.
No tempo do fim, no período da Grande Tribulação, um grande número deles será libertado para afligir os homens que estiverem vivendo sobre a terra. É possível que Satanás e os demônios que atuam na terra também estivessem no abismo, antes de o Senhor criar os céus e a terra, e foi permitido a estes saírem do abismo para cumprirem pelo menos dois grandes propósitos de Deus: O primeiro de trazer um julgamento sobre eles, através do agravamento do pecado deles, por ter Satanás tentado o primeiro casal a pecar contra Deus, fazendo com que a criação ficasse sujeita à vaidade, e também por toda a sorte de males que eles praticam sobre a terra, especialmente em relação aos homens, e por terem também atuado para levar Jesus à cruz.
Isto tudo agravou sobremaneira o juízo deles, pois Deus propiciou com que ficasse exposta à vista de todos os seres celestiais e dos homens, a excessiva malignidade de Satanás e de todos os anjos caídos.
E foi portanto, pela morte de Jesus na cruz, que eles não somente ficaram despojados do domínio completo sobre aqueles pelos quais o Senhor morreu, e que nEle crêem, como também ficaram sujeitos ao desprezo pela vitória de Jesus na cruz (Col 2.14,15).
O segundo propósito é o de que Satanás e os demônios que estão na terra, operam como agentes de provação da obediência dos homens, e são também os executores de juízos sobre os desobedientes que lhes são entregues para destruição da carne.
Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém também pode tentar, porque é absolutamente puro e santo, e desta forma, Satanás e os demônios atendem bem ao propósito de provar a fidelidade do coração dos homens, por tentar seduzi-los à prática do mal.
Evidentemente, isto não esgota tudo o que Deus intentou em Sua sabedoria e soberania, quando fez com que os homens sobre a terra tivessem que ter a companhia de Satanás e de demônios, que mesmo sendo indesejável para aqueles que amam e temem ao Senhor, acabam cooperando indiretamente para o aperfeiçoamento do seu caráter, nas lutas que têm que empreender contra os poderes das trevas.
Satanás, certamente, tanto quanto o próprio homem a quem tentou, não sabia, não conhecia tudo o que estaria implicado naquele ato de tentação do primeiro casal. Ele jamais imaginaria tudo o que seria colocado em curso por Deus para cumprir os Seus eternos propósitos tanto no que se refere à redenção do homem, quanto à manifestação da glória da Sua graça, quanto aos juízos que Ele traria sobre o próprio diabo.
Satanás pensou que poderia estragar completamente a criação de Deus, levando o primeiro casal a cair no pecado. Mas Ele não sabia que tudo já estava previsto nos conselhos eternos de Deus, e que Ele tinha um plano maravilhoso para ser colocado em prática.
E é interessante observar que na palavra mesma de maldição que Deus proferiu sobre a serpente estava embutida a promessa do Salvador.
A maldição distintiva da serpente teve também o propósito de que ela se tornasse um símbolo, uma lembrança constante para o homem, da queda e da condição amaldiçoada do próprio Satanás, que se identificou com a serpente, e que é por isso chamado na Bíblia por este nome, como em Apo 12.9; 20.2; II Cor 11.3, por exemplo.  
Satanás disse em seu coração: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is 14.13,14). Entretanto, Deus que tudo sabe, conhecendo-lhe estes pensamentos íntimos proferiu a seguinte sentença sobre ele: “Contudo serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo,” (Is 14.15).
Satanás será de fato lançado no abismo por ocasião da volta de Jesus (Apo 20.1-3), e será lançado no lago do fogo  e enxofre, no final do milênio (Apo 20.10).
Satanás jamais considerou, quando pensou que teria estragado para sempre, o plano de Deus de ter muitos filhos como Jesus Cristo, com a sua tentação de Eva, porque sabia que havia uma sentença de morte para o caso de desobediência ao mandamento de Deus, caso comesse do fruto proibido, que daquela sentença de morte, Deus traria ainda vida, e vida em abundância ao homem morto espiritualmente em seus delitos e pecados.
Jamais o diabo cogitaria que o próprio Deus pagaria na pessoa de Seu Filho, o preço exigido para a redenção do pecado e a remoção da morte do mundo.
A morte seria vencida pelo autor da vida, com a Sua própria morte, e como Satanás poderia cogitar um tal plano de redenção em que o próprio Deus se disporia a morrer por amor ao homem, e ainda por cima, de um homem agora corrompido pelo pecado, e transgressor dos mandamentos de Deus?
O diabo não podia pensar que um Deus tão elevado, poderoso, glorioso e majestoso, se humilhasse e se dispusesse a tal ponto de assumir a forma de homem e de servo, para morrer em tal condição, em favor de míseros pecadores.  
Satanás estava cheio de ódio contra Deus por ter sido expulso para sempre do céu, e por ter recebido uma sentença de morte espiritual eterna. E jamais poderia imaginar que Deus pudesse perdoar transgressores da Sua vontade tal como ele, a saber, o diabo.
Então, ao atacar a criação perfeita na pessoa de Eva, ele tencionava atacar o próprio Deus.
Ele já havia enganado e arrastado a muitos anjos juntamente com ele, enquanto ainda se encontrava no céu. E agora procuraria produzir estragos na criação de Deus na terra.
E na verdade, ele continua operando incansavelmente neste seu trabalho, procurando produzir tudo o que está ao seu alcance para trazer miséria, destruição e corrupção ao mundo e a tudo o que ele contém.
Com isto ele está agravando e em muito a sentença de condenação contra ele, e ele sabe muito bem disto.
Até o momento do proferimento da maldição não havia nenhuma luta entre o homem e o diabo. Adão e Eva tinham seguido a Satanás. Não havia nenhuma hostilidade entre eles. Não havia nenhuma inimizade lá. E não é dito que eles fugiram da serpente depois da queda procurando se esconder do diabo. Ao contrário é dito que fugiram da presença de Deus tentando se esconder entre as árvores do jardim. E o diabo deve ter se regozijado antecipadamente num triunfo pleno que ele de fato não chegaria a ter, pois não imaginava que Deus se proveria de muitos filhos, incontáveis como as estrelas do céu, dentre os pecadores caídos.
Na maldição proferida por Deus contra Satanás, há uma possível profecia indicando a futura conversão de Eva. O diabo pensou que teria Eva do seu lado para sempre, mas quando Deus lhe disse que Ele colocaria uma profunda inimizade entre a mulher e o diabo, pode estar também incluída aqui a conversão de Eva.
Ela, por um momento, havia se tornado inimiga de Deus por causa do pecado, mas ela poderia, pela misericórdia e graça de Deus vir a se converter e assim voltar a ter comunhão com Deus, e consequentemente ser inimiga do diabo.
Temos nas palavras de Eva proferidas em Gên 4.1, em que tributou glória a Deus no nascimento do seu filho primogênito, Caim, uma indicação desta sua possível conversão: “adquiri um varão com o auxílio do Senhor.”.
E depois de Caim ter assassinado Abel, a mesma Eva viria a declarar em relação a nascimento de sete: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.” (Gên 4.25).
Há nestas palavras algum indício de inimizade contra Deus?
Ao contrário, parecem ser palavras de quem tinha o temor do Senhor.
E estas foram palavras proferidas por Eva depois da maldição da serpente.
Que duro golpe não seria para Satanás a conversão de Eva, e quão duro golpe é para ele a conversão de todos aqueles que ele consegue enganar por algum tempo mantendo debaixo da sua influência na condição de inimigos de Deus.
É possível que até o próprio Adão tenha se convertido a Deus, porque vemos Abel sendo temente a Deus e agindo de acordo com as ordens de Deus, e provavelmente todos os primeiros descendentes de Adão e Eva aprenderam acerca da bondade e do amor de Deus através do relato de seus pais.




A Maldição da Mulher (Gên 3.16)

“E à mulher disse: Multiplicarei  sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” (Gên 3.16).  
 
Deus estava projetando originalmente que as mulheres teriam fillhos e que esses filhos trariam às mulheres tristeza e dor física, tristeza na  hora do nascimento, e então tristeza assistindo a luta daquele pequeno ser, contra todas as ameaças que vêm contra a sua vida e todas as coisas que podem afligir e quebrar o coração de uma mãe.
O desígnio original de Deus era isso? Não.  Tudo isso é  parte da maldição. Isso é o que Gên 3.16 está dizendo. Isso faz parte da maldição; isso não faz parte do desígnio original de Deus.  
A mulher foi amaldiçoada na esfera do seu trabalho, na esfera da sua vida; na relação com os filhos e o seu marido.
As dificuldades com os filhos e as dores que se  sofre nesta área, a dor física e emocional e às vezes uma dor espiritual profunda, e a luta com o marido, não fazia parte do que Deus pretendeu no princípio.
Isso é um resultado do pecado, e da maldição que Deus fez a Eva.
Isto lhe viria como consequência do pecado.
A primeira parte da maldição é em relação aos filhos. A segunda parte está relacionada ao marido. Nesta primeira parte, é dito literalmente: "'Em dor você terá os seus filhos”. E na segunda parte: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.”.
Assim, as mulheres foram amaldiçoadas para sofrerem nas duas relações mais significativas da maioria delas, a saber, relacionamento com os filhos e relacionamento com os maridos.
Esses realmente são os dois reinos nos quais as mulheres geralmente acham a sua vida, porque a maioria delas está vocacionada por Deus para ser esposa e mãe.
Deus criou Adão e Eva, originalmente no jardim em perfeição e sem pecado.
Deus falou com a mulher com a maldição que foi destinada a ela para servir como uma lembrança constante do seu pecado.
E é em princípio uma lembrança para todas as mulheres do horror do pecado, não para acusação, mas para reconhecimento da condição de pecado, para que haja confissão, arrependimento e salvação, porque sem o convencimento do pecado, não se pode receber a graça que liberta do pecado.
Podemos dizer então que a maldição no caso da mulher e do homem, não foi para o mal, mas para uma boa finalidade, a saber, a da redenção da humanidade.
A mulher quer ter pfaz, alegria, amor e harmonia no relacionamento com seu marido e filhos, mas para tê-lo, depois do pecado, deverá buscar tudo isso vivendo para Cristo.
Se ele não edificar o lar, em vão será todo o seu trabalho e esforço em tal sentido, porque somente Cristo pode libertar do poder e escravidão do pecado, que impede um viver abençoado em plenitude.
Isto quer dizer que a vida da mulher que está vencendo os efeitos da maldição que há no mundo é marcada por fé em Deus, por amor sincero a Deus, por santificação, pureza de vida e domínio próprio.
Esta é a marca com que uma mulher piedosa produzirá filhos piedosos. E com isso a sua dor será grandemente reduzida, pela bênção de Deus em sua vida, neste mundo de trevas.
Entretanto, como já dissemos, nem toda dor, sofrimento, decepção, serão retirados, pois não há quem não peque e que não necessite da disciplina e da instrução do Senhor.
Como aprenderemos humildade e paciência se não formos contraditados, injustiçados, perseguidos, desamparados?
Como experimentaríamos a realidade do cuidado de Deus se não tivéssemos em que ser socorridos?
Em quê perceberíamos a necessidade de mudarmos nosso comportamento, e mais do que o comportamento exterior, as atitudes internas do nosso coração, se não percebêssemos, pela graça do Senhor, no que temos errado em relação à edificação da vida de nosso cônjuge e  filhos?
Por isso, os problemas em família são também oportunidades para mudança e crescimento espiritual, pelo aprendizado e prática das virtudes que estão na própria pessoa de Cristo.
E assim, Deus faz com que tudo coopere para o bem daqueles que Lhe ama, sejam circunstâncias favoráveis ou adversas, porque estarão sempre produzindo um fruto pacífico de justiça e de refinamento de caráter e de fé.
Agora, vejamos a segunda parte da maldição que se refere à relação da mulher com o seu marido: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.”.
"O teu desejo será para o teu marido.". Isto significa que o desejo dela vai ser algo negativo, algo que reflete separação e alienação.
Até este ponto foi posta inimizade entre a serpente e a mulher. Foi posta inimizade entre o homem e a terra. E é posta inimizade entre a esposa e o seu marido.
Ela não pode fazer o que ela deseja. Ela não vai viver a própria vida dela totalmente independente,  porque o marido dela rege sobre ela.
Tudo que ela deseja está sujeito à vontade dele.
Ela nem sempre adquirirá o que ela quer.
Ela vai ter que suportar a tristeza da insatisfação.
Lembre, antes de prosseguirmos, que isso será experimentado, sempre que não estiver debaixo do governo de Cristo.
Somente o Senhor pode modificar este quadro, colocando satisfação no coração em toda e qualquer circunstância.
Olhemos agora para as particularidades do idioma que expressa o conflito. "'Seu desejo será para o seu marido.". Agora, falemos sobre a palavra "desejo". Significa “busca de controle”. Literalmente, poderia ser lido: “você buscará ter o controle de tudo”.
O pecado produziria isto naquela submissão voluntária da mulher antes da queda.
Em vez dela, haveria naturalmente na mulher, em sua natureza terrena, esta inclinação para governar o marido, invertendo assim o que fora planejado por Deus desde o princípio.
Você desejará fazer prevalecer sua vontade. Isso é um sinal da maldição do pecado que está no mundo desde a queda.
Somente em Cristo, este desejo pode ser revertido em sincera submissão.
Este comportamento seria uma conseqüência do próprio pecado na mulher, e não propriamente da maldição proferida por Deus.
 Você desejará estar no controle, dominar. E então, a conquência disto é que seu marido reagirá com domínio, governo, em vez de liderança amorosa.







A Maldição do Homem  (Gên 3.17-19)

 “17 E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida.
18 Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo.
19 Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.”
 
Na maldição da mulher relativa a seus filhos e marido, temos a indicação indireta de que o reino da mulher casada é o seu lar. E nos versos 17 a 19 nós vemos qual é o reino do homem, pois foi designado a ele a atribuição de obter o sustento da sua família lavrando a terra.
O homem passaria também a ter dificuldades no trabalho que deveria fazer para obter o sustento de sua família, porque a terra produziria cardos e abrolhos, que é uma referência a ervas daninhas e espinhos.
E a causa da maldição do homem é declarada por Deus: “Visto que atendeste à voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa...”. Houve uma razão para o efeito especial que foi projetado para ser um castigo particular colocado no homem como uma lembrança da severidade do pecado.
A razão porque ele fez isto foi porque ele escutou a voz da sua esposa, em lugar da voz de Deus.
Ele decidiu fazer o que ela queria que ele fizesse, em lugar do que Deus lhe ordenou que fizesse.
É bom conhecer os desejos da esposa; é bom satisfazer os pedidos da esposa. Mas não quando ela está  pedindo que o marido desobedeça a Deus.
Ela sabia o que Deus tinha dito. Mas ela queria que ele comesse. Ela tinha feito isto debaixo da ilusão que ela conheceria o bem e o mal agora; que ela seria como Deus. Este era um ato de auto-exaltação. Ela queria que ele fizesse isto. E ele escutou a voz dela, em lugar do mandamento de Deus. Ele fez o que a sua esposa queria que ele fizesse.
E foi como se Deus dissesse: "'Porque você escutou a voz de sua esposa no lugar da voz de Deus. Porque em lugar de regê-la, você deixou que ela o regesse. Em lugar de mostrar a ela através do exemplo o que era certo, obedecendo a Deus, você seguiu o exemplo dela de desobediência a Deus. Em lugar de honrar a Deus, você honrou sua esposa, que, em vez de honrar a Deus, honrou a serpente.”.
E a consequência disso é que a terra permanece sob maldição, e não há outro modo de se obter boas safras agrícolas a não ser mediante muito trabalho e esforço.
Por isso Deus disse a Adão: “maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu, comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão”.
Assim, somente o trabalho honesto num mundo de pecado se torna uma bênção. E as dificuldades para o homem vencer em seu trabalho são um duplo reforço de bênção já que estamos num mundo de pecado e sujeitos ao pecado.
O trabalho mantém a mente e as mãos ocupadas naquilo que é útil e não pecaminoso.
O coração fica fortalecido e Deus derrama a sua bênção sobre aquele que trabalha.
Mas o ocioso pode facilmente se dispor para a prática do mal, e a ocupar o seu pensamento com o que é vão e pecaminoso.
Assim, essa maldição específica, num mundo pecado, é uma proteção para o homem com seu coração pecaminoso, e não algo para atormentá-lo e levá-lo à ruína.
O ideal seria que não houvesse fadiga, esforço, tristeza em seu trabalho, mas isto somente seria adequado num mundo sem pecado.
Certamente as mãos que não estiverem ocupadas no que é útil, poderão mais facilmente ocupar-se de cousas com as quais não deveriam se envolver.
Isto se aplica  tanto ao pão material, quanto ao espiritual, porque sem diligência, trabalho, especialmente para viver dentro do padrão estabelecido por Deus em Sua Palavra, a graça que está disponível em Jesus, de pouco ou nada nos beneficiará, porque o Senhor tem amarrado à Sua bênção à quebra da maldição, pelo esforço em diligência.






A Promessa de Redenção (Gên 3.20-24)

 “20 Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os viventes.
21 E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu.
22 Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.
23 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para lavrar a terra, de que fora tomado.
24 E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida.”

O jardim do Éden simbolizava o céu na terra; e assim, em razão do pecado, o homem não poderia permanecer no Éden, porque ninguém pode permanecer em pecado no céu.
Isto é claramente ensinado aqui, em figura. Então o homem foi expulso do Éden, e querubins, que são guardiões da santidade de Deus foram colocados à entrada do jardim, para que o homem soubesse que ele não pode estar no local da habitação de Deus, enquanto estiver sob o pecado.
Mas a redenção, que é segundo a fé, e com base na misericórdia e graça de Deus, pode dar ao homem caído a oportunidade de ser restaurado, e habilitado a retornar ao paraíso, isto é, ao local da habitação do homem, que é também a morada de Deus. E o modo de se ter isto, está ensinado de forma compactada em Gên 3.20,21.
Jesus prometeu ao ladrão na cruz, que havia se arrependido, que o conduziria ao paraíso.  
E aqui nesta passagem de Gênesis é provável e quase certo que nós tenhamos a primeira revelação da promessa do evangelho em ação, salvando pela fé a Adão, que recebeu, depois deste posicionamento de fé, uma cobertura adequada para a sua nudez física, preparada não por ele e nem por Eva, mas pelo próprio Deus, que fez túnicas de peles para ambos, que exigiu o sacrifício de animais, e consequentemente derramamento de sangue.
Um ato de fé em Deus fez com que fossem cobertos com a justiça de Cristo, que seria a única vestimenta apropriada para cobrir de justiça a todos os que nele crêem, desde que o pecado entrou no mundo.
E nós temos no versículo 20, anterior ao que fala da cobertura com as túnicas de peles (v.21), uma possível evidência do porque ter Deus preparado uma tal vestimenta que, diga-se de passagem foi aceita por Adão e por Eva, pois, se estivessem do lado da serpente, lhe dando crédito na mentira que havia proferido, eles se apresentariam em rebelião contra Deus.
Eles estavam debaixo do pecado, sentindo as consequências e influências do pecado, como qualquer pessoa depois deles, mas haviam provavelmente se reconciliado com Deus, pela fé, como se dá com todos os que nEle crêem.    
Como dissemos, há uma forte evidência para a conversão de Adão, logo posteriormente à queda, uma vez que ele deve ter presenciado e ouvido a maldição contra a serpente, a qual conforme já estudamos antes, afirma que haveria inimizade entre a mulher e a serpente, e entre a descendência da mulher e a da serpente, e que o descendente da mulher lhe esmagaria a cabeça.
Ora, isto, trouxe provavelmente a Adão a fé que salva.
Ele demonstrou ter crido nesta promessa de Deus, e por conseguinte, no próprio Deus, uma vez, que, ato contínuo, deu, o próprio Adão, o nome de Eva à sua mulher.
Até aquele momento ela não tinha um nome próprio específico.
E Adão se sentiu inspirado a lhe dar o nome naquela hora, que é para nós uma forte e provável evidência da sua fé, pois este nome, no hebraico, como está no original, significa “vida”.
 Ele creu que haveria vida, porque Deus, apesar de terem sido amaldiçoados, manteve a ordem de que ele e sua esposa fossem fecundos e se multiplicassem; e o melhor de tudo, haveria uma grande oportunidade para eles, de serem inimigos da serpente, e gerar Aquele que viria depois deles, como descendente de Eva, para esmagar a cabeça da serpente.
Isto é maravilhoso, não é verdade?
Adão que tinha amizade com Deus no Éden, antes da queda, não tinha, no entanto, fé em Deus, tanto que não deu crédito a Deus e confiou nas palavras da serpente.
Mas, agora, apesar de pecador, tendo quebrado aquela perfeição de comunhão, por causa do pecado, ele expressa fé em Deus, e naquilo que ainda não era visível e concretizado.
Ele creu na promessa de Deus, e colocou o nome de “Vida” em sua esposa.
Ele não era pai de ninguém, e nem Eva era mãe de ninguém, até aquele momento, e Adão creu em Deus e na Sua palavra.
E a fé é por isso, o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem (Hb 11.1), e quanto à importância da fé, Jesus disse diante da incredulidade de Tomé que felizes são os que não viram e creram.
Por isso sem fé é impossível agradar a Deus.
É também por isso que se declara que é por meio da fé que vive o justo.
A vida eterna é por fé, porque é somente por ela que podemos expressar a nossa confiança em Deus.
Confiança plena no Seu caráter, naquilo que Ele é.
Plena certeza na Sua fidelidade, especialmente para cumprir Suas promessas.
Neste texto de Gênesis 3.20-24 estão resumidos os componentes necessários para a salvação. Aqui é apresentada a teologia da redenção, tanto pelo lado do homem, quanto pelo lado de Deus.
Do lado do homem, são apresentados fé e arrependimento.
E do lado de Deus é apresentada substituição.
O homem crê com um coração penitente, e Deus provê substituição para o pecador crer na eternidade.
A salvação dos pecadores, a libertação deles do pecado, sempre foi por fé e arrependimento; e por substituição e pelo poder de Deus para nos justificar e nos afiançar a vida eterna.
A substituição aqui referida é a de que Deus provê um substituto para cobrir o nosso pecado.
Os animais que foram sacrificados para cobrir a nudez de Adão e Eva, tipificavam o sacrifício de Jesus que foi sacrificado para cobrir o nosso pecado.
Assim, a salvação do lado do homem requer fé. Mas do lado de Deus, requer substituição para satisfação da Sua justiça e santidade.
O versículo 21 diz que Deus fez túnicas de peles para Adão e Eva e os vestiu com elas. Antes de qualquer outro comentário queremos deixar destacado o fato de que a Bíblia diz que foi Deus mesmo quem os vestiu.
Ele não somente fez as túnicas como também os vestiu.
O que eles fizeram foi somente aceitar aquilo que Deus tinha preparado para eles.
Deus já preparou para nós uma vestimenta de justiça apropriada para cobrir o nosso pecado: a justificação que é por meio da fé em Jesus.
Adão e Eva não tiveram que pagar pela veste que Deus fez para cobri-los.
De igual modo a justiça de Jesus para todo pecador que nEle creia é também pela graça de Deus.
O pecador não tem nada que fazer senão somente aceitar a justiça que lhe está sendo oferecida gratuitamente por Deus.
E será o próprio Deus, pelo Seu poder, que justificará e salvará o pecador. Este, tão somente deve aceitar aquilo que Deus já preparou para ele.
E aqui nós temos então novamente a iniciativa soberana de Deus, dantes buscando o homem perdido no jardim, e agora preparando uma vestimenta de peles para Adão e Eva, e os vestindo.
Eles não haviam pedido isto, e nem sequer sabiam que era possível fazer uma vestimenta mais apropriada com peles de animais do que com folhas de figueira.
Eles não participaram disto.
Deus fez tudo sozinho. Assim são os meios de salvação.
Jesus consumou a Sua obra sozinho, sem qualquer participação do homem, quanto aos meios que são necessários para livrá-lo do pecado e torná-lo um filho de Deus. Ele agiu em graça para com o pecador. Por detrás da substituição que redime o homem da escravidão do pecado, está a graça. E por isso ninguém pode ter a salvação a não ser exclusivamente pela graça de Deus.