domingo, 18 de outubro de 2015

Provérbios 1 a 31

Provérbios 1

“1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel:
2 Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras de inteligência;
3 para se instruir em sábio procedimento, em retidão, justiça e equidade;
4 para se dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso.
5 Ouça também, o sábio e cresça em ciência, e o entendido adquira habilidade,
6 para entender provérbios e parábolas, as palavras dos sábios, e seus enigmas.
7 O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução.
8 Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensino de tua mãe.
9 Porque eles serão uma grinalda de graça para a tua cabeça, e colares para o teu pescoço.
10 Filho meu, se os pecadores te quiserem seduzir, não consintas.
11 Se disserem: Vem conosco; embosquemo-nos para derramar sangue; espreitemos sem razão o inocente;
12 traguemo-los vivos, como o Seol, e inteiros como os que descem à cova;
13 acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos;
14 lançarás a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa;
15 filho meu, não andes no caminho com eles; guarda da sua vereda o teu pé,
16 porque os seus pés correm para o mal, e eles se apressam a derramar sangue.
17 Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave.
18 Mas estes se põem em emboscadas contra o seu próprio sangue, e as suas próprias vidas espreitam.
19 Tais são as veredas de todo aquele que se entrega à cobiça; ela tira a vida dos que a possuem.
20 A suprema sabedoria altissonantemente clama nas ruas; nas praças levanta a sua voz.
21 Do alto dos muros clama; às entradas das portas e na cidade profere as suas palavras:
22 Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? e até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e odiarão os insensatos o conhecimento?
23 Convertei-vos pela minha repreensão; eis que derramarei sobre vós o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.
24 Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção;
25 antes desprezastes todo o meu conselho, e não fizestes caso da minha repreensão;
26 também eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o vosso terror,
27 quando o terror vos sobrevier como tempestade, e a vossa calamidade passar como redemoinho, e quando vos sobrevierem aperto e angústia.
28 Então a mim clamarão, mas eu não responderei; diligentemente me buscarão, mas não me acharão.
29 Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor;
30 não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão;
31 portanto comerão do fruto do seu caminho e se fartarão dos seus próprios conselhos.
32 Porque o desvio dos néscios os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá.
33 Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará tranquilo, sem receio do mal.”

Somente pela escrita deste único capítulo de Provérbios podemos inferir que Salomão era de fato um eleito de Deus, porque qualquer que não tivesse um conhecimento pessoal do Senhor, não poderia jamais ter escrito tais palavras, nas quais nós vemos a inspiração do Espírito, no proferimento de verdades celestiais e divinas.
Certamente, ao escrever o livro de Provérbios, ainda não havia experimentado a apostasia referida no livro de Reis, e cujas consequências podemos ver refletida na escrita do livro de Eclesiastes, também de sua autoria, o qual certamente escreveu na sua velhice.
O seis primeiros versos deste primeiro capítulo de Provérbios discorrem sobre o propósito geral da escrita deste livro que podemos resumir em poucas palavras como sendo o de “instruir em sábio procedimento, em retidão, justiça e equidade” usando as próprias palavras de Salomão no verso 3.
Nos versos 7 a 9  há uma exortação a que se tenha o temor do Senhor, e que isto se reflita na obediência à instrução dos pais.
Dos versos 10 a 19 são dadas exortações quanto a se evitar más companhias.
E finalmente dos versos 20 a 33 são citados exemplos da ruína que sobrevém àqueles que desprezam a sabedoria divina; sendo digna de destaque a citação dos versos 23 a 26, nos quais há um rogo de Deus para que os pecadores se convertam segundo a Sua repreensão divina, porque lhes daria entendimento da Sua Palavra pelo derramar do Seu Espírito. E a falta de atendimento a tal convite, que Deus faz graciosamente pelo estender da Sua mão, e o desprezo a todo o conselho divino, fazendo-se caso da Sua repreensão, fará com que se perca o favor do Senhor, que se transformará em juízo contra tal rebeldia.

Nós não nos alongaremos no comentário de cada citação proverbial, porque são auto-explicativas em sua grande maioria, de forma que a leitura direta do próprio texto bíblico dar-nos-á o conhecimento dos procedimentos que nos são recomendados, para que sejamos aprovados por Deus, e para que sustentemos um  bom testemunho diante de todos os homens.



Provérbios 2

“1 Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e entesourares contigo os meus mandamentos,
2 para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao entendimento;
3 sim, se clamares por discernimento, e por entendimento alçares a tua voz;
4 se o buscares como a prata e o procurares como a tesouros escondidos;
5 então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus.
6 Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca procedem o conhecimento e o entendimento;
7 ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; e escudo para os que caminham em integridade,
8 guardando-lhes as veredas da justiça, e preservando o caminho dos seus santos.
9 Então entenderás a retidão, a justiça, a equidade, e todas as boas veredas.
10 Pois a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será aprazível à tua alma;
11 o bom siso te protegerá, e o discernimento te guardará;
12 para te livrar do mau caminho, e do homem que diz coisas perversas;
13 dos que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas;
14 que se alegram  de fazer o mal, e se deleitam nas perversidades dos maus;
15 dos que são tortuosos nas suas veredas; e iníquos nas suas carreiras;
16 e para te livrar da mulher estranha, da estrangeira que lisonjeia com suas palavras;
17 a qual abandona o companheiro da sua mocidade e se esquece do concerto do seu Deus;
18 pois a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para as sombras.
19 Nenhum dos que se dirigirem a ela, tornarão a sair, nem retomará as veredas da vida.
20 Assim andarás pelo caminho dos bons, e guardarás as veredas dos justos.
21 Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela.
22 Mas os ímpios serão exterminados da terra, e dela os aleivosos serão desarraigados.”

Tão verdadeiras são estas palavras de Salomão neste capítulo, que se aplicaram à Sua própria vida, no final dos seus dias, porque ao se desviar da presença do Senhor, veio sobre ele tudo o que ele afirma, porque não somente se deixou conduzir pelos caminhos dos perversos vindo até mesmo a idolatrar, como também se deixou enredar por várias mulheres, que corromperam o seu coração.
Tivesse ele dado atenção, permanentemente ao que escrevera debaixo da inspiração do Espírito, jamais teria se desviado dos caminhos de Deus.
Por isso o alerta que é dirigido a todos os crentes pelo apóstolo Paulo, deve receber a devida atenção e todo empenho deles em diligência, para que nunca venham a cair da presença do Senhor.

“Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia.” (I Cor 10.12)

Não basta conhecer a Palavra da verdade, porque é necessário praticá-la continuamente, todos os dias da nossa vida. Caso contrário, cairemos, ainda que não seja para uma queda definitiva e fatal que signifique a perda da nossa salvação, se somos de fato eleitos de Deus, tal como era Salomão.
Somente o conhecimento das coisas relativas ao reino de Deus não será suficiente para nos preservar no dia mau. É necessário orar e vigiar em todo o tempo. É necessário confiar no próprio Deus para ser livrado das muitas tentações que há no mundo, e que são disparadas em grande número por parte dos principados e potestades das trevas, especialmente contra os crentes fiéis, com vistas a paralisar as suas ações que trazem prejuízo aos planos do diabo.
A verdadeira sabedoria não será portanto achada fora de um caminhar em permanente comunhão com Deus, porque é a pessoa do próprio Cristo a sabedoria que vive e se manifesta em nós, se permanecemos nEle, por guardarmos a Sua Palavra (I Cor 1.30).
Exige-se portanto este caminhar na verdade, para que possamos ser tomados da plenitude de Cristo, depois de ter caminhado em fidelidade em comunhão vital com Ele, todos os dias da nossa vida, negando-nos a nós mesmos e carregando a nossa cruz, para a mortificação do nosso ego.
Porque conhecemos, pela revelação da graça e da verdade que Cristo nos trouxe na presente dispensação (Jo 1.17), melhor do que o próprio Salomão, qual é o modo de obter a sabedoria, que é o próprio Cristo: é pela crucificação do nosso ego. Pela perda do nosso viver pela energia do ego, para que a Sua vida possa se manifestar em nós, conforme estaremos detalhando adiante.
UMA OUTRA VIDA DENTRO DA VIDA

“e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.” (Mt 7.14)

Jesus mesmo é a porta estreita (Jo 10.7); e o caminho apertado que conduzem a esta outra vida que é também Ele próprio (Jo 14.6; I Jo 5.20), a qual Ele afirma que são poucos os que a encontram.

O modo de se achar esta outra vida é perdendo a que temos, e ainda que ela venha a ser achada em toda a sua plenitude somente depois da nossa morte física, é possível achá-la ainda aqui neste mundo, pela morte do nosso ego. Por isso nosso Senhor disse que:

“Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.” (Mt 10.39)

A palavra vida no original grego usada neste texto é psiquê, referindo-se ao viver pela energia da alma. Então é este viver pela alma que deve morrer, para que se dê lugar ao viver no e pelo espírito, debaixo do poder do Espírito Santo, que é quem dá essa nova vida ao nosso espírito.

Quando Jesus disse que o propósito da Sua vinda a este mundo foi para que tivéssemos esta vida, e que a tivéssemos em abundância, era a isto a que Ele estava se referindo, ou seja, à Sua vida que passa a se manifestar dentro da nossa existência.
Então, quanto mais alguém morrer para o seu ego, em Jesus Cristo, mais terá desta nova vida que nos veio do céu. E por isso Jesus disse que Ele é o pão vivo que desceu do céu e que dá vida a todo aquele que dEle comer (Jo 6.41, 48, 51).

São poucos os que acham esta nova vida, porque é difícil o modo de obtê-la. Porque demanda a morte do nosso ego. É fácil para Deus, mas é difícil para o pecador fazê-lo, porque geralmente se apega à sua própria vida e não quer perdê-la. E de nós mesmos não podemos perder a nossa vida. É o próprio Deus que providencia as experiências que nos levarão a renunciar ao nosso eu. E estas operações são dolorosas para nós, porque naturalmente resistimos a todo tipo de morte. Entretanto é necessário que a casca da alma do nosso grão de trigo morra, que é esta vida que temos na carne, para que germine e cresça esta nova vida espiritual e celestial que recebemos de nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim como é algo maravilhoso ver um grão seco e diminuto se transformando numa bela planta viçosa, de igual modo é maravilhoso ver o surgimento na conversão; e o crescimento na santificação; desta planta celestial que foi plantada por Deus, que é esta nova vida, que nos tornou novas criaturas em Cristo Jesus.
À medida que o Senhor for matando em nós os nossos desejos irregulares; o nosso mau temperamento; os nossos melindres e caprichos; a obstinação em fazer a nossa própria vontade; a incapacidade para fazer renúncias com prazer; especialmente pelo uso de aflições e tribulações, e ao mesmo tempo em que for implantando progressivamente mais da humildade, da mansidão, da submissão e da obediência de Cristo em nós, mais nos tornaremos semelhantes a Ele, e por isso Paulo orava e se esforçava tanto para ver Cristo sendo formado desta forma nos crentes.

“Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;” (Gál 4.19)

Então isto não nos virá pelo simples ensino da Palavra de Deus, que é a verdade e o meio da nossa santificação, porque será exigido que estejamos dispostos a fazer renúncias e a permitir a Deus que crucifique o nosso ego, para que esta maravilhosa vida do Seu Filho possa ser implantada progressivamente em nós. Por isso nos é ordenado que carreguemos a nossa cruz diariamente. A morte pela cruz era gradual e lenta assim como é a morte do nosso velho homem que já recebeu a sentença de morte da parte de Deus no momento mesmo que nos convertemos a Cristo. Porque é necessário se despojar das coisas que se referem ao velho homem, para poder ser revestido também por Deus das coisas correspondentes a estas que morreram, e que se referem à nova criatura, como por exemplo: a fidelidade no lugar da infidelidade; a misericórdia no lugar da indiferença; a paciência no lugar da ira e assim por diante.
Quanta alegria há no coração de Deus, de Jesus Cristo, do Espírito Santo, dos ministros fiéis do evangelho, de esposos, de esposas, de filhos, ao verem seus amados sendo transformados de glória em glória, pelo poder do Espírito, à própria imagem do Senhor, porque aqueles que são assim transformados, passam a ser pessoas misericordiosas, pacientes, afáveis, dóceis, fiéis, confiáveis, justas, bondosas, e acima de tudo, amantes do Senhor e de nenhum dos prazeres mundanos.
Quanto regozijo há no céu e na terra por pessoas que se apresentam assim verdadeiramente consagradas ao Senhor e à Sua vontade, não por serem religiosas hipócritas, mas por carregarem em seus seres a poderosa vida do Filho de Deus, refletindo o brilho da Sua luz e graça, pelo poder do Espírito Santo, no qual elas andam diariamente.
Bendito seja o Senhor, em quem podemos ser novas criaturas, livres das amarras de um ego pecaminoso, para estarmos aliançados a Ele, pelos laços do Seu amor divino, andando na liberdade do Espírito.
Então se conhecerá, como Paulo conheceu, o poder da verdadeira alegria celestial e espiritual que triunfa sobre as aflições e tribulações; da coragem maior do que a de leões, que enfrenta sem se abalar toda a fúria dos poderes das trevas; do amor de Cristo, que tudo vence, sofre, crê, espera e suporta; e que nos faz longânimos, benignos, não invejosos, ou vangloriosos e ensoberbecidos; e que faz também com que nos portemos convenientemente e nunca buscando os nossos próprios interesses, senão os do Senhor e de outros; e que nos faz triunfar sobre as irritações, pelas provocações que venhamos a receber, e que além de tudo nos leva a nos regozijarmos somente com a justiça de Cristo e com a Sua verdade.    
Então, vale a pena morrer para a velha vida para que se possa ter mais e mais desta nova vida que nos está sendo oferecida pela graça, desde o céu.
Busquemos então esta outra vida dentro desta vida que temos na carne, e a receberemos conforme nosso Senhor tem prometido que se a buscarmos nós a acharemos, porque Ele mesmo nô-la revelará e dará, pela Sua graça.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gál 2.20)

É importante lembrarmos que Adão estava sem pecado no princípio, no jardim do Éden, no entanto, não havia entrado na posse da vida eterna, representada no fruto da árvore da vida que se encontrava no meio do jardim (Gên 2.9).
Ele comeria daquele fruto, porque não lhe havia sido vedado por Deus, tal como o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque era do propósito do Senhor que ele viesse a comer do fruto da árvore da vida, no momento apropriado, porque seria necessário, que Adão, ainda que estivesse sem pecado, que o comesse somente depois de aprender e a se dispor a renunciar à sua própria vontade, ou seja, ao seu ego.
Seria necessário que Adão morresse para a sua própria vida, para poder receber e viver pela vida de um Outro, a saber nosso Senhor, representado no fruto da árvore da vida.
Na verdade, Deus fizera muito mais do que uma simples proibição a Adão, quanto ao fruto do conhecimento do bem e do mal. Ele colocou à prova a sua obediência e até que ponto ele renunciaria à sua própria vontade, resistindo inclusive às tentações para que desobedecesse a Deus, vindas da parte do diabo, e até mesmo de sua própria mulher, para que mostrasse fé na Palavra do Senhor, de uma maneira prática, que pudesse ser comprovada por sua obediência, tal como Abraão viria a demonstrar no futuro.
Para nos ensinar a lição que dependemos de nos alimentar de Cristo para ter vida eterna, conforme estava representado em figura no fruto da árvore da vida no jardim do Éden, o Senhor fez com que dependamos de nos alimentar do fruto da terra para sustentar a nossa vida natural, para que possamos entender que é necessário se alimentar de Cristo para se obter e manter continuamente a vida sobrenatural do céu.
Por isso foi vedado a Adão pela misericórdia de Deus, que tivesse acesso àquele fruto depois que ele caiu no pecado, porque viveria debaixo do pecado por toda a eternidade. Adão teria primeiro que se arrepender do pecado, a odiar e a deixar o pecado, para poder receber esta maravilhosa vida pura e imaculada do céu, que é o próprio Senhor Jesus Cristo.
Não se pode comer então do fruto da vida eterna que é Cristo, sem que se renuncie à própria vida, e especialmente quando esta vida se encontra debaixo do pecado, como se encontrou o próprio Adão, e como nos encontramos todos nós, por sermos seus descendentes, porque ele foi expulso do Éden.
Todos ficamos portanto, naturalmente destituídos da vida eterna, não porque Adão deixou de comer o fruto da árvore da vida, mas porque passamos a ser pecadores tal como ele.
A vida eterna não é transmitida hereditariamente. Se Adão tivesse comido o fruto da árvore da vida, ele teria vida eterna, mas esta não seria transmitida aos seus descendentes, porque cada um, de per si, deve morrer para o seu ego, deve renunciar a si mesmo, e entregar-se a Cristo, pela fé, para que possa receber a vida eterna.
Aquele pois que estiver disposto a perder a sua vida, a qual foi herdada de Adão, vai achar a sua verdadeira vida, que é a vida eterna que Deus havia planejado, para que todo homem vivesse por ela. Adão jamais poderia nos transmitir esta vida celestial, porque não a possuía em sua natureza. Assim, o que nos transmitiu hereditariamente foi apenas a sua própria vida natural.
Por isso, aqueles que não renunciam às suas vidas, que não se arrependem de seus pecados, não podem achar esta vida eterna que é o próprio Jesus Cristo.
Todavia, todos aqueles que se dispuserem a perdê-la, e que não somente se dispuserem a isto, como também vierem a perdê-la efetivamente por se entregarem a Cristo, pela fé, para ser o Senhor deles, estes receberão a nova vida do céu que está em Cristo, conforme Ele prometeu concedê-la aos que morressem para si mesmos e que renunciassem a tudo quanto tenham deste mundo.  
Sabendo que tal vida não nos vem como um lago de águas paradas, mas como uma fonte de águas vivas que saltam para a vida eterna, ou seja, elas se movimentam e crescem desde o seu nascedouro, até se transformar num grande rio. São as águas que procedem do próprio Deus, conforme a visão que dera a Ezequiel dessas águas saindo do Seu templo (Ez 47) e percorrendo toda a terra, e que no início são águas que dão pelos artelhos, e depois de uma certa medida em crescimento chegam à altura dos joelhos, e após outra medida em crescimento chegam à altura da cintura, e finalmente, por mais uma medida, já não se pode mais estar em pé, sendo necessário nadar em tais águas do Espírito.
É isto o que se dá com o crente que cresce progressivamente na vida de Cristo que é este enchimento progressivo do Espírito Santo. À medida que se cresce nEle, chega-se a um ponto em que se perde a ligação espiritual com as coisas da terra, porque já não seremos mais dominados por desejos mundanos (representado pelos pés sobre a terra, enquanto se caminha mais e mais neste rio que vai crescendo à medida em que andamos nele, até chegar a um ponto que somos obrigados a nadar, tirando por conseguinte nossos pés da terra). Quando isto ocorre, podemos dizer juntamente com Paulo que estamos crucificados para o mundo e o mundo para nós, por causa deste viver inteiramente no Espírito, e no Seu mover. Bem-aventurados são aqueles que chegam até tal ponto de crescimento espiritual.
Então esta vida não é somente recebida na conversão, como também cresce. Assim, nenhum crente deve pensar que deve apenas recebê-la, porque se espera que ele entenda a natureza desta vida que recebeu e se esforce em Deus para que ela cresça.
Por isso se diz que os crentes são plantas da lavoura de Deus, e que somente Deus pode lhes dar crescimento, significando isto o aumento em graus desta vida eterna, desde o seu novo nascimento (germinação) até se tornarem uma planta madura que dê os seus respectivos frutos, e que continuam frutificando para sempre, sempre renovando as suas folhas. Isto sucede a eles porque têm neles a vida de Jesus Cristo, que é infinita, eterna e insondável.

“6 Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.
8 Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.
9 Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.” (I Cor 3.6-9)

Nós estamos destacando a seguir, outros textos bíblicos que se referem a este assunto, e apresentando um breve comentário onde julgamos oportuno fazê-lo.

“mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” (Jo 4.14)

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16). Veja que foi para o propósito de recebermos a vida eterna que Jesus no foi dado como Salvador e Senhor.

“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (Jo 3.36). Nós vemos que a vida eterna é recebida somente pela fé em Cristo. E é também pela mesma fé nEle que ela cresce. Daí ser necessário permanecer nEle para que Ele permaneça em nós, porque não é a nossa própria vida que cresce, porque como vimos, esta vida nos vem do alto, é de um Outro (Jesus). É no próprio Cristo crescendo em nós, em que consiste o crescimento desta vida eterna.

“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.” (Jo 6.27). Como já comentamos, a vida eterna necessita do pão espiritual que é o próprio Cristo para que possa ser mantida em crescimento constante. Isto significa que Ele é o pão que alimenta o espírito, e do qual temos que nos alimentar constantemente, se não queremos nos achar raquíticos ou mortos espirituais.

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6.54). Este texto confirma o que foi dito no texto anterior, porque não se pode obter a vida eterna, e também não se pode ter o crescimento de tal vida, sem se alimentar do próprio Cristo, como Ele afirma diretamente neste texto de Jo 6.54.

“eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.” (Jo 10.28). Ninguém pode produzir a vida eterna por atos de mera religiosidade, porque ela é concedida somente por Cristo, e pela Sua habitação naqueles que nEle creem, porque Ele mesmo é esta vida. Veja que a promessa é de viver para sempre uma vez recebida tal vida. Não é vida para um determinado período de tempo, mas por toda a eternidade, porque Jesus garante que ninguém arrebatará as Suas ovelhas da Sua mão, e que elas jamais perecerão.

“25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; 26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11.25,26). Aquele que crê em Cristo, ainda que morra fisicamente viverá. E este que crê, na verdade jamais morrerá espiritualmente, porque ganhou a vida eterna em Cristo, que é a garantia de que nunca será achado separado desta vida que lhe foi dada do alto por Deus. Os ímpios somente têm a vida natural,e não tendo esta vida eterna em si mesmos, ainda que existam, já estão mortos espiritualmente falando, porque não têm a habitação de Jesus Cristo, que é a fonte da verdadeira vida que se traduz na implantação das suas características e poderes divinos nos crentes.

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (Jo 17.3). A vida eterna consiste no conhecimento pessoal e íntimo da pessoa de Deus e de Jesus Cristo, por uma obtenção e aumento em crescimento progressivo de tal conhecimento. Por isso se fala em vida plena, em vida abundante, porque é possível se ter menores ou maiores medidas de tal vida, à proporção da nossa consagração ao Senhor, pela busca deste crescimento e conhecimento de Jesus (II Pe 3.18).

“Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” (Atos 13.48). A obtenção da vida eterna é realizado segundo a eleição de Deus. Não é obtida portanto, simplesmente por se desejá-la, tal como o jovem rico dos dias de Jesus que a desejava, mas tudo indica que não a alcançou. Não basta querer, porque Deus tem que usar de misericórdia e nos mover a nos esforçarmos para entrar no Seu reino, conforme comentamos no início deste artigo, por uma renúncia a tudo o que somos e que temos, especialmente ao nosso ego, porque esta vida eterna é ganha, se perdendo a vida relativa à natureza terrena. A vida que é segundo um viver pela energia da alma. Então é um perder para poder ganhar, e isto demandará um posicionamento e esforço de nossa parte. Então Deus nos concederá tal vida inteiramente pela graça, por causa da nossa fé no Seu Filho, como sendo o autor e o consumador não somente da fé, como desta própria vida divina que Ele veio nos conceder. E como nos encontramos na condição de escravos do pecado antes do encontro com Cristo, se exige também arrependimento e diligência na prática do bem para a obtenção e manutenção em crescimento desta vida. Por isso o apóstolo Paulo disse o seguinte: “a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram glória, e honra e incorrupção;” (Rom 2.7).

“para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Rom 5.21). A graça prevalece e reina sobre a morte e o pecado, mediante a justiça de Cristo, que recebemos na justificação, para o propósito de produzir a vida eterna em nós, quer no que se refere à sua recepção, quer ao que se refere ao seu crescimento em graus.

“Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.” (Rom 6.22). A conversão e a santificação têm em vista, ou seja têm por objetivo produzir em nós esta qualidade de vida divina que é chamada na Bíblia de vida eterna.

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rom 6.23). Já comentamos anteriormente que a vida eterna é um dom gratuito de Deus que recebemos por estarmos em Jesus, ou seja, é recebida inteiramente pela graça de Deus e não segundo os nossos méritos ou obras. Exige-se esforço para buscá-la como comentado anteriormente, mas nenhuma obra específica que façamos a ponto de sermos considerados dignos de recebê-la.

“Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál 6.8). Este texto comprova que é necessário  semear a própria vida no solo do Espírito Santo, para que possamos colher como resultado desta semeadura, esta nova vida, que é a vida eterna, que dará uma bela colheita para Deus. Se há colheita, é porque houve crescimento desta planta divina que foi semeada em nós e por nós, no Espírito. Assim, todo o crescimento desta vida, está relacionado ao trabalho do Espírito Santo em nós, e daí ser tão necessário não somente viver no Espírito, como também andar nEle, ou seja se mover e atuar no Espírito em constante movimento, sem jamais parar, porque andar indica a ação de movimento contínuo de uma posição para outra, e temos visto que no que se refere à vida eterna, estas mudanças de posição se referem a crescimentos em graus de vida cada vez maiores, conforme se vê na ilustração da lavoura, com os crentes sendo as plantas desta lavoura de Deus; do edifício que está sendo construído em Cristo; e do rio de águas vivas que cresce desde a sua fonte.

“1 E mostrou-me o rio da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.
2 No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.” (Apo 22.1,2)

“1 Depois disso me fez voltar à entrada do templo; e eis que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar.
2 Então me levou para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam umas águas pelo lado meridional.
3 Saindo o homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos.
4 De novo mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos.
5 Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar; pois as águas tinham crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se podia passar a vau.
6 E me perguntou: Viste, filho do homem? Então me levou, e me fez voltar à margem do rio.
7 Tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia árvores em grande número, de uma e de outra banda.
8 Então me disse: Estas águas saem para a região oriental e, descendo pela Arabá, entrarão no Mar Morto, e ao entrarem nas águas salgadas, estas se tornarão saudáveis.
9 E por onde quer que entrar o rio viverá todo ser vivente que vive em enxames, e haverá muitíssimo peixe; porque lá chegarão estas águas, para que as águas do mar se tornem doces, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio.
10 Os pescadores estarão junto dele; desde En-Gedi até En-Eglaim, haverá lugar para estender as redes; o seu peixe será, segundo a sua espécie, como o peixe do Mar Grande, em multidão excessiva.
11 Mas os seus charcos e os seus pântanos não sararão; serão deixados para sal.
12 E junto do rio, à sua margem, de uma e de outra banda, nascerá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer. Não murchará a sua folha, nem faltará o seu fruto. Nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário. O seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio.” (Ez 47.1-12)

“Peleja a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” (I Tim 6.12). Este texto não está insinuando perda de salvação, mas de crescimento, de desenvolvimento da salvação. Sequer está insinuando que a salvação é obtida em graus, mas que a vida eterna é algo do qual devemos nos apoderar, ou seja, nos agarrar, uma vez tendo sido obtida, para que não percamos os crescimentos em graus desta vida, por negligência da nossa parte na fé e nos deveres que nos são impostos por Deus em Sua Palavra, especialmente os relativos à nossa consagração.

“para que, sendo justificados pela sua graça, fôssemos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” (Tito 3.7). O que esperamos em Cristo é a vida eterna, não que não a tenhamos obtido ao crermos nEle, mas que é nisto que deve consistir o nosso foco e expectativa, porque esperamos com firme convicção o que nos foi prometido, porque Deus é fiel em cumprir o que prometeu e não pode mentir, e para tal certeza nos deu o selo do Espírito Santo, depois de termos sido justificados pela Sua graça, como se afirma neste texto.

“E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (I Jo 2.25)

“E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho.” (I Jo 5.11)

“Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna.” (I Jo 5.13)

“Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (I Jo 5.20). No final deste texto se afirma diretamente que é o próprio Jesus a vida eterna.


É portanto estando cheios desta vida sobrenatural e divina que é o próprio Cristo vivendo em nós, que podemos de fato fazer face a todas as tentações e vencer o mundo, de modo que possamos não somente ser aprovados por Deus, como também a estarmos habilitados a fazer a Sua vontade.


Provérbios 3

“1 Filho meu, não te esqueças da minha instrução, e o teu coração guarde os meus mandamentos;
2 porque eles aumentarão os teus dias, e anos de vida e paz.
3 Não se afastem de ti a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço, escreve-as na tábua do teu coração;
4 assim acharás favor e bom entendimento à vista de Deus e dos homens.
5 Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.
6 Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.
7 Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.
8 Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos.
9 Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda;
10 assim se encherão de fartura os teus celeiros, e trasbordarão de mosto os teus lagares.
11 Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua repreensão;
12 porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.
13 Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire entendimento;
14 pois melhor é o lucro que ela dá do que o lucro da prata, e a sua renda do que o ouro.
15 Mais preciosa é do que as jóias, e nada do que possas desejar é comparável a ela.
16 Longevidade há na sua mão direita; na sua esquerda riquezas e honra.
17 Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas são paz.
18 É árvore da vida para os que dela lançam mão, e bem-aventurado é todo aquele que a retém.
19 O Senhor pela sabedoria fundou a terra; pelo entendimento estabeleceu o céu.
20 Pelo seu conhecimento se fendem os abismos, e as nuvens destilam o orvalho.
21 Filho meu, não se apartem estas coisas dos teus olhos: guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso;
22 assim serão elas vida para a tua alma, e adorno para o teu pescoço.
23 Então andarás seguro pelo teu caminho, e não tropeçará o teu pé.
24 Quando te deitares, não temerás; sim, tu te deitarás e o teu sono será suave.
25 Não temas o pavor repentino, nem a assolação dos ímpios quando vier.
26 Porque o Senhor será a tua confiança, e guardará os teus pés de serem presos.
27 Não negues o bem a quem de direito, estando no teu poder fazê-lo.
28 Não digas ao teu próximo: Vai, e volta, amanhã to darei; tendo-o tu contigo.
29 Não maquines o mal contra o teu próximo, que habita contigo confiadamente.
30 Não contendas com um homem, sem motivo, não te havendo ele feito o mal.
31 Não tenhas inveja do homem violento, nem escolhas nenhum de seus caminhos.
32 Porque o perverso é abominação para o Senhor, mas com os retos está o seu segredo.
33 A maldição do Senhor habita na casa do ímpio, mas ele abençoa a habitação dos justos.
34 Ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes.
35 Os sábios herdarão honra, mas a exaltação dos loucos se converte em ignomínia.”

Este capítulo mostra claramente que é na renúncia ao ego, na humildade em caminhar diante do Senhor, que se acha a vida eterna, a sabedoria e o favor divinos, e o Seu poder no viver.
Ninguém se iluda pensando que é possível viver de modo agradável a Deus sem trilhar este caminho estreito da Sua vontade, que é a vida do próprio Cristo, o qual nos tem sido dado por Deus como o modelo ao qual devemos nos ajustar, porque afinal, fomos criados para sermos segundo à Sua exata imagem e semelhança.
Como não está em nós mesmos, e em nossa natureza, o poder e a capacidade para operar tal transformação que nos conforme mais e mais à pessoa do próprio Cristo, temos recebido o Espírito Santo para o cumprimento de tal propósito.
Então quanto mais humildes formos no reconhecimento desta verdade, mais graça receberemos da parte de Deus, para que possamos crescer espiritualmente, de modo progressivo e contínuo, até que a plenitude de Cristo seja formada em nós.
Tudo isto que dissemos pode ser visto nos seguintes versos deste capítulo:

“5 Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.
6 Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.
7 Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” (v. 5 a 7)

É nisto que consiste a verdadeira fé em Cristo. É uma fé de obediência à vontade de Deus, especialmente quanto a não sermos sábios a nossos próprios olhos, ter o temor do Senhor, apartar-nos do mal, e confiar no Senhor de todo o coração, reconhecendo-O em todos os nossos caminhos.
E a consequência abençoada dos que já não vivem, mas têm a Cristo como a vida deles, tal como o apóstolo Paulo (Gál 2.20) é descrita nos versos 22 a 26:

“22 assim serão elas vida para a tua alma, e adorno para o teu pescoço.
23 Então andarás seguro pelo teu caminho, e não tropeçará o teu pé.
24 Quando te deitares, não temerás; sim, tu te deitarás e o teu sono será suave.
25 Não temas o pavor repentino, nem a assolação dos ímpios quando vier.
26 Porque o Senhor será a tua confiança, e guardará os teus pés de serem presos.”

Como poderemos ter o Senhor como a nossa cidade forte, a nossa segurança e paz, estando ausentes dEle?  Mas todo aquele que permanece em Cristo, e Ele nele, por guardar as Suas palavras, poderá todas as coisas, porque o Senhor lhe fortalecerá ainda que em meio a aflições e tribulações, para que não apenas não seja vencido pelo temor do mal, como também para poder vencer o mal com o bem.


Provérbios 4

“1 Ouvi, filhos, a instrução do pai, e estai atentos para conhecerdes o entendimento.
2 Pois eu vos dou boa doutrina; não abandoneis o meu ensino.
3 Quando eu era filho aos pés de meu, pai, tenro e único em estima diante de minha mãe,
4 ele me ensinava, e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos, e vive.
5 Adquire a sabedoria, adquire o entendimento; não te esqueças nem te desvies das palavras da minha boca.
6 Não a abandones, e ela te guardará; ama-a, e ela te preservará.
7 A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento.
8 Estima-a, e ela te exaltará; se a abraçares, ela te honrará.
9 Ela dará à tua cabeça uma grinalda de graça; e uma coroa de glória te entregará.
10 Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras, para que se multipliquem os anos da tua vida.
11 Eu te ensinei o caminho da sabedoria; guiei-te pelas veredas da retidão.
12 Quando andares, não se embaraçarão os teus passos; e se correres, não tropeçarás.
13 Apega-te à instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida.
14 Não entres na vereda dos ímpios, nem andes pelo caminho dos maus.
15 Evita-o, não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo.
16 Pois não dormem, se não fizerem o mal, e foge deles o sono se não fizerem tropeçar alguém.
17 Porque comem o pão da impiedade, e bebem o vinho da violência.
18 Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.
19 O caminho dos ímpios é como a escuridão: não sabem eles em que tropeçam.
20 Filho meu, atenta para as minhas palavras; inclina o teu ouvido às minhas instruções.
21 Não se apartem elas de diante dos teus olhos; guarda-as dentro do teu coração.
22 Porque são vida para os que as encontram, e saúde para todo o seu corpo.
23 Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.
24 Desvia de ti a malignidade da boca, e alonga de ti a perversidade dos lábios.
25 Dirijam-se os teus olhos para a frente, e olhem as tuas pálpebras diretamente diante de ti.
26 Pondera a vereda de teus pés, e serão seguros todos os teus caminhos.
27 Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.”

No verso 18 é afirmado que o caminho dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito; ou seja, haverá um crescimento em graus na sua santificação pelo Espírito, de glória em glória até a plena maturidade em Cristo. E o modo de se obter isto é principalmente pelo que se diz no verso 23: “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”. Porque Deus prometeu que na Nova Aliança escreveria a Sua lei nas nossas mentes e corações (Jer 31.31-34). E é com o coração que se crê para a salvação. É dele que procede o mal ou o bem. Boas ou más palavras. É o que sai dele que contamina ou purifica o homem.  Então a nossa união com Cristo é basicamente uma união de coração, do espírito, do homem interior. Então é importante sabermos em que consiste este guardar com toda a diligência o coração, por ser dele que procedem todas as fontes da vida eterna que temos em Cristo. Para tal propósito, recorremos em nosso comentário a um texto adaptado de autoria de John Flavel:

“Sobre Guardar o Coração

Por John Flavel (adaptado)

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”  (Pv 4.23).

O texto é muito claro e mostra que não há nada mais importante para ser guardado por nós do que o nosso próprio coração.
O coração do homem é a pior parte dele antes de ser regenerado, e é a melhor posteriormente; porque é a base de princípios, e a fonte de ações. O olho de Deus está, e o olho do crente deveria estar também fixado principalmente no coração.
A maior dificuldade na conversão, é dar o coração a Deus; e a maior dificuldade depois da conversão, é guardar o coração com Deus. Aqui repousa a força mesma e a tensão da religião; aqui está aquilo que faz o modo da vida ser um modo estreito, e o portão do céu um portão também estreito.
Em nosso texto nós temos uma exortação: “guardar o coração”, e  a razão, o motivo para isto: “porque dele procedem as fontes da vida.”.
Na exortação devemos considerar primeiro o assunto do dever. E depois consideraremos a maneira de executar isto.
1. O assunto do dever: Guarda o teu coração. Coração aqui é uma referência à alma. Em várias passagens bíblicas tem também o significado de memória, entendimento, consciência (Rom 1.21; I João 3.10; Sl 119.11 etc).
Mas no nosso texto devemos considerar o coração como uma referência à alma  ou homem interior.
O que o coração é para o corpo, a alma é para o homem; e o que a saúde é para o coração, a santidade é para a alma. O estado de todo o corpo depende da inteireza e vigor do coração, e o estado eterno do homem e sua saúde espiritual depende da sua alma. Por isso há uma correlação metafórica do coração com a alma.
Guardar o coração, com entendimento diligente e constante* uso de todos os meios santos para preservar a alma do pecado, e manter sua doce e livre comunhão com Deus.
* Eu digo constante, porque se o coração deve ser guardado, então a diligência no uso dos meios santos (oração, meditação na Palavra etc) deve ser também guardado constantemente.
A ideia no texto para guardar o coração corresponde a uma guarnição sitiada, que é atacada por muitos inimigos, e mesmo correndo o perigo de ser traída por cidadãos traiçoeiros que se encontram em suas próprias fileiras – nisto se incluem nossos próprios pecados e as ações danosas de falsos irmãos em Cristo da própria Igreja.
Guarde o teu coração – parece ser uma ordem para fazermos este trabalho, mas não insinua que devemos fazer isto por nossa própria suficiência.
Não somos capazes de parar o sol em seu curso, ou fazer os rios correrem para trás, e como por nossa própria vontade e poder governaremos os nossos corações?
Sem dúvida este é um trabalho para o poder da graça de Deus porque Jesus diz que sem Ele nada podemos fazer.
2. A maneira de executar isto é com toda a diligência. O motivo para este dever é muito pesado: “Porque dele procedem as fontes da vida”. Isto é, o coração é a fonte de todas as operações vitais; é a fonte e origem tanto do bem quanto do mal.
Da abundância do coração fala a boca.
Guardar o coração, necessariamente supõe um trabalho prévio de regeneração que deu ao coração uma inclinação espiritual nova, porque se faltar graça ao coração ninguém poderá guardá-lo corretamente diante de Deus.
Antes da queda no Éden, o homem se encontrava numa condição constante, uniforme de espírito, e sua mente tinha um conhecimento perfeito das exigências de Deus, e todos os seus poderes e desejos encontravam-se numa disposição obediente.
Mas, depois da queda o homem se tornou uma criatura rebelde, oposto ao seu Criador, e assim ficou totalmente desordenado, e todas suas ações são irregulares. Mas através da regeneração a alma desordenada é preparada para a retidão, em sujeição e obediência à vontade de Deus. A compreensão é iluminada, a vontade rebelde é gradualmente conquistada. Assim a alma que o pecado havia depravado universalmente, é restabelecida pela graça.
Então este dever de guardar o coração nada mais é do que o cuidado constante e diligência de tal homem renovado em preservar a sua alma naquela condição santa para a qual a graça a elevou.
Porque embora a graça tenha, em uma grande medida, restaurado a alma, e dado à mesma uma disposição divina habitual, contudo o pecado frequentemente a descompõe, e a alma é então como um instrumento musical que necessita estar sempre sendo afinado.
Assim, é necessário estar sempre preparando o coração para aquela condição espiritual que possibilita a nossa comunhão com Deus.
Davi comungava com o seu próprio coração para saber se ele estava indo para a frente ou indo para trás. E o coração nunca pode ser guardado até que seu caso seja examinado e entendido.
Esta preparação do coração inclui uma humilhação profunda para os males e desordens do coração.
Inclui também uma súplica séria em oração para que o coração seja purificado e retificado pela graça toda vez que o pecado o tiver sujado e desordenado. Devemos pedir um coração que ame a Deus e odeie o pecado.
Guardar e preparar o coração inclui impor um forte compromisso em nós mesmo para caminharmos mais cuidadosamente com Deus e evitar as ocasiões por meio das quais o coração possa ser induzido a pecar.
E este forte compromisso deve ser motivado por um santo temor de Deus, especialmente para não entristecer o Espírito Santo, que é o nosso Consolador amoroso e fiel.
E para isto é preciso termos sempre a presença de Deus fixada diante de nós, sabendo que nada escapa da Sua vista, em razão da Sua Onisciência e Onipresença.
Trabalhar o coração é realmente o trabalho mais difícil e necessário que devemos fazer. Não é fácil adquirir um coração quebrantado para o pecado, derretido com a graça quando bendizemos a Deus por isto, e estar realmente humilhado e envergonhado diante da santidade de Deus, e guardar o coração nesta condição, não somente durante a realização do nosso dever, mas depois dele, trará certamente alguns gemidos e dores de alma.
Reprimir os atos externos de pecados é louvável, e até mesmo pessoas carnais podem fazer isto, mas matar a raiz do pecado no coração e fixar um governo santo sobre o mesmo, isto não é nada fácil.
Guardar o coração é um trabalho constante que nunca termina enquanto estivermos neste mundo.
Este é o negócio mais importante da vida de um crente. Sem isto nos tornamos formalistas em religião, e todos os nossos atos nada significarão para Deus, porque Ele sempre pede primeiro o nosso coração antes de nossas palavras e ações.
Deus tem declarado desde os céus a Sua ira contra a maldade dos corações, então em guardar o coração está envolvido o Seu agrado e glória.
Deus trouxe o dilúvio nos dias de Noé porque viu que a imaginação dos corações dos homens era continuamente má. E homens com corações que abrigam o mal e que não se dispõem para o bem, para um viver santo, não são de nenhuma serventia para Deus, senão para serem condenados.
A sinceridade de nossa profissão de fé depende do cuidado que nos exercitamos para guardar nossos corações. E todo homem que é descuidado quanto à condição do seu coração é apenas um hipócrita na sua profissão religiosa. Temos no rei Jeú de Israel um grande exemplo disto. Ele protestou ter grande zelo por Deus, mas não tinha um coração segundo o coração de Deus, tal como Davi.
O coração de Deus, isto é,  a Sua natureza e essência é pura santidade, e assim deve ser também o nosso coração, e de outra forma não podemos afirmar verdadeiramente que estamos servindo ou amando a Deus.
 A hipocrisia de Simão Mago foi revelada rapidamente porque o coração dele não era reto para com Deus.
Quando não guardamos o coração em santidade e louvamos a Deus com nossos lábios Ele nos repreenderá por esta falsidade porque saberá muito bem o quanto os nossos corações estão afastados dEle.
A beleza de nossa conversação surge da condição divina de nossos espíritos. Há um brilho e beleza espiritual na conversação dos santos.
Como pode um coração desordenado produzir uma conversação ordenada? Daí a importância de se guardar o coração. Não é muito difícil de discernir pelas conversações dos cristãos em que estado se encontram os seus corações. Quando o coração está concentrado nas coisas do alto e não nas que são da terra a conversa girará em torno das coisas espirituais, celestiais e divinas.
E esta vida do céu não será achada através da busca de revelações sobrenaturais, de se desejar ouvir Deus ocasionalmente, mas senão de um esforço diligente em obediência à Palavra, que geralmente será antecedido por muitas humilhações e dores do coração. Porque o método de Deus comumente é primeiro humilhar para depois exaltar.
A Palavra não está no céu mas junto à boca e próximo do coração. Não é preciso ir ao céu para trazer Cristo à terra. Ele habita conosco em nosso coração e é no nosso coração que Ele deve ser buscado com toda a diligência em obediência à Sua vontade. Este é o modo comum e geral de encontrá-lo.
Certa pessoa que se achava à beira do desespero veio a ser encontrada em perfeita paz posteriormente por um amigo e este lhe perguntou como havia achado tal paz, e ela lhe respondeu que não havia sido por nenhuma revelação extraordinária, mas sujeitando sua compreensão à Bíblia e comparando seu coração com a Palavra.  
Realmente, o Espírito assegura a nossa firmeza em Cristo testemunhando nossa adoção; e ele a testemunha de dois modos. Um dos modos é, objetivamente, quer dizer, produzindo aquelas graças em nossas almas que são as condições da promessa; e assim o Espírito, e as Suas graças em nós, são um: o Espírito de Deus que habita em nós é uma marca de nossa adoção. Agora o Espírito pode ser discernido, não na essência dele, mas nas operações dele; e discernir estas, é discernir o Espírito; mas não podemos ter este discernimento sem uma vigilância minuciosa, diligente e sincera do coração.
O outro modo do Espírito é testemunhando efetivamente, quer dizer, irradiando a alma com uma graça que descobre luz, brilhando no Seu próprio trabalho; e isto, em ordem de natureza, segue o trabalho anterior: ele infunde primeiro a graça, e então abre o olho da alma para ver isto. Agora, desde que o coração é o objeto dessa graça infundida, igualmente, por este modo o Espírito testemunha a necessidade que temos de  guardar nossos corações cuidadosamente. Porque,
Um coração negligenciado está tão confuso e em trevas que as poucas graças que se encontram nele não são normalmente discerníveis. Se os crentes mais preciosos e laboriosos acham às vezes difícil discernir o mover do Espírito em seus corações, o que se dirá dos crentes que são negligentes quanto ao dever de guardarem os seus corações quanto a discernirem as suas graças?
Sinceridade! que é a coisa que deve ser buscada, repousa no coração como um pedaço pequeno de ouro no fundo de um rio; e aquele que desejar achá-lo tem que aguardar até que a água fique clara, e então ele verá o ouro brilhando no fundo. E para que o coração possa estar claro e resolvido, quantas dores, vigilância, cuidado e diligência, são requeridos!
Deus normalmente não favorece almas negligentes com os confortos da garantia da certeza da salvação; porque ele não vai confirmar indolência e descuido. Ele dará garantia, mas será do próprio modo dele; a ação confirmatória dEle será unida ao nosso cuidado e diligência. Estão enganados todos aqueles que pensam que esta garantia, ou testificação do Espírito, pode ser obtida sem trabalho.
Ainda que um crente negligente venha a alcançar num dado momento a garantia da certeza da sua salvação e plena aceitação por Deus, que traz paz à alma, dificilmente ele conseguirá reter isto, em razão da sua negligência. Esta bênção não é para indolentes mas para diligentes.
Não admira então não vermos efetivamente envolvidos e interessados na obra de Deus e com o próprio Deus, aqueles que não são diligentes na prática da Palavra de Deus, sendo descuidados nos deveres por Ele ordenados.
Este assunto de guardar o coração é tão delicado e sutil, que um pouco de orgulho, vaidade, inveja ou qualquer outro descuido poderá fazer em pedaços tudo aquilo que foi conseguido com muito esforço num grande tempo. Por isso nunca devemos descuidar do dever de guardar o nosso coração com toda diligência. Ninguém deve se iludir pensando que poderá tirar férias de Deus por um único dia que seja e ser achado no dia seguinte nas mesmas condições espirituais em que se achava antes.
A melhoria de nossas graças depende de guardar os nossos corações. Eu nunca vi a graça prosperar numa alma descuidada. Os hábitos e as raízes da graça devem ser plantados com diligência no coração; e quanto mais profundamente eles estão arraigados, mais a graça florescerá. Em Efésios 3.17, nós lemos sobre  estar arraigados em graça; graça no coração é a raiz de toda palavra de edificação que sai da boca, e de todo trabalho santo feito pelas mãos.
É verdade, que Cristo é a raiz de um crente, Mas Cristo é a raiz original, e a graça é uma raiz originada, plantada, e influenciada por Cristo. Agora, num coração não guardado com cuidado e diligência, estas influências estão paradas e em vez de frutificação, a graça será quebrada por uma multidão de vaidades e todas as obras da carne que devorarão a sua força; e o coração que é a sede destas operações será conformado a estas influências que operam contra a graça divina.
No coração descuidado operarão multidões de pensamentos vãos e tolos que trabalharão continuamente, e lançando também continuamente fora aqueles pensamentos espirituais de Deus que lá se encontravam anteriormente, e pelos quais a alma estava sendo refrigerada.
E o coração descuidado não pode receber e reter a graça que cai continuamente do céu como chuva sobre as almas, e fica como uma terra seca e estéril, incapaz de sustentar uma boa plantação divina, tal como o autor de Hebreus o retrata em Heb 6.4-6.
Um coração descuidado é como uma cisterna rachada que não pode reter as águas vivas do Espírito Santo. Elas se escoarão e não poderão ser desfrutadas e usadas para operar através de nós os bons propósitos de Deus em relação a nós e àqueles aos quais Ele abençoaria por nosso intermédio, caso tivéssemos guardado o nosso coração.
A estabilidade de nossas almas na hora da tentação depende do cuidado que nós temos em guardar nossos corações. O coração descuidado é uma presa fácil para Satanás, que sempre anda em derredor procurando um descuidado a quem possa tragar. Os dardos inflamados de Satanás são disparados principalmente contra o coração, porque se ele ganhar o coração, ele ganhará o homem todo, e torna-se muito fácil a sua conquista quando consegue vencer o coração descuidado.
Então é grande sabedoria observar quais são os primeiros movimentos do coração, quando a mente é submetida à apreciação de um objeto desejável. Porque os movimentos do pecado são mais fracos no princípio e tendem a aumentar pela excitação da mente e da imaginação. Um pouco de cuidado e vigilância logo neste primeiro momento da tentação pode ajudar a prevenir muito dano futuro. E o coração descuidado que não atende a isto é trazido para dentro do poder da tentação, como os sírios foram trazidos por Eliseu para o meio de Samaria, antes que eles soubessem onde se encontravam.
Como vimos, este trabalho de guardar o coração deve ser um trabalho diário, constante, permanente, mas há épocas que requerem uma vigilância maior sobre o coração, em razão do grande perigo que elas representam para nós:
A primeira época é o tempo de prosperidade. O coração deve ser guardado mais intensamente em períodos de prosperidade, seja de qual natureza for, material, financeira, ou da própria obra de Deus, porque é muito comum ser tentado a se tornar orgulhoso nestas ocasiões, e no caso de prosperidade material há também a tentação de se tornar mundano e carnal. É difícil para qualquer homem manter-se humilde na prosperidade. Até o piedoso rei Ezequias não pôde esconder um temperamento vanglorioso em sua tentação, quando expôs as riquezas de Judá à embaixada de Babilônia, como que se aquela prosperidade fosse fruto da força do seu próprio braço, e não dádivas que haviam sido dadas graciosamente pelo Senhor.
Há várias ajudas para guardar o coração das armadilhas perigosas da prosperidade.
1. Considere as tentações que acompanham uma condição agradável e próspera. Poucos, que vivem ricamente nos prazeres deste mundo sabem que lhes aguarda uma condenação eterna. Jesus pessoalmente alertou sobre o perigo das riquezas e da impossibilidade de se servir a Deus e ao dinheiro.
2. Pode ajudar a nos guardar mais humildes e alertas quanto à  prosperidade, considerar quantos cristãos  se tornaram piores por causa disto. Muitos chegaram a apostatar da fé, conforme dizer de Paulo em I Tim 6.
3. Consideremos que Deus não avalia nenhum homem por estas coisas. Ele nunca avalia pelo exterior senão pelo coração.
4. O coração pode ser guardado humilde considerando que nenhum bem deste mundo pode alimentar a alma. Coisas matérias não podem satisfazer o que é espiritual e imaterial. Além disso, nada levaremos conosco deste mundo quando formos para a presença de Deus. E o amor ao mundo nos impede de experimentar e viver no amor de Deus.
5. Nossa esperança em Cristo não é para este mundo, mas para a vida eterna e em perfeita glória ainda por vir a se manifestar em nós. Estamos no mundo mas não somos do mundo porque fomos comprados pelo sangue de Jesus para sermos propriedade exclusiva de Deus, e assim é somente para Ele e para a Sua glória que devemos viver. Então tudo o que fizermos no mundo, seja comendo, bebendo, vestindo-se, trabalhando, ou o que for, deve ser feito em Deus e para a Sua glória, e não para satisfazer o nosso ego e nossos objetivos egoístas.
6. Uma verdadeira atração de outros para Cristo através de nossas vidas nunca será motivada pelas riquezas terrenas que eles observarem em nós, mas pela abundância de graças espirituais que existirem em nós.
Nós vemos na Bíblia e na história da Igreja, que as pessoas que foram mais usadas por Deus não foram aquelas ás quais ele proveu de grandes glórias terrenas e que as poupou de provações. Ao contrário geralmente os que foram mais humilhados, foram os que foram elevados diante dEle em grande autoridade espiritual. E quanto mais eles se rebaixavam perante Deus, mais Ele os elevou diante dos homens. Jacó reconheceu que não era merecedor da menor de todas as misericórdias de Deus, e Ele fez dele o patriarca de Israel.  Davi indagou ao Senhor quem ele era e quem era a casa do seu pai para lhe ter feito a promessa de estabelecer a sua casa e o seu reino para sempre? Assim, quanto mais uma pessoa se rebaixa perante Deus, mais Ele a eleva.
A segunda época na vida de um crente, que requer mais  do que diligência comum para guardar o seu coração, é o tempo da adversidade. Quando a Providência o desaprova, e destrói seus confortos externos, então vigie seu coração; guarde-o com toda a diligência para que não desfaleça debaixo da potente mão de Deus; porque são dificuldades que têm o propósito de aumentar a nossa santidade.
É muito difícil manter o espírito composto debaixo de grandes aflições. Mas são estas aflições que podem tornar melhores os nossos  corações. Vejamos então o que pode nos ajudar a guardar o coração quando debaixo de aflições:
1. As aflições nos vêm através de deliberação. Elas são ordenadas por esta deliberação de Deus para serem meios de provimento de bem espiritual aos santos. Por isso Jesus recomendou a termos bom ânimo nelas para que possa ser cumprido o propósito do nosso aperfeiçoamento em paciência e aumento de fé, por mantermos a confiança em Deus enquanto passamos por elas. Especialmente por este meio serão purgadas as nossas iniquidades. Elas são servas de Deus para baixar o nosso orgulho e segurança carnal, de maneira a aprendermos a não confiarmos em nós mesmos, ou na nossa capacidade e poder, bem como nos demais homens, senão somente no Deus que ressuscita os mortos. A graça fará o seu trabalho em meio às nossas fraquezas e ela nos bastará.
Assim, se têm sido muitas as nossas aflições, grande deve ser a nossa alegria, conforme diz Tiago, porque Deus está fazendo um grande trabalho em nós, para grandes propósitos. E isto será um sinal de que Ele tem aceito de fato a nossa consagração ao nos contemplar com estes meios poderosos que visam ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
Como Davi, no Salmo 130, em vez de nos abatermos nas profundezas em que são colocadas as nossas almas, nós devemos confiar inteiramente em Deus e clamar a Ele por socorro. O cálice amargo do nosso sofrimento é o que produzirá a cura da nossa alma do pecado. É o que retirará de nós toda impureza da carne e do espírito, de maneira que possamos estar santos e inculpáveis diante de Deus. E como rejeitaríamos tão precioso remédio?  Somente por ser grandemente amargo?
É de grande eficácia impedir que o coração afunde debaixo de aflições, e voltar sua atenção ao Seu Pai celestial e aos Seus mandamentos. Não importa o quanto soframos, saibamos que o que importa afinal é que a vontade de Deus seja feita em nossas vidas, especialmente no que se refere à nossa transformação.
Nunca chegaremos a apreciá-lo como o Deus de todo amor, misericórdia, paciência, bondade, longanimidade, justiça e paz se estes Seus atributos não forem trabalhados em nossas próprias vidas. E o efeito produzido pelas tribulações e aflições, será a melhor escola em que a nossa natureza orgulhosa poderá aprender estas verdadeiras lições de vida, pela nossa transformação gradual à imagem do próprio Cristo.
Não é sem dor que o barro sente as mãos do oleiro amassando-o para receber a forma que é necessária para fazê-lo mais parecido com Cristo. E não é com menos dores que ele suporta a fornalha acesa da aflição para que esta imagem de Cristo possa ser estampada e finalmente fixada nele, tal como o vaso de barro tem que ser submetido ao fogo para o seu acabamento final.
Mas como Deus é o Pai de misericórdias e de todo amor, nós devemos ter sempre presente conosco que Ele compensará nossas aflições com Suas consolações e demonstrações de cuidado e amor. Nós conheceremos mais do Seu amor e cuidado no tempo de aflição do que no tempo de prosperidade. E podemos estar certos de que assim como Ele não nos escolheu no princípio porque éramos elevados de igual modo Ele não nos rejeitará e abandonará no tempo da nossa humilhação.
Se seu filho viesse a perder todos os seus bens e a ficar andrajoso você negaria a reconhecê-lo como filho e se negaria a ajudá-lo a se recompor de suas perdas? Como poderia então Deus que é perfeito Pai nos deixar entregues às nossas próprias misérias, em completa indiferença para conosco? Argumentos que tentam provar o contrário nos momentos extremos de nossas fraquezas procedem do inferno e não do Pai das misericórdias. Devemos portanto guardar os nossos corações de serem afetados por tais pensamentos.
Se pela perda de confortos externos Deus pode conservar nossa alma livre do poder arruinador da tentação e nos conduzir a uma maior experiência de conhecimento íntimo e pessoal dEle, como permitiríamos então que nossos corações sejam afundados por estas aflições? Antes não há motivo para nos gloriarmos nelas? (Tg 1.4; Rom 5.3-5).
O jovem rico se retirou triste pelo temor de perder as suas muitas posses. Mas quem não perderá todas as suas posses terrenas quando for chamado por Deus a sair deste mundo? (I Tim 6.7) Há sabedoria então em estarmos apegados aos bens terrenos que não poderemos desfrutar para sempre? Seria a falta deles um motivo real para a nossa tristeza? É neste fundamento incerto que devemos colocar a razão da nossa esperança? (I Tim 6.17).
Quão dispostos estamos em arruinar uma alma eterna por bens terrenos passageiros? Guardemos então o coração de não atribuir valor eterno ao que passará, porque tudo passará conforme Cristo tem afirmado, mas não a Sua Palavra que nos assegura a vida eterna com Deus.
E onde achará descanso o nosso coração senão em Deus? Mas como pode um coração descuidado entrar em tão elevado e santo descanso?  As corrupções do pecado que remanescem na nossa carne deve então ser seriamente mortificadas, conforme Deus nos ordena para que tenhamos a vida e paz do Espírito em nossos corações (Rom 8.6; 8.13). Toda impureza de coração é inimizade contra Deus. É um estado ruim da alma que Ele não somente não pode apreciar, como também não pode aprovar, e muito menos aceitar como irrelevante para termos comunhão com Ele.
Deve ser buscado então em primeiro lugar este trabalho de purificação da alma pelo Espírito Santo, para que a santa comunhão com Deus possa vir em seguida. Primeiro ele nos santificará, colocará o nosso coração na condição que é aceitável por Deus, e somente então poderemos subir o monte da adoração para estarmos em Sua presença.
Não é surpreendente que tantas vezes no Velho Testamento Deus ordenasse que primeiro o povo fosse santificado para que pudesse falar com eles ou lhes trazer as bênçãos e unções prometidas.
Muito mais agora, que o nosso Cordeiro que tira o pecado do mundo, se entregou por nós na cruz, há muito maiores razões para sermos purificados pelo Espírito antes de podermos estar efetivamente em comunhão com Deus e a Seu serviço.
Daí a grande importância de se guardar continuamente o coração, quer na adversidade, quer na prosperidade, e nas muitas tentações que há tanto numa quanto noutra condição, que visam nos desviar da presença de Deus por contaminar o nosso coração com amargura, maledicência, orgulho, inveja, ciúme e todas as demais obras da carne.
E não é demais lembrar que os nossos dias diferentemente dos dias em que John Flavel viveu, são cheios de dificuldades, especialmente de impurezas da carne, que estão presentes no chamado mundo civilizado, através da imoralidade, violência, desrespeito e rebeliões que são exibidas abertamente na televisão, no cinema, em vídeos, CD´s, outdoors e toda forma de veiculação realizada pela mídia.
São verdadeiros ataques poderosos contra a pureza de nossos corações contra os quais temos que não somente vigiar e evitar, como também lutar em firme determinação para que nossos corações possam ser guardados na pureza e santidade que são devidas a Deus.
Se era pecado de adultério olhar uma mulher com intenção impura nos dias de Jesus, em que não havia todo o aparato de sensualidade que é produzido em nossa época pela exibição pública do nu feminino e da pornografia, a que tipo e grau de pecados estamos expostos continuamente em nossos dias? Não admira que sejam chamados na Bíblia de dias difíceis, porque não será por muita vigilância e cuidado que se poderá ter e preservar uma verdadeira e santa comunhão com Deus.
Este é o grande desafio à santidade nesta época. Não mais as carências materiais do mundo antigo que expunham os corações á tentação da murmuração. Ainda que isto não esteja extinto em nossos dias, no entanto, a maior frente da batalha está sendo travada no guardar o coração incontaminado da impureza e da violência que assolam o mundo moderno.
A ordenança de Paulo para a Igreja de Corinto fugir da prostituição (I Cor 6.18) é muito mais aplicável aos nossos dias do que na época em que ele proferiu tais palavras.
Certamente era muito mais fácil para Timóteo fugir das paixões da mocidade (II Tim 2.22) do que os nossos jovens fugirem delas em nossos dias, em que são acostumados a pensarem que uma vida impura, imoral e dissoluta é um padrão normal de vida como qualquer outro, sem saberem que a ira de Deus se acende contra tais coisas.
Mais do que nunca é necessário clamar a Deus como fez Davi:
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.”  (Sl 51.10).
E não há outro caminho para o jovem manter o seu caminho limpo senão aplicar a Palavra de Deus ao seu coração:
“Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra.”  (Sl 119.9).
É melhor pois estar num deserto com o coração puro tendo ao Senhor por companhia, do que estar no meio de todas as atrações, confortos e alegrias mundanos, pagando o terrível preço de estarmos afastados de Deus, por nos deixarmos vencer por muitas tentações.
Por isso não devemos rejeitar as aflições que Deus nos envia em Sua misericórdia para nos desarraigar do nosso amor ao mundo. E aquilo que em princípio parece derrota e frustração e motivo de tristeza para nós, pelo desencanto com coisas e pessoas que dantes tanto prezávamos, pela sabedoria que nos virá do alto tudo isto será visto depois como um grande e eterno ganho, porque foram renúncias que nos foram impostas pelas circunstâncias desagradáveis para que pudéssemos ter mais de Deus e da sua doce e santa companhia.
Portanto, em vez de nos deixar abater pelo descontentamento a que ficamos tentados pelos espinhos na carne, devemos aprender a ser gratos a Deus pela graça que receberemos por suportá-los com paciência, conforme nos ordena a Palavra:
“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;”  (Rom 12.12).  
Guardemos nossos corações nas aflições não permitindo que fiquemos irritados e impacientes com elas, porque o nosso próprio descontentamento produzirá uma grande ferida em nós, que levará depois muito tempo para ser curada. O que devemos fazer é pedir a Deus que nos fortaleça com a Sua graça para que possamos descansar debaixo da Sua potente mão disciplinadora e aperfeiçoadora, sabendo que a dor da correção presente produzirá no futuro um fruto pacífico de justiça.
A aflição é uma pílula amarga que deve ser tomada sem ser mastigada. A ira, irritação e descontentamento em ter que tomar esta pílula fará com que a mastiguemos e então ela amargará toda a nossa alma.
O descontentamento na aflição nada mais faz do que abrir ainda mais a ferida que Deus fez para poder curar a nossa alma.
Uma terceira época em que a diligência para guardar o coração deve ser maior é no tempo das dificuldades de Sião. Para Sua exclusiva glória, Deus permite que a Sua própria igreja atravesse por períodos de  elevação com grandes visitações do Espírito e com grande aplicação da Sua Palavra, como também por períodos de escassez espiritual. Isto é claramente observado na história da Igreja. Mas o tempo de dificuldades espirituais não é tempo para cruzar os braços e para se descuidar do coração. Ao contrário é tempo para se aumentar ainda mais a vigilância e diligência para evitar o naufrágio do frágil barco da fé que conduz o povo de Deus. A igreja é como o barco no qual Cristo e seus discípulos se encontravam no Mar da Galileia, que sendo batido pelas ondas do mar e pelas tempestades as almas que nele estão encontram-se prontas a naufragar em seus próprios temores.
E o comum é que a maioria das pessoas se sintam desanimadas debaixo do senso das dificuldades da Igreja. A perda da arca custou a Eli a sua vida. E se vemos a Igreja afundando sentimos que também afundará com ela as nossas próprias vidas. Mas em todas estas calamidades Deus nos chama a voltar a confiar tão somente nEle, e a clamar a Ele por socorro.
Então nos períodos em que a Igreja atravessar por dificuldades resolva esta grande verdade em seu coração, que nenhuma dificuldade que acontece à Igreja não é sem a permissão do Senhor da Igreja, e ele não permite nada que no final das contas não venha a trazer grande bem ao Seu povo, especialmente daqueles que lhes são fiéis.
Todos se extraviaram nos dias de Noé, mas ele permaneceu fiel a Deus andando com Ele em justiça. O povo de Israel se extraviou quase todo à uma, mas Elias permaneceu firme com o Santo de Israel. Tal seja cada crente fiel da Igreja de Cristo, que não permita vender a Sua fidelidade em confirmação da Palavra da verdade por qualquer desvio de doutrina ou apelo humano para relaxar no dever de guardar o seu coração para o Seu Deus. Tais atitudes trazem muito glória e honra ao nome do Senhor, e Ele expressa o Seu regozijo conforme podemos ver nas palavras que dirige à Igreja de Filadélfia:
“8 Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.
9 Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo.
10 Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra.”  (Apo 3.8-10).
E este tipo de fidelidade não poderá ser achado nos dias difíceis em que a Igreja estiver atravessando, especialmente como nos nossos em que Deus tem sido abandonado por estarem os crentes buscando prosperidade material, entretenimentos e muitas outras coisas em primeiro lugar, em vez de buscarem o reino de Deus e a Sua justiça.
Muitos pensam erroneamente que é possível ser fiel a Deus sem se guardar cem por cento o coração. E sem ter um coração dividido e conquistado por afetos por muitas coisas dentre as quais Deus é apenas mais um simples item a ser considerado.
Há quem pense que estabelecer prioridades corretamente é dedicar uma terça parte do seu tempo ao trabalho, uma outra terça parte à família, e a terça parte final a Deus.
Isto significa que não há na verdade nenhuma adoração verdadeira e serviço a Deus neste caso, porque Ele não deve ter uma terça parte do nosso tempo, atenção e devoção, mas todo o nosso coração. Cem por cento ou nada.  Em tudo que fizermos Deus deve estar presente, e tudo deve ser feito não como para homens ou para nós mesmos, senão pra Ele. Este é o modo correto de se estabelecer as prioridades conforme nos ensina a Bíblia, pois ela afirma claramente que tudo deve ser feito para a glória de Deus e que Ele deve ser adorado com toda a nossa força, mente, coração e alma. Toda é toda, e não parte, muito menos terça parte. Toda é cem por cento. E é cem por cento porque Ele não aceita um coração que lhe é devotado parcialmente, senão que aceita somente a oferta de todo o nosso coração.
Tente reservar partes de sua atenção para outras coisas quando adora a Deus, e veja se haverá alguma verdadeira adoração? Porque Deus não nos enche com o espírito de louvor pelo Seu Espírito quando assim procedemos? A resposta é fácil: é porque não lhe devotamos todo o nosso coração e atenção.
As rodas da visão de Ezequiel estavam cheias de olhos por dentro e por fora, e elas revelam a onisciência de Deus que acompanha todos os movimentos e anelos dos nossos corações. Ele conhece perfeitamente a condição dos nossos corações e não aceitará de modo nenhum um coração dividido. Ele aceitará um coração quebrado, quebrantado, mas jamais aceitará um coração dividido que não se entregue inteiramente a Ele. Porque requer confiança total, incondicional. Ele quer que nos entreguemos ao Seu cuidado assim como uma pequena criança faz em relação aos seus pais.
Deus nunca abandonará a Sua Igreja. Os homens que estão na Igreja é que podem vir a se corromper nela por não guardarem os seus corações. Mas o Senhor conhece os que são Seus e os preservará do mal, dando-lhes que possam se reunir com aqueles que com um coração puro invocam o Seu nome. Bendito seja o Senhor por Seu grande amor e cuidado para com as ovelhas do Seu rebanho!
E se Deus é por nós quem será contra nós?
Uma multidão do exército dos sírios pode vir contra o profeta de Deus, e miríades de demônios podem acompanhar aquele cortejo do mal, mas muitos mais são os anjos e poderes de Deus a favor dos seus servos fiéis do que aqueles que estão ao lado dos que praticam males.
As portas do inferno não poderão prevalecer contra a verdadeira Igreja de Cristo, aonde quer que ela se encontre, e como se encontre. Seja no deserto. Seja em pequeno número e força, mas grande é o poder dela porque Aquele que a dirige e sustenta é o Todo Poderoso Criador dos céus e da terra.  
Se você calcular a felicidade da Igreja por sua facilidade mundana, esplendor e prosperidade, então um tal tempo de aflição parecerá desfavorável, mas se você considera que a sua glória consiste em sua humildade, fé e espiritualidade santa, nenhuma condição traz tantas vantagens para a Igreja do que esta condição aflita. Não foram perseguições e prisões, mas mundanismo e carnalidade que envenenaram a Igreja, nem foi a glória terrena de seus mestres que escreveu a sua história, mas o sangue dos seus mártires.
O poder da piedade nunca prospera melhor do que na aflição, e este poder da piedade nunca foi menos próspero do que em épocas de grande prosperidade material. Quando nós somos esquecidos, pessoas pobres e aflitas então aprendemos a confiar no nome do Senhor. Realmente é para a vantagem dos santos serem desmamados dos encantos e vaidades terrenas para serem acelerados e urgidos adiante com mais pressa ao céu, com descobertas mais claras dos seus próprios corações e serem ensinados a orar mais fervorosamente, com mais frequência e de modo mais espiritual, olhando mais ardentemente o descanso que aguarda por eles no porvir.
Isto assim sucede porque Deus está mais interessado na vantagem da nossa alma do que na satisfação dos nossos desejos e humores. Nós são sabemos fazer uma justa avaliação das coisas em seu verdadeiro valor, e assim, pelas aflições o Senhor nos ensina a mostrar quão pobres são os atrativos terrenos comparados com as realidades inefáveis do céu, que Ele preparou para desfrutarmos eternamente delas. Este tesouro escondido celestial em Jesus Cristo é tão precioso que Ele não nos fará participantes sequer da visão dele, quanto mais de experimentar suas riquezas se não aprendermos a lhe atribuir o seu verdadeiro valor. É pelo mesmo princípio espiritual que há na pessoa de Deus que Jesus nos proíbe de lançar as pérolas e coisas santas preciosas do evangelho aos cães e aos porcos, porque não podem dar a devida apreciação ao valor inestimável delas.
E Deus é ciumento e zeloso por estas coisas celestiais e espirituais a tal ponto, que as oculta, para não serem desprezadas ou violadas. Quem em sã consciência colocaria uma porcelana de alto valor nas mãos descuidadas de uma criança? Mas as coisas das quais falamos são de valor eterno e incalculável para o próprio Deus, e de quão maior valor não elas então para nós, pobres e miseráveis que somos, e inteiramente dependentes de Deus para que possamos receber qualquer graça espiritual?  
Assim glorie-se nas suas tribulações porque ainda que você não ache nenhum conforto nelas, no entanto elas são a evidência da sua integridade em não negar o nome do Senhor e nem a Sua Palavra, porque é para estes que são reservadas perseguições e tribulações, por causa do amor deles à justiça.
Uma quarta época que exige um aumento de nossa diligência para guardar nossos corações, e no tempo do perigo.  Mas o justo não deve temer os juízos determinados por Deus sobre os ímpios enviando angústias, temores e fraquezas aos corações deles diante dos seus inimigos e dos males que lhes sobrevêm neste mundo. Homens que por causa de uma má consciência tremem até mesmo com o barulho de uma folha caindo ao chão. Mas aqueles cuja consciência é sem culpa podem ser no Senhor corajosos como o leão.
Sabemos que há um temor natural em todos os homens, e que é impossível remover isto completamente, e até mesmo é necessário um temor sadio porque servem de alerta contra o perigo e ajuda-nos a sermos prudentes. Assim, não devemos cultivar uma apatia estóica (atitude de indiferença ao mal e às dores) nem ainda desprezarmos um certo grau de medo preventivo para podermos nos ajustar às dificuldades e enfrentá-las sabiamente.
Mas devemos guardar o coração do medo do futuro que causa ansiedade, do medo sofrer por causa do testemunho da verdade e de qualquer medo que invade o coração em tempos de perigo, que o distrai, debilita e impede de agir conforme a vontade revelada de Deus na Palavra.
Para impedir estes temores e guardar o coração na paz do Senhor devemos ver todas as criaturas sob o controle da mão de Deus, e que nada nos atingirá sem a Sua permissão divina.
Um leão tem um poder tremendo mas quem temerá um leão que estiver seguro nas mãos de Deus?
Os temores atormentam muito mais a alma do que os sofrimentos propriamente ditos. Mas devemos deixar a graça vencer nossos temores porque no meio das inundações que tivermos que atravessar Deus abrirá um espaço para que possamos escapar (I Cor 10.13).
Não admira que haja tantos “Não temas” da parte de Deus para nós nas Escrituras, conhecedor que é da nossa facilidade para temer. Por isso interpõe a promessa para que confiemos nEle e não permitamos que nossos corações sejam vencidos por nossos temores. Ele estará conosco e nos dará coragem e paz, ainda que na hora da nossa morte.
Assim os muitos perigos que teremos que enfrentar neste mundo não são para serem temidos mas para serem vencidos pelo poder de Deus pela nossa confiança total nEle.
Não há nada melhor para ter um coração firme e reto em tempos de perigos do que manter continuamente nossa fidelidade no cumprimento dos nossos deveres que nos mantêm em comunhão continua com o Senhor, porque isto acenderá uma chama de zelo fervoroso que não temerá sequer o martírio caso ele se apresente a nós.
É isto que nos levará a dizer como Paulo que não estamos prontos somente para sermos presos ou sofrer por causa de Cristo, mas até mesmo a morrer por Ele.
Uma boa consciência não nos levará a ter paz com pensamentos da necessidade de destruição dos nossos inimigos. Os justos são corajosos como o leão, e não necessitam ver afastados os seus perseguidores para que tenham paz.  Estes, ao contrário, por causa da má consciência deles, por seguirem a iniquidade é que são fracos, e necessitam remover os que estão no caminho deles para que possam vencer os seus temores, senão de outro modo, sempre ficarão apavorados pela ideia de serem suplantados por estes que eles temem.
Mas o justo prefere sofrer o mal do que prejudicar alguém. Sua boa consciência é o seu melhor defensor depois do próprio Deus no céu. Ele não distorcerá jamais a verdade para poder suplantar os seus acusadores e poder sentir-se confortável e seguro perante os homens.
Um coração é tornado firme e seguro quando Ele considera e estima a honra de Deus mais do que a sua própria honra. Quando está disposto a sofrer injúrias e perseguições por amor a Cristo, e a se regozijar nisto, sem tentar defender a sua honra pessoal, mas deixando todo o caso nas mãos justas de Deus.
Que real dano pode ser causado à honra de uma tal pessoa como esta que anda na integridade do seu coração?
Que terrores podem lhe ser infundados pelos homens ou pelos principados e potestades do mal, se Ele tem colocado em Deus toda a sua confiança? Homens como estes são como Neemias, e do quê e de quem eles fugirão?
O temor de Deus em vez do temor dos homens faz que a ira natural se transforme em zelo espiritual, que a tristeza natural se transforme em alegria santa, e o temor natural em temor santo de Deus.
Jesus mesmo prevaleceu em oração com o Pai no Getsemâni até que recebeu força do alto na sua grande angústia para enfrentar tudo o que deveria enfrentar daquele momento em diante até a sua morte na cruz. De igual modo nós devemos proceder quando estes temores que o diabo e a carne trazem sobre nós em tempos de perigo a serem enfrentados. A oração é a melhor saída para o temor.
Uma quinta época em que nós devemos ter uma diligência maior para guardar o nosso coração é quando as nossas provisões externas começam a faltar. E orar como fez o profeta Habacuque dizendo que ainda que tudo faltasse ele se alegraria no Deus da sua salvação, não é fácil. Mas é o único meio de guardar o coração da murmuração e do descontentamento nestas horas difíceis em que a nossa subsistência é colocada à prova por Deus.
Nestas horas devemos lembrar que nossa condição não é singular, porque muitos grandes homens santos já foram provados e aperfeiçoados por Deus por este processo. Jesus e os apóstolos foram especialmente provados nisto, para nos deixar o exemplo de que podemos confiar inteiramente em Deus para a manutenção das nossas necessidades diárias, em provisões para a subsistência das nossas vidas, conforme Ele nos tem prometido que cuidará de todas as nossas reais necessidades.
Quando nos impõe falta de pão Deus não está querendo necessariamente demonstrar qualquer tipo de reprovação ou desgosto em relação a nós. Ele simplesmente quer nos ensinar que é poderoso para preparar uma mesa para nós no deserto e nos manter em vida num mundo perigoso e instável como este em que vivemos.
Não há nenhuma resistência ou má vontade em Deus para nos prover de coisas boas e agradáveis, porque Ele deu o seu próprio Filho por nós para que recebêssemos juntamente com Ele todas as coisas que nos tem reservado como nossa herança. E assim, até mesmo estes períodos de escassez fazem parte da boa provisão espiritual que Ele preparou para nós para o nosso aperfeiçoamento na transformação à imagem do Seu Filho, de maneira que aprendamos a ser-Lhe gratos em todas as circunstâncias, quer agradáveis ou desagradáveis, porque no fim elas trabalharão para o nosso bem.  
Se todos os nossos desejos fossem satisfeitos por Deus, ainda que desejos lícitos, quando menos aprenderíamos a ser mimados e caprichosos, e nos relacionaríamos com Ele numa base falsa vendo-o apenas como provedor das nossas vontades. Mas Ele quer justamente nos ensinar a ficarmos contentes em fazer a vontade dEle e não propriamente a nossa. Ele quer que aprendamos a cumprir os propósitos e objetivos que Ele planejou para cada um de nós, e não propriamente os nossos sonhos e objetivos pessoais. Ele é a vontade governante de todo o universo, inclusive da nossa própria vontade, e quer nos ensinar isto. Daí nos chamar a ser-Lhe gratos em toda e qualquer circunstância tal como havia aprendido o profeta Habacuque, e o apóstolo Paulo depois dele.
E devemos considerar ainda até que ponto o atendimento de todos os nossos desejos por Deus nos tornariam pessoas mais santas e obedientes à Sua vontade? Por isso ele nos prova nas necessidades para sabermos até que ponto O amamos mais do que tudo o que Ele nos dá. Estaremos com Ele na casa, quando todas as coisas tiverem sido retiradas de nós? Reflitamos sobre isso e respondamos sinceramente para sabermos qual é a verdadeira condição do nosso coração, de maneira que o guardemos de toda forma de murmuração no dia que a escassez vier bater à nossa porta.
Se o Senhor prometeu acrescentar tudo o que for necessário à subsistência material daquele que está empenhado em buscar efetivamente em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, porque deveriam então estar ansiosos e solícitos por suas vidas tais crentes fiéis?
Como não confiaríamos numa tal promessa proferida pela boca do Filho de Deus?
Aquele que é cuidadoso em alimentar as aves do céu não proveria o necessário para os seus filhos?
Proteja sua mente com estas verdades divinas quando estiver numa baixa condição neste mundo, e guarde assim o seu coração de cair nas possíveis tentações que costumam acompanhar tal condição.
A sexta época em que nós devemos ser diligentes para guardar o coração é quando ministramos publicamente usando os dons e graças recebidos de Deus. Nestas ocasiões devemos nos guardar especialmente do orgulho espiritual que nos leva a pensar que somos o que somos e que fazemos o que fazemos por nossa própria capacidade e poder, e isto nos impede de tributar toda honra, glória e louvor que são devidos ao Senhor, a quem pertencem de fato tais graças e dons.
As tentações a que ficamos expostos nestas ocasiões devem ser vencidas por nos humilharmos diante do Senhor e lhe pedir que cancele todos os pensamentos elevados que tentam se apoderar de nós, sabendo nós que a única coisa que merecemos de fato seria o inferno por causa dos nossos pecados, e que é inteiramente pela graça e misericórdia do Senhor que somos poupados, e como poderiam tais pecadores como nós planarem em tão elevadas alturas pensando que ali chegamos por nossos próprios méritos? Que méritos são estes se tudo o que temos foi recebido de Cristo!
Tenhamos a humildade do apóstolo para pensar e dizer continuamente: “miserável homem que sou”, para sabermos e estarmos sempre conscientes que devemos muitas graças a Deus por Jesus Cristo porque é Ele quem nos livra do corpo desta morte que carregamos, que é o nosso velho homem, herdado de Adão, do qual devemos nos despojar continuamente, inclusive com estes seus pensamentos elevados que o levam a pensar que é independente de Deus e não necessitado da Sua misericórdia e graça.
É portanto com consciência da nossa total dependência de Deus que devemos começar qualquer trabalho em Seu nome, ou a execução de qualquer dever de devoção pessoal, como por exemplo oração, meditação da Palavra etc.
E saibamos que estamos diante dAquele que é a verdade, de maneira que a nossa ministração e devoção sejam vazadas completamente pelo sim, sim, não, não, de maneira que guardemos nosso coração de toda tola imaginação ou mentira. Como poderíamos agir de tal forma diante dAquele que sonda perfeitamente mentes e corações e que tudo sabe e vê? Não podemos esquecer disto durante toda a nossa jornada terrena, desde o nosso levantar até o nosso deitar. Devemos ser como Davi que nunca se descuidou quanto a isto.
O coração deve ser guardado de todo e qualquer sentimento de vingança porque isto anulará todo empenho em deveres de devoção ou de serviço ao Senhor. O desejo de vingança no coração o amarga de tal maneira que ele se torna imprestável para ser apreciado por um Deus que é inteiramente doce, terno, manso e humilde de coração. Qual a comunhão que podem ter pecadores que desejam o mal de outros com o Deus que é todo misericórdia, perdão e amor? Quando Deus julga, e mesmo quando a Sua ira se acende contra o pecado, Ele não deixa de lado por um só segundo nenhum dos Seus demais atributos de amor, bondade, benignidade, longanimidade, misericórdia, e de maneira nenhuma ele pode ter a Sua mente transtornada, tal como nós ficamos quando tomados por sentimentos de vingança. Por isso urge ter o coração sempre guardado destes sentimentos de vingança, que acabam sendo as armas que acabam ferindo e produzindo danos a nós mesmos.
Deixemos toda vingança a ser executada por Deus que é reto Juiz e não pode ser vencido pelo mal tal como nós.
Assim deixe o temor de Deus conter e acalmar seus sentimentos.
Fixe diante de seus olhos os padrões mais elevados de mansidão e perdão para que você possa sentir a força do exemplo deles. Este é o modo de se cortar os argumentos comuns da carne por vingança. Pense que outros suportariam tais afrontas, e certamente coisas muito piores, tanto a história da Igreja, como nos exemplos que temos na Bíblia na  pessoa do próprio Cristo, e também em José no Egito e tantos outros. Assim se você se deixar vencer por seus sentimentos será considerado um insensato e um covarde por não seguir o exemplo mais sábio e santo daqueles que venceram seus sentimentos em Deus.
Considere o caráter da pessoa que o prejudicou. Ele é um homem bom ou mau? Se ele for um homem bom, haverá uma boa consciência nele que cedo ou tarde o trará a um senso do mal que ele lhe fez. Se ele for um homem bom   Cristo lhe perdoou maiores danos do que ele fez a você; e por que você não deveria perdoar a ele? Cristo não o censurará por quaisquer das injustiças dele, mas francamente as perdoará todas; e você o tomará pela garganta por algum erro insignificante que ele cometeu?
Mas se for um homem mau que lhe prejudicou ou lhe insultou, verdadeiramente você tem mais razão para exercitar piedade que vingança em relação a ele. Ele está dentro de um estado miserável; um escravo do pecado e inimigo da justiça. Se ele continuar impenitente, haverá um dia que está chegando quando ele será castigado na justa medida das ofensas que ele praticou. Você não precisa se vingar porque Deus executará vingança nele.
Se você viesse a superar seu inimigo, executando sua vingança sobre ele, isto seria um motivo para se sentir vencido e perturbado posteriormente em sua consciência, e você se sentiria semelhante não ao Filho de Deus, mas a Satanás, que não veio trazer vida com abundância aos homens como Cristo, senão morte, furto e destruição, do possível bem que eles poderiam ter em Deus por se reconciliarem com ele. Não seja pois um aliado do diabo e um opositor da causa de Cristo que veio salvar e não condenar o mundo. E o modo que Ele faz isto é oferecendo perdão a todos os pecadores, sem uma única exceção, e afirmando que toda transgressão poderá ser-lhes perdoada, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Considere por quem todas as suas dificuldades são ordenadas ou permitidas. Isto será de grande uso para guardar seu coração da vingança.  Nada foge do controle de Deus, e todas as nossas tribulações são reguladas por Ele, para um fim proveitoso. Se Deus tem permitido que soframos algum dano é para que o superemos sujeitando-nos a Ele e confiando nossas almas ao cuidado do fiel Criador para que sejamos consolados e restaurados. Quantas injustiças e perseguições sofreram os cristãos da Igreja primitiva, e como Deus os consolou através do apóstolo Pedro? Acaso ordenando-lhes que se vingassem de seus perseguidores? Os textos de I Pe 2.13-25; 3.8,9, 15, 18; 4.12-19; 5.6-10, dentre outros nos dão a resposta a isto.
Finalmente, quanto a guardar o coração da vingança, lembre que com o juízo que julgamos somos julgados e com a medida com que medimos somos medidos, de maneira que somos lançados a prisões espirituais pelo próprio Deus e sujeitados a opressões do maligno até que sincera e do fundo do coração nos disponhamos a perdoar aqueles que nos ofenderam. Jesus deixou claramente ensinado que somos perdoados por Deus quando também perdoamos os nossos ofensores. É portanto um assunto de caráter vital espiritual este do dever de perdoarmos, e portanto guardemos devida e continuamente o nosso coração de pensamentos e desejos de vingança, que no final prejudicarão tão somente a nós mesmos.
Outra ocasião em que devemos ser diligentes em guardar o nosso coração é quando ficamos expostos a grandes tentações. O melhor remédio contra isto é nos mantermos humildes tendo pensamentos  humildes de nós mesmos. Devemos nos comparar com Deus e veremos o quão pequenos somos. Por maiores que sejam as provocações que possamos receber, especialmente aquelas que visam nos rebaixar, nada poderão fazer contra nós se nos rebaixarmos ainda mais diante dos nossos olhos numa verdadeira medida por nos compararmos imediatamente com Deus. Veja o caso de Davi com Mical, que o desprezou em seu coração e tentou rebaixá-lo ao ponto de acusá-lo que ele seria desonrado pelas próprias servas dos seus servos. Ele não se indignou por ser rei nem tentou fazer valer a sua autoridade real, mas disse que se humilharia ainda mais diante de Deus, e esta atitude em vez de lhe trazer desonra das suas servas, faria com que fosse ainda mais honrado por elas. Que belo exemplo a ser seguido por nós!
Satanás é um espírito irado e descontente e deseja a todo custo tornar-nos participantes da sua natureza. Mas somos em Cristo, co-participantes da natureza de Deus e não da natureza do diabo. E que é portanto a natureza que devemos seguir. Pensemos sempre nisto e seremos ajudados a guardar nossos corações nas provocações que recebermos de Satanás e de seus instrumentos.
Quão maravilhoso e doce é para Deus e para o próprio crente vermos que vencemos nossas más tendências. Que não permitimos ser vencidos pelo mal em quaisquer de suas formas de violência e impurezas. Que mantivemos o nosso coração puro no meio de um mundo sujeito à impureza. Quão precioso isto é para nós e para o nosso Senhor! Guardemos pois o nosso coração!
Deixemos que Cristo governe e domine mais e mais o nosso mau temperamento de maneira que se ache em nós a mansidão e a humildade que estão no próprio coração de Cristo.
Evite tudo o que for projetado para irritar seus sentimentos! Fuja das fontes de tentação! Desvie-se do caminho do iracundo e do mau, e não se intrometa em dissensões, porque tolo é todo aquele que o faz. Ao contrário investigue a causa da justiça, busque a paz e se empenhe em alcançá-la. Tenha a paz de Cristo em seu próprio coração.
E para guardar o coração tenha especialmente cuidado com os argumentos da carne e do diabo para que você seja complacente com os seus pecados, isto é, que seja tolerante com a ideia de pecar, sob o argumento de que outros grandes homens de Deus também pecaram, inclusive aqueles cujas vidas estão narradas na Bíblia. Isto é muito sutil e enganoso porque remove toda a diligência que deveria haver em nós, tanto quanto esteve nestes grandes homens de Deus. Mas esta parte final o diabo e a carne não nos informam, a saber, que eles pecaram sim, mas detestavam o pecado, e eram diligentes na sua busca de santidade em Deus.
Paulo diz miserável homem que sou, mas veja na mesma epístola em que ele afirma tais palavras, a grande diligência que tinha em si mesmo contra o pecado, e exige a mesma diligência de todos os crentes, por ter conhecido perfeitamente qual é a vontade de Deus em relação a isto.
Saber que a vontade de Deus é a nossa contínua e crescente santificação é uma boa maneira de guardar o nosso coração de pensamentos arruinadores desta mesma santificação, por serem poderosos para nos tornar indolentes quanto ao nosso dever de nos esforçarmos para nos apresentarmos sempre santos e inculpáveis diante de Deus.
Outra época em que devemos ser diligentes para guardar o coração é aquela em que sofremos grandes perseguições por causa do nosso amor à justiça e ao evangelho de Cristo. Devemos guardar o coração nestas ocasiões sabendo que são ocasiões não para perturbação de mente ou para tristeza, senão para grande alegria porque grande será o nosso galardão no céu por causa da nossa fidelidade à Palavra do Senhor, e por estarmos sendo perseguidos exatamente por este motivo.
 O Senhor nos alertou sobre isto, como um sinal da nossa verdadeira devoção e fidelidade a Ele. Não são portanto tais injustiças que sofremos motivo para regozijo? O próprio Jesus e os apóstolos foram também assim perseguidos por causa do testemunho da verdade que eles mantiveram em face dos seus opositores. E somos chamados a seguir o mesmo exemplo deles. E podemos estar certos de que enfrentaremos também tais oposições e perseguições para que Deus receba muita glória na demonstração do nosso amor e fidelidade a Ele.
Por isso não devemos injuriar aqueles que nos injuriam, tal como Cristo e os apóstolo fizeram no passado.
Não devemos tentar justificar a nossa própria honra e dignidade perante aqueles que nos caluniam, não somente porque não poderão entender nossos argumentos, em face da carnalidade deles, como também por sermos chamados a defender não a nossa honra mas a do Senhor.
O coração deve ser guardado pelo consolo que o Espírito Santo nos dá quando nos armamos do pensamento de suportar sofrimentos por amor a Cristo. E que grandes consolações elas serão!
 A causa do evangelho e não a nossa é que deve avançar. Muitas almas devem ser salvas para Cristo e não para nós mesmos. E devem ser edificadas no testemunho da verdade quanto ao modo como devem caminhar neste mundo pelo exemplo que acharem em nossas próprias vidas, de perdão, amor, misericórdia, bondade, paz e todas as demais virtudes que estão em Cristo, e que também serão achadas em nós à proporção da nossa submissão a Ele.
E guardemos também nossos corações por saber que estes sofrimentos não podem ser comparados com a gloria futura a ser revelada em nós, quando recebermos do Senhor o louvor pela nossa fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
Não somos chamados a vencer debates teológicos, mas a vencer o pecado e o diabo. Não somos chamados a impor nossa visão a outros, mas conduzir as pessoas a Cristo e ao Seu evangelho. Não é a nossa importância que está em questão, mas a glória e a honra do Senhor.
Quanto a nós, convém de fato que diminuamos cada vez mais, e que o nome do Senhor seja cada vez mais elevado e exaltado através da nossa própria humilhação perante Ele. Daí que estas perseguições e injustiças não são contra nós, mas a nosso favor, porque nos ajudam a estarmos sempre pequenos e humildes diante de Deus, a quem de fato pertencem a grandeza, a majestade e o poder.
Somos apenas vasos de barro que contém a excelência do poder de Deus. Não é propriamente nosso este poder, mas sempre será dAquele, diante do qual convém estarmos sempre com nossos joelhos dobrados diante dEle em humilde adoração.
Afinal todos não estarão diante dEle nAquele dia confessando que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai? Como poderíamos andar então inchados aqui neste mundo seja por causa do nosso conhecimento ou do que for, se tudo o que temos, é porque recebemos dEle!
E finalmente, a última época em que devemos ser mais diligentes em guardar o nosso coração é quando somos visitados por enfermidades. Estas também ajudam a guardar o nosso coração lembrando-nos que nada somos neste corpo. Que estamos de fato num mundo sujeito ao pecado onde tudo enferma e morre. Que nossa vida neste mundo é como um sopro que passa. Que devemos aspirar por aquela vida melhor e por aquele lugar melhor onde não há mais lágrima, nem doença, nem morte, nem dor.
Mas Cristo venceu a morte, e não devemos temer a morte. Cristo carregou sobre Si as nossas enfermidades e no Seu reino futuro não haverá qualquer enfermidade, de maneira que não vivamos a temer nem uma coisa nem outra.
O Senhor nos dará o suporte e a força em graça para estarmos em paz tanto na enfermidade quanto na proximidade da hora da nossa morte. Podemos contar com a Sua companhia especialmente nestas horas. Mas lembre que tudo o que temos falado se refere a crentes fiéis que se determinaram em guardar seus corações para honrarem o Seu Deus.
As boas promessas de Deus são dirigidas na Bíblia aos que Lhe são fiéis. E é sempre nesta direção que devemos manter os nossos discursos, seja na forma de sermão seja na de ensino, porque este e o modo do próprio Deus. Quando fala aos infiéis é para chamá-los ao arrependimento, ou para repreendê-los e corrigi-los, mas nunca para afirmar que está agradado do modo de vida deles. Faça um exame minucioso da Bíblia e veja se esta não é a mais pura verdade?
As consolações do Espírito são para aqueles que se santificam. Ele primeiro santifica e depois consola. Ele não é consolador de rebeldes e contradizentes que voluntariamente decidem permanecer na prática do pecado. Primeiro o arrependimento, depois a fé. Primeiro a humilhação e depois a exaltação.
Há enfermidades produzidas por causa do pecado, e estes não podem contar com a promessa da paz da companhia de Cristo, a não ser que se arrependam de seus pecados, e assim poderão ser curados tanto da enfermidade, quanto serem perdoados de seus pecados.
Quando a morte vier ele removerá o véu de carne e nos dará acesso imediato à presença de Deus promovendo-nos à vida e para o propósito para a qual fomos criados. Então por que deveríamos temer a morte se estamos firmemente seguros em Cristo e certos da nossa salvação? Daí a importância de guardar continuamente o coração em diligência em santificação porque este é o modo de confirmar a nossa eleição e termos a certeza de que estaremos para sempre com Deus.
À luz de todas as considerações que fizemos nós concluímos que a menos que o povo de Deus gaste mais tempo vigiando e guardando seus corações do que o que habitualmente costumam gastar, não admira que eles nunca gostem de fazer o serviço de Deus ou mesmo a renunciar a seus confortos neste mundo. É triste ver crentes murmurando e se entristecendo por suas presentes condições enquanto eles vivem negligentemente e não se entristecem ou se envergonham por isto.
Guardar o coração é o grande trabalho de um crente porque a vida cristã não pode ser vivida sem isto. E sem guardar o coração todos os deveres são de nenhum valor à vista de Deus.
Muitos serviços esplêndidos foram executados por homens que Deus rejeitará totalmente, porque eles não deram qualquer atenção à necessidade de guardarem seus corações em Deus. Cristo será uma rocha de ofensa na qual muitos mestres da religião irão colidir e se arruinarão eternamente. Estes mestres nunca derramaram uma só lágrima pela dureza, incredulidade e mundanismo de seus corações. Como poderão entrar no céu pela porta larga e pelo caminho espaçoso em que viveram?  Como pessoas com tais corações poderão suportar a vinda do Senhor e estarem de pé diante dEle? Como poderão afirmar ter amado a Cristo se os seus corações nunca estiveram com Ele?
Lembremos que controvérsias infrutíferas iniciadas por Satanás têm o propósito de nos afastar da piedade prática e a confundir nossas cabeças quanto à verdade que devemos viver e praticar.
E este afastamento da piedade será a realidade da vida por mais ativistas que sejamos em nossas Igrejas, porque a carne sempre prevalecerá sobre nossas atitudes exteriores. Por mais duro que possa parecer a afirmação que vamos fazer, ela é a pura expressão da realidade, a saber, que as manifestações de poder e consoladoras do Espírito não são para serem experimentadas ocasionalmente nas nossas reuniões públicas de adoração (cultos), enquanto se abriga no coração ódios, ressentimentos, mágoas, iras, impurezas, ciúmes, invejas, de maneira que tudo isto seja o fruto de uma aplicação diária e constante em se guardar o coração puro de todas estas obras da carne.
O Espírito Santo quer abençoar com paz, com amor, com alegria, longanimidade, unidade, comunhão, mas como poderá fazê-lo num coração que não busca pela Sua ajuda em oração de gemidos inexprimíveis que superam nossas fraquezas e pecados? Mas como o teremos se não o buscamos com toda a força e sinceridade de nossa alma? Por isso é possível alguém acrescentar o seu amém a verdades ouvidas na pregação, enquanto sente um grande fardo em sua alma, que pode até mesmo estar sendo produzido por espíritos opressores. Qual a razão disto senão a de se estar debaixo da pregação sem se buscar um coração puro no Espírito? Que possamos aprender então a conduzir nossas congregações livres deste grande erro de tentar usar o Espírito como uma espécie de pílula para resolver o problema de nossa dor de cabeça, sem remover a sua verdadeira causa, que é um coração que não é governado pela santidade de Deus.
Pessoas podem experimentar bênçãos ocasionais do Espírito sem ter um estado de paz de alma permanente, que tudo vence, tal qual os crentes da Igreja Primitiva, porque andavam na verdade, andavam no Espírito, e buscavam por isto em todos os momentos de suas vidas, e Deus respondia esta fidelidade com paz na tribulação, alegria na adversidade, força na fraqueza, e autoridade para até mesmo serem duramente martirizados, sem que se visse neles qualquer desespero.
É certo que cuidados mundanos e dificuldades podem aumentar grandemente a negligência de nossos corações. As cabeças e corações das multidões estão cheios de uma multidão de barulhos de negócios mundanos que excluiu da vida deles o amor, o zelo, e o prazer que eles tinham em Deus.
Quão miseravelmente somos propensos a nos emaranharmos neste deserto de ninharias! Os brinquedinhos que Satanás apresenta para nosso entretenimento são considerados por muitos adultos em idade avançada como coisas essenciais à vida, quando na verdade, não passam sequer de superfluidades, pois são apenas objetos que têm o objetivo de distrair e afastar nossa atenção de Deus e dos deveres que Ele nos tem incumbido para a nossa felicidade e daqueles que tem colocado debaixo da nossa influência.
E quando nos tornamos imprestáveis para o uso de Deus, para quem mais poderemos ser verdadeiramente úteis nas coisas relativas ao Seu reino?
Quantas oportunidades preciosas perdemos por causa disso? Quantas advertências do Espírito ignoramos voluntariamente?
Com que frequência chamamos a Deus quando nossos pensamentos mundanos nos impediram de ouvi-lO?
Se perdemos nossa visão dEle por causa de nossos muitos cuidados, como esperaremos triunfar sobre todas as tribulações e ataques do inimigo tendo nossos corações guardados na paz e vencendo pela fé a todas as oposições da carne, do diabo e do mundo?
Se guardar o coração é o grande trabalho de todo crente, quantos veremos então prevalecendo realmente com Deus em oração, tendo prazer em estar na Sua presença e servi-lo mesmo que seja em circunstâncias adversas? Quantos serão como os crentes da Igreja Primitiva que tinham prazer em sofrer por amor a Cristo porque eram fortalecidos por Ele na fidelidade deles?
O real prazer espiritual diante de Deus é algo contínuo e cada vez mais crescente. Não é um fardo. Não é uma obrigação desgastante, senão um grande prazer e alegria. Mas quem é que pode experimentar isto? Somente aquele que tem guardado continuamente o seu coração do mal. E não segundo os seus próprios critérios do que considere mal, mas segundo os critérios de Deus revelados em Sua Palavra.  Estes são bem-aventurados porque os tais são os de coração puro conforme afirmado por Jesus no Sermão do Monte. São estes que veem a Deus, tanto neste mundo quanto no mundo por vir, conforme a promessa de Jesus na mesma bem-aventurança.
Até quando os crentes deixarão que o ciúme, a inveja e o orgulho, estas três serpentes venenosas, sejam abrigados em seus corações para impedimento da unidade, comunhão do corpo de Cristo, e do progresso do Seu reino na terra? Até quando um justo não poderá se regozijar na fidelidade de um outro justo, para não ofender a consciência fraca e carnal, ciumenta e invejosa de um outro crente que não permite ser santificado pelo Espírito, de modo a ser livrado destes sentimentos que não somente não fazem parte do amor, porque ele não é invejoso, ciumento, orgulhoso e egoísta, como também impedem a manifestação do amor na Igreja, sabendo nós, que ela não pode existir e sobreviver sem isto?
Reconciliemo-nos depressa com nossos irmãos antes de virmos entregar nossas ofertas de louvor e adoração no altar de Deus. De outro modo elas não serão recebidas. Não tentemos fazer fácil a vida cristã, ou então desconsiderar a vontade revelada de Deus. Ele não muda e jamais mudará. A Sua bênção está disponível mas há condição para ser recebida. E temos que nos humilhar, renunciar ao nosso ego para fazer a Sua vontade, aí então, teremos atendido as condições de recebê-las.
Sem esta disposição prática de aplicar-se a obedecer a Deus em tudo que nos tem ordenado, pouco vale ouvir belos sermões, porque não teremos permitido a Deus a transformação de nossas vidas, e é nisto que ele está vivamente interessado. O grande alvo dEle não é tanto o de nos dar conforto e paz, mas aquela condição de coração puro que traz tal conforto e paz. O fim portanto não é a bênção, mas o coração puro que Deus quer produzir em nós e que Lhe é agradável. As bênçãos são como que uma recompensa pela nossa obediência. O fim é a nossa obediência e não a alegria, poder, unção ou seja o que for, que estivermos sentindo. O galardão será dado a quem for fiel. Mas, o grande alvo de Deus não é o galardão senão a nossa fidelidade, pela qual seremos recompensados com o galardão. Não devemos assim errar o alvo, isto é, buscar o galardão em vez da fidelidade. Na verdade, aqueles que não são interesseiros, e que servem a Deus pelo puro prazer de servi-Lo e amá-lo, estes receberão uma maior recompensa, porque não visaram aos bens do Seu Pai, senão ao próprio Pai.
Veja o caso de Salomão que não tendo pedido nem riquezas, nem a morte de seus inimigos, nem qualquer outra coisa senão sabedoria para governar o povo de Deus, recebeu, por seu amor desinteressado e não egoísta, da parte de Deus, até mesmo o que não Lhe havia pedido.
Deleitemo-nos apenas no Senhor e no puro prazer de fazer a Sua vontade e conheceremos na prática o quanto Ele se deleitará em nós, concedendo liberalmente das Suas graças e dons, e o melhor de tudo, da Sua própria companhia.  
Um coração puro virá a conhecer e a entender os mistérios profundos de Deus. As verdades da Bíblia serão abertas pelo Espírito a um tal coração. O brilho da glória do evangelho estará estampado na face de tal pessoa como uma marca do agrado de Deus em relação a ela. E o real conhecimento progressivo da majestade de Deus tornará tal pessoa cada vez mais humilde perante Ele, e agradecida, e não orgulhosa dos dons e graças que tiver recebido.
Como Paulo poderemos então dizer:
“9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.”  (II Cor 12.9,10).
Assim não é simplesmente saber estas coisas que importa e que tem alguma eficácia, senão praticá-las, porque é o seu cuidado e diligência em guardar seu coração que provarão ser uma das melhores evidências da sua sinceridade para com Deus.
Não há nada melhor para distinguir os verdadeiros ministros de Deus dos falsos, do que isto. Não é o saber a doutrina correta nem mesmo ensinar a doutrina correta que é de algum valor para Deus, senão o praticá-la, e isto não será possível de ser feito com um coração impuro, com um coração que não tem sido guardado em santidade verdadeira, produzida pelo Espírito mediante aplicação da Palavra de Deus em nossas vidas.
É muito difícil aprender, reconhecer, aceitar e praticar isto neste últimos dias em que temos vivido, de um cristianismo falso e superficial que anda espalhado por todas as partes do mundo, especialmente em países fortemente influenciados pela cultura moderna norte-americana, como é o caso do Brasil e de muitas outras nações.
O pecado tem sido banalizado a tal ponto, que as coisas que Deus abomina e das quais afirma que despertam a Sua ira em juízo, são aceitas como coisas normais pela maioria dos crentes de nossos dias. E como poderão eles cultivarem um coração puro, e até mesmo se disporem a guardar um coração puro do pecado, quando sequer conseguem identificar mais o que seja pecado neste mundo perverso de trevas? Somente um grande avivamento do Espírito e homens sábios que vivam e praticam a Palavra de Deus para instruírem a outros, poderão mudar o estado em que se encontra a Igreja atualmente.
As pessoas não devem ser desencorajadas a ponto de se sentirem incentivadas a se afastarem de Cristo, mas não é lícito esconder delas que não terão verdadeiro contentamento em Deus enquanto procurá-lo somente para resolverem seus problemas cotidianos. Que elas venham buscar soluções para os seus problemas, mas que não se esconda delas que há um problema que geralmente é a causa de tudo o mais que nos torna insatisfeitos com nossas vidas e com Deus, que é a falta de diligência em guardar o nosso coração limpo de pecados.
Devemos fazer valer a nossa fé no sangue de Jesus para sermos purificados. Devemos confiar que o Espírito Santo é poderoso para mudar os nossos corações de pedra em corações de carne, e limpá-los de toda impureza. Mas é necessário se dispor a buscar isto em Deus, e a estar disposto a renunciar a práticas pecaminosas e a deixar que o Espírito vença sentimentos pecaminosos em nós tal como inveja, ciúme, cobiça, murmuração etc.
É somente quando nos dispomos a guardar continuamente o nosso coração que a presença de Deus vai se tornando cada vez mais doce e desejável para nós. Em caso contrário nós o acharemos como o nosso opositor, porque o Espírito luta contra a carne, e em nossa resistência ao seu trabalho, não poderemos achar descanso e paz para as nossas almas.
Sem verdadeira submissão a Deus nunca venceremos a batalha, porque é Ele quem a vence em nós e por nós. E como Ele fará uma tal coisa enquanto resistimos à Sua vontade?
Decida-se a andar com o Senhor na luz da Sua verdade e não pense em voltar atrás. Porque somente os que lançam a mão do arado e continuam caminhando olhando para a frente é que são dignos da Sua presença e trabalho nos seus corações.
Cerque-se do pensamento que ainda que fosse necessário perder a própria vida para manter esta santa comunhão com Deus com um coração puro e sincero, você não recuaria um só milímetro para não negá-lO.
Os que procedem deste modo acham a sua vida que está escondida em Cristo. É nesta disposição de perdê-la por amor a Ele, negando-se a si mesmos, que irão encontrar esta sua verdadeira vida que se encontra escondida com Ele nas alturas.
Há uma nova natureza que nos tornou co-participantes da natureza divina, e que foi implantada em nós na conversão. Convém que ela cresça em todas as suas partes e virtudes, e este crescimento ocorrerá à medida que guardarmos o nosso coração.
E quanto aos que são chamados a exercerem governo na casa de Deus, que guardem também seus corações de serem elevados para exercerem domínio sobre aqueles que lhes foram confiados por Deus. Que o façam em humilde serviço e por amor ao Senhor do rebanho. Que se guardem da tentação de fazer valer a sua própria autoridade, em vez de serem canais da autoridade do Espírito de Deus que neles opera. Que sejam até mesmo gratos a Deus pelos Joabes e pelos Aitoféis com os quais terão que governar. Ele lhes ajudarão a se manterem humildes diante do Senhor e em constante intercessão para não tentarem se elevarem sobre eles. Que aprendam a trabalhar com eles, e a estarem descansados em Deus, tal como Davi, pela posição de governo em que foram colocados por Ele. O Senhor mesmo prevalecerá sobre os Joabes e Aitoféis e nos guardará de todo o mal, enquanto guardamos o nosso coração em humildade na Sua presença.
Por eles, o Senhor provará os nossos corações para sabermos até que ponto desejamos que Ele seja de fato o governante do nosso povo e de nossas próprias vidas, ou até que ponto desejamos fazer valer a nossa própria autoridade.
Temos muito o que aprender com Moisés, com Davi e muitos outros sobre isto.
Uma obra que é genuinamente de Deus será conduzida e governada por Ele próprio, e nós seremos apenas Seus instrumentos. Enquanto fazemos muitos planos e procuramos prevalecer em muitas frentes que não foram planejados e abertos pelo Senhor, ainda estamos fazendo a nossa obra e não a dEle.
A obra de Deus é dirigida por Ele, e somente por Ele. Josué é general mas deve se submeter ao Príncipe dos exércitos do Senhor. Ao generalíssimo dos Seus exércitos tanto do céu, quanto da terra. E Jericó deve ser subjugada pelos planos de guerra que recebermos de Suas mãos em inteira submissão a Ele, tal como fizera Josué.
Assim é todo aquele que guarda o seu coração porque será diligente no trabalho de Deus, porque o terá recebido dEle próprio. Não estará fazendo a sua própria obra, mas aquela da qual foi encarregado pelo Senhor a fazer, tal como a que Neemias fez em Judá.
Esta pessoa não será confundida pela falta de pensamentos, e a sua língua não estará presa pela falta de palavras. Deus dará abundantemente ministrações àqueles que andam humildemente na Sua presença, guardando o coração deles incontaminado do mal.
O desejo desta pessoa nunca será pregar a si mesmo, seu próprio conhecimento, suas virtudes, senão somente a Cristo, pois sabe de quantas corrupções o seu coração tem sido livrado e limpo por Ele. Sabe que não há nada para gloriar-se em si mesmo, senão somente em Cristo. E todo o desejo do seu coração é portanto o de exaltá-lo, com a mais profunda gratidão.
Estes ministros brilham com a luz de Cristo, mas sabem que são estrelas seguras nas Suas mãos. Que estão a serviço dEle e debaixo do Seu domínio. E temem e tremem em falar e agir de modo diferente do que Ele lhes tenha ensinado e revelado.
Guarde seu coração fielmente e você estará preparado para qualquer situação à qual você for chamado. Você estará contente em Deus em toda e qualquer circunstância.  Seja na prosperidade, seja na adversidade, porque o poder do Senhor e a Sua graça estarão com você e isto lhe será mais do que suficiente para mantê-lo completamente contente na Sua presença, e até mesmo exultante e gloriando-se nas  próprias tribulações, porque verá que em vez de afastá-lo do Senhor elas o trouxeram para mais perto dEle.
Quem tem experimentado isto já não está mais preocupado com os seus próprios interesses, senão com os de Deus, e conhecerá que este interesse divino é o de ganhar almas e edificá-las na verdade, e assim, este será todo o negócio das vidas daqueles que têm se separado para o Senhor nesta verdadeira santidade.
E finalmente ver-se-á o amor de Deus inundando e regendo estas vidas porque esta flor preciosa e delicada do amor divino não nasce no lodo, mas na água cristalina do Espírito Santo, que for encontrada em corações  que tiverem sido limpos pelo sangue de Jesus, e que se têm guardado de toda forma de impureza.
Agora, governados por este amor celestial, as orações não serão apenas súplicas por misericórdia, mas também e sobretudo poderosas intercessões junto ao coração de Deus para destruir fortalezas e sofismas e trazer todo pensamento cativo à obediência de Cristo Jesus.

O Espírito Santo sempre receberá boa e alegre acolhida quando estiver sondando estes corações para enchê-los da Sua glória e poder. E eles se regozijarão grandemente com a manifestação da Sua presença.”.


Provérbios 5

“1 Filho meu, atende à minha sabedoria; inclina teu ouvido à minha prudência;
2 para que observes a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento.
3 Porque os lábios da mulher licenciosa destilam mel, e a sua boca é mais macia do que o azeite;
4 mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois gumes.
5 Os seus pés descem à morte; os seus passos seguem no caminho do Seol.
6 Ela não pondera a vereda da vida; incertos são os seus caminhos, e ela o ignora.
7 Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos, e não vos desvieis das palavras da minha boca.
8 Afasta para longe dela o teu caminho, e não te aproximes da porta da sua casa;
9 para que não dês a outros a tua honra, nem os teus anos a cruéis;
10 para que não se fartem os estranhos dos teus bens, e não entrem os teus trabalhos na casa do estrangeiro,
11 e gemas no teu fim, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo,
12 e digas: Como detestei a disciplina! e desprezou o meu coração a repreensão!
13 e não escutei a voz dos que me ensinavam, nem aos que me instruíam inclinei o meu ouvido!
14 Quase cheguei à ruína completa, no meio da congregação e da assembleia.
15 Bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço.
16 Derramar-se-iam as tuas fontes para fora, e pelas ruas os ribeiros de águas?
17 Sejam para ti só, e não para os estranhos juntamente contigo.
18 Seja bendito o teu manancial; e regozija-te na mulher da tua mocidade.
19 Como corça amorosa, e graciosa cabra montesa saciem-te os seus seios em todo o tempo; e pelo seu amor sê encantado perpetuamente.
20 E por que, filho meu, andarias atraído pela mulher licenciosa, e abraçarias o seio da adúltera?
21 Porque os caminhos do homem estão diante dos olhos do Senhor, o qual observa todas as suas veredas.
22 Quanto ao ímpio, as suas próprias iniquidades o prenderão, e pelas cordas do seu pecado será detido.
23 Ele morre pela falta de disciplina; e pelo excesso da sua loucura anda errado.”

Ninguém melhor do que Salomão para fazer as recomendações deste capitulo contra a mulher adúltera, que espreita para apanhar os homens em laços. Ninguém melhor do que ele para recomendar a fidelidade à própria esposa, deleitando-se com ela, e a não se deixar atrair pela mulher licenciosa e adúltera, porque ele experimentou o amargor que daí decorre, em sua própria vida, por ter desprezado a sabedoria que ele mesmo nos recomendou.

De fato o adultério perverte o coração. A impureza do coração destrói a vida de Cristo que nele estiver habitando, como vimos no comentário do capítulo anterior. E o coração de Salomão veio a se perverter por causa desta falta de vigilância em guardá-lo na pureza e na simplicidade. O amor requer fidelidade e toda forma de infidelidade o destruirá. E sabemos que Deus é amor em Sua própria natureza.



Provérbios 6

"1 Filho meu, se ficaste por fiador do teu próximo, se te empenhaste por um estranho,
2 estás enredado pelos teus lábios; estás preso pelas palavras da tua boca.
3 Faze pois isto agora, filho meu, e livra-te, pois já caíste nas mãos do teu próximo; vai, humilha-te, e importuna o teu próximo;
4 não dês sono aos teus olhos, nem adormecimento às tuas pálpebras;
5 livra-te como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro.
6 Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio;
7 a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador,
8 no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa.
9 o preguiçoso, até quando ficarás deitado? quando te levantarás do teu sono?
10 um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para cruzar as mãos em repouso;
11 assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado.
12 O homem vil, o homem iníquo, anda com a perversidade na boca,
13 pisca os olhos, faz sinais com os pés, e acena com os dedos;
14 perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas.
15 Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem que haja cura.
16 Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, e uma sétima que ele abomina:
17 olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente;
18 coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal;
19 testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.
20 Filho meu, guarda o mandamento de, teu pai, e não abandones a instrução de tua mãe;
21 ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço.
22 Quando caminhares, isso te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo.
23 Porque o mandamento é uma lâmpada, e a instrução uma luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida,
24 para te guardarem da mulher má, e das lisonjas da língua da adúltera.
25 Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender pelos seus olhares.
26 Porque o preço da prostituta é apenas um bocado de pão, mas a adúltera anda à caça da própria vida do homem.
27 Pode alguém tomar fogo no seu seio, sem que os seus vestidos se queimem?
28 Ou andará sobre as brasas sem que se queimem os seus pés?
29 Assim será o que entrar à mulher do seu próximo; não ficará inocente quem a tocar.
30 Não é desprezado o ladrão, mesmo quando furta para saciar a fome?
31 E, se for apanhado, pagará sete vezes tanto, dando até todos os bens de sua casa.
32 O que adultera com uma mulher é falto de entendimento; destrói-se a si mesmo, quem assim procede.
33 Receberá feridas e ignomínia, e o seu opróbrio nunca se apagará;
34 porque o ciúme enfurece ao marido, que de maneira nenhuma poupará no dia da vingança.
35 Não aceitará resgate algum, nem se aplacará, ainda que multipliques os presentes.”

Neste capítulo nós temos uma advertência quanto ao risco que há em ser fiador de alguém (v.1 a 5); uma repreensão contra a preguiça (v. 6 a 11); o caráter e o destino dos ímpios (v. 12 a 15); uma relação de sete coisas que Deus odeia (v. 16 a 19); e advertências quanto às consequências dos pecados de prostituição e de adultério (v. 24 a 35).
Nos versos 16 a 19 são destacadas sete obras da carne, com ênfase na sétima, como sendo especialmente abominada por Deus, a saber, o semear de contendas entre irmãos, porque estes foram chamados a viverem em unidade amorosa, e a semeação de contendas atua contra tal unidade.

“16 Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, e uma sétima que ele abomina:
17 olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente;
18 coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal;
19 testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”

Estes sete pecados estão baseados num espírito de falsidade, motivo porque julgamos importante extrair do próprio livro de Provérbios algumas citações relativas a tal assunto.
Caso esta questão de fazer um uso adequado da língua por não se ter um coração entregue à Iniquidade, não fosse tão importante, não haveria tantas referências a isto na Palavra de Deus, como podemos ver nos seguintes textos de Provérbios:

“Não maquines o mal contra o teu próximo, pois habita junto de ti confiadamente.”

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida.  Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios.  Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti.  Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos.  Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.”

“O homem de Belial, o homem vil, é o que anda com a perversidade na boca,  acena com os olhos, arranha com os pés e faz sinais com os dedos.  No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas.  Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente, será quebrantado, sem que haja cura.  Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina:  olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente,  coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal,  testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.”

“O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.”

“O sábio de coração aceita os mandamentos, mas o insensato de lábios vem a arruinar-se.”

“O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato.  No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente.  Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco.  Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos.”

“A boca do justo produz sabedoria, mas a língua da perversidade será desarraigada.  Os lábios do justo sabem o que agrada, mas a boca dos perversos, somente o mal.”

“A integridade dos retos os guia; mas, aos pérfidos, a sua mesma falsidade os destrói.”

“O ímpio, com a boca, destrói o próximo, mas os justos são libertados pelo conhecimento.”

“Pela bênção que os retos suscitam, a cidade se exalta, mas pela boca dos perversos é derribada.  O que despreza o próximo é falto de senso, mas o homem prudente, este se cala.  O mexeriqueiro descobre o segredo, mas o fiel de espírito o encobre.”

“Os pensamentos do justo são retos, mas os conselhos do perverso, engano.  As palavras dos perversos são emboscadas para derramar sangue, mas a boca dos retos livra homens.  Os perversos serão derribados e já não são, mas a casa dos justos permanecerá.”

“Pela transgressão dos lábios o mau se enlaça, mas o justo sairá da angústia.  Cada um se farta de bem pelo fruto da sua boca, e o que as mãos do homem fizerem ser-lhe-á retribuído.”

“O que diz a verdade manifesta a justiça, mas a testemunha falsa, a fraude.  Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua dos sábios é medicina.  O lábio veraz permanece para sempre, mas a língua mentirosa, apenas um momento.”

“Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR, mas os que agem fielmente são o seu prazer.”

“O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína.”

“O justo aborrece a palavra de mentira, mas o perverso faz vergonha e se desonra.”

“Está na boca do insensato a vara para a sua própria soberba, mas os lábios do prudente o preservarão.”

“A testemunha verdadeira não mente, mas a falsa se desboca em mentiras.”

“Foge da presença do homem insensato, porque nele não divisarás lábios de conhecimento.”

“A testemunha verdadeira livra almas, mas o que se desboca em mentiras é enganador.”

“A língua serena é árvore de vida, mas a perversa quebranta o espírito.”

“A língua dos sábios derrama o conhecimento, mas o coração dos insensatos não procede assim.”

“O coração sábio procura o conhecimento, mas a boca dos insensatos se apascenta de estultícia.”

“Abomináveis são para o SENHOR os desígnios do mau, mas as palavras bondosas lhe são aprazíveis.”

“O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos perversos transborda maldades. O SENHOR está longe dos perversos, mas atende à oração dos justos.”

“Os lábios justos são o contentamento do rei, e ele ama o que fala coisas retas.”

“Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo.”

“O homem depravado cava o mal, e nos seus lábios há como que fogo ardente. O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos.”

“Ao insensato não convém a palavra excelente; quanto menos ao príncipe, o lábio mentiroso!”

“O perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal.”

“Do fruto da boca o coração se farta, do que produzem os lábios se satisfaz.  A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.”

“Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso de lábios e tolo.”

“A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras não escapa.”

“A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras perece.”

“O mexeriqueiro revela o segredo; portanto, não te metas com quem muito abre os lábios.”

“Trabalhar por adquirir tesouro com língua falsa é vaidade e laço mortal.”

“O que guarda a boca e a língua guarda a sua alma das angústias.  Quanto ao soberbo e presumido, zombador é seu nome; procede com indignação e arrogância.”

“A testemunha falsa perecerá, mas a auricular falará sem ser contestada.”

“Lança fora o escarnecedor, e com ele se irá a contenda; cessarão as demandas e a ignomínia.  O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por amigo o rei.”

“Não comas o pão do invejoso, nem cobices os seus delicados manjares.  Porque, como imagina em sua alma, assim ele é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo.  Vomitarás o bocado que comeste e perderás as tuas suaves palavras.  Não fales aos ouvidos do insensato, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras.”

“Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á também o meu;  exultará o meu íntimo, quando os teus lábios falarem coisas retas.”

“Não tenhas inveja dos homens malignos, nem queiras estar com eles,  porque o seu coração maquina violência, e os seus lábios falam para o mal.”

“Ao que cuida em fazer o mal, mestre de intrigas lhe chamarão.”

“Como beijo nos lábios, é a resposta com palavras retas.”

“Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, nem o enganes com os teus lábios.  Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra.”

“Pleiteia a tua causa diretamente com o teu próximo e não descubras o segredo de outrem;  para que não te vitupere aquele que te ouvir, e não se te apegue a tua infâmia.”

“Maça, espada e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho contra o seu próximo.  Como dente quebrado e pé sem firmeza, assim é a confiança no desleal, no tempo da angústia.”

“As palavras do maldizente são comida fina, que desce para o mais interior do ventre.  Como vaso de barro coberto de escórias de prata, assim são os lábios amorosos e o coração maligno.  Aquele que aborrece dissimula com os lábios, mas no íntimo encobre o engano;  quando te falar suavemente, não te fies nele, porque sete abominações há no seu coração.  Ainda que o seu ódio se encobre com engano, a sua malícia se descobrirá publicamente.  Quem abre uma cova nela cairá; e a pedra rolará sobre quem a revolve.  A língua falsa aborrece a quem feriu, e a boca lisonjeira é causa de ruína.”

“Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto.  Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.”

“O que repreende ao homem achará, depois, mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua.”

“O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no SENHOR prosperará.”

“O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma rede aos passos.”

“Se o governador dá atenção a palavras mentirosas, virão a ser perversos todos os seus servos.”

“Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele.”

“Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam.  Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.  Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:  afasta de mim a falsidade e a mentira;”

O caráter de uma pessoa pode ser portanto conhecido pelo uso que ela faz da sua língua. Porque do que estiver cheio o coração a boca falará.
Por isso nosso Senhor diz o seguinte:

“Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.” (Mt 12.37)

Um santo será conhecido pelo seu falar segundo a sã doutrina.

“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.” (Tito 2.1)



Provérbios 7

“1 Filho meu, guarda as minhas palavras, e entesoura contigo os meus mandamentos.
2 Observa os meus mandamentos e vive; guarda a minha lei, como a menina dos teus olhos.
3 Ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração.
4 Dize à sabedoria: Tu és minha irmã; e chama ao entendimento teu amigo íntimo,
5 para te guardarem da mulher alheia, da adúltera, que lisonjeia com as suas palavras.
6 Porque da janela da minha casa, por minhas grades olhando eu,
7 vi entre os simples, divisei entre os jovens, um mancebo falto de juízo,
8 que passava pela rua junto à esquina da mulher adúltera e que seguia o caminho da sua casa,
9 no crepúsculo, à tarde do dia, à noite fechada e na escuridão;
10 e eis que uma mulher lhe saiu ao encontro, ornada à moda das prostitutas, e astuta de coração.
11 Ela é turbulenta e obstinada; não param em casa os seus pés;
12 ora está ela pelas ruas, ora pelas praças, espreitando por todos os cantos.
13 Pegou dele, pois, e o beijou; e com semblante impudico lhe disse:
14 Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos.
15 Por isso saí ao teu encontro a buscar-te diligentemente, e te achei.
16 Já cobri a minha cama de cobertas, de colchas de linho do Egito.
17 Já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo.
18 Vem, saciemo-nos de amores até pela manhã; alegremo-nos com amores.
19 Porque meu marido não está em casa; foi fazer uma jornada ao longe;
20 um saquitel de dinheiro levou na mão; só lá para o dia da lua cheia voltará para casa.
21 Ela o faz ceder com a multidão das suas palavras sedutoras, com as lisonjas dos seus lábios o arrasta.
22 Ele a segue logo, como boi que vai ao matadouro, e como o louco ao castigo das prisões;
23 até que uma flecha lhe atravesse o fígado, como a ave que se apressa para o laço, sem saber que está armado contra a sua vida.
24 Agora, pois, filhos, ouvi-me, e estai atentos às palavras da minha boca.
25 Não se desvie para os seus caminhos o teu coração, e não andes perdido nas suas veredas.
26 Porque ela a muitos tem feito cair feridos; e são muitíssimos os que por ela foram mortos.
27 Caminho de Seol é a sua casa, o qual desce às câmaras da morte.”

Para se guardar do laço da mulher licenciosa e adúltera é recomendado que se guarde os mandamentos de Deus no coração e que se obtenha a sabedoria.
Sabemos que somente um andar no Espírito Santo pode vencer o mal na sua raiz, raiz esta que consiste no desejo que atua em cobiças e paixões carnais no coração.
Somente a crucificação da carne com as suas paixões e cobiças, operada pelo Espírito Santo, quando andamos continuamente nEle, é o único antídoto eficaz para não somente este tipo de pecado de impureza, como contra qualquer outra forma de pecado, conforme vemos no texto de Gál 5.16-25:

“16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne.
17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis.
18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia,
20 a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos,
21 as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.
23 a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.
24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” (Gál 5.16-25)

Então é somente pelo poder do Espírito Santo que podemos ser livrados não apenas da prática exterior do pecado expressado em ações, como também, e principalmente, dos desejos que conduzem a tais ações


Provérbios 8

“1 Não clama porventura a sabedoria, e não faz o entendimento soar a sua voz?
2 No cume das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das veredas ela se coloca.
3 Junto às portas, à entrada da cidade, e à entrada das portas está clamando:
4 A vós, ó homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens.
5 Aprendei, ó simples, a prudência; entendei, ó loucos, a sabedoria.
6 Ouvi vós, porque profiro coisas excelentes; os meus lábios se abrem para a equidade.
7 Porque a minha boca profere a verdade, os meus lábios abominam a impiedade.
8 Justas são todas as palavras da minha boca; não há nelas nenhuma coisa tortuosa nem perversa.
9 Todas elas são retas para o que bem as entende, e justas para os que acham o conhecimento.
10 Aceitai antes a minha correção, e não a prata; e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido.
11 Porque melhor é a sabedoria do que as jóias; e de tudo o que se deseja nada se pode comparar com ela.
12 Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e possuo o conhecimento e a discrição.
13 O temor do Senhor é odiar o mal; a soberba, e a arrogância, e o mau caminho, e a boca perversa, eu os odeio.
14 Meu é o conselho, e a verdadeira sabedoria; eu sou o entendimento; minha é a fortaleza.
15 Por mim reinam os reis, e os príncipes decretam o que justo.
16 Por mim governam os príncipes e os nobres, sim, todos os juízes da terra.
17 Eu amo aos que me amam, e os que diligentemente me buscam me acharão.
18 Riquezas e honra estão comigo; sim, riquezas duráveis e justiça.
19 Melhor é o meu fruto do que o ouro, sim, do que o ouro refinado; e a minha renda melhor do que a prata escolhida.
20 Ando pelo caminho da retidão, no meio das veredas da justiça,
21 dotando de bens permanentes os que me amam, e enchendo os seus tesouros.
22 O Senhor me criou como a primeira das suas obras, o princípio dos seus feitos mais antigos.
23 Desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes de existir a terra.
24 Antes de haver abismos, fui gerada, e antes ainda de haver fontes cheias d'água.
25 Antes que os montes fossem firmados, antes dos outeiros eu nasci,
26 quando ele ainda não tinha feito a terra com seus campos, nem sequer o princípio do pó do mundo.
27 Quando ele preparava os céus, aí estava eu; quando traçava um círculo sobre a face do abismo,
28 quando estabelecia o firmamento em cima, quando se firmavam as fontes do abismo,
29 quando ele fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando traçava os fundamentos da terra,
30 então eu estava ao seu lado como arquiteto; e era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo;
31 folgando no seu mundo habitável, e achando as minhas delícias com os filhos dos homens.
32 Agora, pois, filhos, ouvi-me; porque felizes são os que guardam os meus caminhos.
33 Ouvi a correção, e sede sábios; e não a rejeiteis.
34 Feliz é o homem que me dá ouvidos, velando cada dia às minhas entradas, esperando junto às ombreiras da minha porta.
35 Porque o que me achar achará a vida, e alcançará o favor do Senhor.
36 Mas o que pecar contra mim fará mal à sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte.”

A sabedoria continua sendo exaltada neste capitulo, porque nele se afirma que ela já existia desde antes da fundação do mundo, e sabemos que a razão disto é que o Senhor mesmo é a Sua fonte. Portanto, a sabedoria é inerente à pessoa do próprio Deus.
Ele a compartilha com os homens, e até mesmo com os ímpios que atendem ao Seu convite ao arrependimento. Portanto, há sabedoria em se atender a tal chamada, porque nenhuma riqueza deste mundo pode ser comparada à sabedoria, porque ela é do alto, é sobrenatural, é divina e celestial.
Daí se afirmar que o temor do Senhor consiste em odiar o mal (v. 13). Aquele que não odeia o pecado não sabe o que é temer a Deus.
É feita a promessa para aqueles que buscam diligentemente a sabedoria por este caminho de se aborrecer o mal, de que eles a encontrarão, porque ela ama aqueles que a amam (v. 17).
Aqueles que acham a sabedoria que vem do alto, encontram também a vida eterna que está em Cristo, porque não se pode ter uma coisa sem a outra.
Por isso se afirma nos versos 34 a 36:

“34 Feliz é o homem que me dá ouvidos, velando cada dia às minhas entradas, esperando junto às ombreiras da minha porta.
35 Porque o que me achar achará a vida, e alcançará o favor do Senhor.
36 Mas o que pecar contra mim fará mal à sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte.”

Os que odeiam a sabedoria amam a morte e se acham mortos em seus pecados e transgressões, mas aqueles que a acham, encontram também a vida eterna e o favor do Senhor, ou seja, a Sua graça, pela qual se obtém tal vida eterna, pela simples fé no Seu nome (v. 35).

“13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.
17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.’ (Tg 3.13-18)


Provérbios 9

“1 A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas;
2 já imolou as suas vítimas, misturou o seu vinho, e preparou a sua mesa.
3 Já enviou as suas criadas a clamar sobre as alturas da cidade, dizendo:
4 Quem é simples, volte-se para cá. Aos faltos de entendimento diz:
5 Vinde, comei do meu pão, e bebei do vinho que tenho misturado.
6 Deixai a insensatez, e vivei; e andai pelo caminho do entendimento.
7 O que repreende ao escarnecedor, traz afronta sobre si; e o que censura ao ímpio, recebe a sua mancha.
8 Não repreendas ao escarnecedor, para que não te odeie; repreende ao sábio, e amar-te-á.
9 Instrui ao sábio, e ele se fará mais, sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento.
10 O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento.
11 Porque por mim se multiplicam os teus dias, e anos de vida se te acrescentarão.
12 Se fores sábio, para ti mesmo o serás; e, se fores escarnecedor, tu só o suportarás.
13 A mulher tola é alvoroçadora; é insensata, e não conhece o pudor.
14 Senta-se à porta da sua casa ou numa cadeira, nas alturas da cidade,
15 chamando aos que passam e seguem direito o seu caminho:
16 Quem é simples, volte-se para cá! E aos faltos de entendimento diz:
17 As águas roubadas são doces, e o pão comido às ocultas é agradável.
18 Mas ele não sabe que ali estão os mortos; que os seus convidados estão nas profundezas do Seol.”

Nos versos 4 e 16 se afirma que a sabedoria (Cristo) convida os simples para que lha adquiram. São somente estes que podem obter a sabedoria divina, porque se exige contrição de coração, pobreza de espírito, humildade e simplicidade, para que se tenha um verdadeiro encontro com Deus.

“Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11.25)

“22 Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria,
23 nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos,
24 mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.
26 Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos. nem muitos os nobres que são chamados.
27 Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes;
28 e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são;
29 para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.
30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;

31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (I Cor 1.22-31)


Provérbios 10

“1 Provérbios de Salomão. Um filho sábio alegra a seu pai; mas um filho insensato é a tristeza de sua mãe.
2 Os tesouros da impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da morte.
3 O Senhor não deixa o justo passar fome; mas o desejo dos ímpios ele rechaça.
4 O que trabalha com mão remissa empobrece; mas a mão do diligente enriquece.
5 O que ajunta no verão é filho prudente; mas o que dorme na sega é filho que envergonha.
6 Bênçãos caem sobre a cabeça do justo; porém a boca dos ímpios esconde a violência.
7 A memória do justo é abençoada; mas o nome dos ímpios apodrecerá.
8 O sábio de coração aceita os mandamentos; mas o insensato de lábios cairá.
9 Quem anda em integridade anda seguro; mas o que perverte os seus caminhos será conhecido.
10 O que acena com os olhos dá dores; e o insensato de lábios cairá.
11 A boca do justo é manancial de vida, porém a boca dos ímpios esconde a violência.
12 O ódio excita contendas; mas o amor cobre todas as transgressões.
13 Nos lábios do entendido se acha a sabedoria; mas a vara é para as costas do que é falto de entendimento.
14 Os sábios entesouram o conhecimento; porém a boca do insensato é uma destruição iminente.
15 Os bens do rico são a sua cidade forte; a ruína dos pobres é a sua pobreza.
16 O trabalho do justo conduz à vida; a renda do ímpio, para o pecado.
17 O que atende à instrução está na vereda da vida; mas o que rejeita a repreensão anda errado.
18 O que encobre o ódio tem lábios falsos; e o que espalha a calúnia é um insensato.
19 Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente.
20 A língua do justo é prata escolhida; o coração dos ímpios é de pouco valor.
21 Os lábios do justo apascentam a muitos; mas os insensatos, por falta de entendimento, morrem.
22 A bênção do Senhor é que enriquece; e ele não a faz seguir de dor alguma.
23 E um divertimento para o insensato o praticar a iniquidade; mas a conduta sábia é o prazer do homem entendido.
24 O que o ímpio teme, isso virá sobre ele; mas aos justos se lhes concederá o seu desejo.
25 Como passa a tempestade, assim desaparece o ímpio; mas o justo tem fundamentos eternos.
26 Como vinagre para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o mandam.
27 O temor do Senhor aumenta os dias; mas os anos os ímpios serão abreviados.
28 A esperança dos justos é alegria; mas a expectação dos ímpios perecerá.
29 O caminho do Senhor é fortaleza para os retos; mas é destruição para os que praticam a iniquidade.
30 O justo nunca será abalado; mas os ímpios não habitarão a terra.
31 A boca do justo produz sabedoria; porém a língua perversa será desarraigada.
32 Os lábios do justo sabem o que agrada; porém a boca dos ímpios fala perversidades.”

A partir deste capítulo até o vigésimo nono, nós temos citações de caráter essencialmente proverbiais, que sendo auto-explicativas, e à luz de tudo o que já foi dito anteriormente, poderão ser melhor entendidas pela simples leitura direta do texto de tais capítulos, motivo porque não estamos apresentando qualquer comentário relativo aos mesmos, com exceção a algumas citações que julgamos ser proveitoso submetê-las a uma rápida interpretação, como por exemplo a do verso 12 deste capítulo.

“O ódio excita contendas; mas o amor cobre todas as transgressões.”

A parte inicial deste verso nos ajuda a ter um melhor entendimento da afirmação do apóstolo Pedro de que o amor cobre uma multidão de pecados, porque tudo indica que ele a retirou deste provérbio.

“tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados;” (I Pe 4.8)

O texto de Provérbios afirma que “o ódio excita contendas”, comparando-o em oposição ao amor, que faz justamente o contrário disto.


O ensino é que onde houver ódio no coração haverá disputas, divisões, contendas. Mas onde o amor imperar, as ofensas serão perdoadas e suportadas; e não que serão escondidas, como alguns pensam que seja esta a interpretação do texto de I Pe 4.8.



Provérbios 11

“1 A balança enganosa é abominação para o Senhor; mas o peso justo é o seu prazer.
2 Quando vem a soberba, então vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria.
3 A integridade dos retos os guia; porém a perversidade dos desleais os destrói.
4 De nada aproveitam as riquezas no dia da ira; porém a justiça livra da morte.
5 A justiça dos perfeitos endireita o seu caminho; mas o ímpio cai pela sua impiedade.
6 A justiça dos retos os livra; mas os traiçoeiros são apanhados nas suas próprias cobiças.
7 Morrendo o ímpio, perece a sua esperança; e a expectativa da iniquidade.
8 O justo é libertado da angústia; e o ímpio fica em seu lugar.
9 O hipócrita com a boca arruína o seu próximo; mas os justos são libertados pelo conhecimento.
10 Quando os justos prosperam, exulta a cidade; e quando perecem os ímpios, há júbilo.
11 Pela bênção dos retos se exalta a cidade; mas pela boca dos ímpios é derrubada.
12 Quem despreza o seu próximo é falto de senso; mas o homem de entendimento se cala.
13 O que anda mexericando revela segredos; mas o fiel de espírito encobre o negócio.
14 Quando não há sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança.
15 Decerto sofrerá prejuízo aquele que fica por fiador do estranho; mas o que aborrece a fiança estará seguro.
16 A mulher graciosa obtém honra, e os homens poderosos obtêm riquezas.
17 O homem bondoso faz bem à sua própria alma; mas o cruel faz mal a si mesmo.
18 O ímpio recebe um salário ilusório; mas o que semeia justiça recebe galardão seguro.
19 Quem é fiel na retidão se encaminha para a vida, e aquele que segue o mal encontra a morte.
20 Abominação para o Senhor são os perversos de coração; mas os que são perfeitos em seu caminho são o seu deleite.
21 Decerto o homem mau não ficará sem castigo; porém a descendência dos justos será livre.
22 Como jóia de ouro em focinho de porca, assim é a mulher formosa que se aparta da discrição.
23 O desejo dos justos é somente o bem; porém a expectativa dos ímpios é a ira.
24 Um dá liberalmente, e se torna mais rico; outro retém mais do que é justo, e se empobrece.
25 A alma generosa prosperará, e o que regar também será regado.
26 Ao que retém o trigo o povo o amaldiçoa; mas bênção haverá sobre a cabeça do que o vende.
27 O que busca diligentemente o bem, busca favor; mas ao que procura o mal, este lhe sobrevirá.
28 Aquele que confia nas suas riquezas, cairá; mas os justos reverdecerão como a folhagem.
29 O que perturba a sua casa herdará o vento; e o insensato será servo do entendido de coração.
30 O fruto do justo é árvore de vida; e o que ganha almas sábio é.
31 Eis que o justo é castigado na terra; quanto mais o ímpio e o pecador!”

Quanto ao verso 2 “Quando vem a soberba, então vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria.”, usaremos para o comentário da virtude da humildade, um texto adaptado sobre o assunto, de autoria do Pr John MacArthur.

Atitudes Cristãs Fundamentais: Humildade

Por John Macarthur (adaptado)

Continuaremos com a nossa série de estudos sobre a anatomia da igreja. Nós estamos estudando os ingredientes, os elementos essenciais e componentes que caracterizam a vida da igreja. E este estudo é oportuno porque a igreja está passando atualmente por uma crise de identidade.
Algumas igrejas estão se ocupando com a substância dessa identidade e outras, com o estilo dessa identidade.
Nós não somos legalistas. Nós não cremos que  as pessoas devem ser controladas e conduzidas a um certo padrão de comportamento exterior, mas nós cremos que os homens e as mulheres deveriam viver como resposta direta à transformação havida no seu interior. E assim o que nós fazemos é o trabalho do coração... trabalhando em atitudes espirituais. Isso é principalmente o trabalho da Palavra. Se você vai fazer uma cirurgia de coração você tem que ter uma ferramenta muito eficiente, e de acordo com Hb 4 o instrumento que é muito eficiente para cortar o coração e fazer a cirurgia necessária é a Palavra de Deus. E assim se você deseja construir nas pessoas motivos certos e atitudes e convicções corretas,  você deve fazer o trabalho do coração, você deve extirpar a doença e fazer a ponte de safena espiritual necessária, e isto só pode ser feito com a Palavra. Agora, o trabalho de produzir as atitudes de coração certas envolve edificar nas pessoas uma fé forte e um compromisso com a obediência. E  já estudamos sobre fé e obediência antes. Agora vamos falar sobre uma  terceira atitude de coração, que é mais uma convicção interior. Uma outra motivação que é essencial para que a igreja seja o corpo vivo de Cristo. É tão importante que poderia vir em primeiro lugar na lista das que temos estudado. Esta é a atitude de humildade. Provavelmente, à parte da fé e da obediência, não há nenhuma virtude espiritual mais importante do que a humildade.
Se havia algo verdadeiro sobre o Judaísmo dos dias de Jesus, era que ele criou orgulho espiritual. Os homens exibiam a sua religião externa e esperavam os louvores da multidão. Em Mt 23 nós vemos como os líderes de Israel sempre buscaram os assentos principais e as posições elevadas. Quando eles davam esmolas eles tocavam uma  trombeta, ou quando jejuavam lançavam, publicamente, cinzas sobre suas cabeças, para que todos pudessem ver quão devotos eles eram. O legalismo sempre é o companheiro de orgulho espiritual, mas a verdadeira espiritualidade tem a virtude da humildade  ao seu lado. E assim quando Jesus proferiu o Sermão do Monte, Ele atacou os religiosos dos seus dias com um golpe direto.
Lemos em Mt 5 que Ele começou a ensinar dizendo: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (v 3). “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm forme e sede de justiça, porque serão fartos.” (v 4-6).
As promessas que vêm ao término de cada um desses versos têm a ver com o reino (domínio, reino, herança) da salvação. Ele está falando sobre pessoas que estão salvas, que estão no Reino, elas estão sendo confortadas, elas herdarão a terra no final e elas estão tendo a alma satisfeita. Todas essas são descrições de características da salvação. Tudo isso descreve o que significa pertencer a Cristo, pertencer a Deus, saber que você está no Reino, ter conforto em todos os assuntos da vida, ter a promessa de que em algum dia herdará a terra em sua última e final forma... as glórias do novo céu e da nova  terra; e a satisfação da alma. Essas coisas pertencem aos redimidos.
E os redimidos são descritos dessa maneira... eles são humildes de espírito, eles choram, eles são mansos (submissos), e eles têm fome e têm sede. Tudo isso descreve as várias facetas da humildade.
Em primeiro lugar, a frase “Bem-aventurados os humildes de espírito” remonta a uma palavra grega na forma de verbo, phoneo, que significa ser tão pobre que você tem que  pedir, implorar. O melhor modo para descrever isto é como se estivessem falidos (falência, bancarrota) e não têm qualquer suporte. Eles não têm nada e eles não têm meios de adquirir qualquer coisa. É um termo usado para mendigos que não tiveram nenhuma habilidade, ou que eram inválidos, de forma que não podem obter o próprio sustento, não podem trabalhar.
Estão totalmente destituídos. O Reino pertence aos destituídos, Jesus está dizendo. O Reino pertence a pessoas que conhecem que eles não têm nada, que chegaram à falência absoluta. E, claro que, Ele não está falando sobre coisas materiais, mas espirituais.
Isto não pertence às pessoas que acreditam que alcançaram grandes conquistas espirituais. Não pertence a pessoas que pensam que acumularam méritos com Deus. Não pertence a pessoas que estão contando com a sua circuncisão, por terem nascido em Israel. Não pertence a quem guarda as tradições que o conformam exteriormente à lei, mas pertence às pessoas que estão batendo no peito declarando: "Deus, seja misericordioso a mim, mísero pecador.".
Na realidade, aquele publicano em Lc 18 batendo no seu peito ilustra como uma pessoa que vivia no Velho Testamento, era salva. Ele se humilhou diante de Deus reconhecendo-se incapaz de guardar perfeitamente os seus mandamentos, e declarando ser um mísero pecador. E assim lhe foi imputada a justiça de Cristo, do mesmo modo que nos é imputada hoje na dispensação da graça.
Quebrantamento, humildade, é o assunto.
O que entende a sua falência espiritual tem uma atitude de submissão (os mansos) diante de Deus. Ele lamenta o seu pecado (os que choram). E isto lhe traz temor e reverência para se achegar diante do trono de Deus (o publicano se considerava indigno de sequer de erguer o seu olhar em direção ao céu).
 E então finalmente, esses que têm fome e sede de justiça, porque sabem que não a possuem, serão fartos, assim como o publicano, que foi justificado por Deus.  É assim que se entra no Reino. A Bíblia ilustra isto por toda a parte.
Em Mt 18.3, Jesus diz: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”. Antes de Jesus proferir estas palavras os discípulos estavam discutindo acerca de qual deles seria o maior no Reino.
No meio desta discussão Jesus colocou uma criancinha em seu colo, e usou-a para ilustrar o que estava dizendo. Quem se humilha então como esta criança, é o maior no Reino do Céu." O Reino pertence aos humildes. Você entra nele com humildade.
Agora o que quer dizer com se humilhar como esta criança? Muito simples, uma criança é absolutamente dependente, e uma criança nada realiza. Uma criança não alcançou nada... uma criança não realizou nada. Não há nenhum grande registro de realizações da parte de bebês. Você vem a Jesus, falido com nada, como o escritor do hino tão magnificamente diz, "Nada em minha mão eu trago, simplesmente à cruz eu me agarro.". É assim que uma criança vem... nenhum registro de realizações que a recomendem, nenhum registro em seu favor, nenhum mérito. Você entra no Reino, espiritualmente, na mesma condição em que está uma criancinha.
As palavras de Tiago 4.1-10 podem também ser aplicadas a não crentes, pois está sendo enfatizada a condição de adultério espiritual daqueles que estão amando o mundo e que estão carentes da graça de Deus porque são soberbos e não humildes. E Tiago recomenda os mesmos passos do Sermão do Monte para que haja salvação ou comunhão com Deus, a saber: achegar-se a Deus, purificar as mãos e o coração, afligir-se, lamentar e chorar, humilhando-se na presença do Senhor.
Agora como esta humildade é demonstrada? Sujeitando-se a Deus e resistindo ao diabo. Purificando as mãos e o coração. Afligindo-se, lamentando e chorando.
Este é realmente um dos grandes textos de evangelismo do Novo Testamento, pois chama os pecadores a se arrependerem na presença de Deus, e lhes revela o modo como devem fazê-lo. Aponta para terem aquela humildade que significa que devem se submeter a Deus conforme o que está revelado na Bíblia. A pessoa vira as costas para o diabo e volta-se para Deus. Confessa seu pecado. Chora pelo lavar do seu coração. E com tal humildade o Senhor  o levantará.
Em Is 55 vemos a mesma humildade sendo a condição para a entrada no Reino.
E esta humildade deve ser mantida, porque ninguém se torna mais merecedor da salvação depois da sua conversão do que quando veio para Jesus. Ainda somos pecadores e dependemos da graça de Deus para sermos sustentados. Nunca haverá razão de  lugar para orgulho em sua vida. Qualquer bem referente à salvação que existir em sua vida é o trabalho de Deus e não seu. É por isso que lemos em I Pe 5:5: “vesti-vos todos de humildade”. "Deus se opõe ao orgulhoso mas dá graça ao humilde.”.
O Senhor quer fazer isto e Ele fará tudo o que for necessário para nos humilhar.
Em II Cor 12 Paulo está falando sobre a experiência que ele teve. Ele está falando, como diz no verso 1, sobre visões e revelações do Senhor, sobre coisas sobrenaturais. Ele diz que  há quatorze anos atrás... falando dele... se no corpo, ou fora do corpo, não sabia,  foi arrebatado até o terceiro céu. O terceiro céu, é onde está o trono de Deus. E Paulo diz que ouviu no paraíso palavras inefáveis, as quais não é licito ao homem referir. Isto é, as revelações sobre o que se vê no céu, e o que lá se diz está vedado por Deus aos homens. As coisas que Deus preparou, as mansões celestiais, a herança dos santos, estão firmemente guardadas em segredo. É de se estranhar que tantos em nossos dias proclamem a todos os cantos as coisas que alegam terem visto e ouvido no céu, quando Paulo diz que não é lícito ao homem publicá-las. E mesmo se quisessem não poderiam falar de tais coisas porque em Sua sabedoria, Deus as tornou inefáveis, isto é inexprimíveis. Não há como explicá-las em palavras humanas.
Paulo teve a humildade de dizer isto, porque não se ostentou na sua experiência de arrebatamento ao céu. Ele se gloriava na experiência, mas não em si mesmo, conforme suas palavras no verso 5, em que afirma que se gloriava apenas nas suas fraquezas.
O que ele está tentando realmente dizer aqui é que certamente há algo para se dizer sobre uma tal viagem sobrenatural e que havia uma parte dentro dele que pendia para celebrar a experiência incrível, mas quando olhava realmente para si mesmo, tudo sobre o que podia falar era sobre a sua própria fraqueza. Como que a dizer: eu não fui para lá porque o fiz por merecer, ou que de algum modo pudesse merecê-lo. Não foi uma recompensa para a minha espiritualidade. Eu quero dizer que foi uma coisa maravilhosa e algo maravilhoso para gerar exultação no meu interior, mas quando eu olho para mim tudo em que eu posso me alegrar é na minha fraqueza.
E então no verso 7 ele diz: “E para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.”.  Deus permitiu o espinho para que Paulo permanecesse humilde. Para que continuasse entendendo que sempre era dependente da graça de Jesus.
A  experiência de ser arrebatado ao céu não é uma coisa rotineira. É realmente algo incomum. Mas Paulo reservava-se em não alardear a experiência, buscando chamar a atenção para si, porque estava devidamente consciente que não é por mérito espiritual, ou qualquer outro, que Deus concede tal experiência, mas por graça.
O espinho na carne, que veio sobre Paulo tão logo retornou do terceiro céu, guardou-o de se gabar junto de seus oponentes, inquirindo-os se alguma vez, já tinham sido arrebatados como ele. A experiência não lhe fora dada para se exaltar, mas pela exclusiva soberania de Deus, que distribui a Sua graça e dons, conforme Lhe apraz.
Até mesmo Paulo poderia se tornar orgulhoso com a grandeza das muitas experiências que estava vivendo com a pregação do evangelho aos gentios. E por isso Deus permitia que ele fosse constantemente humilhado nas diversas perseguições que sofria, para manter-se humilde diante dEle, e assim continuar desfrutando da Sua graça, para capacitá-lo para a obra de anunciar o evangelho aos gentios.
Paulo aprendeu que o verdadeiro poder estava relacionado à humildade, e por isso disse no verso 10: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então é que sou forte.”.  Ele aprendeu a abraçar a adversidade.
Em Pv 15.33 se lê que a humildade precede a honra. Primeiro a humildade, depois a honra.
Deus quer você humilde. Você entrou no reino humilde. Você não tem nenhuma razão para estar orgulhoso agora. Você não é mais merecedor agora da salvação do que antes que Deus o salvasse. Você ainda é miserável e imerecedor, porque foi coberto com a justiça de Cristo. Foi Ele quem pagou a penalidade por seus pecados. E quando Deus traz essas coisas em sua vida que o humilham e o derrubam e o quebram e quebram sua autoconfiança, essas coisas que você não pode dominar, que você não pode desfazer, quando vierem sobre você, não as estranhe como se fosse algo extraordinário que esteja ocorrendo a você... lembre-se apenas que  é provável que elas tenham o propósito de humilhá-lo tornando-o mais útil.
Em Fp 2.3 lemos: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.”.
Você sabe, que há algo verdadeiro sobre uma pessoa humilde e é isto: eles veem o seu próprio pecado como o pior do que o dos seus demais irmãos em Cristo. Isso é uma marca. Se você é mais crítico de outros crentes do que é de si mesmo, é porque lhe falta a virtude da humildade. O orgulho é quem lhe permite rastejar para fora do seu próprio abismo para condenar outros. E eu não estou falando em se avaliar a verdade, eu não estou falando sobre ser perspicaz, eu estou falando sobre estar preocupado em criticar os pecados de outros. Isso é duro de se fazer quando você está subjugado pelos seus próprios pecados. Quando os pecados que mais lhe ofendem são os seus, quando os pecados que mais lhe afligem são os seus, quando os pecados que você gostaria de prevenir são os seus e quando os efeitos desses pecados que atrapalham a igreja são os seus pecados e não o de qualquer outro, então você tem uma medida de humildade e você pode praticar o que diz o texto... considerando cada um os outros superiores a si mesmo.
Mas lemos também no verso 4: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.”. Quando você está mais preocupado com os empreendimentos de outros, os sucessos de outros, as bênçãos de outros, os benefícios de outros, do que os seus próprios, então você  tem uma medida de humildade. Quando seus interesses pessoais não são o que importa, mas o sucesso do corpo de Cristo, da sua igreja, dos interesses de Deus em Seu Reino, quando você puder se preocupar menos com seus próprios sucessos pessoais e com suas próprias realizações pessoais, com seus próprios privilégios pessoais, popularidade, reputação, mas se você está acabando com essas coisas em consideração a outros, você tem uma medida de humildade. Isto tem a ver com o modo que você vê a si mesmo... negativamente com respeito a seu pecado e positivamente com respeito a seus sucessos. Você é mais interessado sobre seus pecados do que os de  qualquer outra pessoa ? E mais interessado nas bênçãos de outros do que nas suas ?
Essa era a atitude de Cristo. Ele estava mais preocupado conosco do que consigo mesmo. Esta atitude é referida no verso 5: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,”. Ele estava perfeitamente disposto em deixar os seus privilégios para carregar os nossos pecados. Ele estava disposto a ser separado de Deus e suportar a agonia para que nós, que somos imerecedores, pudéssemos ser salvos. E embora Ele subsistisse na forma de Deus, Ele não levou em conta a igualdade com Deus como algo para servir de base para qualquer argumentação. Ele estava disposto em abandonar isto. Ele se esvaziou. "assumindo a forma de servo”, e “a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz.”. Em outras palavras, Ele se rebaixou até o ponto mais extremo por nossa causa.
Assim, no exemplo de Cristo, vemos que a humildade é uma atitude do coração, que é o centro mesmo da virtude espiritual.
Assim quando o ministério da igreja estiver fazendo o que Deus deseja que seja feito, estará fazendo o trabalho do coração. A meta da igreja não é lhe dar uma experiência agradável, a meta do ministério da igreja é produzir humildade. Este é o tipo de atitude espiritual que faz parte da vida interior da igreja, e é  o que Deus quer que seja visto na igreja.

Assim sejamos gratos a Deus por todas as experiências que nos têm humilhado, porque por meio delas temos sido guardados em humildade, de maneira que reconheçamos que não temos nada para nos gabar em nós mesmos, mas somente na graça de Cristo.



Provérbios 12

"1 O que ama a correção ama o conhecimento; mas o que aborrece a repreensão é insensato.
2 O homem de bem alcançará o favor do Senhor; mas ao homem de perversos desígnios ele condenará.
3 O homem não se estabelece pela impiedade; a raiz dos justos, porém, nunca será removida.
4 A mulher virtuosa é a coroa do seu marido; porém a que procede vergonhosamente é como apodrecimento nos seus ossos.
5 Os pensamentos do justo são retos; mas os conselhos do ímpio são falsos.
6 As palavras dos ímpios são emboscadas para derramarem sangue; a boca dos retos, porém, os livrará.
7 Transtornados serão os ímpios, e não serão mais; porém a casa dos justos permanecerá.
8 Segundo o seu entendimento é louvado o homem; mas o perverso decoração é desprezado.
9 Melhor é o que é estimado em pouco e tem servo, do que quem se honra a si mesmo e tem falta de pão.
10 O justo olha pela vida dos seus animais; porém as entranhas dos ímpios são cruéis.
11 O que lavra a sua terra se fartará de pão; mas o que segue os ociosos é falto de entendimento.
12 Deseja o ímpio o despojo dos maus; porém a raiz dos justos produz o seu próprio fruto.
13 Pela transgressão dos lábios se enlaça o mau; mas o justo escapa da angústia.
14 Do fruto das suas palavras o homem se farta de bem; e das obras das suas mãos se lhe retribui.
15 O caminho do insensato é reto aos seus olhos; mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio.
16 A ira do insensato logo se revela; mas o prudente encobre a afronta.
17 Quem fala a verdade manifesta a justiça; porém a testemunha falsa produz a fraude.
18 Há palrador cujas palavras ferem como espada; porém a língua dos sábios traz saúde.
19 O lábio veraz permanece para sempre; mas a língua mentirosa dura só um momento.
20 Engano há no coração dos que maquinam o mal; mas há gozo para os que aconselham a paz.
21 Nenhuma desgraça sobrevém ao justo; mas os ímpios ficam cheios de males.
22 Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor; mas os que praticam a verdade são o seu deleite.
23 O homem prudente encobre o conhecimento; mas o coração dos tolos proclama a estultícia.
24 A mão dos diligentes dominará; mas o indolente será tributário servil.
25 A ansiedade no coração do homem o abate; mas uma boa palavra o alegra.
26 O justo é um guia para o seu próximo; mas o caminho dos ímpios os faz errar.
27 O preguiçoso não apanha a sua caça; mas o bem precioso do homem é para o diligente.
28 Na vereda da justiça está a vida; e no seu caminho não há morte.

No verso 1 se afirma que:

“O que ama a correção ama o conhecimento; mas o que aborrece a repreensão é insensato.” (v. 1)

Isto porque na condição de limitados, imperfeitos e pecadores, mesmo os crentes necessitam ser exortados (encorajados a perseverarem na fé e na prática da justiça) ainda quando tudo vá bem com eles nos assuntos do reino de Deus, porque este é o modo determinado pelo Senhor para que nunca venhamos a cair, como vemos no ensino do Novo Testamento.
Tendo falado do peso da responsabilidade dos ministros do evangelho, Paulo apresentou a Timóteo, em II Tim 4.2, de maneira resumida, quais são os principais deveres do ministro do evangelho:
Primeiro: Pregar a Palavra, instando a tempo e fora de tempo.
Em segundo lugar: Admoestar.
Em terceiro: Repreender.
E em quarto: Exortar.
Sendo que tudo isto deve ser feito com toda longanimidade e doutrina.
Nós veremos agora, mais detalhadamente, cada um destes deveres.
1 – Pregação da Palavra
Muito pode ser dito sobre a verdadeira pregação, mas não é nosso propósito esgotar o assunto neste breve comentário.
A pregação da Palavra é citada em primeiro lugar por Paulo porque é este o principal dever do ministro do evangelho.
Eles não devem pregar fábulas, invenções, filosofia, psicologia, sociologia, ou seja o que for que seja diferente da Palavra de Deus.
Por isto Paulo não disse simplesmente a Timóteo para pregar, mas para pregar a Palavra. Ele definiu assim o que deve ser pregado.
A ação de instar a tempo e fora de tempo tem a ver com a aplicação da pregação, porque o dever do ministro não é apenas o de pregar sermões mas aplicar a Palavra à vida dos seus ouvintes, e isto ele deve fazer instando com eles em toda ocasião oportuna.
O pastor puritano Richard Baxter visitava todas as ovelhas do seu rebanho com este propósito de instar com elas para aplicarem a Palavra de Deus em suas vidas.
E todos os pastores puritanos não se limitavam a apenas pregarem sermões, como também a fazerem aplicações práticas de seus sermões às vidas dos ouvintes.
O pastor não deve por exemplo, se limitar simplesmente a pregar um sermão sobre santificação, mas se esforçar para conduzir suas ovelhas a se consagrarem verdadeiramente a Deus para que possam ser santificadas pelo Espírito, mediante prática da Palavra.
Isto será feito basicamente com os outros deveres dos ministros citados por Paulo de admoestar, repreender e exortar, usando de toda longanimidade e doutrina.
As pregações, admoestações, repreensões e exortações devem chamar seriamente a todos os crentes a um permanente arrependimento, porque esta é a condição que convém a pecadores ainda que redimidos; porque arrependimento significa vidas transformadas, mentes renovadas, conversão diária à vontade de Deus, e isto não será atingido se a pregação não mover as consciências e os corações dos ouvintes.
Os crentes devem ser chamados seriamente a darem a devida atenção ao cuidado que devem ter com o pecado e com o cumprimento dos deveres deles para com Deus.
Eles devem ser incentivados a viverem por fé e não por vista e a terem uma vida verdadeiramente santa.
O pregador deve fazer o seu trabalho confiando que o Espírito Santo fará o Seu de aplicar nos corações as verdades que forem pregadas.
Em segundo lugar há também o dever do pastor de admoestar as pessoas.
Admoestar é o mesmo que repreender, censurar, corrigir.
Os ministros do evangelho também estão encarregados deste dever por Deus em relação às ovelhas, porque todos os que são tornados filhos de Deus por meio da fé em Cristo, estão automaticamente debaixo da disciplina da aliança que Deus fez com eles através do sangue de Jesus Cristo.
No décimo oitavo capítulo do evangelho de Mateus Jesus detalhou o modo de aplicação desta disciplina corretiva.
Muito se fala da finalidade da disciplina que é a de conduzir os filhos de Deus ao arrependimento por suas faltas relativas a um viver deliberado no pecado, mas infelizmente isto tomou em nossos dias a conotação de tolerância para com os seus pecados, quando que, apesar de ser verdade que há esta finalidade de conduzir ao arrependimento, nosso Senhor deixou claramente afirmado que aquele que não se arrepender deve ser considerado como um gentio e publicano, isto é, como um estranho para a Igreja.
Este abrandamento da disciplina, ou até mesmo a falta da sua aplicação tem levado indiretamente muitos crentes a viverem sem qualquer temor do Senhor em suas Igrejas, e também a não respeitarem e honrarem àqueles que foram levantados por Ele para apascentarem as suas vidas.
Mas Paulo disse a Timóteo que ele estava encarregado deste dever de corrigir os indisciplinados, e não somente ele, como todos os ministros do evangelho, porque têm recebido do Senhor, autoridade para reter e perdoar pecados na Igreja.
Não que o poder seja propriamente deles, mas têm recebido autoridade delegada para exercerem essa disciplina em nome de Cristo e segundo a Sua vontade e Palavra.
Assim, não é nenhuma agressão pessoal que um ministro da Palavra faz quando repreende crentes de sua congregação por causa de faltas praticadas por eles.
Ao contrário ele está velando pelas suas almas e cumprindo o dever que lhe foi imposto por Cristo. Ele está exibindo verdadeiro amor e misericórdia para com os faltosos, de maneira a livrá-los de futuros juízos no tribunal de Cristo, quanto todos terão que prestar contas a Deus.
 A palavra usada no original grego para admoestação é elégko e esta mesma palavra é usada em textos como Ef 5.11, 13; Tito 1.13; 2.15 e Hb 12.5, por exemplo, onde é traduzida por correção, reprovação e repreensão.
Em terceiro lugar, é dever do pastor repreender.
Isto pode parecer uma repetição do dever anterior de admoestar, mas a palavra usada por ele no original grego para repreender é outra palavra diferente de elégko.
Aqui ele usou a palavra epitimáu que encontramos em outros textos tais como Mt 8.26; 16.22; 17.18; Jd 1.9.
Esta palavra significa repreender, advertir, prevenir, e também admoestar, tanto quanto admoestar inclui também o significado de repreender.
A diferença básica entre estas duas ações consiste então no alvo de cada uma delas, porque a palavra grega elégko tem o alvo de reprimir, de corrigir, e epitimáu, o de prevenir.
Com a primeira ação nós combatemos e confrontamos diretamente o mal através da palavra de admoestação, e na segunda nós o prevenimos através da palavra de aconselhamento.
A palavra de repreensão preventiva, eptimáu, tem por alvo principalmente mostrar aos crentes o quanto Deus fica desgostoso com as faltas deles, de maneira que sejam levados ao arrependimento.

Finalmente, o quarto dever do pastor apontado por Paulo é o de exortar.
A exortação tem em vista incentivar à perseverança na busca de santidade.
Assim devem ser também exortados os que estão firmes na fé, de maneira que busquem fazer um progresso cada vez maior em santificação, e para que nunca venham a se desanimar em seus esforços em diligência rumo à maturidade cristã e preservação da fidelidade deles a Deus.
Desde o início desta epístola, Paulo lembrou a Timóteo o dever dos ministros do evangelho de serem pacientes no sofrimento no exercício do seu ministério.
Então, não podem esquecer que devem pregar, instar, admoestar, repreender, e exortar com toda a longanimidade, isto é, não perdendo a paciência em ira contra as ovelhas, mesmo contra as indisciplinadas.
O conteúdo destas ações pastorais deve ser segundo a sã doutrina, e não por qualquer outro meio.
Em suma, este trabalho deve ser feito muito pacientemente, para que seja efetivo.
O motivo alegado por Paulo para ter encarregado Timóteo destes deveres, e não somente ele, mas a todos que ele deveria ordenar e ensinar a fazer as mesmas coisas que Paulo lhe estava ordenando tinha em vista principalmente manter a pregação da verdade no mundo porque ele sabia que o erro se manifestaria de uma tal forma na Igreja a partir de uma determinada época que muitos se desviariam de ouvir a sã doutrina e se voltariam às fábulas, isto é, a mitos, contos, estórias espetaculares, por preferirem dar ouvidos a coisas agradáveis segundo os seus desejos carnais, e assim escolheriam mestres para si na Igreja que lhes ministrassem segundo estes desejos carnais deles, rejeitando toda forma de admoestação, repreensão e exortação a uma vida santificada.
Em face deste perigo que se aproximava e que assolaria a Igreja em todas as partes do mundo, nada seria mais necessário do que esta firme posição em defesa da verdade, que deveria ser achada nos ministros do evangelho, em face das pressões que eles sofreriam das pessoas para afrouxarem na doutrina.
Timóteo deveria lembrar que a carne não está sujeita à Lei de Deus e nem mesmo pode estar; que ela luta constantemente contra o Espírito.
Então, aqueles que quiserem agradar à carne, jamais poderão agradar a Deus.

Assim, independentemente das aflições que Timóteo viesse a sofrer por causa destas pressões e sentimentos de rejeição à sã doutrina, ele deveria suportar tudo com paciência e perseverança, cumprindo o seu ministério de evangelista, porque ainda viria um tempo em que a situação ficaria ainda mais grave; e nada seria mais necessário que a Igreja estivesse bem fundamentada na verdade para poder ficar firme nestes dias tempestuosos.



Provérbios 13

“1 O filho sábio ouve a instrução do pai; mas o escarnecedor não escuta a repreensão.
2 Do fruto da boca o homem come o bem; mas o apetite dos prevaricadores alimenta-se da violência.
3 O que guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os seus lábios traz sobre si a ruína.
4 O preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança; mas o desejo do diligente será satisfeito.
5 O justo odeia a palavra mentirosa, mas o ímpio se faz odioso e se cobre de vergonha.
6 A justiça guarda ao que é reto no seu caminho; mas a perversidade transtorna o pecador.
7 Há quem se faça rico, não tendo coisa alguma; e quem se faça pobre, tendo grande riqueza.
8 O resgate da vida do homem são as suas riquezas; mas o pobre não tem meio de se resgatar.
9 A luz dos justos alegra; porem a lâmpada dos ímpios se apagará.
10 Da soberba só provém a contenda; mas com os que se aconselham se acha a sabedoria.
11 A riqueza adquirida às pressas diminuirá; mas quem a ajunta pouco a pouco terá aumento.
12 A esperança adiada entristece o coração; mas o desejo cumprido é árvore de vida.
13 O que despreza a palavra traz sobre si a destruição; mas o que teme o mandamento será galardoado.
14 O ensino do sábio é uma fonte de vida para desviar dos laços da morte.
15 O bom senso alcança favor; mas o caminho dos prevaricadores é áspero:
16 Em tudo o homem prudente procede com conhecimento; mas o tolo espraia a sua insensatez.
17 O mensageiro perverso faz cair no mal; mas o embaixador fiel traz saúde.
18 Pobreza e afronta virão ao que rejeita a correção; mas o que guarda a repreensão será honrado.
19 O desejo que se cumpre deleita a alma; mas apartar-se do mal é abominação para os tolos.
20 Quem anda com os sábios será sábio; mas o companheiro dos tolos sofre aflição.
21 O mal persegue os pecadores; mas os justos são galardoados com o bem.
22 O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos; a riqueza do pecador, porém, é reservada para o justo.
23 Abundância de mantimento há, na lavoura do pobre; mas se perde por falta de juízo.
24 Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga.
25 O justo come e fica satisfeito; mas o apetite dos ímpios nunca se satisfaz.”

Aqui cabe um parêntesis para falarmos da disciplina de filhos pelos pais, como se afirma no verso 24.

O Padrão de Deus para os Filhos

Por John Macarthur (adaptado)

Continuando com o nosso estudo sobre o desígnio maravilhoso de Deus para a família, estaremos enfocando o padrão de Deus para os filhos.
Em Ef 6.1-3 lemos: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e à tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.”.
Este não é um mundo fácil para os filhos. A casa não é um lugar fácil. A sociedade não é um lugar fácil. Um adolescente escreveu isto numa carta:
"A economia está retraída. A unidade familiar está em dificuldade. O respeito à autoridade é uma piada. Pelo preço certo você pode comprar um senador ou um juiz. O dinheiro é inútil e você é inútil sem ele. Deixe de se preocupar por que seu filho precisa de uma bebida antes de ele poder enfrentar as sua aulas, ou por que sua filha saiu e se engravidou. Antes de nos classificar lembre-se que nós temos ainda que correr nesta vida por mais trinta anos enquanto você morre ou se aposenta e passa fome com sua Previdência Social.".
Quão triste que alguém que foi um dia um pequeno bebê tenha ido tão longe. Mas reflete algo do medo e algo da desconfiança e algo dos caos e confusão e desorientação e perdição de uma geração de filhos e de pessoas jovens.
Um antigo provérbio chinês diz: "Uma geração planta as árvores, e outra desfruta a sombra.". Nós, nesta geração, ainda estamos vivendo debaixo de um pouco de sombra. Nossos avós e talvez até mesmo nossos pais, se nós somos bastante idosos, plantaram algumas árvores no passado e nós ainda estamos desfrutando alguma sombra. Mas esta geração não está plantando nenhuma árvore para a próxima. E eles não vão ter como se esconder em qualquer parte em um mundo devastador. O jovem que escreveu aquela carta não sente qualquer sombra, nenhum lugar de conforto, nenhum lugar para se esconder, nenhum lugar de segurança, nenhum lugar de refrigério, somente uma realidade espantosa tanto no presente quanto para o futuro.
Nós temos que plantar algumas árvores para dar sombra para a geração futura. Nós temos que fazer algo ou a próxima geração estará mais amedrontada ainda do  que esta e a que vier depois mais ainda, e isso é uma coisa horrível para se pensar. E se nós pensamos neles por longo tempo,  nós teríamos que concluir que o mundo do Anticristo não pode estar muito longe por causa da direção em que nós estamos indo. Como nós podemos plantar essas árvores? Como nós podemos dar sombra para nossos filhos e para os filhos deles? A resposta é voltar para os padrões da Palavra de Deus. E isso é o que faz isto ser amedrontador assim. Nossa sociedade percebe para onde vai, até certo ponto, percebe os caos de suas crianças, certamente as crianças percebem isto. Mas ao mesmo tempo eles rejeitam furiosamente a Bíblia. Eles não querem, como nós temos notado, sua intrusão moral no estilo de vida deles. Eles não estão dispostos para se submeterem aos padrões que são estabelecidos para o próprio comportamento deles. E assim eles desperdiçam a única esperança para os filhos.
A propósito, a Bíblia é muito clara no que ela tem a dizer sobre a vontade de Deus com respeito à família. Como Dt 6.6,7 afirma: “Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te.”.
Nossa parte é muito simples... ensine a Palavra de Deus a seus filhos. Ensine a eles a  Bíblia. Essa é a nossa parte conforme vimos em Dt 6.6,7. A importância para a família de se obedecer os mandamentos de Deus está claramente citada em Dt 5.29: “Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre.”. Observe que não se trata de ir de vez em quando à igreja para receber a bênção de Deus para o seu lar. Mas em temer a Deus e guardar os seus mandamentos em todo o tempo. Não de vez em quando, mas em todo o tempo, isto é, todos os dias, todas as horas, todos os minutos de sua vida.
Eu não os posso criar este tipo de coração, que teme e obedece ao Senhor em todo o tempo. Você também não pode criá-lo, mas Deus pode e Ele deseja fazer isso. Deus tem que lhes dar um coração para cumprir as Suas ordens, um coração que ame e pratique a Sua Palavra. Deus tem que chamá-los a Ele e nós temos que lhes ensinar. Aquele ensino da Palavra de Deus faz parte do processo pelo qual eles são chamados a Deus. E uma vez chamado, aquele ensino se torna o padrão no qual eles devem viver. Deus está pedindo então às famílias para ensinarem  a Sua Palavra,  apresentar a Palavra aos seus filhos. Realmente os pais são forçados a fazer isso porque esta é a única alternativa se eles desejarem ensinar seus filhos a amarem a Deus e conhecerem a bênção que vem àqueles que obedecem.
Novamente no Velho Testamento, em Js 24:15, nós lemos isto: "Porém se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se aos deuses  a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.”. E é esta a decisão que vocês têm que tomar como pais. Você servirá os deuses que estão ao seu redor, ou os deuses de seus pais, os deuses da presente era? Ou você servirá o verdadeiro e vivo Deus? E servi-lo significa que Ele é prioridade em sua vida, em sua família e você ensina as verdades dele e preceitos a seus filhos.
A propósito, neste texto de Js 24:15 havia um pai que toma aquela decisão. E ele tomou uma decisão certa com respeito à família dele quando ele disse: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.”. E essa é a decisão que toda família tem que fazer. Esse é o ponto crucial do assunto que se refere à  família.
Realmente não há politicamente qualquer esperança para a família. Os políticos não podem trazer retidão aos lares. Isso é um assunto espiritual. Não pode ser feito por política. Não pode ser feito por educação. Pedagogos estão trabalhando mesmo, muito duro para tentar alcançar isso aparte do espiritual, aparte de uma revolução transformando o coração forjado pelo Espírito de Deus pela fé em Cristo. Eles estão tentando educar de alguma maneira as crianças a algum nível de moralidade, a um padrão com o qual eles não podem concordar.
Há somente um modo para trazer de volta a família ao lugar onde ela precisa estar e isso é conseguido tomando-se a decisão que Josué tomou, e isso significa que você vai escolher para sua casa que acima de todas as demais coisas vocês primeiramente servirão a Deus. E isso significa obedecer a Sua Palavra em todo o tempo e em todos os aspectos de suas vidas. É tão simples quanto dizer que nós escolhemos o padrão de Deus para nos conduzir, contra o padrão do mundo, no que tange a tudo que se refere à nossa família. E começa neste ponto. Você tem que fazer este compromisso, então começar a colocar isto em prática. O Senhor delineou na Bíblia o plano para a família. E quando você se compromete em seguir isto, não há nenhuma garantia de seu sucesso a menos que você siga isto permanente e completamente.
Agora o nosso texto em Ef 5 e 6 apresenta o que a  Bíblia diz sobre o plano de Deus para a família. Nós já estudamos o padrão de Deus para a esposa, e também estudamos o padrão de Deus para o marido.
E agora nós vamos estudar o padrão de Deus para os filhos, isto é, qual é a responsabilidade dos filhos, e o que deve ser inculcado neles. E Ef 6.1,2 diz que os filhos devem obedecer e honrar os seus pais. Obediência e honra, obediência e respeito é a responsabilidade deles.
Os filhos são uma adição bem-vinda à família. Eu preciso dizer que eles são uma adição bem-vinda à família porque nestes dias algumas pessoas estão dizendo que eles preferem não ter  filhos, como se de alguma maneira isso fosse algo negativo nas suas vidas. Os Salmos 127 e 128 dizem que os filhos são uma bênção de Deus. O Espírito Santo diz em I Tim 5:14:  "Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não deem ao adversário ocasião favorável de maledicência.”. Novamente, os filhos são uma bênção, uma herança de Deus.
Jó 42.12, 13, diz: “Assim abençoou o Senhor o último estado de Jó mais do que o primeiro; porque veio a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Também teve outros sete filhos e três filhas.”.  Você se lembra disso? Jó teve tudo e ele perdeu tudo e então  Deus o abençoou ainda mais grandemente. Como? Ele teve sete filhos e três filhas. Deus o abençoou com aquela grande bênção de ter os filhos. Os filhos são uma bênção dada por Deus. Eles são uma evidência do Seu amor. Elas são uma evidência da Sua bondade. Embora eles pertençam a Ele, Ele no-los envia para que nos enriqueçam. Envia-lhes para encher nossa vida e para conduzi-los à piedade, para que eles possam também ser uma testemunha do verdadeiro Deus e do evangelho do Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.
Agora trazendo estes presentes especiais de Deus à maturidade e à piedade e à virtude e utilidade e efetividade no reino de Cristo, há duas coisas que nós temos que lhes ensinar. Nós temos que lhes ensinar a obedecerem os seus pais e nós temos que lhes ensinar a honrarem os seus pais. Isso é simples mas muito importante. E em grande parte, eu penso, que para que eles o façam efetivamente, isto depende de nós e do nosso compromisso com a Palavra de Deus.
Provérbios 22:6 diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, ainda quando for velho não se desviará dele.”. Isso é uma declaração geral simples que o modo que você treina  uma criança aparecerá na maioridade dela. Isso é tudo o que está dizendo. Não é uma promessa, não é uma garantia, um penhor, é simplesmente axiomático, quanto ao modo que você educa uma criança que vai determinar o que eles se tornarão. E isso é a verdade geral dessa Escritura. E quando você os educa nas coisas de Deus isso terá um impacto naquilo que eles se tornam. Se nós seguirmos o plano de Deus, nós veremos aquele plano dando frutos.
Certamente, isto é algo difícil para ser conseguido na plenitude do que se gostaria de ter. Não somente em relação ao comportamento dos filhos, como também ao dos próprios pais. Em família, há um aspecto que urge e que é prioritário sobre tudo o mais, a salvação, pela justificação e novo nascimento do Espírito pela fé em Cristo. O grande trabalho é o de livrar a alma do inferno, de todos os integrantes da família. Agora, a plenitude da bênção de Deus no lar é uma outra estória, e dependerá da obediência de cada um dos membros à Palavra de Deus. E isto não é algo que se tem visto tanto quanto deveria ser, ao longo de toda a história da igreja. Apesar de convertidos, a rebelião da natureza terrena é sempre um grande entrave à nova natureza obtida na conversão. Esta que deveria sempre vencer segundo o desígnio de Deus, mas para tanto, depende da obediência do crente à Palavra, e isto não é algo que a carne está predisposta naturalmente a fazer. Ela deve ser subjugada, mortificada pelo Espírito, e mediante o empenho e diligência do crente em praticar a Palavra. Quanto temos disto em nossos lares? A harmonia e a felicidade que desfrutarmos, como fruto da bênção de Deus sobre as nossas vidas responderá por nós.  
Assim não é fácil e simples para os filhos obedecerem e honrarem os seus pais.  Pelo menos não provou ser assim com meus filhos. E não está provando ser assim com meus netos. Deixe-me lhe falar por que é difícil, pelas mesmas razões que é difícil para uma esposa se submeter ao marido e é difícil ao marido expressar liderança amorosa, as mesmas razões se aplicam à dificuldade dos filhos obedecerem e honrarem os seus pais.
Número um: a maldição sobre eles, quando eles chegam ao mundo, estão chegando a um mundo que foi amaldiçoado por Deus. Eles estão debaixo do pecado que tem sujeitado todas as pessoas desde que Adão pecou. Eles são pequenos, egoístas, egocêntricos, rebeldes. Atraentes, lindos, mas já corrompidos pelo pecado. Isso é visível quando eles chegam. Eles gritam e eles não compartilham a dor de ninguém mais. Eles somente gritam para si próprios. Eles não têm nenhuma condolência. Eles não compartilham nenhum interesse em qualquer coisa na família. Eles não estão atentos à conversação. Eles não fazem qualquer esforço para ajudar em qualquer coisa. Eles somente estão preocupados consigo próprios. Eles pensam que ninguém existe a não ser eles, são grandes em desobediência. Você não gasta a primeira infância dizendo a eles: "Sim, porque sim, bem sim, sim, sim.". Você diz continuamente a eles: "Não, porque  não, bem não, não, não.". Porque todos são inclinados a serem contradizentes e desobedientes.
Eles são bons em desobedecer, você não precisa lhes ensinar a desobedecer. Eles têm que ser ensinados a obedecer, porque estão debaixo da desobediência. Eles são totalmente egoístas, e querem fazer somente a sua própria vontade. Eles não querem esperar por qualquer coisa. Eles são totalmente impacientes. Eles não têm nenhuma consideração por qualquer coisa com que você está preocupado. O mundo inteiro gira em torno deles. E isso é uma expressão inicial da sua depravação em decorrência do pecado original, que pode ser simplesmente definida como egoísmo.
Assim eles têm que ser ensinados a obedecer por lições muito dolorosas. E eles se rebelam contra isso. Algumas crianças têm que ter um miríade de surras e disciplina enquanto outros parecem ter uma exigência menor. Eles vêm com um pacote de personalidade diferente, mas o treinamento é no entanto o mesmo. E eu suponho que Davi resumiu isto da forma adequada quando  disse no Salmo 51:5: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”.  Ele não quer dizer que ele era uma criança ilegítima, ele quer dizer que simplesmente era pecador ao tempo mesmo da sua concepção. E não há qualquer treinamento que acontece no útero. Assim quando a  vida vem à luz,  está pronta para expressar seu pecado.
Então já que o pecador caído está exposto a um mundo mau, e a outras crianças más cuja fala e comportamento se torna um exemplo terrível, terrível para seu pequeno ver, e então você se torna protetor disso. Seus filhos são empurrados então muito rapidamente na  sua própria depravação até a maioridade, e também expostos ao seu ambiente, lidando com as suas pressões e  paixões. E se não houver um controle forte, um ensino forte voltado para a obediência ao longo daquele caminho, você terá um rebelde terrível. Exposto ao pecado sexual, em música, em literatura, em filmes, em televisão, em todos os seus entretenimentos, tendo que lidar com padrões antes de que tenham aprendido a controlá-los e a evitá-los onde deveria ser evitado.
Um adolescente de doze anos falou ao seu pai através de uma carta: "Olha, pai, eu fiz tudo, drogas, bebida, sexo, não há nada errado que não tenha feito, e não sei como sair disto.”. Alguns classificam os tais de crianças adiantadas.
Um dos resultados é que a idade da puberdade está sendo abaixada, isso é um resultado fisiológico bastante interessante. Está agora dois a cinco anos mais adiantado do que no passado, de acordo com psicologia. Por exemplo, no décimo oitavo século uma das coisas populares na Europa eram os coros de meninos, pequenos meninos eram soprano. Eles deixavam de ser soprano, de acordo com história do décimo oitavo século, com a idade de dezoito anos porque as vozes deles mudavam. Agora as vozes deles mudam em sua maior parte entre as idades de treze e quatorze anos. O crescimento físico, que até o ano 1900 continuava até os vinte e seis anos, agora pára aproximadamente aos dezoito anos. A idade comum da puberdade em 1900 era de quatorze anos, e agora está em doze anos. E em 1600 a puberdade tinha lugar aos dezessete anos.
As pressões de sobreexposição, as pressões causadas pelo pecado numa criança está acelerada em todos os tipos de áreas, como a sua alma já curvada pelo mal está sobreexposta. Assim você tem esta depravação neles reagindo a este tipo de ambiente que torna mais difícil ainda  trazer uma criança sob controle e em harmonia com os padrões da Palavra de Deus.
Em segundo lugar, você não só tem a maldição sobre eles, você tem o sistema do mundo exterior e como efetua a maldição sobre eles. E sobre o sistema que os rodeia, que chamamos de mundo, mantém a pressão continuamente sobre eles. É por isso que Rom 12.2 diz: “Não vos conformeis a este mundo”. Não deixe seus filhos ficarem conformados ao mundo. O materialismo consumista lhes ensina a ego-indulgência. Isso é uma coisa terrível para aprender. Na América nós gastamos mais dinheiro em brinquedos do que o produto nacional bruto total de mais de sessenta  nações. Favorecendo nossas crianças, elas se tornam acostumadas a uma dieta fixa de egocentrismo. Eles veem duzentas horas de anúncios por ano na televisão. Vinte e dois mil comerciais que visam torná-los descontentes ou aprender o descontentamento geral de não gostar do que você tem e direcionar o desejo deles para comprar algo que você vê na televisão.
A sociedade lhes ensina a rebelião contra a autoridade. Ensina-lhes direta e indiretamente  que a coisa mais importante na vida deles é o ego – a auto estima e a auto-realização fazendo a sua própria vontade e do seu próprio modo quando eles querem alguma coisa. Eles assistem uma média de 30 horas de televisão por semana enquanto eles estiverem crescendo até a graduação da escola secundária. Eles viram 20.000 horas de TV, mais que qualquer outra atividade, excluindo o ato de dormir. Eles são sobreexpostos a tudo na televisão. As crianças veem então provavelmente mais pecado em um mês do que os avós deles ou os seus bisavós viram durante toda a vida deles.
E toda aquela mídia está bombeando neles um estilo de vida que é contrário a Deus. É qualquer maravilha que dez milhões de crianças têm DVD, e que cinco mil são comprados diariamente? É também qualquer surpresa que algumas usem drogas cinco vezes por semana? Que mais de um milhão se ocupam com prostituição antes deles alcançarem a idade de dezesseis anos? Entre sete e quatorze milhões de crianças são alcoólatras. Milhões precisam de ajuda em clínicas psiquiátricas, algo em torno de dois milhões de acordo com a Agência de Saúde Infantil. Quase dois milhões deles recebem ajuda anualmente de agências públicas por causa do que é classificado como problemas psicológicos ou psiquiátricos. E assim vai.
Em II Tim 3.1 lemos: “Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis;”.  Aqui é citada a dificuldade dos últimos dias. E isto atinge as crianças da nossa geração, que em todos os aspectos apresentam uma singularidade em termos de corrupção, quando os homens são os amantes de si mesmos, amantes do dinheiro, orgulhosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe entretanto o poder. (II Tim 3.2-5). Você nota que na lista das características apresentadas por Paulo das pessoas que viveriam nos últimos dias, que há uma referência à desobediência aos pais. Há então um desafio da autoridade dos pais. E a sociedade tolera isto, a sociedade lhes ensina a se rebelarem contra a autoridade. Ela lhes ensina isso. Quer distribuir preservativos e requerer que nenhum pai tenha o direito de moldar suas próprias convicções religiosas em seus filhos. Rebeldes, indisciplinados, egoístas, sexualmente estimulados, as crianças bravas, amargas, frustradas, destrutivas são os produtos de uma sociedade que é desobediente a seus pais e isso está sem afeto natural. Eles não têm o amor normal de família.
A primeira palavra do verso 3:"desafeiçoados", astorgoi, significa sem amor familiar natural. Nós temos obviamente uma geração de crianças abusadas e não amadas. As crianças são vistas por muitos como um fardo. Os pais abandonaram o seu amor devotado aos seus filhos. Seis milhões de crianças em nosso país, e agora há mais ainda, eu penso, não tinham a figura paterna em casa.
As mães também se entregaram à auto-indulgência e à  perseguição de uma carreira fora do lar, e há milhões de crianças trancadas em casa e solitárias que se sentam atrás das portas fechadas das suas casas e ficam expostas permanentemente à televisão. Três a quatro milhões moram em orfanatos, instituições, sanatórios, encarcerados em instalações juvenis por comportamento criminoso, ou até mesmo em prisões. A filosofia dos últimos dias é anti família, e todos nós sabemos isso. A ordem do dia feminista é anti família. A porta de entrada para o  homossexualismo é anti família. O aborto é anti família.
Deixe-me lhe falar quão distante isto foi. Em 1960, um por cento de crianças abaixo de  dezoito anos experimentou o divórcio dos seus pais. Em 1990, cinquenta por cento, a metade deles. Nós estamos falando sobre liberar a criança. O que nós estamos fazendo com a criança está  liberando conforme a propaganda socialista humanística de nosso tempo. Que liberdade é esta ?
O humanista psicólogo Richard Farson, um dos defensores dos direitos infantis afirma que as crianças deveriam ser livres de castigo físico, livres para votar, que tenham total liberdade sexual e liberdade econômica. Que tipo de idiotice é esta?
Os engenheiros sociais desde 1979 começaram a celebrar o ano internacional da criança. E eles pediram às crianças para se livrarem de quatro coisas: das moralidades tradicionais ou valores; da autoridade paternal, incluindo qualquer castigo; da discriminação religiosa; e do nacionalismo, ou patriotismo.
E sempre me interessa que 80 por cento da mídia na América não têm nenhuma afiliação religiosa. Assim eles levam muito bem a ordem do dia e muito agressivamente.
Um de nossos senadores norte-americanos me escreveu uma carta dizendo que as forças de anti família estão empenhadas em cumprir as seguintes metas: aborto para a felicidade da mãe e do pai, se há um, na casa. Eles querem cumprir estas metas... aborto, o governo quer controlar a natalidade, a legalização de matrimônio entre homossexuais, e isso estará muito rapidamente aqui, direitos iguais para as crianças, e o governo quer que as crianças recebam salário mínimo pelos serviços domésticos que fizerem em suas próprias casas.
Observe a família somente do ponto de vista da sabedoria humana, é óbvio que tudo está bem quando a família é saudável, e quando não for, não há nenhuma esperança para uma sociedade. A única esperança então para a geração por vir é se submeter ao que a Palavra de Deus ensina sobre a família e sobre criar os filhos. E francamente, não é tão difícil entender isto. Não leva anos e anos,  não exige um lote completo de técnicas para entender isto. Sempre me pasma, a economia surpreendente de palavras com que Deus diz tudo. E o que Ele diz é isto: “Ensina a criança no caminho em que deve andar”. Em outras palavras, ensine suas crianças a obedecer e a respeitar. Isso é a súmula de tudo.
“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e à tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.”. A propósito, estes são os únicos versículos na Bíblia que são mandamentos para as crianças. Eles deveriam ser ensinados às crianças. Deveriam ser ensinados a eles, especificamente, estas coisas. Eles deveriam ser ensinados a obedecer.
A propósito, a palavra criança é tradução do grego tekna, que é uma palavra genérica para descendência, necessariamente não identifica uma criança, há outra palavra para uma criança. Está falando em geral sobre crianças, nenhuma idade está em foco, engloba desde o nascimento até a juventude, contanto que eles estejam debaixo de controle e cuidado paternal, assim que eles estiverem maduros o bastante para saber o que é certo eles serão ensinados a obedecer os seus pais. Aquela depravação egocêntrica forte tem que ser derrubada, e a obediência é a chave para isso. Eles devem ser ensinados a obedecer. A palavra "obedece" é hupakouo, que tem a ver com ouvir debaixo, isto é, abaixar-se e escutar. Isto mostra  como a obediência ocorre: com espírito submisso, e ouvido, especialmente do coração, atento e disposto. Obediência é o assunto, ensine  suas crianças a obedecer.
E realmente esse é o assunto. E eu lhe contarei algo. Como você conduz seus filhos, e  haverá ocasiões e períodos quando eles lutarão mais agressivamente do que em outros tempos contra isto. E é nestas ocasiões que você tem que forçar o assunto da obediência deles constantemente e fazer a consequência severa o bastante de forma que eles recebam e retenham a mensagem. Não serão dez anos de batalha, não serão dez anos de ensino aqui e acolá, algumas semanas de guerra real será geralmente o tempo que eles lutarão para manter as liberdades da própria natureza má deles.
Isto é muito sério para Deus, escute o que diz em Êxodo 21.15 e17: “Quem ferir a seu pai ou a sua mãe, será morto.”. E no 17: “Quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, será morto.”. Essa questão de obedecer os pais é muito séria aos olhos de Deus. Na Antiga Aliança, Ele revelou isto de forma prática. No Antigo Testamento você bateu na sua mãe, você bateu no seu pai, você os amaldiçoou, você está morto. Os juízes de Israel deveriam condená-lo à sentença de morte, conforme a vontade revelada de Deus.
Deus chamou Israel para ser seu povo sobre a terra revelando o Seu caráter e retidão, e não há nenhum  outro modo para perpetuar a retidão em uma família a menos que haja obediência. E isto é tão sério que a lei que regia a nação de Israel na Antiga Aliança diz que se você tiver qualquer criança que não obedecerá, que ela deveria ser morta para que o mal não se espalhasse em Israel. A desobediência e o desrespeito, era castigado através da morte. Isso revela quão sério é este assunto. Você não pode passar retidão a uma geração. Nem mesmo uma sociedade pode controlá-la. Você não pode ter nada do que é ordenado a menos que você tenha as pessoas que aprenderam submissão, obediência, e a grande palavra auto-domínio. Quando você ensinar seus filhos a obedecerem, você lhes ensina auto-domínio. Você lhes ensina como reprimir a depravação da natureza terrena deles, como ganhar a vitória sobre os seus impulsos pecaminosos. Você faz isto fazendo com que as consequências sejam severas o bastante, e eles não farão isto.
É a única esperança para a sociedade. É a única esperança para a preservação da retidão. É a única esperança para a verdade de Deus ser honrado por uma geração obediente de crianças.
Imagine se houvesse ainda hoje pena de morte para todas as crianças rebeldes em todas as partes do mundo. Que tipo de impacto não causaria ? Nós temos todas estas pessoas que correm ao redor tentando eliminar a correção física nos lares. Se eles lessem este versículo de Êx, eles ficariam  realmente enfurecidos. Obviamente Deus na Sua misericórdia e graça, neste tempo da história remissória não repete este mandamento no Novo Testamento. Mas ainda hoje, vê a desobediência como algo terrível e passível de morte. Ele eliminou temporariamente a pena na dispensação da graça dando a oportunidade para que todos se arrependam e vivam. Mas chegará o dia em que todos aqueles que não se arrependeram e não receberam a graça que está em Cristo, serão punidos eternamente no inferno. A desobediência aos pais, especialmente naquelas coisas que se referem a honrar a Deus e guardar a Sua Palavra, é em última instância desobediência ao próprio Deus. O que Ele quer ensinar é que a desobediência conduz  à morte eterna. E a obediência à Palavra, mediante a fé, é o que conduz à vida. Por isso lemos em Rom 6.16: “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?”.
Pv 1.8,9 diz: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe. Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares para o teu pescoço.”. Realmente eles são uma grinalda graciosa sobre a sua cabeça e ornamentos sobre o seu pescoço. Você sabe o que isso significa? Eles lhe fazem uma pessoa bonita, eles lhe fazem uma pessoa gentil. Eles o abençoarão. Escute o que seu pai e a sua  mãe lhe ensina.
Pv 2.1,2: “Filho meu, se aceitares as minhas palavras, esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao entendimento,”. Um pai está dizendo: “Escute o que eu estou lhe contando porque é a verdade divina.”.
Pv 3.1,2: “Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu coração guarde os meus mandamentos; porque eles aumentarão os teus dias, e te acrescentarão anos de vida e paz.”.
Pv 4.1-6: “Ouvi, filhos, a instrução do pai, e estai atentos para conhecerdes o entendimento; porque vos dou boa doutrina; não deixeis o meu ensino. Quando eu era filho em companhia de meu pai, tenro, e único diante de minha mãe, então ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos, e vive; adquire a sabedoria, adquire o entendimento, e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes. Não a desampares, e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá.”. Agora isto é ser um pai fiel.
Pv 4.10: “Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras, e se te multiplicarão os anos de vida.”.
Pv 5.1: “Filho meu, atende à minha sabedoria; à minha inteligência inclina o teu ouvido; para que conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento;”.
Pv 7.1,2: “Filho meu, guarda as minhas palavras, e conserva dentro de ti os meus mandamentos, e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos.”.
Pv 8.32: Agora, pois, filhos, ouvi-me, porque felizes serão os que guardarem os meus caminhos. Ouvi o ensino, sede sábios, e não o rejeiteis.”.
Pv 13.1: “O filho sábio ouve a instrução do pai, mas o escarnecedor não atende à repreensão.”.
Agora vejamos alguns exemplos de como nós devemos instruir nossos filhos, e como nossos filhos devem responder.
Em Pv 30.11-17 nós vemos o oposto disso, isto é, quando uma criança  não quer responder à instrução que lhe é dada. “Há daqueles que amaldiçoam a seu pai, e que não bendizem a sua mãe. Há daqueles que são puros aos seus próprios olhos, e que jamais foram lavados da sua imundícia. Há daqueles – quão altivos são os seus olhos e levantadas as suas pálpebras! Há daqueles cujos dentes são espadas, e cujos queixais são facas, para consumirem na terra os aflitos, e os necessitados entre os homens. A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três cousas que nunca se fartam, sim, quatro que não dizem: Basta: A sepultura, a madre estéril, a terra que se não farta de água, e o fogo, que nunca diz: Basta. Os olhos de quem zomba do pai, ou de quem despreza a obediência à sua mãe, corvos no ribeiro os arrancarão e pelos pintãos da águia serão comidos.”.   Aqui está o oposto. Quando uma criança não responde, não obedece, não é disciplinada corretamente, verso 11, há um tipo de pessoa, um homem ou uma mulher, um tipo de pessoa que amaldiçoa o seu pai e não abençoa a sua mãe, há um tipo que é puro aos seus próprios olhos, isto é, que não considera que é pecador e não leva a sério os seus pecados para lamentá-los e se arrepender deles, e com isso não é lavado da sua imundícia. Isso é muito típico de crianças que são rebeldes e contrárias aos seus pais, eles têm o seu próprio modo, a sua própria sabedoria, a sua própria avaliação para tudo, que você nunca vai poder lhes dizer o que devem fazer. Eles pensam que eles têm todas as respostas e o fato é que eles nunca foram lavados da sua imundícia. E assim são dirigidos pelo pecado, pela sua vontade egoísta dominada pelo pecado, e não pela graça e pelo amor do Senhor. Há um tipo de olhos altivos, e as suas pálpebras são elevadas em arrogância. Esta é a criança orgulhosa, egoísta, egocêntrica, rebelde que não escuta nada que os seus pais lhe dizem. Há um tipo de pessoa cujos dentes estão como espadas e os dentes de sua mandíbula como facas, para devorar o aflito da terra e o necessitado entre os homens. Eles são indelicados, eles são impiedosos, eles são filhos brutais, eles nunca aprenderam a bondade, ou esta nunca lhes foi ensinada. Não aprenderam nada da graça que torna as pessoas amorosas. No verso 15 se diz que a sanguessuga tem duas filhas: Dê, Dê. Isso é uma referência a um tipo de sanguessuga que ataca os cavalos e  que tem dois apêndices com os quais suga-lhes o sangue. Isto é uma referência a um tipo de criança rebelde que sempre quer mais e suga todos os recursos de seus pais. E há ainda no verso 15, uma referência a três coisas que nunca serão satisfeitas, e quatro que nunca dirão que é o bastante. O inferno e o útero estéril. O inferno nunca tem o bastante, e está sempre arrastando pessoas para lá,  o útero estéril nunca está satisfeito, porque a vocação seria a concepção, e este desejo instintivo só pode ser apagado pelo poder sobrenatural de Deus, assim como o desejo sexual nos que Ele tem chamado para serem eunucos. A terra que sempre absorve a água que é derramada sobre ela, e o fogo que continua se alastrando se não for apagado. E você pode somar a isso as sanguessugas que representam em figura as crianças que não importa o que você lhes dê, não importa o que você lhes faça, elas nunca acharão que é o bastante. E essa palavra é boa, porque os pais que têm tais crianças rebeldes e pensam que eles podem comprar a lealdade delas, ou comprar a obediência delas ou comprar o respeito delas, deveriam saber que não poderão nunca fazê-lo porque elas nunca estão satisfeitas. Elas estão como a sepultura, eles estão como o útero estéril, elas estão como a terra que nunca tem bastante água para absorver, eles estão como o fogo que nunca diz: vou parar porque já tenho bastante, estou satisfeito. E no verso 17 se diz que os olhos de quem zomba do pai ou de quem despreza a obediência à sua mãe, os corvos no ribeiro os arrancarão e pelos pintãos da águia serão comidos. Este provérbio é perfeito porque o filho rebelde é cegado pelos corvos e pelos filhotes da águia que são aves de rapina e comem principalmente os olhos dos cadáveres. Um filho rebelde está retratado dessa forma horrível por Deus, porque espiritualmente será cegado pela sua desobediência e desrespeito aos seus pais. Ele não conhecerá a graça e o temor do Senhor. Ele não verá o Reino de Deus, ele não verá a bênção do Senhor sobre a sua vida, por causa da sua rebeldia que o cega e o impede de ver e viver o amor do Senhor.
E é triste para os pais que têm filhos que são assim rebeldes, e que não aceitam a instrução e a disciplina, serem finalmente sendo submetidos ao julgamento de Deus. E como isto é triste. Muito triste. Quantos pais? Quantos de vocês têm um filho que caiu debaixo do julgamento divino? Alguns até mesmo pereceram. Isto é realmente de quebrar o coração. Que coisa séria e urgente é então ensinar os filhos a cumprirem o mandamento de Deus, ensinando-lhes a obedecerem a seus pais. Isto é um bem que está sendo feito a eles, e não a imposição de um tipo de fardo.
Agora como você faz este processo? Como você traz uma criança à obediência e ao respeito? Voltemos para Provérbios 3.11,12: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.”. E a propósito, isso é citado em Hb 12.5-11 onde fala sobre disciplina. A categoria aqui é um ato de disciplina. De um pai que realmente ama o seu filho, você diz que você ama seu filho, então você disciplinará seu filho. Todo filho que você amar será açoitado por você. Isso é o que a carta aos Hebreus diz. Se Deus amar alguém, Ele o açoita, Ele o castiga. E é doloroso no momento, mas tem o efeito do fruto pacífico de justiça.
Assim, em primeiro lugar, nós aprendemos aqui que o processo de ensinar obediência e respeito é um processo de disciplina. A disciplina pode ser definida simplesmente desta forma, a disciplina é aquela função pela qual os pais recompensam a obediência e castigam a desobediência.... isso é disciplina. A não conformidade com os padrões divinos traz consequências negativas. A conformidade com aqueles padrões traz  consequências positivas. É exatamente assim como Deus nos disciplina.
Você diz: “você acredita em recompensa positiva?”. Absolutamente, absolutamente. Eu também acredito em recompensa negativa. Você diz: “você deveria tentar motivar seus filhos com uma recompensa positiva?”. Absolutamente, Deus não nos motiva com isso, Ele não promete o que é bom a nós, Ele não promete bênção? Ele não disse que o filho que obedece se manterá na terra por muito tempo? Na realidade, a motivação inteira, a única motivação encontrada em Ef 6 é uma motivação positiva. Não há uma ameaça lá. É bom dizer ao seu filho: "Se você fizer isto, eu o recompensarei deste modo", enquanto sabe que a criança deseja aquela recompensa. A disciplina envolve ambos. A disciplina é muito simples. É dar a recompensa apropriada para a conduta aprovada. E quando eu digo conduta  eu não quero dizer o que eles fazem simplesmente, eu também quero dizer o que eles dizem e eu também quero me referir à atitude deles.
Eu posso lhe falar, que eu eduquei os meus filhos disciplinando-os muito mais quanto às atitudes deles do que pelo que eles fizeram. Nós tentamos pegar a disciplina a partir do seu ponto inicial que é a atitude.
Em Pv 6.20-23 lemos: “Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao teu pescoço. Quando caminhares, isso te guiará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é lâmpada e a instrução luz, e as repreensões da disciplina são o caminho da vida.”.
O que você faz é inundá-los com a Palavra de Deus de forma que isto informa a consciência deles e fala com eles. Agora você se lembra que a consciência não tem nenhuma moralidade ? A consciência é somente um sistema de advertência, é uma cigarra, é uma luz vermelha, é um sino, é um apito. Isso é tudo. A consciência reage ao sistema moral na mente. Reage a seu padrão moral mais alto. Agora uma criança nascida no mundo a lei de Deus está escrita onde? No coração, Romanos 2, a lei de Deus é escrita no coração, está lá. Eles entendem o que é injustiça, eles porém amam a injustiça. E eles devem ser disciplinados para corrigirem isto.
Agora aquela lei de Deus escrita no coração deles pode ser afetada negativamente pelas mensagens que vêm da cultura. A cultura quer reconstruir aquele código de moral. Quer entrar com mentiras. Quer reformar o sistema moral inteiro deles, o sistema ético moral inteiro deles. E se tem sucesso fazendo isso, então a consciência que é o dispositivo de advertência fica mal informada e não lhe adverte quando você viola os mandamentos de Deus, porque você alimentou a sua mente com coisas que são contrárias à verdade revelada na Palavra. Se você tiver uma teologia distorcida, ou  um sistema ético moral distorcido, então sua consciência reagirá de acordo com esse sistema deformado. Assim quando você entra no mundo, o que acontece? Aquela pequena criança é exposta a televisão, rádio, filmes, música, educação, o processo inteiro da cultura e reforma a grande verdade que foi colocada de nascença naquele pequeno coração por Deus e sobre o que é certo e o que é errado. Romanos 2.14,15 fala da norma da lei gravada por Deus nos corações de todas as pessoas, e Rm 1.19-21 diz que todos têm conhecimento da existência de Deus e de seus atributos invisíveis, e do seu eterno poder através da criação. E então as explosões da sociedade que, dinamitam isso com a teoria da evolução de forma que eles criem convicções de forma que cheguem a uma posição em que eles já não acreditam que Deus criou tudo, e onde também são dinamitados com a imoralidade do sistema, até o ponto em que eles já não sabem o que é certo e o que é errado, e o relativismo assume o comando, não havendo mais para eles qualquer absoluto, e com isso a consciência é desamparada. Toda a consciência reagirá aos sistema ético de Deus, e estando sendo formada por um sistema ético distorcido ela ficará mal informada e já não mais incomodará a pessoa quando estiver trilhando pelos caminhos da rebeldia, porque a sua mente não está alimentada com os padrões de conduta da Palavra de Deus.
Assim o que está sendo usado em nossa cultura hoje em dia? Um esforço muito grande  para vender às crianças e aos jovens um sistema ético não cristão. Liberte-se de Deus, não há nenhum criador, não há nenhum Deus, não há nenhuma lei moral. Tudo o que você deseja é para você, tudo é puramente uma escolha de estilo de vida. Os ídolos e cantores da MTV quando são entrevistados e perguntados sobre o seu pensamento acerca do pecado, eles simplesmente negam que exista algo chamado pecado. A luxúria não é um pecado, é apenas a satisfação de desejos com pessoas do sexo oposto, sem cobranças de ambas as partes, sem compromissos, e para eles aí está a grande vantagem porque seguem livres para novas aventuras. Para eles a ganância é o que os torna ricos, portanto não é um pecado. A falta de orgulho é para eles exatamente a causa dos problemas com a sociedade por que lhes falta bastante orgulho para se imporem.
Assim o que a sociedade quer fazer é criar um sistema de incredulidade, de valores satânicos, de forma que o que está sendo dito no coração está errado. A segunda coisa que quer fazer é cauterizar a consciência. Como faz isso? Falando-lhe que você não deveria escutar a consciência. Com efeito diz que você não deveria se sentir culpado por nada que faça e que os outros considerem errado, você não deveria sentir vergonha, você não praticou  nenhuma injustiça, o que realmente aconteceu é que você foi abusado, sua mãe fez algo a você, seu pai fez algo a você, você é uma vítima, não é sua falta, você não deveria se sentir culpado, você não deveria se sentir responsável... e assim a sociedade desobriga a pessoa de qualquer necessidade para escutar a voz da consciência. Assim você mata a função da consciência, você reescreve o manuscrito para valores morais e você tem um desastre potencial. E é esse o tipo de jovens que nós temos em nossa geração.
Agora você tem a ordenança de Pv 6.20-23: “Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao teu pescoço. Quando caminhares, isso te guiará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é lâmpada e a instrução luz, e as repreensões da disciplina são o caminho da vida.”. Você tem que lhes ensinar os mandamentos da Palavra de Deus, você tem que atá-los continuamente aos seus pequenos corações, e amarrá-los ao redor dos seus pescoços... de modo que nunca venham a ficar longe de tais mandamentos... e de forma que quando eles estiverem caminhando eles estarão operando em suas pequenas mentes, quando eles estiverem dormindo, essas verdades penetrarão os sonhos deles, porque estarão tão profundamente inundados dos mandamentos de Deus que quando ao acordarem eles serão o seu primeiro pensamento em suas consciências. Aquela pequena criança deveria entrar na cozinha e o primeiro pensamento consciente da manhã é que aquilo que a mãe pedir eles imediatamente responderão. Qualquer pai diz, imediatamente eles respondem porque está no tecido da  vida deles.
Em Pv 10.13 lemos: “Nos lábios do entendido se acha a sabedoria, mas a vara é para as costas do falto de senso.”. A vara da correção é para as costas daquele que não tem compreensão. Agora, como você consegue que este menino ou menina lhe obedeçam? Você lhes bateu com algo, que é chamado aqui de vara. Você diz "Olhe, aqui está a vara, você quer fazer o favor de obedecer ?”. Se a vara nunca foi aplicada, eu não penso que eles entendam o quadro. Você é chamado para usar o castigo corpóreo basicamente. Isso é o que diz. Uma vara é para a parte de trás dele e não na frente ou no topo. Devem receber o castigo na parte de trás onde eles foram projetados para apanhar, sem sofrer danos físicos. O traseiro age como um acolchoando para o processo de disciplina.
Pv 13:24 diz: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina.”.  Se você ama seu filho você deve dar no seu traseiro com uma vara. E se você não o fizer, quando ele o fizer por merecer, você odeia seu filho. Por que? Porque você está contente em deixar aquela criança crescer em padrões de vida pecaminosos. É que o que você quer para sua criança?
Dois policiais atendendo ao pedido de vizinhos abordaram uma mãe que estava disciplinando o seu filho batendo no seu traseiro, a queixa era que ela o estava espancando. Ela disse aos policiais: eu o estou corrigindo agora para que amanhã ele não venha a apanhar de vocês. E com isso os policiais foram embora sem dar palavra. Mas a sociedade está reagindo realmente a isto. Eles querem mudar os padrões de Deus. Por inspiração do Inimigo eles pretendem deixar as crianças sem disciplina para que sejam destruídas pelo seu pecado.
Certamente deve haver um equilíbrio nesta correção. O pai e a mãe que estiverem em comunhão com Deus, andando na Sua presença, cheios da Sua graça e amor, certamente não se excederão na correção de seus filhos. Não farão isto para magoá-lo, machucá-lo, mas para que sinta e saiba que o pecado não traz boas consequências. Por isso se lê em Pv 19.18: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo.”. A correção não é um ato de violência que poderia deixar sequelas ou mesmo conduzir à morte. Literalmente, não deseje a morte para ele. Se você não disciplinar seu filho, você realmente está soletrando potencialmente a autorização da sua morte porque o comportamento anti-social, indisciplinado pode conduzir rapidamente à morte. Nós vemos isso em nossa sociedade, não é verdade? Morte por embriaguez, morte por drogas, morte por comportamento criminoso, morte por doença venérea, por todo lado. Crianças morrendo agonizantes, juvenis, adolescentes morrendo. Alguém não soube a verdade de Deus, alguém não os disciplinou bastante enquanto havia ainda esperança e eles desejaram com isso ainda que indiretamente e por ignorância, a morte de seus filhos, porque isso é o que ocorre com pessoas irresponsáveis, que vivem pecando, dominadas pelo mal e que nunca aprendem o autocontrole.
Pv 22.15 diz: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela.”. A tolice está ligada ao coração da criança. O que diz aqui é bem direto. Você tem uma criança depravada e tola, se você quiser que ele não seja tão tolo, corrija-o com a vara da disciplina. Isso é isto.
Levou muito tempo para eu aprender a mensagem do castigo. Mas eu adquiri a mensagem finalmente que a dor não era particularmente agradável. Minha mãe diz a mim que ela se sente culpada porque ela me deu muitas surras quando era menino, e que isto era muito duro para ela. Escute, eu só posso agradecer minha mãe por isso. Se ela não tivesse me corrigido daquela forma, quem sabe que tipo de pessoa criminosa ou rebelde eu poderia ter sido?
Você diz: "Mas você pode ferir sua criança. Você pode afetar sua criança de alguma maneira, ou você poderia deixar algumas cicatrizes emocionais em seu filho.". Olhe, a Bíblia diz que você tem uma criança tola, que a maldade está ligada ao seu coração, não é maravilhoso que você não tem que fazer nenhum treinamento psicológico com a criança durante quatorze anos senão que o você tem que fazer é simplesmente corrigi-lo com a vara? O que eu quero dizer, é que você não tem que ir para a faculdade para fazer isso.
Você diz, "Oh, mas isto não poderia feri-lo ?”. Veja Pv 23.13: “Não retires da criança a disciplina, pois se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.”. É exatamente o contrário. Se você quer poupar seu filho disto por temer feri-lo física ou emocionalmente, você estará contribuindo para que ele nunca associe qualquer dor às suas rebeliões, e poderá ter um futuro em que poderá não apenas ser um candidato à morte prematura por conta de não ter aprendido a disciplina quando criança, por se envolver com coisas deste mundo em que corre sério risco de vida, como também é um sério candidato ao inferno, porque não terá aprendido o temor de Deus. A vara não vai matá-lo. Ele sobreviverá. Essa é a resposta típica dos que justificam a retenção da vara e a falta de disciplina: "Oh, eu não quero feri-lo... eu tenho medo que se eu o ferisse que ele não gostará mais de mim.". Você ouve isso todo o tempo, e olhe o tipo de geração de jovens que temos tido. A culpa maior é dos pais que não os disciplinaram. Por terem se guiado por seus sentimentos e emoções e não por obedecerem a Palavra de Deus. Eles se esquecem que seus filhos serão gratos a eles no futuro. Que aprenderão a respeitar as pessoas. Que serão homens e mulheres de Deus num mundo pervertido. Seu filho lhe amará por lhe ter mostrado o caminho da retidão.
Você diria que isto é a coisa principal ? Eu penso que é a coisa principal. Eu penso que é por isso que isto está em toda a parte da Bíblia quando fala de disciplina.
O que nós estamos dizendo aqui? Nós estamos dizendo que as crianças têm que ser obrigadas a obedecer porque a depravação deles resiste a isto.
Em Pv 29.15 lemos: “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe.”. A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança que é livre para fazer tudo do modo que queira vem a ser motivo de vergonha para a sua mãe porque certamente ela será condenada pelo filho que tem, e especialmente pelo fato de não tê-lo educado.  Você não pode deixar seu filho adquirir o próprio modo dele. Não é ele que tem a responsabilidade de moldar o seu próprio caráter. Esta responsabilidade foi dada por Deus aos pais. Por isso se diz no verso 17 do mesmo cap 29: “Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à sua alma.”. A chave é que as crianças devem ser obrigadas a obedecer e devem sofrer as consequências dolorosas quando elas não o fizerem. Eles devem aprender a honrar e respeitar os seus pais de forma que eles não são apenas castigados por desobediência mas também por desrespeito e desonra.
Agora a razão porque nós fazemos isto é porque nós temos que guiar nossos filhos, nós temos que trazê-los para um lugar de retidão. Como nós fazemos isso? Bem, nós falaremos sobre o que significa "no Senhor", de Ef 6.1, onde se diz: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo.”. E eu também vou falar como evangelizar seus filhos. Quando você deve evangelizar seus filhos, como você faz isso? Você diz, "Deus ama você e tem um plano maravilhoso para a sua vida?". Ou você prega um sermão sobre o inferno? Você os amedronta com as realidades do inferno, ou você os atrai com as felicidades do céu? Isto estudaremos no estudo relativo ao Padrão de Deus para os Pais.

Nunca devemos esquecer que é a própria obediência dos pais que se torna o modelo para a obediência dos filhos. É nosso respeito por um ao outro como pai e mãe que lhes mostra qual o tipo de respeito que eles devem ter por nós. É quando eu respeito minha esposa e ela me respeita que eles entendem o que é respeito.


Provérbios 14

“1 Toda mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mãos.
2 Quem anda na sua retidão teme ao Senhor; mas aquele que é perverso nos seus caminhos despreza-o.
3 Na boca do tolo está a vara da soberba, mas os lábios do sábio preservá-lo-ão.
4 Onde não há bois, a manjedoura está vazia; mas pela força do boi há abundância de colheitas.
5 A testemunha verdadeira não mentirá; a testemunha falsa, porém, se desboca em mentiras.
6 O escarnecedor busca sabedoria, e não a encontra; mas para o prudente o conhecimento é fácil.
7 Vai-te da presença do homem insensato, pois nele não acharás palavras de ciência.
8 A sabedoria do prudente é entender o seu caminho; porém a estultícia dos tolos é enganar.
9 A culpa zomba dos insensatos; mas os retos têm o favor de Deus.
10 O coração conhece a sua própria amargura; e o estranho não participa da sua alegria.
11 A casa dos ímpios se desfará; porém a tenda dos retos florescerá.
12 Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.
13 Até no riso terá dor o coração; e o fim da alegria é tristeza.
14 Dos seus próprios caminhos se fartará o infiel de coração, como também o homem bom se contentará dos seus.
15 O simples dá crédito a tudo; mas o prudente atenta para os seus passos.
16 O sábio teme e desvia-se do mal, mas o tolo é arrogante e dá-se por seguro.
17 Quem facilmente se ira fará doidices; mas o homem discreto é paciente;
18 Os simples herdam a estultícia; mas os prudentes se coroam de conhecimento.
19 Os maus inclinam-se perante os bons; e os ímpios diante das portas dos justos.
20 O pobre é odiado até pelo seu vizinho; mas os amigos dos ricos são muitos.
21 O que despreza ao seu vizinho peca; mas feliz é aquele que se compadece dos pobres.
22 Porventura não erram os que maquinam o mal? mas há beneficência e fidelidade para os que planejam o bem.
23 Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, só encaminham para a penúria.
24 A coroa dos sábios é a sua riqueza; porém a estultícia dos tolos não passa de estultícia.
25 A testemunha verdadeira livra as almas; mas o que fala mentiras é traidor.
26 No temor do Senhor há firme confiança; e os seus filhos terão um lugar de refúgio.
27 O temor do Senhor é uma fonte de vida, para o homem se desviar dos laços da morte.
28 Na multidão do povo está a glória do rei; mas na falta de povo está a ruína do príncipe.
29 Quem é tardio em irar-se é grande em entendimento; mas o que é de ânimo precipitado exalta a loucura.
30 O coração tranquilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos.
31 O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.
32 O ímpio é derrubado pela sua malícia; mas o justo até na sua morte acha refúgio.
33 No coração do prudente repousa a sabedoria; mas no coração dos tolos não é conhecida.
34 A justiça exalta as nações; mas o pecado é o opróbrio dos povos.
35 O favor do rei é concedido ao servo que procede sabiamente; mas sobre o que procede indignamente cairá o seu furor.”

Quanto à citação do primeiro verso deste capítulo, nós estamos apresentando um comentário  baseado em um sermão adaptado do Pr John MarcArthur que discorre sobre o dever das esposas.

O Desígnio de Deus para um Matrimônio Próspero
(O Dever da Esposa)

Por John Macarthur (adaptado)

Estaremos estudando sobre o padrão que Deus projetou para matrimônio e para a família. Começaremos falando sobre o dever das esposas, e estaremos estudando em outra ocasião sobre o dever dos maridos.                                                          
Nós vivemos em dias em que isto é uma coisa muito difícil para se proclamar porque o mundo não está disposto para aceitar o que lemos em Ef 5.22-24.
Deus tem algumas definições muito claras e distintas de uma família e das funções de uma família, e nós vamos estudá-las conforme se encontram registradas na Bíblia. Em Ef 5.22-24 está escrito: “As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas a seus maridos.”.
Isto é muito necessário para os nossos dias. Basicamente, diz que "as esposas devem se submeter aos seus próprios maridos, como ao Senhor.”. O texto, do verso 22, no original está escrito assim: “E as esposas aos seus próprios maridos, como ao Senhor”. Omite a palavra submissão, porque o texto é uma continuação do verso anterior (21), onde se diz: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Dentro do grande assunto da submissão dos crentes (a Deus, às autoridades civis, aos pastores, aos anciões, aos pais, aos senhores) Paulo vai falar agora da submissão das mulheres aos seus maridos. De igual modo, no verso 24 a palavra “submissas” também não está registrada no original grego, pois está subentendida na sequência da apresentação da ideia no mesmo verso, onde se diz que do mesmo modo que a igreja está sujeita a Cristo, devem também as mulheres estarem sujeitas a seus maridos.
A ideia de submissão aqui aplicada é muito ampla. Não inclui apenas as esposas cujos maridos estão cumprindo as suas funções. Não apenas as esposas de olhos azuis, de cabelos loiros, ou escuros, não as esposas que sintam que esta é a melhor coisa para se fazer.  "Esposas", é categoricamente isto. "Esposas", qualquer pessoa que é assim classificada, está incluída neste versículo.  Não há nenhuma outra condição.

1. O Assunto da Submissão

Agora, a que isto realmente se refere?
Bem, a palavra "submissão" não é a palavra "obediência.". Não vem de  "hupakouo" (grego) que é a palavra para obediência.  Ela vem da palavra "hupotasso" (grego) que traduz a ideia de sujeição, submissão, estar sob o governo de um outro.
A palavra "obediência" é usada por Paulo para indicar a relação dos filhos em relação aos pais, e dos escravos aos seus senhores. Ele usa "hupakouo" (grego) que significa simplesmente “responder”, “atender”. “obedecer”. É uma palavra usada para um servo, e uma esposa não é um servo, ela não é uma escrava. Ela não fica na casa esperando por comandos: “Faça isto, faça aquilo, não faça isto ou aquilo!”.
Ela não é uma escrava - este não é o termo que é usado. Ele é muito mais íntimo do que isto, isto é muito mais pessoal, muito mais interior, muito mais vital, como indicado pelo termo "seu próprio marido."  Em outras palavras, há uma possessividade aqui.  Assume que uma esposa vai  responder em submissão absolutamente voluntária ao seu próprio marido – alguém que ela possui.
Agora, isto não é uma referência a qualquer tipo de inferioridade; é simplesmente uma distinção ordenada por Deus para que aquela sociedade (união) possa ser preservada. Este é o caminho de volta à condição que havia no Éden, antes da queda, e a maneira de não ter que viver debaixo da maldição de Deus para a esposa, citada em Gên 3:16: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.”. Esta maldição será vista e se cumprirá na vida de todos aqueles que viverem na escravidão do pecado, onde a mulher terá contra si a lei de ser governada pelo marido sempre que tentar disputar com ele em seu coração o lugar de liderança que foi dado a ele por Deus, não lhe sendo submissa de coração, ou ainda anulando-se no relacionamento, não cumprindo seu papel de ajudadora satisfatória. E os maridos que não amarem suas esposas como Cristo ama a igreja, não serão cabeças em seus lares cuidando de suas esposas com provisão, atenção, cavalheirismo, amor e consideração, mas serão governantes despóticos, e não respeitarão a vontade de suas esposas; ou poderão também renunciar ao papel de liderança em amor que deveriam exercer, sendo dominados por suas esposas.
O cabeça é o homem. Fisicamente, Deus fez os homens mais fortes.  Isto é uma indicação externa daquela verdade interna, que Ele planejou para ensinar que a tarefa de proteger o lar e a esposa é tarefa do homem.
A par de haver muitas mulheres no mercado de trabalho, a sociedade, com suas demandas de construção através de atividades em grande parte insalubres e pesadas, é fisicamente, construída pelos homens, mais fortes em sua constituição, eles são projetados por Deus para trabalhar, para proteger e para prover. Para dar segurança a uma esposa a quem o Espírito Santo chama (em I Pe 3.7) de "vaso mais frágil.". Isso é fisicamente verdade.
Em Col 3:18, temos uma passagem paralela a Ef 5.22-24.  Onde Paulo destaca que a submissão das mulheres deve ser “como convém no Senhor”. Este destaque é muito importante. A palavra no grego traduzida por “convém” é oriunda do verbo “aneko” que significa “estar ajustado a”, “ser parecido com”.
Isto significa que é algo que está ligado legalmente ao Senhor, que está baseado em algum princípio divino revelado na verdade da Palavra de Deus. Significa que a submissão é um mandamento divino que deve ser cumprido como qualquer outro mandamento revelado na Palavra: não matarás, não furtarás, amai-vos uns aos outros, sejam submissos, sendo que dentro da linha de submissão estabelecida por Deus encontra-se a das mulheres a seus próprios maridos.
Em I Pe 3.1,2 temos a reafirmação da ordenança divina: “Mulheres, sede vós, igualmente submissas a vossos próprios maridos, para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas, ao observarem o vosso honesto comportamento cheio de temor.”.
Antes de comentarmos o texto de I Pe 3, gostaríamos de dizer que é uma grande bênção obedecer à ordenança de Deus relativa à submissão, que nos torna parecidos com o nosso Senhor, que é submisso ao Pai, e que se sujeita a Ele inteiramente de coração, conforme revelou em Seu ministério terreno, e mediante suas próprias afirmações relativas à Sua obediência ao Pai. A submissão é a vontade de Deus para o crente, seja homem, ou mulher, criança, jovem ou velho, todos devem aprender a serem submissos de coração, e foi por isso que Deus estabeleceu linhas de submissão que já citamos anteriormente. Em tudo, devemos esforçar-nos para sempre estar exercitando-nos nisto, considerando os outros superiores a nós mesmos.
As mulheres têm a bênção de terem mais um meio de se exercitarem nisso, pois que, pela vontade de Deus, foram sujeitadas a seus próprios maridos. Aos quais é ordenado por Deus que as tratem com consideração e com dignidade, porque, as mulheres receberam da parte do Senhor o privilégio e a honra de serem cuidadas por Ele através dos seus próprios maridos. A estes impôs o peso da responsabilidade por elas, indicando o seu especial  cuidado para com os vasos mais frágeis que para serem tratados com proteção, amor e zelo, foram colocados em submissão aos homens.
Em I Pe 3, a mesma palavra “hupotasso” (grego), é aqui usada.  É uma palavra para indicar "função" e não "essência". Não significa que você é menos ou pior que ele, ou menos espiritual. Ou que você deve fazer coisas mais servis do que as que ele faz, ou que você deveria fazer qualquer coisa diferente das que ele faz; não está falando este tipo de coisa.  Simplesmente está falando sobre uma "função" de liderança e autoridade no lar.
Novamente, ele enfatiza, "seus próprios maridos.".  Este possessivo que coloca em boa ordem  a regra da submissão porque você realmente possui o seu marido; ele é realmente sua posse; você realmente o possui, e há aquele sentido de responsabilidade. Já não mais dois, mas apenas um. Lembra? Ele lhe pertence, e você pertence a ele.
“Eu sou do meu amado e ele é meu” diz o texto de Cantares.
Agora, Pedro diz: “para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas, ao observarem o vosso honesto comportamento cheio de temor.”.
A Bíblia diz que se qualquer homem não obedecer à Palavra, eles também podem sem palavra alguma serem ganhos para o Senhor pelo comportamento das esposas, em submissão de coração. Pedro não está falando da mulher se tornar uma escrava do marido, uma sem vontade, um capacho, mas alguém que está submissa à vontade de Deus, trajada de um espírito manso e tranquilo, num comportamento honesto e cheio de temor, alguém que está debaixo da bênção de Deus e em comunhão com Ele. E a obediência à vontade de Deus inclui que esteja sujeita ao marido. É a isto que Pedro está se referindo. O bom testemunho do comportamento da esposa poderá ser usado por Deus para conduzir o marido descrente a Cristo, sem que esta se preocupe em ficar pregando o evangelho a ele com palavras.
No “comportamento honesto e cheio de temor” do verso 2 entendemos que você tem  reverência para com o seu marido; você tem um certo temor por seu marido; você tem um certo respeito para com seu marido, assim como você tem para com Deus. Isto significa que há humildade, falta de orgulho; de disputas, de jogo pelo poder, em razão do respeito que você tem pelo seu marido.
Eu lhe digo uma outra coisa, não é somente pela atitude que você tem, mas pela maneira que isto se manifesta em si mesmo. Se você está preocupada com ele e tem respeito por ele, e o seu maior adorno tem sido a sua conduta, que é o reflexo da sua condição interior, da sua obediência de coração à Palavra, então você será muito atrativa para o seu marido, mais do que se estivesse adornada com roupas caras e jóias.
Não há nada mais precioso num relacionamento do que um coração desarmado, que nunca está predisposto à resistência, à desarmonia, à contenda silenciosa (gelo) ou de palavras, e isto é resultante de um espírito manso e tranquilo, que é uma graça concedida por Deus àqueles que obedecem à Sua vontade.
Se o marido descrente for uma pessoa pela verdade, tendo uma esposa que caminhe deste modo, há de reconhecer um dia que o comportamento da esposa tem uma Fonte geradora, Cristo, e desejará também beber da mesma Fonte.
Para se alcançar isto, o adorno tem que ser o interior. Não o exterior. Porque quem está buscando apenas a superficialidade do mundo, que se expresse no uso de roupas e jóias caras, está trabalhando em causa própria, está procurando alimentar a própria vaidade. Quando não se tem o adorno interior, o exterior não passa na verdade disso.
Onde está o tesouro, aí estará o coração. Quem busca somente o que é exterior e aparente, não pode conhecer  o que seja estar adornado interiormente, que segundo a Palavra, “é de grande valor diante de Deus”.
Isto não é trabalhado no lado de fora, mas no interior do coração.
Você vê que as coisas sobre as quais estamos falando são difíceis ou mesmo impossíveis de serem vividas e praticadas pelas mulheres da nossa sociedade, especialmente do nosso mundo atual.
O que vivemos na igreja é jogado fora com desprezo na maioria dos lugares públicos. As pessoas sem Cristo não estão sujeitas à vontade de Deus, e nem mesmo podem estar, conforme ensina a Bíblia.
E esta diz que o que agrada a Deus é um espírito submisso e quieto.  Agora, isso não significa que você nunca deve dar a sua opinião, isto significa que você tem uma compreensão de que Deus espera que você seja humilde e paciente.  Isso é a beleza de uma mulher – isto é a sua força.
Deus não se preocupa com o tipo de penteado do seu cabelo; Ele não se preocupa com quanto ouro você tem adquirido, ou com a beleza dos vestidos que você tem comprado, Ele está realmente interessado em que você tenha um espírito manso e tranquilo, que é o resultado de uma atitude de submissão.
Há muita ênfase colocada no verso 6 de I Pe 3, no fato de destacar que Sara chamava Abraão de senhor, e por vezes isto é usado até sobre a forma de brincadeira por maridos que dizem que suas esposas devem chamá-los de senhor, mas, na verdade, o que se destaca neste versículo, e no anterior (5) é o modo como agiam as mulheres santas do passado. A santidade sempre foi a maior preocupação delas. Elas estavam preocupadas com o seu testemunho interior. Com o seu exemplo de vida para os seus filhos, maridos, e todo o mundo. Elas se esforçavam por serem pessoas piedosas, úteis, senhoras de seus lares, educadoras pelo próprio exemplo de vida. Veja o destaque que o livro de Provérbios 31 faz sobre a mulher virtuosa. As virtudes internas do coração, o cultivo das mesmas era onde estavam os seus corações.      
E por que as mulheres santas do passado agiam desse modo? Porque elas confiavam em Deus. Elas temiam a Deus. Elas queriam seguir os padrões estabelecidos por Deus. Assim elas se sujeitavam a seus próprios maridos.
O fato de Sara chamar Abraão de Senhor é indicativo do respeito que ela tinha por ele, e que demonstra que lhe estava sujeita de coração.
Isto mostra que é injustificado o temor de muitas mulheres na igreja que pensam que se sujeitarem a seus maridos eles vão abusar delas. Olhe que a submissão é uma ordenança de Deus e o Senhor honra a obediência a isto. As mulheres santas do passado confiaram em Deus, e sujeitando-se a seus maridos tiveram vidas e lares que foram abençoados por Deus, em face da sua obediência. Elas confiaram em Deus, e não tiveram nenhum medo de obedecer a Deus, e mesmo se houvesse qualquer abuso elas sabiam que Deus  levaria a bom termo os resultados. Correto?
Você não precisa fazer a parte de Deus. Você obedece a Deus; submetendo-se a seu marido como fizeram as mulheres santas, com um espírito submisso e quieto, e  Deus fará a parte que cabe a Ele honrando o seu testemunho de obediência à Sua vontade.
Você nunca ouviu a esposa do seu vizinho gritando com ele?  Eu sempre penso em I Pe toda vez que eu ouço isso.
Do texto de I Cor 11.2-16, se depreende que muito mais do que ser uma norma reguladora do uso de véu por parte das mulheres da igreja de Corinto, temos um ensino sobre submissão. O véu era um sinal, uma forma externa de se indicar a submissão naquela sociedade antiga, o que deveria ser obedecido naquele contexto, em face das questões não morais que devem seguir a regra de tudo fazer para não ofender a consciência dos outros. No caso, o não uso do véu naquela sociedade configurava um desrespeito às convenções vigentes, e por conseguinte um escândalo que deveria ser evitado.
O véu era um símbolo, um sinal de que a mulher estava sujeita à autoridade (v 10).
As muitas divisões que haviam na Igreja de Corinto apontam para o fato de que eles não davam muita atenção ao assunto da submissão, que por sua vez está ligado ao da  autoridade. A própria autoridade apostólica de Paulo fora colocada em questão por eles, e criaram por sua própria conta muitos partidos. Isto se refletiu provavelmente também nas mulheres, que estariam criando um movimento em prol da libertação da mulher. Elas estavam tentando fazer o mesmo trabalho dos homens, a ponto de Paulo tê-las proibido até de falarem e ensinarem na Igreja, tal deve ter sido o caráter do levante que fizeram.
Paulo escreveu aos coríntios para consertarem as coisas que  estavam erradas, e que contrariavam a vontade revelada de Deus.
Na sociedade coríntia as mulheres usavam um véu como símbolo de submissão. Era uma sociedade pagã, e este véu não tinha o significado da profundidade bíblica para a submissão, mas era um sinal de modéstia, de humildade. E isto servia também para distinguir as mulheres, porque as meretrizes não usavam véu. Mas deve ter surgido dentro da própria sociedade este suposto movimento em prol da igualdade de direitos. Os homens não usam véu e nós não temos porque usá-lo. Certamente, isto não foi aceito, mas a influência penetrou na própria igreja, e daí o ensino de Paulo determinando que se acatasse a norma social para que não houvesse escândalo, e aproveitou o ensejo para reforçar o ensino  bíblico sobre a submissão feminina.  Porque, o que estava ocorrendo de fato na Igreja, era uma resistência e desobediência a uma norma estabelecida por Deus, não propriamente sobre o uso do véu, mas da submissão da mulher ao seu próprio marido.
Paulo aproveitou para ensinar que pela própria natureza é comum que a mulher tenha cabelos longos e não os homens, e nisto há também uma ilustração física de uma verdade interior, pois o cabelo foi dado à mulher como cobertura, como sinal de que está sob autoridade, sob o governo do seu marido.
Cientificamente está comprovado que o cabelo das mulheres cresce mais rápido do que o dos homens. Isso foi planejado por Deus. Isso é um assunto genético e indica que Deus deu cabelo às mulheres, que cresce mais rápido, como um sinal de submissão para elas.
Deste modo, Paulo diria em outras palavras: “Não é algo ruim usar véu, porque é algo muito próximo daquilo que Deus planejou.”.
Assim, esteja certa que a você cumpre o princípio que manifesta submissão.  Você vê isto?  Tudo o que se pode dizer desta passagem de Paulo aos coríntios é o seguinte: “Uma mulher tem um lugar de submissão, e na sociedade ela não deveria violar este lugar.". Eu lhe contarei algo; uma mulher virtuosa chamará a atenção do seu próprio marido.  Você já experimentou isso?
Em Tito 2.3-5 lemos: “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada.”.
Quanto aos deveres da mulheres idosas, cabe destacar que a referência a mulheres idosas não quer significar decrépitas, mas maduras. Estas, pela sua experiência na santidade, não sendo caluniadoras, não eram “mestras de escândalos”, mas “mestras do bem”.
Agora observe que as mulheres mais velhas devem ser o quê?  Mestras.  As mulheres mais velhas devem ser mestras. E a quem elas devem ensinar?  As mulheres jovens.
As mulheres idosas devem ensinar as mulheres mais jovens. O que devem ensinar: a serem sensatas. Em outras palavras,  conhecerem as prioridades,  serem sérias, saberem quais as coisas que realmente são importantes.
E o que mais? “a amarem a seus maridos”. Isto mostra que a ordenança bíblica não é que somente os maridos amem suas esposas, conforme lemos em Ef 5. Muitos dizem erroneamente que as mulheres devem apenas serem submissas e que o dever de amar é exclusivo dos maridos.
O destaque do amor dos maridos pelas esposas em Ef 5, está em que Paulo o compara ao modo como Cristo amou a Igreja, sendo o seu provedor, cuidando dela. Esta é a função do homem no casamento. Isto realmente não compete à mulher como responsabilidade, enquanto o marido vive e é saudável.
Mas, no que diz respeito ao amor no seu sentido geral é responsabilidade também das mulheres amarem seus maridos.
O mesmo versículo (4) diz que devem amar também a seus filhos. Isto é, devem gastar suas vidas amando seus maridos e também seus filhos. Com o mesmo amor desinteressado de Deus, que deve ser o amor a caracterizar cada um dos integrantes da família. Na verdade, esta é o núcleo de aprendizagem do verdadeiro amor, que não é interesseiro. Deus instituiu a família para ser um laboratório em que se aprende a amar como Ele ama.
Quando estas ordenanças são descumpridas Deus é desonrado, porque a sua Palavra é difamada (v 5). O alvo da obediência é que Deus seja glorificado pelo nosso testemunho em obediência à Sua vontade. Este é o grande objetivo. Assim se nós desejamos honrar a Palavra de Deus então devemos amar nossos maridos e nossos filhos.
No verso 5 se lê “boas donas de casa”. Literalmente,  "guardiãs em casa".
A missão de criar os filhos não é dos empregados, mas dos pais, e particularmente da mãe, que por pressuposto passará maior tempo com eles enquanto o marido trabalha fora.
A mulher deve ser uma dona de casa. Muitíssimo mais do que meramente no sentido de ser cozinheira ou faxineira. Mas no sentido de quem cuida do seu lar por amor ao seu marido e filhos.
Pessoas que cresceram sem amor numa família estão procurando isto desesperadamente em outros lugares, e nem sempre encontram o que estão procurando. Muitas vezes batem em portas erradas. E é exatamente isto o que está ocorrendo com a juventude do nosso país, entregando-se ao sexo fora do casamento, à violência, às drogas.
Ao que tudo indica, José viveu muito bem com Maria, apesar de terem vivido num lar pobre. Este foi o lar que Deus formaria e escolheu para trazer o Salvador ao mundo. Este era o padrão de muitas gerações da humanidade. Não era o conforto material que ditava as regras da vida de um lar. Vivia-se em harmonia e em paz com muito menos recursos do que o lar mais pobre dos nossos dias possa ter. Não havia nenhum dos confortos do mundo moderno. E as pessoas estavam satisfeitas com o que tinham. Na verdade, não eram bombardeadas pela mídia, que não existia, dia e noite, com os produtos que deveriam comprar. E o papel da mídia é deixar você insatisfeito com o que tem para comprar o que eles querem vender como coisa essencial, quando muitas vezes não passam de coisas supérfluas.
Agora se você acha que a vida é uma questão de ter. De conquistar posições. Então você vai ter certamente muitos problemas para viver dentro do padrão de gratidão e satisfação que Deus planejou para uma família.
Tudo será ansiedade e uma busca que não tem fim de posições melhores, enquanto o padrão bíblico é de não estar ansioso por nada e contentarmo-nos com as coisas que temos. São dois ditames inconciliáveis, a propaganda da mídia e a ordenança bíblica. A quem você vai obedecer?
Agora nós não estamos dizendo que uma mulher tem que ficar em casa e nunca sair de lá.  Nós não estamos dizendo isso.  Ela pode se vestir a rigor, calçar os melhores sapatos,  ela pode ter um segundo carro e pode fazer muitas coisas fora de casa, assim como a mulher virtuosa que viajava para longe para adquirir coisas mais em conta para a sua casa, de forma a não esbanjar os recursos do lar. A mulher pode ter um ministério fora de casa que não lhe tome todo o tempo, todos os dias, pode ir às lojas e assim por diante. A ideia não é que o lar é sua prisão. De modo nenhum.
Ela deve ser uma pessoa produtiva, mas, como ordena a Palavra, deve saber estabelecer prioridades, e a prioridade número um para ela, segundo a Bíblia, é o seu próprio lar e os seus. Assim o principal ministério de uma mulher casada é cuidar do seu marido e fazer com que seus filhos venham a ser homens e mulheres de Deus, por ter-lhes ensinado a andarem nos caminhos do Senhor.
Ninguém é obrigado a seguir os ditames de uma sociedade corrompida e que transgride diretamente os mandamentos de Deus. É completamente possível viver feliz e satisfeito com muito menos recursos, amoldando-se a uma vida modesta e simples, para que a vontade de Deus relativa à submissão da mulher ao seu próprio marido, e para que a mulher seja de fato a guardiã de seu lar, seja cumprida.
E o Senhor honrará esta obediência derramando bênçãos sobre a família, que de outra forma (na desobediência de sua vontade revelada) não poderiam ser experimentadas, até mesmo pelas contingências impostas pelo próprio modelo de vida assumido, e que traz consigo perdas inevitáveis para todos no lar, tanto para os pais quanto para os filhos.
Uma mulher virtuosa tem mais cuidado com sua família do que com suas próprias necessidades (Pv 31.15). Ela sacrifica o próprio bem estar e conforto em prol de servir melhor os que são seus.
Ela se contenta em viver com os recursos que possuem, e faz investimento desses recursos, sempre com vistas a economizar. Se você não pode se manter com o que seu marido ganha, então, você está vivendo além dos seus meios.
2. A Maneira da Submissão
O assunto da submissão que apresentamos anteriormente, tem a sua maneira, e esta significa que você é submissa não pela vontade do seu próprio marido, mas pela vontade de Deus, que assim determinou que fosse.
Se Jesus viesse a você e dissesse para deixar seu trabalho e ir para casa cuidar de seus filhos, você faria isto? É certo que sim. De igual forma você deve proceder com relação a seu marido, porque a Palavra diz que você deve ser submissa a ele como convém no Senhor.
Esta é a maneira da submissão.
3. O Motivo da Submissão
Em terceiro lugar, o motivo. O marido é a cabeça da esposa. A cabeça dá um comando e o corpo obedece. Você diz, mas isto é degradante. Não é degradante um corpo responder  o comando de uma cabeça. Se o corpo não obedece a cabeça, isto sim é degradante.
4. O Modelo de Submissão
E finalmente: o modelo de submissão.  Qual é o padrão?  Cristo, a Cabeça da Igreja. Cristo o Salvador do Corpo. Assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim devem as esposas serem sujeitas aos seus próprios maridos em tudo.".
Eu lhe falo, quando nós seguirmos isto nós teremos lares mais felizes, filhos piedosos, menos divórcios, e Deus será honrado, e a Palavra de Deus não será blasfemada.

Finalmente, o verso 24, diz, "Em tudo" - você diz: "Tudo? ". Sim, em tudo!



Provérbios 15

“1 A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.
2 A língua dos sábios destila o conhecimento; porém a boca dos tolos derrama a estultícia.
3 Os olhos do Senhor estão em todo lugar, vigiando os maus e os bons.
4 Uma língua suave é árvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito.
5 O insensato despreza a correção de seu pai; mas o que atende à admoestação alcança a prudência.
6 Na casa do justo há um grande tesouro; mas nos lucros do ímpio há perturbação.
7 Os lábios dos sábios difundem conhecimento; mas não o faz o coração dos tolos.
8 O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor; mas a oração dos retos lhe é agradável.
9 O caminho do ímpio é abominável ao Senhor; mas ele ama ao que segue a justiça.
10 Há disciplina severa para o que abandona a vereda; e o que aborrece a repreensão morrerá.
11 O Seol e o Abadom estão abertos perante o Senhor; quanto mais o coração dos filhos dos homens!
12 O escarnecedor não gosta daquele que o repreende; não irá ter com os sábios.
13 O coração alegre aformoseia o rosto; mas pela dor do coração o espírito se abate.
14 O coração do inteligente busca o conhecimento; mas a boca dos tolos se apascenta de estultícia.
15 Todos os dias do aflito são maus; mas o coração contente tem um banquete contínuo.
16 Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro, e com ele a inquietação.
17 Melhor é um prato de hortaliça, onde há amor, do que o boi gordo, e com ele o ódio.
18 O homem iracundo suscita contendas; mas o longânimo apazigua a luta.
19 O caminho do preguiçoso é como a sebe de espinhos; porém a vereda dos justos é uma estrada real.
20 O filho sábio alegra a seu pai; mas o homem insensato despreza a sua mãe.
21 A estultícia é alegria para o insensato; mas o homem de entendimento anda retamente.
22 Onde não há conselho, frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem.
23 O homem alegra-se em dar uma resposta adequada; e a palavra a seu tempo quão boa é!
24 Para o sábio o caminho da vida é para cima, a fim de que ele se desvie do Seol que é em baixo.
25 O Senhor desarraiga a casa dos soberbos, mas estabelece a herança da viúva.
26 Os desígnios dos maus são abominação para o Senhor; mas as palavras dos limpos lhe são aprazíveis.
27 O que se dá à cobiça perturba a sua própria casa; mas o que aborrece a peita viverá.
28 O coração do justo medita no que há de responder; mas a boca dos ímpios derrama coisas más.
29 Longe está o Senhor dos ímpios, mas ouve a oração dos justos.
30 A luz dos olhos alegra o coração, e boas-novas engordam os ossos.
31 O ouvido que escuta a advertência da vida terá a sua morada entre os sábios.
32 Quem rejeita a correção menospreza a sua alma; mas aquele que escuta a advertência adquire entendimento.
33 O temor do Senhor é a instrução da sabedoria; e adiante da honra vai a humildade.”

Para a afirmação dos versos 16 e 17 deste capítulo, estamos apresentando um comentário relativo a este assunto, baseado no texto do puritano Thomas Watson, intitulado, a Arte do Contentamento Divino.
A Arte do Contentamento Divino

por THOMAS WATSON  (reduzido e adaptado)

Uma Exposição de Filipenses 4:11

“Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”

PREFÁCIO

Como o "homem nasce para as dificuldades, assim como as faíscas das brasas voam para cima” (Jó 5.7), então todos precisamos aprender a mesma lição de  Paulo: "Eu aprendi", ele disse, "a viver contente em toda e qualquer situação".
O Puritano, Thomas Watson, faz uma exposição completa deste versículo da Bíblia, que ele ensinou durante o seu ministério como reitor de St Stephen, Wallbrook, Londres.
De Thomas Watson disse C. H. Spurgeon, que "relativamente pouco é conhecido dele - até mesmo as datas do seu nascimento  e morte são desconhecidas, mas os próprios escritos dele são o seu melhor memorial, e assim como não havia necessidade de algo melhor do que isso, aprouve à Providência proibir a superfluidade.”.
Watson era mestre de um estilo conciso, vigoroso e de uma rara beleza de expressão. Ele não somente podia falar para ganhar o entendimento dos homens como também conseguir obter um lugar para a verdade nas suas recordações.


CAPÍTULO I

As palavras a seguir são ditas para prevenir qualquer tipo de objeção.
O apóstolo tinha feito muitas exortações, nos versos anteriores ao do nosso texto, dentre as quais destacamos a do verso 6: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.”.
Assim, não se pode excluir:

1. O cuidado para prover a própria casa dele, porque a falta disto significaria "negar a fé, e ser pior que o infiel" (1 Tim 5.8).

2. O cuidado religioso; porque nós temos que ter toda "diligência para confirmar nossa chamada e eleição." (2 Pe 1.10).

3. O cuidado sobre os assuntos e eventos deste mundo: "Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mt. 6. 25).
E neste sentido, quanto a este tipo de cuidado exposto nas palavras do Senhor, deveria ser o cuidado de um crente não ter nenhum cuidado.
A palavra cuidadoso no grego primitivo, significa “cortar o coração em pedaços". Devemos portanto ter o cuidado de não estar sobrecarregados com o tipo de cuidados que dividem a nossa alma. Tenhamos cuidado com isto. Somos exortados a entregar os nossos cuidados ao Senhor: "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará." (Sl 37.5).
A palavra hebraica para entregar é lançar. Deste modo, o nosso trabalho consiste em jogar o nosso cuidado fora (I Pe 5.7), porque o trabalho de cuidar não é nosso mas de Deus.
“lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.”(I Pe 5.7).
É por causa da nossa falta de domínio próprio que tiramos o trabalho de Deus das Suas mãos. E fazer isto é desonrar a Deus, isto é, tentar tomar a providência que cabe a Ele e não a nós, como se Ele estivesse sentado no céu e não prestasse atenção às coisas aqui embaixo.
O cuidado imoderado priva o coração de coisas melhores; e normalmente, enquanto estamos pensando como faremos para viver, esquecemos como morrer.
O cuidado é um cancro espiritual que produz desperdício; nós podemos por causa do nosso cuidado acrescentar uma tonelada à nossa aflição do que um quilo ao nosso conforto. Deus tem ameaçado isto como uma maldição:
 "17 Ainda veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
18 Filho do homem, come o teu pão com tremor, e bebe a tua água com estremecimento e com ansiedade.
19 E dirás ao povo da terra: Assim diz o Senhor Deus acerca dos habitantes de Jerusalém, na terra de Israel: O seu pão comerão com ansiedade, e a sua água beberão com espanto pois a sua terra será despojada de sua abundância, por causa da violência de todos os que nela habitam."  (Ez 12.17-19).
Assim, aprendamos do exemplo de Paulo: I – O estudante, Paulo: “Eu aprendi.”; e II – A lição: “a viver contente em toda e qualquer situação.

CAPÍTULO II

Comecemos então com o estudante: “Eu aprendi.”.
Nisto devemos destacar que o apóstolo não disse que ouviu que deveria estar contente em toda e qualquer situação, mas que aprendeu a viver contente. Então, podemos tirar daqui a primeira doutrina que não é bastante os cristãos ouvirem o seu dever, porque têm que aprender o seu dever. Uma coisa é ouvir e outra coisa aprender; assim como comer é uma coisa e preparar a comida, outra.
Há quatro tipos de graus na parábola do Semeador (Lc. 8.5-8), mas somente um solo bom: a parábola destaca esta verdade, de que há muitos tipos de ouvintes, mas poucos estudantes que aplicam o que ouvem às suas vidas.
Destacamos que aprendizagem significa mudança permanente de comportamento.
Há duas coisas que nos impedem de aprender:

1. Desprezar o que nós ouvimos. Cristo é a pérola de elevado preço; e quando desprezamos esta pérola,  nunca aprenderemos ou seu valor, ou sua virtude.
O evangelho é um tesouro raro; escondido em um lugar.
Em At 20.24 é chamado "o evangelho da graça"; em II Cor 4.4 de "o evangelho da glória" porque nele, a glória de Deus resplandece como num copo transparente. Mas aquele que tem aprendido a desprezar este mistério, jamais aprenderá a obedecê-lo; aquele que olha para as coisas do céu como coisas insignificantes, e que procura fazer delas um tipo de comércio, esta pessoa está na estrada da perdição, e dificilmente aprenderá as coisas relativas à sua paz. Quem aprenderá aquilo que ele pensa ser de muito pouco valor?

2. Esquecer o que nós ouvimos. Se um estudante tem as suas lições diante de si, e as deixa de lado, ou então, quando as lê, logo as esquece, tão rápido quanto as lê, ele nunca aprenderá.
“Entretanto, aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.” (Tg 1.25).
A memória, como dizia Bernard, é o estômago da alma, porque tem uma faculdade retentiva para que a palavra divina, que é a comida de Deus para a alma, possa ser transformada em espírito e vida.
Nós temos uma grande facilidade para recordar aquilo que é vão, mas as coisas espirituais demandam aplicação e esforço, porque não são deste mundo e não pertencem portanto à nossa natureza terrena.
Ciro podia se lembrar do nome de cada soldado do seu enorme exército, mas nós, como disse Hierom, logo nos esquecemos das verdades sagradas de Deus.
Somos hábeis em esquecer nossas faltas, nossos amigos e nossas instruções. Muitos crentes são como peneiras que não podem reter a água senão apenas quando estão imersos nela. Eles podem reter a verdade apenas quando estão ouvindo um sermão, mas tão logo saiam da igreja, tudo terá sido esquecido e não aplicado.
Jesus disse aos apóstolos em Lc 9.44: "Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos;”. No original isto está dito de modo que um homem devesse esconder uma jóia dentro de si mesmo para que não fosse furtada.
A Palavra deve ser aprofundada como a semente que é semeada, e não somente cair como um orvalho que molha apenas as folhas, mas como uma chuva que satura a raiz da árvore e que a faz frutificar. Com que frequência Satanás, a ave do ar, rouba a boa semente que é semeada!
Deixe-me expor isto de um modo prático: alguns de vocês ouviram muito;  você viveu quarenta, cinquenta, sessenta anos debaixo da santa trombeta do evangelho, e o que você aprendeu? Você pode ter ouvido mil sermões, e ainda não aprendeu um sequer.
Consultem suas consciências.

1. Você ouviu muito contra o pecado: você é um ouvinte ou é um estudante? Quantos sermões você ouviu contra cobiça e que ela é a raiz, na qual o orgulho, a idolatria, e a traição crescem? Alguns a chamam de pecado capitalista, metropolitano, próprio do mundo moderno; mas é um mal complexo, porque conduz a muitos outros pecados. Quase não há pecados em que a cobiça não seja o seu ingrediente principal. E ainda assim você gosta das duas filhas da sanguessuga citadas em Pv 30.15: “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam; sim, quatro que nunca dizem: Basta;”. E como pode ser que aqueles que aprenderam o que é pecado e suas consequências não aprenderam a abandonar o pecado? Como pode alguém que sabe o que é uma víbora, brincar com ela em seu seio?

2. Assim como os judeus que carregam Jesus em suas Bíblias mas não nos seus corações, há muitos crentes que não têm aprendido a Cristo (Ef 4.20).  Um homem pode saber muito de Cristo, e ainda não ter aprendido a Cristo. Um homem pode pregar a Cristo, e ainda não ter aprendido a Cristo, como  Judas e os falsos apóstolos (Fp 1.15). Um homem pode professar a Cristo, e ainda não ter aprendido a Cristo: há muitos mestres no mundo contra os quais Cristo se levantará. (Mt 7.22, 23)
O que é então aprender a Cristo?

1. Aprender a Cristo é ser como Cristo, tendo o caráter divino da Sua santidade gravada em nossos corações.
"Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”(II Cor 3.18).
É como uma metamorfose que é feita; quando um pecador, enquanto vendo a imagem de Cristo no espelho da glória do evangelho, é transformado naquela imagem.
Um verdadeiro santo é um quadro de paisagem divino onde são retratadas vivamente todas as belezas raras de Cristo.

2. Aprender a Cristo, é crer nele; "Senhor meu, e Deus meu" (Jo. 20.28); quando não somente cremos em Deus mas que Ele aplica Cristo e o seu sangue a nós como um remédio sagrado em nossas almas. Você ouviu muito de Cristo mas não pode dizer com íntima humildade: “meu Jesus!”: Não fique ofendido por lhe falar deste modo, mas é preciso dizer que o diabo possui o seu credo tanto como você. Lembre-se que conhecer um credo verdadeiro não é de modo nenhum suficiente para um verdadeiro aprendizado de Cristo.

3. Aprender a Cristo, é amar a Cristo. Quando nós tivermos a nossa conversação centrada na Bíblia, nossas vidas como ricos diamantes brilhantes na igreja de Deus, e estivermos, em algum sentido conformes com a vida de Cristo, como a cópia que corresponde ao original.


CAPÍTULO III

Esta palavra, "aprendi", é uma palavra que significa dificuldade; mostra que a satisfação, o contentamento do apóstolo Paulo não foi criado por aquilo que é natural, ou seja, não se encontrava em sua própria natureza. Paulo não chegou a isto naturalmente, mas o havia aprendido do alto.
Isto lhe custou  muitas orações e lágrimas.
Isto lhe foi ensinado pelo Espírito Santo.
Daqui retiramos então do nosso texto a sua segunda doutrina: coisas celestiais, espirituais e divinas são difíceis de se obter.
O assunto da religião não é tão fácil como a maioria imagina. "Eu aprendi", disse Paulo. Realmente você não precisa aprender de um homem como pecar; porque isto é natural
“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras.” (Sl 58.3).
E então, estamos inclinados naturalmente para o mal, e é uma coisa fácil ser mau, tal como a água para fluir de uma fonte. O inferno pode ser atingido sem dificuldades, mas os assuntos da religião devem ser aprendidos e aplicados. O comércio do pecado não precisa ser aprendido, mas a arte da satisfação divina, não pode ser alcançada sem ser aprendida numa santa aplicação: "Eu aprendi.".
Há duas razões sérias, porque deve haver tanto estudo e exercício:

1. Porque as coisas espirituais estão contra a natureza. Tudo em religião é o oposto da natureza. Há na religião duas coisas, e ambas estão contra a natureza:

(1) Os assuntos da fé: porque, para os homens serem justificados pela justiça de um Outro (Cristo), e se fazerem loucos para se tornarem sábios (I Cor 3.18); e perderem a vida para poderem achá-la, é inteiramente contra a natureza.

(2) Os assuntos práticos: como a auto-negação, porque é contra a natureza um homem negar a sua própria sabedoria, e se ver cego; negando a sua própria vontade, e derreter-se na vontade de Deus; arrancando fora o olho mau, enquanto crucifica aquele pecado favorito que está ligado ao coração; e ainda estar morto para o mundo, e carregar a cruz, e seguir a Cristo, não somente na bonança, mas em caminhos sangrentos.
E então, deve ser aprendido o auto-exame; que é também contra a natureza, um homem vigiar o seu coração, como um vigia, e montar uma Inquisição espiritual, ou tribunal de consciência, e prescrutar a sua própria alma com a lâmpada de Davi (Sl 119.105) à procura do pecado, como um juiz, para proferir uma sentença sobre ele (II Sm 24.17). Isto não é somente contra a natureza, como não será atingido facilmente sem ser aprendido.
As coisas espirituais estão acima da natureza. E tal como para a elevação de uma pedra é necessário força, também o movimento para se elevar a alma ao domínio das coisas relativas ao reino dos céus exige força sobrenatural, e por isso, Jesus disse que o reino dos céus é tomado por esforço, pois este movimento deve ser aprendido, e carne e sangue não estão qualificados para estas coisas.
O que é carne só pode gerar o que é carne. A natureza não pode produzir senão o que é natural. Lembremos que Satanás não pode expulsar Satanás, isto é, não podemos produzir o que é bom usando aquilo que é mau. A natureza decaída no pecado não pode produzir a vida sobrenatural do céu.
Somente o Espírito Santo pode acender nossa lâmpada enquanto neste mundo. Paulo chama a isto de as coisas profundas, insondáveis e inescrutáveis de Deus (Rom 11.33), porque as coisas espirituais estão acima da natureza. Há algumas coisas na natureza que são difíceis de serem descobertas, quanto mais as coisas que não pertencem à ordem natural deste mundo como o mistério da fé para crer contra a esperança, tal como Abraão, e o profundo mistério da Trindade. Por isso o apóstolo Pedro disse que os próprios anjos estão procurando nestas profundidades sagradas (I Pe 1.12).
Roguemos então ao Espírito de Deus para nos ensinar; nós devemos ser "divinamente ensinados". O eunuco poderia ler, mas ele não pôde entender, até que Filipe se unisse à sua carruagem (At  8.29). O Espírito de Deus tem que se unir á nossa carruagem; ele tem que ensinar, ou não podemos aprender.
"Todos os teus filhos serão ensinados do Senhor". (Is 54.13).
Nós podemos ler nossas Bíblias mas não podemos aprender o propósito, a menos que o Espírito de Deus brilhe em nossos corações para a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo (II Cor 4.6).
Ó roguem a este bendito Espírito! É de Deus a prerrogativa real de nos ensinar: "Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar." (Is 48.17).
Os ministros podem nos dizer nossa lição, mas somente Deus pode nos ensinar; porque por causa da queda no pecado original, perdemos nossa audição e visão espiritual, então somente Deus pode nos ensinar, porque somente ele pode remover estes impedimentos.
“Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão.” (Is 35.5).
Nós estamos naturalmente mortos (Ef 2.1) e quem se disporia a ensinar um homem morto? Somente Deus pode fazer com que homens mortos possam entender mistérios! Deus é o grande professor. Esta é a razão de a palavra pregada trabalhar tão diferentemente nos homens; de modo que num se vê grande progresso no crescimento na graça e no conhecimento de Jesus, e noutro nada se vê. Qual é a razão disto? Porque o vento forte divino do Espírito sopra em um, e não no outro; um tem a unção de Deus que lhe ensina todas as coisas! (1 Jo 2.27), e no outro ela está apagada, porque ele não a possui, ou então, sendo crente, a apagou, por entristecer o Espírito de Deus, que fala docemente, mas irresistivelmente.
No Apocalipse, ninguém podia cantar o novo cântico, mas somente aqueles que haviam sido selados em suas testas. (Apo 14.2). Os reprovados não puderam cantá-lo. Aqueles que são hábeis nos mistérios da salvação, têm que ter o selo do Espírito neles.
Deixe-nos fazer então esta nossa oração: Senhor, sopra em nós pelo teu Espírito, a tua Palavra, e temos a promessa que isto dará asas à nossa oração. “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lc 11.13).


CAPÍTULO IV

Eu vou expor agora a coisa principal que é a própria lição que foi aprendida por Paulo e que deve ser aprendida por todos os crentes por causa do dever que lhes foi imposto pelo próprio Deus: “viver contente em toda e qualquer situação.”.
E a principal proposição na qual eu insistirei é esta: que um espírito grato é um espírito contente. A doutrina da satisfação ou contentamento, é muito importante, e se nós não a aprendermos, não aprenderemos a ser cristãos.

1. Ela é uma lição dura. Os anjos no céu não tinham aprendido isto; eles não estavam contentes. Embora a propriedade deles fosse muito gloriosa, contudo ainda estavam planando no alto, e apontando a algo mais elevado; "os anjos que não mantiveram o seu estado original". Eles não mantiveram o seu estado original porque não estavam contentes com o que possuíam.
Nossos primeiros pais, vestidos com as vestes brancas da inocência no paraíso, não tinham aprendido a estar contentes; eles tinham aspirações em seus corações, que os levava a pensar que a sua natureza humana era muito baixa, e queriam ser coroados com a deidade, isto é, ser como deuses. Embora tivessem acesso a todas as árvores do jardim, contudo concentraram todo o seu desejo e atenção na árvore que foi chamada de árvore do conhecimento, que eles supuseram, teria a propriedade de torná-los oniscientes.
Ora, então, se esta lição era tão difícil de ser aprendida em inocência, quão mais duro não será para nós, que estamos sujeitos ao pecado!

2. É uma lição de extensão universal, e interessa a todos. Interessa primeiro aos homens ricos. Alguém pensaria ser desnecessário exortar à satisfação àqueles a quem Deus tem abençoado com muito bens, porque se pensa que a sua riqueza lhes persuade o bastante para serem humildes e gratos; mas não, e eu lhes digo que homens ricos têm os seus descontentamentos tanto quanto os outros!
Quando têm uma grande posse, contudo, estão descontentes, por não terem outras.
Um homem dado ao vinho, por mais que beba, mais tem o desejo de beber; porque a cobiça é uma terra seca que nunca pode estar completamente molhada; um coração terreno é como a sepultura que nunca está satisfeita.
Então eu exorto também aos homens ricos a que estejam contentes. Os ricos nunca estão mais contentes do que quando o  vento de honra e de aplauso enche as velas dos barcos de suas vidas; e se este vento está fraco eles ficam descontentes.
Em segundo lugar, esta lição também interessa aos homens pobres. Quão duro é aprender a estar contente quando o sustento tem-se ido, porque os meios de subsistência são chamados na Bíblia  como sendo nossa vida. A mulher que tinha uma hemorragia havia gasto todos os seus haveres com os médicos (Lc 8.43), e no original grego, temos que ela gastou toda a sua vida nos médicos, porque ela gastou os meios pelos quais ela deveria viver.
É muito duro quando a pobreza tem cortado as nossas asas e então sermos achados ainda assim, contentes, mas, apesar de duro, isto é excelente, e o apóstolo aprendeu a estar contente também nesta situação. Deus havia submetido Paulo a uma grande variedade de condições como podemos ver nele, mais do que em qualquer outro homem, e ainda assim ele estava contente.
Nós vemos em II Cor 4.8; 6.4,5; 11.23-25 etc em que vicissitudes o apóstolo foi lançado. Havia tristeza pela condição dele, mas não aflição, não desespero. E mesmo quando não tinha nada, vivia como quem possuísse todas as coisas, não pelo uso de um mecanismo psicológico de sublimação, mas pela plenitude de Cristo que o animava em todas as situações. E esta satisfação espiritual motivada pela presença de Cristo produzia não somente uma doçura de mente como também era como uma música em sua alma, que lhe dava a sensação de possuir tudo o que lhe era necessário, ainda que nada tivesse daquilo que os homens costumam considerar elevado no mundo.
Paulo poderia estar em qualquer situação que Deus o teria: “Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade.” (Fp 4.12). Aqui está um padrão raro para imitarmos.
Paulo, quanto à sua fé e coragem, era como um cedro, que não podia ser removido, mas quanto à sua condição externa, era como uma cana quebrada, que se inclinava de todos os modos com o vento da Providência.
Os crentes que, como Paulo, têm lançado a âncora dos navios de suas vidas no céu, jamais verão seus corações afundarem pelos temores e aflições, e sempre serão achados em gratidão e contentamento em seus espíritos. .
Esta rara arte Paulo não aprendeu aos pés de Gamaliel. Isto ele aprendeu diretamente de Deus.


CAPÍTULO V

Para ilustrar esta doutrina, eu proporei estas perguntas:

1. Um crente pode estar consciente da sua tribulação, e ainda assim estar contente?
Sim. Raquel fez bem em lamentar pelas suas crianças que foram mortas, mas a falta dela consistiu em se recusar em ser consolada, e assim, havia descontentamento. O próprio Cristo estava consciente do seu sofrimento quando suou grandes gotas de sangue, e disse, "Pai, se é possível, afaste este cálice de mim", mas ainda assim ele estava contente, e docemente se submeteu à vontade de Deus: "não obstante, não se faça a minha vontade, e sim, a tua.".
O apóstolo nos exorta a nos humilharmos debaixo da poderosa mão de Deus (I Pe 5.6), o que não poderemos fazer, a menos que estejamos sensatos disto.

2. Um crente pode apresentar suas queixas diante de Deus, e ainda estar contente?
Sim. Temos este exemplo em Jeremias: ”Tu pois, ó Senhor dos exércitos, que provas o justo, e vês os pensamentos e o coração, permite que eu veja a tua vingança sobre eles; porque te confiei a minha causa.“ (Jer 20.12).
Davi também derramou a sua reclamação diante de Deus: “Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação.” (Sl 142.2).
Nós podemos chorar na presença de Deus, e desejar que Ele ponha um fim a todas as nossas dificuldades.
Qual é a criança que não reclamará ao seu pai? Quando qualquer fardo estiver no espírito, a oração faz a brecha e isto traz alívio ao coração.
O espírito de Ana estava sobrecarregado. "Eu sou", ela disse, "uma mulher de um espírito triste". Tendo orado agora, e lamentado, ela foi embora, e já não estava triste; e aqui está a diferença entre uma reclamação santa e uma reclamação descontente; no primeiro caso nós reclamamos a Deus, no outro nós reclamamos de Deus.

3. Quais são as coisas que podem acabar com o nosso contentamento?
Há três coisas que podem expulsar a satisfação e que de nenhum modo podem coexistir com ela.

1. A primeira delas é a ansiedade que é uma filha do descontentamento.
“Atende-me, e ouve-me; agitado estou, e ando perplexo,” (Sl 55.2).
Murmurar nada mais é do que um motim no coração; é uma queixa contra a provisão de Deus. Quando o mar estiver agitado ele lançará adiante dele nada mais do que espuma, e quando o coração estiver descontente,  também lançará a espuma da ira, da impaciência, e isto às vezes é apenas um pouco menor do que a blasfêmia.
A murmuração nada mais é do que a espuma fervente, que flui de um coração descontente.

2. Outra causa de extinção do contentamento é a falta de fé, especialmente quando alguém se encontra em dilemas e não se dispõe a orar, meditar etc, tal como um exército, quando é derrotado e colocado em desordem, assim os pensamentos destas pessoas correm para cima e para baixo, e a consequência disto é que se tornam descontentes.

3. Uma postura infantil também exclui o contentamento, porque um espírito desesperado é um espírito descontente. A perturbação de mente leva ao descontrole e faz com que a pessoa comece a desfalecer e a afundar debaixo do peso da sua perturbação.


CAPÍTULO VI

Eu falarei agora sobre a natureza da satisfação. Ela é um doce temperamento de espírito, por meio do qual um crente é levado a se portar do mesmo modo em todas as situações. A natureza do contentamento aparece mais clara nestes três provérbios.

1. A satisfação é uma coisa divina; se torna nossa, não por aquisição, mas por infusão; é um ramo da árvore da vida, que é plantado pelo Espírito de Deus na alma; é um fruto que não cresce no jardim da filosofia, mas cujo nascimento procede de Deus; é então muito observável que a satisfação está unida com a piedade, e ambas entram em associação: "e, de fato, é grande fonte de lucro a piedade com o contentamento.” (I Tim 6.6).
A satisfação é uma consequência da piedade, e vice-versa, conclui-se portanto que não se pode ter ambas sem se estar santificado.
Estou santificado hoje pelo Espírito? A resposta positiva a isto indicará o grau da nossa piedade e contentamento.
Por isso podemos dizer que a satisfação que os pagãos parecem ter é apenas uma pálida sombra desta verdadeira satisfação que procede do céu.

2. A satisfação é uma coisa intrínseca ao homem interior. A satisfação tem a sua fonte na alma. Ela não é o resultado dos confortos externos que alguém tenha, mas dos confortos que procedem do seu próprio interior.
Como a tristeza está assentada no espírito; "O coração conhece a sua própria amargura;” (Pv 14.10), assim a satisfação repousa dentro da alma, e não depende das condições exteriores.
Consequentemente, concluímos que as dificuldades externas não podem impedir esta abençoada satisfação: é uma coisa espiritual, e se eleva a partir de bases espirituais; e da apreensão do amor de Deus.
Quando houver uma tempestade, pode haver música no nosso interior; uma abelha pode picar a pele, mas não pode picar o coração; as aflições externas não podem picar o coração de um crente que descansa na satisfação.
Os ladrões podem nos saquear o nosso dinheiro, mas não esta pérola da satisfação, a menos que estejamos dispostos a nos separar dela, porque isto está preso na parte mais elevada do coração, onde ninguém senão somente o próprio Deus pode acessar.

3. Ainda quanto à sua natureza, podemos dizer que a satisfação é uma coisa habitual, como uma luz que brilha no firmamento da alma. O brilho da  satisfação não aparece somente de vez em quando, como algumas estrelas, que são vistas senão raramente; é um estado de temperamento resolvido do coração. Não é casual mas constante.


CAPÍTULO VII

Tendo falado da natureza da satisfação, eu vou apresentar agora as razões do nosso dever de estarmos satisfeitos.
A primeira é o preceito de Deus. É determinado a nós como um dever:
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb 13.5).
A palavra de Deus é uma autoridade suficiente; e deve ser a estrela que guia, e o peso que move nossa obediência; a vontade dEle é uma lei, e a Sua majestade é suficiente para nos cativar em obediência; e assim nossos corações não devem estar mais inquietos que o mar furioso que é acalmado pela palavra de ordem dEle.
A segunda razão para a nossa obrigação quanto ao dever de estarmos satisfeitos é a promessa de Deus: porque Ele tem dito: "eu nunca te deixarei, nem te desampararei." (Hb 13.5).
Aqui, Deus tem se compromissado conosco quanto a prover nossas necessidades. Veja como Ele tem feito aqui a promessa ao crente, para a sua segurança.
Em tempos de dificuldades Deus disse a Jeremias em relação àqueles que nEle confiavam: “Deixa os teus órfãos, eu os guardarei em vida; e as tuas viúvas confiem em mim.”(Jer 49.11). Isto é muito aplicável aos pais de família que temem empobrecer ou morrerem deixando de prover esposa e filhos. Deus promete que proverá os órfãos e as viúvas. E se Deus tem feito uma promessa a nós Ele jamais deixará de cumpri-la. Que desculpa então teremos para não estarmos contentes, em face da possibilidade da pobreza e da morte?
Seriam os dias difíceis que vivemos uma boa desculpa para o nosso descontentamento?
Como poderia sê-lo se foi o próprio Deus que nos chamou a viver em nossa própria época conforme a Sua infinita sabedoria?
O Deus sábio tem ordenado a nossa condição neste mundo; se Ele quiser que as condições sejam favoráveis à nossa prosperidade, e para que abundemos nela, Ele o fará, e se ao contrário, quiser que as condições trabalhem para que tenhamos  escassez, Ele de igual modo o fará, e devemos ser achados contentes em toda e qualquer condição, porque estamos simplesmente à disposição de Deus.
Deus vê, na Sua infinita sabedoria que a mesma condição não é conveniente para todos; que aquilo que é bom para um, pode ser ruim para outro; uma época de tempo não servirá às ocasiões de todos os homens, uma pessoa precisa de sol, outra de chuva; assim não é prevista prosperidade para todos, nem de igual modo a adversidade.


CAPÍTULO VIII

Agora eu vou mostrar como um crente pode ter uma vida confortável, até mesmo um céu na terra, através da satisfação cristã.
Jesus disse que o conforto da vida não consiste na quantidade de bens que a pessoa possui (Lc 12.15), mas em estar contente com o que tem, de acordo com a provisão de Deus para cada pessoa.
Como dissemos antes, a satisfação reside no coração do homem, e assim o modo de se estar confortável não consiste em ter os nossos celeiros cheios, mas nossas mentes aquietadas.
O descontentamento é um mau humor que seca os cérebros e desperdiça os espíritos, corrói e lança fora o conforto da vida.
O descontentamento não permite que um homem desfrute o que ele possui. Uma só gota de vinagre azedará a taça de vinho inteira. Deixe um homem buscar confortos mundanos, e uma só gota disso amargará e envenenará todo o seu contentamento.
O conforto depende da satisfação. O contentamento é necessário para manter a vida confortável, como o óleo é necessário para que o pavio queime continuamente.
Nós queremos ter conforto em nossa vida? Devemos então lembrar que é a mesma água que pode levar um navio à pique, que faz com que ele flutue. Assim, não é a aflição externa que pode tornar triste a vida de um crente, porque uma mente contente velejaria sobre estas águas.
Todavia, quando há uma brecha no contentamento, a dificuldade entra no coração tal como a água que inunda o navio, e então o coração será afundado pela ansiedade tal como o navio pela água.
Faça então como os marinheiros: bombeie a água para fora e conserte o vazamento espiritual na alma, e nenhuma dificuldade poderá lhe ferir.


CAPÍTULO IX

“1 Ora, falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuchita que este tomara; porquanto tinha tomado uma mulher cuchita.
2 E disseram: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu.”(Nm 12.1,2).

“9 Acaso é pouco para vós que o Deus de Israel vos tenha separado da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de fazerdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estardes perante a congregação para ministrar-lhe,
10 e te fez chegar, e contigo todos os teus irmãos, os filhos de Levi? procurais também o sacerdócio?”(Nm 16.9,10).

Encontramos nestas duas passagens uma reprovação justa àqueles que estavam descontentes com a sua condição.
Esta doença é quase epidêmica. Alguns não estão contentes com a chamada que Deus determinou para eles, e estão buscando um grau mais elevado. Eles querem estar no templo da honra sem ter que passar antes pelo templo da virtude e da aflição.
Por isso Jesus disse para Tiago e João que para terem a elevada honra que eles aspiraram ter no céu, demandaria antes, beberem do mesmo cálice de aflições, que é comum a todos os crentes.
O descontentamento produzido pelo orgulho foi a causa do comportamento de Arão e Miriã contra Moisés, na primeira passagem destacada no início deste capítulo, e de Datã, Coré e Abirão, na segunda.
Os homens costumam reclamar que suas propriedades e posições poderiam ser melhores, mas raramente reclamam da propriedade e posição da condição em que se encontram seus próprios corações, quanto a que poderiam ser melhores.
Poucos aprendem a lição de Paulo. Ricos e pobres podem estar descontentes.
Se os homens ficam pobres, aprendem a ser invejosos; e difamam aqueles que estão acima deles.
A prosperidade dos outros é algo que incomoda muito o olho invejoso.
Quando o candelabro de Deus brilhar no tabernáculo dos seus vizinhos, esta luz lhe ofenderá.
Um olho invejoso é um olho mau.
Eles aprendem a reclamar como se Deus quase nunca tivesse tratado deles.
Os seus desejos são reveladores, porque querem este e aquele conforto, considerando que o maior desejo deles é ter um espírito contente.
Estes, no entanto, estão bem satisfeitos com os seus pecados, contudo não estão contentes com a sua condição.
E se os homens forem ricos, aprendem a ser cobiçosos; tendo uma sede insaciável pelos bens do mundo, e ficam em grande parte cauterizados quanto aos meios injustos que normalmente acompanham a aquisição deles.  Assim, nem pobres, nem ricos sabem estar contentes.


CAPÍTULO X

Não há nenhum pecado que deixe de lutar para se esconder debaixo de alguma máscara; ou, se não pode ser escondido, então se vindicará por alguma desculpa.
Este pecado de descontentamento é muito engenhoso em suas desculpas, e por isso temos que colocá-lo  debaixo desta regra: que o descontentamento é um pecado; de forma que toda apresentação de desculpas para se justificar é apenas a pintura e o  vestido de uma meretriz.
Assim, a primeira e grande desculpa para o descontentamento pode ser a perda de filhos. E quanto a isto podemos dizer o  seguinte:

1. Nós devemos estar contentes, não somente quando Deus dá misericórdias, mas quando Ele as retira. Se nós devemos "em tudo dar graças", (I Tes 5.18) então em nada devemos estar descontentes.

2. Deus sempre pretende que você tenha mais dEle, e não é ele melhor do que dez filhos? Não olhe tanto para uma perda temporal, mas a veja como um ganho espiritual.

3. É duro, e muito triste a perda de filhos, mas lembre-se que seus filhos não são sua propriedade mas lhe foram emprestados.
Não foi somente a Ana que o Senhor deu um filho emprestado, a saber, o profeta Samuel. Todos os filhos são empréstimos de Deus a quem pertence de fato todas as pessoas.
De igual modo, as misericórdias são empréstimos de Deus, e assim caso Deus leve um de nossos filhos para junto de si, para sempre, devemos reconhecer que Ele está usando do Seu direito de tomar de volta aquilo que nos emprestou.
Assim, em vez de permanecermos tristes por Ele ter levado de volta para a Sua casa a alguém que nos emprestou,  devemos ser gratos por ter nos dado um empréstimo tão longo.

4. Por que um crente deveria então ficar descontente para sempre com a perda extrema que é a morte de um filho?
Porque deveria lamentar excessivamente?
"Filhas de Jerusalém não lamenteis por mim, mas lamentai por vós mesmas; " (Lc 23.28).
Se fosse possível, ouviríamos nossos filhos que partiram, nos falando do céu: não lamente por nós que estamos plenamente contentes; repousamos num travesseiro macio, que é o próprio  seio de Cristo. O Príncipe da Paz está nos abraçando e está nos beijando com os beijos dos Seus lábios; assim, não fique triste e nem lamente por nós, mas por vocês mesmos, por estarem ainda num mundo triste pecador.
A segunda desculpa que o descontentamento faz, é: “eu tive uma grande parte de minhas posses estranhamente dissolvida, e meus recursos financeiros começam a faltar.” Nisto devemos considerar que:

1. Deus tem tomado sua propriedade, mas não sua porção. Isto é um paradoxo sagrado, porque honra e propriedade não estão de nenhum modo unidos.
A perda de bens não pode tornar um crente miserável, porque Deus continua sendo a sua porção (Lam 3.24). E isto significa que qualquer perda terrena comparada com esta porção está numa proporção muito superior à de uma perda para mais de um trilhão de ganhos.
Qual é o tamanho de nossas tribulações comparado com o peso da eternidade de glória que nos está reservado? Além disso Deus tem prometido prover seus filhos de todo o necessário para a manutenção de suas vidas. E estas coisas que podem ser perdidas continuarão sendo acrescentadas (Mt 6.33).

2. Entretanto, devemos considerar que riquezas são espinhos (Mt 13.7). E em Sua bondade e misericórdia Deus permitirá que sejamos livrados de muitos destes espinhos para o próprio bem da nossa alma, porque muitas perdas nada mais são do que um ponto final que Deus coloca em nossa idolatria com a criatura, de maneira que possamos reconhecer que é nEle mesmo e na Sua vontade, que encontramos o nosso verdadeiro tesouro.

3. Se nossos recursos são pequenos, contudo Deus pode abençoar o pouco que temos.
“Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados.”(Sl 132.15). Esta é a promessa que é feita por Deus aos crentes fiéis, que permanecem contentes a par de serem poucas as suas provisões.

4. Você prosperou tanto na sua vida espiritual, e seu coração nunca estivera dantes tão disposto para as coisas celestiais, desde que a sua condição neste mundo foi rebaixada, você nunca foi tão pobre de espírito e tão rico em fé como agora, desde que os pesos dos bens terrenos foram arrancados de seu coração por Deus. Fique então contente por ter perdido de uma maneira e ter ganho de outra infinitamente superior.

5. Em suas perdas lembre que apesar de haver em todas elas um sofrimento, mas em todo descontentamento há um pecado, e um pecado é pior que mil sofrimentos.
A terceira desculpa é, estar triste na área de relacionamentos, especialmente onde deveria achar o maior conforto, que é no próprio lar, com o cônjuge e filhos.

1º - Meu filho se encontra em rebelião; eu temo gerar uma criança para o diabo. Realmente é triste pensar, que o inferno deva ser pavimentado com os crânios de quaisquer de nossos filhos; e certamente não há uma aflição maior para uma mãe do que este pensamento, mas ainda aqui, embora você se sinta impotente e humilhada, não deve no entanto estar descontente, porque:

1 - Estes conflitos podem servir para um momento de reflexão de nossas mentes até que ponto temos aplicado os princípios de Deus em nossos lares. Quanto tempo temos gasto com o Senhor em família em nosso cultos domésticos? Quanto Lhe temos honrado neste dever que Ele nos impôs?
Desde que fomos enxertados na oliveira santa, quanto da oliveira brava tem permanecido em nós?  A quantos movimentos do Espírito resistimos diariamente?
Assim lamentemos não apenas pela rebelião de nossos filhos, mas pelas nossas próprias rebeliões e deixemos uma passagem aberta para o arrependimento.
Temos dado a nossos filhos, além do leite material, o genuíno leite da Palavra? Temos temperado os anos tenros de nossos filhos com educação religiosa verdadeira?
Os pais devem apenas guiar seus filhos ao conhecimento do caminho para o céu, e o Espírito de Deus será o imã que puxará os corações deles para o alto.
Mas ainda que nossos  filhos venham a se afastar dos caminhos do Senhor e começarem a trilhar as sendas do diabo, poderoso é o Senhor para cumprir a Sua promessa de fazer converter o coração dos filhos a seus pais (Mal 4.6).

2. A segunda desculpa para falta de contentamento espiritual em Deus e em fazer Sua vontade se encontra num cônjuge que não ama ao Senhor, ou que seja um crente carnal que nos dará muitas picadas na alma para nos entristecer.
Realmente é triste ter que viver com um morto amarrado a nós, contudo ainda que lamentemos pelos pecados dele, não devemos deixar nos dominar pela lamúria de coração com descontentamento. Lamentemos os pecados dele mas não murmuremos. Por que em toda cruz que tenhamos que carregar devemos colocar a sabedoria infinita de Deus no banco dos réus?
Por outro lado, a maldade de nosso cônjuge pode ser usada por Deus em nosso benefício, para que sejamos pessoas melhores. Deus pode usar os pecados de outros para nos aperfeiçoar em nossa santidade, principalmente no fruto do Espírito da longanimidade, bondade, paciência e domínio próprio.
Talvez você não oraria tanto como tem orado caso seu cônjuge não tivesse pecado tanto.
A próxima desculpa para o descontentamento na área de relacionamento geralmente se refere aos amigos, que se mostram infiéis ao laços de amizade.
E de fato é algo triste, quando um amigo prova ser como um riacho no verão (Jó 6.15). O viajante que está abrasado pelo calor, vem para o riacho,  esperando se refrescar, mas o riacho está seco, contudo esteja contente.

1. Você não somente tem outros dos santos por amigos; quando tiver que experimentar a mesma experiência que teve Davi:
“12 Pois não é um inimigo que me afronta, então eu poderia suportá-lo; nem é um adversário que se exalta contra mim, porque dele poderia esconder-me;
13 mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu amigo íntimo.
14 Conservávamos juntos tranquilamente, e em companhia andávamos na casa de Deus.”(Sl 55.12-14).
Cristo foi traído por um amigo.

2. Algumas perdas de determinados “amigos” são na verdade ganhos quando nos é revelado o verdadeiro caráter deles, porque não nos convém ter como amigos íntimos aqueles que não andam nos caminhos de Deus, e esta amizade poderia ter nos custado a nossa própria amizade com Deus.

3. Seu amigo provou ser traiçoeiro? Talvez você tenha depositado muita confiança nele. Se você põe mais peso em uma casa que os pilares possam aguentar, ela certamente ruirá.
É em Deus em quem devemos colocar a nossa confiança.
“Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro; guarda as portas da tua boca daquela que repousa no teu seio.”(Miq 7.5).

4. Você tem um amigo no céu que jamais lhe trairá. Ele é o amigo mais chegado do que um irmão (Pv 18.24). Tal amigo é Deus.
Um amigo pode errar às vezes por ignorância ou por ter se equivocado, e dar o veneno de amigo dele em vez de açúcar; mas Deus tudo sabe e nunca se equivoca. Ele é um amigo fiel às Suas promessas, e Deus não pode mentir.
A próxima desculpa para um eventual descontentamento se refere ao fato de a igreja estar cheia de heresias e impiedade.
Isto realmente é triste; quando o diabo não pode através da violência, destruir a igreja, ele se esforça para envenená-la com o erro e com pecado.
isto pode nos fazer lamentar, mas não murmuremos por descontentamento, porque, considere:
 O erro faz uma descoberta dos homens. O erro revela os homens ruins;  como estragados e corruptos em suas vontades. Ele remove a máscara de um Saul que tenta se mostrar devoto ao povo que ele dirige, dando portanto a este povo a oportunidade de se prevenir e se acautelar dos seus erros.
Quando a lepra aparece na testa, então o leproso é descoberto.
O erro é um bastardo espiritual; o diabo é o pai dele, e o orgulho a mãe. Você nunca conheceu um homem errôneo que não fosse também orgulhoso. Agora, é bom que tais homens sejam colocados à exposição.
As heresias ajudam a revelar os que são aprovados (I Cor 11.19).
O nosso contentamento neste caso reside principalmente no fato de que Deus fará uma grande distinção no porvir, daqueles que permaneceram fiéis a Ele e à verdade, em meio à perseguição do erro.
E o combate ao erro ajuda a trazer à luz o conteúdo da verdade. E isto é visto em vários períodos da história da Igreja.
O erro nos faz mais gratos a Deus pela jóia da verdade. Quando vemos tantos com a infecção produzida neles pelas heresias, enquanto permanecemos saudáveis, por causa da verdade.


CAPÍTULO  XI

Os Motivos Divinos para a Satisfação

1. A satisfação é uma flor que não cresce em qualquer jardim.
O contentamento é um remédio contra todas as nossas dificuldades, um alívio para todos os nossos fardos, é a cura de todos os cuidados. O contentamento não é no entanto uma graça (é apenas uma disposição de mente) contudo há nele uma atmosfera e uma mistura de todas as graças. É uma combinação preciosa que é composta de fé, paciência, mansidão, humildade, etc, que são os ingredientes que são encontrados nele.  Agora, há estas sete formas de excelências raras na satisfação:

1º - Um crente contente carrega o céu sobre ele. As primícias do céu estão no contentamento. Há duas coisas num espírito contente que lhe faz ser como o céu.

(1) Deus está lá; algo de Deus será visto naquele coração. Um crente descontente é como um mar tempestuoso; quando a água fica turva e você não pode ver nada lá; mas quando for calmo e sereno, então você pode ver sua face na água.

(2) O descanso está lá. Um crente contente é igual a Noé na arca; embora a arca fosse lançada com ondas, Noé poderia sentar-se e cantar nela. A alma que entrou na arca da satisfação, senta-se quieta, e veleja acima de todas as ondas de dificuldade; e pode cantar nesta arca espiritual.

2º - Tudo que está faltando à criatura faz as pazes na satisfação. É isto que faz um crente ficar contente na ausência de confortos externos.
O crente pode ser pobre no bolso, mas ser rico em promessa.
Há uma doce promessa que traz uma doce satisfação à alma:
“Os leõezinhos necessitam e sofrem fome, mas àqueles que buscam ao Senhor, bem algum lhes faltará.”(Sl 34.10).
Esta promessa é para aqueles que se agradam do Senhor e da Sua vontade, pois esta é a única forma lícita de buscá-lO que é reconhecida por Ele, a saber a alma que se deleita nEle e se dispõe a obedecê-lO, pelo desejo de honrá-lO.

3º - A satisfação torna o crente habilitado para servir a Deus; e lubrifica as rodas da alma e a torna mais ágil e fervorosa; ela move o coração, e o torna ajustado à oração, meditação, etc.
Como pode aquele que se encontra abalado pela aflição ou descontente, aplicar-se à vontade de Deus sem distração?
Como pode uma pessoa descontente com a sua condição alegrar-se no Senhor e ser-lhe grata sempre e por tudo?

4º - A satisfação é o arco espiritual, ou coluna da alma; que capacita o crente a aguentar fardos.

5º - A satisfação previne muitos pecados e tentações.
Especialmente o pecado da impaciência. E a Impaciência não é nenhum pequeno pecado. A Impaciência é filha da infidelidade. Por isso a fidelidade é própria ao amor, porque o amor é paciente. E por amor a Deus, e tomados pelo Seu amor, somos pacientes. E é a paciência do amor que nos faz suportar qualquer golpe que venhamos a sofrer.
A impaciência conduz à murmuração, e esta é a música do diabo; ela é aquele pecado que Deus não pode aguentar: "Até quando sofrerei esta má congregação, que murmura contra mim? tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, que eles fazem contra mim.” (Nm 14.27). Este pecado da murmuração desperta a ira de Deus e traz os Seus juízos sobre nós (I Cor 10.10). Então quão importante é o contentamento, porque previne este pecado.
Satanás tira proveito do descontentamento. Ele gosta de pescar nestas águas preocupadas. O descontentamento debilita a fé e faz uma brecha na alma, e é geralmente por esta brecha que o diabo entra com suas tentações.
Como no pecado original o diabo sugerirá que nos apropriemos de qualquer maneira das coisas cuja falta está nos deixando descontentes, disfarçando estar solidário ao nosso sofrimento, independentemente se isto que faremos contrariará ou não a vontade de Deus.

6º - A satisfação adocica todas as condições difíceis.
Cristo transformou a água em vinho; assim a satisfação transforma as águas amargas de Mara em vinho espiritual.

7º - A satisfação é o melhor avaliador dos atos da Providência; porque faz uma justa interpretação de todos os procedimentos de Deus.

2. O segundo argumento para a satisfação é que Deus mesmo nos tem ordenado isto. E o que Deus nos tem determinado é o próprio Cristo. Nele há riquezas insondáveis (Ef 3.8). E estar efetivamente absorvido nas graças do Espírito não é bastante para dar satisfação?
A graça é a flor do paraíso divino, é o ornamento do Espírito, é a semente de Deus, é a unção sagrada e é a arte do retratista na alma, e é o próprio fundamento no qual a superestrutura da glória é posta. De que valor infinito é a graça!
  As riquezas terrenas, disse Agostinho, estão cheias de pobreza, porque não podem realmente enriquecer a alma. E as riquezas deste mundo não perdurarão para sempre. Se o crente é rico para com Deus (Lc 12.21) por que então você está descontente?

3 - O terceiro argumento para a satisfação é em prol das nossas orações, porque de outro modo como elas seriam ouvidas por Deus?

4 – O quarto argumento para a satisfação é que por ela Deus submete a Satanás e os seus argumentos que os homens não podem amar a Deus contentando-se com as porções de provações que Ele lhes tem destinado, tal como o diabo fizera em relação a Jó, afirmando que ele servia e amava a Deus por puro interesse, e que lhe blasfemaria na face caso retirasse dele todos os bens que lhe havia dado.
Assim, pelo nosso contentamento em todas as circunstâncias, honramos a Deus e envergonhamos o diabo.

5 – O quinto argumento para a satisfação em todas as circunstâncias, é que ela nos dispõe à humildade. E pelas aflições aprendemos a humildade. Jesus é o lírio dos vales que mora no coração humilde. Deus nos leva ao vale das lágrimas para que possamos chegar ao vale da humildade.
E as aflições nos ensinam a orar melhor. O arrependimento é o fruto precioso que cresce na cruz. E por isso a aflição é a pedra de toque da sinceridade. E se as aflições nos fazem nos aproximar mais de Deus, por que eu deveria estar descontente quando eu tenho mais da companhia de Deus?
Se você está descontente porque você não tem tudo que você gostaria de ter, deixe-me lhe falar: ou sua fé é uma nulidade, ou melhor, apenas um embrião; e é uma fé fraca que tem que ter muletas para se apoiar para poder andar.
A humildade e mansidão representadas na forma de pomba que o Espírito Santo assumiu no batismo de Cristo nos ensinam que o descontentamento conduz à ingratidão, e o descontente não tem um espírito manso e submisso, nem mesmo relativamente a Deus. E torna os homens mais semelhantes ao diabo do que a Deus, porque o diabo está inchado com o veneno do orgulho, da inveja e da malícia, e nunca está contente.
E o descontentamento não nos alivia de nosso fardo, mas torna a cruz mais pesada. Um espírito contente prossegue feliz debaixo de sua aflição, mas o descontentamento torna nossa aflição insuportável e irracional.
O descontentamento nos aborrece mais do que a própria dificuldade.
Não é procurando satisfazer todos os desejos de uma pessoa que Deus tirará o descontentamento dela porque é da natureza humana desejar sempre mais e mais. Então Deus lhe traz aflições para desmamá-la do mundo, e remover os seus desejos supérfluos que a conduzem ao descontentamento.
 Com isto, vemos claramente quão anti-bíblica é a doutrina que afirma que a fé genuína é aquela que leva Deus a satisfazer todos os nossos sonhos e desejos. Assim o modo de tornar um homem contente não é aumentando as suas posses e bens, mas rebaixando o seu coração.

6 – Um sexto argumento para a satisfação é a brevidade da vida (Tg 4.14).
A consideração da brevidade da vida pode produzir a satisfação no coração. Por que deveríamos investir tanto em tesouros terrenos quando sabemos que não poderemos desfrutar por muito tempo deles, e que de modo algum poderemos levá-los conosco para o céu?

7 – Um sétimo argumento para a satisfação mesmo em condições de escassez é que há  também nas condições de prosperidade abundante muitos cuidados e tentações como passarei a descrever:

a) Numa condição próspera há mais dificuldades para ter contentamento na alma e priorizar as coisas espirituais, celestiais e eternas.
Pensamentos tristes costumam acompanhar frequentemente uma condição próspera.
O cuidado e os espíritos malignos assombrarão o homem rico, e não lhe deixarão estar sossegado.
Quando o seu cofre estiver cheio de ouro, o seu coração estará cheio de cuidados, tanto para administrar sua riqueza, quanto para aumentá-la.

b) Numa condição próspera há mais perigos, primeiro em relação ao ego da pessoa, pois a mesa do rico é uma armadilha para ele, e pode fazer com que seja tentado a glutonarias e bebedices.
Assim, se exige muito domínio próprio e sabedoria daquele que é rico para que não viva imoderadamente.
Mas o maior perigo consiste na tentação de se ter sede de honra, temor de ter a dignidade ferida, o desejo extremo de segurança que leva ao cuidado exagerado consigo mesmo, a inclinação mais acentuada para o orgulho e para a rebelião contra a vontade de Deus.
“E Jesurum, engordando, recalcitrou (tu engordaste, tu te engrossaste e te cevaste); então abandonou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.”(Dt 32.15).
Esta palavra de Deuteronômio foi dirigida por Deus ao seu próprio povo de Israel, que Lhe abandonou quando entrou em grande prosperidade. Assim, é possível ser um crente e continuar envolvido com o serviço de Deus e ao mesmo tempo abandoná-lO, por não andar mais conforme os Seus mandamentos e humildemente na Sua presença, por causa da elevação do coração que se corrompeu com a prosperidade.
Quantos têm sido quebrados pelo travesseiro macio da facilidade!
A prosperidade é uma trombeta que soa tocando o toque de retirada e faz com que o exército de crentes bata em retirada deixando para trás a perseguição que vinham fazendo à verdadeira religião, com o intuito de agradarem e honrarem a Deus, vivendo para fazer a Sua vontade. Por isso o desejo de ser rico é uma armadilha.
“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”(I Tim 6.9,10).

c) Numa condição próspera há um aumento da responsabilidade diante de Deus pelo uso dos dons que logramos alcançar neste mundo, pois o homem próspero prestará uma conta maior a Deus no dia do Juízo pelos muitos talentos que recebeu. Por isso se ordena aos ricos que também abundem em boas obras, e que empreguem suas riquezas para a glória de Deus.
“17 manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas gozarmos;
18 que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos,
19 entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.” (I Tim 6.17-19).
Deste modo, os que sonham com prosperidade devem ter em conta todas estas verdades, e estarem conscientes, que quanto maior for nossa propriedade, maior é o nosso custo; que quanto maiores as nossas rendas, maiores serão as nossas contas, e o principal de tudo, sabermos que mais se pedirá no dia do Juízo a quem muito foi dado.
Estejamos então dispostos a termos menos do mundo, para podermos ter mais de Cristo.
É algo para se lamentar vermos pagãos dando suas vidas por uma causa terrena na qual eles acreditam piamente, ao mesmo tempo que vemos crentes pasmados e intimidados pelas dificuldades, fingindo viver por fé, enquanto exibem abertamente o seu descontentamento.

8 – Um oitavo argumento para a satisfação no meio das dificuldades é que estas serão todo o inferno que um crente terá que experimentar, pois em sua união com Cristo foi livrado definitivamente da condenação eterna no inferno de fogo. E isto não é algo para ser celebrado contínua e diariamente? Não é motivo suficiente para o nosso contentamento em Deus?


CAPÍTULO  XII

Certamente esta doutrina de estar contente em toda e qualquer situação é uma doutrina que se aplica exclusivamente aos crentes, porque os incrédulos não devem estar contentes com o que eles têm enquanto não encontrarem a salvação em Cristo Jesus, pois como poderia alguém ter motivos para um verdadeiro e permanente contentamento em Deus sabendo que permanece debaixo da Sua ira, e que depois da morte será sujeitado a uma terrível condenação no inferno por toda a eternidade?
E os próprios crentes devem considerar que apesar do dever de estarem contentes em todo o tempo, conforme é da vontade de Deus, não é apropriado que se contentem tendo pouca graça divina em si mesmos. A graça é a maior e a melhor bênção. Embora devamos estar contentes em relação às nossas condições externas e particularmente em relação às nossas propriedades, não devemos no entanto estar em relação à graça, que devemos sempre buscar mais e mais. Quanto mais graça tivermos, mais humildes seremos. Maior será o nosso amor a Deus e ao próximo, e a graça não traz em si qualquer tentação que possa nos prejudicar. E nunca pensemos que já temos graça suficiente, e por isso é bom fixarmos que como o próprio Deus ela é infinita, e diferentemente dos bens terrenos, que passam e passarão, ela prosseguirá conosco por toda a eternidade.
E nisto devemos seguir o exemplo de Paulo:
“13 Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante,
14 prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.13,14).
Um crente verdadeiro é uma maravilha; ele é o mais contente, e ainda o menos satisfeito; ele está contente com um bocado de pão, mas nunca satisfeito quanto à graça, porque ele a deseja sempre em maior medida.
Um crente verdadeiro cresce em força quando se submete ao trabalho da graça. Ele cresce tal como a árvore, que mais e mais esparrama sua raiz na terra.
O crente é uma planta divina, que quanto mais cresce, mais se incorpora em Cristo, bebendo da seiva espiritual dEle.
Um crente contente com as suas condições terrenas, mas que é sedento da justiça do reino de Deus e da Sua graça, é um anão quanto à humildade, mas um gigante em força e doçura, e será forte na realização dos seus deveres, suportará fardos e resistirá às tentações.
Realmente, às vezes a graça pode estar dormindo na alma, assim como a seiva na videira, não mostrando seu vigor, em frutificação, o que pode ser ocasionado por indolência espiritual ou por causa de algum pecado, mas isto é somente por algum tempo: a primavera da graça virá e as flores aparecerão e logo depois surgirão os frutos espirituais esperados e desejados por Deus. Por isso todo verdadeiro crente aspirará pela primavera divina, em seus invernos espirituais.
Um crente verdadeiro cultiva a graça em todos os seus variados tipos e graus, como vemos no dizer do apóstolo Pedro:
“5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência,
6 e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,
7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.” (II Pe 1.5-8).
O crente é comparado à videira porque ela é um emblema de fertilidade, que se carrega de frutos mesmo depois de ter vivido por séculos. O crente é chamado por Deus a dar frutos ainda na sua velhice:
“12 Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro no Líbano.
13 Estão plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus.
14 Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes,”(Sl 92.12-14).


CAPÍTULO  XIII

Vejamos agora as principais características de quem tem crescido no aprendizado da arte do contentamento.
Um espírito contente é um espírito silencioso; ele não tem nenhuma palavra para dizer contra Deus.
“Emudecido estou, não abro a minha boca; pois tu és que agiste,” (Sl 39.9).
Há um silencio pecaminoso quando Deus é desonrado, e a Sua verdade ferida, e os homens preservam a paz deles. Este silêncio é um grande pecado, mas há um silêncio santo, quando a alma se assenta quieta e sossegada quanto à sua condição perante Deus.
Um espírito contente é um espírito alegre. A satisfação é algo mais do que paciência porque a paciência denota somente submissão, mas a satisfação denota alegria. Um crente contente é muito mais que passivo, ele não somente suporta a cruz, mas carrega a cruz. Ele vê Deus como o Deus Sábio e Soberano que é de fato, e assim tudo o que Ele faz é bom.
Por isso Paulo dizia sentir prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo (II Cor 12.10), pois não somente se submetia aos procedimentos de Deus, como se alegrava neles.
Um espírito contente é um espírito grato, e um coração grato vê misericórdia em todas as condições. Uns são abençoados pela prosperidade e outros pelas aflições. Deus sabe fazer o uso correto destas medidas para o bem dos Seus filhos.
Um crente contente, enquanto debaixo da autoridade da Palavra, deseja estar completamente à disposição de Deus, e fica desejoso de viver naquela condição que Deus o colocou.
Um crente contente, quando busca resolver os seus problemas não perderá a sua paz e não permitirá que a solução seja dada mediante o uso de qualquer prática pecaminosa, pois tem a firme convicção de que a Providência divina vai adiante dele e dos seus problemas.
Um crente contente não se moverá até que veja que Deus abriu a porta. Ele esperará pacientemente no Senhor pela solução que lhe será enviada do alto e se moverá em todo empenho e esforço somente depois de ter recebido este sinal da parte de Deus.

CAPÍTULO  XIV

Vejamos agora as diretrizes ou regras, pelas quais um crente pode atingir esta arte divina do contentamento santo.

Regra 1 – Todas as nossas inquietações estão associadas à incredulidade, isto é, à falta de fé que Deus esteja de fato conosco no meio de nossas aflições, procurando trabalhar em nós através delas. E é isto que levanta a tempestade de descontentamento no coração. Assim, a primeira regra para o contentamento é pedir ao Senhor que aumente e aperfeiçoe a nossa fé nEle.
A fé opera no coração uma doce compostura serena. A fé repreende a paixão, e quando a razão começar a afundar, deixe a fé nadar.

Como a fé opera a satisfação?

1. A fé mostra à alma que quaisquer das suas provações ainda são provindas da mão de um pai; realmente é um cálice amargo, mas eu não "beberei o cálice que meu Pai tem-me dado a beber?".
Deus me corrige com o mesmo amor que ele me coroa; Deus está me treinando agora para o céu. Estes sofrimentos produzem paciência, humildade, até mesmo os frutos pacíficos de justiça (Hb 12.11).

2. A fé é quem prova o mel da satisfação que é retirado da colmeia da promessa. A fé eleva a alma, e lhe faz aspirar as delícias do mundo de justiça ainda por vir.

Regra 2 – Em qualquer situação em que estivermos vivendo, seja agradável ou não, saibamos e digamos que o Senhor é o nosso Deus e não somente nada nos faltará como podemos estar certos de que Ele sempre cuidará de nós, porque é completamente digno de toda a nossa confiança.
Em qualquer condição em que estivermos, nunca devemos ter medo de dizer que o Senhor é o nosso Deus, pois se tivermos medo em afirmá-lo e não estarmos contentes, isto será uma vergonha.

Regra 3 - Adquira um espírito humilde. O homem humilde é o homem contente; se as suas posses são baixas, o seu coração é mais baixo que as suas posses, então esteja contente.
Se a estima dele no mundo é baixa, ele se faz nada aos seus próprios olhos e não ficará aborrecido por ter uma baixa estima aos olhos de outros.
Ele tem uma opinião pior dele, do que outros possam ter, porque o  homem verdadeiramente humilde estuda a sua própria indignidade; e não se considera digno das misericórdias de Deus, e pode dizer com Paulo, que é o principal dos pecadores. Ele sabe que foi pela exclusiva misericórdia de Deus que foi adotado como Seu filho e livrado do inferno, e por esse motivo, está sempre contente.
Ele não diz que os seus confortos são pequenos, mas que os seus pecados são grandes.

Regra 4 - Mantenha uma consciência pura. A satisfação é o maná que é posto no interior da arca de uma boa consciência.
A nossa alegria é o testemunho de uma boa consciência:
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que em santidade e sinceridade de Deus, não em sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e mormente em relação a vós.” (II Cor 1.12).
Mantenha a consciência limpa e você nunca terá falta de satisfação, porque uma consciência boa deixa toda culpa do lado de fora.

Regra 5 - Aprenda a negar a si mesmo. Olhe bem seus afetos irregulares e orgulho e faça duas coisas: mortifique seus desejos e modere seus apetites.
Não fixe seu coração em nenhuma criatura. Não ligue sua alma a nenhum ser da criação visível, pois todos são passageiros. Faça como Paulo: “não atentando nós nas coisas que se veem, mas sim nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, enquanto as que se não veem são eternas.” (II Cor 4.18).

Regra 6 – Encha do céu o seu coração. Coisas espirituais satisfazem; e quanto mais houver do céu em nós, menos o mundo terá de nós. Para aquele que  tem provado o amor de Deus sendo derramado em seu coração pelo Espírito,  por estar vivendo de modo que Lhe seja agradável, nunca mais terá sede das coisas deste mundo, porque tem a jorrar dentro de si uma fonte para a vida eterna.

Regra 7 - Não olhe tanto o lado escuro de sua condição, senão debaixo da luz. Lembre-se que há um lado imenso e claro para ser visto além do lado escuro que está diante de você. Concentre-se nas coisas que são do alto e não nas que são daqui da terra.
“1 Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
2 Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;
3 porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.”(Col 3.1-3).

Regra 8 - Considere a posição em que nós fomos colocados por Deus como crentes aqui neste mundo:  estamos numa condição militar; somos  soldados (2 Tim 2.3) e um soldado está contente com qualquer coisa, ainda que tenha que estar afastado da sua casa confortável, da sua rica mobília, da sua cama macia, e de todos os bens que teve que deixar para trás para poder servir aos interesses do seu país. Muito mais fundas razões tem o crente para tudo deixar, não estando apegado a nada deste mundo, para poder servir aos interesses da sua pátria celestial e do general dela que é Cristo.
Entretanto a causa da batalha em que o crente está empenhado é perfeitamente justa, e ele luta por uma coroa, e como não estaria contente com isto?

Regra 9 - Não deixe sua esperança depender destas coisas externas. Não funde sua casa em alicerces arenosos; não devemos construir o nosso conforto num amigo ou propriedade, porque quando este suporte for afastado, toda a nossa alegria terá ido embora.
A base da satisfação deve estar dentro de nós mesmos e nunca em nenhuma coisa exterior ou pessoas. Isto é uma transação exclusiva entre a nossa alma e o Senhor. E até mesmo na comunhão que temos com os nossos irmãos em Cristo, é nEle que devemos nos gloriar e alegrar, por Ele estar promovendo isto para o nosso bem. Porque se os bens ou amigos vierem a faltar ou falhar, continuaremos tendo sempre no Senhor um amigo fiel.
Qualquer aliança neste mundo pode ser rompida, mas a que Deus fez conosco por meio de Jesus Cristo jamais será desfeita. E é nisto que deve residir o motivo do nosso contentamento.

Regra 10 – Quando estiver na aflição compare as bênçãos e vitórias com as perdas e tribulações que tem experimentado neste mundo, e você verá que são muito maiores as bênçãos e que as tribulações são leves e momentâneas se forem comparadas ao peso eterno da glória da qual fomos chamados a participar em Jesus Cristo. Isto nos ajudará a sermos pacientes na nossa presente tribulação, por sabermos que o mesmo Deus que nos ajudou e nos livrou dantes, também o fará agora.

Regra 11 - Não traga sua condição à sua mente, mas traga sua mente à sua condição. Isto significa que você não deve ficar absorvido pelo problema com o peso dele no seu coração, mas deixe ele estar no lugar em que se encontra e mantenha a paz da sua mente em Cristo Jesus, enquanto espera nEle a solução direta do problema ou a direção que deve seguir para resolvê-lo.

Regra 12 – Estude e reflita sobre a vaidade da criatura. Não importa se nós temos menos ou mais destas coisas, elas têm a vaidade escrita na fachada delas; e a aparência do mundo passa. Portanto, não devemos estar descontentes por causa daquilo que é passageiro e que de modo nenhum poderemos levar conosco quando formos convocados por Deus à eternidade.

Regra 13 - Não faça favorecimentos à carne (natureza terrena). Nós prestamos um juramento no batismo de crucificar a carne. A carne é uma inimiga pior que o diabo, é um traidor; um inimigo que vive dentro do nosso próprio seio.

Se não houvesse nenhum diabo para nos tentar, a carne seria uma outra Eva para nos tentar a comer o fruto proibido. A carne deve ser mortificada para que possamos experimentar o verdadeiro contentamento.

Regra 14 - Medite muito na glória ainda por ser revelada. Lembremos que somos peregrinos e forasteiros neste mundo, e brevemente estaremos com Cristo no céu, onde já não haverá mais tristeza nem dor. Isto deve servir para o nosso contentamento quando estivermos passando por provações, sabendo que ainda que elas continuem nos fazendo sofrer neste mundo, há um tempo determinado para sermos definitivamente livrados delas.

Regra 15 - Seja perseverante na oração. Ore para que Deus não lhe deixe cair em tentação. Que lhe livre do mal. E quando a tribulação chegar intensifique suas orações, sabendo que um dos maiores propósitos das aflições é o de nos ensinar a orar e a depender de Deus.
É através da oração que devemos fazer o que nos é ordenado pelo apóstolo Pedro: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (I Pe 5.7). E disto também falou o apóstolo Tiago: “Está aflito alguém entre vós? Ore.” (Tg 5.13).
Certamente, ambos tinham em vista com isto que não perdêssemos nossa paz de mente em meio às nossas aflições, de modo a podermos continuar contentes no Senhor em toda e qualquer situação, através do consolo eficaz que dEle recebemos através das nossas orações.

CAPÍTULO  XV

Gostaríamos de deixar registrada uma palavra final de encorajamento para o crente contente.
Se há um céu na terra, você é este céu.
Lembre sempre que quando a graça estiver lhe coroando não é tanto para você ficar contente, mas para confirmar a sua aprovação nas tentações, nas agonias, nas cruzes que tem que carregar. E é esta aprovação divina a causa do seu contentamento.
Deus irá recompensar o crente contente, que como Paulo, aprendeu a viver contente em toda e qualquer circunstância, nunca deixando de fazer a vontade do Seu Senhor, e dando-Lhe a prova de um testemunho vivo de estar satisfeito com a porção que tem recebido de Deus neste mundo.
Um crente contente é um crente fiel, e ao crente fiel Deus tem feito a promessa de conduzi-lo a um grau cada vez maior de santidade, e de honra, e de bênçãos, enquanto prossegue para o alvo da perfeição cristã no seu combate contra os poderes das trevas, contra a carne e contra o mundo.

O prazer que um crente sente no Senhor, em ser-Lhe fiel a toda a Sua vontade, jamais deixará de ser recompensado por Ele, e o Senhor fará isto, principalmente, colocando contentamento no seu coração em todas as circunstâncias.



Provérbios 16

“1 Ao homem pertencem os planos do coração; mas a resposta da língua é do Senhor.
2 Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos; mas o Senhor pesa os espíritos.
3 Entrega ao Senhor as tuas obras, e teus desígnios serão estabelecidos.
4 O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.
5 Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; certamente não ficará impune.
6 Pela misericórdia e pela verdade expia-se a iniquidade; e pelo temor do Senhor os homens se desviam do mal.
7 Quando os caminhos do homem agradam ao Senhor, faz que até os seus inimigos tenham paz com ele.
8 Melhor é o pouco com justiça, do que grandes rendas com injustiça.
9 O coração do homem propõe o seu caminho; mas o Senhor lhe dirige os passos.
10 Nos lábios do rei acham-se oráculos; em juízo a sua boca não prevarica.
11 O peso e a balança justos são do Senhor; obra sua são todos os pesos da bolsa.
12 Abominação é para os reis o praticarem a impiedade; porque com justiça se estabelece o trono.
13 Lábios justos são o prazer dos reis; e eles amam aquele que fala coisas retas.
14 O furor do rei é mensageiro da morte; mas o homem sábio o aplacará.
15 Na luz do semblante do rei está a vida; e o seu favor é como a nuvem de chuva serôdia.
16 Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! e quanto mais excelente é escolher o entendimento do que a prata!
17 A estrada dos retos desvia-se do mal; o que guarda o seu caminho preserva a sua vida.
18 A soberba precede a destruição, e a altivez do espírito precede a queda.
19 Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos.
20 O que atenta prudentemente para a palavra prosperará; e feliz é aquele que confia no Senhor.
21 O sábio de coração será chamado prudente; e a doçura dos lábios aumenta o saber.
22 O entendimento, para aquele que o possui, é uma fonte de vida, porém a estultícia é o castigo dos insensatos.
23 O coração do sábio instrui a sua boca, e aumenta o saber nos seus lábios.
24 Palavras suaves são como favos de mel, doçura para a alma e saúde para o corpo.
25 Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte.
26 O apetite do trabalhador trabalha por ele, porque a sua fome o incita a isso.
27 O homem vil suscita o mal; e nos seus lábios há como que um fogo ardente.
28 O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos.
29 O homem violento alicia o seu vizinho, e guia-o por um caminho que não é bom.
30 Quando fecha os olhos fá-lo para maquinar perversidades; quando morde os lábios, efetua o mal.
31 Coroa de honra são as cãs, a qual se obtém no caminho da justiça.
32 Melhor é o longânimo do que o valente; e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade.
33 A sorte se lança no regaço; mas do Senhor procede toda a disposição dela.”

O verso 32 fala da excelência da longanimidade, e estamos apresentando a seguir um estudo sobre longanimidade.

Longanimidade é Fruto do Espírito e não Obra da Lei

"19 Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir,  tardio para falar e tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas." (Tiago 1.19-21)

O Tiago, autor da epístola que leva o seu nome, era também filho de Maria, e irmão de Jesus, e certamente ele viu desde há muito o exemplo de mansidão  e de longanimidade que se encontravam em Jesus, apesar de ter sido dado a  Ele pelo Pai toda autoridade no céu e na terra para julgar. Ele é  o  Senhor  da ira contra o pecado, o Cordeiro que manifestará a Sua ira no tempo do  fim, conforme vemos em Apocalipse, mas que ao mesmo tempo é manso  e  humilde de coração; e totalmente longânimo (tardio em se irar).
Não podemos medir a nossa ira pela ira de Deus, porque a  ira  do  Senhor é perfeitamente justa e santa, e é Ele que tem o poder de julgar as  consciências humanas e executar uma sentença de condenação sobre elas.  A  nós,  não foi dada tal autoridade, ao contrário, somos ordenados a não passar este tipo de juízo condenatório definitivo nos outros, para que não sejamos  julgados com a mesma medida que julgamos. E quão difícil e delicado é viver isto.
Por isso devemos examinar este assunto nas Escrituras, para podermos aplicar em nossas vidas a vontade de Deus quanto à diferença que há  entre  uma ira justificada e santa, e uma ira não justificada e não santa.
Lembremos que Moisés não estava em rebelião contra Deus, mas o povo de Israel sim, e murmuraram contra Ele. Mas quando Moisés  descarregou  a  sua ira contra eles em Refidim, quem foi julgado por Deus naquela ocasião foi o próprio Moisés, e não eles. A Moisés, o ter se irado contra eles  e  batido  na rocha, custou ser proibido de entrar em Canaã, ainda que tivesse  insistido com o Senhor para entrar na terra prometida. Moisés não foi julgado pelo Senhor porque se irou contra o pecado dos israelitas, porque  a  sua  ira era justificada e santa, mas porque não conteve a sua ira, quando Deus não estava exercendo nenhum juízo sobre eles, e portanto cabia-lhe seguir o  exemplo do Senhor naquela situação. Se tivesse de passar algum juízo,  ele  deveria passar o juízo determinado por Deus, e não agir pela própria  conta.  Há  um grande ensino para nós naquele incidente. O que faltou a Moisés foi longanimidade. Veja que problema é isto quando ela falta aos líderes da  Igreja  de Cristo. Se nós formos perder a nossa tranquilidade de mente por causa do pecado de alguns crentes da nossa Igreja ou de outras, nós nunca poderemos ter paz com Deus, porque o diabo sempre usará isto contra nós.  É  preciso  pois ser sempre longânimos, porque sempre haverá o joio entre nós.
É preciso pois aprender do mesmo exemplo de longanimidade de  Cristo  e  dos apóstolos, especialmente os líderes do povo de Deus, para que não venhamos a destruir a obra que Ele nos tem designado para dirigir, por causa de um destemperamento que não nos permita sermos longânimos para com todos, conforme é necessário, para que em meio a todas as dificuldades que venhamos a encontrar no caminho no nosso relacionamento com as pessoas que Deus tem colocado debaixo do nosso cuidado, especialmente para que aquelas dificuldades criadas por Satanás, não venham a pôr a obra do Senhor a perder,  por  falta  da nossa longanimidade.
Por isso se ordena que a exortação pastoral seja feita segundo  a  doutrina, mas também com longanimidade: "prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende,  exorta, com toda longanimidade e doutrina." (II Tim 4.2).
Para tanto o apóstolo Paulo destaca o seu próprio exemplo  de  longanimidade para ser seguido pelos líderes:
"Tu, porém, tens observado a minha  doutrina, procedimento,  intenção,  fé, longanimidade, amor, perseverança," (II Tim 3.10).
E não somente aos líderes, como também a todos os crentes, ele afirma a  necessidade de serem longânimos para com todos:
"com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns  aos outros em amor," (Ef 4.2).
"corroborados com toda a fortaleza, segundo o poder da sua glória, para toda a perseverança e longanimidade com gozo;" (Col 1.11).
"Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de  coração  compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade," (Col 3.12).
A longanimidade é portanto uma atitude pessoal de não se irar com facilidade e rapidamente em relação aos outros.
Portanto, ao tratarmos de assuntos como a ira de Deus, que  é  um  dos Seus atributos, sobre assuntos relativos ao Seu juízo, e ao inferno, não  devemos esquecer de que Deus é longânimo, e que por isso, muitas vezes retarda o Seu juízo, dá oportunidades imensas aos Seus inimigos para se arrependerem, suporta com muita longanimidade as iniquidades dos vasos de ira, e não se permite ter qualquer perturbação de mente por causa das transgressões deles.  E é particularmente neste aspecto que Jesus nos chama a imitar o  Seu  próprio exemplo de mansidão e humildade, que são a base da sua completa longanimidade. De outra forma, por exemplo, como o próprio apóstolo Paulo poderia  ter sido salvo, a não ser pela completa longanimidade de Jesus, da qual ele  dá testemunho em I Tim 1.16, porque afinal foi perseguidor da Igreja  antes da sua conversão. Ele afirma ser o principal dos pecadores por causa desta perseguição da Igreja, ao qual Jesus demonstrou que é de fato totalmente longânimo, porque de outra forma não lhe teria perdoado e teria executado  o Seu juízo sobre ele desde há muito. Mas como é paciente na expectativa de que o pecador se arrependa e se converta, ele pôde ser  salvo,  assim  como  todos aqueles que têm sido alvo da longanimidade de Deus, porque não foi longânimo somente para com ele, Paulo, mas é para com todos os pecadores.
"mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim,  o  principal,  Cristo  Jesus mostrasse toda a sua longanimidade, a fim de que eu servisse de  exemplo aos que haviam de crer nele para a vida eterna." (I Tim 1.16).
Por isso é preciso ter cuidado para não esquecermos que  Deus  é  longânimo, especialmente quando pregamos temas sobre a Sua  ira  e  juízos,  ou  quando exercemos a disciplina na Igreja, porque Deus permanece  longânimo,  misericordioso e amoroso,apesar de ser terrível a Sua ira e  de  ser poderoso  em Seus juízos, e é por isso que somente Ele pode julgar com perfeita  justiça, porque ao julgar não deixa de ser longânimo e misericordioso.
Quando Horatius Bonar, o biografista do grande Robert  Murray  McCheyne  lhe disse que havia pregado um sermão denso sobre o inferno, este lhe  perguntou se o havia feito com lágrimas em seus olhos. A pergunta de McCheyne é  muito apropriada e é um alerta para todos nós, no sentido de nunca esquecermos  ao lidarmos com o assunto da ira divina, que Deus é perfeitamente longânimo,  e nunca perde a tranquilidade de mente ao tratar com os pecadores, coisa  que faríamos bem em lembrar. Ele é tardio em se irar (longânimo), e somos  exortados a imitar o Seu próprio exemplo de longanimidade, conforme nos ordena a Palavra, lembrando-nos que a nossa ira não pode produzir de modo algum aquilo que seja justo diante dos olhos de Deus (Tg 1.19,20).
É de fato algo terrível quando contemplamos o pecado em nós mesmos e nos outros, e uma ira contra o pecado nunca é uma ira  injustificada,  mas quando perdemos a paciência e partimos logo para exercer um juízo contra o pecado, especialmente o de outros, aí nós falhamos, porque deixamos de lado a longanimidade que é parte do fruto do Espírito Santo, e que  portanto, deve  ser achada em nós, quanto a sermos como é o próprio Deus, isto é, tardio  em  se irar, conforme veremos mais especificamente adiante.
No original grego, a palavra  para longanimidade é makrothumia. Uma  palavra composta de macro (grande, longo) e thumia (sentimento). Pelo  contexto  bíblico, com o auxílio do Velho Testamento, em que temos uma expressão equivalente para longanimidade, que é  arek  afaim,  que  significa  literalmente,
"tardio em se irar", a qual é traduzida em algumas versões  por  longânimo, somos ajudados a compreender o significado bíblico desta palavra.
Longanimidade é pois a capacidade de suportar ofensas e danos  sem  precipitar-se numa ira condenatória sobre quem nos ofendeu ou  prejudicou.  É pois muito mais do que a capacidade de ser paciente em circunstâncias gerais  adversas, pois está implícito o retardamento da ira e do juízo  com  vistas  a não se ressentir contra as faltas sofridas da parte  de  outros, e da  não aplicação de um castigo imediato sobre eles, se isto se encontra  na  esfera do nosso poder e autoridade.
O capítulo 18 de Mateus é um dos capítulos da Bíblia que nos ensina sobre  o dever de sermos longânimos para com o nosso  próximo,  e  especialmente  com nossos irmãos na fé, assim como Deus é longânimo para conosco.
O que deu ensejo ao ensino de Jesus neste capítulo foi uma pergunta dos discípulos dirigida a Ele sobre quem seria o maior no reino dos céus.
E Jesus, para lhes responder e ensinar qual é o verdadeiro caráter de um cidadão do reino dos céus, chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos, e lhes disse que o maior do reino dos céus seria aquele que  se  humilhasse como aquela criança, mas para isso seria necessário primeiro que eles se convertessem (18.1-4).
Eles estavam pensando em grandeza segundo os valores da terra, e Jesus  lhes mostrou qual é a verdadeira grandeza do céu, quando lhes  afirmou  que quem recebesse uma criança, tal como aquela, que cria nele, em nome dele, estaria na verdade recebendo a ele mesmo, de modo que se alguém servisse de tropeço a estes pequeninos, melhor seria morrer afogado na profundeza do mar com uma pedra de moinho pendurada no pescoço, do que ter que enfrentar o juízo que está destinado por Deus aos que fazem tropeçar os pequeninos (18.5,6).
E o Senhor falou sobre a inevitabilidade da vinda dos escândalos  que  faria com que muitos tropeçassem, mas declarou um ai sobre aqueles pelos quais vêm os escândalos. De modo que, para evitá-los seria até mesmo preferível cortar um pé, uma mão, ou um dos olhos, se isto fosse necessário para obter a  salvação, do que ser perfeito fisicamente e vir depois a sofrer eternamente  no fogo do inferno (18.7-9).
Na verdade Jesus estava ensinando sobre o dever dos seus discípulos de serem longânimos para com todos, em vez de pensarem em receber poder e autoridade segundo o mundo, para exercê-lo em relação ao seu próximo; pois o caráter do reino de Deus não é este, de nenhuma maneira.
Por isso, imediatamente após ter proferido tais palavras, Jesus alertou para a importância de não se desprezar qualquer pequenino que nele creia,  porque Deus tem um cuidado especial por eles, enviando anjos para  protegê-los,  os quais têm que dar contas a Deus no céu quanto à assistência que dá a eles na terra (10). E para ilustrar este cuidado de Deus para com os pecadores  perdidos que Ele ama e escolheu para Si, para fazerem parte da Sua família, Jesus lhes contou a parábola da ovelha perdida, para mostrar o  esforço diligente de Deus em procurar suas ovelhas que estão extraviadas, assim como  um pastor de ovelhas cuida do seu rebanho revelando o  cuidado  de  proteger  e guardar cada uma delas. E há um grande prazer e alegria em Deus e  em  todos os anjos do céu por causa de uma só ovelha extraviada que é  encontrada  por Ele, para ser agregada ou reagregada a todo o seu rebanho, de modo que não é da vontade dele que qualquer um destes pequeninos venha a perecer pois é Ele mesmo quem garante a salvação deles, e quem cuida deles  de modo  zeloso  e perfeito (18.10-14). Por isso devemos ter todo o cuidado para não sermos motivo de escândalo ou de tropeço para qualquer dos pequeninos  de  Deus, por falta de longanimidade em nós para com eles.
Disto se depreende portanto a necessidade de total longanimidade  por  parte de todos os membros da igreja de Cristo, e especialmente daqueles que  estão encarregados da sua disciplina, de modo que o Senhor determinou  que  antes que alguém seja excluído da comunhão dos santos por causa de uma permanência deliberada na prática do pecado contra um irmão ou contra a igreja, que seja feita antes com todo empenho e discrição a tentativa de conduzir  o faltoso ao arrependimento, de modo a preservá-lo o mais possível do constrangimento de uma confrontação pública com todo o corpo de fiéis,  a  qual deverá  ser feita somente em  última instância, caso haja uma  resistência  ao primeiro confronto pessoal que deve ficar somente na esfera do conhecimento do ofensor e do ofendido, para que a reputação do ofensor seja preservada, e depois de ter havido também resistência na presença de dois ou três que tenham testemunhado a ofensa, também para o mesmo cuidado  de  preservar  a  honra do ofensor (Mt 18.10-17).
A igreja está revestida de fato da autoridade de Jesus, mas o exercício desta autoridade.  Daí a necessidade de se estar revestido do fruto do Espírito Santo que é longanimidade, que dará o tom e a atitude corretos no julgamento das faltas de um irmão. E que revestirá os que julgam daquela mesma  atitude e sentimento do próprio Deus que é longânimo, isto é tardio em se irar (arek afaim) ao considerar e a tratar com os nossos pecados. Sem  estar  revestido pelo Espírito desta  longanimidade não será possível liberar um perdão  verdadeiro àqueles que nos ofenderam.
E não há um limite para este espírito de longanimidade, revelando-se no poder prático de se perdoar ofensas de coração, assim como Jesus  ensinou aos seus discípulos, quando à vista destes ensinos Pedro lhe perguntou se  deve ria perdoar o irmão que pecasse contra ele apenas até sete vezes, e o Senhor lhe afirmou e ensinou com uma metáfora e uma parábola, que  a  longanimidade em suportar ofensas e a atitude e o ato de perdoá-las deve seguir  o  padrão do próprio Deus, que é completamente longânimo e perdoador, não tendo fixado em seu caráter qualquer limite para ser longânimo  e  perdoador  em  relação àqueles que verdadeiramente se arrependem, pois será longânimo para com eles e os perdoará toda vez que se arrependerem de seus pecados e ofensas.
Com a metáfora Jesus disse que Deus não perdoa até sete vezes, mas  até  se tenta vezes sete, e devemos ser imitadores de Deus especialmente em  relação a isto (18.21,22).
E com a chamada parábola do credor incompassivo Jesus ensinou que Ele perdoa dívidas, ainda que sejam de dez mil talentos, e que não  seremos abençoados por Deus, e na verdade seremos sujeitados ao juízo de sermos corrigidos  e disciplinados até que nos disponhamos a ser longânimos e perdoadores,  ainda que a dívida que tenhamos que perdoar de alguém seja pequena como a do homem da parábola, que mandou prender quem lhe devia apenas cem  denários  (18.23-35). Veja que não se falta de perdão barato na Bíblia, apesar de ser  sempre pela graça, porque sempre está implícita a necessidade de arrependimento  do ofensor. Na falta deste arrependimento não há qualquer  sentido no  perdão.
Lembremos que a Igreja recebeu autoridade não somente para perdoar  pecados, como também para retê-los.
Mas uma vez que seja manifestado o arrependimento, o perdão deve ser automaticamente liberado conforme nos ensina a parábola que Jesus usou para ilustrar esta verdade. E corremos sério perigo se não o fizermos.
Para que possamos ter uma melhor noção dos valores que são aqui  expressados pelo Senhor devemos ter em conta que havia nos dias de Jesus talentos de ouro e de prata. A parábola não se refere ao tipo de talento, mas podemos  subentender que seria o de ouro que valia cerca de trinta vezes mais do que  o de prata.
Fazendo a comparação pelo valor mais baixo, a saber, o de prata, este valia 6.000 denários, de modo que os 10.000 talentos da parábola de Jesus correspondiam a 60 milhões de denários. Agora se exige deles que manifestem o mesmo perdão para com todos aqueles que se arrependerem de seus pecados.
Mas, sabendo que um denário equivalia ao salário de uma  jornada  diária,  e considerando que no Brasil um diarista recebe cerca de 30 reais por dia, então a dívida do homem que foi perdoado por Deus, que é representado na parábola por um rei que estava ajustando contas com os seus servos, correspondia a 1 bilhão e 800 milhões de reais (30 x 60 milhões).
Caso Jesus estivesse se referindo a talentos de ouro, então esta dívida  que foi perdoada, diante do pedido do homem que pediu ao rei que fosse longânimo para com ele, de modo que não executasse a dívida mediante a venda dele,  de sua mulher e filhos como escravos, seria então de 54 bilhões  de  reais.  De que tipo de longanimidade e perdão está Jesus falando então? Podemos ter isso e ser isso sem o Espírito Santo? Se não recebermos dEle um coração como é o coração de Deus jamais estará na esfera da nossa própria capacidade e  poder agirmos de tal forma em relação àqueles que nos têm ofendido, sendo tardios para se irar contra eles, assim como Deus age em relação a eles.
Pode parecer um paradoxo, mas o nome de Deus é glorificado, exaltado e  honrado pela exibição da Sua completa longanimidade e misericórdia a pobres pecadores, num mundo sujeito ao pecado. (Lembremos que a dívida que o homem da parábola se recusou a perdoar era de apenas cem denários, quando ele próprio teve uma dívida de um bilhão e seiscentos milhões de denários perdoada  por Deus. E este homem que foi perdoado de tal maneira representa todos  aqueles que foram salvos pelo perdão de Jesus, isto é, todos  os crentes  verdadeiros.).
A maior glória do Senhor está exatamente no fato de perdoar  pecados  e  ser longânimo para com os pecadores, porque isto lhe traz muita  gratidão,  louvor, adoração e amor.
Daí ter dito a Moisés o seguinte quando este lhe pediu que lhe  mostrasse  a Sua glória:
"Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová, Jeová, Deus  misericordioso e compassivo, tardio em irar-se (longânimo em outras versões)  e grande em beneficência e verdade;" (Ê 34.6).
É por isto que não é incomum que antes de nos abençoar com os seus amorosos e poderosos livramentos e provimentos, mediante a Sua rica e infinita graça, Ele permite que sejamos convencidos primeiro dos  nossos  muitos  erros, da nossa própria fraqueza e incapacidade para sermos, vivermos e fazermos tudo o que se refere à Sua santa e soberana vontade, de modo  que  entendamos  em inteligência espiritual que dependemos inteiramente da longanimidade de  Jesus, do Seu amor e das capacitações do Espírito Santo, para sermos por exemplo, as pessoas longânimas que devemos ser. Não está na esfera do nosso próprio poder e vontade sermos longânimos, mas em receber a graça da longanimidade do Espírito Santo, porque é fruto dEle, em nossos corações. Somente assim seremos tardios em nos irar, e suportaremos sofrimentos e ofensas  tendo um coração paciente, amoroso e perdoador, em razão  de  estarmos cheios  da graça de Jesus que se aperfeiçoa em nossa fraqueza e que nos torna suficientes para fazer a Sua santa vontade. Isto é também parte do trabalho da  cruz em crucificar o nosso homem exterior com as suas irritações  e  deliberações voluntariosas. Por isso o próprio Deus exibe toda a Sua longanimidade suportando os muitos erros do Seu próprio povo, para que este, reconhecendo a sua própria incapacidade lhe clame pedindo por um avivamento  do  Espírito,  que derrame e faça habitar ricamente o Seu fruto em seus corações.
Por que somos tão tardos de coração e de cerviz tão endurecida, pensando que não dependemos inteiramente de que o próprio Senhor nos assista em todas as nossas necessidades?  Especialmente no que tange a termos a sua santidade, o seu amor, a sua presença no meio do Seu povo, para que mais do  que  tudo  O amemos de toda a alma, força e entendimento, tendo de fato em  Cristo  o  no desejo de agradá-lo em tudo o que nos tem ordenado, o maior tesouro que cative todo o nosso afeto e coração. Quando desistiremos de tentar viver a vida de Deus por nossa própria capacidade e poder?
Se orarmos por isto, se pedirmos isto insistentemente ao Senhor, e caso  ele derrame sobre nós esta bênção, então se verá que os filhos serão obedientes aos pais, os maridos amarão suas esposas como Cristo ama a  sua igreja,  as mulheres amarão os seus maridos e lhes serão submissas, os jovens se disporão a evangelizar os perdidos e serão submissos a seus pais e  aos  que são mais velhos do que eles, a murmuração e a maledicência baterão em  retirada, e se verá por fim a unidade em amor que Cristo almeja ver entre  os  membros da sua igreja. Onde havia desânimo haverá fervor,  onde  tristeza,  alegria, onde rancor, perdão e amor.
Tudo o que se refere à vida e piedade da igreja está em Cristo. Sem Ele nada podemos fazer. Ele é o centro da vitalidade e capacidade do seu povo em  viver de modo agradável a Deus. Ele é o rei, a cabeça, a suprema autoridade da igreja, que terá todo o louvor, honra e glória em tudo o que fizermos em Seu nome, pois onde Ele não estiver não  se  verá  verdadeiro  serviço, louvor, amor; e verdadeira unidade, longanimidade, paz e tudo o  que  é  gerado  por meio da fé nEle, porque sem a operação do Espírito Santo em nossos corações, não é possível viver uma vida que não é da terra, mas do céu.
Para os que pensam que isto é uma utopia, algo inatingível, nós podemos responder com o testemunho de Jonathan Edwards quando se  referiu  às mudanças ocorridas na igreja com o Grande Despertamento espiritual  havido em  seus próprios dias na Nova Inglaterra:
"Há uma mudança admirável quase por todas as partes da Nova Inglaterra entre os jovens, por uma influência invisível poderosa nas mentes deles. Eles foram levados a abandonar, de um modo geral e imediato, todas  aquelas  coisas às quais eles eram extremamente aficionados, e nas quais eles pareciam colocar a felicidade das suas vidas, e relativamente às quais nada anteriormente poderia induzi-los a abandonar; como os entretenimentos deles, as companhias vãs e más, a perambulação noturna, a linguagem e comportamento  impuros  deles, e o seu coração lascivo. Em vão os pastores pregaram e exortaram contra essas coisas anteriormente, em vão foram as determinações que  fizeram  para contê-los, e foi em vão toda a vigilância dos magistrados e dos oficiais civis; mas agora eles têm quase todos eles onde gostariam de vê-los. E há  uma grande mudança quer entre velhos, quer entre jovens, quanto a beber  em  tavernas, quanto à extravagância no modo de se vestir, quanto  aos  vícios,  e foram transformados de fato em novas criaturas, tanto no interior quanto  no exterior. Alguns que são ricos, e de uma educação ajustada à moda,  que  tinham suas mentes envolvidas com nada mais além  de  entretenimentos  vãos  e prazeres mundanos, renunciaram a estas vaidades e se tornaram sóbrios e  humildes em sua conversação e comportamento.
O dia do Senhor tem sido mais religiosa e estritamente observado.  E  muitos foram convencidos a dar um fim às suas desavenças,  e  têm  confessado suas faltas mutuamente um ao outro, e estão fazendo restituição do que estava  em sua posse e não lhes pertencia, e tem se visto mais disto em apenas cerca de dois anos, do que nos trinta anos anteriores.
E foi indubitavelmente o mesmo que ocorreu em muitos lugares. E foi surpreendente o poder deste espírito, em muitos  exemplos,  para  destruir velhos rancores, para restaurar longas e contínuas quebras de relacionamento, e levar aqueles que pareciam estar numa separação irreconciliável, a se  abraçarem mutuamente numa amizade sincera e completa.
Muitos se comprometeram em vigiar e se esforçar na luta para a  mortificação dos seus pecados, e expulsarem todos os ídolos que tinham antes de  virem a Cristo. E têm se esforçado para se absterem de toda prática mundana e carnal para o bem-estar e prosperidade de suas almas. E apareceu ultimamente em alguns lugares uma disposição incomum em se ligar isto a um pacto  solene  com Deus. E agora, em vez de reuniões em tavernas e bebedeiras, e  de  diversões mundanas em má companhia, o país está cheio de reuniões de pessoas de  todos os tipos e idades, crianças, jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres, que têm prazer em estarem juntos para orar, louvar e  conversar  sobre as coisas de Deus. E sem dúvida o assunto  principal  de  suas  conversações versa sobre temas espirituais.".
Quando lemos um tal testemunho, e contemplamos o nosso próprio fracasso  em nossos dias, vendo os profundos problemas que vivemos na Igreja, sem  vigor espiritual, com nossos jovens entregues ao pecado, e não somente eles, e até mesmo pessoas já maduras na fé, havendo muitas destas que estão apostatando num modo de viver contra Cristo e a sua Palavra, nos perguntamos onde  temos falhado. Apesar de parecer não haver uma resposta para isto senão colocarmos a culpa nos dias difíceis que estamos vivendo, no entanto a única resposta é a mesma de sempre, a saber, a que foi necessária nos  dias  do  próprio  Edwards, que também eram difíceis antes do avivamento. A resposta é que precisamos tal como eles fizeram no passado, ORAR pelo avivamento. O nosso  fracasso é um recado de Deus para nós, tal como foi para eles  no  passado, de que sem Ele nada podemos fazer, e que em vez de cruzarmos os  braços  ou  de ficarmos somente chorando e lamentando por nossa triste condição, deveríamos orar de modo perseverante, insistente, junto ao trono de  graça,  ainda  que por meses ou anos, em favor de todas as pessoas, em todas as partes do mundo, e especialmente da Igreja de Cristo, para que seja  contemplada  com  um avivamento vindo do céu.
Nossos fracassos não são para que passemos uma condenação em  nós  mesmos  e muitos menos nos outros, mas são uma chamada de Deus para orarmos. Não temos orado o tanto quanto deveríamos, e por isso os problemas se  multiplicam  ao nosso redor, e parece até mesmo muitas vezes que Deus nos abandonou  ou que se esqueceu de nós, quando na verdade, somos nós que temos nos esquecido  de Deus, de irmos continuamente a Ele em oração. Por  isso  Ele  permite estas coisas para que voltemos a clamar a Ele por socorro.
Não é fácil prevalecer com Deus em oração quando as coisas  se  tornam cada vez mais difíceis. Quando vemos que aqueles que deveriam dar bom testemunho de Cristo, se tornam ao contrário, motivo de escândalo para a Igreja e  para o mundo. Mas é preciso fortalecer-se na graça do Senhor, revestir-se de toda a longanimidade, conforme nos ordena a Palavra, e nos entregarmos a uma intensa vida de oração para que o poder seja derramado, lá do alto sobre  nós.
Se isto não ocorrer, muito do nosso esforço e trabalho será em vão.
Cremos que do fruto do Espírito que mais necessitaremos nestes últimos  dias é exatamente a longanimidade, porque sem isto não será  possível prosseguir adiante porque o Inimigo nos deterá instilando mágoa, ira e  toda  sorte  de sentimentos rancorosos em face do pecado que se multiplicará cada vez  mais ao nosso redor, porque Jesus afirmou que neste tempo a iniquidade se  multiplicaria esfriando o amor de muitos.
Crer portanto na possibilidade de uma vida de amor e  santidade  exigirá de fato muita fé e longanimidade de nós. Deus fez a promessa e é fiel. Portanto não devemos olhar para as nossas possibilidades, mas crer na  possibilidade de Deus de santificar o Seu povo e converter os ímpios.
Desta forma, precisamos deixar nos convencer pelas Escrituras, sobre  a  necessidade de sermos longânimos. Assim, além dos textos bíblicos que já  destacamos anteriormente, devemos fazer uma reflexão sobre os que  apresentamos a seguir, para que jamais esqueçamos que Deus é longânimo e que nós  devemos ser também longânimos tal como Ele é.
Rom 2.4 "Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e  longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz  ao arrependimento?".
Rom 9.22 "E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a  conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos  da  ira,  preparados para a perdição;  (A palavra traduzida aqui como paciência no original é makrotumia, portanto, longanimidade).
II Cor 6.6 "na pureza, na ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido,".
Gál 5.22 "Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade.".
I Pe 3.20 "os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a  longanimidade  de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na  qual  poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água,".
II Pe 3.15 "e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como  também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe  foi dada;".
Mt 18.26 "Então aquele servo, prostrando-se, o  reverenciava,  dizendo:  Senhor, tem paciência comigo, que tudo te  pagarei.".  (A  palavra  paciência, neste texto e nos a seguir vem do original grego, makrotuméo, isto é, longânimo. Assim uma melhor tradução seria: "Senhor, seja  longânimo  para comigo...").
Mt 18.29 "Então o seu companheiro, caindo-lhe aos pés, rogava-lhe,  dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei.".
Lucas 18.7 "E não fará Deus justiça aos seus escolhidos,  que  dia  e  noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles?".
I Cor 13.4 "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor  não se vangloria, não se ensoberbece,". (A palavra sofredor, no original grego é makrotuméo, longânimo).
I Tes 5.14 "Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais  longânimos para  com todos.". (Até mesmo os insubordinados ao serem  admoestados,  devem  receber isto com longanimidade, porque no final do versículo se ordena o dever  de sermos longânimos para com todos.).
Hb 6.15 "E assim, tendo Abraão esperado com paciência,  alcançou  a  promessa.".
Tiago 5.7 "Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com  paciência,  até que receba as primeiras e as últimas chuvas."  (É claramente  ordenado  aos crentes que tenham longanimidade no aguardo da vinda do Senhor, com a mesma longanimidade que os lavradores aguardam a chegada do  fruto  da  terra que eles cultivam. Eles não podem se deixar vencer com a irritação pela falta de chuvas, ataques de doenças e pragas na plantação etc, porque isto faz  parte do trabalho deles. Se os crentes forem longânimos e perseverantes na fé e na oração, apesar de todas as dificuldades que surgem no  caminho deles,  eles também colherão no tempo próprio o esperado fruto de santidade e da salvação das suas almas.).
Tiago 5.8 "Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações,  porque a vinda do Senhor está próxima.".  (Mais uma vez Tiago ordena a longanimidade para que nossos coraçÕes possam permanecer fortalecidos na graça  de  Jesus. Logo nos encontraremos com o Senhor, e isto é  motivo suficiente para sermos longânimos em toda a nossa jornada terrena.).
II Pe 3.9 "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a  têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.". (Deus está fazendo o Seu trabalho de reunir todos os eleitos de todas as épocas ao corpo de Cristo. Esta  é a razão porque Ele não executa logo o Seu juízo final sobre o pecado.  Muitos ainda se converterão até a volta do Senhor, e é por  isso  que  devemos  ser também longânimos tal como Deus tem sido, porque sem isto,  não  é  possível trazer pecadores ao arrependimento. Eles devem saber que a longanimidade  de Deus para com eles não significa indiferença para com o pecado, mas o  exercício de adiamento do juízo, para que aqueles que encontrarão a salvação como é do desejo de Deus, possam escapar da ira futura, que será exercida  por Ele no juízo final.).
Todos os textos abaixo do Velho Testamento usam a  expressão  arek  afaim  - tardio em se irar, que é vertida em muitas versões da Bíblia por  longânimo.
Foi daqui que Tiago retirou o seu "tardio em se irar" (Tg 1.19),  bradus eis argé, no grego, que corresponde portanto a longânimo.
Sl 86.15 "Mas tu, Senhor, és um Deus  compassivo e benigno,  longânimo,  e abundante em graça e em fidelidade.".
Pv 15.18 "O homem iracundo suscita contendas; mas o longânimo apazigua a luta.".
Pv 16.32 "Melhor é o longânimo do que o valente; e o que domina o seu  espírito do que o que toma uma cidade.".
Jonas 4.2 "E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso é que me apressei  a  fugir  para Társis, pois eu sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo  e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.".
Pv 25.15 "Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda quebranta os ossos.".
Jer 15.15 "Tu, ó Senhor, me conheces; lembra-te de mim, visita-me, e  vinga-me dos meus perseguidores; não me arrebates, por tua longanimidade. Sabe que por amor de ti tenho sofrido afronta.".
Nm 14.18 "O Senhor é tardio em irar-se, e grande em misericórdia;  perdoa a iniquidade e a transgressão; ao culpado não tem por inocente, mas  visita  a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração.".
Ne 9. 17 "recusando ouvir-te e não se lembrando das tuas maravilhas, que fizeste no meio deles; antes endureceram a cerviz e, na sua rebeldia, levantaram um chefe, a fim de voltarem para sua servidão.  Tu, porém, és  um  Deus pronto para perdoar, clemente e misericordioso, tardio em irar-te  e  grande em beneficência, e não os abandonaste.".
Sl 103.8 "Compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade.".
Sl 145.8 "Bondoso e compassivo é o Senhor, tardio em irar-se,  e  de  grande benignidade.".
Pv 14.29 "Quem é tardio em irar-se é grande em entendimento; mas o que é  de ânimo precipitado exalta a loucura.".
Pv 19.11 "A discrição do homem fá-lo tardio em irar-se; e sua glória está em esquecer ofensas.".
Joel 2.13 "E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e  compassivo,  tardio  em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal.".
Naum 1.3 "O Senhor é tardio em irar-se, e de grande poder, e ao  culpado  de maneira alguma terá por inocente; o Senhor tem o seu caminho no turbilhão e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pé.".
À luz desta análise bíblica relativa à longanimidade, nós  podemos  entender melhor o significado das palavras proferidas no Sermão do Monte, que encontramos em Mt 5.38-48, que indicam de modo muito claro e direto o  dever dos crentes de se exercitarem na prática da longanimidade:
"38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. 39  Eu,  porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; 40 e ao que quiser pleitear contigo,  e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; 41 e, se qualquer te  obrigar  a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. 42 Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. 43  Ouvistes  que  foi  dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. 44  Eu,  porém,  vos  digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; 45  para  que  vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer  o  seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e  injustos.  46  Pois,  se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não  fazem  os  publicanos também o mesmo? 47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis  de mais? não fazem os gentios também o mesmo? 48 Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial." (Mt 5.38-48).
Jonathan Edwards escreveu um excelente sermão sobre I Cor 13.4a - "o amor  é longânimo", cuja leitura recomendamos como complemento a este nosso estudo.
Você pode ler este sermão que se encontra no arquivo de número 1113 deste CD de Sermões e Estudos.
Finalmente lembramos que nem mesmo o nosso zelo pela  obra  do  Senhor  pode justificar a falta de longanimidade. É especialmente aqui que ela  deve  ser manifestada porque senão o nosso zelo será a causa mesma  da  destruição  da obra que Deus determinou fazer por nosso intermédio.
Toda pregação deve ser densa e nunca fazer concessões em favor do  pecado  e contra a verdade. Mas não podemos esquecer que a longanimidade faz parte  da verdade que estamos incumbidos de pregar e viver.
Ser longânimo não significa portanto ser tolerante com os pecados  de  ossa congregação. Em se fazer vista grossa para o pecado, nem muito menos de justificar o pecador, mas lembrar que não nos é dado fechar a porta da oportunidade para o arrependimento, seja pelo tempo que for necessário, e seja para quem for, enquanto não tivermos recebido da parte do Senhor nenhuma determinação para fechá-la. Quando Paulo entregou o jovem incestuoso de Corinto nas mãos de Satanás para a destruição da carne, ele tomou tal deliberação congregado em espírito com a Igreja de Corinto e no poder de Jesus Cristo (I Cor 5.3,4) e não simplesmente porque ele havia ficado escandalizado ou então por ter perdido a paciência.
Lembremos que, especialmente muitos jovens na Igreja,  levarão  muito  tempo até que tenham uma experiência real de conversão ao Senhor.  Se  não formos longânimos com eles, nós os privaremos e a nós mesmos de vermos Cristo  formado neles.

Pela Sua longanimidade o Senhor tem dado tempo a eles para que se  convertam e a nós cabe seguir o mesmo exemplo de longanimidade do Senhor deles e nosso, de forma a cooperarmos com o Seu trabalho.



Provérbios 17

“1 Melhor é um bocado seco, e com ele a tranquilidade, do que a casa cheia de festins, com rixas.
2 O servo prudente dominará sobre o filho que procede indignamente; e entre os irmãos receberá da herança.
3 O crisol é para a prata, e o forno para o ouro; mas o Senhor é que prova os corações.
4 O malfazejo atenta para o lábio iníquo; o mentiroso inclina os ouvidos para a língua maligna.
5 O que escarnece do pobre insulta ao seu Criador; o que se alegra da calamidade não ficará impune.
6 Coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais.
7 Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos ao príncipe o lábio mentiroso!
8 Pedra preciosa é o suborno aos olhos de quem o oferece; para onde quer que ele se volte, serve-lhe de proveito.
9 O que perdoa a transgressão busca a amizade; mas o que renova a questão, afastam amigos íntimos.
10 Mais profundamente entra a repreensão no prudente, do que cem açoites no insensato.
11 O rebelde não busca senão o mal; portanto um mensageiro cruel será enviado contra ele.
12 Encontre-se o homem com a ursa roubada dos filhotes, mas não com o insensato na sua estultícia.
13 Quanto àquele que torna mal por bem, não se apartará o mal da sua casa.
14 O princípio da contenda é como o soltar de águas represadas; deixa por isso a porfia, antes que haja rixas.
15 O que justifica o ímpio, e o que condena o justo, são abomináveis ao Senhor, tanto um como o outro.
16 De que serve o preço na mão do tolo para comprar a sabedoria, visto que ele não tem entendimento?
17 O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão.
18 O homem falto de entendimento compromete-se, tornando-se fiador na presença do seu vizinho.
19 O que ama a contenda ama a transgressão; o que faz alta a sua porta busca a ruína.
20 O perverso de coração nunca achará o bem; e o que tem a língua dobre virá a cair no mal.
21 O que gera um tolo, para sua tristeza o faz; e o pai do insensato não se alegrará.
22 O coração alegre serve de bom remédio; mas o espírito abatido seca os ossos.
23 O ímpio recebe do regaço o suborno, para perverter as veredas da justiça.
24 O alvo do inteligente é a sabedoria; mas os olhos do insensato estão nas extremidades da terra.
25 O filho insensato é tristeza para seu, pai, e amargura para quem o deu à luz.
26 Não é bom punir ao justo, nem ferir aos nobres por causa da sua retidão.
27 Refreia as suas palavras aquele que possui o conhecimento; e o homem de entendimento é de espírito sereno.
28 Até o tolo, estando calado, é tido por sábio; e o que cerra os seus lábios, por entendido.”

Quanto à afirmação do verso 22: “O coração alegre serve de bom remédio; mas o espírito abatido seca os ossos.”, nós usaremos para o comentário da virtude da alegria, um texto adaptado sobre o assunto, de autoria do Pr John MacArthur.

Atitudes Cristãs Fundamentais: Alegria

{Por John Macarthur (adaptado)

Você sabe que os crentes amam a verdade e amam ao Senhor quando eles amam a disciplina e a correção que a Bíblia traz às suas vidas. Quando o povo do Senhor começa a se sujeitar aos Seus mandamentos revelados na Palavra esforçando-se para vê-los aplicados às Suas vidas, então dão provas de que estão amando de fato ao Senhor. Quando isto não ocorre, estarão mentindo se disserem que O amam, conforme Ele mesmo afirma na Palavra.
Falaremos da alegria cristã como um mandamento, que é de fato, do Senhor para nós. Temos este mandamento em várias passagens das Escrituras. Em I Tes 5.16 nós o encontramos na sua forma mais direta e concisa: “Alegrai-vos sempre.”.  No original, o significado do advérbio “sempre” corresponde a continuar se alegrando, a estar sempre alegre.
Há razão suficiente no mundo em que vivemos, para estar triste, aflito, transtornado, chateado, preocupado, ansioso, estressado, cheio de medo, dúvida... mas não para o crente. Nos é ordenando que nos alegremos sempre. E isso não é um mandamento isolado... dezessete vezes na carta de Paulo aos Filipenses ele fala sobre alegria. Em Fp 2.17,18 lemos: “Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo. Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo.”. Não importa o que aconteça. Até mesmo que eu seja um prisioneiro e até mesmo que eu viesse a perder minha vida, por oferecê-la como um sacrifício para levar o evangelho a vocês, eu fico alegre, e compartilho minha alegria com vocês e espero que vocês tenham a mesma alegria comigo.
Em Fp 3.1 lemos: Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim não me desgosta, e é segurança para vós outros, que eu escreva as mesmas cousas.”.  Nos é mandado que nos alegremos.
Eu vou fazer uma declaração agora e isso poderá parecer um pouco duro senão impossível de se acreditar, mas eu quero dizer e eu vou tentar mostrar para você porque eu digo isso, que  nenhum fato ou circunstância da vida  deveria diminuir a alegria do crente.
Na realidade, deixe-me ir mais além disso. Se houve circunstâncias ou fatos que diminuíram sua alegria, e você se permitiu ficar vencido pela tristeza, você pecou. Isso soa ridículo ou duro demais diante das aflições da vida? Isto soa como uma coisa impossível para se acreditar? Mas a Bíblia ordena a alegria, que nos alegremos... com que frequência?... sempre. Se você deixou de se alegrar no Senhor, eu lhe digo: alegre-se.
Agora olhemos para este mandamento e vejamos porque o que eu disse há pouco é verdade, porque não há nenhum fato ou circunstâncias que acontecem na vida de um crente que deveriam roubar-lhe a alegria. Olhemos para o mandamento, em primeiro lugar, “alegrai-vos sempre”, e como eu disse, este não é um mandamento isolado, ele está repetido em Filipenses e em outros lugares da Bíblia. Eu lembro de I Pe 4.13: “Pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.”. Não importa o grau de sofrimento que você esteja passando em sua condição de servo de Cristo, é ordenado que você continue se alegrando no Senhor. A sua alegria não deve depender de circunstâncias, mas da sua comunhão com Deus.
Você se lembra que no discurso que nosso Senhor teve com os seus discípulos de Jo 13 a 17, na noite em que foi traído, mostra Jesus sentado à mesa com os discípulos e Ele tem este diálogo surpreendente no qual Ele deixa um legado a eles. Eu chamo aquela seção de o legado de Jesus. E uma das coisas que Jesus destacou foi a alegria, por oito vezes naquela seção Ele se refere a alegria ou alegria completa. Ele estava dizendo que seria crucificado, que seria tirado temporariamente deles. Vocês vão ter muita dificuldade neste mundo, vocês terão aflições. Vocês serão perseguidos. Eles tirarão a vida de vocês. Se eles me perseguiram, eles também perseguirão vocês. Mas eu estou lhes contando todas estas coisas porque eu quero que vocês tenham alegria completa.
Ele estava lhes ensinando que a alegria que eles tinham não poderia ser vencida pela adversidade, ainda que esta chegasse ao ponto extremo da perda literal de suas vidas. Eles deveriam ter alegria completa e contínua. E a adversidade não muda isto.
Não importa quão severa seja a dificuldade, o mandamento não muda. Como lemos em Mt 5.10-12: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vocês. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.”. Agora, francamente, cá entre nós, quem é suficiente para isso? Quem diz que pode fazê-lo por si mesmo é um grande hipócrita, porque os seus sentimentos de ira em face da injustiça sofrida estarão bem no fundo do seu coração, encobertos pela manifestação de um comportamento exterior de aceitação da afronta sofrida. Isto é para ser vivido, estando em comunhão com o Senhor, de onde procederá um coração amoroso, perdoador, forte para suportar o sofrimento, grande o bastante para não ser vencido pela dor, pela mágoa, pela amargura. O mandamento diz que devemos nos alegrar em face das injustiças e perseguições sofridas por causa do nome de Cristo, de nosso viver em Sua justiça. E isto é algo para se experimentar estando debaixo do poder do Senhor. Não justifiquemos o nosso coração e não lhe demos descanso enquanto não estivermos experimentando a alegria no meio da provação. Fixemos este alvo, porque somente Ele é o que atende a vontade de Deus expressada no Seu mandamento para nós de nos alegrarmos sempre. E Ele, em Seu tempo, há de nos devolver a alegria, que as provações possam nos roubar durante algum tempo. Como o mandamento é alegrar-se sempre, neste tempo, fora da alegria, devemos ter por alvo que este tempo em que ficamos privados da alegria do Senhor, seja cada vez menor, seja qual for a circunstância adversa que nos sobrevenha.
O mandamento de chorar com os que choram, não significa que devemos ficar permanentemente entristecidos, porque não são poucos os que choram, mas que devemos ter simpatia para com aqueles que estão sofrendo. Se há algo pelo que devemos chorar, este algo é o pecado. E por isso se diz que são bem-aventurados os que choram, e tal bem-aventurança não é dirigida aos que se sentem vítimas e que têm auto-comiseração por suas provações, mas os que choram arrependidos de seus pecados. Os que são quebrantados de coração. Que são humildes de espírito, e que têm tristeza pelos pecados praticados. Somente o pecado pode roubar de fato a nossa alegria. Mas se o confessarmos e deixarmos, a tristeza será substituída pela alegria.
Uma passagem paralela ao texto de Mt 5 lida, é a de Lc 6.22,23: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.”. Escute isto: "Esteja alegre naquele dia e salte de alegria.". Pular de alegria por estar sofrendo? Pular de alegria? Isso é como quando você vem para casa e depois de um dia de trabalho e você está assobiando uma melodia e está cantando uma canção com  um sorriso de orelha a orelha e você está se regozijando de tal forma como que algo estivesse pulando dentro de você... e sua esposa diz, o que aconteceu com você? "Oh, eu fui perseguido hoje, eu fui insultado, eu fui rejeitado como indigno por causa de Jesus.
Você tem um filho que o odeia pelo fato de você viver segundo os padrões de Deus e não segundo os do mundo. Você tem um filho que está no hospital em estado grave por ter sido atacado por marginais. Como fica a sua alegria cristã no meio de situações como estas? Como deve estar o seu coração?  De nenhum modo um crente verdadeiro que deseje fazer a vontade de Deus terá qualquer justificativa para não obedecer o mandamento de se alegrar sempre. Porque isto lhe é ordenado pelo próprio Jesus, a saber, a se alegrar em meio às perseguições, às provações. Isto é confirmado pelos apóstolos em suas epístolas, e eles também o confirmaram em seu próprio testemunho de vida. Agora, sem a assistência e o poder do Espírito, isto não é uma coisa apenas difícil para nós mesmos, mas na verdade impossível. Não está em nós o poder de amarmos os nossos inimigos. Se não renunciarmos ao nosso eu, à nossa justiça própria, à nossa auto-estima, e não nos sujeitarmos à ação de Deus no nosso coração, para que nos encha da Sua paz, alegria e do Seu amor sobrenatural, jamais poderemos nos alegrar no meio da provação, dar-Lhe graças no meio da tribulação, e amar os nossos inimigos. Aquele que não ama seu irmão é assassino, segundo a Palavra, está em pecado diante de Deus, mas se não nos alegramos no Senhor, se deixamos de amar, e permitimos que o nosso coração se encha de tristeza, amargura e mágoa, também ficamos em pecado diante de Deus, e Ele não nos terá por justificados pelo fato de outras pessoas estarem dando causa ao nosso sofrimento.
Eu estava conversando há algum tempo atrás com um amigo e ele estava me falando como ele estava sendo tratado de um modo terrível, e como estavam sendo ditas coisas terríveis sobre ele e insultos pesados estavam sendo proferidos contra ele. E ele estava doente com isto, e estava cansado disto e ele não estava gostando disto porque não era justo. E eu estava escutando, esforçando-me para ser simpático ao seu sofrimento. E eu disse finalmente, se poderia lhe fazer uma pergunta? Eu disse, "aparte do fato de que você não parece muito alegre, você alguma vez pensou que Deus estaria tentando operar na sua vida através de tudo isso? "  Ele respondeu: “Bem...Ele provavelmente está tentando provavelmente mostrar-me o cuidado que eu deveria ter com as coisas que eu tenho dito.”.  Oh? eu não pensaria que seja esse o ponto. Eu não estou falando do que você pensa sobre o que Ele está tentando fazer por você, mas sobre o que Deus está tentando realizar em você. Você pensa que Ele gostaria de fazer você mais parecido com Jesus?  Menino! Que coisa dura para se dizer a alguém que há pouco estava se afundando na sua miséria e tentando se justificar. Como saltar de  alegria, isso parece ser o que você deveria estar fazendo?
Mas com que frequência você deve obedecer este mandamento "alegrai-vos"? Sempre, até mesmo quando você está sofrendo, até mesmo quando você é perseguido, alienado, excluído, quando falam injustamente todo tipo de cousa ruim de você, até mesmo quando você é maltratado e é mal entendido.
Bem certamente o apóstolo Paulo era bom nisto. Ele teve que ser porque a sua vida inteira foi de dor. Tiago foi muito instrutivo quando ele disse em sua epístola (1.2): “Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações.”. Nesta altura, alguém dirá: “O que é isto? O crente deve ser um masoquista?”. De modo nenhum. A sua alegria não é pelo que lhe causa sofrimento. Mas pelo fato de permanecer na paz, no amor, na alegria de Deus, seja qual for a circunstância, sabendo que  com isto o seu caráter está sendo aperfeiçoado e ele está aprendendo a ser perseverante, paciente e a ter esperança e confiança em Deus. As provações estão quebrando o nosso egoísmo latente, que está presente em todas as pessoas, em razão da sua natureza terrena. Servem também para nos revelar que não estamos sob o controle de tudo como costumamos pensar, e quebra o nosso orgulho, mostrando que devemos ser dependentes de Deus. Elas aumentam a nossa vida de oração. Elas nos ensinam a sermos simpáticos com os sofrimentos das demais pessoas.
A palavra para “provações” pode ser entendida por “tentações”. E assim Tiago diz que você deve ter por motivo de toda alegria o passar por várias tentações, porque elas estão lhe aperfeiçoando. Você as vence permanecendo em comunhão com Deus nas horas difíceis, permanecendo no seu amor, paz e alegria. A prova da fé produz perseverança, resistência. Isto é uma virtude necessária ao caráter do crente. De outra forma como poderia amar um mundo sujeito ao pecado? Como poderia suportar o ódio dos outros? Como amaria aqueles que odeiam? Como estaria feliz em Deus em face das misérias e injustiças do mundo? Como teria o coração aberto e alegre em face de suas muitas provações? Além de ser aperfeiçoado como pessoa em seu caráter, você vê, que as provações servem para tornar o crente útil para Deus para consolar outras pessoas, conduzí-las à salvação em Cristo, pelo seu testemunho, de que é realmente alguém que aprendeu em Deus, a ter um coração aberto, alegre, bem disposto, para qualquer um, mesmo para os seus inimigos. De outra sorte, não podemos ter qualquer serventia satisfatória para Deus, porque o mundo odeia os crentes, e sem amar os que os odeiam, os crentes não poderão conduzir os pecadores à salvação que está em Cristo Jesus. Sem isto os sentimentos de sua alma e coração serão para a condenação do mundo, e não para a sua salvação. Porque as injustiças abundarão, e se o crente não aprendeu a amar com o amor de Deus, será vencido pela menor decepção que sofrer, pela menor injustiça ou perseguição.
A alegria do Senhor em nossas vidas é um dos indicativos de que não temos sido vencidos pelo mundo, ao contrário, que o temos vencido com a nossa fé.
Você se alegra em suas tentações? Quando falamos tentações não nos referimos exclusivamente a insinuações para os pecados carnais, mas a tudo aquilo que pode retirá-lo da presença de Deus. Por exemplo, um irmão querido dá a você uma mostra terrível de desamor por você ou por qualquer outra pessoa que lhe for querida. Você fica amargurado com isso? Permite que isso lhe roube a alegria? Ou você permanece na presença de Deus com o seu coração aberto? Se não é isto que ocorre, é isto o que você deve buscar.
  Você se alegra em seu sofrimento? Você se alegra em sua dor, em sua dificuldade? Bem isso é o que a Bíblia lhe chama para fazer. Deus se agrada que alguém suporte tristezas injustamente por causa do seu bom testemunho em Cristo. Não porque Deus se agrade da injustiça, mas porque ele se agrada de tal atitude, de quem confia nEle em toda e qualquer circunstância, e que experimenta permanente comunhão com o Seu Espírito.
Já dissemos antes, que a segunda parte de Rom 12.15 não configura uma contradição a isto: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.”. Se existe um tempo para deixar de se alegrar, isto é apenas num sentido externo.
Ainda ontem, quando procurado por um amigo que veio a mim e começou a chorar., eu o abracei e compartilhei o seu sofrimento, chorando com ele. Isso não acabou com a minha alegria e nem com a dele, porque pudemos entregar o fardo a Deus, e dissemos que como Ele se encontrava no trono, talvez Ele tivesse um propósito para levar a efeito em tudo aquilo. E sorrimos juntos. Certamente há tristezas que perduram por um maior tempo em razão da dimensão do problema que sofremos. Mas elas não podem também interromper para sempre aquela alegria que está determinada no desígnio de Deus de ser para sempre. Quem deve ser para sempre é a alegria e não a tristeza, e isto já começa neste mundo. Dia virá em que toda lágrima será enxugada de nossos olhos e já não haverá mais dor ou tristeza. Mas a dor e tristeza que agora há, não são para prevalecer, porque há duas correntezas no coração do crente, a das tristezas que lhe sobrevêm e que correm na superfície do coração e que dali são arrancadas, e a corrente inalterada e permanente de alegria espiritual, de gozo em Cristo, que corre no fundo do seu coração, e que vai em direção contrária. Esta está sempre presente, não pode ser arrancada  como disse Jesus (Jo 16.22), mesmo quando não se manifesta no nosso comportamento exterior, por estar sufocada pelas tristezas que nos sobrevêm.
Há algo sobre identificação externa com a emoção  humana , claro que nós compartilhamos isso. Há algo sobre um abraço terno para alguém que está em dor e tristeza. Há algo sobre compartilhar uma lágrima. Há algo sobre entender a tristeza de alguém e lhe mostrar compaixão. Mas isso não toca a alegria que é profunda e  permanente. E não deveria.
Eu penso que o equilíbrio está expressado em II Co 6:10: “entristecidos, mas sempre alegres;”.  É sobre este equilíbrio que ele está falando... triste contudo sempre alegre. Seguramente, há um lugar para condolência normal humana, mas sempre se alegrando. Isto não significa que você depois de chorar deve rir na presença de quem está triste. Isto seria ridículo e absurdo. Mas significa que a tristeza que você compartilha não pode tocar aquela alegria permanente que você sente no fundo do seu coração, e que procede de Deus. A tristeza é sentida nas horas difíceis, mas a alegria permanece em todo o tempo, quer nas horas boas, quer nas más. É sobre isto que Paulo está falando.
Isto é tanto verdadeiro que a saudação da igreja primitiva era, a propósito, “cairós”. Você sabe o que é isso? Isso é alegrai-vos. E a alegria no Senhor foi a nota dominante em toda a igreja primitiva, mesmo no período de quase trezentos anos, em que sofreu dura perseguição. As catacumbas de Roma, onde vivia a igreja perseguida, revelaram, depois de séculos, quando foram descobertas no século XVI, que os crentes não revelavam qualquer comportamento triste em face das dificuldades da vida, nem mesmo em face da morte. Eles eram sempre alegres, seguindo o mandamento do Senhor. Eles se dispunham a isso nas dificuldades, e o Senhor os honrava, por buscarem honrá-lo guardando o mandamento, fazendo com que tivessem a capacidade de exteriorizar aquela alegria interior que habita em todo crente fiel, mesmo em face das grandes tribulações que sofriam.
Em Atos 15:23 a mesma palavra grega “cairós” (alegrar-se, regozijar-se) é usada no final da carta que Paulo entregou nas igrejas dos gentios, como decisão do Concílio de  Jerusalém. Nossas Bíblias, traduzem tal palavra como “saudações” ou “saúde”, mas o significado no original era literalmente “regozijai-vos”, “alegrai-vos”.
Em I Pe 1.8 lemos: “exultais com alegria indizível e cheia de glória.”. É assim que é a nossa alegria. É isto o que a Bíblia diz. Não é algo em primeira instância para nós mesmos, mas para a glória de Deus, para o testemunho visível através de nossas vidas de que Ele é inteiramente bom, e que só nos faz o bem, e por isso somos alegres, dando ao mundo a prova da nossa fé num Deus que é inteiramente digno da nossa confiança.
Esta alegria não é igual à que o mundo tem para oferecer. A alegria do mundo é uma coisa completamente diferente. A alegria do mundo é derivada, em primeiro lugar, de prazeres terrenos. Por exemplo, em Ec 2.10 e 11.9, lemos sobre este tipo de alegria. Que  é vaidade e fadiga e de nenhum proveito: “Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas. Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito: e sei que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.”. Aqui se diz que as pessoas do mundo ou mesmo crentes que querem viver de acordo com esta alegria, alegram-se seguindo os impulsos do seu coração.  Em outras palavras, quando você tem uma paixão ou um desejo por algo, e você consegue realizá-lo, você sente alegria... isso é alegria terrena, completamente conectada ao cumprimento dos desejos terrenos. Mas Provérbios 14.13 diz que o fim desta alegria pode ser tristeza. Desejo das pessoas, desejo, desejo, querem e se apressam para aquele desejo dirigido pelos seus impulsos, eles realizam aquele desejo e muito frequentemente não muito tempo depois que o realizaram aquela alegria se transforma em tristeza. Este prazer é de curto prazo, só é bom enquanto você está desfrutando. É como a alegria de uma festa que termina quando ela acaba. É a isto que se refere Jó 20.5: “O júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios momentânea.”. A alegria do descrente é momentânea. Quando o prazer termina a alegria se vai e frequentemente a tristeza volta.
O próprio crente quando não tem a sua alegria fixada como um alvo em Deus, poderá estar sempre procurando preencher o vazio daquela alegria verdadeira e permanente que somente o Senhor pode dar, com a procura de prazeres terrenos, e como estes são passageiros, nunca se cansará na sua busca, e irá procurar por realizações terrenas, aquisições materiais, recreações constantes, e tudo o mais que o mundo pode oferecer.
Ec 7:6 diz que a risada do insensato é como o crepitar dos espinhos debaixo duma panela, tal é a alegria mundana, é como espinhos de uma madeira que queimam no fogo e logo se dissipam. Tiago 4.9,10 diz: “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.”. Ele estaria ordenando que deixemos de ser pessoas alegres para sermos pessoas tristes? Não. Não é este o caso. Ele está mandando você jogar fora esta  atitude de buscar a alegria do mundo, particularmente daquela que é fruto do prazer curto experimentado pela prática do pecado, e se arrepender com tristeza diante de Deus pelo que vinha praticando, para que Ele possa dar-lhe a verdadeira e permanente alegria.
Assim nós não estamos falando sobre aquele tipo de alegria. Nós não estamos falando sobre algum tipo de realização de prazeres. Nós nem mesmo estamos falando sobre algo que seja uma espécie de característica da personalidade, algumas pessoas são naturalmente mais dispersivas que outras pessoas que são mais concentradas e que podem fazer as coisas melhor que outros. Algumas pessoas nós as chamamos de "mal-humoradas". Eles tendem a ser daquele modo como se usassem algum tipo de maquiagem psicológica como desculpa para o seu fracasso em obedecer a Palavra de Deus, especialmente o mandamento de regozijarmo-nos sempre. Nós não estamos falando de algum tipo de característica natural, algum tipo de habilidade para fazer as coisas. Nós não estamos falando sobre um tipo de Norman Vincent Peale ensinando como ter o pensamento positivo, ou Robert Schuller quanto ao pensamento positivo onde você tenta criar o seu próprio mundo divertido de fantasias relativas a coisas positivas no meio da realidade negativa. Nós não estamos falando sobre jogos mentais. Não é sobre uma coisa natural que nós estamos falando aqui. Nós estamos falando sobre algo que tem que transcender porque somente isso é bom para perdurar por tanto tempo nas  circunstâncias difíceis.
Nós estamos falando aqui sobre uma alegria sobrenatural. Nós estamos falando sobre algo que pertence somente a crentes, algo que é profundo. Isto de que falamos tem sua fonte identificada em Gál 5.22, como sendo fruto do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria...”.  Na realidade, Rom 14.17 diz que o Reino de Deus é composto de justiça e paz e alegria no Espírito Santo. Nós estamos falando sobre uma alegria espiritual que vem do Espírito Santo, como paz espiritual e justiça e amor. Nós temos um amor que não é nenhum amor terreno. Nós temos uma justiça que não é farisaísmo. Nós temos uma paz que não é a paz que o mundo dá. E nós temos uma alegria que é diferente. Isto é uma alegria profunda. Não é o tipo de alegria que o mundo conhece. Vem de Deus por meio de Cristo, e é operada  pelo Espírito Santo. E nenhuma circunstância... eu digo isto novamente... nenhuma circunstância, nenhum fato poderia causar a ausência desta alegria.
Existe somente uma coisa... uma coisa que legitimamente poderia roubar sua alegria. O que é? O pecado e isto não deveria roubar sua alegria por muito tempo porque você deve confessar imediatamente aquele pecado e alegrar-se no perdão de Deus.
Agora deixe-me lhe dar uma definição desta alegria, não é uma alegria natural, não é uma alegria mundana, não é algo que algumas pessoas têm porque eles tiveram uma ascensão na vida. É a experiência de bem estar, é a experiência de bem estar que procede da confiança que Deus está no controle perfeito de tudo para o meu bem e para a Sua glória. Correto? Isto é sentir-se bem, aprovado, correto, positivo, triunfante, vitorioso, não por causa das circunstâncias mas por causa da profunda confiança que Deus toma conta de tudo e que transforma todas as coisas para o meu bem e para a Sua glória. Todos nós podemos responder a tudo na vida com alegria se nós crermos que Deus está efetuando a Sua glória e o nosso bem que procede disso. É por que eu perguntei àquele meu amigo, o que ele  pensava que Deus estava tentando fazer através das coisas que lhe estavam ocorrendo. Penso que Ele está tentando  lhe fazer mais parecido com Cristo? Você deveria estar contente, você deveria estar dizendo obrigado Deus, por esta tentativa.  Todos nós deveríamos ter o hábito de expressar constantemente esta  maravilhosa alegria quando pensamos no que Deus está fazendo em nossas vidas. Agora, este é o mandamento... alegrai-vos sempre. Deixe-me lhe dar as razões para obedecer isto. E eu  lhe darei uma pequena lista aqui... real, simples, direta.
Aqui estão algumas razões para você ser grato. Número um, porque a alegria é um ato de responder apropriadamente ao caráter de Deus. A alegria começa porque eu sei que o meu Deus é soberano, cortês, amoroso, misericordioso, amável, onipotente, onisciente, onipresente e Ele tem meu bem estar na Sua mente. Correto? Isso é uma profunda confiança... eu conheço o meu Deus. O meu Deus diz que todas as coisas trabalham juntamente para o bem daqueles que O amam. Eu conheço o meu Deus e eu posso me alegrar no meu Deus. Eu não posso sempre me alegrar em minhas circunstâncias mas eu posso sempre me alegrar no Deus que controla minhas circunstâncias. Eu posso me alegrar no Seu caráter.  Você  não está alegre que seu Deus seja imutável? Se Deus mudasse de ideia a todo momento, isto seria uma coisa amedrontadora. O que seria se  a Sua graça fosse caprichosa e só dispensada em certas ocasiões quando Ele sentisse vontade de fazê-lo? O que seria se as justiças dele viessem e fossem? O que seria se  Ele tivesse lapsos mentais? A consistência do caráter do nosso Deus, a imutabilidade absoluta, fidelidade, sabedoria, soberania, poder, graça, misericórdia... isso causa alegria em meu coração. Dá-me alegria saber que o meu Deus faz o que Ele diz. Ele cumpre o que promete.
Em segundo lugar, você não pode tocar a alegria do Crente porque você não pode tocar o Deus do crente porque Ele é imutável e verdadeiro. A alegria é o ato apropriado de avaliação do trabalho de Cristo. A alegria é a resposta apropriada, o ato apropriado de avaliação do trabalho de Cristo. Quando eu percebo que Jesus Cristo carregou meus pecados no seu próprio corpo no madeiro, que Jesus Cristo, que não conheceu nenhum pecado se tornou pecado por mim, quando eu percebo que Deus lançou sobre Ele a iniquidade de todos nós, quando eu percebo que eu não fui resgatado com coisas corruptíveis como prata e ouro mas com o sangue precioso de Jesus Cristo, quando eu percebo que quando eu era um inimigo, quando eu fui odiado, quando eu odiei Deus, quando eu era o inimigo dele e quando eu estava contra Ele e era um blasfemador e zombador, em misericórdia e amor, Deus enviou  o Filho dele para me resgatar. Quando eu entendo que Jesus foi transpassado pelo meu pecado, quando eu entendo que a compensação da substituição perfeita dele me cobre com a justiça de Cristo, quando eu entendo isso e  então que o céu é eternamente meu, quando eu entendo tudo aquilo que Cristo realizou, isso me dá uma alegria permanente que qualquer circunstância passageira trivial da vida não deveria alterar.
Em terceiro lugar, eu deveria ter alegria incessante como um ato de confiança no trabalho do Espírito Santo. O que você pensa sobre o trabalho do Espírito Santo? Bem eu lhe falei que Rom 14:17 diz que Ele traz justiça, paz e alegria. Em Gál 5 Ele produz amor, alegria, paz, bondade, benignidade, fé, mansidão, domínio próprio. II Cor 3.18 diz que ele está nos transformando de glória em glória, isto é, de um nível de glória para outro, até que cheguemos à semelhança de Jesus Cristo,  e Ele está fazendo isto todo o tempo. O Espírito Santo está nos mostrando as coisas de Cristo. Nenhum homem conhece a mente de Deus e a mente de Cristo mas o Espírito de Cristo conhece e o Espírito de Cristo vive em nós e Ele nos mostra Cristo e Ele nos conduz a toda a verdade e Ele traz todas as coisas à nossa recordação e Ele nos ensina todas as coisas. E Ele é a unção de Deus que nós possuímos. E Ele é o penhor, o sinal, a aliança de noivado, a primeira prestação de nossa herança eterna... tudo isso é o que o Espírito de Deus está fazendo em nós. Ele nos protege do pecado. Ele nos marca até o dia da redenção. Ele enche nossas bocas de louvor. E faz isso em todo o tempo.
Assim, sua alegria deveria começar na realidade a partir  do Deus triúno, no caráter imutável e na  grandeza do seu Deus, no trabalho acabado glorioso de Cristo seu Salvador e no poder santificador contínuo do Espírito Santo,  que vive em você. É nisso que se funda a nossa confiança de que tudo está bem.
Bem, deixe-me lhe dar mais algumas razões. Nós nos movemos dos trabalhadores ao trabalho. Nós nos alegramos em  Deus Pai, Cristo e o Espírito Santo, mas olhemos para o trabalho que eles fazem.
Em quarto lugar, nós somos alegres como um ato de resposta razoável a bênçãos espirituais continuamente recebidas. Nunca pára. Nunca pára. Por exemplo, Ef 1 diz que nós somos abençoados com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes. Deus  continua derramando bênção espiritual.
Você diz, "Bem o que quer dizer com isso? Eu não sinto que minha vida esteja sendo abençoada agora mesmo.". Deixe-me lhe contar algo. Toda vez que você peca e é perdoado instantaneamente, isto é uma bênção monumental, pois a falta da mesma o lançaria no inferno. Toda vez que Deus o transforma um pouco mais à a imagem de Jesus Cristo, isto é uma bênção monumental. Toda vez que Deus o refina pelas tentações da vida isto é uma grande bênção... Deus está derramando perdão, Ele está derramando provisão. Deus o livrou outro dia e o poupou de alguma agonia da qual você poderia ter sabido e talvez nunca  venha a saber porque você não a suportaria, e isto por causa da misericórdia dele. Bênçãos são derramadas constantemente sobre você. Ele está até mesmo agora, e eu penso tão frequentemente nisto, preparando um lugar para nós. Algumas coisas somente estão sendo preparadas no céu para nós, bênçãos que nós ainda experimentaremos. Deus está derramando a Sua bênção sobre nós, derramando o Seu perdão, a Sua orientação, a Sua sabedoria, o Seu  poder. Toda a sorte de bênçãos espirituais é derramada sobre nós. Toda alegria rica e maravilhosa nesta vida vem dEle e as bênçãos visíveis e invisíveis.
Você nunca pensa no Espírito Santo que intercede por você em todo o tempo com gemidos que não podem ser proferidos? Isto ocorre todo o tempo. O Espírito santo que intercede por você, constantemente pedindo a Deus para fazer aquilo que traga bênçãos e alegria para você e glória para Ele. E o Espírito Santo sempre ora de acordo com a vontade de Deus, e assim sempre estão sendo respondidas as orações dele por você. E a intercessão de Jesus Cristo por você nunca pára. Ele está constantemente diante do trono de Deus intercedendo em seu favor. Há bênçãos infinitas... bênçãos infinitas.
Podemos pensar que é por somente ministrar a Palavra ao povo de Deus que todos ficarão instruídos quanto à verdade e terão suas vidas mudadas, vivendo segundo a verdade, tendo a alegria do Senhor e amando como Ele ama. Isto, no entanto, não é tudo, é apenas parte da verdade. É preciso que o próprio Deus nos dê tal poder sobrenatural de viver e andar no Espírito. É certo que precisamos de conhecer a verdade da Palavra, que precisamos nos aplicar em praticá-la, mas não daremos um só passo, e não teremos a vida sobrenatural do céu, se o Senhor mesmo não produzí-la em nós, mediante o Seu poder sobrenatural. Os que pregam e ensinam na igreja, nunca devem perder de vista esta verdade, para que não se decepcionem, depois de tanto esforço em ensinar os fundamentos da vida cristã, e não ver mudanças reais e positivas na transformação das vidas a que ministram. É preciso um trabalho de cooperação do homem com o Espírito de Deus, de se submeter à Sua vontade. Sem o quê, não se terá o testemunho de vida que desejamos obter. Lembrem sempre que a santificação é pela Palavra, mas é o Espírito que a aplica em nós.
Número cinco, a alegria é um ato de resposta apropriada à providência divina. E nós falamos um pouco sobre isto mas deixe-me fazer uma observação específica. Por providência divina eu quero me referir simplesmente ao fato de que Deus orquestra todas as circunstâncias para produzir o  seu bem. A Providência Divina, eu sempre disse, é um milagre para mim, maior que qualquer milagre. Deus controla  bilhões de contingências e supre as necessidades não apenas da criação do universo visível, tanto dos homens, plantas, animais, como das suas criaturas no céu. Que gênio é esse? E Deus controla tudo o que entra em sua vida para o fim dele em conformá-lo a Jesus Cristo. Além disso, cuida das suas necessidades específicas, e faz isso com cada um dos seus filhos, e também com os próprios injustos.
Número seis, a alegria é um ato de resposta apropriada à promessa da glória futura. Você sabe, que quando Paulo se referiu em Col 3 que você deve ter seus afetos fixados nas coisas que são de cima e não nas que são aqui da terra, que ele  não estava tentando  dizer algo que fosse doloroso? Ele estava dizendo que devemos ficar livres das preocupações terrenas, que debilitam a nossa alegria. Há um tesouro no céu. E tudo o que fazemos ou deixamos de fazer tem repercussão na recompensa futura. Devemos agir aqui com o nosso olho no céu, e não na recompensa terrena que passa, mas a avaliação que Deus faz de nossas obras no céu, terá repercussão por toda a eternidade. E isto serve de incentivo para a nossa perseverança em santidade, e consequentemente para a manutenção da nossa alegria, especialmente nos momentos difíceis.
Eu fui chamado por minha irmã que tem câncer terminal e nós estávamos falando ao telefone, e eu lhe disse:  "Bem,  Julie, olhe, a pior coisa que poderia acontecer a você é a melhor coisa que poderia acontecer a qualquer pessoa.”.  Ela disse, "eu sei disso, eu nunca questionei isso.".   Eu disse, "Você sabe, o pior é que você vai estar na presença de Deus, nas glórias do céu".  Ela disse, "E isso é minha confiança.". E ela disse que eles enviaram um psiquiatra hoje ao hospital com alguém e eles disseram que iriam me colocar em terapia de grupo, numa terapia especial porque eles queriam que eu entrasse em contato com a minha criança interior. E eu disse, "De modo nenhum, obrigado. Eu não preciso entrar em contato com minha criança interior, obrigado. Eu estou em contato com meu Deus Jesus Cristo, tudo está bem, tudo está bem.".  Você pode enfrentar qualquer tipo de situação com este tipo de esperança em seu coração. Isso é uma parte essencial de manter sua alegria. Eu nunca fico realmente muito preocupado com tudo o que ocorre aqui em baixo porque é tão temporário e eu não posso controlar de forma alguma o tempo. E isto torna o céu ainda mais maravilhoso e atraente.  Por isso Paulo diz que as nossas tribulações neste mundo são leves e momentâneas, comparadas ao eterno peso de glória que aguarda por nós no céu.
Sétimo, a alegria sempre deveria ser um ato de apreciação pela oração respondida. Peça e você receberá para que a sua alegria seja completa (Jo 16:24). O que eu pedi alguma vez e que Deus não fez era consistente com o Seu caráter  e  propósito? Deus respondeu minhas orações inúmeras vezes. E como um ato de apreciação para todas as orações respondidas e para essas orações contudo sem resposta que eu sei que Ele ouvirá e responderá, minha alegria pode ser intocável.
Número oito, como um ato de apreciação das Escrituras. Salmo 19 verso 8: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração.”. As Escrituras me trazem alegria.
Você deveria ter uma profunda apreciação pela Palavra de Deus que traz alegria a você.
Número nove, você sempre deveria se alegrar como um ato de apreciação da comunhão cristã. Isso é uma doce bênção. Paulo diz em I Tes 3:9: “Pois que ações de graça podemos tributar a Deus no tocante a vós outros, por toda a alegria com que nos regozijamos por vossa causa, diante do nosso Deus.”.
Há qualquer coisa mais doce que isso? Companheirismo cristão quando você precisa disto, um amigo, alguém lá para orar com você e ser sua força.
Finalmente numere dez, nós deveríamos ter alegria constante como um ato de apreciação pelo privilégio de testemunhar... o privilégio de pregar o evangelho. Isso que é um privilégio: proclamar a Cristo... isso que é uma honra.
Você se lembra dos apóstolos no início do livro de Atos, e eles os chicotearam e eles os açoitaram e eles  bateram neles. E então eles os mandaram sair de lá e o que eles fizeram? Eles foram no seu caminho...como?... se alegrando porque eles foram tidos por merecedores de sofrer por causa do nome de Cristo. Era uma grande emoção para eles poderem pregar o evangelho não importava a que custo. Bem essas são as razões.
Agora, há coisas que podem atrapalhar a sua alegria e até mesmo serem a causa de não possuí-la. Por exemplo, se você não for verdadeiramente salvo, você não pode ter essa alegria, porque é fruto do Espírito, e aquele que não tem o Espírito não pertence a Cristo. É necessário ter uma experiência de salvação com Cristo para ter a alegria do Espírito.
 Em segundo lugar, talvez você está sendo tentado. Talvez você está debaixo de alguns tentação muito forte porque se há qualquer coisa que  Satanás gostaria de fazer, é roubar sua alegria.
Talvez possa estar com falsas expectativas. Talvez você pensa que merece mais do que você está adquirindo, quando que de fato você merece menos. Isso não é verdade? O que as pessoas não salvas merecem? O que merece um pecador mau? Inferno. Deus na Sua misericórdia lhes dá vida, e sol e chuva e comida e família e amor, muito mais que eles merecem. Deus faz isso até mesmo para esses que não Lhe pertencem.
Por que as pessoas esperam tudo? Uma mulher deixou a igreja e foi para uma igreja carismática que pregava o evangelho da prosperidade. Ela voltou e disse, "eu não quero ficar lá, eles não o deixarão ser pobre ou doente.". Ei, em vida algumas pessoas são pobres e doentes. O que você espera afinal da vida? Ser feliz, rico, próspero, constantemente saudável e cheio de milagres? Você terá com isso um real  problema.
O pecado de orgulho, pode também roubar ou impedir a alegria. O orgulho é feio, pois diz: "eu não tenho bastante, eu quero mais disto". E, você sabe, a cultura inteira vende descontentamento, correto? Eu quero dizer, eles puseram mulheres na tela da TV para torná-lo infeliz com o que você tem. Eles puseram os homens na tela para torná-lo infeliz com o que você tem. Eles puseram carros na tela para fazê-lo infeliz com o que você tem. Eles puseram todos aqueles materiais diante de você para torná-lo descontente. A premissa de todo marketing é fazer você ficar insatisfeito. Assim a cultura o dinamita com isso. E você vai para casa, para sua esposa e seu marido e seu carro e sua vida e seu trabalho e não é a fantasia que eles tentam vender mas é exatamente o descontentamento que conduz  você a comprar ou a ficar com uma decepção. O orgulho lhe fará sentir ingratidão a Deus e insatisfação, que matará sua alegria.
Outra coisa é a falta de oração. A falta de oração levará sua alegria porque você vai levar a carga sozinho. Você não lançará seus fardos sobre Deus. Você ficará sobrecarregado de cuidados. E ficará ansioso por tudo e por nada. E isto não lhe permitirá ter paz. E sem a paz a alegria irá também embora.
E uma outra coisa sobre a qual eu poderia fazer um comentário são os sentimentos. Se você caminha por sentimentos você vai ter dificuldade para manter sua alegria. Há pessoas que dizem: "Bem eu... eu não tenho vontade de me alegrar. E como eu posso me alegrar se eu não sinto isto? E como eu posso controlar meus sentimentos?". Deixe-me lhe falar,  se todo mundo corresse ao redor para fazer somente o que eles tinham vontade de fazer,  que tipo de mundo nós teríamos? Todos nós controlamos nossos sentimentos até certo ponto. Bem, você controla seus sentimentos todo o tempo. E o modo para controlar o tipo de sentimentos que roubam sua alegria é encher sua mente com a verdade. E agora eu estou chegando à coisa principal aqui, e a coisa principal é isto, o contribuinte número um  para a falta de alegria é a ignorância. Você não sabe a verdade de Deus, Cristo, o Espírito Santo, você não tem a mente de Cristo, você não sabe sobre a soberania de Deus, a misericórdia de Deus, a providência de Deus, todas essas coisas sobre as quais nós falamos. Quando sua mente está cheia com a sã doutrina e você crê nisto com todo o seu coração, você assume o controle de suas emoções. E então você não está correndo ao redor  voando emocionalmente como antes. Você é um ser racional e seus sentimentos devem ser controlados por sua razão, por sua mente. E sua mente quando estiver cheia com a verdade de Deus controlará suas emoções.
Veja, a razão tem que assumir e tudo que está em sua mente controla suas emoções.
Você vê, suas emoções podem ser controladas por sua mente. Assim se sua mente é controlada pela verdade da Palavra de Deus como é que suas emoções vão responder? Corretamente. E assim elas darão verdadeiras respostas à realidade que é muito importante, e isso é a realidade espiritual.
A tristeza pode durar toda uma noite, mas se continuarmos colocando a nossa esperança no Senhor, a alegria virá pela manhã. A ira pode vir sobre nós como consequência natural das injustiças que existem no mundo, mas não deixaremos que o sol se ponha sobre ela, e com isso venhamos a pecar, permitindo que ela se transforme em ódio e amargura. Nós nos renderemos à vontade de Deus que manda amar e orar pelos nossos inimigos e perseguidores.

Bem, a mensagem é um mandamento. Você deve ser sempre alegre. Nós sabemos que a alegria do Senhor é a nossa força e nos dá a força para passar por todas as provações da vida.



Provérbios 18

“1 Aquele que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria.
2 O tolo não toma prazer no entendimento, mas tão somente em revelar a sua opinião.
3 Quando vem o ímpio, vem também o desprezo; e com a desonra vem o opróbrio.
4 Águas profundas são as palavras da boca do homem; e a fonte da sabedoria é um ribeiro que corre.
5 Não é bom ter respeito à pessoa do ímpio, nem privar o justo do seu direito.
6 Os lábios do tolo entram em contendas, e a sua boca clama por açoites.
7 A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma.
8 As palavras do difamador são como bocados doces, que penetram até o íntimo das entranhas.
9 Aquele que é remisso na sua obra é irmão do que é destruidor.
10 Torre forte é o nome do Senhor; para ela corre o justo, e está seguro.
11 Os bens do rico são a sua cidade forte, e como um muro alto na sua imaginação.
12 Antes da ruína eleva-se o coração do homem; e adiante da honra vai a humildade.
13 Responder antes de ouvir, é estultícia e vergonha.
14 O espírito do homem o sustentará na sua enfermidade; mas ao espírito abatido quem o levantará?
15 O coração do entendido adquire conhecimento; e o ouvido dos sábios busca conhecimento;
16 O presente do homem alarga-lhe o caminho, e leva-o à presença dos grandes.
17 O que primeiro começa o seu pleito parece justo; até que vem o outro e o examina.
18 A sorte faz cessar os pleitos, e decide entre os poderosos.
19 um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade fortificada; é forte como os ferrolhos dum castelo.
20 O homem se fartará do fruto da sua boca; dos renovos dos seus lábios se fartará.
21 A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.
22 Quem encontra uma esposa acha uma coisa boa; e alcança o favor do Senhor.
23 O pobre fala com rogos; mas o rico responde com durezas.
24 O homem que tem muitos amigos, tem-nos para a sua ruína; mas há um amigo que é mais chegado do que um irmão.”

Quanto á afirmação do verso 19: “um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade fortificada; é forte como os ferrolhos dum castelo.”, nós usaremos como comentário sobre o assunto da unidade, um texto adaptado de autoria do Pr John Macarthur:

Atitudes Cristãs fundamentais: Unidade

Por John Macarthur (adaptado)

Continuemos o nosso estudo sobre a anatomia da igreja.
Nós estamos falando sobre os sistemas internos do corpo de Cristo. Nós falamos sobre o fato de que a vida da igreja é composta de atitudes espirituais e motivações espirituais, graças espirituais internas que vêm do fundo, que eles não são externos mas internos. São atitudes produzidas pela Palavra de Deus, pela instrumentalidade do Espírito Santo no coração dos filhos de Deus. Nós falamos sobre fé e obediência, tão essenciais. Nós falamos sobre humildade, nós falamos sobre amor.
E eu creio que os órgãos internos principais da igreja podem ser resumidos nessas quatro virtudes maravilhosas. E tudo o mais é construído sobre isso.
Agora estaremos estudando uma quinta atitude fundamental, a unidade. Eu sei que a unidade não é em si mesma uma virtude ou atitude, mas eu estou falando sobre a perseguição disto, da devoção para isto. A unidade não é em si mesma uma atitude, mas a motivação e a perseguição disto são, e é sobre o desejo de protegê-la a que estamos nos referindo.
Se há algo que devasta uma família, é a discórdia interna. E muitas coisas podem produzir isto... orgulho,  egoísmo, pecado, raiva, amargura e a lista prossegue sem terminar. Há todos os tipos de pecados que destroem a unidade numa família, ou num matrimônio, ou numa relação empresarial, ou numa amizade, ou em qualquer ambiente. E, claro que, na igreja isto é como uma preocupação muito séria e deveria ser uma preocupação para todos nós, mas especialmente para a liderança. Nada é mais temeroso para mim, na vida da igreja, do que divisão, quebra, discórdia, desarmonia causada por orgulho, egocentrismo, egoísmo, raiva, amargura, às vezes causada por um espírito competitivo, causada por atrações por personalidades que se tornam divisivas porque alguém se identifica com uma pessoa e outros com outras, e a mesma coisa a que Paulo se referiu quanto à igreja de Corinto se repete vezes sem conta. A divisão em uma igreja pode ser causada por um jogo de poder, pode ser causada por vingança, pode ser causada por inveja. E por aí vai.
Deus tem protegido de maneira extraordinária, a nossa igreja, pelos anos a fora, da desunião e da discórdia. E através dos anos nossa igreja tem permanecido unida porque muitas pessoas como nós têm se firmado na Escritura, atendendo à ordenança de Ef 4.3: “esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.”. Nós sempre tivemos um compromisso com isto, um compromisso para ser pacificador, achar o caminho de paz, achar o caminho da reconciliação, achar o caminho do perdão, estar ansioso para cobrir uma multidão de pecados, achar o caminho do amor que procura unidade.
Parece-me que nós sempre estivemos desejosos para fazer isso. E eu louvo a Deus por isto. Oh, nós temos tido nossas lutas. Eu posso me lembrar de três rompimentos bastante significativos da unidade desta igreja. O primeiro foi há cerca de dez anos. Foi uma agressão terrível na unidade desta igreja, focalizando sua atenção em me atacar e atacar o caráter da liderança na igreja. Tal motim partiu do próprio grupo de apoio pastoral, pessoas que eu tinha preparado particularmente. Eu nunca esqueço da reunião de homens que eram meus próprios cooperadores no ministério, os quais eu havia discipulado durante vários anos, quando eu lhes disse: "eu quero lhes dizer quanto o seu amor  significa para mim", e ouvi como resposta: "Se você pensa que nós somos seus amigos, você está enganado.". E então eles articularam o motim. E antes que ele terminasse, três desses jovens estavam fora permanentemente do ministério, pelo que muitas vidas e muitos corações foram quebrados. E essas coisas são  dolorosas e agonizantes para quem busca a unidade da igreja.
Houve também uma ocasião no passado que cerca de duzentas a trezentas pessoas deixaram esta igreja e realmente não puderam se firmar porque sementes de discórdia, desconfiança,  confusão e caos tinham sido eficazmente semeadas em seus corações e fizeram com que nos deixassem não pacificamente, mas fazendo acusações genéricas. Destes, cerca de cento e cinquenta retornaram, pelo que damos graças a Deus, porque vieram a reconhecer que foram colocados por Ele para fazerem parte deste corpo. E daqueles que haviam se amotinado no início do meu ministério, quatro deles voltaram individualmente com lágrimas e pediram perdão, e nos abraçamos e eu agradeço a Deus por isso. Mas não há nada mais doloroso.
Nossa igreja está desfrutando atualmente de uma grande medida de unidade. Nossa igreja está florescendo na expressão de amor mútuo e unidade. Nós estamos lavando os pés uns dos outros. Há real humildade nas vidas de muitas pessoas. Mas isto é tão frágil que eu  estou sempre olhando ao redor, sabendo que tudo o que  Deus tem unido,  Satanás procura separar. E não é fácil de manter a unidade do Espírito no laço da paz. Você nota que o versículo diz que devemos ser diligentes em fazer isso. Você tem que entender que a meta é manter a unidade. A meta não é  apoiar quem poderia estar certo ou de quem poderia estar errado.  A meta não é ter certeza que todo o mundo sabe que você está alimentado. A meta é unidade... unidade... unidade... unidade. E isto significa que você tem que reconhecer que o caminho para a unidade é o caminho da paz. Você faz tudo para obter a paz.
Pondo um fundamento para esta ordenança, o apóstolo  Paulo diz em Ef 4.4 que “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.”.
E há uma passagem que celebra a unidade. É o verso 4 onde é citado o Espírito, é o Espírito que nos coloca no corpo de Cristo, é o mesmo Espírito que vem morar em nós. É o Espírito que garante nossa herança futura, Ele é o penhor que afiança a esperança de nossa chamada. E há um Deus, um Cristo, um Salvador, um Redentor, uma fé. Há um batismo, que é a expressão pública de confissão de fé que está associada à salvação. De forma que o verso 5 é o verso do Senhor Jesus, e então o verso 6 é de Deus Pai.
E a implicação é que se há um só Espírito que trabalha em cada crente, se há um Senhor ao qual todos nós estamos unidos, se há um Deus e Pai acima de todos nós, então se algo é verdadeiro sobre a igreja é que ela tem que manter sua unidade. Nós somos um corpo... um corpo. Não às custas da iniquidade, nós não estamos  unidos ao redor de confusão, nós estamos unidos ao redor da verdade. É uma unidade construída na verdade. É a unidade da fé, como também a unidade do Espírito. É aquela unidade que pertence a nós porque nós possuímos a mesma vida de Deus... o mesmo Cristo vivo... o mesmo Espírito de Cristo, como Paulo O identifica em Rm 8. Isto é a unidade de um entendimento comum da Bíblia e da Palavra de Deus.
Esta unidade não é a do ecumenismo, que ignora a são doutrina, e que aceita o erro. Isso é falso e antibíblico. Não é uma unidade que honra a Deus e o agrada.
Há outro tipo de esforço pela unidade que desconsidera a iniquidade e abraça todo mundo sem se  importar se eles estão obedecendo à Palavra de Deus ou não, negligenciando assim o pecado e a iniquidade deles.
Mas é totalmente o contrário. A Bíblia diz que se há alguém em nosso meio, de acordo com Tito 3.10, ensinando o erro, se houver um herege lá, admoeste-o a primeira e a segunda vez, e depois evite-o. Ele está perdido (v 11) e não tem direito a qualquer reivindicação ou aceitação dentro daquela unidade. E se houver um irmão ou irmã em pecado, ele deve ser submetido à disciplina da igreja conforme o processo ensinado por Jesus em Mt 18, com vistas ao seu arrependimento. E caso isto não se dê, ele deve ser excluído da comunhão. Como Paulo diz em II Tes 3.6: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes;”.
A tradição a que Paulo se refere não é alguma tradição rabínica, mas a tradição estabelecida pela revelação de Deus.
Se você tiver alguém em sua igreja que está ensinando o erro, você não pode ter unidade com aquela pessoa. Se você tiver alguém que está vivendo de modo pecaminoso e desregrado, você não pode ter comunhão com ele. Assim a que estamos nos referindo aqui é sobre possuir a verdadeira unidade do Espírito que pertence àqueles que praticam a verdade e afirmam isto através de vidas santas.
E alguém poderia dizer, "Bem espere um minuto. Eu me lembro da oração que o nosso Senhor fez em Jo 17, e Jesus orou pela unidade.". Em Jo 17.21 Jesus diz: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.”.
Jesus não manifestou com esta oração apenas a manifestação de um desejo, de uma intenção, mas devemos lembrar que tendo Ele a mente de Deus, todas as suas orações são respondidas positivamente. Jesus não faz orações que não são respondidas. Assim se  Jesus orou pela unidade, você pode saber que tem isto como uma coisa certa. É uma realidade que se cumpre na vida do crente, não apenas a manifestação de um desejo que poderia ou não ser cumprido. E Ele está falando sobre um tipo de unidade que você tem que entender. Ele está falando sobre algo que tem a ver com a própria vida de Deus porque Ele diz aqui que todos eles podem ser um com quem ? Com o Pai e com o Filho. Nós estamos falando sobre uma unidade de vida eterna comum, algo que pertence à unidade real entre o Pai e o Filho. Ele está orando não por uma unidade superficial, externa, mas de uma unidade vital entre cada crente com a divindade. Ele está falando sobre compartilhar da vida comum, da vida de Deus na alma dos homens.
No verso 23 Ele diz isto novamente. "Eu neles e Tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade.". Aqui, mais uma vez não se está falando de unanimidade entre os crentes, mas da vida sobrenatural de Deus na alma de cada crente.
Quando você se tornou um crente o Deus eterno passou a residir em sua vida. E isso é verdadeiro para cada crente. Quando você veio a Cristo você se tornou um com Ele. E desde que todos nós compartilhamos a vida comum dele, nós compartilhamos a mesma vida entre si. Por isso Ele também orou em Jo 17.11, 22 para que fôssemos um entre nós, assim como Ele é com o Pai.
Por isso lemos em I Cor 12.12: “Porque assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.”.
A oração de Jesus é respondida nisto porque todos somos um. E esta unidade espiritualmente orgânica, esta real unidade, que parecida com a fé preciosa, como Pedro chama isto, liga a todos nós numa real unidade e numa unidade espiritualmente orgânica está a base da nossa comunhão prática. Mas nós encontramos esta unidade a partir da salvação quando fomos colocados no corpo de Cristo com todos os demais crentes, sendo participantes do mesmo Espírito Santo, e esta base se torna o fundamento no qual nós obedecemos a ordenança de Ef 4.3, preservando a unidade do Espírito. Isto já está lá, não é algo que  você tem que tocar tambor para obter, não é algo que você tem que buscar, não é algo que você tem que perseguir, é algo que você tem que preservar, isto é, manter. E você faz isto sempre reconhecendo que o que nos amarra juntos na expressão prática de nossas vidas, é a perseguição da paz. É buscando viver em paz que mantemos a unidade que já nos foi dada. É a paz que deve ser buscada, e a unidade se manifestará como consequência disto.
Agora eu creio que isso está incluído em Jo 17 nas afirmações que são feitas lá... Então o mundo saberá que Tu me enviaste. O mundo necessita ver a manifestação da unidade real. Mas não a unidade que não tem nenhuma relação com a verdade. Isto é uma unidade construída em torno da verdade. Não é uma unidade sem levar em conta o pecado. É uma unidade construída em torno da santidade.
Por isso, para o fim da unidade, Jesus havia pedido antes no verso 17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”.
Em I Cor 1.10 lemos: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma cousa, e que não haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.”. Você sabe que se trata de um mandamento para se fazer isso? Isso está certo. Que todos vocês concordem. Literalmente no grego “que faleis todos a mesma coisa” significa que não haja discordâncias. Que não haja nenhum cisma, quebras, divisões entre vocês, "Mas que vocês estejam completos.". Significa literalmente inteiro,  não quebrado. "Na mesma mente e no mesmo julgamento.".
Você sabe o que isso significa? Significa que vocês devem pensar do mesmo modo. Significa que vocês estão tão unidos no que pensam, porque estão treinados biblicamente, vocês são sensíveis ao Espírito de Deus como Ele se revela nas páginas da Bíblia, vocês têm sido ensinados na sã doutrina, vocês estão compromissados assim em viverem vidas santas, de modo que vocês literalmente pensam da mesma maneira e fazem o mesmo julgamento nos assuntos que os confrontam. Não há divisões.
O único ambiente no qual isso pode acontecer é aquele onde todas as pessoas entendem a Palavra de Deus. Onde não se ensina a Bíblia com precisão e cuidado, não há como as pessoas possam pensar do mesmo modo. Não há como fazerem o mesmo julgamento sobre os assuntos. E eu realmente creio com todo o meu coração que as grandes bênçãos e benefícios de uma igreja que tem doutrina clara e ensino claro e manejo preciso da Palavra de Deus é o que lhe dá um legado de unidade, porque as pessoas pensam a mesma coisa, eles fazem os mesmos julgamentos, eles estão de acordo em tudo. Poderia haver um pouco de luta aqui e acolá sobre a sabedoria necessária para fazer a aplicação da verdade, mas certamente você deseja começar com a verdade.
Qualquer tipo de unidade onde você tem discordância violenta e apenas mantém a boca fechada não é nenhuma verdadeira unidade. Eu suponho que de alguma maneira isto seria melhor do que começar uma guerra a menos que você tenha que admoestar um herege ou confrontar um pecador.
Em I Cor 3.1,2 lemos: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.”. O que significa isso? Não há doutrinas de leite na Bíblia e doutrinas de carne, eu ouvi alguém dizer isto uma vez. Que há doutrinas de leite e doutrinas de carne.. Não, não. Não há. Há doutrinas, há verdades e há uma compreensão de leite e uma compreensão de carne. Eu posso falar com você sobre o fato que Jesus morreu no seu lugar na cruz. E alguns de vocês entendem isso somente no sentido de leite, você é novo, você é um bebê e você só entende isso no sentido mais simples. Para outros de vocês, quando eu falar sobre a doutrina da substituição da culpabilidade, vocês mergulham profundo nisto durante semanas e talvez não retornem à superfície depois deste tempo porque há tal profundidade na doutrina da substituição. Paulo diz que  não podia falar com eles sobre as profundidades, ele tinha que falar como se fossem bebês, tinha que lhes dar  leite e não comida sólida porque não poderiam receber isto. Realmente aqui está a prova, você não é capaz porque você ainda é carnal. E como isso se manifesta? Há ciúme e há discussão ou contendas entre vocês. Não são vocês carnais? Não estão caminhando segundo o homem?
Uma compreensão superficial da Bíblia é o maior motivo que contribui para a discordância na igreja. O legado do alimento sólido, de uma compreensão profunda da Palavra de Deus, é a unidade da fé. E todo o mundo que entende o mesmo, que crê no mesmo, tendo a mesma mente, fazendo os mesmos julgamentos... não há nenhuma base  para a discordância de significação fundamental. Isto é totalmente o contrário do objetivo de uma mentalidade reducionista que pretende ignorar o pecado dos crentes na igreja, e varrer as heresias para debaixo do tapete, tolerando aqueles que pregam e ensinam não em conformidade com a sã doutrina, em prol do argumento de se manter a unidade. Isto nunca será conseguido neste caminho porque Deus jamais honrará uma tal coisa feita pelo simples arranjo político dos homens. É um grande erro pensar que isto não teria nenhum efeito negativo, como fosse possível aceitar o que todo mundo acredita a respeito da verdade, ou dar todo tipo de comportamento como aprovado. Nada poderia estar desonrando mais ao nosso Deus.
Onde há ciúme e discussão, há carnalidade e as pessoas estão caminhando segundo meros homens e não segundo a mente de Deus. E passa a existir uma identificação com personalidades (“eu sou de Paulo, eu de Apolo, de Cefas...”). Eu prefiro o pastor tal ao pastor tal. Um é rejeitado em detrimento do outro. E onde vai parar a  unidade ? Onde fica a visão de um só corpo, de um só Senhor, Espírito, Deus Pai, fé etc.?  Onde quer que seja que haja este tipo de discórdia, Deus é desonrado, a igreja fica severamente aleijada e a bênção é perdida. E isto traz consigo a falta de paz, e traz também o pecado.
O caminho para uma mente e um julgamento e concordância em real unidade é o caminho da sã doutrina. É assim que você chega lá. E é aqui onde tudo começa. E o caminho da santidade.
Se eu acho que você errou de acordo com a Bíblia, eu tenho que confrontar o erro. E se você não se arrepender daquele erro, eu não posso ter comunhão com você. Por que? Porque seu erro comerá como gangrena e como resultado disto, algumas pessoas poderiam naufragar na fé. Como pastor, eu não posso expor minha congregação a isso. E se eu não confronto seu pecado, um pouco de fermento levedará toda a massa, e a unidade será destruída com isto.
Em Fp 1.27 lemos: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica.”. “lutando juntos pela fé evangélica.”. O que é isto ?... a fé evangélica ? Sã doutrina cristã... a fé objetiva, não a fé subjetiva. A fé, o conteúdo do evangelho revelado. Eu quero que vocês estejam firmes em um só espírito, como uma só alma. Como Judas chama isto “a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.” (3). O conteúdo da verdade bíblica.
Há atualmente no mundo muitos movimentos no meio dos crentes que pretendem sacrificar a sã doutrina em prol de se fazer a unidade entre os cristãos de todas as confissões, para que se possa alcançar o mundo perdido com a união de evangélicos, católicos romanos, e de quaisquer pessoas que afirmam crerem em Cristo. Como vimos isto vai na contra mão da vontade de Deus revelada na Bíblia, e tal movimento não apenas fracassará no seu objetivo, como transfigurará a verdadeira igreja de Cristo, que revela Cristo ao mundo, pela unidade que se baseia na verdade da Palavra e na santidade.
Em Rom 15.5,6 lemos: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.”.
Você vê, a medida estabelecida é Cristo Jesus, a fé, o evangelho, a verdade.
A palavra traduzida por “sentir” nesta versão tem no original a palavra “mente”, a mesma usada em I Cor 1.10 e Fp 1.27. Assim, mesmo sentir, equivale a mesma mente.  O cristianismo é uma fé cognitiva. Isto é, a fé que se baseia no conhecimento da verdade. A verdade da Palavra de Deus. Por isso se diz que a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Cristo. A fé não vem pela incitação ao emocionalismo ou sentimentalismo, porque não é isto que produz a fé, mas a Palavra de Deus. O Senhor sempre honra a prática, o ensino e a pregação da Sua Palavra, com a manifestação do Seu poder, de forma visível ou invisível. Por exemplo: a igreja está unida em um só espírito, por estar concordando com a exatidão da Palavra que está sendo pregada. E o que Deus faz ? Derrama Seu poder e suas bênçãos como sinal de aprovação.
Qual é pois a vantagem do controle sobre as massas por meio da persuasão humana, e dos processos de condicionamento psicológico ? Isto não pode trazer de modo algum a bênção de Deus e a unidade do Espírito.
O que devemos fazer é tentar expressar uma unidade em torno do entendimento comum da verdade revelada, de forma que nós tenhamos a mesma mente. E você só pode fazer isto quando entende a verdade da mesma maneira. Com um só diapasão é possível afinar vários instrumentos. E o diapasão com o qual as vida das pessoas na igreja são afinadas é exclusivamente a Palavra de Deus, a verdade do evangelho. É muito sábio e necessário que todos invistam portanto na igreja, no ensino e no aprendizado da sã doutrina. Pois quando todos estiverem afinados com ela, estarão também afinados uns aos outros.
Assim, quando a igreja está vivendo isto, e alguém está em espírito de discordância, uma entre duas coisas estará ocorrendo: ou você ignora a verdade ou está em  pecado. Porque se todos nós entendemos a mesma verdade realmente não há nenhuma diferença significativa. Se aquela verdade foi violada através do pecado, deve ser confrontado e deve ser tratado. Mas pode ser que a razão mais provável de que você está em conflito com a igreja, é porque você não entende a verdade.
Eu sempre fico pasmado em ver as pessoas estarem em discórdia com os pastores e anciões da igreja. E muitas vezes isto ocorre porque eles não entendem a sã doutrina. Eles precisam de instrução e isso precisa ser feito graciosa e amorosamente. Eles precisam ser instruídos desta forma, e assim eles podem chegar ao conhecimento da verdade.
Mas, para encerrar, lembremos que é necessário revestir-se de tudo o que está contido em Col 3.12-17, para que vivamos em unidade. É assim que nos esforçamos para nos mantermos no caminho da paz: é vestindo-nos com um coração de compaixão, bondade, humildade, bondade, e paciência, sendo pacientes uns  com os outros e perdoando-nos mutuamente. E acima de tudo isso deve estar o amor. O amor é o laço perfeito da unidade. O caminho de paz é um caminho de compaixão, de real compaixão, de real ternura e sensibilidade de coração para com todos. É um caminho de bondade de forma que nada indelicado tenha lugar. É um caminho de humildade de forma que você nunca é o assunto. É um caminho de bondade, paciência na qual vocês são pacientes uns com os outros e no qual vocês se perdoam uns aos outros... até mesmo aqueles que têm  uma reclamação específica contra qualquer um. E seu modelo é o Deus que o perdoou.

É principalmente para que se tenha isto, que a igreja deve orar, e especialmente os seus líderes. Porque sempre surgirão esforços para trazer discórdia. Satanás trabalha sempre neste sentido. E se você trouxer discórdia, você não ganha, você perde e do mesmo modo a igreja, e  Deus é desonrado. Faça tudo o que estiver ao seu alcance, com toda a diligência de seu coração para preservar a unidade do espírito no laço da paz. Faça todo o possível conforme suas forças para manter a unidade, e procurar a paz, mostrar compaixão, bondade, humildade e paciência, e ser longânimo com todos e perdoar as pessoas e vestir-se de amor e serviço sacrificial desinteressado. E aquela unidade espiritual ficará visível e Deus será glorificado.



Provérbios 19

“1 Melhor é o pobre que anda na sua integridade, do que aquele que é perverso de lábios e tolo.
2 Não é bom agir sem refletir; e o que se apressa com seus pés erra o caminho.
3 A estultícia do homem perverte o seu caminho, e o seu coração se irrita contra o Senhor.
4 As riquezas granjeiam muitos amigos; mas do pobre o seu próprio amigo se separa.
5 A testemunha falsa não ficará impune; e o que profere mentiras não escapará.
6 Muitos procurarão o favor do liberal; e cada um é amigo daquele que dá presentes.
7 Todos os irmãos do pobre o aborrecem; quanto mais se afastam dele os seus amigos! persegue-os com súplicas, mas eles já se foram.
8 O que adquire a sabedoria é amigo de si mesmo; o que guarda o entendimento prosperará.
9 A testemunha falsa não ficará impune, e o que profere mentiras perecerá.
10 Ao tolo não convém o luxo; quanto menos ao servo dominar os príncipes!
11 A discrição do homem fá-lo tardio em irar-se; e sua glória está em esquecer ofensas.
12 A ira do rei é como o bramido do leão; mas o seu favor é como o orvalho sobre a erva.
13 O filho insensato é a calamidade do pai; e as rixas da mulher são uma goteira contínua.
14 Casa e riquezas são herdadas dos pais; mas a mulher prudente vem do Senhor.
15 A preguiça faz cair em profundo sono; e o ocioso padecerá fome.
16 Quem guarda o mandamento guarda a sua alma; mas aquele que não faz caso dos seus caminhos morrerá.
17 O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, que lhe retribuirá o seu benefício.
18 Corrige a teu filho enquanto há esperança; mas não te incites a destruí-lo.
19 Homem de grande ira tem de sofrer o castigo; porque se o livrares, terás de o fazer de novo.
20 Ouve o conselho, e recebe a correção, para que sejas sábio nos teus últimos dias.
21 Muitos são os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá.
22 O que faz um homem desejável é a sua benignidade; e o pobre é melhor do que o mentiroso.
23 O temor do Senhor encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e mal nenhum o visitará.
24 O preguiçoso esconde a sua mão no prato, e nem ao menos quer levá-la de novo à boca.
25 Fere ao escarnecedor, e o simples aprenderá a prudência; repreende ao que tem entendimento, e ele crescerá na ciência.
26 O que aflige a seu pai, e faz fugir a sua mãe, é filho que envergonha e desonra.
27 Cessa, filho meu, de ouvir a instrução, e logo te desviarás das palavras do conhecimento.
28 A testemunha vil escarnece da justiça; e a boca dos ímpios engole a iniquidade.
29 A condenação está preparada para os escarnecedores, e os açoites para as costas dos tolos.”

Quanto à afirmação do verso 11: “A discrição do homem fá-lo tardio em irar-se; e sua glória está em esquecer ofensas.”, nós usaremos para o comentário da atitude fundamental cristã do perdão, um texto adaptado de autoria do Pr John MacArthur.

Atitudes Cristãs Fundamentais: Perdão

Por John  Macarthur (adaptado)

Continuaremos o nosso estudo sobre a anatomia da igreja com o estudo sobre o perdão.
Nós estudamos a maturidade, a santidade e a pureza como o esqueleto do corpo de Cristo. E estudamos a fé, a obediência, o amor, a humildade, a unidade, e a gratidão como componentes dos sistemas internos do corpo.  A estes estamos acrescentando a atitude de perdão.
Este deve ser um companheiro ao lado da perseguição da santidade ou a igreja fica muito severa, muito amarga e muito rígida. A igreja não é nenhum lugar para rancores (ressentimentos ). A vida cristã não deve ser caracterizada por rancores ou vingança ou amargura ou orgulho. Tudo isso é destrutivo e deve ser dissolvido em uma atitude perdoadora.
Isto é absolutamente essencial porque não temos na terra as perfeições que teremos no céu. Nós aspiramos pelas perfeições do céu mas nós não as temos e então na vida da igreja haverá imperfeições, haverá erros, haverá maus juízos, haverá atitudes erradas, haverá pecados e eles acontecerão em todos os níveis da igreja. Eles acontecerão nas vidas dos líderes, na vida dos pastores e dos anciões, e acontecerão nas vidas de todos desta igreja e de qualquer outra igreja. O apóstolo Paulo que olhava para si mesmo do pináculo da sua vida, considerava-se o principal dos pecadores. Sempre haverá imperfeições e sempre haverá erros e nós sempre estaremos dizendo a nós mesmos, "Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?". Na verdade, quanto mais amadurecemos em Cristo e quanto mais   crescemos, chegando a ser pais espirituais,  mais os nossos pecados  se tornam manifestos a nós porque quanto maior é a nossa sensibilidade quanto a isto, mais visíveis se tornam as nossas fraquezas. E assim porque sempre haverá imperfeições e sempre haverá erros, iniquidades, pecados, transgressões e maus juízos, sempre haverá uma grande necessidade do exercício de perdão na vida da igreja. E onde quer que haja uma atitude irreconciliável, haverá quebra de comunhão e  roubará a alegria e a utilidade que nós deveríamos experimentar.
Haverá um roubo da paz que o Senhor nos tem dado pelo Seu Espírito.
Eu destacaria brevemente que nos dias de hoje a cultura está seduzida psicologicamente, no exercício de glorificar o pecado de auto-estima, e o perdão é alvo de zombaria e a vingança é exaltada. Isto é exatamente o oposto do que a Bíblia nos ensina. O perdão é o ato mais divino que uma pessoa pode fazer. Nada é mais divino do que perdoar alguém. E você nunca é  mais parecido com Deus do que quando você perdoa.
É algo para realmente se pensar como em Deus coexiste ao mesmo tempo uma imensurável aversão pelo pecado, por conta da Sua perfeita santidade, e ao mesmo tempo, Ele se dispõe a perdoar os pecadores em Cristo, que não queriam e não buscavam o Seu amor, que serviam o arqui-inimigo de Deus, Satanás, sendo que muitos destes que foram perdoados totalmente em Cristo, chegaram a praticar os mais horrendos pecados. Isto revela o quanto Deus é perdoador.
Se a oração do seu coração é para ser como Cristo, ser como verdadeiros filhos de Deus, filhos amados que manifestam o  caráter dele, então você necessariamente deve ser caracterizado pelo perdão. O perdão é uma coisa maravilhosa. Perdão é uma promessa. Perdão é um penhor. Perdão é uma declaração de amor imerecido, que diz que não importa o que você tenha feito, não há nenhuma raiva, não importa o que você fez, não há nenhum ódio, não importa o que você fez, não há nenhum desejo para vingança. Eu passo por aquela transgressão completamente. Eu não o considero culpado. Eu não o culpo. Eu não sinto nenhuma pena de mim mesmo porque fui ofendido, ao contrário, eu esqueço aquela transgressão completamente e estendo todo o meu amor a você. Isso é perdão e isso é divino.
Em Êx 34;6.7. lemos: “E passando o Senhor por diante dele, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até à terceira e quarta geração.”.
Esta é a característica de Deus com a qual nós queremos  nos identificar. Ele é por natureza um Deus perdoador.
No Salmo 32.1,2 lemos: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade, e em cujo espírito não há dolo.”.
No Salmo 85.2,3 lemos: “Perdoaste a iniquidade de teu povo, encobriste os seus pecados todos. A tua indignação reprimiste-a toda, do furor da tua ira te desviaste.”.
Lemos também no Salmo 130.3,4: “Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá ? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.”. Este temor significa ser tratado com  respeito e honra. Deus ganha a adoração desses a quem Ele assim  perdoa gratuitamente.
Em Is 43.25 lemos: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro.”. Isso é uma grande declaração: “apago as tuas transgressões por amor de mim.”. O que significa isso? Que eu poderia revelar Meu caráter como um Deus perdoador e então poderia ser adorado como tal por aqueles que agradecem tal perdão.
E então aquele grande texto de  Is 55.6, 7: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele; e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.”.
  Deus falou através do profeta Jeremias do mesmo modo: “Purificá-los-ei de toda a sua iniquidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniquidades, com que pecaram e transgrediram contra mim.”. Deus ressalta a significação da transgressão e então repete a atitude dele de perdão.
Jesus ensinou muitas parábolas. E nenhuma dessas parábolas é mais conhecido, talvez, do que a que nós chamamos de parábola do filho pródigo. Na verdade não é a parábola do filho pródigo, mas a parábola do pai perdoador. Eu penso que este seria um título melhor para a parábola. Está em Lc 15, e ali vemos como perdoa totalmente um filho imerecedor e indigno. O filho naquela parábola não era como muitos filhos, ganancioso, egocêntrico, indulgente, tolo e ansioso em colocar suas mãos na herança que ele não tinha ganho, tolo, esbanjador pelo modo como a gastou rapidamente com aqueles que, a propósito, o exploraram e o deixaram na miséria, quando o dinheiro dele acabou. Lentamente o seu senso foi sendo despertado, quando viu que estava morrendo de fome, comendo a comida dos porcos, e então compreendeu que até os criados na casa de seu pai tinham comida com fartura, e decidiu voltar para casa.
Ele realmente não esperava ser perdoado, isto, na verdade, era a  última coisa que ele esperava. Ele tinha decidido retornar como escravo, em razão das coisas terríveis que havia feito. Não esperava ser recebido como um filho, mas perguntaria se poderia ser recebido como um escravo.
Quando ele chega próximo à casa do seu pai,  Jesus nos ensina o que significa perdoar. Porque o que faz o pai? O pai não espera o pecador chegar. Assim que ele o vê vindo ele corre ao seu encontro. Quando ele começar a abrir a sua boca para falar, antes que ele possa dizer que está arrependido,  o pai o abraça e começa a beijá-lo e o ama, e só então o filho diz que pecou contra o céu e diante do pai,  e disse que não era digno de ser chamado seu filho. Mas o pai nada responde, e dá ordens aos servos para trazerem depressa a melhor roupa para vesti-lo, e manda colocarem um anel no seu dedo e sandálias em seus pés, manda ainda matar um novilho e ordena que se toque música de alegria e que se dance para comemorar a volta do seu filho. Esse é o caráter pródigo do perdão.
Você diz, "Como o Senhor soube que ele desejava ser perdoado?”. Bem, Ele soube isto porque ele tinha voltado. Obviamente ele tinha começado a andar naquela direção.  Quando Deus vê o pecador se movendo em Sua direção com o coração quebrantado, Ele se move de íntima compaixão, e abraça o pecador e derrama o seu amor perdoador sobre aquele pecador. Esse é o modo que Deus perdoa.  E é assim de fato, porque foi isto que Jesus ensinou. E Jesus sendo Deus, revelou-nos como é o Pai.
O pai perdoador somente pode dizer que ele ama o filho indigno. Ele somente pode dizer que ele sempre amará aquele filho que cometeu tais pecados grosseiros. E pecados cometidos diretamente contra aquele pai. E ele nada fará além  de se alegrar naquele filho e demonstrar isto com  expressões de perdão, e ele não fará isto para qualquer ganho pessoal mas pela alegria completa da reconciliação e simplesmente por amor. É por isso que eu digo que o perdão é a coisa mais divina que você pode fazer.
É muito difícil de dividir uma igreja cheia de pessoas perdoadoras. Não importa que falhas seu pastor possa cometer, ou seus líderes possam fazer, ou que você mesmo poderia fazer, ou alguém ao redor você poderia fazer, quando há uma prontidão para perdoar tudo isto é muito difícil de provocar essas divisões que desonram tanto ao Senhor. Jesus quando pregado na cruz olhou as pessoas que estavam tirando a Sua vida, e erguendo os Seus olhos ao céu, ao lado deles, Ele disse: "Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que estão fazendo.”. E Estevão repetiu este mesmo ato de Jesus quando estava sendo apedrejado pelos seus perseguidores.
Em Ef 4.32 lemos: “Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.”.
Nós deveríamos parar para falar sobre isto por um momento.
Um mundo como o nosso é um mundo indelicado, com uma sociedade indelicada, hostil, impiedosa. Simplesmente seja bondoso, esquecendo erros, falhas, fraquezas, pecados e tratando as pessoas com bondade, deixando o egoísmo, as próprias expectativas, e seja gentil com as pessoas, independentemente delas se ajustarem ou não aos seus padrões. E a benignidade inclui o ser compassivo. Essa é uma simples palavra para  se entender, compaixão... tratando as pessoas ternamente. E aqui está um modo para fazer isto: perdoando-se mutuamente da mesma maneira que Deus em Cristo também o perdoou. E a parábola do filho pródigo ilustra o modo como Deus perdoa.
E novamente eu digo, você nunca se parece mais com Deus do que quando você perdoa, quando você expressa bondade, quando você é compassivo e perdoa da mesma maneira que Deus o perdoou. E não é um perdão superficial, é um perdão profundo, é um perdão pródigo.
E seguindo imediatamente Ef 4.32, temos Ef 5.1 onde se diz que devemos ser imitadores de Deus como filhos amados. Ora, isto inclui, principalmente que você imita Deus quando você perdoa, porque é isto que o verso anterior ordena.
Em Col 3:13 Paulo desdobra a mesma grande verdade: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”.  Perdoando com o mesmo tipo de magnanimidade e o mesmo tipo de generosidade com que  Deus o perdoou de coração.
Lembre-se do ensino de Jesus em Mt 5.44,45: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos.”.
Paul escreveu aos Efésios e aos Colossenses, essas duas cartas que falam sobre perdão, quando estava numa prisão onde injustamente o prenderam. Ele estava praticando a mesma virtude que ele estava exortando os crentes a praticarem.
Um outro aspecto a se pensar sobre o perdão é que quem o ofende, ofendeu ainda mais a Deus. Ora, e se Deus foi mais ofendido do que você e perdoa, você deve de igual modo perdoar.
No Salmo 51.3,4 Davi reconhece que o seu pecado contra Urias e Bate-Seba, na verdade foi um pecado contra Deus.
E sabemos que Deus perdoou este seu pecado, apesar dele ter sofrido as consequências que adviram dele.
Deus é perfeitamente santo. Ele é triplamente santo... santo, santo, santo. Ele é de tão puros olhos que não tolera contemplar o mal, não pode olhar a iniquidade. Ele não pode tolerar o pecado. Ele menospreza o pecado. Ele odeia o pecado. E enquanto Ele está perdoando haverá um limite à Sua paciência e Ele não suportará sempre o pecado. Chegará um momento de julgamento e justiça. Ele afirma em  Êxodo 34.7, que ao mesmo tempo que Ele é Deus perdoador, há também um limite para o Seu perdão  porque a Sua santidade e justiça entrará em ação onde houver  impenitência. Todo aquele que não se arrepende do mal, há de enfrentar o juízo de Deus. A iniquidade dos homens será visitada no grande juízo de Deus. Ele é perfeitamente santo e  no final das contas requererá um castigo justo para o pecado. A disposição de Deus em perdoar completamente está revelada e consumada no ato perfeito da remoção da culpa daqueles que se arrependem, por meio do sacrifício vicário de Jesus na Cruz. Podemos dizer que Deus castigou a si mesmo para poder nos perdoar dos nossos pecados. Como escaparemos então se recusamos uma tão grande salvação, que está baseada num tão imenso perdão ? O juízo de Deus não é uma afirmação de que não seja compassivo, misericordioso, perdoador. Isto porque nenhum pecador poderá desculpar-se de não ter usufruído do seu perdão, porque é sacrificial em Deus mesmo, é inteiramente gratuito e total. É obtido somente por fé e pelo arrependimento. O juízo não nega portanto o perdão. Este continua disponível para qualquer um que se arrependa dos seus pecados e que se volte para Deus, assim como fez o filho pródigo.
Deus, que é terrivelmente ofendido pelos nossos pecados, perdoa. Nós que o desonramos quando pecamos, podemos ser, e somos perdoados. Como se sustentará então no juízo a falsa alegação e acusação de que Deus não foi bom e justo, que certamente haverá de partir do coração daqueles que rejeitaram o perdão que foi oferecido por Deus, em Cristo Jesus, graciosamente a todos  os homens ?
Nós que somos pecadores não perdoaremos? O que é isto, algum tipo de complexo de Deus por parte de pessoas que não desejam perdoar ? Mas isto é ter a Deus numa estima incorreta, porque Ele perdoa. Assim, o seu padrão é mais elevado do que o do próprio Deus.
Eu creio de coração que nós devemos perdoar todas as ofensas em todo o tempo. Meus inimigos e aqueles que me perseguem e me odeiam provavelmente não me pedirão o meu perdão, e ainda  Jesus disse "Amai os vossos inimigos e fazei o bem” (Lc 6.35). E isso manifesta uma atitude de perdão. E há crentes que estão ofendendo a você e a mim. Há crentes que estão amargos e cheios de vingança e desejam a retaliação porque imaginam que foram feridos por nós. E eu realmente creio de coração que é essencial que nós estendamos a eles uma bondade, uma compaixão e um amor perdoador com a compreensão de que nunca poderá haver uma restauração do relacionamento até que haja um real arrependimento da parte deles. O relacionamento não poder ser o que deveria ser até que se busque da parte deles uma restauração através do perdão.
Mas você não pode esperar por isto em todas as situações. Eu quero dizer, olhe para o seu próprio lar, olhe para seu próprio matrimônio, olhe para sua própria família. Você estaria acumulando uma longa lista das ofensas que os demais possam ter cometido e que não vieram lhe pedir perdão pelo que fizeram ? Eu creio que não. Eu penso que é a magnanimidade de seu amor por eles que o faz esquecer essas coisas, pois o amor cobre uma multidão de pecados. Assim, a medida do seu perdão pelos que estão fora da sua família, deve ser medida também pelo seu amor por eles.
Você se lembra certamente do relato de Mt 18.21-35, daquele homem que foi perdoado de uma grande dívida por um rei, mas que se recusou a perdoar um pequena dívida de um dos seus devedores. E a observação que  Jesus está fazendo é como você pode aceitar o perdão de Deus por todos seus pecados e não perdoar outra pessoa quando Deus o perdoou muito mais.
Mas devemos considerar que aquele que não perdoa não é perdoado. Você diz: "O que você quer dizer com isso? Você está falando que quando nós morrermos nós vamos para o inferno apesar de sermos crentes ?”. Não. Não. No grande quadro geral são perdoados todos seus pecados se sua fé estiver em Jesus Cristo. Nós não estamos falando de algo que tem a ver com seu destino eterno. Nós estamos falando do que tem a ver com sua alegria, sua paz, sua utilidade, sua comunhão. Nós estamos falando sobre o que Jesus falou com Pedro quando ele disse, "eu quero um banho", e o Senhor disse, "Você já tomou banho, você só precisa ter os seus pés lavados.". Não é uma questão de você estar limpo, você está limpo, você apenas adquiriu alguma sujeira em seus pés que o tornam um companheiro sujo para quem senta à mesa conosco.
Em Mt 6.12 Jesus disse isto: “Perdoa as nossas dívidas assim como temos perdoado nossos devedores.”. E logo abaixo no verso 14 Ele diz: “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém , não perdoardes aos homens as suas ofensas, tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.”. Isso é colocado com muita clareza. Deus o perdoará se você perdoar outros.
Nós tivemos o perdão eterno através da nossa justificação. Mas precisamos do perdão temporal em nossa santificação e é isso que influi no assunto das bênçãos do presente. Você entende a diferença. O perdão eterno que nós temos na nossa justificação,  quando nos convertemos a Cristo, resolve o assunto da bênção futura. O perdão temporal que nós recebemos diariamente de Deus, se nos arrependemos dos nossos pecados e perdoamos os nossos devedores, é necessário para a nossa santificação, e resolve o assunto da bênção presente. O ponto é, se você não estiver perdoando outros regular, constante e completamente, então Deus não o está perdoando no sentido temporal e se você não está sendo perdoado no sentido temporal, várias coisas acontecerão. Você perderá a bênção e você será sujeito à disciplina de Deus, como ilustra o que foi feito pelo rei com aquele homem que se negou a perdoar o seu próximo, conforme narrativa de Mt 18. Ele era um crente que tinha sido perdoado  completamente por Deus. Ele foi entregue aos verdugos para ser açoitado. Deus castiga aqueles que não perdoam outros. Às vezes ele os castiga até mesmo com a morte física.
Através dos anos como pastor eu tenho observado que muitas vezes o vazio, a aridez, a estagnação insípida, a falta de alegria, a falta de poder, a falta de utilidade nas vidas das pessoas frequentemente estão relacionados a um coração irreconciliável, que não perdoa. Isto se deve ao fato de que a bênção de Deus é retida por causa da resistência da pessoa para perdoar. Quando a amargura ou queixa contra outrem se instala no coração, ela não somente envenenará a pessoa, como também a manterá afastada da bênção de Deus enquanto isto perdurar. Até que se pague o último centavo, da dívida de pecados contraída com Deus, a pessoa não poderá se ver livre do açoite do verdugo que a castiga por determinação do Rei dos reis. Às vezes uma pessoa se senta comigo e diz: "Eles estão dizendo isto de mim, e eu ouvi falar isto de mim, e eu estou realmente irado com tudo isto.". E minha pergunta é: “O que você pensa que o Senhor está tentando fazer na sua vida? Você acha que poderia haver alguma razão para você está experimentando tudo isto?”.
Em outras palavras, a implicação é... poderia ser um castigo? Uma ação disciplinadora da parte de Deus ? Você tem examinado o seu coração? O que eu ouço saindo de seu coração é raiva e o que eu ouço saindo de seu coração é amargura. E talvez é a falta de perdão que está causando todas estas provações. Nós devemos  perdoar porque é isto que agrada a Deus ver seus filhos praticando.
Nós devemos perdoar porque o Santíssimo perdoa e o menor dos santos, o principal dos pecadores não deveria perdoar? Nós devemos perdoar porque os nossos muitos e grandes pecados contra Deus têm sido perdoados, e as pequenas ofensas que nos são dirigidas não deveriam ser perdoadas por nós? Nós devemos perdoar porque não perdoar é perder a comunhão e o amor dos irmãos e isto será castigado. E além disso, se nós não perdoarmos  nós não somos realmente dignos de participar da mesa do Senhor, nós não estamos em condição de adorá-lo.
Em Mt 5.23-26 Jesus disse: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo.”.
Agora isto é muito básico. Se você tiver guardado rancor contra alguém, resolva. A reconciliação precisa preceder a adoração. Onde há amargura, raiva e falta de perdão, você precisa fazer tudo que estiver ao seu alcance  para solucionar isto. Onde há a iniquidade da falta de perdão, Deus não receberá a sua adoração. Tal é a importância do perdão.
O perdão traz o céu à terra e a paz do céu ao coração pecador. O perdão é a imagem de Deus, o Pai perdoador, e o avanço do reino de Cristo no mundo.

Nunca você é mais parecido com Deus do que quando você perdoa.



Provérbios 20

“1 O vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar não e sábio.
2 Como o bramido do leão é o terror do rei; quem o provoca a ira peca contra a sua própria vida.
3 Honroso é para o homem o desviar-se de questões; mas todo insensato se entremete nelas.
4 O preguiçoso não lavra no outono; pelo que mendigará na sega, e nada receberá.
5 Como águas profundas é o propósito no coração do homem; mas o homem inteligente o descobrirá.
6 Muitos há que proclamam a sua própria bondade; mas o homem fiel, quem o achará?
7 O justo anda na sua integridade; bem-aventurados serão os seus filhos depois dele.
8 Assentando-se o rei no trono do juízo, com os seus olhos joeira a todo malfeitor.
9 Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?
10 O peso fraudulento e a medida falsa são abominação ao Senhor, tanto uma como outra coisa.
11 Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se a sua conduta é pura e reta.
12 O ouvido que ouve, e o olho que vê, o Senhor os fez a ambos.
13 Não ames o sono, para que não empobreças; abre os teus olhos, e te fartarás de pão.
14 Nada vale, nada vale, diz o comprador; mas, depois de retirar-se, então se gaba.
15 Há ouro e abundância de pedras preciosas; mas os lábios do conhecimento são jóia de grande valor.
16 Tira a roupa àquele que fica por fiador do estranho; e toma penhor daquele que se obriga por estrangeiros.
17 Suave é ao homem o pão da mentira; mas depois a sua boca se enche de pedrinhas.
18 Os projetos se confirmam pelos conselhos; assim, pois, com prudência faze a guerra.
19 O que anda mexericando revela segredos; pelo que não te metas com quem muito abre os seus lábios.
20 O que amaldiçoa a seu pai ou a sua mãe, apagar-se-lhe-á a sua lâmpada nas mais densas trevas.
21 A herança que no princípio é adquirida às pressas, não será abençoada no seu fim.
22 Não digas: vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor e ele te livrará.
23 Pesos fraudulentos são abomináveis ao Senhor; e balanças enganosas não são boas.
24 Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?
25 Laço é para o homem dizer precipitadamente: É santo; e, feitos os votos, então refletir.
26 O rei sábio joeira os ímpios e faz girar sobre eles a roda.
27 O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração.
28 A benignidade e a verdade guardam o rei; e com a benignidade sustém ele o seu trono.
29 A glória dos jovens é a sua força; e a beleza dos velhos são as cãs.
30 Os açoites que ferem purificam do mal; e as feridas penetram até o mais íntimo do corpo.”

Quanto à afirmação do verso 9: “Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?”, nós usaremos para o comentário relativo ao assunto do pecado, um texto de autoria de Martin Lloyd Jones.


A Pecaminosidade Extraordinária do Pecado

“27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás.
28 Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.
29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.
30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno.” (Mt 5.27-30)

Os escribas e fariseus haviam reduzido o mandamento que proíbe o adultério ao simples ato físico de adulterar, e pensavam que, sempre que não se cometesse o ato propriamente dito, o mandamento não seria quebrado.
E esta forma de pensar continua sendo a mesma em nossos dias, porque as pessoas veem apenas a letra da lei e não o espírito da lei. E Jesus disse que a Palavra de Deus é espírito e vida, então isto implica que deve ser vista espiritualmente e não como mera leitura de palavras.
Por exemplo, nós lemos em Ef 4.31:
“Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia.”
E em Col 3.19:
“Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não as trateis com amargura.”.
Os maridos têm o mandamento de amarem suas esposas tal como Cristo ama a Igreja, dando suas vidas por elas.
Como poderão então escapar do juízo de Deus aqueles que tratam suas esposas com amargura? Simplesmente porque não têm adulterado fisicamente, eles pensam que são melhores que os outros pecadores e que não têm transgredido contra Deus, e julgam erroneamente que têm cumprido o seu dever de esposos porque não têm praticado o ato de adultério.
Isto é um modo de se julgar segundo a letra da lei, e não pelo espírito da lei, que é o modo pelo qual ela convém ser compreendida.
Por isso Jesus e o apóstolo Paulo, explicaram o sentido espiritual da lei, com estas palavras que lemos em nosso texto, além das muitas outras que eles ensinaram.
Então isto é algo muito vital e absolutamente necessário para uma verdadeira compreensão do evangelho do Novo Testamento pelo qual se afirma que a letra mata, mas o espírito vivifica.
Os dez mandamentos da lei não podem ser tomados separadamente, conforme faziam os escribas e fariseus e a grande maioria das pessoas, porque, por exemplo, o décimo diz que não se deve cobiçar a mulher do próximo, e isto deve ser tomado então juntamente com o mandamento de não adulterar.
A lei de Deus não se limita somente aos atos, pois afirma “não cobiçaras”, e isto diz respeito à vontade, aos desejos. Assim, os sentimentos e desejos contrários ao Espírito de Deus, consistem também em transgressões da lei, que nos conduzem por conseguinte ao inferno (no caso de descrentes) ou ao desagrado e correções de Deus (crentes).
Isto significa consequentemente, no caso de crentes,que eles não podem experimentar um verdadeiro mover do Espírito Santo em seus corações, enquanto abriguem sentimentos de amargura, ira, impureza, mexerico, malícia ou qualquer outro que seja contrário à santidade de Deus.
Ninguém se engane pensando que se pode fluir no Espírito Santo enquanto a pessoa não se aplicar efetivamente à santificação da sua vida.
A lei sempre havia insistido na importância do coração, e as pessoas, com suas ideias ritualísticas do culto a Deus e seu conceito puramente mecânico de obediência, esquecem completamente esta verdade.
Jesus sublinhou portanto de modo bastante forte esta verdade em Mateus 5.27-30  para que os seus discípulos não fossem enganados quanto à forma pela qual o pecado deve ser considerado. Para que nenhum deles pensasse que a forma de agradar a Deus consiste em se fazer algumas coisas boas ou boas ações, segundo o homem, enquanto se continua escravo do pecado no coração.
Como as pessoas sempre têm esta tendência natural de darem pouca atenção ao pecado em sua essência, considerando-o de modo superficial, porque são enganadas pelo próprio pecado, Jesus pôs o dedo na ferida para desmascarar o pecado quando disse estas palavras do nosso texto:
“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.
E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno.”.
Isto não deixa espaço para nenhuma maneira de se explicar o pecado de forma psicológica, em função de justificar tipos de temperamentos.
O mau ou bom temperamento não justificará ninguém diante dos olhos de Deus, e não dará a ninguém a Sua aprovação, senão a santificação de todo o espírito, toda a alma e todo o corpo, conforme se afirma em I Tes 5.23.
Muitos pensam que o homem está em evolução, e que passo a passo se tornará cada vez melhor, através do desenvolvimento da ciência e da educação. Se isto fosse verdadeiro não haveria tanto aumento da iniquidade no mundo, conforme Jesus disse que ocorreria no tempo do fim, porque, afinal, nunca houve tanta ciência e educação à disposição da humanidade como em nossos dias.
Essa ideia não existia antes do mundo pós-moderno, porque esta influência idealista tem predominado nos últimos 200 anos, especialmente desde a revolução francesa, de onde se retirou esta ideia de que o homem seria aperfeiçoado com a melhora da cultura e da educação.    
Com isso o diabo conseguiu ocultar esta verdade que é ensinada por Jesus em relação ao pecado, e a forma séria com a qual ele deve ser encarado para ser mortificado em nossas vidas. Porque sem isto não é possível haver uma verdadeira santificação.
O grande problema com a Igreja em nossos dias procede basicamente deste ponto; porque quando não se tem uma ideia clara da doutrina do pecado, nunca chegaremos a entender o caminho da salvação, e o significado de desenvolver a nossa salvação em crescimento espiritual conforme é ordenado aos crentes na Bíblia.
Não há evangelho sem cruz, e a cruz que devemos carregar é uma lâmina afiada que separa-nos das impurezas da carne.
Deveríamos portanto nos perguntar: qual é o significado da morte de Jesus na cruz? E qual é o significado da minha própria cruz que devo carregar diariamente?
Se não considerarmos o pecado com a devida seriedade para que seja extirpado contínua e progressivamente de nossas vidas, jamais poderemos responder corretamente a estas perguntas.
Por isso é necessário primeiro conhecer o pecado, ser convencido do pecado pelo Espírito Santo, para que possamos ser salvos e santificados.
E a absoluta e necessária mortificação do pecado está claramente expressada nestas palavras de Jesus que é tão vital fazê-lo, que caso fosse necessário sentir a dor e a perda de um dos nossos órgãos do nosso corpo, como o nosso olho direito, ou a nossa mão direita, caso fossem eles a causa de estarmos pecando, do que sermos lançados eternamente no inferno de fogo.
Aqueles que não têm sido purificados de seus pecados, de seus maus sentimentos, malícia, ira, dureza de coração, deveriam fazer uma séria reflexão quanto ao estado de suas almas, porque não será a religiosidade deles que os salvará do inferno, mas a certeza de que têm a habitação do Espírito Santo em suas vidas, e isto só pode ser sentido quando percebemos um trabalho de santificação do Espírito sendo operado em nossas vidas.
O salário do pecado sempre será a morte. Esta morte à qual a Bíblia se refere é sobretudo separação eterna de Deus. Então ninguém espere uma paga diferente desta caso viva na prática deliberada do pecado, em todas as suas formas de ações ou sentimentos contrários à bondade, misericórdia, justiça e santidade de Deus.
Se o pecado não fosse algo tão terrível, não haveria necessidade que Jesus morresse na cruz.
Se o pecado não fosse de fato o maior impedimento para a nossa santificação, nunca seria ordenado que carregássemos a nossa própria cruz diariamente para mortificar o pecado em sua raiz maligna que persegue tão de perto os nossos corações.
O reino do céu é conquistado portanto, somente por estes que estão sentindo dores, perdas, renúncias, por amor a Cristo, ao nível da perda de nossos olhos e mãos, para que possamos vencer o pecado pelo Espírito, e assim escaparmos do juízo de fogo eterno.
Ninguém se abençoe em seu íntimo pensando que tem sido livrado do fogo eterno porque simplesmente faz uma afirmação verbal de que crê em Cristo, ou então porque se submete a alguns ritos da religião, porque Deus olha o coração do homem e procura colocar ali a pureza de coração necessária para que se escape do inferno e se ganhe o céu.
Por isso ninguém poderá entrar no reino do céu se não tiver nascido de novo do Espírito. E este novo nascimento do Espírito é comprovado pela busca de santificação, porque em qualquer pessoa em quem ele estiver habitando de fato, haverá sempre esta inclinação para a busca de  uma santificação cada vez maior. E nenhum crente verdadeiro ficará confortável e satisfeito consigo mesmo enquanto estiver sendo dominado por qualquer forma de pecado que lhe tenha sido revelada pelo Espírito, para que seja mortificada e extirpada da sua vida.
Esta era a razão de muitos, nos dias de Jesus, que se diziam seus discípulos no princípio, virem a abandoná-lO e já não mais segui-lO, porque eles não podiam simplesmente suportar um tal ensino verdadeiro quanto à real condição deles perante Deus.
Enquanto houver amor às trevas, a luz não pode raiar em nossas vidas.
Assim, o evangelho não se limita apenas a se dizer: “venham a Jesus e recebam a salvação”. Não se pode oferecer esta vida maravilhosa do céu, enquanto não se é convencido do pecado e de uma real necessidade de arrependimento que significa o abandono do pecado e o voltar-se para Deus para viver segundo a Sua vontade.
Por isso o evangelismo deve começar com a pregação da lei, senão será um evangelismo superficial que não tratará com o problema do pecado em sua raiz. E Jesus se manifestou para nos apartar de nossas iniquidades, como se afirma na Palavra:
“e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades;”  (Rom 11.26).
Deste modo, apesar de a salvação ser pela graça, mediante a fé, ela impõe este custo da santificação aos que serão salvos. O Espírito Santo não convencerá a ninguém do pecado e não fará nascer de novo a qualquer que não esteja disposto a deixar o pecado e a santificar a sua vida.
Muitas religiões e Igrejas baratearam a salvação de uma forma, pela qual ela nunca foi barateada por Deus, conforme podemos ver na experiência real dos que são salvos, e no ensino da Bíblia. Porque não existe esta coisa de ganhar o céu por simplesmente confessar que Jesus é o Salvador com a nossa boca. A este respeito, Tiago diz que este tipo de fé até os próprios demônios possuem.
Assim se alguém não gosta de ouvir sobre a doutrina do pecado e do inferno, isto comprova para esta pessoa que ela não pertence de fato a Cristo, porque ainda lhe apavora a ideia de que algum dia possa ir para lá, medo este, que é totalmente excluído no verdadeiro crente, pela  presença do Espírito, que testifica com o seu espírito que ele é de fato filho de Deus, e que já não há mais nenhuma condenação eterna lhe aguardando.
O evangelismo deve começar portanto com a santidade de Deus e a condição pecaminosa do homem; com as exigências da lei, e o castigo e as consequências eternas da transgressão da lei.
De forma que ninguém se iluda pensando ter alcançado a salvação enquanto abriga a malícia no seu coração. Porque no verdadeiro crente esta malícia é extirpada, porque é ovelha, e em ovelha não há a malícia que é inerente aos lobos.
Somente aqueles que chegam a ver espiritualmente a real condição e sua maldade e culpa diante de Deus, podem recorrer a Cristo para serem salvos.
Toda fé em Jesus Cristo que não esteja baseada nisto não é portanto uma fé genuína. Será uma fé psicológica que a ninguém pode salvar. Somente a fé genuína pode libertar da maldição da lei e dar um coração de carne no lugar do coração de pedra.
A satisfação permanente consigo mesmo e a presunção são a própria antítese da santificação, porque onde o Espírito habita haverá sempre um conflito, uma crise, da luta da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne, de maneira que o verdadeiro crente terá fome e sede de justiça, e nunca estará satisfeito com o nível da santificação que tem alcançado, porque o próprio Deus o chama a crescer cada vez mais na graça e no conhecimento espiritual de Jesus.
Então o crente genuíno sempre estará em atitude de vigilância contra o pecado, e se auto examinará constantemente para julgar a si mesmo, se tem andado ou não no Espírito fazendo a vontade de Deus.
Esta é a verdadeira santificação, a saber, a que começa no coração, e que não se aplica somente às nossas ações.
Assim, a doutrina do pecado, nos faz ver a necessidade absoluta de um poder sobrenatural, infinitamente maior que o poder do pecado para que possamos ser libertados. Isto nos faz ver o quanto somos dependentes de Jesus Cristo e de andar efetivamente na Sua presença e debaixo do Seu poder.
A doutrina do pecado esvazia o homem de toda justiça própria, de busca de méritos por boas obras e tudo o mais que não lhe faça enxergar que somente Cristo é a resposta para tudo o que se refere a um viver de modo agradável a Deus.
Benditos os olhos que podem enxergar isto.
Benditos os ouvidos que recebem esta doutrina, porque se a têm recebido é porque foram abertos por Deus. O homem não pode de si mesmo ver esta verdade caso não lhe seja revelada pelo Espírito.
Isto não vem a nós pela força de argumentação de um discurso moralista ou religioso, mas pela revelação do Espírito Santo ao nosso espírito, tornando-nos humildes e mansos diante do Senhor.
Este é o caminho para a verdadeira felicidade porque é somente por ele que podemos ter nossas consciências purificadas e acharmos paz verdadeira com Deus.
Jesus nos tem ensinado em nosso texto qual é a real profundidade do pecado. Os pecados que praticamos são apenas os sintomas da enfermidade chamada pecado, e não são apenas os sintomas que devem ser tratados senão a própria enfermidade.
Muitos tomam comprimidos para acabar com as dores de consciência de pecados praticados, mas isto não tem qualquer efeito para remover a enfermidade chamada pecado que produz estas dores de consciência.
Assim, ao falar de arrancar o olho e a mão que nos leva a pecar, Jesus quis se referir à necessidade de se curar a enfermidade que tem causado as nossas transgressões.
Peca-se também com a mente e com a imaginação. Portanto não cair em tentação não consiste meramente em deixar de praticar o ato sugerido pelo pecado, mas permanecer abrigando sentimentos, desejos, imaginações pecaminosas, que impedem que tenhamos um coração puro, conforme é da vontade de Deus, que nos é dado pelo poder do Espírito enquanto andamos nEle.
Onde estiver o nosso coração ali estará o nosso tesouro e vice-versa. O que nos atrai é o que revela onde estamos de fato, se em santificação ou no pecado.
Se o que vivo e aprovo, e gosto, é tudo aquilo que Deus reprova, então fica bem claro a quem estou realmente servindo, se ao Senhor ou ao pecado.
A pior forma de adultério é o espiritual, quando somos infiéis Àquele que nos foi dado como esposo, a saber, Cristo, que é totalmente santo. Se não é a Ele a quem servimos, conforme Sua vontade, então estamos adulterando. Quão sutil e terrível é isto! Quão frequentemente os homens pecam vendo programas de TV, lendo em revistas, jornais e em quaisquer outros meios de comunicação modernos, coisas que são verdadeiras abominações diante dos olhos de Deus. Assim, os olhos deles os levam a pecar, porque eles não extirpam seus olhos (não estamos nos referindo a uma extirpação literal), mas cortarem de seus olhos a contemplação de tais coisas que são pervertidas e que lhes agradam e dão prazer, quando sabem o quanto elas desagradam e despertam a ira de Deus.
Outros se gloriam em seu conhecimento intelectual, eles se tornam orgulhosos e altivos, esquecidos que não é o fruto da árvore do conhecimento que nos torna agradáveis a Deus, antes, por causa dele entrou a maldição no mundo, mas o fruto da árvore da vida que é Cristo, que é a quem devemos primeiro conhecer de fato, e nos gloriarmos somente no conhecimento dEle, e não nas coisas relativas a este mundo, que são passageiras e não adentrarão a eternidade.
Muitos se gloriam nos feitos de suas mãos, e a propósito a grande maioria destes feitos não estão em conformidade com a vontade do Senhor, e portanto nos conduzem a transgredir a Sua vontade. Convém afastar nossas mãos da prática de toda forma de injustiça, de aceitar suborno, de escrever coisas vãs e abomináveis, de exercer atos de violência e tudo o mais em que possam ser usadas como instrumentos de perversidade.
Os olhos têm a ver com os sentimentos, com as imaginações, com a entrada da cobiça através da mente; e as mãos têm a ver com os atos, assim Jesus englobou tanto o pecado em forma de sentimentos e imaginações, quanto em forma de ações, no texto de Mt 5.27-30.
Até aquilo que fazemos para Deus em Sua casa que é a igreja e que não nos tenha sido requerido por Ele, e que não tenhamos consultado a Ele para receber a aprovação para fazê-lo é pecado.
Assim, até mesmo aquilo que pensamos ser um bem, como as esmolas que os fariseus davam aos pobres para serem elogiados pelos homens, é uma forma horrenda de pecado aos olhos de Deus, porque está carregado de orgulho e de justiça própria.
Então não se pense no pecado que entra pelos olhos, ou no pecado que se pratica com as mãos somente em questão de coisas que costumamos julgar como negativas, porque é possível pecar ainda mais naquelas que julgamos positivas, como o dar esmolas, enquanto o fazemos com um perverso coração e por motivos errados.
Devemos escutar o ensino do bendito Filho de Deus e examinarmos nossos pensamentos, desejos e imaginação. E a não ser que sintamos que somos vis e sujos, e que necessitamos ser limpos e purificados, a não ser que nos sintamos impotentes com uma total pobreza de espírito, e a não ser que sintamos fome e sede de justiça, não podemos aplicá-lo de fato às nossas vidas.

Dou graças a Deus por ter um evangelho que me diz que Jesus que é imaculado e puro e completamente santo e que tem tomado sobre Si meu pecado e minha culpa. Que tenho sido lavado em Seu precioso sangue, e que me tem feito participante de Sua própria natureza.  



Provérbios 21

“1 Como corrente de águas é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para onde quer.
2 Todo caminho do homem é reto aos seus olhos; mas o Senhor pesa os corações.
3 Fazer justiça e julgar com retidão é mais aceitável ao Senhor do que oferecer-lhe sacrifício.
4 Olhar altivo e coração orgulhoso, tal lâmpada dos ímpios é pecado.
5 Os planos do diligente conduzem à abundância; mas todo precipitado apressa-se para a penúria.
6 Ajuntar tesouros com língua falsa é uma vaidade fugitiva; aqueles que os buscam, buscam a morte.
7 A violência dos ímpios arrebatá-los-á, porquanto recusam praticar a justiça.
8 O caminho do homem perverso é tortuoso; mas o proceder do puro é reto.
9 Melhor é morar num canto do eirado, do que com a mulher rixosa numa casa ampla.
10 A alma do ímpio deseja o mal; o seu próximo não agrada aos seus olhos.
11 Quando o escarnecedor é castigado, o simples torna-se sábio; e, quando o sábio é instruído, recebe o conhecimento.
12 O justo observa a casa do ímpio; precipitam-se os ímpios na ruína.
13 Quem tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também clamará e não será ouvido.
14 O presente que se dá em segredo aplaca a ira; e a dádiva às escondidas, a forte indignação.
15 A execução da justiça é motivo de alegria para o justo; mas é espanto para os que praticam a iniquidade.
16 O homem que anda desviado do caminho do entendimento repousará na congregação dos mortos.
17 Quem ama os prazeres empobrecerá; quem ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá.
18 Resgate para o justo é o ímpio; e em lugar do reto ficará o prevaricador.
19 Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda.
20 Há tesouro precioso e azeite na casa do sábio; mas o homem insensato os devora.
21 Aquele que segue a justiça e a bondade achará a vida, a justiça e a honra.
22 O sábio escala a cidade dos valentes, e derriba a fortaleza em que ela confia.
23 O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda das angústias a sua alma.
24 Quanto ao soberbo e presumido, zombador é seu nome; ele procede com insolente orgulho.
25 O desejo do preguiçoso o mata; porque as suas mãos recusam-se a trabalhar.
26 Todo o dia o ímpio cobiça; mas o justo dá, e não retém.
27 O sacrifício dos ímpios é abominação; quanto mais oferecendo-o com intenção maligna!
28 A testemunha mentirosa perecerá; mas o homem que ouve falará sem ser contestado.
29 O homem ímpio endurece o seu rosto; mas o reto considera os seus caminhos.
30 Não há sabedoria, nem entendimento, nem conselho contra o Senhor.
31 O cavalo prepara-se para o dia da batalha; mas do Senhor vem a vitória.”

Quanto à afirmação do verso 21: “Aquele que segue a justiça e a bondade achará a vida, a justiça e a honra.”, nós usaremos um texto sobre o assunto relativo ao motivo da necessidade do nosso crescimento espiritual em Cristo.




Somente Deus Conhece a Deus

“10 Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmo as profundezas de Deus.
11 Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus.
12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus;
13 as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.
14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido.
16 Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” (I Cor 2.10-16)

Até mesmo uma pessoa que não tenha a habitação do Espírito Santo, pode receber sonhos e visões de Deus, tal como faraó e Nabucodonosor, no passado.
Mas conhecer a Deus com o discernimento da Sua vontade e dos Seus planos, é somente possível para aqueles que têm o Espírito Santo, porque na verdade, é Ele quem discerne a vontade de Deus nos crentes, interpretando a mente de Deus para eles.
Por isso Paulo afirma estas coisas neste texto de I Cor 2, e afirma no final do mesmo, que é somente nos crentes espirituais que Deus é bem discernido porque eles têm a mente de Cristo, ou seja, Cristo cresceu neles de tal maneira, que podem receber através dEle, pelo Espírito, tudo o que seja da vontade de Deus relativamente a eles ou a qualquer outra pessoa, fato ou coisa, especialmente no que diz respeito ao discernimento do significado da verdade revelada na Sua Palavra.

“13 Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança;
14 mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal.” (Hb 5.13,14)

A nossa mente natural nada pode entender senão somente as coisas relativas aos homens, mas não as que são relativas a Deus.
Por isso se requer antes de tudo, que se tenha nascido do Espírito Santo, para se poder entender a pessoa de Deus.
Devemos colocar em realce algumas afirmações feitas pelo apóstolo, como por exemplo, as seguintes:

“12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus;”

Veja que é dito que recebemos o Espírito para o fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas por Deus. Ou seja, seria impossível ter tal compreensão sem o Espírito.
Então fica fácil de entender que esta compreensão fica impossibilitada ou muito prejudicada quando entristecemos e apagamos o Espírito Santo, ou quando deixamos de fazer progresso em crescimento espiritual, sendo crianças espirituais, que não podem entender as coisas relativas ao Espírito, porque elas não são para serem discernidas por crianças (crentes carnais), senão para crentes maduros, ou seja, espirituais.

“13 as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais.”

Veja que se afirma que as palavras que Paulo ensinava acerca de Deus não eram palavras que havia aprendido pela sua própria sabedoria humana, mas eram palavras que lhe foram ensinadas pelo Espírito Santo, porque o que é espiritual somente pode ser comparado com aquilo que for também espiritual, ou seja, sendo Deus espírito, só pode se comunicar com o Espírito, o qual habita em íntima comunhão com o nosso espírito, que fica assim habilitado a receber as comunicações de Deus por meio do Espírito Santo.
Por isso dizemos que Deus somente conhece a Deus, ou poderíamos até mesmo dizer que Deus se comunica somente em plenitude e discernimento com Ele próprio, daí necessitarmos da habitação do Espírito Santo, para que possamos compreender a mente de Deus, que não é outra senão a mente do próprio Cristo.
Daí Ele ter afirmado que:

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Mt 11.27)

Então para que possamos conhecer ao Pai, é necessário que isto seja feito por meio da revelação que é feita pelo Filho, por meio do Espírito Santo, segundo o que temos afirmado até este ponto, com base no que está contido nas Escrituras.

“14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido.
16 Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”

Nesta porção final do nosso texto de I Cor 2, nós vemos que a rigor, a nossa comunicação com Deus também só pode ser feita através do Espírito Santo. Por isso se diz que Ele intercede por nós. Porque é no Espírito que a oração será eficaz e real. Porque é impossível haver comunicação com Deus, caso não seja no Espírito.

Por isso Jesus diz que ninguém pode ir ao Pai a não ser por meio dEle.
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (Jo 14.6)

Não apenas por termos nEle um intercessor, mas por efetivamente ser necessária que toda comunicação com o Pai seja feita através de nosso Senhor, formado em nós, pelo Espírito.
Disto se subtende que quanto maior for a plenitude de Cristo que houver em nós, maior e melhor será a nossa comunicação com Deus, e dEle conosco, porque haverá um canal apropriado, para o estabelecimento de tal comunicação.

Por isso o apóstolo exortava tão insistentemente os crentes de todas as igrejas a crescerem até a plenitude de Cristo, para que pudessem compreender com todos os santos qual é a extensão das realidades espirituais que estão disponíveis para eles em Cristo Jesus.

“15 Por isso também eu, tendo ouvido falar da fé que entre vós há no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos,
16 não cesso de dar graças por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações,
17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele;
18 sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos,
19 e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder,
20 que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus,” (Ef 1.15-20)

“14 Por esta razão dobro os meus joelhos perante o Pai,
15 do qual toda família nos céus e na terra toma o nome,
16 para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior;
17 que Cristo habite pela fé nos vossos corações, a fim de que, estando arraigados e fundados em amor,
18 possais compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade,
19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus.” (Ef 3.14-19)

“11 E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,
12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;
14 para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro;
15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,” (Ef 4.11-15)


“1 Pois quero que saibais quão grande luta tenho por vós, e pelos que estão em Laodiceia, e por quantos não viram a minha pessoa;
2 para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério de Deus-Cristo,
3 no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Col 1.1-3)

“E isto peço em oração: que o vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento,” (Fp 1.9)

”Por esta razão, nós também, desde o dia em que ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;” (Col 1.9)

“e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Col 3.10)

“o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (I Tim 2.4)

“2 Graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor; 3 visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude;” (II Pe 1.2,3)

“Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.” (II Pe 1.8)


Não há necessidade de se acrescentar mais nada ao que é afirmado nestes textos para que se comprove que de fato todo crente necessita crescer até a plenitude do conhecimento de Cristo, para não somente discernir a vontade de Deus, como também para poder fazer esta Sua vontade na Sua obra.


Provérbios 22

“1 Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas; e o favor é melhor do que a prata e o ouro.
2 O rico e o pobre se encontram; quem os faz a ambos é o Senhor.
3 O prudente vê o perigo e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena.
4 O galardão da humildade e do temor do Senhor é riquezas, e honra e vida.
5 Espinhos e laços há no caminho do perverso; o que guarda a sua alma retira-se para longe deles.
6 Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.
7 O rico domina sobre os pobres; e o que toma emprestado é servo do que empresta.
8 O que semear a perversidade segará males; e a vara da sua indignação falhará.
9 Quem vê com olhos bondosos será abençoado; porque dá do seu pão ao pobre.
10 Lança fora ao escarnecedor, e a contenda se irá; cessarão a rixa e a injúria.
11 O que ama a pureza do coração, e que tem graça nos seus lábios, terá por seu amigo o rei.
12 Os olhos do Senhor preservam o que tem conhecimento; mas ele transtorna as palavras do prevaricador.
13 Diz o preguiçoso: um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas.
14 Cova profunda é a boca da adúltera; aquele contra quem o Senhor está irado cairá nela.
15 A estultícia está ligada ao coração do menino; mas a vara da correção a afugentará dele.
16 O que para aumentar o seu lucro oprime o pobre, e dá ao rico, certamente chegará à: penúria.
17 Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, e aplica o teu coração ao meu conhecimento.
18 Porque será coisa suave, se os guardares no teu peito, se estiverem todos eles prontos nos teus lábios.
19 Para que a tua confiança esteja no senhor, a ti tos fiz saber hoje, sim, a ti mesmo.
20 Porventura não te escrevi excelentes coisas acerca dos conselhos e do conhecimento,
21 para te fazer saber a certeza das palavras de verdade, para que possas responder com palavras de verdade aos que te enviarem?
22 Não roubes ao pobre, porque é pobre; nem oprimas ao aflito na porta;
23 porque o Senhor defenderá a sua causa em juízo, e aos que os roubam lhes tirará a vida.
24 Não faças amizade com o iracundo; nem andes com o homem colérico;
25 para que não aprendas as suas veredas, e tomes um laço para a tua alma.
26 Não estejas entre os que se comprometem, que ficam por fiadores de dívidas.
27 Se não tens com que pagar, por que tirariam a tua cama de debaixo de ti?
28 Não removas os limites antigos que teus pais fixaram.
29 Vês um homem hábil na sua obra? esse perante reis assistirá; e não assistirá perante homens obscuros.”


Provérbios 23

“1 Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti;
2 e põe uma faca à tua garganta, se fores homem de grande apetite.
3 Não cobices os seus manjares gostosos, porque é comida enganadora.
4 Não te fatigues para seres rico; dá de mão à tua própria sabedoria:
5 Fitando tu os olhos nas riquezas, elas se vão; pois fazem para si asas, como a águia, voam para o céu.
6 Não comas o pão do avarento, nem cobices os seus manjares gostosos.
7 Porque, como ele pensa consigo mesmo, assim é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo.
8 Vomitarás o bocado que comeste, e perderás as tuas suaves palavras.
9 Não fales aos ouvidos do tolo; porque desprezará a sabedoria das tuas palavras.
10 Não removas os limites antigos; nem entres nos campos dos órfãos,
11 porque o seu redentor é forte; ele lhes pleiteará a causa contra ti.
12 Aplica o teu coração à instrução, e os teus ouvidos às palavras do conhecimento.
13 Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá.
14 Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do Seol.
15 Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio;
16 e exultará o meu coração, quando os teus lábios falarem coisas retas.
17 Não tenhas inveja dos pecadores; antes conserva-te no temor do Senhor todo o dia.
18 Porque deveras terás uma recompensa; não será malograda a tua esperança.
19 Ouve tu, filho meu, e sê sábio; e dirige no caminho o teu coração.
20 Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne.
21 Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a sonolência cobrirá de trapos o homem.
22 Ouve a teu pai, que te gerou; e não desprezes a tua mãe, quando ela envelhecer.
23 Compra a verdade, e não a vendas; sim, a sabedoria, a disciplina, e o entendimento.
24 Grandemente se regozijará o pai do justo; e quem gerar um filho sábio, nele se alegrará.
25 Alegrem-se teu pai e tua mãe, e regozije-se aquela que te deu à luz.
26 Filho meu, dá-me o teu coração; e deleitem-se os teus olhos nos meus caminhos.
27 Porque cova profunda é a prostituta; e poço estreito é a aventureira.
28 Também ela, como o salteador, se põe a espreitar; e multiplica entre os homens os prevaricadores.
29 Para quem são os ais? para quem os pesares? para quem as pelejas, para quem as queixas? para quem as feridas sem causa? e para quem os olhos vermelhos?
30 Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando bebida misturada.
31 Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente.
32 No seu fim morderá como a cobra, e como o basilisco picará.
33 Os teus olhos verão coisas estranhas, e tu falarás perversidades.
34 e serás como o que se deita no meio do mar, e como o que dorme no topo do mastro.

35 E dirás: Espancaram-me, e não me doeu; bateram-me, e não o senti; quando virei a despertar? ainda tornarei a buscá-lo outra vez.”

NOTA: Não apresentamos comentários porque estes provérbios são auto-explicativos.



Provérbios 24

”1 Não tenhas inveja dos homens malignos; nem desejes estar com eles;
2 porque o seu coração medita a violência; e os seus lábios falam maliciosamente.
3 Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece;
4 e pelo conhecimento se encherão as câmaras de todas as riquezas preciosas e deleitáveis.
5 O sábio é mais poderoso do que o forte; e o inteligente do que o que possui a força.
6 Porque com conselhos prudentes tu podes fazer a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.
7 A sabedoria é alta demais para o insensato; ele não abre a sua boca na porta.
8 Aquele que cuida em fazer o mal, mestre de maus intentos o chamarão.
9 O desígnio do insensato é pecado; e abominável aos homens é o escarnecedor.
10 Se enfraqueces no dia da angústia, a tua força é pequena.
11 Livra os que estão sendo levados à morte, detém os que vão tropeçando para a matança.
12 Se disseres: Eis que não o sabemos; porventura aquele que pesa os corações não o percebe? e aquele que guarda a tua vida não o sabe? e não retribuirá a cada um conforme a sua obra?
13 Come mel, filho meu, porque é bom, e do favo de mel, que é doce ao teu paladar.
14 Sabe que é assim a sabedoria para a tua alma: se a achares, haverá para ti recompensa, e não será malograda a tua esperança.
15 Não te ponhas de emboscada, ó ímpio, contra a habitação do justo; nem assoles a sua pousada.
16 Porque sete vezes cai o justo, e se levanta; mas os ímpios são derribados pela calamidade.
17 Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e quando tropeçar, não se regozije o teu coração;
18 para que o Senhor não o veja, e isso seja mau aos seus olhos, e desvie dele, a sua ira.
19 Não te aflijas por causa dos malfeitores; nem tenhas inveja dos ímpios;
20 porque o maligno não tem futuro; e a lâmpada dos ímpios se apagará.
21 Filho meu, teme ao Senhor, e ao rei; e não te entremetas com os que gostam de mudanças.
22 Porque de repente se levantará a sua calamidade; e a ruína deles, quem a conhecerá?
23 Também estes são provérbios dos sábios: Fazer acepção de pessoas no juízo não é bom.
24 Aquele que disser ao ímpio: Justo és; os povos o amaldiçoarão, as nações o detestarão;
25 mas para os que julgam retamente haverá delícias, e sobre eles virá copiosa bênção.
26 O que responde com palavras retas beija os lábios.
27 Prepara os teus trabalhos de fora, apronta bem o teu campo; e depois edifica a tua casa.
28 Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo; e não enganes com os teus lábios.
29 Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra.
30 Passei junto ao campo do preguiçoso, e junto à vinha do homem falto de entendimento;
31 e eis que tudo estava cheio de cardos, e a sua superfície coberta de urtigas, e o seu muro de pedra estava derrubado.
32 O que tendo eu visto, o considerei; e, vendo-o, recebi instrução.
33 Um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para cruzar os braços em repouso;
34 assim sobrevirá a tua pobreza como um salteador, e a tua necessidade como um homem armado.”

Quanto à afirmação do verso 16: “Porque sete vezes cai o justo, e se levanta; mas os ímpios são derribados pela calamidade.”, nós usaremos para o comentário do assunto da segurança e certeza da salvação, um texto intitulado Perseverança dos Santos.

Perseverança dos Santos

INTRODUÇÃO: É da vontade de Deus que todos os Seus filhos tenham certeza da sua salvação e que se regozigem na esperança da glória vindoura. Mas esta certeza só pode ser confirmada através da perseverança.
  Alguém pode pegar uma ou mais passagens isoladas das Escrituras, e fora do contexto, para negar que a nossa salvação é segura. Ele pode apontar para um texto como Gálatas 5.4 e dizer: “Vê, você pode cair da graça.”. O texto diz: “De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na lei, da graça decaístes.”. Aí nos diz: você está vendo, isto prova que você pode cair da graça. Está certo, é o que está dito. Mas você observa para quem ele está dizendo isto ? Ele está dizendo isto às pessoas que estão tentando serem justificadas através do quê?... pela lei.
Você vai ao verso 2 do mesmo capítulo e lê: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.”. Em outras palavras, se você crê que será justificado por Deus por se submeter a certo tipo de operação física prescrita pela lei, então Cristo não significa nada para você.  Paulo ensinou claramente que pela lei ninguém é justificado (3.11). Quem não é justificado pela fé, a única forma estabelecida por Deus, e procura ser justificado pela lei, permanece sob a maldição da própria lei e da ira de Deus (3.10).
Quem procura justificar-se pela lei, está desligado da possibilidade de ser justificado por Cristo, e está decaído da graça, isto é, sem possibilidade de firmar-se nela e usufruir dos seus benefícios para a salvação.
Outros textos que são muito utilizados para afirmar a possibilidade de perda de salvação são os que se encontram sobretudo na epístola aos Hebreus, conforme vemos a seguir:
Dentre as exortações bíblicas para que busquemos as evidências da nossa eleição, além de II Pe  1.10, temos a passagem de Hb 3.6: “Cristo porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual somos nós, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança.”.
O que este texto quer afirmar é que um verdadeiro crente guarda até o fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, ele tem a certeza de que é salvo, pelo Espírito Santo que testifica com o seu espírito que ele é um filho de Deus. Aqueles que são apenas convencidos e não convertidos, e que estão na igreja, ficarão com a ideia enganosa de que são crentes autênticos por algum tempo, porque, como se afirma na parábola do semeador, eles abandonarão um dia esta convicção, seja pelas tribulações, seja pelos cuidados do mundo.
Para termos a certeza de que pertencemos realmente a Deus é necessário guardar firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança, isto é, regozijarmo-nos na glória a ser revelada, até o dia da nossa morte. Se nos afastarmos disto, certamente a dúvida invadirá o nosso coração, ou então, pode ser até possível que a nossa esperança era falsa porque não éramos de fato salvos, o que acabou por se revelar em dado momento de nossas vidas, quando voltamos às velhas práticas do passado.
A parábola do semeador fala de pessoas que recebem a Palavra com alegria, mas que não chegam a nascer de novo, porque se fascinam com o mundo, ou não suportam as tribulações. Chegam a andar um período alegremente com os crentes, achando conforto na Palavra de Deus, mas depois de certo tempo acabam manifestando que não eram autênticos justificados e regenerados, porque não perseveraram, e a perseverança é um dom de Deus para aqueles que são seus. O crente verdadeiro terá um estímulo espiritual que procede de Deus para perseverar, obedecer, santificar-se. Ainda que caia por um período, levantar-se-á, nem que seja na hora da sua morte. Mas este levantar na hora da morte é da esfera do conhecimento exclusivo de Deus. Ninguém pode antever tal condição caso não lhe seja revelada diretamente pelo Senhor. É possível que um verdadeiro crente, por motivo de desobediência não viva no descanso de Deus, e seja cumulado de muitas tristezas porque não amadureceu na fé, no entanto, destes pode-se afirmar que são infelizes ainda que salvos. Isto ocorre porque a alegria do Espírito e a intimidade do Senhor são para aqueles que Lhe obedecem, e vivem pela fé nEle.
 Por isso se afirma a mesma coisa em Heb 3.14: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos.”. Isto é, alguém afirmou ter crido em Cristo. Afirmou que confiava na sua glorificação futura. E repentinamente deixou de confiar em tudo o que afirmara anteriormente e voltou suas costas para Deus. Ora, quem é participante realmente de Cristo, perseverará, e se esta pessoa era de fato um autêntico crente, ela retornará à comunhão. Mas, caso contrário, a falta de evidências de santificação, perseverança, boas obras, obediência, que são como já falamos, consequências da salvação, não poderão comprovar para tal pessoa e nem a qualquer outra, que de fato pode se regozijar na segurança da sua salvação. Para isto é necessário evidência. O crente que pode se regozijar nisto é somente aquele que apresente as evidências da sua salvação já referidas. E é da vontade de Deus que Ele tenha esta certeza e regozijo, por andar em santidade de vida. Se a justificação é a base e a causa da salvação, a santificação é a evidência da mesma.
Deus em Sua infinita sabedoria estabeleceu o desenvolvimento da nova natureza recebida na regeneração, pela santificação, para que o crente se esforce em seu crescimento espiritual à semelhança de Cristo, de modo que somente assim possa ter a certeza da segurança plena da sua salvação em todos os dias da sua vida. Isto se torna portanto um fator contribuinte para não se desestimular. Para não desistir em meio à sua peregrinação. Porque a certeza da segurança da salvação, veja bem, a certeza, e não a salvação propriamente dita que lhe foi dada pela graça, mediante a fé, está diretamente ligada à sua perseverança.
É por isso que lemos ainda em Heb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual, rumo à perfeição, porque a tendência natural da maioria dos crentes é a de se acomodarem depois de terem sido salvos, e é o que parece que o texto quer se referir quando fala de princípios elementares da doutrina de Cristo, a saber, o arrependimento, a fé, batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e juízo eterno.
Há uma tendência em nós para dizermos: eu passei da morte para a vida, estou entre o limiar do meu batismo e da minha ressurreição prometida, já o tenho conquistado, vou sentar, descansar e esperar. Entretanto a vida cristã não é isto. É uma caminhada, no caminho da perseverança e da santificação. A Palavra de Deus nos exorta a isto. E era exatamente este o problema com os crentes aos quais o autor de Hebreus dirigiu inicialmente a sua epístola. Ele lhes repreendeu por sua imaturidade espiritual e falta de progresso em direção à maturidade (Hb 5.11-14). Ele lhes exortou a correrem com perseverança a carreira que lhes estava proposta olhando para Jesus (Hb 12.1,2). Ele lhes fala tudo o que haviam conquistado em Cristo 6.4,5, a saber, a iluminação espiritual, o dom celestial, a habitação do Espírito Santo, a Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, tudo isto pela justificação e pela regeneração. Agora, isto não lhes foi dado para ficarem imobilizados, e pior ainda, transferirem a sua confiança de Jesus para as antigas tradições da lei, e é bem possível que estivessem considerando Jesus menor que Arão, Moisés e todos os heróis da fé do Antigo Testamento, e possivelmente até aos anjos, daí a explanação que faz sobre a superioridade de Jesus nos primeiros capítulos da epístola. Este era o quadro reinante, e daí o tom das suas palavras falando da impossibilidade de renovação para arrependimento de quem se desligasse de Cristo (numa suposição de desligamento) porque não há outro nome dado debaixo do céu pelo qual possamos ser salvos. Eles foram salvos em Cristo para perseverarem em Cristo, e para serem transformados à semelhança de Cristo. A vida cristã é uma carreira, e não uma mera expectativa contemplativa do cumprimento da promessa da glória do céu. Não é o bastante para o crente o ter passado por uma experiência gloriosa de justificação e regeneração no passado, é necessário crescer espiritualmente pela transformação do seu caráter e aprender a fazer a vontade de Deus. É absolutamente necessário que a dinâmica de uma fé viva seja o moto principal para que o testemunho de Cristo seja confirmado em suas vidas, para que sejam cartas vivas onde outros possam testemunhar a vida que há em Jesus disponível para os pecadores.  
Não é suficiente ser justificado e nascer de novo. É preciso experimentar que Jesus é competente para remover minha corrupção (despojamento da carne) e revestir-me de suas virtudes. Isto é um programa para toda a vida. Não é algo para se obter em único dia ou momento de nossa vida. O alvo de Deus para o crente em santificação é um trabalho demorado e penoso, e para cumprir-se exige que  nós perseveremos firmes na fé. Esta é a razão porque Paulo sempre confirmava os crentes exortando-lhes a permanecerem firmes na fé durante toda a sua peregrinação como forasteiros neste mundo de trevas. Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por meio dEle fomos justificados, é necessário ter permanente e vital união com Ele.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original à palavra grega parapipto, que significa “desviar-se” ou “apostatar”. É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está traduzido como “afastar-se” de Deus. A Palavra afirma em Pv 24.16 que “sete vezes cairá o justo, e se levantará,”. A experiência tem revelado esta verdade. Muitos são os que se desviam mas que se reconciliam posteriormente com o Senhor. Porque a bondade a misericórdia do Senhor vão em busca da ovelha desgarrada e perdida para trazê-la de volta ao aprisco. Quem é ovelha do Senhor está debaixo de tal cuidado. O ímpio não pode contar com isto. Quando os ossos do crente são quebrados o Senhor os restaura novamente. O clamor da Misericórdia do Pai clama “voltem para mim e eu voltarei para vós outros”.   Vemos nas cartas dirigidas às sete igrejas uma constante exortação ao arrependimento para o reatamento da relações rompidas e para o retorno da prática das obras de justiça.
 Um crente pode cair, mas não numa queda definitiva que seja para a perda da vida eterna que recebeu pela graça. Se ele cair, Deus o levantará de novo, porque não pode justificá-lo uma segunda vez, por isto é impossível, pois, que se o justo cair, seja renovado outra vez para arrependimento, porque ele já foi feito nova criatura em Cristo, quando creu, de uma vez para sempre.
O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e permaneceu salvo pela soberana graça. Noé caiu, mas não numa queda final para morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que  não têm a Cristo, no dia do grande juízo de Deus. Um crente pode se desviar, e embora isto seja uma coisa ruim, uma coisa maligna o cair no pecado, contudo ele poderá reconciliar-se com Deus, porque a sua salvação é para a vida eterna e para ser guardado seguro pelo poder de Deus. Assim como um pai zeloso vela pela segurança de seus filhos, e tudo faz para mantê-los saudáveis e em vida.
Seria uma coisa muito dura certamente, se um crente caísse e não pudesse se reconciliar com Deus. Felizmente o texto de Heb 6 não diz que é uma coisa muito dura, mas que é impossível, e nós dizemos que seria totalmente impossível, se um caso como é suposto pudesse acontecer, impossível para o homem, e também impossível para Deus, porque Deus determinou que nunca estabelecerá uma segunda salvação (plano) para salvar aqueles que tivessem rejeitado a primeira, depois de tê-la experimentado. O autor de Hebreus está portanto com a  apresentação do exemplo de impossibilidade,  reforçando o eterno, imenso e único valor da salvação em Jesus Cristo, que os destinatários de sua epístola estavam negligenciando, correndo o risco mesmo de virem a desprezá-la. Por isso quase como que se retrata pela suposição forte que fizera ao dizer logo adiante o seguinte: “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira.”. Assim, uma correta interpretação de toda a epístola aos Hebreus requer que mantenhamos diante de nós o pano de fundo que inspirou a sua escrita, pois não foi destinada a uma congregação que estava sendo fiel na sua caminhada com Deus, mas a uma congregação que estava recuando na fé, e esfriando no seu amor por Jesus Cristo. As palavras de exortação da epístola tinham por alvo sacudi-los e despertá-los do estado de dormência em que se encontravam, e tais palavras são ainda muito oportunas para toda congregação que esteja nas mesmas condições da comunidade à qual foi destinada a epístola originalmente.
A palavra de alerta em sequência a Heb 4-6, nos versos 7 e 8 é também muito interessante para descrever o estado em que se encontrava a quase totalidade dos destinatários da epístola. Eles eram qual terra que havia recebido e absorvido a chuva da graça de Deus sobre suas vidas, só que em vez de crescerem e darem bons frutos, estavam produzindo espinhos e abrolhos. É isto o que acontece quando o crente para de se santificar. Ele vai produzir as obras da carne em vez do fruto do Espírito. Os espinhos amargosos e venenosos das práticas do mundo. E esta não é uma condição para ser abençoado por Deus. Ao contrário é uma posição para ser sujeitado à sua correção e disciplina, que certamente serão dolorosas.  Mas a sequência imediata no verso 9, já por nós apresentada, é muito elucidativa, como o “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação,”, isto porque em sendo eles verdadeiros crentes, certamente dariam frutos para Deus em Jesus Cristo, conforme o Seu santo propósito determinado antes da fundação do mundo, porque fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus preparou de antemão. A própria epístola exortativa que lhes estava sendo dirigida e que estamos comentando, foi certamente uma das muitas ações que Deus estava empregando para o despertamento daqueles seus filhos que estavam adormecidos. Ele sempre agirá para completar a obra em nós iniciada por Ele mesmo, para o cumprimento cabal do Seu propósito eterno.
Um texto que geralmente se costuma interpretar incorretamente, por ignorância do seu verdadeiro significado, é o de II Pe 2.21,22, onde se afirma: “Pois, melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.”.  Devemos destacar logo inicialmente que não se diz, a ovelha voltou a se sujar, mas a porca. Não se diz que a ovelha voltou ao seu vômito, mas o cão. Ainda que sejam expressões duras, elas estão de acordo com o alerta de Jesus ao eleitos para não darem coisas santas aos cães e aos porcos, isto é, àqueles que na verdade não tiveram suas vidas transformadas pelo recebimento de uma nova natureza, pelo Espírito. O que está em foco são os falsos mestres, que no início, ao se juntarem à igreja e ao aprenderem as coisas de Deus, repetem-nas de forma tão convincente, que são guindados pela igreja à posição de mestres, ou se fazem como tais, só que, não tendo havido uma mudança real em sua natureza, continuam sendo porcos e cães, e isto acaba sendo manifestado com o tempo. No contexto de todo o capítulo segundo de II Pedro, está claramente revelado que os tais não são justos, como foi Ló, mas injustos, que por suas obras iníquas estão destinados ao juízo de Deus (2.9). São na verdade, não eleitos autênticos, mas falsos profetas, falsos mestres, que introduziam dissimuladamente heresias destruidoras entres os crentes, para fazê-los decaírem de sua firmeza em Cristo, isto é, para desviá-los da verdade, chegando tais falsos mestres a ponto de renegarem o próprio Jesus (2.1,2). Eles não tinham o Espírito Santo, como se vê no paralelo ao texto de II Pe II, na epístola de Judas (Jd 19), e que não eram crentes, mas ímpios (Jd 4).  Realmente eram homens que não tinham o Espírito, e assim não eram de Cristo, pois Pedro diz deles que eram fontes sem água (2.17). Não ensinavam o verdadeiro evangelho, mas suas mistificações (2.13). Eram atrevidos e não se submetiam a qualquer governo, porque julgavam, em sua ignorância, que estavam investidos da autoridade de Deus sobre todos os homens (2.10). Ora, não padece dúvida que são os mesmos a que Pedro se refere como os ignorantes e instáveis que deturpavam as  Escrituras, especialmente os pontos difíceis dos escritos de Paulo, para a sua própria destruição (II Pe 3.15-17).        
O cuidado que se deve ter na interpretação da Bíblia, em sua exegese, é mais do que recomendado, ele é estritamente necessário, para que não apliquemos verdades bíblicas fora do contexto ou de situações ou mesmo pessoas aos quais não devem ser aplicadas.
Por exemplo, a apresentação de sacrifícios de animais no templo é uma verdade que teve o seu tempo e contexto de aplicação. Isto deveria ser feito pelos israelitas no período da dispensação da lei (de Moisés a João Batista), e também no local determinado por Deus, isto é, somente no tabernáculo e depois no templo de Jerusalém, na presença dos sacerdotes.
Assim, apesar de ser uma ordenança de Deus que  está contida na Bíblia, não deve ser cumprida na dispensação da graça, em que vigora uma Nova Aliança, que substituiu a Antiga. Porque tal exigência da Antiga foi revogada pelas disposições da Nova. Aqueles sacrifícios que eram figura do sacrifício de Cristo, deveriam vigorar até que Cristo viesse e se oferecesse a Si mesmo de uma vez para sempre pelos pecadores.
A mesma coisa se aplica às maldições da Antiga Aliança, previstas na lei. Elas representam em figura uma maior e definitiva maldição de quem transgride a lei de Deus, pois que por esta, o pecador está sujeito à morte eterna no inferno.
Entretanto, para os que estão em Cristo, a maldição da lei é revogada em relação a estes que creem. Para estes ela já não tem mais força de lei. A pena que ela prescreve foi cancelada e Jesus encravou o cancelamento da dívida destes que creem no Seu nome, na cruz, definitivamente, para que a pena não seja mais reescrita para estes que foram  justificados nEle. Daí a Bíblia afirmar que o crente não está mais sob a lei, e sim sob a graça, sem que isto signifique que ele esteja sem lei perante Deus, pois está debaixo da lei de Cristo.
É necessário portanto, quando estudamos sobre a segurança eterna da salvação, não utilizarmos textos isolados da Bíblia dando-lhes uma interpretação literal e fora do contexto de toda a revelação. É necessário submeter cada afirmação que pareça inicialmente, contradizer doutrinas claramente reveladas, à luz destas doutrinas, para que possamos entender o que o escritor bíblico pretendia dizer com tal afirmação, porque não há contradições no ensino da Palavra, porque ela é a verdade.
Para ilustrar este ponto podemos usar as palavras do autor de Hebreus em 10.26-31, comparando-as com o versículo 39 do mesmo capítulo. Em Hb 10.26-31 lemos: Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça ? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo.”. J
á comentamos anteriormente qual foi o propósito principal do autor de Hebreus em escrever esta epístola: alertar seus leitores sobre a apostasia, para não ficarem inativos na fé, para buscarem a maturidade espiritual, para perseverarem. Agora, lendo estas palavras de advertência sem levar em conta o contexto da própria epístola, poderíamos ser levados a interpretá-las como que se referindo a uma real perda de salvação, perdendo o apóstata a condição de filho de Deus para ser sujeitado ao juízo de Deus para a condenação eterna no inferno. Mas, submetendo a passagem ao próprio contexto imediato, lemos no verso 39: “Nós porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”. Ora, aqui se declara abertamente que o que ele está dizendo anteriormente desde o versículo 26 até o 38, não é uma afirmação de que os verdadeiros crentes, os que são da fé, perdem a sua salvação, porque estes não retrocedem e perseveram, o que não se dá com os que não são da fé.  Deus lhes faz perseverar, e eles perseverarão, e isto para a conservação da alma, porque esta não será mais condenada em juízo. E logo um verso adiante, em 11.1, define a fé como a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. E está se referindo principalmente à certeza da esperança da glória vindoura, à recepção da herança que está guardada para o crente no céu. Aquele que é da fé, e que portanto persevera, ou pelo menos deve perseverar, porque não há outro modo para um autêntico filho de Deus viver, pode ter a certeza de que receberá o que espera, e a convicção dos fatos relacionados à sua salvação que ele ainda não vê. Foi por esta mesma fé que salva, que os antigos receberam bom testemunho de terem agradado a Deus. Mas devemos submeter a referida passagem a outras passagens da mesma epístola e a outras de todas as Escrituras. Na mesma epístola, para não nos alongarmos, podemos citar outros textos como os seguintes:
“Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.” (Heb 10.14). Veja, aperfeiçoou para sempre, não apenas por um período para se perderem depois novamente.
“de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.” (Heb 10.17). Veja, perdão para sempre. Não apenas dos pecados antes da conversão, mas de todos os pecados, quer do passado, do presente ou  do futuro da vida de qualquer crente.
Ao falarmos deste modo, não se deve pensar que o pecado não deve ser levado muito a sério pelo crente. É por isso que as passagens admoestadoras são colocadas em termos muito fortes na Bíblia, porque o pecado é o que desperta a ira de Deus. Qualquer pecado ofende a justiça de Deus, e o crente não deve se gabar no fato de estar debaixo de uma graça superabundante para viver praticando o pecado, e não se entristecendo pelo pecado. Ele nunca deve esquecer que a ira de Deus pelo pecado é tanta, que isto levou o Seu próprio Filho à cruz. Daí se dizer com toda a veemência: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.”.
Em momento nenhum se diz que o tal será lançado no inferno. Mas diz que desperta a expectação de um horrível juízo de fogo vingador prestes a consumir os adversários. Não foi o que ocorreu com os crentes rebeldes que estavam morrendo em Corinto?  Não é o que ocorre com os que são salvos como que pelo fogo? Esta atitude de viver deliberadamente no pecado não é coberta pelo sacrifício de Jesus porque não há confissão do pecado. Não há arrependimento da condição de estar pecando. Isto desperta a ira de Deus, mesmo contra Seus filhos. E Ele os corrige e disciplina duramente, para que todos temam e busquem a santidade de vida que convém aos filhos de Deus.
Agora, se Jesus pagou o preço por todos os nossos pecados, porque estes crentes que foram entregues a Satanás para destruição da carne, foram submetidos ao juízo de Deus, ainda que não para a sua perdição eterna? Veja, o autor de Hebreus responde a isto quando diz que já não resta sacrifício pelos pecados que são praticados pelos que vivem deliberadamente em pecado depois de terem recebido o pleno conhecimento da verdade, e de terem sido santificados pelo sangue de Jesus, e recebido a regeneração do Espírito Santo. Isto significa que o perdão obtido pelo sacrifício de Jesus para a vida eterna e livramento da condenação futura, não livrará o crente da justiça de Deus, que julga a sua vida aqui neste mundo, quando decide não perseverar na fé, vivendo na graça, para viver na carne praticando o pecado. Neste caso, ainda que não seja condenado eternamente, terá sua conduta julgada pelo Seu Pai celestial e será sujeito à disciplina da Aliança selada no sangue de Jesus.
Ele está profanando o sangue da aliança com o qual foi lavado. É como que pisasse em Jesus com o seu procedimento, e isto não ficará sem a devida retribuição de Deus. Deus vingará a Sua justiça trazendo sobre o crente os juízos em forma de castigo, não para que este consiga a sua salvação, ou o perdão dos seus pecados, porque isto já foi feito de uma vez para sempre por Jesus na cruz, mas para que ele não vá para o céu, julgando que o Deus que o chamou não o chamou efetivamente para ser santo, por uma eventual desconsideração com o seu modo descuidado de vida e intencionalmente dirigido para transgredir a vontade dAquele que lhe salvou. O que está em foco não são pecados praticados eventualmente e isoladamente, pelo crente em sua caminhada, estando direcionado em sua vontade a não viver na prática do pecado, mas um crente que tenha efetivamente apostatado da fé, isto é, que esteja desviado. Ainda que mesmo neste caso, não se exclua a ação da misericórdia divina sobre suas vidas, porque são eleitos, e foram justificados, tanto que muitos deles se arrependem, entretanto, de modo nenhum Deus deixará de lhes corrigir, porque corrige a todo filho que ama.
Quando lemos portanto, as passagens admoestadoras e de advertências da Bíblia quanto ao pecado, devemos lembrar imediatamente que o Deus que nos salvou odeia o pecado, e destruirá o pecado onde quer que ele se encontre. Isto deve gerar em nós um santo temor e o desejo de jamais conceber o fato de que podemos viver como crentes praticando determinados pecados seja em pensamentos, palavras, ações ou omissões. Deus nos alerta em todo o tempo na Palavra que fomos salvos exatamente para entrarmos juntamente com Ele numa verdadeira guerra contra o pecado. Quer na nossa vida, quer na dos nossos irmãos em Cristo. Não devemos cruzar os braços em relação a isto como estavam fazendo muitos aos quais o autor de Hebreus dirigiu sua epístola. Ao contrário, devemos nos revestir da armadura de Deus e nos empenharmos diariamente neste bom combate da fé. Estamos seguramente salvos nas mãos de Deus, mas importa viver de modo que lhe seja inteiramente agradável.
Pedro, no terceiro capítulo de sua segunda epístola, afirma que nos escritos de Paulo há coisas difíceis de serem entendidas, e que os instáveis e ignorantes deturpavam, como também as demais Escrituras (II Pe 3.16). Veja que alguns o faziam por ignorância, mas o grande fato é que faziam o quê? Deturpavam. E qual era a consequência disto? O próprio Pedro declarou no verso seguinte que o resultado era a própria destruição destes, e a possibilidade de induzir ao erro, fazendo os crentes descaírem da sua firmeza em Cristo, por serem arrastados pelo erros desses insubordinados (II Pe 3.17). Mas os crentes primitivos tinham uma grande vantagem sobre nós nestes dias de grandes deturpações do evangelho: eles eram prevenidos pela genuína verdade pregada pelos apóstolos. Eles conheciam o verdadeiro evangelho, que hoje, infelizmente, até mesmo muitos ministros ignoram a verdade relacionada à obra realizada por Cristo em favor dos eleitos. São tantas as falsificações, que se chegou mesmo ao ponto de se obscurecer a verdade. Esta ficou escondida. E a maioria dos púlpitos não têm sequer o próprio evangelho para ser pregado e ensinado.
Quando Paulo introduz o hino triunfal da segurança eterna da salvação do crente em Rom 8.31-39, ele pergunta: “Que diremos, pois, à vista destas cousas ? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.
E aí fazemos outra pergunta: Que cousas são estas a que ele se refere? Nós as sabemos? Conhecemos o seu real significado? Ele está se referindo às verdades que havia dito anteriormente, desde o primeiro capítulo, até o versículo 30 do oitavo. De que maneira Deus é por nós que ninguém pode ser contra nós? Qual é o significado  disto? Está escrito na Bíblia para que o saibamos. Foi revelado pelo Espírito porque é importante para o nosso crescimento espiritual, para a nossa caminhada em nossa jornada na vida cristã. Como podemos ignorá-las sem sermos prejudicados? Por que o Espírito insiste em que apliquemos a  Palavra revelada à nossa vida? Já que, como afirmam alguns, insensatamente, podemos ter uma vida de poder com Deus desconhecendo totalmente qual é o significado da nossa vocação em Cristo.
Se assim fora, por que Paulo teria dito o que disse aos colossenses: “não cessamos de orar por vós, e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;”? (Col 1.9). Por que Pedro exorta os crentes a crescerem na graça e no conhecimento de Jesus? (II Pe 3.18). Jesus disse aos saduceus que eles erravam porque não conheciam o poder de Deus? Sim. Mas também porque não conheciam as Escrituras. E isto pode ocorrer conosco: errarmos na vida cristã, porque não conhecemos a verdade revelada nas Escrituras.
É da vontade de Deus que não sejamos apenas salvos, mas que cheguemos ao pleno conhecimento da verdade (I Tim 2.4). Jesus disse que conheceríamos a verdade e que ela nos libertaria. Ele é a verdade que liberta. Mas devemos conhecer o como, o por quê, o até quando (sempre) desta verdade que liberta.
Em Tito 1.1 Paulo afirma que foi levantado como apóstolo de Jesus para promover a fé que é dos eleitos de Deus e também para promover o pleno conhecimento da verdade. Este é o dever do qual está encarregado todo ministro do evangelho chamado por Deus: promover a fé e o conhecimento total da verdade do evangelho. Não apenas partes deste conhecimento, mas todo o conhecimento. A segurança plena da salvação é uma das partes da verdade do evangelho que deve ser ensinada claramente à igreja, não porque isto seja da vontade do homem, mas porque é da vontade de Deus.
O propósito de Deus na salvação dos eleitos não é simplesmente o de que se regozigem na condição de salvos, mas que vivam para o fim da sua salvação, isto é, foram salvos para viverem como filhos de Deus, filhos da luz e do dia, como de fato são em Cristo, e não como se fossem filhos das trevas (I Tes 5.4-10). Isto é o que demanda a necessidade da perseverança operada pelo Espírito na vida do crente, porque foi salvo para ser habitante do céu, em perfeita santidade. Ainda que nunca venha a atingir a perfeição desta santidade enquanto viver na terra, deve se esforçar neste sentido, de modo que possa viver de modo agradável a Deus.
A palavra perseverança vem do original grego hupomoné, que significa suportar cargas e aflições sem murmurações, e a prosseguir na prática da justiça, enquanto escolhe enfrentar tais cargas e aflições confiando na providência divina. Não significa portanto conhecer como escapar das cargas, mas como viver sob elas. Mas não é uma resignação passiva. Ela é uma qualidade ativa. É uma atitude de permanecer confiante e ativo, mesmo debaixo das maiores provações, que visam ao abatimento da sua fé e alegria no Senhor.
Não é de admirar portanto, que mesmo e principalmente depois de ser muito usado por Deus, que o crente experimente muitas provações que visam ao seu abatimento espiritual. Mas não se pode esquecer que Deus está no controle de todas elas não permitindo que sejam maiores do que a nossa capacidade de suportá-las, e nos concede também, se perseveramos, o livramento, mas sempre no tempo por Ele determinado. Há provas que duram até anos, visando ao aperfeiçoamento do nosso caráter.
Os sofrimentos estão produzindo perseverança em nossas vidas. E nisto, o Senhor está colocando à prova o nosso amor por Ele. Isto explica porque as provações não nos sobrevêm apenas por um curto período, mas é um processo que ocorre em todo o tempo.
 As pessoas do mundo dão muito valor a uma vida sem qualquer tipo de tribulação. E o crente deve cuidar-se de viver com tal pensamento, porque, no seu caso, a provação não é um inimigo, mas um aliado que está moldando o seu caráter e fortalecendo a sua fé, de maneira que possa caminhar fazendo a vontade de Deus independentemente de qualquer circunstância desagradável que esteja vivendo (desde que não seja resultante da prática do pecado).
Infelizmente, quando as pessoas vêm para Cristo hoje em dia, elas vêm crendo que serão livradas de todas as dificuldades. Elas trazem o padrão do mundo consigo. A ideia de que Deus deseja que todos sejam plenamente saudáveis, felizes e abastados é uma contradição direta da Palavra de Deus.
Jesus prometeu aos crentes que teriam aflições no mundo. Mas quando a tribulação vem, geralmente se pensa: “não é possível que isto esteja acontecendo comigo, eu sou um crente fiel.”.
Em vez de apreciar que Deus está fazendo algo único e especial em suas vidas, deixam-se levar pela murmuração e pelo descontentamento.
A perseverança não é um fim em si mesma. Ela é um ingrediente essencial que traz a maturidade aos filhos de Deus.
Tiago afirma (1.4) que a perseverança produz o resultado de sermos perfeitos e íntegros, em nada deficientes. Nós não podemos acelerar o processo que produz maturidade, porque a própria perseverança é construída ao longo do tempo.
 Nós apenas devemos ter o cuidado de não interromper o processo que Deus está operando. Esta é a razão de ser ordenado em Tg 1.4 que a perseverança deve ter ação completa, isto é, nós não devemos deixar de tirar os devidos ensinamentos de nossas experiências, aprendendo as lições de Deus, através delas, visando ao nosso aperfeiçoamento.
Mas isto não significa que nós atingiremos a perfeição, porque o próprio Tiago afirma que nós tropeçamos em muitas coisas (3.2). Isto não quer dizer portanto que nós nunca voltaremos a pecar de novo. Não é possível ser perfeitamente sem pecado nesta vida.
Então o que significa o uso da palavra perfeito no texto de Tiago? Ela se refere ao nosso grau de maturidade. O crente maduro não vive indo de um lugar para outro, sem fixar sua atenção definitivamente em qualquer objetivo, dedicando-se ao mesmo, pois isto é um comportamento inerente às crianças. Crentes imaturos não podem ser úteis na casa de Deus. Ao contrário, vivem criando dificuldades para serem resolvidas ou apaziguadas pelos que são maduros. O que pode reverter isto ? O seu amadurecimento. E como é que este será possível ? Somente pelo aprendizado da perseverança nas provações. Amar no meio da contradição, da perseguição, da ingratidão, e prosseguir adiante, este é um dos objetivos. Isto é perseverar segundo a vontade de Deus.
O crente que permanece em sua infantilidade, nem por isso deixa de ser um filho de Deus, mas não se pode dizer dele que esteja fazendo progresso na perseverança.
O crente não deve procurar a tribulação, ele não deve ir em sua direção. Ele deve procurar a Deus, e na sua procura de Deus, não raramente, a provação lhe sobrevirá. Logo depois que Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, ele teve a experiência do espinho na carne. Se o seu desejo de procurar a Deus é sincero, isto implicará em viver segundo a Sua vontade e tornar-se mais semelhante a Cristo. Jesus que é manso e humilde de coração. Para aprender a mansidão e a humildade, é quase certo que o crente se defrontará com resistências e ataques dirigidos à sua pessoa, de modo que aprenda a não revidar as injúrias e afrontas que possa sofrer, mantendo a paz no seu coração, segundo o poder do Espírito Santo.
Quando o crente se sente humilhado e vencido por alguma provação e diz que não sabe qual é o proveito e o propósito de Deus na mesma, ele necessita de sabedoria para poder discernir a vontade do Senhor, e é por isso que Tiago diz que se peça sabedoria a Deus. Mas a sabedoria requer humildade e um constante reconhecimento da nossa própria necessidade.
A vida cristã não é fácil e confortável.  Por isso o crente necessita de perseverança, para que possa viver segundo a vontade de Deus.    
A certeza da segurança não é essencial à salvação, mas é essencial à alegria e à esperança, mas só pode ser sentida na experiência prática da vida cristã, e não meramente pelo conhecimento intelectual da sua realidade. Em outras palavras, é algo muito mais para ser vivido do que simplesmente sabido, pois,
A CERTEZA DA SALVAÇÃO É REVELADA ATRAVÉS DA PERSEVERANÇA
Já comentamos que somos salvos exclusivamente pela graça mediante a fé, e por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Não somos salvos pela nossa perseverança, porque a Bíblia é clara em afirmar que não somos salvos pelas nossas boas obras (Ef 2.8-10). Mas somos exortados firmemente a perseverar para a plena certeza da nossa eleição, conforme está claramente revelado por exemplo em II Pe 1.1-10.
O apóstolo Pedro afirma que em razão de os crentes terem recebido todas as cousas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo do Senhor que os chamou para a sua própria glória e virtude, tendo sido livrados da corrupção das paixões que há no mundo (II Pe 1.3,4), devem reunir toda a sua diligência esforçando-se para associar à fé, a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor (1.5,6), e prossegue afirmando que somente pela existência de tais qualidades espirituais e pelo aumento das mesmas, é que os crentes não serão infrutíferos e nem inativos no pleno conhecimento de Jesus (1.8); e que os crentes nos quais não estão presentes tais qualidades, estão cegos e esquecidos da purificação dos seus pecados antigos (1.10), e conclui com as seguintes palavras: “Por isso, irmãos, procurai com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois, desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (1.10,11).
O que ele está dizendo ? Ele está dizendo que se estas coisas estiverem em sua vida e aumentando, você dará frutos e não irá esquecer se está salvo ou não. Em outras palavras, você se alegrará na certeza da segurança da sua salvação e da sua união real com Cristo. Inclusive e principalmente pela constatação das realizações da graça de Deus através das suas obras, gerando a alegria de perceber a sua frutificação e utilidade real no reino de Cristo. A alegria da certeza da salvação não é meramente intelectual, ela é essencialmente de caráter prático. Você saberá pelo testemunho das vidas abençoadas através da sua própria vida, que de fato Cristo tem operado através de você, e é nisto que se cumpre especialmente o sentido da exortação à perseverança e à maturidade espiritual, pelo esforço em diligência em santificação, pelo revestimento das virtudes de Cristo. Quem é útil para Cristo e frutifica nEle, não está cego quanto à posição que lhe deu a salvação pela graça, mediante a fé, porque pela mesma graça e fé, tem dado os frutos visíveis do seu ministério.
Entretanto, nunca deveremos sequer imaginar que é pela nossa frutificação e utilidade no reino de Cristo que somos salvos, pois a Palavra é clara em ensinar que a salvação é um dom gratuito de Deus, e que é um assunto exclusivo de graça e fé. Não somos salvos pelas nossas boas obras conforme afirmam as Escrituras. Necessitamos de perseverança para a confirmação e o desenvolvimento daquilo que já recebemos, e somente isto. Não temos nada para nos gloriar em nós mesmos quanto à nossa salvação, mas somente na obra realizada por Jesus Cristo. Foi nEle e por meio dEle que recebemos uma nova natureza, uma nova vida, que deve ser amadurecida no processo de santificação, mas até mesmo este amadurecimento procede dEle e é realizado por Ele, como Mediador da eterna aliança feita no Seu sangue, e como nosso Sumo Sacerdote exaltado no céu, à direita do Pai.
Deus deseja que você tenha a certeza e a alegria da sua firme segurança em Cristo. Ele não deseja que você viva duvidando da posição que foi conquistada pela graça, mediante a fé (Rom 5.1,2). Ele deseja que você tenha alegria nesta confiança de que está a caminho da perfeição do céu. Ele não quer que você tenha qualquer sombra de dúvida sobre a sua viva esperança obtida por meio de Cristo.
No entanto a verdadeira certeza da segurança da salvação não é uma mera reflexão racional sobre a firmeza da nossa posição em Cristo, mas uma atestação do Espírito Santo com o nosso espírito, que está associada à nossa perseverança na fé. Se estamos vivendo em obediência a Deus e aos seus mandamentos, então o Espírito certifica a nossa obediência com a infusão da certeza da segurança da salvação. Isto é uma graça para ser experimentada somente pelos crentes que obedecem ao Senhor.
A pregação ou ensino que aponta para a certeza da segurança da salvação e não indica o caminho da perseverança para a confirmação desta certeza, não está de acordo com o ensino das Escrituras, porque, com isso muitos poderão ser induzidos a pensarem, ilusoriamente, que  estão na posse de algo que podem não terem obtido de fato, por terem somente confessado a Jesus como Salvador em determinado dia de suas vidas, e no entanto, permaneceram vivendo do mesmo modo que sempre viveram antes da sua alegada conversão. É por isso que Deus determinou que busquem a santificação e perseverem, todos os que declaram terem se convertido a Cristo, para que possam ter a comprovação que de fato Lhe pertencem. A genuinidade da conversão deve ser testada, comprovada e confirmada por se viver em santidade de vida, pois é pelo fruto que se conhece a árvore. Se foi plantada por Deus dará bons frutos, o que só será possível mediante a perseverança em santificação.
A questão da certeza da segurança da salvação não é para ser colocada em termos simplistas semelhantes a este: “muito bem, se você aceitou a Jesus você pode e deve gloriar-se no fato de estar salvo para sempre.”. Não deve ser assim. Isto é parte da verdade. Não em relação à salvação que é eterna, mas quanto à certeza da segurança por parte do crente, esta lhe vem e só pode vir pela sua própria perseverança pessoal. Pelo crescimento em fé, em santificação de sua vida. Por que isto? O Espírito Santo somente infunde o sentido da certeza da segurança, que a propósito, é cada vez maior à medida que perseveramos, quando se está em comunhão com Deus, e esta só é possível quando se persevera.  Porque a certeza da esperança de que seremos glorificados no porvir é sentida à medida que somos transformados de glória em glória em nossa caminhada espiritual neste mundo, porque isto testifica que estamos rumando de fato para o fim a que fomos predestinados por Deus, a saber para sermos semelhantes a Cristo (Rom 8.28-30).
Deus é sábio. Chamou-nos muito mais do que para livrar-nos simplesmente do inferno. Isto é apenas consequência da nossa chamada para sermos seus filhos, para sermos santos. Sem perseverar na fé, e santificar-se, não podemos estar atendendo a tal objetivo. Por isso associou a certeza da salvação à perseverança, isto é, à nossa santificação. Se nos santificamos sabemos que somos salvos pela testificação do Espírito, se não o fazemos, como diz Pedro em sua segunda epístola (1.9) ficamos cegos, vendo somente o que está perto, isto é, não podemos ver e exultar na nossa glorificação vindoura no céu, porque estaremos vivendo segundo a carne e sem fazer progresso em santificação, e ficaremos também esquecidos até da purificação, isto é do perdão dos nossos pecados antigos, anteriores à nossa conversão.    
A salvação é eterna e segura, é exclusivamente pela graça e mediante a fé, mas está associada à perseverança, porque se diz que o que perseverar até o fim será salvo.
Em todo o Novo Testamento o crente é exortado a perseverar até o fim para a plena certeza da esperança, e para a convicção da sua participação de Cristo. Como já comentamos, não é isto a causa da sua salvação, mas o que lhe dá a certeza de tê-la obtido e de estar vivendo do modo que seja agradável a Deus (Col 1.10,11; II Tes 2.15; Heb 2.1; 3.14; 10.23; 35,36).
Todo crente sábio e esclarecido zelará portanto pela sua salvação desenvolvendo-a com temor e tremor, sabendo que ela é segura e eterna, e não há o risco de perdê-la enquanto estiver ciente da necessidade de perseverança e progresso na fé, conforme é da vontade de Deus, para a plena certeza de que permanece na posse de tão precioso dom que lhe foi concedido pela graça, mediante a fé em Cristo, de uma vez para sempre, isto é, a partir da sua justificação e regeneração ocorridas na sua conversão e desde aí, para toda a eternidade.
Nunca devemos esquecer que a nossa justificação e regeneração são irrevogáveis e irreversíveis, garantindo assim a segurança eterna da nossa salvação. A santificação e a perseverança são consequência da salvação e não a sua causa. A causa da salvação está relacionada exclusivamente à eleição, à redenção, à justificação e à regeneração, estando tudo isto associado à misericórdia, à graça e ao amor de Deus,  e à fé dos eleitos. Com a causa (principalmente, eleição e justificação) eu recebi a salvação, e com a consequência (perseverança) eu simplesmente mantenho e amadureço o que já recebi pela fé.
Agora, algo deve ser dito preliminarmente sobre a perseverança. Nada se diz na Bíblia sobre um determinado padrão de perseverança que mantém a salvação. Ou sobre um determinado grau de perseverança. E nem mesmo sobre a sua forma, isto é,  se contínua, intensa, etc. Fala simplesmente em perseverança e nada mais. E esta perseverança está principalmente associada à fé, isto é, à não negação de Cristo, especialmente nas perseguições e tribulações. Refere-se a não nos envergonharmos dEle e a confessarmos o Seu nome diante de todos os homens. Em suma, consiste no testemunho da nossa fé, ainda que isto nos custe danos e perdas, até da própria vida. Em outras palavras, o que foi salvo deve viver como salvo, o que foi justificado deve viver como um autêntico crente.
O crente é chamado a dar prosseguimento ao ministério de Cristo relativo à salvação dos pecadores, e por isso deve dar testemunho da sua fé, sendo luz e sal para o mundo.
A doutrina que diz que você pode perder sua salvação, basicamente torna a salvação condicional. Em outras palavras, sua salvação é mantida caso você ache as condições de mantê-la. Isto é, Deus nos salvou, e agora se nós continuarmos a manter o padrão nós poderemos manter a salvação, mas se em  dado momento nós viermos a cair do padrão nós a perderemos. Agora não é necessário muita visão para compreender que isto é basicamente uma perspectiva de justiça própria decorrente de obras. Em outras palavras, você está dizendo realmente que a salvação é condicional através da ideia que minhas obras têm que permanecer no padrão ou eu perderei a minha salvação.
Eu creio que é exatamente este o assunto que Paulo enfoca em Romanos 5. E me admira que em muitos tratados que abordam o assunto da segurança do crente, Romanos 5 nunca é discutido. Ou algumas vezes aparece como simples nota de roda-pé. Há cerca de um ano atrás o Senhor me falou que Romanos 5 é a base. Hoje compreendo que é a base da salvação.
Eu creio que entre todas as passagens do Novo Testamento, esta é o mais absolutamente definitivo texto escrito sobre  a segurança da nossa salvação.
Paulo está escrevendo basicamente para afirmar o evangelho. E sua afirmação até o capítulo quarto de Romanos é que a salvação é pela graça mediante a fé. E isto implica na justificação do pecador. E que a fé é tudo o que é necessário para se apropriar da salvação eterna. Agora, francamente, isto é totalmente revolucionário para um judeu. Eles criaram um sistema de salvação baseado nas obras de justiça própria, por fazerem certas obras com vistas a ganhar o favor de Deus. E, francamente, é exatamente isto o que apresentam todas as religiões do mundo  que são erigidas com base na bondade do homem, e que criam para o homem algum código religioso. Um determinado padrão ético.
E então, quando Paulo afirma nos capítulos 3 e 4 que a salvação é um dom gratuito, que é dada pela graça de Deus, que é um dom imerecido dado a pecadores, e que é apropriado pela fé e somente pela fé, e então é nisto que todos os homens encontram muita dificuldade para compreenderem a exata extensão desta verdade. Porque os homens basicamente encontram-se em trabalhos, eles estão dentro das realizações humanas, em sua justiça própria. Basicamente, a filosofia dos homens e das religiões do mundo é: eu sou bom, eu sou religioso, Deus nunca me enviará ao inferno. Você tem ouvido miríades de vezes: Eu penso que eu sou uma boa pessoa, eu faço o meu melhor na religião. Eu creio que é por isso que Deus nunca me condenará.
E é muito difícil para as pessoas que têm sido ensinadas e educadas a compreenderem que elas podem entrar no reino de Deus por serem boas, ou éticas, ou morais, e particularmente os judeus, ouvirem que isto é somente uma matéria de fé.
E é por isso que Paulo sempre cita os judeus em seus argumentos em Romanos sobre a justificação que é somente pela graça mediante a fé.
Qualquer judeu diria a Paulo: você está certo de que somente a fé é o suficiente para salvar uma pessoa? Você acha que ela fará todo o trabalho? Não é necessário viver num determinado padrão? Somente a fé me livrará do grande julgamento futuro de Deus? E o que mantém esta salvação pela fé?
É para responder principalmente esta pergunta que o capítulo 5 de Romanos foi escrito.
No assunto da salvação tudo é pela graça, tudo é pela fé.
Mas o cerne da questão se encontra na forma de se entender a doutrina. O fato de ser por graça, mediante a fé somente, não significa, conforme nenhuma passagem das Escrituras dá apoio a isto, o fato de se pensar que o crente pode viver como bem lhe aprouver. Que o crente pode fazer o que ele desejar.
A graça e a fé salvam para que o crente viva em santidade de vida, na prática da justiça e das boas obras.
Em Romanos 5 Paulo apresenta grandes elos da corrente que ligam o crente ao Salvador.
Se estudamos e compreendemos realmente estes elos, percebemos que estamos ligados a Jesus para sempre. Isto é uma coisa maravilhosa para se saber. Deus não nos chamou para vivermos em eterna insegurança, pois se tememos perder a salvação na terra, pelo argumento do livre arbítrio, continuaríamos a temer então, para sempre também no céu. O amor lança fora o medo. Somos chamados à certeza, à convicção, de outro modo, a paz com Deus referida em Romanos 5.1, que obtivemos pela justificação não poderia ser perfeita. Por isso, a justificação é uma obra acabada e perfeita. A nossa santificação sempre será uma obra inacabada neste mundo. É por ela que estamos sendo tornados semelhantes a Cristo. É um contínuo caminhar. É um progresso em despojar-se do velho homem e revestir-se do novo. Não há portanto, um padrão definido de santificação estabelecido por Deus para que em sendo atingido, poderíamos dizer que estamos salvos. Por isso que se diz que a reconciliação com Deus foi obtida e será mantida pela nossa justificação, e não pela santificação.    
Uma das coisas que Satanás costuma atacar no crente é este ponto da segurança da sua salvação. Satanás adora lançar dúvidas sobre nossa redenção. É por isso que se diz em Ef 6, que se coloque o capacete da salvação, e em Tes 5.8 refere-se à couraça da fé e como capacete a esperança da salvação, e no verso 9 afirma a razão disto: porque o crente não foi destinado por Deus para a ira, mas para alcançar a salvação por meio de Jesus. Em outras palavras, o crente não será condenado, mas salvo por Deus. Não está mais sujeito à ira de Deus, por causa de Jesus. A esperança da salvação não é incerta, mas segura. É algo em que o crente deve confiar inteiramente, qual capacete que protege sua cabeça dos dardos inflamados de dúvidas que lhes são lançados por Satanás.
Satanás trabalha para que o crente não saiba ou  duvide que se encontra firme para sempre nas mãos de Deus. É impressionante como ele consegue cegar o crente para as afirmações feitas pelo próprio Jesus, tais como esta que encontramos em Jo 10.27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”.
Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus genuinamente justificou e regenerou. Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no crente, de que pertence realmente a Deus para sempre. E se Deus o aceita completamente como filho, apesar de suas imperfeições e limitações.
O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele soprará sobre você para que se sinta inseguro e intimidado. Por isso você deve colocar o capacete da esperança da salvação. Esta esperança significa que você pode aguardá-la como coisa segura e certa, porque Deus é fiel para cumprir a promessa de salvá-lo eternamente e de que ninguém tirará você das mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em Jo 10.27-29.
A própria igreja pode disciplinar um crente excluindo-o da comunhão, e assim ficará sujeito aos ataques de Satanás que visarão à destruição da sua carne, mas este não poderá causar qualquer dano ao seu espírito, que será salvo no dia do Senhor, porque a Palavra afirma que um genuíno crente (justificado e regenerado) não pode ser mais tocado pelo maligno. Isto é, o diabo não o terá consigo no inferno.
Mas quantos crentes autênticos desejam ser entregues a Satanás para destruição da carne? (I Cor 5.5; I Tim 1.20). Quantos almejam ser salvos como que pelo fogo? (I Cor 3.15). Graças a Deus que a graça tem se revelado poderosa e abundante, e são pouquíssimos aqueles, ao longo de toda a história da igreja, que caíram, ainda que não definitivamente, de tal forma. Não se deve portanto tratar do assunto da segurança da salvação pelos que se desviam, que são pouquíssimos, e que a propósito, muitos se reconciliam com o Senhor, antes da morte, mas pelos que permanecem firmes na fé, revelando que nossa salvação é de fato segura porque é operada pelo Senhor, que nos justificou e regenerou somente por graça e somente mediante a fé.
A grande questão que se apresenta diante de nós, na igreja, não é tanto a de que se perde ou não a salvação, mas se conhecemos ou não a doutrina da justificação pela graça mediante a fé segundo o ponto de vista de Deus, e não do nosso próprio modo de entender esta verdade das Escrituras, que é portanto a única verdade de Deus relativa à nossa salvação.
Muitos na igreja têm noções vagas sobre o assunto da eleição, da justificação, da regeneração e da santificação, conforme são na verdade, e já revelados na Palavra, mas ao mesmo tempo têm também um parecer final sobre o modo de se obter ou de se manter a salvação. Todos de uma forma ou de outra, têm sua própria opinião sobre o assunto. Mas a nossa opinião não pode mudar em nada a verdade que foi estabelecida por Deus, relativa à nossa salvação, antes mesmo que houvesse mundo, no Pacto eterno havido na Trindade.
O primeiro elo da corrente que nos liga a Cristo está citado em Rom 5.1: “pois”, ou “então”, isto é, “concluímos desta forma”. Esta partícula conclusiva que se encontra no texto, embutida no estudo sobre a justificação pela fé, desde que nós temos sido justificados pela fé, e tudo o que está envolvido nisto, “então sendo justificados pela fé, nós temos,”, e aqui está o elo número um, “paz com Deus”. A primeira grande realidade que me afirma que como um crente eu estou eternamente seguro em minha salvação é a paz com Deus.
A palavra “pois” é o elo que nos liga ao fundamento que foi colocado nos capítulos terceiro e quarto...a justificação pela fé, me tornou justo diante de Deus pela fé no Seu Filho Jesus Cristo. Você creu em Jesus Cristo e você foi salvo. E sendo salvo você entrou na posse da herança eterna cheia de bênçãos. E eu creio que Paulo não pretendeu dizer em Rom 5.1 todas as consequências abençoadas da nossa justificação, mas uma delas que é a de que estamos seguros no nosso relacionamento porque nós temos paz com Deus através de Jesus Cristo.
Agora, o que é esta paz? Do que estamos falando quando dizemos que temos paz com Deus? Alguns têm sugerido que isto significa que nós temos tranquilidade de mente, que nós temos uma espécie de senso psicológico de segurança, que nós temos uma determinada sorte de sentimentos positivos de que estamos seguros. Eu penso que isto significa algo muito além de todo o tipo de coisas subjetivas. Esta afirmação não é subjetiva, mas objetiva. Não fala de sentimentos ela fala de relacionamento. Sentimentos não são o assunto aqui. É dito que temos paz com Deus
Agora, se nós temos paz com Deus por causa da salvação o que nós tínhamos antes da salvação?
A guerra, que é o oposto da paz. Mas Jesus tem mudado radicalmente o nosso relacionamento com Deus. Nós estávamos em guerra com Deus. Ele era nosso inimigo porque nós éramos seus inimigos. Mas por causa da justificação pela fé nós temos sido trazidos a um relacionamento de paz, paz real. E esta paz não é uma atitude. Não é uma tranquilidade psicológica, não é paz de mente, não é qualquer tipo de sentimento. Isto significa simplesmente que a guerra entre nós e Deus acabou. Você compreende isto? A guerra acabou.
Agora, as pessoas de modo geral, não percebem, em razão da justiça própria e do pecado, que estavam em guerra com Deus, pois costumam dizer: Eu gosto de Deus. Eu nunca estive em guerra com Deus. Mas a Bíblia ensina claramente que a carne é inimizade contra Deus. Que aquele que ama o mundo é inimigo de Deus. Éramos seus inimigos porque não éramos justos aos seus olhos de perfeita justiça e santidade. E mesmo nos crentes, que vivem na carne, há guerras, lutas, divisões, contendas, porque a falta de santificação impede um relacionamento pacífico, harmonioso, em unidade em amor. Mas, mesmo nestes, por causa de Jesus Cristo, a guerra relativa à sua inteira aceitação por Deus acabou, porque são completamente justos aos seus olhos pela salvação que obtiveram em Cristo e que lhes deu acesso à glória da perfeição que terão no céu. Podem portanto viver e agir como inimigos de Deus, amando o mundo e dispondo suas energias para a carne, e certamente serão por Ele disciplinados, mas já agora como filhos amados, por causa da justificação gratuita que receberam pela misericórdia de Deus em Cristo Jesus. Foi por conhecer isto e por viver isto, que Paulo se dirigia aos crentes carnais coríntios, chamando-os de filhos amados, mesmo quando muitos deles estavam sendo disciplinados com enfermidades e até a morte física, que procedia de Deus, em razão da sua carnalidade ostensiva, e que renitentemente, muitos deles se recusavam a abandonar.
Mas a Bíblia diz que antes de você vir a Cristo você estava em guerra com Deus. E algumas pessoas podem dizer – Eu sou um bom religioso e não tenho feito nada contra Deus, eu creio em Deus. Eu não me vejo como um inimigo de Deus. Está certo. Eu concordo com isto. Mas não é este o problema. O problema não é se você está em guerra com Deus. Sabe qual é o problema? Deus está em guerra com você. Aí é que está a diferença. O ponto é que Deus é nosso inimigo...por causa do nosso pecado. O nosso coração está corrompido e é ele a fonte do pecado. Pecadinhos ou pecadões cheiram mal nas narinas perfeitamente santas de Deus. Todos somos condenáveis sob a Sua perfeita e inflexível justiça. Somos livrados desta condição somente por causa de Jesus Cristo.
Deus é assim, para o homem que não está em Cristo, seu inimigo, independentemente de estarem tais pessoas conscientes ou não disto.  E o plano de Deus é este – você é tanto Seu inimigo e ele está tão em guerra com você que um dia ele o lançará num lago de fogo que queimará eternamente. Isto revela o quanto Deus está em guerra com você. E todos nascemos debaixo desta condenação por causa do pecado original. Ninguém precisa fazer qualquer coisa boa ou má para ir para o inferno, porque já nasce condenado. Um só pecado sujeitou todo universo à maldição e à morte. Quem pois pode ser salvo pela sua própria capacidade e poder de permanecer firme diante de Deus, sem cometer um só pecado? Pois esta seria a condição exigida para alguém ir para o céu sem necessitar da salvação que é pela fé em Cristo Jesus. Devemos abominar todo tipo de pecado, devemos mortificar o pecado, mas não podemos ser ingênuos ao ponto de pensarmos que há um grau de santidade que é o que nos dá a salvação, porque, como bem sabemos, não há quem não peque, e se dissermos que não temos pecado, como afirma o apóstolo João, mentimos e a verdade não está em nós.
Agora isto é colocado sob uma luz diferente, não é verdade? Você pode perceber agora que Deus está em guerra com o pecador. Deus é inimigo dos pecadores. Deus luta contra os pecadores. Deus é inimigo do pecado.
Deus é inimigo de Satanás. E deste modo, se você não é um filho de Deus você é um filho de Satanás e pertence ao domínio de Satanás e Deus está em guerra contra este domínio. Este é o ponto.
Você diz – eu não tenho raiva de Deus. Isto é bom. Mas Deus está irado com você. Eu não estou fazendo nada para contrariar a Deus. Isto é bom. Mas Deus irá lançar você no inferno. O grande fato é que Deus está em guerra com os homens mesmo que eles estejam cônscios ou não da animosidade com Ele ou não. Esta ira de Deus sobre os pecadores está claramente revelada nos dois primeiros capítulos de Romanos. A Palavra ensina claramente que a ira e a maldição de Deus permanecem sobre aqueles que não foram justificados em Cristo. Veja, sobre eles, e não apenas sobre os seus pecados (Jo 3.36, Gál 3.10).
O modernismo do evangelho humanista inventou a doutrina de que Deus está irado com o pecado mas não com o pecador. Não é isso o que a Bíblia ensina. Isto não é o verdadeiro evangelho, que afirma que a ira e a maldição de Deus permanece sobre os que procuram se justificar pelas obras, ou sobre qualquer um que não tenha sido justificado pela fé em Cristo.
Em Isaías 13.9, lemos: “Eis que vem o dia do Senhor, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação, e dela destruir os pecadores.”.
E prossegue no verso 10: “Castigarei o mundo por causa da sua maldade, e os perversos por causa da sua iniquidade; farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos violentos.”.
A Palavra dos profetas está confirmada no Novo Testamento tanto nas palavras de Jesus quanto dos seus apóstolos: “Ora os céus que agora existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios.” (II Pe 3.7).
Deus destruiu seus inimigos, a saber, todos os pecadores que não estavam debaixo da justiça da fé, nos dias de Noé, e livrou somente o justo Ló, nas cidades de Sodoma e Gomorra, como prova de que está em guerra contra os pecadores. E trará ainda uma destruição final de todos os homens ímpios conforme acabamos de ler em II Pe 3.7, num juízo de fogo que trará sobre a terra.
E só existe uma forma de deixar de ter Deus como nosso inimigo: Através da justificação pela fé em Jesus Cristo. Podemos já, somente por este primeiro ponto, avaliarmos o valor profundo da nossa justificação, que fez com que a guerra que Deus tinha contra nós, os que fomos justificados, terminasse?
Depois de ter relacionado os pecados que costumam praticar os ímpios, Paulo disse: “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” (Ef 5.6).
E aqui, o ponto, de que a justificação não foi para continuarmos na prática do pecado, pois como já vimos, o viver no pecado é o que gera a condição de inimizade com Deus: “Portanto não sejais participantes com eles. Pois outrora éreis trevas, porém agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Ef 5.7,8).
  Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Mas o atributo da Sua justiça que opera com base na Sua perfeita santidade, faz com que Ele não esteja do lado dos pecadores. Ele não está do lado dos que rejeitam a Cristo. Ele é inimigo deles. Ele deve condená-los à morte eterna, caso não se arrependam e sejam justificados, com a justificação que dá vida, por meio da fé em Jesus Cristo.
Agora, voltando à afirmação do texto de Rom 5.1. O que você sente quando ele diz que temos paz com   Deus? Não é um som agradável e precioso agora? Isto não ocorreu porque fizemos algo para obtê-lo. Não foi por algo que nós fizemos que Deus ficou satisfeito. O que foi então? O trabalho perfeito de Jesus Cristo. Pois Deus despejou a Sua fúria e ira sobre Jesus. É por isso que se diz no final do versículo, “através de Jesus Cristo nosso Senhor”. Veja, em Cristo o nosso pecado foi penalizado, Jesus foi o completo pagamento a Deus como propiciação, e Deus ficou satisfeito. O preço foi pago. Por isso também se afirma em Col 1.20 “e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas,”. E a consequência desta justificação que está baseada na redenção conquistada com o sangue que Jesus derramou na cruz, é declarada logo dois versículos adiante, em Col 1.22: “agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis.”. É assim que o crente está  para sempre à vista de Deus por causa da justificação: santo, inculpável, irrepreensível. E é em razão disso que a guerra com Deus acabou. Deus não é mais seu inimigo. Não mais o destruirá. Não somente isto, fomos reconciliados com o Deus que é todo amor, justiça, bondade, santidade.  
Estamos nesta condição à vista de Deus porque cada pecado pelos quais deveríamos ser punidos, Cristo sofreu inteiramente a pena destinada a eles. A justificação e a reconciliação são termos que indicam realidades diferentes, mas ambas são realidades inseparáveis. Porque a justificação conduz à reconciliação, que é a mensagem do capítulo quinto de Romanos. A justificação conduz também à santificação, que é a mensagem dos capítulos 6 a 8. E também à glorificação, que é a mensagem do capitulo 8.
Quando alguém se une a Cristo pela fé,  e é justificado, a consequência desta justificação não é somente a glorificação por vir, no céu, mas a santificação começa imediatamente o seu processo na regeneração, e também ocorre a reconciliação com Deus. Assim, não somos mais seus inimigos mas seus filhos. Fomos, pelo sacrifício de Jesus, conduzidos a um maravilhoso relacionamento de reconciliação. E este é estabelecido por meio de Jesus Cristo como está em Rom 5.1. Tudo que temos com Deus é através de Jesus Cristo. Lemos em Ef 1.3: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo.”. Veja que toda a sorte de bênção que recebemos é por meio de Cristo.
Alguém dirá: muito bem, em Jesus fomos reconciliados no nosso relacionamento com Deus. Mas e a manutenção deste relacionamento? Como ocorre?
Jesus não somente nos reconciliou com Deus inicialmente, mas Ele mesmo mantém esta reconciliação. Este é o Seu trabalho de Sumo Sacerdote. Você entende isto : I Jo 1.7 afirma que “se andarmos na luz... o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.”. Você percebe que é Jesus que continua nos lavando, que continua mediando, que continua nos purificando de nossos pecados para que possamos manter esta reconciliação? E a consequência disto é que temos comunhão uns com os outros na igreja.
Assim há duas verdades tremendas envolvidas na reconciliação obtida pela justificação. Numa das mãos temos paz com Deus para sempre porque cada um dos nossos pecados foi castigado em Cristo. E na outra mão, em nossa caminhada diária neste mundo nós temos Jesus como nosso Mediador e Sumo Sacerdote à direita do Pai intercedendo por nós, e lavando-nos do pecado e nos purificando de toda injustiça. Assim, podemos ter paz com Deus para todo o sempre.
A justificação produz aquilo que Hodge cita em sua teologia: “uma doce quietude na alma”. Eu sou um filho de Deus. Amigo e irmão de Jesus. Sou da família de Deus e a paz está comigo.
É por isso que se ordena em Ef 6.15 que ao nos engajarmos nas batalhas espirituais contra o Inimigo, que calcemos os pés com a preparação do evangelho da paz. Devemos estar convictos de que Deus está do nosso lado. Que Ele não está em guerra conosco. Que estamos reconciliados com Ele. E que devemos levar esta reconciliação a outros, com a firme convicção de que é à paz com Deus que eles têm sido chamados em Jesus Cristo. Deus está do nosso lado contra o inimigo de nossas almas.
Alguém dirá: Bem, e quando eu peco? Em primeiro lugar, todos os seus pecados foram pagos no passado por Cristo. O débito foi liquidado. E toda a fúria que estava destinada ao seu pecado, Jesus a recebeu no seu lugar. E em adição a isto Ele continua intercedendo por você para mantê-lo firme e limpo, de forma a  poder permanecer num relacionamento de paz com Deus. Isto é, de comunhão com Ele. É aqui que a santificação que nos é ordenada tem o seu lugar. É por ela que mantemos a nossa relação de paz com Deus e uns com os outros. O crente carnal vive em contendas e ciúmes, consigo mesmo, com Deus e com os irmãos na fé. (I Cor 3.1-3; Tg  4.1-4).
Entretanto, não podemos ter esta santificação fora de Cristo. E consequentemente, esta paz de relacionamento com Deus e com os irmãos na igreja. Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa paz”. Jesus mesmo é a nossa paz. Enquanto Ele viver, Ele manterá este relacionamento de paz. Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo pelos seus pecados. Sua ira em relação aos justificados se foi, eles têm paz e nada pode mudar este relacionamento.
Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me lembrarei.”. E por quanto tempo isto durará? Para sempre. Por que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.
  Dizer a qualquer crente verdadeiro (eleito) que ele pode perder sua salvação é dizer uma de duas coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz não foi suficiente. O presente sumo sacerdócio de Cristo também não é suficiente. Você deseja dizer isto? Duvido. Em segundo lugar, é pensar que há alguém que seja bom e perfeito? Que nenhum de nós desagrada a Deus por causa das nossa própria justiça baseada na perfeição das nossas boas obras e caráter, e pureza absoluta de nossos pensamentos, palavras e ações? Porque esta é a única forma de sermos justos por nós mesmos diante de Deus e de maneira que Ele não esteja em guerra contra nós, e irado por causa do pecado. Um só pecado no curso de toda a nossa vida já nos sujeita ao inferno. Quanto à salvação há alguém que seja suficiente para isto?
Mas a salvação não vem de nós, ela é um dom gratuito e imerecido que recebemos por causa de Cristo. É por meio dEle, e dEle somente que tivemos acesso a essa graça maravilhosa e profunda que nos salva (Rom 5.17).
Repare como Paulo associa inteiramente tudo o que diz respeito à salvação a Jesus Cristo. Não é por acaso que o nome Jesus significa Salvador, ou aquele que salva: O acesso à graça que justifica foi por meio de Jesus (Rom 5.2). Jesus morreu por nós quando ainda éramos fracos e ímpios (Rom 5.6,8). Somos justificados e salvos da ira pelo sangue de Jesus (Rom 5.9). Somos salvos pela vida de Jesus e fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Jesus (Rom 5.10). Recebemos a reconciliação por meio de Jesus (Rom 5.11). O dom gratuito da salvação é abundante sobre muitos por meio de um só homem, Jesus Cristo (Rom 5.15). A graça de Jesus deriva de muitas ofensas, para a justificação, isto é, Ele morreu no lugar de cada um dos justificados, por causa dos pecados de cada um deles, e não apenas para ser considerado o substituto de Adão (Rom 5.16)  Os que foram justificados recebem a abundância da graça e o dom da justiça que cobre todos os seus pecados, e reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo (Rom 5.17). O único ato de justiça decorrente da perfeita obediência de Jesus à lei, obedecendo-a perfeitamente em vida, e atendendo à exigência da lei da morte dos transgressores (Jesus tomou o nosso lugar), trouxe-nos a graça para a justificação que dá vida eterna (Rom 5.18). Por meio da obediência exclusiva de Jesus somos tornados justos à vista de Deus (Rom 5.19). A graça reina pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo (Rom 5.21). O que sobrou para os que são justificados? Apenas crer.
Tudo foi feito por Cristo e está sendo cumprido também por Cristo. Nada ficou de fora para nós fazermos ou completarmos. A Sua obra foi consumada perfeitamente.
Lemos em Judas 24: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,”.
 Deus é poderoso para guardar o crente de tropeços e conduzi-lo em segurança à Sua glória eterna. É isto que o texto de Judas afirma.
O fato de a graça ter superabundado onde abundou o pecado é a verdade por meio da qual somos salvos. Porque mesmo depois de convertidos, ainda estamos sujeitos ao pecado, e se não houvesse uma graça superabundante para cobrir os nossos pecados, nenhum de nós poderia ser salvo. Isto é como as águas do dilúvio nos dias de Noé que cobriram todos os montes. Nossas montanhas de pecados, pode não ser aos nossos olhos, mas aos olhos de Deus são verdadeiras montanhas, porque Ele considera pecado o que fazemos e o que deixamos de fazer, seja grande ou pequeno, e mais do que isso leva em conta a intenção do nosso coração, nossos pensamentos, imaginação etc. O  crente, por mais consagrado que seja, aos olhos de Deus está cheio de pecados. Mas, de onde lhe vem a santidade em que vive, a paz que sente no seu coração, a alegria em sua alma, senão da graça de Jesus, que o purifica de tudo o que desagrada a Deus.
Deus justifica por eleição e misericórdia. “Terei misericórdia de quem quiser ter misericórdia”. É preciso ter muito cuidado para não colocarmos o assunto da justificação em termos de méritos pessoais ou da justiça própria. Assim fazendo não incorreremos no erro do fariseu em relação ao publicano, na parábola citada por Jesus, o qual era justo diante de Deus aos seus próprios olhos, pelas obras que praticava. Ao seu lado, um desprezado publicano, reconhecia-se pecador, e sequer ousava erguer os olhos para o céu, em arrependimento dos seus pecados. Este foi justificado e não o outro.
A parábola dos trabalhadores na vinha também exemplifica a concessão da graça na mesma medida salvadora, para todos os homens, independentemente dos seus méritos. Pois todos receberam o mesmo salário, tanto os que trabalharam muitas horas quanto os que trabalharam uma só hora.
A razão porque o Senhor “não desamparará o seu povo” como está afirmado em I Sm 12.22 está expressada aqui mais explicitamente, tanto quanto a declaração do Seu imutável amor. Não é porque eles fossem menos pecadores do que os outros, quer em natureza quer por praticá-lo; ou por causa de alguma qualidade moral que se encontrasse neles; mas “porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo.”, e “por causa do Seu grande nome”.
É da natureza terrena levar-nos a comparar-nos com outros e entendermos que somos mais justos do que eles. Mas aos olhos de Deus todos somos transgressores da sua lei e culpados. Somente em Cristo e por meio de Cristo e por causa de Cristo, que podemos ser aceitos, porque a nossa natureza terrena, seja ela qual for, a de um sincero Nicodemos, ou a de um terrível malfeitor, está separada de Deus, em sua morte espiritual, e necessita de um novo nascimento, que só pode ter aquele que for justificado pela fé.
A graça somente opera para o nosso bem porque é de fato um favor imerecido. De outra forma não operaria para nenhum de nós. Bem faríamos em fazer sempre como o publicano, por maior que seja o grau de  nossa santificação: “Oh Deus sê compassivo a mim mísero pecador”, e também a dizer juntamente com Paulo, “Miserável homem que sou. Quem me livrará do corpo desta morte ? Graças a Deus por Jesus Cristo.”.
Jesus nosso grande Sumo Sacerdote está trabalhando agora para manter a paz e a aplicação da graça em nós.
Observe que Rom 5.10 afirma que agora, muito mais, já tendo sido reconciliados, seremos salvos pela vida de Jesus. Fomos reconciliados pela morte e estamos sendo salvos pela vida. Se a morte do Salvador pôde redimi-lo quanto mais a Sua vida não poderá guardá-lo ? Este é o grande trabalho sacerdotal de Jesus. Ele intercede continuamente em nosso benefício junto ao Pai.
Paulo afirma em II Tim 1.12 que estava persuadido de que Deus é poderoso para guardar o seu depósito até o dia da sua chamada à glória celestial. Confiança em Deus.
Lemos em Heb 10.14: “com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.”.
E em Heb 10.10: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.”.
Por uma única oferta temos sido santificados para sempre. Ele nos aperfeiçoou para sempre. Nele estamos aperfeiçoados como se diz em Col 2.10. Isto é verdadeiro mesmo aqui na terra, onde estamos sujeitos ainda a muitas imperfeições, porque nossa justificação e regeneração foram atos perfeitos e completos de Deus. A nova natureza está perfeita em todas as suas partes, é uma nova vida que deve ser desenvolvida. Não está perfeita no desenvolvimento, mas é perfeita na sua condição de incorruptibilidade e santidade. O perdão dos nossos pecados foi também perfeito e completo.
Por isso se diz o que encontramos em Rom 8.31 a 39. O texto é longo e por isso não o estamos citando aqui, mas é muito importante que você o leia e veja ali apontadas as consequências da justificação, de não podermos mais ser acusados, condenados e separados do nosso relacionamento com Deus através de Jesus Cristo.
A salvação não é somente para este tempo, mas sobretudo para a perfeição em glória na eternidade. Foi para isto que Deus nos salvou. Como deixaria pois de concluir a Sua obra iniciada na justificação e na regeneração? (Fp 1.6). Como poderia o Criador de todas as cousas, para o qual tudo é possível, ser frustrado naquilo que planejou no Pacto, na predestinação e eleição? Como? Nem o pecado foi impedimento para a realização de Sua vontade de ter muitos filhos semelhantes a Cristo. Isto não depende de nós, de modo algum e também não é por meio de nós, mas exclusiva e totalmente por meio da Sua soberana vontade que tem sido cumprida através de Cristo.  
Este é o verdadeiro evangelho, porque está em conformidade com o ensino de Jesus e dos apóstolos. O modernismo evangélico adulterou a mensagem e ofendeu a soberania divina na salvação, e não são poucos por isso, que pregam que a salvação é conquistada pelas obras do homem, em cooperação com a vontade de Deus.
Somos salvos para as boas obras, não pelas boas obras. Não é a santificação que cobre a multidão dos meus pecados. Mas o ato de Deus em Jesus Cristo da redenção dos meus pecados na cruz.
Não é o meu esforço que me torna justo aos olhos de Deus, mas a justiça de Cristo com a qual fui vestido na justificação. Deus se agrada do nosso esforço na prática da justiça, mas não é isto de modo nenhum o que nos justifica, e nem o que nos torna agradáveis e aceitáveis a Ele, isto decorre simplesmente dos méritos de Cristo. É simplesmente por causa de Jesus e da justificação que obtivemos por meio dEle, pela graça, mediante a fé, que somos agradáveis a Deus. É pela fé nEle, que podemos nos aproximar do Senhor e sermos santificados. É o sangue dEle que nos perdoa os pecados e purifica de toda injustiça. É por ser nosso Advogado e Sumo Sacerdote que temos paz com Deus. Que podemos sentir a Sua Santa presença. Maldito sentimento portanto, de justiça própria que acaba nos afastando de Deus, tanto quanto o fariseu da parábola. Outra vez dizemos: tenhamos a mesma atitude do publicano para o bem das nossas almas e progresso verdadeiro em santificação. A graça é concedida a quem se humilha, que reconhece que tudo está em Cristo, e que tudo procede dEle em relação à nossa salvação, crescimento espiritual, paz no relacionamento com Deus, santificação etc. Lembremos que Deus não somente deixa de conceder graça ao soberbo, como também lhe resiste.    
Do lado de Deus temos a reconciliação como um terreno firme onde podemos andar. E a promessa de que seremos firmados, aperfeiçoados, fundamentados, glorificados. Esta é a Sua parte. E qual é a nossa parte. A nossa parte é perseverar e obedecer.
Como andamos em obediência ? O Espírito Santo nos foi outorgado para podermos ser guardados por caminhar em obediência.
Assim, se você deseja atacar a segurança do crente, você está atacando primeiro a Deus.Você está afirmando que ele mudou o seu veredicto. Em segundo lugar está atacando a Cristo, porque você está dizendo que o Seu trabalho na cruz não foi completo, e que o seu Sumo Sacerdócio não pode manter-nos firmes. E também está atacando o Espírito Santo por dizer que Ele é incapaz de fazer o crente perseverar e desacredita toda a Trindade por negar-lhe a segurança do crente.
I Pe 1.5 afirma que nós somos guardados pelo poder de Deus. Isto aponta para a verdade de que a nossa salvação é para sempre. A alegria e o conforto dos crentes depende realmente do senso de segurança da salvação. Em Romanos 5 Paulo afirma que a nossa salvação, a nossa justificação pela fé é segura... no poder de Deus.
Em Ef 1.13,14 lemos: “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”. Paulo mais diz, que orava para que lhes fosse concedido espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Jesus Cristo, para saberem qual é a esperança do chamamento do crente, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos,” (Ef 1.17,18). Em outras palavras, ele está dizendo: “para provar que você que foi salvo pelo evangelho já conquistou uma herança que há de se manifestar no porvir, Deus lhe concedeu o Espírito Santo como um selo que está estampado em você que o identifica como propriedade permanente de Deus (v.14), como garantia da riqueza da glória da herança que lhe será concedida no céu, e pelo que eu estou orando para que Deus lhe revele a certeza dessa esperança, e lhe dê entendimento disto.”. Deus quer que os seus servos tenham certeza da segurança da sua salvação, conforme está revelado nesta porção da sua Palavra.
É preciso compreender o que temos tido em Cristo. Paulo estava dizendo aos efésios: agora que vocês foram salvos, eu estou orando para que vocês possam compreender que sua salvação é para sempre, e que vocês têm uma esperança e uma herança que será revelada na glória por vir.

Em Fp 1.6 lemos: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus.”. Paulo havia aprendido o seu evangelho, que é o único evangelho, diretamente de Jesus. Este ensino expresso em suas palavras ele aprendeu certamente por revelação que lhe fora feita pelo Senhor, quanto ao caráter do evangelho da salvação. Aquele que foi salvo será impulsionado pelo próprio Deus para perseverar rumo à maturidade espiritual, à estatura de varão perfeito, pois este é o objetivo da salvação, conforme planejado e revelado por Deus na Palavra, sermos semelhantes a Cristo. É nisto que Ele trabalhará em todo o tempo para ver formado em nós. É na direção do cumprimento deste Seu Supremo propósito que todas as coisas estão cooperando  juntamente para o bem daqueles que o amam, a saber, os salvos.



Provérbios 25

“1 Também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá.
2 A glória de Deus é encobrir as coisas; mas a glória dos reis é esquadrinhá-las.
3 Como o céu na sua altura, e como a terra na sua profundidade, assim o coração dos reis é inescrutável.
4 Tira da prata a escória, e sairá um vaso para o fundidor.
5 Tira o ímpio da presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça.
6 Não reclames para ti honra na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes;
7 porque melhor é que te digam: Sobe, para aqui; do que seres humilhado perante o príncipe.
8 O que os teus olhos viram, não te apresses a revelar, para depois, ao fim, não saberes o que hás de fazer, podendo-te confundir o teu próximo.
9 Pleiteia a tua causa com o teu próximo mesmo; e não reveles o segredo de outrem;
10 para que não te desonre aquele que o ouvir, não se apartando de ti a infâmia.
11 Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.
12 Como pendentes de ouro e gargantilhas de ouro puro, assim é o sábio repreensor para o ouvido obediente.
13 Como o frescor de neve no tempo da sega, assim é o mensageiro fiel para com os que o enviam, porque refrigera o espírito dos seus senhores.
14 como nuvens e ventos que não trazem chuva, assim é o homem que se gaba de dádivas que não fez.
15 Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda quebranta os ossos.
16 Se achaste mel, come somente o que te basta, para que porventura não te fartes dele, e o venhas a vomitar.
17 Põe raramente o teu pé na casa do teu próximo, para que não se enfade de ti, e te aborreça.
18 Malho, e espada, e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho contra o seu próximo.
19 Como dente quebrado, e pé deslocado, é a confiança no homem desleal, no dia da angústia.
20 O que entoa canções ao coração aflito é como aquele que despe uma peça de roupa num dia de frio, e como vinagre sobre a chaga.
21 Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer, e se tiver sede, dá-lhe água para beber;
22 porque assim lhe amontoarás brasas sobre a cabeça, e o Senhor te recompensará.
23 O vento norte traz chuva, e a língua caluniadora, o rosto irado.
24 Melhor é morar num canto do eirado, do que com a mulher rixosa numa casa ampla.
25 Como água fresca para o homem sedento, tais são as boas-novas de terra remota.
26 Como fonte turva, e manancial poluído, assim é o justo que cede lugar diante do ímpio.
27 comer muito mel não é bom; não multipliques, pois, as palavras de lisonja.
28 Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito.”

Quanto à afirmação deste último verso (28), nós usaremos um texto para o comentário relativo ao assunto domínio próprio.

DOMÍNIO PRÓPRIO

“6 E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?
7 Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.”  (Gên 4.6,7)

Deus impõe ao homem o dever de ter domínio sobre os seus desejos, isto é, ele deve ter domínio próprio ou auto controle.
A razão disto se deve ao fato de que o homem foi criado para viver e proceder conforme a vontade de Deus, de maneira que não seja e pratique aquilo que seja contrário à Sua vontade divina, isto é, que seja dominado pela força do pecado.
Debaixo de fortes pressões, num mundo dominado por sexo pervertido e lascivo, violência, arrogância, desrespeito, vanglória e toda sorte de circunstâncias contrárias à vontade revelada de Deus em Sua Palavra, a alma piedosa tende a definhar e a ser, ela própria impelida por tais desejos pecaminosos, e então interpõe-se a necessária e obrigatória existência do fruto do Espírito Santo do domínio próprio (Gál 5.22) porque o auto domínio meramente humano não tem o poder de eliminar o desejo senão apenas de abafá-lo.
 Daí importa que o espírito humano que é a sede deste domínio próprio, que deve governar os desejos da alma, seja ele próprio dominado pelo Espírito Santo, de maneira que se tenha o governo divino conduzindo o espírito do homem a ter domínio sobre a sua alma em desejos santos e agradáveis a Deus.
Consequentemente não se pode ter uma tal bênção, sem vigilância e oração contínuas que nos mantenham permanentemente na presença de Deus, tendo poder em graça no coração, de forma que este esteja purificado de toda má consciência e formas de impurezas, quer da carne, da alma ou do espírito (II Cor 7.1; Hb 10.22).
Como seria possível alguém manter sua paz de mente e espírito, quando debaixo de uma circunstância contínua difícil e perturbadora, sem estar em plena comunhão com o Espírito Santo?  Esta comunhão contínua com o Espírito é necessária porque o domínio próprio que extingue a fonte dos desejos pecaminosos é o próprio Espírito Santo em governo sobre o nosso espírito.
Quando o primeiro homem pecou, toda a humanidade ficou sujeita ao pecado, e este consiste basicamente no governo do espírito (mente, razão, vontade e direção próprias etc) pela alma (instintos, temperamento, afetos, tal como existem nos seres irracionais etc), sendo o corpo físico, particularmente, o veículo da realização destes desejos que são excitados e manifestados principalmente na alma.
Sabemos que é somente o Espírito Santo que pode impedir tanto a excitação quanto a exteriorização destes desejos da alma, tal como o apóstolo afirma em Gál 5.16: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.”.
Sabemos também que vivemos num mundo de pecado, de trevas, dominado por espíritos malignos, que obviamente não propiciará em nenhum aspecto ou circunstância o cumprimento do propósito eterno de Deus na criação do homem que é o de amá-lO e ao próximo, porque o amor não pratica o mal senão o bem. Deus é amor, luz, bondade, paz, retidão, e o homem foi criado para ser à Sua imagem e semelhança. Mas como poderá ter a plenitude de tal imagem e semelhança vivendo sob o domínio dos desejos de uma alma governada pela força do pecado num mundo de pecado? Vemos que esta tarefa está muito além da capacidade natural humana. Muito além de todo poder terreno que se possa referir. Nenhuma ciência ou prática religiosa poderá dar ao homem a paz e pureza de espírito em bondade, paciência  e amor num tal mundo como este que sempre nos submeterá a pressões e aflições decorrentes da manifestação do pecado quer pela instrumentalidade de homens, quer pela de espírito malignos que atuam na terra.
Sabendo que por princípio o pecado é a transgressão da lei de Deus, não se pode portanto esperar que a solução para um viver em paz  e pureza interior sem se alienar do mundo (porque estamos no mundo) não poderá ser achada em nós mesmos.
Foi imposto a Caim o dever de dominar o seu desejo de matar o seu irmão, mas ele não poderia ter a eliminação da sua ira e do próprio desejo, sem se sujeitar em obediência à vontade de Deus, de maneira que pudesse receber a graça do Espírito, quando se dispusesse a fazer aquilo que era certo (segundo a vontade de Deus) para ser aceito, tal como fora o seu irmão Abel. Sem esta assistência do Espírito Santo o espírito humano poderá conter o desejo maligno mas não eliminá-lo, porque a carne (natureza terrena) não está naturalmente sujeita à vontade de Deus e nem mesmo pode estar; isto é, o poder natural nada poderá fazer no sentido de vencer as forças espirituais contrárias à perfeita santidade de Deus, e cooperar com o trabalho da graça para implantar tal santidade em nós. É preciso pois estar efetivamente sujeito a Deus em espírito, permitindo assim que o Espírito Santo esteja de fato sob o controle e governo da nossa própria vontade, de maneira que não a nossa, mas a vontade de Deus revelada na Palavra prevaleça no nosso viver, conforme sejamos capacitados pela instrução, direção e poder do Espírito Santo.  
   Sem domínio próprio o homem será o agente da sua própria destruição. Seu corpo transformará em doenças as suas ansiedades e toda sorte de descontroles que são originados pelos desejos pecaminosos de sua alma. E a própria alma enfermará em sua falta de paz e domínio pelo espírito, que a conduziria a fazer aquilo que é segundo a vontade de Deus, de maneira a se ter uma boa consciência, que não teria mais como agir como um juiz inflexível em acusações disparadas contra ó seu mau procedimento em palavras, pensamentos e ações. Somente quando o Espírito governa o espírito humano e este por sua vez governa a alma, é que há paz na casa que é o corpo do homem. E isto independe de circunstâncias, conforme bem o demonstra a experiência dos homens santos de Deus na Bíblia que permaneceram com paz em suas mentes e corações nas prisões (Paulo), na fornalha ardente (Sadraque, Mesaque e Abdnego), na cova dos leões (Daniel), e em tantos outros exemplos que estão registrados na Palavra.
Eles mantinham comunhão contínua com o Senhor, e por isso tinham o fruto do Espírito Santo do domínio próprio que era o segredo da paz e calma que eles revelaram na hora da tribulação.
Quando o amor de Deus não prevalece nos nossos corações a tendência natural é a da auto destruição e também da destruição mútua na igreja. Tal como estava ocorrendo na Igreja da Galácia, porque eles estavam seguindo o pendor da carne e não o do Espírito Santo, assim o que prevalecia entre eles eram as obras da carne e não o fruto do Espírito. Daí a razão da exortação do apóstolo Paulo a eles de que não vivessem apenas no Espírito mas que caminhassem diariamente em comunhão com o Espírito para que pudessem ter o Seu fruto, que é o único meio pelo qual podemos viver de modo agradável a Deus e a nós mesmos, por não sermos dominados pelos nossos desejos pecaminosos, mas pela boa, perfeita e agradável vontade de Deus.
Sem este princípio da graça operando continuamente no coração nós não podemos fazer aquilo que deveríamos fazer e conforme nos é exigido por Deus na Sua Palavra.  Ao contrário, quem dominará serão sempre os desejos pecaminosos porque não terão um controle sobre eles exercido pelo Espírito Santo. Vemos assim quão importante, vital e crucial é para o crente não entristecer e apagar o Espírito Santo com a prática contínua e deliberada do pecado, porque este inimigo mortal ficará em plena liberdade de ação pela ausência do único poder que pode vencê-lo, a saber, a graça de Jesus que opera pelo Espírito.
Sabendo que a carne luta contra o Espírito porque sabe intuitiva e instintivamente que é Ele o único poder que pode dominá-la, cabe então ao crente o dever de vigiar e orar constantemente para que a carne seja trazida em sujeição ao Espírito, para ser progressivamente mortificada, de maneira que a carne fique cada vez mais fraca, e a graça cada vez mais forte. À medida que este trabalho de crescimento na graça e no conhecimento de Jesus vai progredindo, o crente perceberá que se cumprirá também em sua vida a experiência do apóstolo Paulo de estar crucificado para o mundo e o mundo para ele, de maneira que não exercerá mais nenhum atrativo sobre a alma, em devaneios, ilusões, paixões, por coisas que são enganosas, aparentes, passageiras, e que não podem de modo algum ser em qualquer grau, o objetivo pelo qual vivamos, porque toda a vida que temos na carne é para ser vivida para Deus e não para a satisfação dos nossos desejos, que ainda que sendo lícitos, poderão colidir com a vontade de Deus e impedir-nos de fazê-la, seja em cumprimento do que está revelado na Palavra, ou que tenha sido determinado por Ele direta e pessoalmente a nós, especialmente nas coisas que se referem ao cumprimento do ministério que Ele nos tiver designado para cumprir.  
A Palavra de Deus nos ordena portanto o dever de vigiar, orar e lutar para que os desejos da carne sejam vencidos pelo exercício do nosso domínio próprio. Não permitiremos que nada além do Espírito de Deus e da Palavra do Senhor, nos domine. Nem sequer a nossa própria vontade que está contaminada pelo pecado e sujeita ao seu domínio.
Nossos desejos naturais são paixões que devem ser dominadas. E isto não pode ser feito sem o fruto do domínio próprio do Espírito Santo. Em Gál 5.23 a palavra para domínio próprio no original grego é egkrateia, que significa auto (eg) controle, domínio, governo (krateia). Literalmente poderia ser traduzido como controle, domínio ou governo do ego. A suma de tudo o que temos dito, pela própria Palavra, é que deve existir uma completa consagração ao Senhor, não meramente em pensamento, mas de fato e de verdade, numa vida de efetiva vigilância espiritual e oração contínuas, em aplicação da Palavra de Deus à vida pelo Espírito, porque sem isto, como vimos antes, quem terá sempre o domínio serão os desejos corrompidos da alma e não o nosso espírito, estando ele próprio, purificado pela presença e poder operativo e atuante do Espírito Santo de Deus.
Estes desejos e paixões da alma devem ser submetidos à crucificação por causa do princípio do pecado que opera na carne – natureza terrena decaída, onde residem todos estes desejos pecaminosos. Mortificar a carne é o dever de todo crente porque foi crucificado juntamente com Cristo, e consequentemente morreu para o pecado para poder viver em novidade de vida para Deus.
“E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” (Gál 5.24).
Ser cristão significa ser transformado progressivamente pelo poder da graça à imagem e semelhança de Jesus, e estar numa aliança com Deus para a santificação total de corpo, alma e espírito (I Tes 5.23). Não cabe portanto qualquer dúvida quanto a ser um dever de todo crente a mortificação da carne, para um progressivo e cada vez maior revestimento de Cristo (Rom 13.14).
Assim, não é bastante que deixemos de praticar o mal, porque é também necessário aprender a fazer aquilo que é bom e agradável a Deus. O cristianismo não somente nos obriga a mortificar o pecado mas também a viver em retidão; não somente a nos opormos às obras da carne, mas também produzir o fruto do Espírito.

“Como a cidade derrubada, sem muro, assim é o homem que não pode conter o seu espírito.” (Pv 25.28)


“Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla o seu espírito do que aquele que toma uma cidade.” (Pv 16.32)



Provérbios 26

“1 Como a neve no verão, e como a chuva no tempo da ceifa, assim não convém ao tolo a honra.
2 Como o pássaro no seu vaguear, como a andorinha no seu voar, assim a maldição sem causa não encontra pouso.
3 O açoite é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara para as costas dos tolos.
4 Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também não te faças semelhante a ele.
5 Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que ele não seja sábio aos seus próprios olhos.
6 Os pés decepa, e o dano bebe, quem manda mensagens pela mão dum tolo.
7 As pernas do coxo pendem frouxas; assim é o provérbio na boca dos tolos.
8 Como o que ata a pedra na funda, assim é aquele que dá honra ao tolo.
9 Como o espinho que entra na mão do ébrio, assim é o provérbio na mão dos tolos.
10 Como o flecheiro que fere a todos, assim é aquele que assalaria ao transeunte tolo, ou ao ébrio.
11 Como o cão que torna ao seu vômito, assim é o tolo que reitera a sua estultícia.
12 Vês um homem que é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há para o tolo do que para ele.
13 Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um leão está nas ruas.
14 Como a porta se revolve nos seus gonzos, assim o faz o preguiçoso na sua cama.
15 O preguiçoso esconde a sua mão no prato, e nem ao menos quer levá-la de novo à boca.
16 Mais sábio é o preguiçoso a seus olhos do que sete homens que sabem responder bem.
17 O que, passando, se mete em questão alheia é como aquele que toma um cão pelas orelhas.
18 Como o louco que atira tições, flechas, e morte,
19 assim é o homem que engana o seu próximo, e diz: Fiz isso por brincadeira.
20 Faltando lenha, apaga-se o fogo; e não havendo difamador, cessa a contenda.
21 Como o carvão para as brasas, e a lenha para o fogo, assim é o homem contencioso para acender rixas.
22 As palavras do difamador são como bocados deliciosos, que descem ao íntimo do ventre.
23 Como o vaso de barro coberto de escória de prata, assim são os lábios ardentes e o coração maligno.
24 Aquele que odeia dissimula com os seus lábios; mas no seu interior entesoura o engano.
25 Quando te suplicar com voz suave, não o creias; porque sete abominações há no seu coração.
26 Ainda que o seu ódio se encubra com dissimulação, na congregação será revelada a sua malícia.
27 O que faz uma cova cairá nela; e a pedra voltará sobre aquele que a revolve.
28 A língua falsa odeia aqueles a quem ela tenha ferido; e a boca lisonjeira opera a ruína.”

Quanto à afirmação do verso 3: “O açoite é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara para as costas dos tolos.”, nós usaremos como comentário um texto adaptado de autoria do Pr John MacArthur intitulado Submissão à Autoridade Civil:

Submissão à Autoridade Civil

Por John Macarthur (adaptado)

Certamente se o apóstolo Pedro estivesse visitando a nossa igreja para nos ministrar a Palavra de Deus, ele não estaria falando e fazendo o que muitos têm falado e feito na igreja dos nossos dias. Ele estaria falando aquela mesma verdade que lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor Jesus, aquela verdade imutável, que jamais passará. As filosofias humanas que não se conformam à Palavra têm passado e passarão. Até mesmo o ensino direto de demônios que intenta desacreditar a verdade divina também passará, mas a Palavra do Senhor permanece para sempre, e é por isso que Pedro não alteraria um só jota ou til para agradar a quem quer que fosse, e estaria pregando em nossa igreja o mesmo evangelho que ele pregou todos os dias da sua vida, até a hora da sua morte.
Pedro escreveu em sua primeira epístola, em 2.13-17: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.”.
Provavelmente o rei que estava perseguindo a igreja quando Pedro escreveu esta epístola, era Nero, sob quem o próprio apóstolo, assim como Paulo, padeceram o martírio, segundo a tradição cristã. E ele diz: “honrai ao rei”. Mesmo um Nero, enquanto estiver no trono deve ser honrado ainda que não quanto à pessoa que é, mas quanto à autoridade de que está investido.Há um grande movimento entre os crentes de todo o mundo, presentemente, para não darem honra aos maus governantes, antes, devem se envolver em atividades que tenham em vista retirá-los da posição que ocupam. Isto é rebelião civil. Isto é levante. Isto é motim. Ainda que caiba ao crente denunciar o mal, não lhe cabe se envolver em atividades que tenham em vista a tomada do poder. Cabe-lhe sim orar pelas autoridades, apresentando-as na presença de Deus, e ao Senhor cabe acionar ou permitir as ações que partem do mundo espiritual, para que cheguem ao poder, em cada nação aqueles que lá devem estar, segundo o Seu propósito. Quer seja para praticarem o bem, quer seja para praticarem o mal, para aquele resultado, que no final contribuirá para o bem de todos aqueles que O amam.
Há um senhor da história, e este não é Satanás e nem o homem, mas o Senhor Deus, monarca não apenas da terra, mas de todo o universo e céus.
O crente tem assim, como cidadão no mundo, não a missão de estabelecer governos terrenos, mas a de ser testemunha de Deus na terra, daquelas coisas eternas e melhores do Reino do Senhor, para que através do seu testemunho ocorra o que é dito no verso 15 do texto de I Pe 2.13-17, que destaca o propósito de tudo o que se diz nesta porção bíblica: “Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos;”. Isto é, pelo testemunho de Deus daquilo que é correto você pode silenciar a ignorância dos homens tolos.
O ponto da seção inteira da exortação é que nós como cristãos devemos viver de tal modo que por nossas vidas exemplares nós calemos as bocas desses que criticam nossa fé. Nós devemos viver uma vida que esteja acima da crítica, uma vida que esteja acima da repreensão, uma vida que esteja acima da vergonha.
Na verdade, o que fica em foco quando se vive desta forma, é o poder transformador do evangelho. Realmente não há nenhuma outra maneira melhor e maior para as pessoas verem o poder transformador do evangelho do que ver a vida de uma pessoa transformada. É o fundamento de todo o nosso testemunho. O testemunho poderoso que ocorre quando uma pessoa dá a alguém o evangelho que ela tem já posto como o fundamento da sua vida  transformada.
Pedro então está dizendo aqui que é essencial que vocês vivam suas vidas de tal modo que seu testemunho se torna acreditável. Que o poder transformador de Cristo não seja evidente pelo que você diz mas pelo que você é.
Agora como nós devemos nos esforçar para viver nossas vidas no mundo, há três perspectivas que Pedro nos dá aqui. Ele diz que você tem que ver sua vida de três modos. Número um: você tem que se ver como um estrangeiro para esta sociedade. Nos versos 11 e 12 ele afirma que nós somos peregrinos e estrangeiros neste mundo e nós temos que nos ver deste modo. Então nos versos 13 a 17 ele diz que embora vocês sejam estrangeiros que vocês ainda são cidadãos, embora você viva em outra dimensão, você ainda está aqui neste mundo e você tem que se comportar com o modo  próprio de um cidadão. Em terceiro lugar, nos versos 18 a 20, ele discute o assunto que nós somos servos, e não servos genericamente falando, mas em relação àqueles que são nossos chefes.
Assim Pedro vê o crente como um estrangeiro, como um cidadão e como um servo. E cada uma dessas perspectivas está relacionada com o modo com que o mundo nos vê. Como o mundo nos vê porque eles têm que nos ver como estrangeiros. Eles têm que nos  ver como cidadãos, e eles têm que reconhecer –nos como servos.
O pano de fundo é que o modo que você vive determinará se você conduz alguém a Cristo ou se você abastece os fogos da crítica. Isto é óbvio, eu penso, para todo o mundo... todo o mundo. A cultura Cristã na América está sofrendo muito agora por causa do tremendo rebuliço que tem ocorrido no Cristianismo porque muitos líderes do Cristianismo têm demonstrado que as suas vidas não estão acima de nenhuma repreensão e eles abasteceram os fogos da crítica literalmente. Eles abriram as bocas dos críticos em lugar de os silenciar.
Eu também creio que não somente há pessoas que obviamente não estão vivendo de modo espiritual e que têm pregado que  "Cristo transforma", mas viveram uma vida muito não transformada e assim colocaram abaixo o seu testemunho , mas também há hoje no Cristianismo as pessoas que estão vivendo no mundo de um tal modo que até mesmo a função deles como cidadãos está causando uma repreensão que cairá sobre o nome de Cristo. Você pode perder a credibilidade de seu testemunho não vivendo uma vida sobrenatural de quem é estrangeiro para este mundo, que demonstra o poder de Cristo. E eu acredito que você pode perder o fundamento do seu testemunho por um fracasso em viver como um cidadão deveria viver debaixo da regra de Cristo.
Assim é muito importante que nós não só discutamos aquela ideia de estrangeiro que nós já discutimos, mas que nós também olhemos para este assunto de ser cidadãos. De forma que é o que nós queremos estudar agora. Os dois vão juntos, e você pode fazer a conexão prontamente em sua própria mente. Nós somos estrangeiros no mundo em que nós vivemos num nível diferente. Nós vivemos um tipo de vida divino. Nós vivemos a vida de Deus. Nós vivemos em uma plano sobrenatural, você sabe que nós somos sobrenaturais, que nós não somos deste mundo. Nós somos cidadãos do céu. Nós estamos desembaraçados do sistema mundial. Na realidade, nós devemos fixar nossos afetos nas cousas que são do alto, não nas que são da terra. Nós estamos  submetidos a uma maior autoridade do que qualquer autoridade terrena no sentido que nós movemos debaixo do poder de um Deus vivo como revelado em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo.
Agora o perigo disto é óbvio. A verdade passa por um caminho estreito quanto às nossas relações com este mundo em que vivemos. Ao mesmo tempo que estamos crucificados para ele e ele para nós, em que não somos dele, nós ainda estamos nele, e vivemos nele. Daí ser descabida a afirmação de qualquer crente, que morreu para o pecado mas não para o mundo, como que a justificar a busca dos prazeres terrenos como um dos objetivos principais da vida. Mas ao mesmo tempo, o próprio crente necessita de sadia recreação. Necessita exercitar o seu corpo físico para ser saudável. Necessita trabalhar com as próprias mãos para obter o sustento que é necessário, não somente para si, mas para os que dele dependem.
      O perigo inerente a isso é óbvio porque se nós temos nossa identidade de estrangeiros no mundo, nós podemos ficar totalmente indiferentes para o mundo no qual nós temos que viver. E assim nossa alienação do sistema é equilibrada pela demanda da própria cidadania. Sim, nós vivemos uma vida sobrenatural. Sim, nós vivemos uma disciplina que é interior e privada, operada pelo Espírito Santo. Sim, nós nos dirigimos com um comportamento que é externo e público e também operado pelo Espírito Santo, de forma que somos diferentes do mundo ao redor de nós. Nossa alienação se manifestou pelo fato que nós nos privamos de luxúrias carnais, de acordo com o verso 11. E que nós praticamos boas obras de acordo com o verso 12.
Assim, o caráter das nossas vidas revela a nossa alienação. Nós somos diferentes do mundo. Nós estamos no mundo, não somos do mundo. Mas o resultado disso poderia ser uma indiferença à sociedade ao redor de nós, um descuido absoluto para a autoridade ao redor de nós. E assim Pedro é rápido em acrescentar imediatamente no verso 13: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor;”. O fato de que você é um cidadão do céu, que você vive num nível diferente que o  mantém num plano mais elevado, que você responde a uma autoridade mais alta, não significa que você pode tratar com indiferença as instituições que estão aqui na terra. Nós que sentimos que estamos acima do sistema necessitamos aprender a viver dentro do sistema. De forma a sermos conduzidos ao que  Pedro apresenta nos versos 13 a 17, quanto à forma como devemos nos conduzir como cidadãos.
Agora é urgente o estudo deste assunto nestes nossos dias porque temos testemunhado um grande número de pessoas cristãs e um grande número das pessoas da igreja que desafiaram o direito civil. Eles violaram os padrões de cidadania. Eles violaram a civilidade da lei e eles não honraram a autoridade que está acima  deles. Nós assistimos isso acontecer. Eles fizeram isso no nome de Deus. Eles fizeram isso no nome do Cristianismo. E assim nós precisamos olhar cuidadosamente para aquele assunto de  modo particular e ver o que precisamente a Palavra de Deus tem a dizer.
As pessoas às quais Pedro dirigiu originalmente sua epístola estavam sendo criticadas. É difícil ser espiritual, como cidadão do céu. É difícil também ser um bom cidadão neste mundo. E isto se torna mais difícil ainda quando esta autoridade lhe é hostil. E este era o caso daqueles a quem Pedro tinha escrito. Na realidade, era uma coisa bastante comum chamá-los malfeitores, como eles são assim identificados no verso 12, eles são caluniados como malfeitores.
Nos dois primeiros séculos da história da igreja era muito  comum para eles não apenas viverem numa sociedade terrena mas em uma sociedade muito hostil que era flagrantemente anti  cristã. Eu li, como você talvez também tenha lido, alguns dos registros da história da igreja primitiva, alguns dos ataques e algumas das acusações contra a igreja que são representativos da forma como eles foram tratados. Em primeiro lugar, havia um anti-semitismo básico no mundo antigo. Eles se ressentiram contra os judeus. Eles odiaram os judeus. E os cristãos foram vistos como simplesmente uma seita dos judeus. E assim eles receberam uma carga bastante grande de hostilidade anti-semítica. Havia um tipo de visão repulsiva dos judeus e os cristãos entre eles.
Eles também foram acusados de insurreição. Eles foram acusados de se rebelar contra Roma e toda a autoridade humana. Literalmente isso era a razão básica por que os romanos se ocuparam da crucificação do próprio Jesus Cristo, porque foi trazido a eles o fato que Ele representava uma grande ameaça contra Roma que, claro que, não era verdade. E durante os primeiros dois séculos da vida da igreja, essas acusações de hostilidade contra governos terrenos continuaram crescendo, embora elas não fossem verdade.
A igreja primitiva também foi acusada de ateísmo e havia uma grande hostilidade contra eles em razão disso. É duro imaginar, não é, que a igreja pudesse ser acusada de ateísmo? Mas era verdade porque qualquer um que se recusasse adorar os muitos deuses das nações pagãs, inclusive César no Império romano era considerado um ateu. Assim se você não adorasse César, não importa quem mais você adorasse, você era considerado um ateu.
A igreja primitiva também foi acusada de canibalismo. Era suposto que eles estavam fazendo banquetes. Na realidade, um dos escritores pagãos, Thiestes disse que a iguaria do banquete era carne humana. E assim quando eles os acusaram de banquetes de Thiestes, eles estavam acusando a igreja cristã de praticar o canibalismo. E eles retiraram isto das palavras de Jesus, que o crente devia comer a Sua carne e beber o Seu sangue.
Eles também acusaram os crentes de matarem e comerem os seus filhos em seus banquetes. Além disso, eles os acusaram de imoralidade e até mesmo de incesto. Eles foram acusados de relacionamento de Édipo. Todos nós sabemos que Édipo foi  adotado quando criança, e quando cresceu ele viu uma senhora encantadora, e se casou com ela e descobriu eventualmente que ele tinha se casado com a sua mãe. Freud deu a ambos muita publicidade quando ele propagou as suas teorias sobre o desenvolvimento sexual com referência particular às tendências incestuosas. Mas um longo tempo antes de Freud as pessoas estavam tendo dificuldade nesta área e os pagãos estavam acusando os cristãos de comportamento incestuoso. Os cristãos chamavam as mulheres de  "irmãs", e os homens da igreja tinham muita intimidade com estas irmãs, assim os pagãos, em sua  ignorância sobre a comunhão que há em Cristo no mundo espiritual, somaram dois com dois e acharam seis.
Eles também acusaram a igreja primitiva de comércio prejudicial. Eles acusaram a igreja primitiva de incendiar casas, incendiando Roma, quando quem o fizera foi o próprio Nero. Eles disseram que uma espada caía entre o homem e sua esposa quando aceitavam a Jesus Cristo, destruindo o lar. Eles os acusaram de nutrir rebelião de escravos porque quando um escravo chegava ao conhecimento de Jesus Cristo, ele tinha uma vida nova, ele tinha uma dignidade nova em Cristo. E eles pensavam que era uma coisa hostil manter os escravos no lugar que lhes cabia na sociedade.
Eles os acusaram de odiarem os homens porque eles eram contrários ao sistema do mundo. Eles os acusaram novamente de infidelidade aos governantes e a César porque eles adorariam somente a Jesus Cristo e nunca se dobrariam em submissão a qualquer outro ser.
A igreja nos primeiros anos não estava apenas no mundo mas na hostilidade de um mundo muito odioso. E a Pedro havia um só modo para negar as acusações. O único modo para negá-las era viver uma vida piedosa, viver uma vida virtuosa que basicamente fecharia as bocas dos críticos afastando qualquer acusação legítima. Eles desejavam viver uma vida que era tão rica em qualidades espirituais que não haveria nada que eles pudessem usar para caluniar os cristãos.
Agora, façamos um pequeno parêntesis aqui. Satanás não abandonou de todo esta estratégia de fazer um confronto direto dos que estão no mundo contra a igreja, assim como fez na igreja primitiva, nos países da cortina de ferro, nos países de cultura muçulmana e de diversos modos e épocas diferentes. Entretanto, é muito corrente em nossos dias, no mundo ocidental, a estratégia que tem usado de misturar o joio com o trigo. De fazer o cristianismo ser aceito pelo mundo de ímpios, desde que o cristianismo faça certas concessões ao mundo, pelo menos aceitando em seu meio, e afirmando como membros de Cristo, pessoas que não são verdadeiramente crentes, mas que se dizem crentes, e que são não de reputação duvidosa, mas certamente pecaminosa, porque exibem uma vida completamente distinta do que é exigido na Palavra. Isto confunde os crentes verdadeiros, que passam a seguir aquele padrão de vida errado, contrário à verdade da Palavra. A hostilidade do diabo não é assim direta, mas destrói a vida da igreja por dentro, com aquilo que é hostil à verdade revelada sendo aceito pelos crentes. Isto é terrível, porque a “aceitação” da igreja pelo mundo, pode garantir a retirada da perseguição e das acusações, mas não há como conciliar de maneira alguma luz e trevas, nunca existirá comunhão entre a luz e as trevas, nunca o joio será recolhido juntamente com o trigo. A hostilidade permanece, ainda que de forma velada, e o testemunho de Cristo é anulado, e vidas deixam de ser salvas, crentes têm o seu testemunho arruinado, e assim Satanás consegue o seu intento.
Eu posso dizer a você que o mundo ainda é hostil contra  o Cristianismo? Homens ainda odeiam a Deus. Eles ainda rejeitam a Jesus Cristo. Eles podem ser um pouco mais tolerantes do sistema religioso do Cristianismo mas eles não são mais tolerantes em relação à verdade da retidão do que eles alguma vez já tenham sido antes. E o desafio para o crente ainda é ser estrangeiro e ainda ser cidadão, ser diferente, quer dizer nós devemos viver uma vida acima da que está no mundo, e ainda morar no mundo. E esse desafio é grande. Nós devemos viver de tal modo que apesar de todas as falsas acusações e todo ódio e  hostilidade, nós poderemos ainda trazer os corações das pessoas a Cristo pela transformação evidente das nossas vidas.
Assim o que Pedro realmente tem em mente aqui é um propósito  evangelistico, porque a ordem de Jesus para a igreja foi a de que fizessem discípulos em todas as nações, pregando-lhes o arrependimento e a fé nEle para a remissão dos pecados.
Agora quando nós somos atacados por acusadores irresponsáveis, ignorantes, infundados, a reação natural é se levantar em autodefesa e talvez até mesmo retaliar, ou pensar que já que eu não tenho nenhuma parte neste mundo e este mundo não tem nenhuma parte comigo, eu ignorarei com indiferença tudo de seus sistemas.
Mas Deus não quer tal comportamento de nós. Ele não quer que nós pensemos que nós podemos agir de qualquer maneira que desejemos porque nós não somos responsáveis perante as instituições humanas. Na realidade, Ele deseja que demonstremos autodomínio, virtude, uma preocupação com a comunidade, buscar a paz na comunidade, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para prevenir problemas, viver de tal maneira em paz e com boa vontade que nós privemos os nossos inimigos de todas as suas falsas acusações. O modo Cristão de amordaçar os críticos é obedecer todas as leis e respeitar todas as autoridades. Se você quer uma ilustração clássica disso, leia o diário de John Wesley. E leia como John Wesley, através da oração e da proclamação da Palavra de Deus nas ruas trouxe à fé cristã a muitos que a ouviram. Havia todos os tipos de abusos nos dias de John Wesley, todos os tipos de pecados dentro da sociedade. O protesto de John Wesley contra isso sempre era espiritual, enquanto usava a Palavra de Deus e a oração.
O mandamento é simples: “sujeitai-vos”, da palavra hupotasso , do grego, que é literalmente um termo militar que designa a situação do exército sob o  seu comandante. Está falando sobre ser sujeito. A melhor tradução seria, "Coloquem-se a si mesmo numa atitude de submissão”. A propósito, isso é distintamente cristão, porque atitudes de submissão e humildade eram olhadas no passado como  coisas que caracterizavam os covardes e fracos. E nenhum homem forte pensaria em se submeter ou ser humilde.
Assim os filhos de Deus deveriam viver de um modo humilde, submisso no meio de uma sociedade hostil, irreligiosa, sem Cristo, pecadora, má, acusadora, caluniadora. Na realidade, os filhos de Deus tinham sido acusados frequentemente de insurreição, continuariam sendo acusados de insurreição mas nunca foram chamados por Deus para se engajarem nisto, nunca.
Em Pv 24.21, lemos: “Teme ao Senhor; filho meu, e ao rei e não te associes com os revoltosos.”. E escute isto, no verso seguinte (22): “Porque de repente levantará a sua perdição, e  a ruína que virá daqueles dois, quem a conhecerá ?”. Repare que a ruína dos revoltosos virá tanto da parte do rei, quanto da parte do Senhor.
Vale a pena ler a mensagem que Deus enviou ao povo de Judá quando estava em cativeiro na Babilônia.  Eles estavam em uma terra pagã. Eles estavam debaixo de uma regra pagã. Eles estão sob Nabucodonozor, rei de Babilônia, ele era um pagão até à raiz. Mas olhe o que Deus diz: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomais esposas para vossos filhos e daí vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.”. Agora se lembre, eles estão numa sociedade hostil, pagã. “Procurai a paz da cidade”. E a próxima declaração é muito interessante, e assume que há problemas e diz,  “orai por ela ao Senhor”. Você já se sentiu como num exílio na cidade do Rio de Janeiro? As decisões que são tomadas nesta cidade pelas autoridades desta cidade o irritam? Você está em exílio aqui. O que deveríamos fazer? Adquira uma casa, viva nela, plante um jardim, coma o produto,  case seus filhos e busque o bem-estar da cidade...e ore ao Senhor para que haja paz onde você mora, porque na paz da cidade você terá paz. Torne-se o agente da insurreição e você receberá os efeitos da insurreição. Esta é a implicação. Por isso foram aconselhados pelo próprio Deus a não se insurgirem contra as autoridades que os mantinham em cativeiro.
Nos versículos seguintes do texto de Jeremias 29.4-7, o povo é alertado a não dar ouvido aos falsos profetas, aos advinhos e sonhadores que estavam no meio deles no cativeiro, e que sempre lhe falavam em nome do Senhor falsamente, falando sempre o que agradava ao povo ouvir. Eles ficariam por setenta anos em cativeiro, e somente depois daquele período de tempo o próprio Senhor os traria de volta à  Palestina. É no meio de tais declarações que o Senhor disse o que está no verso 11: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.”. Ora, a maioria daquela gente morreria em Babilônia. Setenta anos seria o tempo do cativeiro. Por isso lhes é ordenado que não deixassem que o povo diminuísse deixando de se multiplicarem através do casamento de seus filhos. A paz que eles buscariam para si mesmos seria experimentada num solo pagão. Numa terra estranha. O Senhor os visitaria lá enquanto orassem e o buscassem de todo o coração (29.13). Não é nesta mesma condição que os crentes vivem como povo de Deus nesta grande Babilônia que é o mundo. Somos peregrinos e forasteiros. Somos estranhos para a forma de vida deste mundo sem Deus. Mas podemos ter a paz do Senhor enquanto estivermos vivendo nele, até que chegue o dia da nossa redenção, quando o Senhor vier buscar a Sua igreja para estar para sempre com Ele na Canaã celestial.
Esta porção do livro de Jeremias apresenta esta analogia maravilhosa. O princípio é este... você está em uma terra estrangeira, faça tudo você pode para buscar o bem-estar daquela terra para seu próprio benefício, enquanto percebe que Deus tem um plano para você que ainda está distante, depois que se cumprir o prazo de tempo que está determinado por ele para que a igreja esteja neste mundo.
Você é o cidadão de outro lugar. Você é da terra do verdadeiro Israel. Não é de Babilônia. E contanto que você tenha que viver em Babilônia, compre uma casa, ou construa uma casa, plante um jardim, coma os seus frutos,  case seus filhos e faça tudo o que estiver ao seu alcance para buscar  o bem de sua cidade e ore por ela. E sabendo isto, que Deus tem um lugar melhor reservado para você, uma pátria para você, que é o local ao qual você pertence, no céu.
Tem havido muitos protestos, muitos atos de desobediência civil, muitas violações da lei, muitas revoluções, muitas insurreições, e muitas tentativas subversivas para subverter os governos, você está pronto para isto, em nome do Cristianismo ? Isso é trágico. Nunca nos foi mandado por Deus fazer isso. O mandamento é simples: “sujeitai-vos”.
Em Rom 13.1,2 lemos: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”.
Você vê alguma exceção nesta palavra? O texto é bastante claro.
Paulo disse a mesma coisa que Pedro disse.  Você diz: "mas Paulo não morou num mundo como o nosso.". Ele morou sim. Ele morou num mundo dominado pela escravidão, e havia abusos terríveis. Ele morou num mundo dominado pelo abuso de mulheres. Ele morou num mundo onde havia o assassinato de crianças. Eles moraram num mundo onde o pecado sexual era excessivo e  a homossexualidade era tão excessiva que muitos dos Césares foram homossexuais. Eles viveram numa sociedade miserável, podre, vil, descrente, má, tal  como nós. E ainda lhes foi dito que estivessem sujeitos às autoridades, estarem sujeitos às autoridades superiores porque elas foram instituídas por Deus. E o próprio Jesus disse o quê em Mt 22:21 ? "Dai a César o que é de César.”. O mandamento é muito simples. Submetam-se. Isto está colocado nas palavras de Deus através de Jeremias: "Busquem a paz da cidade". E na paz da cidade eles encontrariam a sua própria paz. E lhes foi ordenado que orassem a Deus em tal sentido. É por isso que Paulo diz em I Tim 2.1-3: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.”.
Agora voltemos ao texto de I Peter 2 e deixe-me levá-lo a um segundo ponto. O primeiro ponto é o mandamento, o segundo ponto é o motivo. Em 2.13 Pedro coloca isto de maneira muito direta e clara: “por causa do Senhor”. Pois diz: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor”. É por causa da vontade do Senhor que devemos estar sujeitos aos que governam. O modo de honrar a Deus é obedecendo aquilo que Ele tem ordenado. E o mandamento diz: “sujeitai-vos a toda instituição humana”. Sujeitai-vos porque Deus exige isto. Assim você está fazendo isto em obediência a Ele. Então desde que não há nenhuma autoridade a não ser que seja estabelecida por Deus e essas autoridades que existem foram estabelecidas por Ele,  então quando você responder submissimamente à autoridade, você está fazendo isto por causa de Deus que instituiu a autoridade.
Quando um líder nesta sociedade diz faça isto... você faz isto. Quando a polícia diz se levante e saia daqui... você se levanta e sai de lá porque isso é o que a Bíblia diz que se deve fazer. Por que você faz isto? Por causa de Deus. Por causa de Deus por que? Porque Deus nos ordenou obedecer as autoridades porque as autoridades são instituídas por Deus e é uma questão de obediência.
Leiamos Jeremias 24:4-7: “A mim me veio a palavra do Senhor, dizendo: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Do modo por que vejo estes bons figos, assim favorecerei os exilados de Judá, que eu enviei deste lugar para a terra dos caldeus. Porei sobre eles favoravelmente os olhos e os farei voltar para esta terra; edificá-los-ei e não os destruirei. Dar-lhes-ei coração para que me conheçam que eu sou o Senhor; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.”.
Em outras palavras, Deus diz que apesar de você estar na terra dos caldeus, onde eles enterravam os bebês vivos nas paredes das casas que construíam, naquele tipo de cultura pagã, o povo de Deus viveria todo o tipo de situações ruins, Ele diz contanto que você se volte para Ele de todo o coração Ele nunca o esquecerá, apesar de estar numa terra estranha. E no tempo conhecido por Ele você será conduzido para o seu verdadeiro lar, à sua própria terra.
Mas quando você viola o que Deus planejou para ser a sua conduta na sociedade, você deixa de ser útil nesta sociedade.
Isso é se inclinar à metodologia errada. E o fim nunca poderá ser atingido  porque os meios estão incorretos. Por isto é que Deus  está no controle. Respondendo submissimamente assim à autoridade você está respondendo à regra ordenada por Deus.
Robert Culver escrevendo em seu livro, um livro muito útil sobre a visão bíblica do governo civil, diz: "Somente Deus tem direitos soberanos. A teoria democrática não é menos antibiblica do que a monarquia pelo direito divino. Por quaisquer meios que os homens cheguem às posições de governo, por dinastia hereditária, aristocracia dinástica, ou através de eleição democrática, não há nenhum poder mas de Deus. Além disso, governo civil é um instrumento, não um fim. Os homens buscam fins mas somente Deus é o fim último. O estado não possui nem seus cidadãos nem as propriedades deles, suas mentes, seus corpos ou filhos. Tudo isto pertence ao Criador deles, Deus, que nunca deu a ninguém  direitos estatais de domínio permanente".
O que eu quero que você entenda é que Deus controla e possui tudo. E o que nós queremos fazer é reconhecer que Ele ordenou o governo para manter a paz na sociedade e Ele nos tem ordenado para nos submetermos a isso. E você não atinge, efetua, realiza o fim divino violando a lei divina.
Há uma segunda razão ou motivo porque eu creio que nós devemos nos submeter e isso é que não devemos apenas obedecer a Deus,  mas imitar a Deus. Não somente obedecê-lo, mas imitá-lo. Em Ef 5.1 se diz direta e claramente que devemos ser imitadores de Deus como filhos amados. E em I Pe 2.21 vemos que Cristo nos deixou um exemplo para que o seguíssemos, e no verso 23 lemos o que era este exemplo: quando insultado não insultava, quando ameaçado não ameaçava, mas entregava-se completamente nas mãos do Pai que julga retamente.
Jesus quando estava em seu ministério terreno foi assassinado por duas autoridades: a judaica e a romana. Ele viveu debaixo da regra injusta deles, contudo Ele nunca atacou o governo. Ele nunca atacou as regras. Ele nunca atacou os que estavam em autoridade criticando o modo como governavam. Ele nunca dirigiu um protesto. Ele nunca conduziu ninguém à desobediência civil. Ele nunca efetuou um levante contra os abusos romanos.. Ele somente falou do Reino de Deus. Ele chamou os pecadores ao arrependimento, para virem a Ele e entrarem no Seu Reino. E Ele confiava continuamente no Pai que julga retamente simplesmente porque  Ele sabia que Deus é soberano e o mundo inteiro está sob o Seu controle.
Em terceiro lugar, nós queremos nos submeter às autoridades para glorificar a Deus, porque Ele é honrado quando é visto como a fonte de virtude, cortesia, paz que dá às pessoas. Isso O honra.
Robert Haldain muitos anos atrás escreveu que o povo de Deus deveria considerar a resistência ao governo debaixo do qual eles vivem como um crime muito terrível. Porque diminui a glória de Cristo. Isto mostra crentes com raiva, hostilidade, rebelião. Isso não está honrando a Deus. Estarmos em paz e graça, e em bondade honra a Deus. Estarmos em virtude, obediência, submissão, humildade, isso é o que honra nosso Cristo.
Francamente, eu creio que é triste ver crentes que deram o exemplo de desobediência civil pública, crentes que deram o exemplo da violação da lei, crentes que desafiaram a polícia, porque se nós devemos ser justos então o que injusto deveria fazer? Se nós devemos ser os virtuosos da sociedade, se nós devemos ser íntegros que servem a Deus que instituiu o governo, como nós podemos desafiar o mesmo Deus e o mesmo governo que Ele instituiu?
Em Rom 13.5 lemos: “É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.”.  É necessário... isto não é opcional,  é necessário. Olhe para isto, "não só por causa do temor da punição ". Agora o que quer dizer que você não deve estar sujeito por causa da punição? Porque regras não são uma causa de temor para um bom comportamento mas para o mau. Você não quer ter nenhum medo da autoridade? Faça o que é o bom e você terá elogio da mesma, porque é ministro de Deus para o seu bem. Mas se você faz o que é mau, tenha temor porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É sobre a polícia e o sistema judicial que ele está falando, esses que trazem a espada, que exercem a punição dos malfeitores na terra, como ministros de Deus, encarregados deste serviço.
Assim ele diz que é necessário estar em sujeição por causa da punição. Você poderia sentir a vingança de uma instituição ordenada por Deus. Quando a polícia fizer o que eles devem fazer para o cumprimento da lei e da ordem, eles são os ministros de Deus. Não significa que eles às vezes não abusem disso, eles o fazem. Não significa que eles são pessoalmente cristãos ou pessoalmente mais morais que quaisquer outras pessoas. Significa que a função deles é como uma agência dentro da vida humana e da sociedade humana para cumprir um papel ordenado por Deus de manter a ordem. E se uma pessoa os obedecer, faz o que é bom, ele não tem nenhuma razão para temer. Mas se ele se rebela e protesta, então ele já tem razão para temer por causa da punição porque Deus os fez ministros para vingar a Deus punindo aqueles que violam a ordem que Ele estabeleceu.
Então secundariamente ele diz que é necessário estar sujeito às autoridades não apenas pelo temor de ser castigado se você violar isto, mas também por dever de consciência. O que significa isso? Só porque está certo. Assim a nossa submissão à autoridade não  será apenas regulada pelo medo do castigo, mas porque está certo.
Assim, por causa de Deus nos submetemos para obedecê-lo, imitá-lo e honrá-lo. Eu nunca esquecerei de George E. Vin que me disse quando conversávamos sobre isto. O que fazem os cristãos russos para protestar contra o governo russo, quando fazem coisas que eles acham que não estão certas? Ele disse que eles têm uma lei básica não escrita que todo mundo que congrega na igreja da Rússia,  e se qualquer crente for preso, ele somente será preso por proclamar o evangelho de Jesus Cristo, por nada mais além disso. Não por protestar contra qualquer outra coisa.
Mas você diz: “O que devemos fazer se sentimos que o governo está errado, contrariando a própria ordenança de Deus, como neste caso em que tentam proibir a pregação do evangelho ? Quanto a isto nós temos uma palavra bastante clara na Bíblia. Lembra que na igreja primitiva, quando as autoridades ordenaram aos apóstolos que parassem de pregar ? Eles disseram o que está em At 4.19,20: “Mas  Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.”. E eles não saíram dali para incitar a igreja para fazer um levante contra as autoridades judaicas. Ao contrário, eles oraram pedindo a Deus que lhes revestisse de poder para continuarem pregando o nome de Jesus Cristo.
Quando o governo lhe pedir que faça o oposto do que Deus lhe pede que faça, você não tem nenhuma outra escolha a não ser   violar a ordem do governo e então entregar-se a Deus e sujeitar-se ao castigo das autoridades, se isto for da vontade de Deus, que ocorra, para prova da sua fé, e glorificação do Seu nome.
Se eles viessem me prender eu não deitaria na rua, eu iria com eles.Você nunca percebe que Paulo nunca resistiu à prisão? Nunca. Você vê que as armas de guerra dele não eram carnais. Ele nunca precisou mentir na sujeira. Ele sabia a quem ele servia e ele sabia como você deve lidar com esses assuntos no poder de Deus, não com a manipulação de homens.
Você diz, "Bem isso é fácil quando eles lhe mandam que faça algo que a Bíblia diz que não deve ser feito, ou vice-versa, então você faz o que Deus diz e você sofre as consequências." Isso é certo. “Mas o que devemos fazer quando o governo permite coisas que nós sabemos que são erradas, como por exemplo o “casamento” entre homossexuais?". Isso é muito comum e está se generalizando na cultura ocidental.  E o que deve fazer a igreja? Nós protestamos? Nós saímos em passeata? Deixe-me levá-lo a II Cor 10.3: "Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne.”.  E no verso 4: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.”.  Esta é uma guerra espiritual, nós não estamos lutando contra carne e sangue. Você entende isso? Nós estamos lutando em um nível espiritual. Os instrumentos de guerra, eu amo esta frase, os instrumentos de guerra não são da carne. Nós não podemos usar meios humanos. Nós não podemos usar os mesmos meios que o mundo costuma usar.. Você quer saber algo? Eles são melhores nisto. Quem se saiu melhor nos protestos recentes? As pessoas a favor do aborto ou as que são contra? As que são a favor. Nós não devemos lutar com as mesmas armas deles.
Mas as nossas armas, ele diz no verso 4, são poderosas em Deus. Poder de Deus para quê ? Para destruir as fortalezas do pecado, as fortalezas de Satanás e seus demônios.
O que a palavra destruição significa? Significa colocar por terra.  As armas do nosso arsenal espiritual divino são fortes o bastante para destruir as fortalezas que foram construídas através do pecado.
Então ele diz que essas armas podem destruir sofismas, isto é, especulações. O que são especulações ? São argumentos engendrados pela simples razão humana, sem estarem conformados à mente de Deus. O mundo está repleto disto. E só existe uma maneira de destruir estes argumentos que são fruto da altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levar tais pessoas à obediência de Cristo. É usando as armas espirituais poderosas de Deus. Isto ocorre na própria igreja, e Paulo diz, que uma vez completada a submissão dos coríntios pelo uso que ele fizera da Palavra, que é a espada do Espírito, a arma da nossa milícia, pela ação do próprio Deus dando-lhes entendimento da Palavra e conduzindo-os ao arrependimento, então, uma vez completada a ação de Deus no meio da igreja, o próprio apóstolo, juntamente com a liderança da igreja puniria os desobedientes, isto é, os que se mantivessem em posição de desobediência.
Você nota ? toda coisa alta... todo pensamento. É uma guerra inclusiva e nós podemos fazê-los se curvar a Cristo. Nós podemos  levá-los cativos para a obediência de Cristo.
É por isso que nós precisamos pregar a Palavra de Deus com convicção. Não podemos ter a mínima vergonha de qualquer palavra usada na Bíblia. Não podemos nos envergonhar em confrontar o que os filósofos, os psicólogos, os antropólogos, os astrólogos, e quaisquer outros “ólogos” ou não estejam ensinando como verdade às pessoas contrariamente à Palavra de Deus revelada na Bíblia. A honra devida à Palavra é ponto de honra para Deus e deve ser também para nós. O Senhor vela sobre a Sua Palavra. Jesus diz que Ele também se envergonharia daquele que se envergonhasse das suas palavras. Satanás tem procurado intimidar os pregadores do evangelho, com o falso ensino daqueles que alegam conhecer a verdade, silenciando-os. Não convém que seja assim. As armas poderosas de Deus devem ser usadas contra eles, para que sejam convencidos da verdade e assim se voltem para Cristo. Desde o Éden que Satanás tem agido assim, para desacreditar a Palavra de Deus. Ele disse a Eva que Deus havia mentido, com uma pergunta insinuante, e uma afirmação para conduzir à dúvida e ao descrédito quanto à veracidade da Palavra: “Foi assim que Deus disse ?”, “certamente não é assim”. Esta é a estratégia que ele sempre tem usado. “É isto que está escrito na Bíblia ? É assim que você interpreta ? Certamente não é bem esse o sentido.”. E assim amolda a Palavra ao gosto do ouvinte. Amolda-a ao seu pecado. Mas o que está escrito é o que está escrito. O que está dito é o que está dito. E é isto o devemos pregar e ensinar. E é nisto que devemos crer e praticar. Cada palavra das Escrituras. Cada frase. Versículo. Capítulo. Livro.
Nós precisamos pregar a Palavra de Deus com poder e convicção. Nós deveríamos chamar os pecadores ao arrependimento. Nós devemos usar a Palavra que nunca voltará vazia. Uma outra arma poderosa de Deus é a oração.  Precisamos orar para que a nossa pregação e ensino sejam no poder do Espírito, e para que Deus opere nos corações das pessoas. As armas são a Palavra e a oração.
Sim, nós precisamos demolir as fortalezas do pecado e do diabo, mas precisamos fazer isto do modo que Deus disse que deve ser feito. E ao mesmo tempo, mantendo nossa piedade, nossa virtude, nosso caráter, como pessoas tranquilas, pacificadoras, misericordiosas, humildes, tementes a Deus, obedientes, enfim, que têm todas as virtudes que caracterizam um espírito submisso.
A sociedade, especialmente do mundo ocidental, é uma sociedade pragmática. Os governantes dos países ricos estão afirmando que só existe um deus no mundo, e este é o mercado. Os países pobres são explorados pelos países ricos. Mas no reino do anticristo haverá uma conjugação de países pobres e ricos, servindo a mesma causa comum: a do engano e da mentira. Valendo-se de argumentos aparentemente justos como o da erradicação da miséria no mundo, do combate à violência, o mundo continuará sujeito ao príncipe das trevas e ao pecado, obedecendo o senhorio de ambos. E vivemos como povo de Deus numa terra estrangeira, não somos deste mundo, mas estamos vivendo nele, e devemos ter o cuidado de ter a paz de Cristo em nossos corações, o espírito de moderação, mas também de ousadia para proclamar a Palavra de Deus em meio a uma geração perversa e má, lutando com as armas espirituais de Deus. Dando o mais elevado exemplo de cidadania em relação a todas as cousas que devem ser obedecidas em relação à autoridade civil, mas tendo a ousadia com moderação para rejeitar tudo aquilo que contrariar os princípios claramente revelados na Palavra, assim como fizeram os crentes da igreja primitiva, e todos aqueles que viveram e têm vivido dando o bom testemunho de Cristo, que é mediante a Sua Palavra.
Lembremos sempre que não recebemos de Deus a missão de consertar o mundo, de ser a sua palmatória, mas a de dar testemunho da verdade, de ser sal e luz num mundo de trevas. E isto é feito com a pregação da Palavra e com oração. Ainda que seja louvável a intenção daqueles que têm levantado as mais diferentes bandeiras para modificar a ordem social, procurando condições mais justas de vida pelo confronto das autoridades constituídas, saiba que isto não deve ser feito em nome de Cristo, porque não é esta a missão que Ele deu à igreja. Não foi este o exemplo que Ele deixou para nós, e nenhum dos seus apóstolos.
A nossa missão não é a de consertar o mundo, até porque ele nunca teve e jamais terá conserto, mas a de resgatar pessoas que estão no mundo, das trevas para a luz do Senhor. Há muito o que fazer em testemunho de boas obras, mesmo para aqueles que são do mundo, e isto faremos sendo bons cidadãos e empregados, com o temor de Deus no coração, sendo obedientes e submissos àqueles que foram constituídos como autoridade acima de nós.
Em Atos 6.8 lemos que Estevão era cheio de graça e poder, e fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. Mas lemos nos versos seguintes que em razão de alguns judeus não terem podido resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava, subornaram homens para dizerem que o tinham ouvido proferir blasfêmias contra Moisés e contra Deus, e sublevaram o povo, os anciãos e os escribas arrebatando-o e levando-o ao Sinédrio. E ali usaram testemunhas falsas contra ele. Mas os que estavam no Sinédrio viram o rosto de Estevão como se fosse rosto de anjo. E você conhece bem o resto da história que culminou com sua morte por apedrejamento. Ele pregou um sermão poderoso aos seus acusadores, antes de ser apedrejado, e foi um sermão cheio do poder do Espírito. Mas, segundo o juízo comum, ele foi derrotado porque com todo o poder de suas palavras, graça, sabedoria, fé, poder do Espírito, não logrou livrar-se dos seus falsos acusadores e encontrou a morte. Mas, a causa de Deus e a Palavra de Deus triunfou através do testemunho da sua vida, porque tudo aquilo balançou as convicções de Saulo, preparando-o para a sua futura conversão no caminho de Damasco, e certamente outros escribas e fariseus foram trazidos à fé pelo testemunho maravilhoso de Estevão. Ele pregou uma mensagem evangelistica confrontativa. E Saulo jamais pôde esquecer a face angelical, o coração perdoador e o poder da pessoa de Estevão.
A Palavra de Deus diz que devemos estar sujeitos a toda instituição humana, não diz algumas, mas a toda e qualquer instituição. Você diz: “Mas temos juízes ruins em nossos tribunais. Respondemos a isto com uma ilustração tirada de Is 3.1,2, onde lemos: “porque eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água; o valente, o guerreiro e o juiz; o profeta, o advinho e ancião; o capitão de cinquenta, o respeitável, o conselheiro, o hábil entre os artífices e o encantador perito.”.   Por que Deus vai fazer tudo isso? Ele vai julgar o homem poderoso e o guerreiro,  Ele vai julgar o juiz e o profeta, o advinho e o ancião. Em outras palavras, Ele vai julgar todos. Ele baixa uma lista longa. Por que? Verso 8: “Porque Jerusalém está arruinada, e Judá, caída; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para desafiarem a sua gloriosa presença.”.  Ei, esta não é a primeira vez que houve juízes ruins, esta não é a primeira vez que houve líderes ruins. Mas quem os julga? Quem os julga? Deus os julga.
Vemos isto também em Dn 9.11,12: “Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição e as imprecações que estão escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra ti. Ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam, e fez vir sobre nós grande mal, porquanto nunca, debaixo de todo o céu, aconteceu o que se deu em Jerusalém.”. E novamente  Daniel mostra o fato que havia juízes injustos, juízes injustos na sociedade na qual ele estava vivendo com as pessoas em cativeiro. Isto não é nada novo. Isto não é nada incomum.
Miqueias 7.2-4 diz: “Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama. O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe  de espinhos. É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o dia do teu castigo; aí está a confusão deles.”.
Paulo viveu certamente em dias que os juízes eram ruins quando ele escreveu Rom 13. Pedro também viveu certamente em dias que os juízes eram ruins quando ele escreveu I Pe 2, afinal os juízes estavam arrastando os cristãos aos tribunais, injustamente. E o próprio Paulo e Pedro foram vítimas de uma execução injusta que lhes tirou a vida. Mas não devemos resistir a toda esta realidade da vida humana, o foco da Bíblia está em ser sujeito às autoridades, porque foram instituídas por Deus. Esta que é a ordenança bíblica. Não é que você deva consertar o mundo através da revolução civil. O trabalho de julgar as autoridades instituídas é um trabalho do próprio Deus, porque foram instituídas por Ele. E você tem que  permitir que Deus seja soberano porque Ele está regendo como lhe apraz. Robert Culver escreveu um livro muito importante chamado Para uma Visão Bíblica do Governo Civil. E nele ele diz isto “Os homens da Igreja cujo ativismo Cristão levou principalmente a anunciar, enquanto marchavam, enquanto protestavam e gritavam poderiam  bem observar o autor destes versos... chamado Paulo... primeiro na oração, depois pregando com os seus amigos e depois disso pregando nas casas e nos lugares públicos. Quando  Paulo chegou a ser ouvido pelos poderosos, foi para defender a sua ação como pregador do caminho para o céu.".
Você vê, se nós seremos perseguidos e se nós seremos encarcerados, deve ser porque nós fomos pregadores da justiça, e não os desafiantes da lei. É muito importante saber que o que dá a investidura à autoridade é a posição ocupada por ela, e não a qualidade do seu caráter. Pedro tinha um caráter infinitamente superior ao daqueles que prenderam Jesus. Mas o que foi que o Senhor lhe disse quanto tomou da espada e cortou a orelha do servo do sacerdote ? Ele disse que os que usassem a espada em vingança sem estarem na posição de autoridade que permite o uso da espada, morreriam  pela espada da autoridade, ministro de Deus para tal propósito. Jesus mesmo reconheceu a autoridade terrena dos que o prenderam permitindo-se deixar ser preso por eles. Na terra, nem ele, nem  Pedro, na ocasião ocupavam qualquer posição como magistrados reconhecidos pela sociedade. Eles estavam assim sujeitos às autoridades constituídas. E foi por isso que Jesus reconheceu que havia em Pilatos tal poder sobre a Sua pessoa, que fora dado por Deus. Se Deus não tivesse instituído as autoridades civis, Pilatos não teria qualquer poder sobre Jesus, mas como era um dos chefes da administração romana, que governava o mundo de então, tinha o direito legal de fazer valer a autoridade de que estava instituído, ainda que por um governo que não era justo e imparcial, porque crucificaram o próprio Cristo que sequer tinha qualquer pecado e era Deus.
Aí está um bom exemplo então para meditarmos e entendermos que nenhum levante contra a autoridade constituída poderá ter a aprovação de Deus, ainda que seja por uma causa justa, ou em nome da justiça. Não podemos exercer a lei com as próprias mãos. Isto é tarefa para os ministros de Deus que foram instituídos para serem autoridade mantendo a ordem civil e o cumprimento da lei.
Agora, a má autoridade responderá perante Deus, porque está designado um modo para que ela funcione. Ela deve elogiar os que praticarem o bem e castigar os malfeitores. Mas há cada vez mais uma troca disto no mundo em que vivemos. Ao bem chamam mal, e ao mal chamam bem. Autoridades que estão em conluio com criminosos. E que perseguem o povo de Deus pela simples condição de serem reconhecidos como contrários à prática da injustiça, do suborno, e de todo comportamento que é condenado pela Palavra de Deus. Certamente prestarão contas a Deus dos seus atos.
Em Rom 13.6,7 lemos: “Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.”.

Alguém diria... eu ouvi as pessoas dizerem isto... eu conheço várias pessoas que disseram a mim, "eu não pago meus impostos." Eu disse, porque não ? " "Eu não sou um cidadão deste mundo.". Um homem me falou que ele não pagava impostos há 25 anos. Por que? "Eu não sou um cidadão deste mundo. Eu não tenho que pagar meus impostos. Eu não tenho que obedecer leis terrenas. Eu sou um cidadão do céu.". Toda vez que eu vejo uma transgressão da vontade de Deus deste tipo, isto me irrita. Não somos livres para sermos devedores, para dar mau testemunho, somos livres para servir a Deus, e é da vontade de Deus que sejamos cidadãos corretos neste mundo, que cumprem todas as suas obrigações de cidadania. Nossa cidadania celestial, nossa liberdade em Cristo não nos permite abusar dos padrões que Deus estabeleceu para nós na terra.



Provérbios 27

“1 Não te glories do dia de amanhã; porque não sabes o que produzirá o dia.
2 Seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estranho, e não os teus lábios.
3 Pesada é a pedra, e a areia também; mas a ira do insensato é mais pesada do que elas ambas.
4 Cruel é o furor, e impetuosa é a ira; mas quem pode resistir à inveja?
5 Melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto.
6 Fiéis são as feridas dum amigo; mas os beijos dum inimigo são enganosos.
7 O que está farto despreza o favo de mel; mas para o faminto todo amargo é doce.
8 Qual a ave que vagueia longe do seu ninho, tal é o homem que anda vagueando longe do seu lugar.
9 O óleo e o perfume alegram o coração; assim é o doce conselho do homem para o seu amigo.
10 Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai; nem entres na casa de teu irmão no dia de tua adversidade. Mais vale um vizinho que está perto do que um irmão que está longe.
11 Sê sábio, filho meu, e alegra o meu coração, para que eu tenha o que responder àquele que me vituperar.
12 O prudente vê o mal e se esconde; mas os insensatos passam adiante e sofrem a pena.
13 Tira a roupa àquele que fica por fiador do estranho, e toma penhor daquele que se obriga por uma estrangeira.
14 O que bendiz ao seu amigo em alta voz, levantando-se de madrugada, isso lhe será contado como maldição.
15 A goteira contínua num dia chuvoso e a mulher rixosa são semelhantes;
16 retê-la é reter o vento, ou segurar o óleo com a destra.
17 Afia-se o ferro com o ferro; assim o homem afia ao seu amigo.
18 O que cuida da figueira comerá do fruto dela; e o que vela pelo seu senhor será honrado.
19 Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem.
20 O Seol e o Abadom nunca se fartam, e os olhos do homem nunca se satisfazem.
21 O crisol é para a prata, e o forno para o ouro, e o homem é provado pelos louvores que recebe.
22 Ainda que pisasses o insensato no gral entre grãos pilados, contudo não se apartaria dele a sua estultícia.
23 Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; cuida bem dos teus rebanhos;
24 porque as riquezas não duram para sempre; e duraria a coroa de geração em geração?
25 Quando o feno é removido, e aparece a erva verde, e recolhem-se as ervas dos montes,
26 os cordeiros te proverão de vestes, e os bodes, do preço do campo.
27 E haverá bastante leite de cabras para o teu sustento, para o sustento da tua casa e das tuas criadas.”

Quanto à afirmação do verso 4: “Cruel é o furor, e impetuosa é a ira; mas quem pode resistir à inveja?”, nós usaremos como comentário relativo ao assunto da inveja, um texto adaptado de autoria de Jonathan Edwards.

   O Amor é Incompatível Com Um Espírito Invejoso

“O amor não arde em ciúmes...” (I Cor 13.4)

De tal forma o mundo vive nas profundezas do pecado, especialmente o mundo moderno, que o senso geral que se tem é o de que tudo o que a Bíblia afirma como sendo a verdade que está em Deus e que deveria estar nos homens, especialmente quanto ao seu comportamento, parece uma irrealidade ou um ideal inatingível. Mas é exatamente por causa da realidade do pecado que está no mundo que se tem tal impressão. A Bíblia é portanto muito exata em afirmar que o mundo jaz no maligno e que toda a criação ficou sujeita à vaidade por causa do pecado. E chama de vencedor a todo aquele que conseguir vencer o pecado, e como se vê, isto só será possível mediante um poder sobrenatural que nos faça tais vencedores, e de uma justa cooperação de nossa parte com tal poder, por meio de uma vida disciplinada que se empenhe em obedecer os mandamentos de Deus, submetendo-se a eles, e impondo-lhes a si mesmo, sabendo que isto implicará contrariar sempre e muitas vezes a vontade da carne. E todas as características do amor de Deus descritas em I Cor 13, vão exatamente no sentido oposto da nossa natureza terrena. Deus é amor e promove e se regozija com o nosso progresso, mas a carne faz com que o homem que não é dirigido pelo Espírito no amor, sinta exatamente o contrário, pois que é naturalmente invejoso, e não tem prazer no sucesso dos seus semelhantes, antes isto o desgosta.
Assim, a conclusão que podemos chegar através do nosso texto é que:

O AMOR, OU UM ESPÍRITO VERDADEIRAMENTE CRISTÃO, É MUITO OPOSTO A UM ESPÍRITO INVEJOSO

Eu mostrarei primeiro qual é natureza de um espírito invejoso; em segundo lugar veremos em que um espírito invejoso é o oposto de um espírito cristão, e finalmente qual é a razão e a evidência da doutrina.

I. Quanto à natureza da inveja. A Inveja pode ser definida como um espírito de descontentamento com, e em oposição à prosperidade e felicidade de outros, comparando-a com a nossa. A coisa à qual a pessoa invejosa é oposta, e antipatiza, é a superioridade comparativa do estado de honra, ou prosperidade ou felicidade que outro possa desfrutar, maior do que a que ele possui. E este espírito especialmente é chamado invejoso, quando nós repugnamos e somos opostos à honra, prosperidade ou prazer de outros, porque, em geral, são maiores do que os que possuímos.
. É uma disposição natural dos homens que eles amam ser superiores; e esta disposição é atingida diretamente, quando eles veem outros acima deles. E Deus criou todo o tipo de hierarquia e diversidade de posições nas relações humanas (pais na família, autoridades e chefes na sociedade civil, etc), exatamente para que os homens aprendam sobretudo a serem mansos, submissos, humildes, obedientes, benignos e a promoverem o bem de outros, tanto quanto o promovem para si mesmos. Mas como o pecado na natureza terrena se opõe a isto, e é contrário portanto ao fruto do espírito que não é invejoso, os homens repugnarão as pessoas que estão tendo uma honra, prosperidade e felicidade igual ou maior do que as que eles possuem.
Assim Moisés falou a Josué que ele estava invejando por ele, quando Eldade e Medade foram admitidos ao mesmo privilégio que o dele, quando o espírito de profecia lhes foi dado (Nm 11.29). “Tens tu ciúmes por mim?”, foi o que Moisés perguntou a Josué, como que a lhe dizer, cabia a mim ter inveja deles por terem obtido o mesmo dom que o meu, no entanto não é este o meu espírito, pois que gostaria que todos em Israel profetizassem. E os irmãos de José também o invejaram (Gên 37.11) por causa da atenção especial que Jacó seu pai lhe dispensava, e também pelo sonho no qual ele insinuou que seus pais e seus irmãos viriam a se inclinar diante dele, porque lhe seria dada autoridade sobre eles. E isto se cumpriria quando fosse guindado à posição de governante no Egito. Mas José não lhes narrou o sonho por motivo de soberba. Ele simplesmente lhes narrou o sonho que Deus havia dado a ele.
Tal é o espírito da inveja, que as pessoas se aborrecem não somente com o fato de outros estarem acima ou no mesmo nível que o deles, mas também quando estão chegando próximo. Porque o desejo de ser distinguido em prosperidade e em honra é tanto maior quanto mais elevado se esteja, de modo que a eminência comparativa possa ser marcada visivelmente a todos. Daí o cuidado que se deve ter em elogiar pessoas na presença de outros, que pode tanto estimular este sentimento de elevação no elogiado, e o sentimento de inveja nos que se sentem inferiores a ele.
O sentimento de inveja se manifesta em dois aspectos:

1. Primeiro, numa intranquilidade e descontentamento com a prosperidade de outros. E este não é nenhum sentimento confortável ao invejoso, ao contrário, lhe  é  muito incômodo. Ele tem o mesmo espírito de Hamã, que apesar de toda a glória das riquezas, honra e poder que possuía afirmou o seguinte: “Porém tudo isto não me satisfaz, enquanto vir o judeu Mordecai assentado à porta do rei.” (Ester 5.13). O invejoso não apenas fica insatisfeito em ver a prosperidade e honra de outros, como também não ficará satisfeito enquanto não vir a prosperidade e honra daqueles aos quais inveja, serem diminuídas ou removidas. Ele ficará alegre em vê-los derrubados, e estudará até mesmo como prejudicá-los para diminuir a prosperidade e honra deles, como tentou fazer Hamã para humilhar Mordecai.
E uma das armas que o invejoso usa para diminuir a honra dos outros, é falando mal deles, e os difamando.

2. O sentimento de inveja também se manifesta numa antipatia às pessoas que são invejadas. Esta antipatia pode se transformar até mesmo em ódio. Há, de um modo generalizado, um ressentimento que é abrigado no fundo do coração contra aqueles que estão ocupando posições de destaque, autoridade e honra na sociedade. Geralmente isto é expressado em comentários depreciadores relativos a eles, e muitas vezes caluniadores e levianos, como o de afirmar que tudo o que possuem é devido ao fato de serem desonestos ou mesmo ladrões. No fundo, a causa destes sentimentos é a inveja, ainda que seja velada e nem sempre fácil de se estar consciente disso.
Tendo falado sobe a natureza da inveja, vejamos agora:

II. Em que um espírito cristão é o oposto de tal espírito de inveja. E,

1. Um espírito cristão desaprova o exercício e expressões de um tal espírito invejoso. Aquele que é influenciado no curso da sua vida através de princípios cristãos, pode entretanto ter inveja como também outros sentimentos corruptos no seu coração, contudo ele detestará seu espírito, como impróprio para um crente, por ser contrário ao espírito de Deus. Ele verá, se for verdadeiramente um crente e for bem instruído quanto à vontade de Deus em relação a isto, que o espírito de inveja é um espírito odioso que deve ser evitado. É fácil para muitos pensarem que não são invejosos por viverem entre pessoas que estão abaixo do seu nível, mas quando tiverem que conviver com pessoas que estão muito acima do seu nível, eles verão então que estão propensos a tal espírito e terão que combatê-lo por se submeterem à vontade de Deus, que é a de que não sejam invejosos, porque o amor divino não é invejoso.
E então, sempre que ele perceber que suas emoções estão subindo dentro dele em qualquer ocasião, ou em relação a qualquer pessoa, se ele for  influenciado por um espírito cristão, ele ficará alarmado com isto, e lutará contra isto, e não permitirá sua manifestação nem por um momento. Ele não tentará sublimar o sentimento perverso da inveja, por tentar sentir-se superior ao invejado por sublimações racionais de que ao menos é superior a ele em humildade, simplicidade, ou seja no que for, para ter algum alívio no sentimento de inferioridade que lhe machuca e atormenta a sua mente.
Ele enfrentará a realidade do seu pecado de inveja de frente, e ficará afligido ao perceber os sentimentos que estão se movimentando no seu coração, que em vez de amar o seu próximo, o leva a antipatizar com ele, e então procurará a todo custo crucificar dentro dele esta disposição odiosa, submetendo-a à cruz, para que o Espírito de Deus possa tratar com o seu ego, e levá-lo a ter sentimentos contrários ao da inveja.

2. Um espírito cristão não somente se oporá à manifestação de expressões externas de um espírito invejoso, como também mortificará este princípio e disposição no coração. Um espírito cristão nos disporá a ficarmos satisfeitos com aquilo que somos e temos, reconhecendo que devemos ser gratos pela propriedade que Deus nos deu entre os homens, na Sua providência sábia e amável, e isto nos dará tranquilidade e satisfação de espírito. Se nosso grau é tão elevado quanto o dos anjos, ou tão baixo quanto o dos mendigos na presença do homem rico (Lc 16:20), nós ficaremos satisfeitos do mesmo modo, reconhecendo a posição em que Deus nos tem colocado. Mas se entendermos que não poderemos ser felizes se não progredirmos na vida, na verdade, nunca estaremos satisfeitos porque é da alma humana, quando assim se dirige, nunca estar satisfeita com nenhum grau. É bom lembrar que Satanás se viu insatisfeito quando estava em perfeição no céu, e quis se elevar ainda mais, e foi exatamente esta a razão da sua queda. E tal se dará também conosco, se nos deixarmos prender pelo espírito de cobiça. Podemos e devemos avançar para posições mais elevadas, mas sem ser movido por inveja, cobiça, insatisfação ou por qualquer outro espírito que não seja um espírito quieto, manso, grato, satisfeito. E saberemos se estamos ou não sendo movidos por um espírito verdadeiramente cristão quando pudermos dizer juntamente com Paulo: “Digo isto não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.” (Fp 4.11). Deve-se vigiar e se esforçar mais para ter isto especialmente num mundo consumista como o nosso, e que aponta para a prosperidade material, intelectual e financeira como o próprio sentido da vida, quando na verdade não é, como a Bíblia ensina. Isto é uma armadilha poderosa que tem apanhado o coração de muitos crentes incautos, porque se diz que: “os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (I Tim 6.9,10).. E por isso a norma bíblica para evitar isto é: “tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” (I Tim 6.8), e a razão para isto é apresentada no versículo anterior: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele;” (I Tim 6.7).

3. Um espírito cristão também nos disporá a nos alegrarmos com a prosperidade de outros. Ele nos levará a ter uma complacência alegre e habitual com aquela regra dada pelo apóstolo em Rom. 12:15: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.”.
E nos alegraremos com suas conquistas como se fossem nossas. Tal  espírito de benevolência expulsará o espírito mau da inveja, e nos permitirá ter  felicidade vendo nosso próximo prosperar.
Agora, eu mostrarei:

III. A razão e a evidência da doutrina, isto é, porque um espírito cristão é oposto a um espírito de inveja. E isto aparecerá se nós considerarmos três coisas: primeiro, quando isto é exigido de forma insistente nos preceitos que Cristo nos deu; segundo, quanto a história e doutrinas do evangelho mostram a obrigação destes preceitos; e, terceiro, quanto um espírito de amor cristão nos disporá a nos rendermos à autoridade destes preceitos, e à influência dos motivos a que eles nos obrigam. E,

1. Um espírito e prática são exigidos insistente e completamente, ao contrário de um espírito invejoso, nos preceitos de Cristo. O Novo Testamento  está cheio de preceitos de benevolência a outros, e de preceitos que ordenam os princípios de mansidão, humildade, e beneficência, que são totalmente opostos a um espírito de inveja. Além destes, nós temos muitas advertências particulares contra a inveja. O apóstolo exorta em Rom. 13:13 que nós “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e invejas.”. E ainda em 1 Cor. 3:3: “Porquanto, havendo entre vós invejas e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo os homens?”. E também em II Cor 12.20: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferentes do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias,detrações, intrigas, orgulho e tumultos.”. E em Gál 5.19-21 vemos a inveja constando da lista das obras abomináveis da carne: “inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas...”. E também em I Tim, 6.4: “é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,”. E também é mencionada em Tito 3.3 como um dos pecados odiosos que tínhamos antes da conversão e que agora devemos abandonar: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja. Odiosos e odiando-nos uns aos outros.”.  Pode parecer exagerada a expressão “odiosos e odiando-nos uns aos outros”, mas na verdade é a condição mesma natural do coração humano, em razão principalmente dos sentimentos produzidos pela inveja, como já comentamos anteriormente. E Tiago aponta a inveja como o contrário do cristianismo, e conectada a toda má obra, sendo terrena, sensual, diabólica: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal, e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins.” (Tg 3.14-16). A inveja é de tal sorte maligna que até mesmo a bênção recebida por nossos irmãos em Cristo pode ser invejada a pretexto de que desejamos ter tanta fé quanto eles para que possamos ter as mesmas bênçãos. Isto na verdade não passa de inveja amargurada, como no dizer de Tiago. E o apóstolo Pedro nos adverte contra o perigo da inveja, juntamente com outros pecados, nos impedir de crescer nas coisas divinas: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade, e dolo, de hipocrisias e invejas, e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvação.” (I Pe 2.1,2). Como vemos, o Novo Testamento está repleto de preceitos que Cristo nos deixou, que ordenam o oposto do espírito de inveja. E vemos que não há cristianismo verdadeiro sem que isto seja vivido. É tão importante vigiar contra o espírito de inveja que, como vimos, não são poucos os mandamentos que o ordenam, e há assim um corpo doutrinário na Bíblia sobre o dever de se forjar um espírito cristão que nos despoje do espírito de inveja. E é uma tarefa ainda mais árdua tanto ensinar quanto forjar isto na igreja de nossos dias em que a inveja é tida até como uma virtude pois que estimula a ambição que nos leva a tentar superar o próximo num mundo extremamente competitivo e que estimula a competitividade. O princípio do cristianismo de amar e promover o próximo e se alegrar com as suas conquistas é exatamente o oposto de tudo o que a sociedade moderna aplaude e incentiva. Mas como a vontade de Deus não muda, e o homem não pode ser feliz se não praticar a verdade que está revelada na Bíblia, não podemos ceder à filosofia maligna do mundo, e nem mesmo negociar com ela, se pretendemos ser achados fiéis por Deus.
E assim estamos obrigados fortemente a estes preceitos, pelas doutrinas e história do evangelho. Se nós considerarmos o sistema cristão de doutrina, nós veremos que ele nos obriga fortemente a cumprir os preceitos que nós citamos. Porque tudo, do princípio ao fim, é fortemente o contrário a um espírito invejoso. Em todos os seus ensinos, a forma cristã de doutrina milita contra um espírito de inveja. As coisas que ensina sobre Deus são contrárias a isto, porque nos é dito na Palavra que  Deus se alegra em nos favorecer com toda sorte de bênçãos. Ele assim nos estimula no seu próprio exemplo pessoal a abençoarmos nosso próximo e nos alegrarmos com isto. Cristo não somente nos tem abençoado como deu a Sua própria vida por nós, e a Palavra ensina que também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. O sistema cristão de doutrina nos ensina como Cristo entrou no mundo para nos livrar do poder da inveja de Satanás em relação a nós; porque o diabo não pôde suportar a felicidade que o gênero humano tinha no princípio no Éden, e então movido pela inveja daquele estado feliz, tentou ao homem para que entrasse em ruína. Mas Cristo veio ao mundo para fazer exatamente a destruição das obras do diabo, e nos livrar daquela miséria a que fomos conduzidos em razão da inveja do diabo, e purificar nossa natureza de todo rastro do mesmo espírito que foi a causa da nossa ruína, porque, tendo pecado, também passamos a ser invejosos, e o evangelho propõe remover isto da nossa natureza.
E se; além da doutrina do evangelho, nós consideramos sua história, nós descobriremos também que também tende grandemente a nos obrigar àqueles preceitos que proíbem a inveja. E particularmente isto é verdadeiro na história da vida de Cristo, e o exemplo que ele nos deixou. Quão distante ele estava de  um espírito de inveja! Quão contente estava nas baixas circunstâncias aflitivas nas quais ele se colocou voluntariamente por nossa causa! E quão distante ele estava de invejar aqueles que detinham riqueza e honra mundana, ou desejou a condição deles! Ele escolheu continuar na própria baixa propriedade que ele escolheu para nela viver enquanto esteve neste mundo, e quando a multidão, ficava cheia de admiração com o seu ensino e com os milagres que ele fazia, e que numa ocasião se levantou com o desejo de lhe fazer um rei, ele recusou a honra elevada que eles pretenderam dar-lhe, e se retirou deles (Jo 6:15), e foi sozinho para orar num monte. E quando João Batista foi honrado grandemente pelas pessoas como um profeta distinto, e toda a Judeia e Jerusalém saíram para ouvi-lo, e Cristo não o invejou quando saiu para ser batizado por ele,  entretanto ele era o Deus e Senhor de João, e este, conforme testemunhou, afirmou que tinha necessidade de ser batizado por ele. E tão longe ele estava de invejar os seus discípulos por qualquer honra ou privilégio, mas ao contrário, ele prometeu que fariam coisas ainda maiores quando ele fosse para junto do Pai (Jo 14.12). Este exemplo é muito apropriado para os líderes, especialmente os da igreja, para não invejarem aqueles que Deus lhes tem dado para lhes auxiliar em seus ministérios, quando veem que eles estão prosperando nas suas vidas, particularmente em progressos espirituais. Eles devem seguir o exemplo que lhes foi deixado por Cristo.
3. O verdadeiro espírito de amor cristão nos disporá a nos rendermos à autoridade destes preceitos, e para a influência dos motivos a que eles nos obrigam. E o espírito de amor nos disporá diretamente a isto, ou por sua tendência imediata; e indiretamente, nos conduzirá à humildade.

Primeiro, o amor cristão nos dispõe a atender aos preceitos que proíbem a inveja, e aos motivos do evangelho contra a inveja, por sua própria tendência imediata. A natureza do amor cristão aos homens está diretamente contra a inveja. Porque o amor não inveja, mas se alegra com o bem daqueles que são amados. E seguramente ama a nosso próximo, não nos dispondo a odiar a sua prosperidade, ou a ficar infelizes com o seu bem. E também o amor a Deus tem uma tendência direta para nos influenciar a obedecer os seus mandamentos. O fruto natural, genuíno, do amor a Deus é a obediência, e então levará à obediência daqueles mandamentos que proíbem a inveja, aos outros.E assim o amor a Deus nos disporá a seguir o Seu exemplo.

Em segundo lugar, um espírito de amor cristão disporá também, indiretamente, à humildade. É o orgulho que é a grande raiz e fonte da inveja. É por causa do orgulho dos corações dos homens que eles têm tal desejo ardente de serem distinguidos, e serem superiores a todos os demais em honra e prosperidade, e que os faz tão intranquilos e insatisfeitos vendo outros sendo superiores a eles. Mas um espírito de amor tende a mortificar o orgulho, e a trabalhar a humildade no coração. O amor a Deus cuida disto, como insinua um senso da excelência infinita de Deus, e então nos dá um senso de nosso nada e indignidade comparativos. E o amor aos homens nos dá um comportamento humilde entre os homens, como nos dispõe a reconhecer as excelências de outros, e a glorificar a Deus, que assim distribuiu diversos graus de inteligência, e outros dons entre os homens, e aprendemos a estimá-los mais do que a nós mesmos dando graças por suas vidas, e pelo que produzem na sociedade, e do que nós mesmos nos beneficiamos, direta ou indiretamente.
Passando, agora à aplicação do assunto, eu destaco que:

1. Deveríamos nos examinar constantemente para ver se nós estamos em qualquer grau debaixo da influência de um espírito invejoso. Devemos nos  examinar quanto ao tempo passado, analisando o nosso comportamento passado entre os homens. Muitos de nós fomos durante muito tempo, antes mesmo da nossa conversão a Cristo, pessoas muito pobres em relação aos nossos vizinhos, e conjunto da sociedade em que vivíamos. E nós vimos outros em prosperidade, e, prosperando nos seus trabalhos, mais do que nós mesmos. Eles tiveram mais do mundo, e possuíram maiores bens, e viveram em maior facilidade, e em circunstâncias muito mais honradas, do que nós desfrutamos. E talvez alguns que dantes eram menos prósperos e honrados do que nós, nos ultrapassaram com o avançar do tempo, enquanto nós fomos deixados para trás. Certamente nós vimos frequentemente outros abundando em tudo aquilo que o mundo estima como sendo de grande valor, enquanto nós fomos comparativamente destituídos destas coisas. E agora nos  indaguemos como estas coisas nos afetaram, e qual foi o nosso comportamento, nestas circunstâncias; e até mesmo qual é a influência que tudo isto registrou em nossas almas, de modo que ficaram marcas e complexos de inferioridade e amarguras e ressentimentos contra a prosperidade de outros. E não houve no passado muita intranquilidade, descontentamento, e sentimento incômodo, e um desejo de ver aqueles que eram prósperos derrubados? Nós não ficamos alegres de ouvir falar de qualquer coisa relativa à desvantagem deles? Como nós olhamos para trás ao passado, e nos permitirmos ainda ter um espírito invejoso no presente? E muitas vezes não têm os nossos corações queimado com este maligno sentimento de inveja?
  E virando do passado para o presente, qual espírito você acha que existe agora no seu coração? Você guarda qualquer rancor antigo no seu coração contra este ou aquele homem que você vê sentado com você na igreja no dia do Senhor? A prosperidade deles faz com que haja incômodo na sua vida? E este mesmo espírito não o leva frequentemente a pensar mal, ou falar com desprezo, ou descortesia, ou severidade, quando se refere àqueles que são superiores a você em prosperidade? E os que estão em prosperidade mais elevada devem também se perguntar se isto não lhes traz um sentimento maligno de felicidade comparativa em relação àqueles que são menos prósperos do que eles. Se é este o seu caso, isto não lhe dá uma disposição para o orgulho em razão de estar acima deles, e um desejo que eles não deveriam subir mais alto, para que não viessem a ser iguais a você? E isto também faz parte da essência de um espírito invejoso. Portanto, todos estão sujeitos a tal espírito e devem vigiar e crucificá-lo constantemente.
Geralmente o espírito de inveja leva o invejoso a desculpar tal espírito por alegar que aqueles que ele inveja não têm mérito e aptidão quanto à prosperidade e honra que eles receberam. Os irmãos de José o estimaram merecedor do amor afetuoso de Jacó? Hamã considerou que Mordecai era merecedor  da honra que o rei lhe conferiu? Ou os judeus pensavam que os gentios eram merecedores dos privilégios que foram estendidos a eles pelo evangelho?
Lembremos sempre que o primeiro assassinato (de Abel por Caim) foi motivado pela inveja. A inveja pode assim nos tornar assassinos em nosso coração de muitas e muitas pessoas, pois Jesus definiu o assassinato aos olhos de Deus como o próprio ato de abrigar maus sentimentos de ira e amargura contra o próximo como equivalente ao próprio ato de matar (Mt 5.21-26). E que tais sentimentos sujeitam a nossa alma ao juízo de Deus, como forma de punição do nosso crime de assassinato, especialmente o de colocar a nossa alma em cadeias e opressão espirituais. .

2. O assunto também nos exorta a desaprovar e a nos guardar de tudo que se aproxima de um espírito invejoso. Tão contrário é o espírito de inveja de um espírito cristão, por ser tão mau em si mesmo e tão prejudicial a outros, que deveria ser desaprovado e deveríamos nos guardar sempre do mesmo, especialmente aqueles que professam ser cristãos. O espírito de inveja, que é terreno e diabólico, é  muito contrário ao espírito do céu onde todos se alegram com a felicidade dos outros.
Um espírito que se alegra e se alimenta com a ruína e infelicidade dos outros é na verdade um espírito do inferno. E como uma disposição invejosa é muito odiosa em si mesma, assim é muito incômoda e intranquila a seu possuidor. Porque é a disposição mesma do diabo, e o que a possui participa da semelhança com ele, tal como aquele que participa do inferno participa consequentemente da sua miséria.
Por isso se lê em Pv 14.30: “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos.”. O invejoso não está disposto a desfrutar o que ele tem, porque outros também estão desfrutando. É portanto uma tolice, uma baixeza, uma infâmia o espírito de inveja, e devemos detestá-lo, e evitar suas desculpas, e buscar seriamente o espírito de amor cristão, que sempre nos levará a nos alegrarmos com o bem-estar de outros, e que encherá os nossos próprios corações da verdadeira alegria. Este é o amor de Deus, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele (I Jo 4.7,16).





NOTA: Citamos a seguir mais algumas considerações sobre este assunto:

1 – O amor não é invejosos. De fato não invejamos aqueles que realmente amamos. Os pais não invejam a prosperidade de seus filhos, nem os filhos a de seus pais. Ao contrário, o comum é que se regozijem com o aumento de sua prosperidade e honra. E por que não estender este sentimento aos demais semelhantes, por amá-los? Jesus alertou os crentes no sentido de que se espera deles que não amem apenas os que lhes amam, porque isto até as pessoas do mundo fazem. Então, o oposto da inveja é o amor.
Quando Adão estava sozinho  no Éden, e não tinha com quem se comparar na terra, não tinha portanto qualquer sombra de sentimento invejoso, e nem mesmo poderia tê-lo, porque não havia pecado.
E quando Deus criou Eva, Adão exultou de alegria afirmando sua unidade com ela, quando disse que era afinal carne de sua carne e osso dos seus ossos. Mas, certamente o pecado alterou a perfeição deste quadro, embora dentro do seio da família original, Adão não deve ter experimentado a inveja a seus familiares, pelo amor natural que comumente remanesce no seio da família. Entretanto, lembremos que Caim matou seu irmão Abel, movido pela inveja.

2 – Quão perfeitas são as obras de Deus. O mundo em pecado não pode ser a exata expressão de tal perfeição, nem mesmo pálida, uma vez que foi amaldiçoado e tudo ruma para a destruição. Mas a Palavra de Deus permanece para sempre e é perfeita, e é por meio dela que aprendemos tudo aquilo que se refere à perfeição e por meio da qual podemos entender e viver o que significa “Sede perfeitos assim como o vosso Pai é perfeito.”. E a inveja, como os demais tipos de pecados, opostos ao amor, que é o vínculo da perfeição, é portanto uma das realidades opostas a tal perfeição, e é por isso que deve ser despojada da vida daqueles que são verdadeiramente filhos de Deus.


3 – Quanto às sombras deixadas pelo passado, em relação à inveja, criando em nós o complexo de inferioridade, a única forma de ser curado disto é amando e considerando os outros superiores a si mesmos, não como um motivo para se entristecer, mas, ao contrário, para se alegrar, e assim devemos nos prevenir contra o orgulho, que pode, dissimuladamente, ser a causa da nossa tristeza, encoberto sob a máscara de uma falsa humildade traduzida e manifestada no complexo de inferioridade. Se nos sentíamos menores e indignos em razão dos sentimentos de discriminação que recebemos da parte de outros, podemos vencer o desconforto de estar entre eles, ainda que entre crentes, por saber que não é correto o julgamento que eles fazem de nós, e por motivo de estarem eles mesmos vencidos pela inveja, pelo sentimento de não suportarem a ideia que sejamos tão aceitos por Deus, quanto eles são aceitos, pois que em Cristo caiu toda barreira de separação que há entre os homens. Os crentes que são superiores devem ser como inferiores  pois que lhes é ordenado pelo seu Senhor, servirem a todos os seus irmãos.



Provérbios 28

“1 Fogem os ímpios, sem que ninguém os persiga; mas os justos são ousados como o leão.
2 Por causa da transgressão duma terra são muitos os seus príncipes; mas pela virtude de homens prudentes e entendidos, ela subsistirá por longo tempo.
3 O homem pobre que oprime os pobres, é como chuva impetuosa, que não deixa trigo nenhum.
4 Os que abandonam a lei louvam os ímpios; mas os que guardam a lei pelejam contra eles.
5 Os homens maus não entendem a justiça; mas os que buscam ao Senhor a entendem plenamente.
6 Melhor é o pobre que anda na sua integridade, do que o rico perverso nos seus caminhos.
7 O que guarda a lei é filho sábio; mas o companheiro dos comilões envergonha a seu pai.
8 O que aumenta a sua riqueza com juros e usura, ajunta-a para o que se compadece do pobre.
9 O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração é abominável.
10 O que faz com que os retos se desviem para um mau caminho, ele mesmo cairá na cova que abriu; mas os inocentes herdarão o bem.
11 O homem rico é sábio aos seus próprios olhos; mas o pobre que tem entendimento o esquadrinha.
12 Quando os justos triunfam há grande, glória; mas quando os ímpios sobem, escondem-se os homens.
13 O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.
14 Feliz é o homem que teme ao Senhor continuamente; mas o que endurece o seu coração virá a cair no mal.
15 Como leão bramidor, e urso faminto, assim é o ímpio que domina sobre um povo pobre.
16 O príncipe falto de entendimento é também opressor cruel; mas o que aborrece a avareza prolongará os seus dias.
17 O homem culpado do sangue de qualquer pessoa será fugitivo até a morte; ninguém o ajude.
18 O que anda retamente salvar-se-á; mas o perverso em seus caminhos cairá de repente.
19 O que lavra a sua terra se fartará de pão; mas o que segue os ociosos se encherá de pobreza.
20 O homem fiel gozará de abundantes bênçãos; mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune.
21 Fazer acepção de pessoas não é bom; mas até por um bocado de pão prevaricará o homem.
22 Aquele que é cobiçoso corre atrás das riquezas; e não sabe que há de vir sobre ele a penúria.
23 O que repreende a um homem achará depois mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua.
24 O que rouba a seu pai, ou a sua mãe, e diz: Isso não é transgressão; esse é companheiro do destruidor.
25 O cobiçoso levanta contendas; mas o que confia no senhor prosperará.
26 O que confia no seu próprio coração é insensato; mas o que anda sabiamente será livre.
27 O que dá ao pobre não terá falta; mas o que esconde os seus olhos terá muitas maldições.
28 Quando os ímpios sobem, escondem-se os homens; mas quando eles perecem, multiplicam-se os justos.”

Quanto ao verso 23,  “O que repreende a um homem achará depois mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua.” nós usaremos como comentário dois textos de autoria do puritano Thomas Manton, sobre o referido assunto:

“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele.”  (Lev 19.17)

Parte 1

Por Thomas Manton (adaptado)

Eu vou falar com você neste momento sobre o crente e a  reprovação fraterna. Nosso primeiro cuidado deveria ser que nós mesmos não fôssemos achados transgressores por causa do nosso próximo, por não participarmos dos pecados de outros; não somente por conivência às más ações deles, como também por uma conivência silenciosa por não lhes advertirmos quanto aos seus pecados, quando somos convocados por Deus, para a Sua glória, que lhos advirtamos quanto ao seu dever, e do perigo que estão correndo.
O ódio é proibido quando a reprovação é prescrita, porque é um impedimento ou obstáculo que deve ser removido, porque há uma suposição de se cometer uma injustiça, quando se nutre ódio ou ira no coração, que não permanecerá neste estado por muito tempo lá e se transformará em vingança e maldade. Basta portanto, mostrar-lhes o pecado que praticaram com vistas a trazê-los ao arrependimento.
De Absalão se diz o seguinte em II Sm 13.22: “Absalão, porém, não falou com Amnom, nem mal nem bem, porque odiava a Amnom por ter ele forçado a Tamar, sua irmã.”.
Amnon praticou a injustiça, mas Absalão não lhe reprovou, porque ele o odiou. Maldade implacável e desejo de vingança são escondidos debaixo de silêncio e dissimulação: Ele não falou nem mal, nem bem a  Amnon, quanto ao assunto do estupro da sua irmã; e ele não reprovou o fato de maneira que pudesse esconder a sua malícia, até a ocasião em que pudesse levar a sua vingança à execução.
Então Deus, conhecendo bem esta disposição do homem, deu através de Moisés este mandamento de não se odiar o irmão, e reprová-lo de forma sábia. Portanto, reprove-o pelas injustiças que praticar, mas não lhe odeie por tais coisas.
Semelhante a isto é a lei de Cristo em Lc 17.3: “Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.”. Ele diz: “Tende cuidado de vós mesmos” quando o teu irmão pecar, porque você ficará exposto à possibilidade de guardar ódio e rancor contra ele, e em vez disso, deve repreendê-lo e se dispor a perdoá-lo caso se arrependa.
Faça o máximo para reduzir qualquer ofensa, embora tenha sido prejudicado; não deseje se vingar, mas busque uma oportunidade para lhe perdoar diante do seu arrependimento.
“Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão;”  (Mt 18.15).
Quer dizer, o teu amor deve remover todos os pensamentos de vingança contra ele; sim, e o levará a se esforçar a usar todos os métodos prudentes para trazê-lo a um senso da sua falta para contigo, e os modos mais discretos e suaves serão realizados primeiro.
Aquele que não reprova o seu irmão quando ele faz qualquer coisa errada, realmente não o ama, e o odeia.
Há duas coisas que nos exigem a reprovação – zelo pela glória de Deus, e amor à alma do nosso próximo.
Há uma falha no nosso zelo se nós não buscarmos vindicar a honra de Deus quando ela for ferida por outros: Salmo 69.9: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.”.
Danos feitos a Deus e ao evangelho são como injustiças pessoais feitas a nós mesmos. Assim há uma falha em nosso amor por outros se deixamos as suas almas ficarem em perigos de juízos divinos, sem que os reprovemos com vistas a conduzi-los ao arrependimento. Assim, a reprovação é oposta ao ódio, e a lisonja que é falsa e uma corrupção do amor: Prov 28.23: “O que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia com a língua.”.
Quando nós estivermos a ponto de reprovar outros pelas suas faltas, temos que temer ofendê-los, porque toda a amizade seria rompida entre nós e eles, e assim fica-se sujeito à tentação de incorrer em outros pecados. Entretanto, haja em princípio um pequeno desagrado da parte reprovada, ela verá com o tempo que você lhe mostrou uma verdadeira amizade, considerando que outros lhe agradaram e o lisonjearam nos seus pecados, e tendo cuidado pelo humor dele, não tiveram nenhum cuidado em relação à sua alma, na verdade odiaram a sua alma, porque se o amassem de fato procurariam livrá-lo das consequências danosas eternas sobre a sua alma em razão do pecado.
É possível que você possa enfurecer um insensato mau e arrogante, entretanto, você cumpriu o seu dever para livrar a sua própria alma.
Mas de outros, você obterá gratidão por ter-lhes feito um verdadeiro serviço de amor. De modo que o temor de romper uma amizade provará ser um meio de nutrir o verdadeiro amor. Prov 9.8: “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará.”.
“5 Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto.
6 Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.”  (Pv 27.5,6).
Uma repreensão franca é feita quando, às vezes,  convencemos os homens dos seus erros, ou dos seus pecados, e isto é melhor do que amor encoberto, porque isso é inútil e não nos ajuda em nada.
Aquele que me ajuda a deixar o caminho errado, como quem salva alguém de se afogar ou ser queimado pelo fogo, embora ele quebre um braço ou perna, terá salvo a minha vida, ainda que tenha usado um remédio amargo como o da repreensão, mas terá feito a mim um grande benefício muito mais do que aquele que somente professa um grande amor por mim, e me deixa perecer em meus pecados.
Uma reprovação afiada é chamada em Provérbios de feridas leais produzidas pelo amigo, porque visa ao meu bem, mas os beijos de um inimigo não fazem bem algum à minha alma, além de serem enganosos. Por beijos devem ser entendidas todas as declarações de amor que encobrem as nossas faltas, ou que visem fazer-nos o mal de maneira encoberta, tal como Joabe beijou Amasa e o apunhalou (II Sm 20.9,10), e Judas beijou Cristo e o traiu (Mt 26.48,49).
“Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem.”  (Pv 3.12). O verdadeiro amor repreende a quem quer bem. Deus ama os seus filhos afetuosamente, mas não deixará que se percam nos seus pecados, e para isto Ele usará às vezes de disciplina para corrigi-los.
Satanás procura manter os homens adormecidos em seus pecados, oferecendo-lhes os prazeres da carne, mas Deus usará a vara da correção para desviar os seus filhos disto.
“Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo, que não me quebrará a cabeça; pois a minha oração também ainda continuará nas suas próprias calamidades.”  (Sl 141.5).
Davi percebeu quanto dano tinham produzido em Saul aqueles lisonjeadores que o cercavam, e por isso julgava uma grande bênção de Deus ter amigos piedosos e fiéis sobre ele que não concordariam com qualquer injustiça que viesse a praticar, como também o reprovariam por isto.
A reprovação pode parecer como uma ferida à carne que está orgulhosa e impaciente para não ser contraditada; mas é o fruto de um amor sincero; e é comparado a um óleo precioso que é derramado na nossa cabeça, para a nossa saúde e alegria.
Voltando agora ao nosso texto de Lev 19.17 apreciemos a própria exortação: “não deixarás de repreender o teu próximo”. E nós temos aqui tanto o objeto (o próximo), quanto o ato (a repreensão).
Em Lc 10.29 Jesus ensinou que o próximo é aquele que necessita do nosso amor, seja ele um judeu ou um samaritano. Isto é, seja um amigo ou inimigo, como também ensinou diretamente em Mt 5.43,44.
A ordenança se aplica assim a todas as pessoas, mas especialmente aos da família da fé (Gál 6.10).
Os incrédulos são nosso próximo e devem ser amados com um amor verdadeiro, além do amor que dedicamos aos irmãos (filadélfia) que é o amor ágape, que é requerido entre os crentes (II Pe 1.7).
Então este dever da reprovação deve ser praticado especialmente na Igreja. (Mt 18.15-17).
O ato de reprovação deve ser feito com misericórdia e prudentemente.
“Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé.”  (Tt 1.13).
“exortes, com toda a longanimidade e doutrina.”  (II Tim 4.2).
Uma censura orgulhosa não é uma reprovação amorosa. Requer-se paciência, amor, longanimidade e doutrina para que se possa obter um melhor resultado.
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.”  (Gál 6.1).
Nossa indignação contra o pecado não nos deve transportar para além da nossa piedade pela pessoa, e não deve ser motivo para o rigor e severidade de censura que procedem de orgulho e que visa submeter o errado, em vez de ajudá-lo a se levantar da sua queda.
O que está em vista é a correção do nosso irmão e não a destruição dele, ou nos compararmos a ele, fazendo uma boa opinião em relação a nós mesmos como se fôssemos singulares em santidade.
Por isso todas as circunstâncias devem ser pesadas prudentemente, para que se possa agir da maneira correta.
“Como pendentes de ouro e gargantilhas de ouro fino, assim é o sábio repreensor para o ouvido atento.”  (Pv 25.12). Quer dizer, a reprovação sábia é uma jóia preciosa.
Finalmente, consideremos em nosso texto de Lev 19.17 o argumento pelo qual este dever nos é ordenado: “e não levarás sobre ti pecado por causa dele”. Assim como não devemos deixar que nenhuma fagulha de fogo venha a incendiar a roupa de outros, de igual modo não devemos deixar que nenhuma marca pecaminosa permaneça nas consciências deles e conversações, e para tanto devemos exortá-los a buscar o perdão que há na graça de Cristo, em face do seu arrependimento.
Mas ao reprovarmos outros, devemos ter o cuidado de não condenarmos a nós mesmos, por sermos achados também na prática do pecado tanto quanto eles (Rom 2.1).
Aquele que tinha o dever de salvar uma alma da morte e que se mostrou indiferente a isto terá também o seu castigo por ter se omitido no dever que lhe é imposto por Deus para a alertar o seu próximo quanto ao perigo que corre a sua alma em pecado (Ez 3.18).
Esta reprovação fraterna é um dever necessários pelo qual todos os crentes estão ligados, e obrigados por Deus a praticarem.
A reprovação é uma advertência e não um ato que visa à humilhação ou destruição.
Especialmente os ministros do evangelho devem dar atenção especial a isto, trabalhando para convencer os malfeitores dos seus maus caminhos, mas isto é um dever de todos os crentes (I Tes 5.14).  Isto é uma forma do amor e de zelo pela santidade ao Senhor que é devido por todos os crentes mutuamente.
“14 Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.
15 Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.”  (II Tes 3.14,15).
Todos os crentes têm o dever de preservar a Igreja de Cristo de escândalos, e é por isso que ao verem que qualquer homem tenha abandonado o caminho do Senhor, é seu dever preveni-lo de sua falta.
Sabendo que os homens são hábeis para serem pacientes com os seus pecados, assim também são em relação aos pecados dos outros, e sendo este dever de reprovação de grande utilidade, Satanás procurará por todos os meios tentar impedir isto com o seu poder, de maneira que a maioria das pessoas são omissas em relação a isto, por causa do endurecimento natural reforçado pelo Inimigo quanto à recepção da reprovação como um ato de amor, e não como motivo para indignação.
Todavia, independente disto somos obrigados a ajudar a levantar todo o que está caído em seus pecados, assim como nos dispomos a levantar naturalmente quem sofre uma queda, fisicamente falando, e fica na expectativa de receber auxílio para ser levantado.
“Dize-lhes mais: Assim diz o SENHOR: Porventura cairão e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão, e não voltarão?”  (Jer 8.4). Por isso Deus ordena como um ato de amor através do profeta, que aqueles que estão caídos se disponham a se levantar.
Levantar um irmão caído é portanto, uma dívida de amor que temos para com ele.
Se a Lei de Deus ordena a ajuda ao próximo a levantar um animal de carga de sua posse que tenha caído (Ex 23.4; Dt 22.1), quanto mais não é nosso dever levantar os homens que se encontram caídos, pela pregação do evangelho a eles, alertando-lhes do perigo que correm se permanecerem caídos em seus pecados.
Por isso Deus se dirige de modo duro aos maus pastores que não ajudam as ovelhas de suas igrejas a permanecerem de pé e saudáveis diante dEle: “As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.” (Ez 34.4).
Contudo, como dissemos antes, este não é um dever exclusivo dos pastores, mas um dever de amor que todos os crentes devem ter mutuamente entre si:
“Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros.”  (Rom 15.14).
Este texto de Romanos confirma a necessidade de bondade e conhecimento para o exercício desta admoestação mútua.

“8 Não te precipites em litigar, para que depois, ao fim, fiques sem ação, quando teu próximo te puser em apuros.
9 Pleiteia a tua causa com o teu próximo, e não reveles o problema a outrem,
10 Para que não te desonre o que o ouvir, e a tua infâmia não se aparte de ti.”  (Pv 25.8-10).

Se nós corremos para a lei, sem usar de métodos de bondade e prudência, nós corremos o risco de perda e infâmia, pelo modo indevido que podemos conduzir a reprovação de faltas alheias.

“22 E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento;
23 E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.” (Jd 22,23).






“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e por causa dele não sofrerás pecado.”  (Lev 19.17)

Parte 2

Por Thomas Manton (adaptado)

Deve ser considerado o valor deste preceito, que não é uma direção arbitrária que nós podemos omitir ou observar a nosso bel prazer, mas é um preceito necessário que devemos obedecer.
Em Provérbios 24.11,12, nós vemos uma reafirmação da ordenança de Levítico 19.17:
“11 Livra os que estão sendo levados à morte, detém os que vão tropeçando para a matança.
12 Se disseres: Eis que não o sabemos; porventura aquele que pesa os corações não o percebe? e aquele que guarda a tua vida não o sabe? e não retribuirá a cada um conforme a sua obra?” (Pv 24.11,12).
Este mandamento deve ter o seu equilíbrio com a ordenança de Cristo de não se lançar pérolas e coisas santas aos cães e aos porcos.
Evidentemente, seria um grande pecado negar o conhecimento da fonte de salvação a quem tem grande sede por ela e não sabe como encontrá-la, e estando no nosso domínio fazê-lo seria um grande pecado a nossa omissão.
De modo que a Palavra nos ordena a não admoestar o ímpio e insensato porque a repreensão não entrará neles, mas é um dever repreender os sábios, sobretudo os que são da família da fé, para que se tornem ainda mais sábios.  
O apóstolo Paulo pratica de maneira muito consciente este preceito pelo temor de não ser responsabilizado por Deus pelas vidas que se perdessem debaixo do seu ministério e haviam sido colocadas ao alcance da sua ministração, conforme podemos ver por exemplo em suas palavras em At 20.17-27:

“17 De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.
18 E, tendo eles chegado, disse-lhes: Vós bem sabeis de que modo me tenho portado entre vós sempre, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia,
19 servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 como não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa,
21 testificando, tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.
22 Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá,
23 senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,
24 mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
25 E eis agora, sei que nenhum de vós, por entre os quais passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu rosto.
26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus.”.

Certamente muito devia pesar para o apóstolo não somente os textos da Lei de Moisés, do Livro de Provérbios, dentre outros, como também a citação de Ezequiel 33.2-9:

“2 Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um dos seus, e o constituir por seu atalaia;
3 se, quando ele vir que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo;
4 então todo aquele que ouvir o som da trombeta, e não se der por avisado, e vier a espada, e o levar, o seu sangue será sobre a sua cabeça.
5 Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele. Se, porém, se desse por avisado, salvaria a sua vida.
6 Mas se, quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e vier a espada e levar alguma pessoa dentre eles, este tal foi levado na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da mão do atalaia.
7 Quanto a ti, pois, ó filho do homem, eu te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; portanto ouve da minha boca a palavra, e da minha parte dá-lhes aviso.
8 Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da tua mão.
9 Todavia se advertires o ímpio do seu caminho, para que ele se converta, e ele não se converter do seu caminho, morrerá ele na sua iniquidade; tu, porém, terás livrado a tua alma.”.

Nós estamos assim, debaixo do perigo de ter que suportar o castigo por causa do pecado que não reprovamos, por não termos principalmente alertado às pessoas que estão debaixo da influência do nosso ministério que elas estão em grave perigo vivendo no pecado. Especialmente os ministros do evangelho estão encarregados deste dever, mas é um dever comum a todos os crentes.
Devemos lembrar que é uma questão de vida eterna, ou de morte espiritual ou eterna, que se encontram no cumprimento do preceito, e assim, toda negligência carrega consigo grande culpa. Isto deveria nos estimular mais ao nosso dever de pregar o evangelho a toda criatura.
No caso de crentes que são admoestados a que se arrependam de seus pecados, que recebemos o galardão da fidelidade em cumprir o preceito, em razão do que Jesus diz em Suas palavras, que com isto, ganhamos o nosso irmão, isto é, nós o recuperamos para viver para Deus através da nossa admoestação (Mt 18.15).
No caso de incrédulos, o mesmo amor que nos levaria a livrá-los da iminência de uma morte física temporal,  deveria ser exercido muito mais para tentar livrá-los da morte eterna (Hb 3.12,13).
Não somente os que são superiores a outros têm o dever de reprovar os pecados dos que lhes são inferiores, mas estes têm o mesmo dever para com os seus superiores, como Joabe fez em relação ao rei Davi, bem como o profeta Natã. E este dever em relação aos superiores é ainda maior porque o perigo que eles correm é maior do que o nosso, porque Deus cobrará mais de quem mais é dado.
Entretanto, em relação aos superiores nós devemos usar de modéstia e reverência (I Tim 5.1).
O admoestador deveria ter uma chamada para tal função por alguma forma de relação existente entre ele e  o ofensor. Como por exemplo, de ministro e profeta, como no caso de Davi e Natã, ou como conselheiro, como no caso de Joabe quando reprovou Davi; ou como relação matrimonial, no caso de Abigail que reprovou Nabal; ou ainda de um filho em relação ao pai, como Jônatas fez com Saul (I Sm 19.4); de um servo para o seu senhor, como Daniel fez em relação a Nabucodonosor (Dn 5.27); de um amigo para o seu amigo (Pv 27.6) etc.  De maneira que este dever é universal, e deve ser realizado na ocasião apropriada.
Quem dera, todos tivessem um coração humilde e uma cerviz amolecida para aceitarem a repreensão, porque conforme se diz em Provérbios 15.31,32:
“31 O ouvido que escuta a advertência da vida terá a sua morada entre os sábios.
32 Quem rejeita a correção menospreza a sua alma; mas aquele que escuta a advertência adquire entendimento.”.
Quem rejeita a correção por não dar ouvido à advertência, menospreza a sua alma. E quantos não estão dispostos a isto por causa do endurecimento do pecado?
De modo que todo aquele que for verdadeiramente prudente, dará ouvido à repreensão, que é segundo a doutrina, como se vê em Pv 17.10:
“Mais profundamente entra a repreensão no prudente, do que cem açoites no insensato.”.
Nós vemos assim, quão importante é este dever, e nós faríamos bem em lhe dar a devida atenção, porque tem sido ordenado pela boca de Deus.
Agora, a palavra de Deus nos ordena e revela em muitos lugares que esta repreensão deve ser feita com muita mansidão (II Cor 2.4; Gál 6.1). Nós devemos ser extremamente cuidadosos para não agirmos farisaicamente coando mosquitos e engolindo camelos.
O dever é o de prevenir o pecado e não o de detratar, censurar ou caluniar. Se fizermos isto estaremos transformando o próprio dever num outro pecado (Ef 5.4).
Assim, a reprovação é um ato de amor ou misericórdia pelo qual nós buscamos através da persuasão, tirar nosso irmão do pecado para o arrependimento. É um ato de amor e misericórdia e não de orgulho ou vanglória. É um ato de misericórdia para com o nosso irmão na sua miséria espiritual, que esteja provocando a ira de Deus.
Esta admoestação deve ser feita entre aqueles que estão caminhando na verdade, ou a tendo como alvo de suas vidas, e na atmosfera de uma verdadeira comunhão espiritual entre aqueles que com um coração puro louvam ao Senhor (Col 3.16). De maneira que o ofensor verá que é Deus que lhe está reprovando e não o homem.
Não se trata portanto de se ter simplesmente conhecimento das palavras das Escrituras, para estar habilitado ao exercício da reprovação mútua, mas, como no dizer de Paulo em Romanos 15.14, os crentes devem estar cheios do amor de Deus e de conhecimento da Sua vontade para tal exercício.
O coração não deve estar longe de Deus, mas perto dele, quando se repreende um irmão.
Não se deve portanto reprovar com base em boatos incertos, ou por ruim suspeita, porque o amor não suspeita mal (I Cor 13.6).
Temos também que considerar que há casos em que apesar da reprovação não ocorrerá um arrependimento completo e sincero, e assim, quando não há nenhuma evidência de que a reprovação alcançará o seu fim, nós podemos dar um tal caso como de nenhuma esperança, como vemos nas palavras do Senhor através do profeta Ezequiel:
“3 E disse-me ele: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais têm transgredido contra mim até o dia de hoje.
4 E os filhos são de semblante duro e obstinados de coração. Eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus.
5 E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde), hão de saber que esteve no meio deles um profeta.
6 E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde.
7 Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes.” (Ez 2.3-7).

Muitas vezes, pensamos que podemos ajudar estas casas rebeldes com a nossa reprovação do mau caminho deles, mas por um mistério que somente Deus conhece, eles não se arrependerão, e bem faríamos então em não alimentar esperanças apesar de receber de Deus, pelo Espírito, a direção de repreender o pecado deles, que no caso servirá apenas para o agravamento da ofensa e não para a cura deles, não pela falta de desejo de Deus ou nosso de que sejam curados, mas pela sua própria rebeldia obstinada, em se justificarem em seus pecados. Eles não creem na possibilidade de uma vida verdadeiramente santa, e o seu coração está por demais apegado ao mundo e à sua própria vontade, para que se submetam à vontade do Senhor, permitindo serem humilhados e transformados por Ele.
Neste caso, a repreensão tem em vista glorificar o nome de Deus e vindicar a Sua santidade, para que eles saibam que houve entre eles um profeta de  Deus, e vejam o poder de Deus na vida do Seu profeta, de maneira que fiquem injustificáveis em seu endurecimento no pecado. Eles são incorrigíveis e se levantarão contra o próprio Deus e contra aqueles que são por Ele enviados, criticando a obra que estão fazendo, ou se opondo, ainda que indiretamente a ela, por insuflarem e envenenarem os corações com palavras mentirosas e invejosas àqueles que se encontram debaixo da influência deles, mas em tudo isto prestarão contas ao Senhor no Tribunal de Cristo, e poderão receber severas sanções ainda neste mundo.
Assim a reprovação ministerial deve ser dada mesmo nos casos em que não haja nenhuma esperança. As águas do santuário devem continuar fluindo, embora haja estes maus obreiros que em vez de cooperarem com o trabalho de Deus, se opõem a ele, criando condições para tentar inviabilizá-lo.  Assim, as águas do rio de águas vivas devem continuar fluindo quer os homens bebam delas ou não. E os que têm o dever de proclamar o puro evangelho em vidas puras devem continuar fazendo isto a par de todas estas oposições que sempre existiram e sempre existirão até que Cristo venha com glória e poder para estabelecer o Seu reino na terra em Sua forma final e dar o pago a cada um segundo as suas obras.
O mordomo fiel não deve portanto, ficar intimidado pelos obreiros da iniquidade, ainda que se digam ministros verdadeiros do evangelho, porque a fidelidade será recompensada agora e também no por vir.
Contudo, nos é imposto o dever de reprovar e protestar continuamente contra o pecado, ainda que obstinadamente os tais se recusem a emendarem o seu caminho diante de Deus (II Pe 1.13).
Entretanto, a ordenança do Senhor de Mt 7.6 de não se dar coisas santas aos cães e pérolas aos porcos, deve sempre ser observada nestes casos, de maneira que o Espírito nos conduzirá a ficar calados perante aqueles que agiriam como cães ou porcos diante das coisas sagradas de Deus, e nisto devemos seguir o exemplo de Jesus quando foi provocado por Herodes, não lhe dizendo uma única palavra.
Alguns desprezam e desdenham das suas corrupções, porque no seu endurecimento contra o trabalho da graça pelo Espírito, permanecem cegos em seus pecados e endurecidos neles, tal como os fariseus nos dias de Jesus, que a seus próprios olhos se consideravam muito santos, e sequer eram convertidos.
Entretanto, em tudo devemos ser criteriosos de forma a não passar nenhum julgamento precipitado sobre quem quer que seja quanto a esta condição de cão e porco, porque nos é ordenado que não julguemos para que não sejamos julgados. Isto é, este julgamento não deve ser movido por uma razão de desprezo pessoal carnal, ou por qualquer outro motivo ou meio injustificável, senão somente por um juízo adequado, consciente, espiritual da condição do fruto que é produzido pela árvore que estamos julgando, se é bom ou mau. Há portanto critério para o julgamento para que não erremos e não sejamos conduzidos pela carne neste processo, senão unicamente pelo Espírito de Deus, tendo um coração humilde e simples como o das pombas.
O critério para esse julgamento não deve consistir em sentimentos pessoais mas na verdade revelada da Palavra de Deus.
A questão da oportunidade adequada para todo tipo de reprovação é um fato a ser considerado devidamente, conforme o critério geral de Ec 3.1. 7: “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu... tempo de estar calado, e tempo de falar;”.
 Pela verdade da Palavra expressa em Pv 12.1, nós podemos concluir que a grande maioria da humanidade é insensata, porque não ama a correção:
“O que ama a correção ama o conhecimento; mas o que aborrece a repreensão é insensato.”  (Pv 12.1).
Daí decorre que a maior parte das reprovações serão rechaçadas, e devemos estar cientes disto, para não nos desestimularmos pensando que estamos fracassando no cumprimento do nosso dever de pregar e ensinar a verdade do evangelho, e de repreender segundo a doutrina o irmão faltoso. Lembremos que devemos fazer a nossa parte e o próprio Deus tratará com os rebeldes e contradizentes.
Devemos ter em conta quanto a estes, as palavras do apóstolo em Tito 3.10: “Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o,”. Porque se aplica aqui neste caso as situações sem esperança a que já nos referimos.
 Devemos lembrar que a disciplina está na verdade, nas mãos do próprio Deus, que mantém permanente controle sobre as almas dos homens, de modo que se a Sua Palavra é a verdade, como de fato é, então a ameaça de Prov 15.10, cumprir-se-á e não falhará para aqueles que deixam o caminho da verdade e que se endurecem em seus pecados recusando-se a viverem de maneira consagrada e santa diante de Deus:
“Há disciplina severa para o que abandona a vereda; e o que aborrece a repreensão morrerá.”  (Pv 15.10).
Deus exemplificou isto na vida de Ananias e Safira, e em muitos na Igreja de Corinto, para nossa advertência, quanto ao risco que corremos em andar contrariamente à Sua vontade.
É melhor se corrigir do que morrer. Ainda que não seja a correção da morte física, haverá a correção da morte espiritual, que é a quebra da comunhão com Deus, e isto, todo crente rebelde há de experimentar, e quão dura coisa isto é.
Sabedor desta verdade espiritual o autor de Hebreus roga a toda a igreja de Cristo que se submeta às correções de Deus.
“e já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido;”  (Hb 12.5).
É muito conhecida nossa a citação de Pv 29.1, mas poucos dão a ela a devida consideração que deveriam dar a bem de suas almas:
“Aquele que, sendo muitas vezes repreendido, endurece a cerviz, será quebrado de repente sem que haja cura.” (Pv 29.1).
Destruições súbitas podem ser determinadas por Deus, quando menos as esperarmos, por causa do nosso endurecimento no pecado, e resistência ao conserto depois de sermos várias vezes repreendidos.
Há, por incrível que possa parecer, até mesmo muitos ministros do evangelho, que em razão de orgulho espiritual se recusam a se submeter humildemente debaixo da potente mão de Deus, que lhes traz repreensões de várias maneiras quanto ao seu mau caminhar.
Qual é o amor que estes ministros do evangelho têm por sua família?
Sendo negligente no seu caminhar com Deus e deixando de se esforçar em seu testemunho para andar humildemente com aqueles que servem a Deus com um coração puro, como pode afirmar que ama de fato ao Senhor, à sua família, aos seus irmãos em Cristo?
Como pode ter a aprovação e a bênção do Senhor justificando o erro e o pecado, e fazendo da graça de Jesus um motivo para luxúria?
Como poderá promover algum serviço real no reino de Deus, deixando-se vencer pelo ciúme e inveja daqueles que estão procurando consagrar verdadeiramente suas vidas ao Senhor?
Como poderá se firmar na verdade vivendo na dissimulação de lábios, afirmando amor e amizade somente de língua, mas não de fato e  de verdade?
Como poderá ser reerguido por Deus se não se humilha diante dEle nas provações que tem vivido?
Como poderá ser curado do pecado justificando suas faltas e atribuindo a causa do seu insucesso a outros?
Como poderá afinal ser santificado se recusa a verdade da Palavra da maneira nua e crua como se encontra revelada na Bíblia?
Quando alguém se considera dono da Igreja de Deus, como Diótrefes, quando pensa que as ovelhas de Cristo são da sua própria posse, quando vive para usar o rebanho para os seus interesses, e não para ser modelo dos crentes de maneira a conduzi-los a uma vida consagrada a Cristo, pouca esperança há para que uma tal pessoa seja curada do seu mal, porque se alinha entre aqueles a quem Jesus chamou de lobos vestidos em peles de ovelhas, que não se submetem a Ele e à Sua Palavra, mas que, recusando-se a se auto negarem e a carregarem a cruz, sentem-se vítimas de tudo e de todos, e sempre andarão em busca da realização dos seus próprios sonhos egoístas.
São nuvens sem água, pedras de tropeço na obra de Deus, homens desqualificados para o ministério, que entraram nele simplesmente para ficarem inchados em seu orgulho, e imprestáveis para Deus.
Todo aquele que repreender um tal homem como este, ainda que o faça por amor e com lágrimas, há certamente de ser ferido por ele, conforme prediz a Palavra do Senhor, porque ele é justo aos seus próprios olhos, e acha que se encontra acima de toda verdade e justiça, e não se submeterá à correção de Deus, e assim irá de mal a pior, por mais que tente demonstrar por um viver hipócrita que está cheio da plenitude de Deus.

Estes fazem parte do número daqueles aos quais o Senhor se refere dizendo que com os lábios o louvam, mas o seu coração está distante dEle.



Provérbios 29

“1 Aquele que, sendo muitas vezes repreendido, endurece a cerviz, será quebrantado de repente sem que haja cura.
2 Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme.
3 O que ama a sabedoria alegra a seu pai; mas o companheiro de prostitutas desperdiça a sua riqueza.
4 O rei pela justiça estabelece a terra; mas o que exige presentes a transtorna.
5 O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma rede aos passos.
6 Na transgressão do homem mau há laço; mas o justo canta e se regozija.
7 O justo toma conhecimento da causa dos pobres; mas o ímpio não tem entendimento para a conhecer.
8 Os escarnecedores abrasam a cidade; mas os sábios desviam a ira.
9 O sábio que pleiteia com o insensato, quer este se agaste quer se ria, não terá descanso.
10 Os homens sanguinários odeiam o íntegro; mas os retos procuram o seu bem.
11 O tolo derrama toda a sua ira; mas o sábio a reprime e aplaca.
12 O governador que dá atenção às palavras mentirosas achará que todos os seus servos são ímpios.
13 O pobre e o opressor se encontram; o Senhor alumia os olhos de ambos.
14 Se o rei julgar os pobres com equidade, o seu trono será estabelecido para sempre.
15 A vara e a repreensão dão sabedoria; mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe.
16 Quando os ímpios se multiplicam, multiplicam-se as transgressões; mas os justos verão a queda deles.
17 Corrige a teu filho, e ele te dará descanso; sim, deleitará o teu coração.
18 Onde não há profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei esse é bem-aventurado.
19 O servo não se emendará com palavras; porque, ainda que entenda, não atenderá.
20 Vês um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o tolo do que para ele.
21 Aquele que cria delicadamente o seu servo desde a meninice, no fim tê-lo-á por herdeiro.
22 O homem iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões.
23 A soberba do homem o abaterá; mas o humilde de espírito obterá honra.
24 O que é sócio do ladrão odeia a sua própria alma; sendo ajuramentado, nada denuncia.
25 O receio do homem lhe arma laços; mas o que confia no Senhor está seguro.
26 Muitos buscam o favor do príncipe; mas é do Senhor que o homem recebe a justiça.
27 O ímpio é abominação para os justos; e o que é reto no seu caminho é abominação para o ímpio.”

Quanto à afirmação do verso 22: “O homem iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões.”, nós usaremos como comentário um texto adaptado de autoria de Jonathan Edwards, intitulado, O Amor não É Vingativo.

O Amor não é Vingativo - I Cor 13.5

Quando uma pessoa está em real comunhão com Deus e não somente tiver aprendido de ouvir falar, mas por experiência própria pela transformação pelo Espírito Santo do seu temperamento natural, especialmente nas provações que lhe dará para aprender a suportar ofensas e injustiças, ela viverá na mesma mansidão e espírito de amor e perdoador que se viu em Cristo no seu ministério terreno e em  todos os seus apóstolos, conforme o testemunho deles em suas epístolas.  Isto porque o espírito de amor cristão é exatamente o oposto de um espírito iracundo e vingativo.
Aquele que se deixa dominar facilmente pela ira e por sentimentos de vingança, não tem aprendido ainda de Cristo, e não tem sido transformado pelo Espírito Santo, de modo a ter o Seu fruto de amor, paz, mansidão, bondade, domínio próprio, perdão, longanimidade.
O que é esse espírito irado ou colérico para o qual o amor, ou um espírito cristão, é contrário? Não é a todo tipo de ira que o cristianismo é oposto e contrário. Em Ef 4.26 se diz: "Irai-vos, e não pequeis, não se ponha o sol sobre a vossa ira.".  E isto parece supor que há tal uma coisa como ira sem pecado, ou que é possível estar bravo em alguns casos, e ainda não ofender a Deus. E então pode ser respondido, em uma única palavra que um espírito cristão, ou o espírito de amor, é oposto à ira que é imprópria e inadequada. E a ira pode ser imprópria ou inadequada em quatro aspectos:
A ira pode ser imprópria e inadequada quando é uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa de outro. Toda ira é oposição da mente contra um mal real ou suposto. A ira tem a ver com o espírito do homem, isto é, com a disposição do seu coração.
Há uma oposição do espírito contra o mal natural que nós sofremos, que se traduz em aflição e tristeza, por exemplo, que é uma coisa muito diferente de ira; e que é distinta desta.
A ira pecaminosa é oposição ao mal moral, ou a uma realidade má ou suposta, que gera em nós sentimentos de antipatia, amargura, ódio, que se traduzem em sentimentos de vingança em desejar o mal a eles.
Mas, há uma espécie de ira que é consistente com a benignidade; porque um pai pode estar bravo com o seu filho, quer dizer, ele pode achar nele uma séria oposição de espírito para com a conduta ruim do seu filho, e o espírito dele pode se mover em oposição àquela conduta, e porque enquanto o seu filho continuar nisto; ao mesmo tempo, ele não terá qualquer desejo de prejudicá-lo, mas ao contrário, uma real benignidade; pois está visando ao seu bem, e assim longe de desejar seu dano, ele pode ter o desejo muito mais elevado para o seu verdadeiro bem-estar, e a própria ira dele é uma oposição para prevenir o dano que será resultante do mau comportamento do seu filho. E isto mostra que aquela ira, em sua natureza geral, é bastante consistente com a oposição do espírito ao mal, e não um desejo de vingança.
Se a natureza da ira consistisse em geral num desejo de vingança, nenhuma ira seria legal em qualquer caso; porque não nos permitiria exercer benignidade a quem quer que praticasse o mal contra nós. Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e  nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: "Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis." (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal. E assim toda a vingança é proibida, se nós excluímos a vingança que a justiça pública assume para com o transgressor. A regra é: "Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor." (Lev 19.18); e o apóstolo diz: "Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor." (Rom 12.19),  de forma que toda a raiva que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus.
E Deus não nos dá isto como um mandamento frio para ser cumprido para nós, mas como uma necessidade para que possamos viver no Seu amor, que é a única forma de estarmos felizes e em paz conosco mesmo e com todos. O homem foi criado para ser feliz somente quando ama, e portanto, caso se deixe tomar por sentimentos de ira e de vingança ele será uma pessoa enferma espiritualmente, alguém que não está vivendo do modo que Deus programou para que o homem possa ser feliz, porque é sendo e estando em amor como Ele é amor, que podemos não somente agradar a Deus como também aos homens de boa vontade.
É por isso que há tantas passagens na Bíblia nos advertindo para que não nos deixemos conduzir por uma linguagem dura, irada, obscena, e por sentimos de ira e vingança, porque Deus é manso e humilde de coração, e é sendo somente como Ele é, que podemos ter alegria, paz e amor em nossos corações, estando assim, de bem conosco mesmo e com todos.
Agora, não é possível viver isto se não tivermos Jesus habitando no nosso coração, E não somente isto, permitindo de fato que Ele nos leve a conhecer e a fazer a Sua vontade, e a viver do modo como Ele mesmo vive. Isto demanda então obediência à Palavra de Deus, que nos ensina o modo como devemos viver neste mundo, com um coração puro e que não se inclina para a prática do mal.
Nós deveríamos refletir muito e não pouco, caso, sendo crentes, tenhamos sentimentos de ira e de rancor contra aqueles servos de Deus nos quais vemos um testemunho de vidas santificadas.
Como podemos justificar o ato de ficar irado contra quem Deus está se agradando? Como pode ser justificável o fato de ficarmos contrariados exatamente contra quem está se consagrando a Deus?
Em vez de ficarmos invejosos, perturbados ou qualquer outra coisa com a devoção que vemos neles e que não existe em nós, em vez de rechaçá-los, deveríamos louvar a Deus por suas vidas e nos empenharmos para seguir o exemplo deles.
 Outro motivo para não ficarmos irados mas gratos ao Senhor é o fato de que irmãos nos exortem a emendarmos o nosso modo de caminhar que não seja conforme a vontade de Deus. É o próprio Deus que lhes ordena isto e eles estão dando a nós uma prova do seu amor para conosco, para que entremos no modo de vida que é verdadeiramente abençoado por Deus, não porque Ele satisfará os nossos desejos carnais, mas por nos capacitar, pelo Seu Espírito, a viver de modo agradável a Ele.
Aqueles que se deixam provocar por pequenas faltas, por coisas insignificantes, e que se exasperam com os outros pelo simples fato de se acharem contrariados, devem também buscar o auxílio da graça do Senhor para serem mais pacientes com o seu próximo, ainda que isto não signifique que sejam cúmplices ou complacentes com os pecados deles.
Geralmente, os que costumam proceder de tal modo são aqueles que estão cheios de justiça própria, e que se acham justos aos seus próprios olhos, e que assim, estão sempre a condenarem os outros para se compararem com eles, para se sentirem melhores e mais justos do que eles.
É ordenado aos crentes que sejam tardios para se irar, isto é, que sejam longânimos com aqueles cujo procedimento possa estar lhes contrariando (Tg 1.19).
Quando somos longânimos nossas almas e espíritos são mantidos numa condição calma e pacífica, e não seremos movidos facilmente pela ira.
Se não há nenhum pecado e nenhuma falta, então nós não temos nenhuma causa para estar irados; e se há uma falta ou pecado, então é infinitamente pior contra Deus do que em relação a nós, e então requer uma devida oposição. As pessoas pecam na sua ira quando elas forem egoístas nisto; porque nós não devemos agir como se nós pertencêssemos a nós mesmos, já que nós pertencemos a Deus. A ira que é virtuosa é a mesma coisa que é chamada de outra forma, de zelo. Nossa ira deve ser como a ira de Cristo. Ele era como um cordeiro debaixo dos maiores danos pessoais, e nós nunca lemos sobre ele estar irado a não ser na causa de Deus contra o pecado como pecado. E este deveria ser o caso conosco.
Como a paixão se incendeia antes da razão, então a raiva será sentida antes mesmo que um pensamento possa vir à tona, para responder à pergunta qual será a vantagem de ficar irado.
Os homens não devem ser como feras selvagens. Deus não os criou para isto.
Toda ira que passa da medida é pecaminosa, porque nunca deve passar do ponto necessário para a obtenção dos bons fins propostos pela razão e conforme governados pelo Espírito.
E se ira for mantida mais do que o tempo necessário no coração ela se transformará em maldade, em amargura, em ódio, em desejo de vingança. Por isso a Bíblia nos ordena o deixar logo a ira (Ec 7;9; Ef 4.26) de maneira que nunca sejamos governados por ela.
A ira, o ódio, o desprezo que pode se sentir por uma pessoa por causa do dano que ela nos tenha cometido, pode vir a ser um pecado diante de Deus ainda maior do que aquele que ela praticou contra nós. E se esta mágoa fica instalada no coração nós perdemos toda a serventia para o Senhor e ficamos desprovidos da Sua graça, porque Ele tem dito que não nos perdoará se não perdoarmos também os nossos ofensores.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador.
O amor cristão é totalmente o oposto de uma ira injusta e imprópria, porque a natureza de Deus é perdoadora, e Ele nos chama a ser como Ele é.
O amor de Deus se manifesta em prol até mesmo dos nossos inimigos. O amor vence a ira e não se renderá a ela de modo nenhum. Aqueles que têm experimentado a doçura do amor e da paciência de Deus não permitirão isto seja trocado pela amargura e ódio do diabo que tenta lhes dar motivos para mudarem de posição. Quem preferirá o fel no lugar do mel? A natureza parece querer nos ensinar acerca destas realidades espirituais que devemos escolher com sabedoria. Mais amarga o fel do ódio nos nossos espíritos, do que o fel natural em nossas bocas e estômagos.      
O amor de Deus nos torna pacientes com as faltas de outros, porque conhecemos por experiência a paciência de Deus para com as nossas próprias faltas.  
O amor é contrário à ira que é imprópria e pecaminosa, como, em seus frutos, é também contrário ao orgulho. O orgulho é a causa principal da ira imprópria.
É porque os homens são orgulhosos, e se exaltam nos seus próprios corações, é que eles são vingativos, e hábeis em serem excitados, e fazerem grandes coisas contra as pequenas que possam ser contra eles.
Sim, eles igualmente tratam como virtudes os vícios que estão neles, quando eles pensam que a honra deles é tocada, ou quando a vontade deles é contrariada. E é o orgulho que faz os homens tão irracionais e apressados na ira deles, e aumentá-la a um grau elevado, e continuar assim por muito tempo, e frequentemente mantêm isto na forma de maldade habitual. Mas, como nós já vimos, o amor cristão, é oposto totalmente ao orgulho.
E como estão em suas famílias? Famílias são sociedades em que os membros estão num tipo de relação muito próxima e debaixo das maiores obrigações para manter a paz, a harmonia e o amor. E qual tem sido o seu espírito na família?
Muitos têm sido irritáveis e bravos, impacientes, e mal-humorados, e indelicados com aqueles com os quais Deus colocou ao  lado deles, e assim lhes têm feito infelizes pelo que fazem ou dizem, e por sua falta de bondade tanto quanto pela sua descortesia.
Que tipo de ira favoreceu você na família? Não tem frequentemente isto sido irracional e pecaminoso, não somente em sua natureza, como também em suas ocasiões, em que aqueles com os quais você estava bravo não estavam em falta, ou quando a falta era insignificante ou não intencional, ou onde, talvez, você era em parte culpado em tudo isto? E ainda onde poderia ter havido alguma causa para a ira, esta sua ira não foi continuada, e o levou a estar mal-humorado, ou severo, por um longo período em que a sua própria consciência o censurou? E você não esteve bravo com seus vizinhos com os quais convive diariamente? E em ocasiões insignificantes, e por pequenas coisas, você não se permitiu ficar irado contra eles? Em todos estes pontos devemos nos examinar, e conhecer de que espírito nós somos e ver quanto falta em nós do espírito de Cristo.
Devemos considerar que o coração do homem está propenso em todo o tempo à raiva imprópria e pecaminosa, estando naturalmente cheio de orgulho e egoísmo; e nós moramos num mundo que está cheio de ocasiões que tendem a incitar esta corrupção que está dentro de nós, de forma que nós não podemos esperar viver em qualquer medida tolerável como cristãos, neste respeito, sem vigilância constante e oração. E nós não somente deveríamos vigiar contra as manifestações, mas lutar contra o princípio da ira, e buscar ter isso mortificado em nossos corações, pelo estabelecimento e aumento do espírito de amor divino e humildade em nossas almas, seriamente. E para este fim, podem ser consideradas várias coisas.
Primeiro, frequentemente considere suas próprias faltas pelas quais você deu ocasião a Deus de ficar desagradado com você. Apesar de todas as faltas ao longo de toda a sua vida, você tem contado com a misericórdia e com o perdão de Deus. E suas faltas em relação aos seus semelhantes também são numerosas, e isto deu ocasião para ficarem também irados com você. E isto seria motivo suficiente para não permanecer tanto tempo tentando tirar o argueiro dos olhos do seu irmão, quanto deveria gastar em tirar as traves dos próprios olhos (Mt 7.3-5).
Muito frequentemente aqueles que estão muito prontos a ficarem bravos com outros, e levar os ressentimentos deles mais alto do que as suas próprias faltas, são igualmente ou ainda mais culpados das mesmas faltas. E assim aqueles que são muito hábeis para ficarem bravos com outros pelo mal que falam deles, são frequentemente muito rigorosos com os pecados alheios e muito complacentes com as suas próprias faltas. Por isso o mandamento bíblico é: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.”.
Entretanto, se o caso é de permanência de um cristão deliberadamente no pecado, já tendo várias vezes sido advertido e admoestado, então a ira é justificada, e neste caso se aplica outro mandamento: “Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé.” (Tito 1.13). E ainda: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois, sabes que tal pessoa está pervertida e vive pecando, e por si mesma está condenada.” (Tito 3.10,11). A Palavra manda admoestar, isto é corrigir, disciplinar e não amparar e consolar os insubmissos (I Tes 5.14).
E manda o Senhor que seja considerado gentio e publicano o cristão que não quiser se arrepender de seus pecados, quando confrontado pela igreja, e na falta deste arrependimento, o próprio Senhor tratará com ele diretamente, pois se diz: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.” (Hb 10.26,27).
Entretanto, em nenhum caso nos é concedido abrigar a mágoa e o ressentimento em nossos corações, porque o coração do crente deve ser como o coração do seu Deus. O que matar pela espada, pela espada será morto. Aquele que não perdoa as dívidas do seu próximo é entregue nas mãos do verdugo e é lançado na prisão, onde sua alma ficará encarcerada até que pague o último centavo da dívida que tem para com Deus de perdoar, assim como foi também por Ele perdoado.
A ira que é imprópria nos indisporá para os exercícios piedosos e ativos da religião. Pois coloca a alma distante daquela doçura e condição excelente de espírito na qual nós  desfrutamos comunhão com Deus. E é por isso que nos é ordenado por Deus que nos reconciliemos primeiro com nosso irmão que tenha alguma coisa contra nós, antes de levarmos nossa oferta ao altar (Mt 5.24). E é também por isso que o apóstolo aponta a necessidade de que não haja ira em nossos corações quando estivermos orando (I Tim 2.8).
A Bíblia ordena que nos separemos de todo irmão que ande desordenadamente e que não tenhamos comunhão com as pessoas mundanas, mas isto não significa que devemos tratá-las com ira e rancor. Não andar na companhia é uma coisa, e isto não significa necessariamente um coração fechado e vencido pela raiva. Ao contrário, em tudo que devemos guardar, devemos guardar o nosso coração porque é dele que procedem as fontes da vida.

Consideremos então estas verdades, e deixemos que elas prevaleçam em tudo, e nos levem a evitar um espírito irado e temperamental, e a cultivar um espírito de bondade e amor, que é o espírito do céu.


Provérbios 30

“1 Palavras de Agur, filho de Jaqué de Massá. Diz o homem a Itiel, e a Ucal:
2 Na verdade que eu sou mais estúpido do que ninguém; não tenho o entendimento do homem;
3 não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.
4 Quem subiu ao céu e desceu? quem encerrou os ventos nos seus punhos? mas amarrou as águas no seu manto? quem estabeleceu todas as extremidades da terra? qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho? Certamente o sabes!
5 Toda palavra de Deus é pura; ele é um escudo para os que nele confiam.
6 Nada acrescentes às suas palavras, para que ele não te repreenda e tu sejas achado mentiroso.
7 Duas coisas te peço; não mas negues, antes que morra:
8 Alonga de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário;
9 para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus.
10 Não calunies o servo diante de seu senhor, para que ele não te amaldiçoe e fiques tu culpado.
11 Há gente que amaldiçoa a seu pai, e que não bendiz a sua mãe.
12 Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada da sua imundícia.
13 Há gente cujos olhos são altivos, e cujas pálpebras são levantadas para cima.
14 Há gente cujos dentes são como espadas; e cujos queixais são como facas, para devorarem da terra os aflitos, e os necessitados dentre os homens.
15 A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam; sim, quatro que nunca dizem: Basta;
16 o Seol, a madre estéril, a terra que não se farta d'água, e o fogo que nunca diz: Basta.
17 Os olhos que zombam do pai, ou desprezam a obediência à mãe, serão arrancados pelos corvos do vale e devorados pelos filhos da águia.
18 Há três coisas que são maravilhosas demais para mim, sim, há quatro que não conheço:
19 o caminho da águia no ar, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do homem com uma donzela.
20 Tal é o caminho da mulher adúltera: ela come, e limpa a sua boca, e diz: não pratiquei iniquidade.
21 Por três coisas estremece a terra, sim, há quatro que não pode suportar:
22 o escravo quando reina; o tolo quando se farta de comer;
23 a mulher desdenhada quando se casa; e a serva quando fica herdeira da sua senhora.
24 Quatro coisas há na terra que são pequenas, entretanto são extremamente sábias;
25 as formigas são um povo sem força, todavia no verão preparam a sua comida;
26 os arganazes são um povo débil, contudo fazem a sua casa nas rochas;
27 os gafanhotos não têm rei, contudo marcham todos enfileirados;
28 a lagartixa apanha-se com as mãos, contudo anda nos palácios dos reis.
29 Há três que andam com elegância, sim, quatro que se movem airosamente:
30 o leão, que é o mais forte entre os animais, e que não se desvia diante de ninguém;
31 o galo emproado, o bode, e o rei à frente do seu povo.
32 Se procedeste loucamente em te elevares, ou se maquinaste o mal, põe a mão sobre a boca.
33 Como o bater do leite produz manteiga, e o espremer do nariz produz sangue, assim o espremer da ira produz contenda.”

Este capítulo e o seguinte foram acrescentados como um apêndice aos provérbios de Salomão constantes dos capítulos anteriores.
O presente capítulo foi escrito por Agur, de quem não possuímos qualquer informação sobre a sua procedência, nem sobre a época na qual viveu.
Alguns consideram que ele talvez não tenha sido o escritor destes provérbios, e que teria apenas coletado tais citações de outras fontes, pelo que se infere de suas palavras proferidas na introdução deste capitulo em que afirma:

“2 Na verdade que eu sou mais estúpido do que ninguém; não tenho o entendimento do homem;
3 não aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo.” (v. 2,3).

Ele poderia ter proferido tais palavras para demonstrar humildade, ou então para se justificar quanto a não ter escrito o que seria proferido adiante.

Depois de ter-se humilhado, Agur exalta ao Senhor, mostrando que Ele é o criador e sustentador de todas as coisas.
E afirma logo em seguida, de forma categórica que toda a Palavra de Deus é pura, e que Ele é um escudo para os que nEle confiam (v. 5), razão pela qual não se deve acrescentar nada às Suas palavras para que Ele não nos repreenda ou sejamos achado mentirosos (v. 6).
Agur se afirmou o mais estúpido dos homens, como já dissemos, por motivo de humildade, porque as palavras que ele registrou não são palavras de nenhum estúpido, mas a própria Palavra de Deus, que dá tal testemunho de si mesma em outras passagens das Escrituras.
Ele conhecia também o perigo que há na falsidade e na mentira, e a grande tentação que há na fartura excessiva, porque por ela, pode-se vir a se esquecer de viver na dependência de Deus, bem como há também grande tentação na penúria extrema, porque para se manter vivo o homem pode vir a furtar, e assim, transgredir o mandamento de Deus, trazendo ofensa ao Seu santo nome (v. 7 a 9).

A partir do verso 10 são registradas citações no estilo proverbial que são auto-explicativas, motivo pelo qual não as estamos comentando.


Provérbios 31

“1 As palavras do rei Lemuel, rei de Massá, que lhe ensinou sua mãe.
2 Que te direi, filho meu? e que te direi, ó filho do meu ventre? e que te direi, ó filho dos meus votos?
3 Não dês às mulheres a tua força, nem os teus caminhos às que destroem os reis.
4 Não é dos reis, ó Lemuel, não é dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte;
5 para que não bebam, e se esqueçam da lei, e pervertam o direito de quem anda aflito.
6 Dai bebida forte ao que está para perecer, e o vinho ao que está em amargura de espírito.
7 Bebam e se esqueçam da sua pobreza, e da sua miséria não se lembrem mais.
8 Abre a tua boca a favor do mudo, a favor do direito de todos os desamparados.
9 Abre a tua boca; julga retamente, e faze justiça aos pobres e aos necessitados.
10 Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor muito excede ao de jóias preciosas.
11 O coração do seu marido confia nela, e não lhe haverá falta de lucro.
12 Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida.
13 Ela busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com as mãos.
14 É como os navios do negociante; de longe traz o seu pão.
15 E quando ainda está escuro, ela se levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas.
16 Considera um campo, e compra-o; planta uma vinha com o fruto de suas mãos.
17 Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus braços.
18 Prova e vê que é boa a sua mercadoria; e a sua lâmpada não se apaga de noite.
19 Estende as mãos ao fuso, e as suas mãos pegam na roca.
20 Abre a mão para o pobre; sim, ao necessitado estende as suas mãos.
21 Não tem medo da neve pela sua família; pois todos os da sua casa estão vestidos de escarlate.
22 Faz para si cobertas; de linho fino e de púrpura é o seu vestido.
23 Conhece-se o seu marido nas portas, quando se assenta entre os anciãos da terra.
24 Faz vestidos de linho, e vende-os, e entrega cintas aos mercadores.
25 A força e a dignidade são os seus vestidos; e ri-se do tempo vindouro.
26 Abre a sua boca com sabedoria, e o ensino da benevolência está na sua língua.
27 Olha pelo governo de sua casa, e não come o pão da preguiça.
28 Levantam-se seus filhos, e lhe chamam bem-aventurada, como também seu marido, que a louva, dizendo:
29 Muitas mulheres têm procedido virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas.
30 Enganosa é a graça, e vã é a formosura; mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada.
31 Dai-lhe do fruto das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras.”

Este capítulo, como o precedente, também foi acrescentado aos provérbios de Salomão, e se afirma que contém palavras do rei Lemuel, as quais aprendeu de sua mãe.
Dos versos 1 a 9 são dadas instruções a Lemuel, ao que parece, quando era jovem, por sua mãe, para que, quando assumisse o trono do reino de Massá, que ele não deveria desperdiçar a sua força e os seus caminhos com as mulheres que destroem os reis. E que ele deveria se guardar de beber vinho, bem como de qualquer outra bebida forte, porque não convém que aqueles que se encontram em posição de governo o façam, porque a bebida forte faz com que se perca a sobriedade, produzindo estados alterados de consciência, que fazem com que venham a se esquecer da lei e a perverter o direito, especialmente dos oprimidos.
Se alguém se desse ao uso da bebida forte, que o fizesse em situações excepcionais para os que se encontravam à beira da morte ou em grande amargura de espírito, para que se lhe abrandassem as dores, e para que se esquecessem das misérias que estavam dando causa à sua amargura (v. 6,7). Esta recomendação deve ser entendida no seu contexto do Velho Testamento, mas não no do Novo Testamento, em que se ordena aos crentes que não se embriaguem com vinho, nem em situações excepcionais, mas que se encham do Espírito Santo, porque Ele é o consolador e a força deles na hora da morte e da angústia.
A mãe de Lemuel lhe aconselhou também a falar pelos mudos e pelos desamparados, garantido-lhes o favor do direito, de forma que julgasse retamente, fazendo justiça aos pobres e aos necessitados (v. 8, 9).
Também temos como conselho dado a Lemuel por sua mãe, a partir do verso 10, o famoso provérbio sobre a mulher virtuosa, que estaremos comentando com um texto adaptado do Pr John MacArthur sobre o referido assunto:

A Mulher Virtuosa de Provérbios 31

Por John Macarthur (adaptado)

Esta manhã nós vamos falar sobre o que a Bíblia tem que dizer sobre mães, e qual é o padrão de Deus para elas. É de pasmar, francamente, como nossa sociedade mudou. Como a percepção de nossa sociedade em relação à  mulher mudou; como o desígnio da sociedade para o papel dela mudou.
   Se  você estivesse folheando revistas velhas ou jornais velhos, do tipo que você vê em livrarias antigas, ou em algum lugar, e prestasse atenção nas mulheres que são retratadas em alguns dos anúncios do passado, você observaria as mães balançando os seus bebês, e mulheres em cozinhas preparando o jantar para a família, ou uma mulher sentada numa cama lendo histórias para seus filhos.
Quadros e imagens assim, quase soam como ficção em nosso mundo de hoje. Quando você olha para a mulher anunciando hoje você a vê vestindo um traje a rigor, num terno empresarial, enquanto balança uma pasta andando numa rua movimentada.  Ou você a vê em trajes de ginástica fazendo aeróbica, ou em trajes sumários, quase nua. O que é que a nossa sociedade realmente vê como o modo de a mulher ser exaltada e honrada?  O que é realmente a mulher excelente do final do século XX? Que tipo de uma mulher é ela? O que é a "superwoman" moderna? Bem, eu suponho se nós criássemos uma lista, esta seria mais ou menos assim:
     -Ela trabalha
     -Constrói a sua carreira
    - Exige pagamento igual
    -Recusa submeter-se ao seu marido e exige igualdade com ele em tudo
    -Tem um ou dois desquites ou um ou dois divórcios
    -Exercita a sua independência
    -Confia nos seus próprios recursos
    -Não quer que o seu marido ou os seus filhos ameacem as suas metas pessoais
    -Muito frequentemente tem a sua própria conta bancária e não considera que os recursos                      financeiros dela e do seu marido são comuns
    -Ela contrata uma empregada ou um serviço de limpeza para não ter que se envolver com                     afazeres domésticos
    -Come fora pelo menos 50% do tempo, com ou sem a sua família
    -Faz do cereal frio o padrão do café da manhã  para todos da sua família para não ter qualquer                      trabalho
    -Faz somente refeições congeladas rápidas
    -Espera que o seu marido faça pelo menos uma parte igual do serviço doméstico
    -Ela está bronzeada e é escrava do culto ao seu corpo
         -Faz compras para manter as tendências da moda
         -Coloca os filhos numa creche

Este é o tipo de mulher que o mundo aplaude.  Ela não pode ficar casada de verdade, não pode ser feliz, e os filhos dela entram em dificuldades e às vezes se envolvem com drogas, e frequentemente se tornam criminosos.  E ela está longe da mulher que Deus chamou para ser "mulher excelente".
O que diz Deus quanto ao que uma mulher e mãe deve ser?  Bem, deixe-nos voltar a Provérbios, capítulo 31, e ver o que a Bíblia tem a nos dizer.  Porque, neste texto encontramos a revelação de Deus sobre quem é de fato a mulher excelente. O verso 10 diz  "esposa excelente", que algumas versões traduzem “mulher virtuosa”.  Aqui está a descrição quanto ao que uma mulher deveria ser.  Isto é um ideal, isto é um modelo. Isto não descreve alguma mulher em particular, isto descreve a mulher ideal.
Há muito que é dito sobre as mulheres no Livro de Provérbios.  Como você sabe, o Livro de Provérbios é uma lista de provérbios ou declarações de sabedoria, e ao longo do Livro de Provérbios há um interesse ininterrupto em descrever as mulheres.
Há uma mulher que frequentemente aparece no Livro de Provérbios, e ela é o oposto da mulher excelente"; " ela é a "adúltera."  Ela lisonjeia com os seus lábios; ela abandona a aliança com o seu próprio marido para seduzir outra pessoa.  A "adúltera" tem lábios que gotejam mel, e ela caça a vida preciosa de alguma vítima.
Não há somente a "adúltera" mas também a "mulher rixosa", a mulher briguenta, com quem ninguém quer viver, e o homem normal preferiria, os provérbios dizem, viver no canto do telhado, em um pequeno lugar do que numa casa grande com uma mulher tumultuosa.  Há a “mulher tola", há a "mulher rebelde", há a "mulher iracunda", e todas estas são contrastadas com esta "esposa excelente" citada no capítulo 31.  Há no capítulo 12:4 de Provérbios, esta declaração: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos.”. Nada melhor do que uma “esposa excelente" e nada pior do que o oposto.  Na realidade, uma esposa tem uma tremenda habilidade para influenciar um marido e uma família.
Em 1 Reis, capítulo 21, há uma declaração feita sobre Acabe, o rei mau, talvez o pior rei de todos os anais da história de Israel.  Diz-se de Acabe que ele era mau porque ele foi incitado a isto pelo sua esposa Jezabel.  Nós falamos sobre o fato que Deus projetou os homens para serem a cabeça da família, e isso significa provisão, e isso significa proteção, e isso significa liderança.  Os homens têm aquela responsabilidade, mas os homens não têm mais isso quando são influenciados negativamente por suas mulheres a agirem contra os padrões fixados por Deus.
Acabe era o cabeça da sua casa; ele até mesmo era o rei.  Ele era um líder, ele era forte, mas a sua vida foi amoldada pela influência da sua esposa.  Assim, indo da "adúltera" e da "mulher rixosa" e da "mulher tola", da "mulher rebelde", da "mulher iracunda", da mulher que incita o seu marido para fazer mal, é que nós chegamos ao capítulo 31, à "esposa excelente", e aqui está disposto para nós o padrão para aquela mulher.  Este capítulo consiste nas palavras do rei Lemuel, conforme os conselhos que lhe haviam sido dados por sua mãe. Nós não sabemos nada sobre o rei Lemuel, mas ele teve uma boa mãe judia, e junto com a canja de galinha e tudo o mais que ela proveu para ele, ela lhe deu alguns conselhos realmente bons.  
Ela disse a ele, no verso três: não "dê sua força às mulheres.". Não se ocupe de ligações sexuais com outras mulheres; em outras palavra, não cometa
fornicação; mantenha sua vida pura.  Não dê sua força às mulheres; porque  esse é geralmente o modo como os reis e líderes são destruídos. Geralmente Satanás usa as mulheres para inverter os papeis estabelecidos por Deus para o homem e para a mulher. Deus pôs o homem por cabeça, e o Inimigo procura subverter isto, instigando as mulheres a destruírem a liderança do homem. No verso 4 há um bom conselho adicional: "não beba vinho, não beba bebida forte, porque nubla seu julgamento".
Ela continuou com estes conselhos, e ela diz a ele no verso oito: “Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados.”, e prossegue no verso 9: “Abre a tua boca, julga retamente, e faze justiça aos pobres e aos necessitados.”.  Em outras palavras: "Fale por essas pessoas que não podem falar por eles, essas pessoas que estão oprimidas, essas pessoas que não podem se defender, essas pessoas que são muito pequenas e insignificantes para terem uma plataforma de autodefesa - você deve sustentar a causa deles. Você deve promover os direitos do infeliz.". E para que seu filho fosse um grande homem e um bom e justo rei, ele teria que ter uma boa esposa, e por isso ela descreveu para ele as características da mulher ideal nos versos 10 a 31. “Ache uma boa esposa” foi o seu conselho para ele, conhecendo as implicações de se ter uma esposa ruim, tumultuosa, briguenta, egocêntrica, má (como Jezebel). E percebendo a influência que ela teria sobre a vida dele, a sua mãe  encorajou Lemuel a "achar uma esposa excelente".
O tipo de mulher que ela descreve é o modelo da mulher ideal.  Ela é inestimável.  Uma "esposa excelente", verso 10 diz, "quem pode achar?  O valor dela é superior de longe ao das jóias.".  E ela vai descrever esta mulher, física, mental, moral e espiritualmente.  Em toda dimensão, o caráter da “esposa e mãe excelente"  é desdobrado aqui.  Ela descreve esta mulher ideal, esta mulher modelo, olhando para seis características: o seu caráter  como uma esposa, a sua devoção como uma dona de casa, a sua generosidade como vizinha, a sua influência como uma professora, a efetividade dela uma mãe, e a sua excelência como uma santa.
Agora, este realmente é um documento muito importante na história judia.  Obviamente, está inspirado por Deus, mas inspirado por Deus de um modo sem igual que para você não é visível, e eu lhe contarei o que isso é.  Há 22 versos do 10 ao 31, e há 22 caracteres no alfabeto hebraico. Cada um destes versos começa em sequência com o próximo caráter no alfabeto hebraico, de forma que isto começa com Alef, Beth, Gimel, e assim sucessivamente, até completar alfabeto hebraico. A primeira citação de cada um destes provérbios, cada verso, está em sequência à próxima citação.  Por que?  Porque isto tinha em vista facilitar a sua memorização. Tornou-se um acróstico com uma fórmula para memorização fácil e retenção destas características, de forma que todo filho judeu jovem pudesse ser ensinado pela sua mãe a memorizar Provérbios 31:10-31, e assim ter na sua mente por quais critérios ele deveria medir a excelência de uma mulher.  Infelizmente, nós não temos aquele benefício em português, mas era um grande benefício para eles em hebraico. Não quanto ao conteúdo, mas quanto à facilidade de memorização. Este tipo de mulher, de acordo com capítulo 19, verso 14, é um presente de Deus.  Assim pressupõe oração, para que se pudesse achar uma tal mulher. Na realidade, diz o verso 10, "uma esposa excelente quem pode achar?". Indicando que isto não é algo para ser conseguido pela simples avaliação humana. É necessário a intervenção de Deus, para concretizar a aproximação. É necessário ser justo  sobre isto, porque não convém que se pense que este é um problema somente para os homens acharem uma tal mulher.  Também é um problema para as mulheres acharem um homem bom. Isto está declarado em Pv 20.6: “Quem pode achar um homem confiável?”. Assim o que vale para as mulheres vale também para os homens no que tange à dependerem de buscarem em Deus em oração o par ideal segundo os padrões de Deus.  É importante que se frise que o Senhor conhece os corações e Ele sabe perfeitamente que tipo de caráter cada vida produzirá. É maravilhoso ver o crescimento físico, mental e espiritual que o casal unido por Deus experimenta ao longo do curso de suas vidas.
Muito frequentemente quando uma seleção é feita de uma mulher ou uma esposa, é feita pelas razões erradas: olhares, educação, personalidade, gosto, realizações, estilo - em lugar de virtude, caráter, essas coisas que importam.  Mas esta mulher tem um valor que superior ao das jóias.  A palavra na verdade descreve pedras preciosas de qualquer tipo.  Algumas versões traduzem "rubis", algumas traduzem isto como "pérolas.". "Jóias" é a melhor tradução porque é uma palavra genérica para pedras preciosas. O  ponto nesta referência a jóias, está em que esta mulher é muito valiosa e não é fácil de ser achada. Na verdade, na maioria dos casos, esta mulher será construída por Deus.
1. O Caráter dela como uma esposa.
Encontramos o seu caráter como uma esposa no verso 11: “O coração do seu marido confia nela, e não haverá falta de ganho.”.  Precisamos entender que no mundo antigo as coisas eram um pouco diferentes, até mesmo no Judaísmo.  As mulheres não eram olhadas como Deus tinha planejado, porque eram vistas como um tipo de "segunda classe", e muito frequentemente os homens construíam amizades fortes com outros homens e mantinham as suas esposas somente como criadas.  Em alguns casos, nem mesmo mantinham uma devoção particular de intimidade com eles, eles tinham concubinas para os seus atos íntimos, e assim poderiam manter suas  esposas a uma certa distância. Por conseguinte nunca havia a devoção necessária entre os dois que criasse a confiança citada neste versículo, e nós lemos isso em alguns documentos antigos que registram que era  comum os maridos trancarem todas suas preciosidades quando eles viajavam, desconfiados de suas esposas.
Mas uma das primeiras coisas que nós lemos nesta passagem é que o marido não tem que trancar qualquer coisa, porque ele confia na sua esposa.  A confiança está bem fundada, porque ela não vai fazer qualquer coisa que prejudique o ganho pessoal dele.  Eu suponho que o equivalente hoje seria: “você tem que sair a negócios por duas semanas e deixa seu talão de cheques com sua esposa, ou deixa todos os cartões de crédito e sabe que ela fará um uso judicioso deles e não desperdiçará as finanças do casal.
Este versículo está falando sobre o fato de que há uma relação íntima construída em confiança completa.  O marido pode ir trabalhar, ele pode ir embora, ele pode fazer tudo o que ele precisa ver com confiança absoluta da integridade dela, da sabedoria dela, e da discrição dela no uso do seu dinheiro. O conforto dele é a preocupação dela; os fardos dele são também carregados por ela.  Ele está à vontade quando ausente, porque sabe que tudo o que ele tem está seguro com ela, porque ela o quer e ele sabe isso.  E amar significa que ela nunca faria qualquer coisa que lhe causasse tristeza, ou sofrimento, ou dor, ou angústia. Ele não está suspeitando, ele não está preocupado, ele não tem ciúmes, porque ela é absolutamente confiável - isso é um grande fundamento para um matrimônio.
"Ele não terá falta de ganho". Ele nunca terá que se tornar algum tipo de "soldado de fortuna" e ter que suprir sempre tudo o que ela perde.  Ele nunca vai ter que trair para ganhar um pouco mais para cobrir as perdas que ela está causando.  Ele não tem que ser tentado a roubar ou falsificar alguma conta em algum lugar, de forma que ele possa ressuprir o que ela desperdiçou negligentemente.  A propósito, isto indica, e eu penso que é uma coisa importante para mencionar, que ela toma conta dos assuntos domésticos; que ela toma conta de usar e responder pelos recursos da casa.  Ele voluntariamente trabalha para ele, enquanto sabe que ela será o mordomo de tudo isso.  Isso faz parte do "oikodespotes" (grego) quando diz em 1 Timóteo 5:14 e em Tito 2 "que a mulher deve ser a guardiã da casa".  Parte disso é a administração desses recursos que o marido sai para ganhar e prover -ela o ajuda a ganhar, não perder.  Ele tem bastante porque ela é dedicada ao cuidado dos seus salários, porque ela o ama, porque ela se preocupa com ele, porque ela busca o bem dele, e isso é o que está no verso 12: “Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida.”.
Esta mãe judia fala para o seu filho: Você quer uma mulher que sempre tem seus melhores interesses no coração dela; que sempre busca construir em você um homem melhor em todas as áreas, todos os dias da sua vida.  Todos os dias da sua vida ela dedica ao bem do seu marido. Em tempos bons, e em tempos ruins, em tempos de abundância, e em tempos de escassez, tempos de tristeza, tempos de felicidade, tempos de enfermidades; e em tempos de saúde -o amor dela agora e sempre será  dedicado aos sucessos do seu marido. Ela busca em oração a edificação do seu lar e nunca negligencia nisto.  Ela busca o que é melhor e mais nobre para o homem que é o seu marido.  Ela o serve como Sara serviu Abraão, de acordo com I Pedro 3:6, e o chamava de senhor.  Ela está compromissada com ele. Ela revela a sua virtude através do seu serviço consistente ao lado dele. O amor dela é tão profundo, tem uma pureza e um poder, e uma devoção que nunca muda em todos os dias da sua vida. Os sucessos dele, o conforto dele, a reputação dele, a alegria dele é a delícia dela. Viver para ele é a felicidade constante dela.  E uma nota de rodapé neste momento porque isso significa que quando for necessário, porque o bem mais alto dele é o maior desejo dela, ela confrontará o pecado dele e a fraqueza dele.  E amorosamente ela agirá como se fosse a consciência dele, ela necessariamente será a voz de Deus -nunca indelicada, arrogante, mas sempre submissa, e ansiosa de estar segura de que ele caminha com Deus.  Ela é interessada em confrontar o pecado dele e o fracasso dele.  Isso é parte de desejar que ele seja tudo o que ele deveria ser, segundo a vontade de Deus.  A propósito, isso é a essência do que se lê em Tito 2:4, quando diz que as mulheres jovens devem amar os seus maridos. Não significa algum tipo de emoção. Significa quando você amar alguém, você busca o melhor interesse dele. Você busca que ele seja o homem que Deus gostaria que ele fosse, que ele seja tanto quanto possa ser espiritualmente e até mesmo profissionalmente – em todos os sentidos. Você busca que ele seja  melhor pai, melhor amigo, melhor trabalhador; e assim por diante.
No verso 23 se lê que o “Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra.”. O ponto é que ele é conhecido como o marido dela e a reputação dele é de longe conhecida e largamente.  Ele é conhecido por todo mundo. O texto se refere ao fato que ocorria na antiguidade, quando os portões das cidades tinham uma área onde os anciões se juntavam diariamente, para decidirem sobre os assuntos que deveriam ser julgados na cidade, e funcionavam como um tipo de tribunal aberto onde eram feitas audições. Os anciões da cidade, os homens maduros da cidade sentavam naquele lugar e faziam o julgamento. E a grande reputação que este homem tinha entre os líderes da cidade era basicamente uma reputação construída pela sua esposa. Ela é tão fiel aos seus deveres como esposa, como ser a ajudadora tencionada por Deus em construir o caráter do seu marido, que ele chega a ser o que ele é, um homem com uma tremenda reputação. Aquela reputação é sustentada por ela, porque ela está fazendo tudo para que ele seja o que deveria ser. Ela está contribuindo ao desenvolvimento espiritual dele; ela está contribuindo à clareza com que ele vê os assuntos da vida; ela está lhe concedendo a sabedoria que ela ganha do conhecimento de Deus e o conhecimento da Palavra de Deus. Ela o serve, ela quer as coisas funcionando conforme a vontade do Senhor. Assim ele é conhecido como um homem de grande nobreza e grande respeito, por causa das contribuições que ela fez abnegadamente a ele. Ela não ganha nada demolindo a reputação do seu marido, absolutamente nada. Assim, ela se põe sempre a construí-la e melhorá-la. Se as pessoas diminuírem o respeito por ele, então elas diminuíram o respeito por ela, em primeiro lugar, porque ela fala mal do marido dela; e em segundo lugar porque ele escolheu alguém inadequada para ajudá-lo a se tornar tudo o que ele deveria ser. Ele não teve ao seu lado uma auxiliadora idônea. Mas, esta mulher tem caráter como uma esposa, tanto caráter que o seu marido confia totalmente nela na administração cuidadosa de tudo o que é precioso e importante à família.
2. A Devoção dela como uma dona de casa.
Em segundo lugar, a devoção dela como dona de casa. Isto é bastante notável. Imediatamente no verso 13 lemos: “Busca lã e linho, e de bom grado trabalha com as mãos.”. Vivian Gorneck, (você não a conhece, mas ela ensina feminismo na Universidade de Illinois), diz, que "ser uma dona de casa é uma profissão ilegítima.";  Eu sempre pensei que ser uma prostituta era uma profissão ilegítima!  Mas nos nossos dia, ser uma dona de casa, como ordena Deus na Bíblia é uma profissão ilegítima, e ser uma prostituta é uma profissão aprovada. Francamente, o mais cruel e mais prejudicial molestamento sexual que acontece hoje é o molestamento sexual das feministas e os seus aliados governamentais contra o papel de maternidade e o papel da esposa dependente - isso que é real molestamento sexual com resultados devastadores.  Mas na ordem de Deus esta mulher é dedicada para a casa.  Ela é a regra da casa.  Ela administra a casa, e a devoção dela é notável, realmente notável.  O verso 13 nos fala que ela está envolvida fazendo linha de lã e linho. E eu penso que é interessante notar a transição entre o verso 12 e 13. O Verso 12 é um bonito verso espiritual; ela está sendo a consciência do seu marido, ela está lhe fazendo bem e nunca mal.  Todos os dias da vida dela ela está dedicada a ele para que ele seja tudo o que deve ser.  Ela busca o benefício espiritual dele.  Ela quer confortá-lo, e encorajá-lo, e o fortalece. Ainda, a submissão dela e as suas virtudes religiosas não a tornam em algum tipo de monge espiritual, algum tipo de  "mulher religiosa" que finge aquela irresponsabilidade e preguiça que é “profundamente espiritual”, enquanto ela evita os deveres da casa.  Ela não está bastante pronta para se tornar um teólogo residente e fazer nada mais do que passar seu tempo em estudo. Imediatamente depois da liderança espiritual do verso doze, nós a achamos usando as suas mãos no verso 13.  Não há nenhum lugar na sua vida para auto-indulgência; nenhum lugar para preguiça; nenhum lugar para inatividade, ela está cheio de energia nos deveres da casa. O que a casa requereu foi isso o que ela fez.  Ela procura linho e lã.  Por que?  Porque ela tem que comprar o produto nu, o linho e lã, e então ela tem que girar isto em linha, e então ela tem que tecer isto em um tear, e então uma vez é transformado em tecido ela tem que cortá-lo e fazer os artigos de vestuário com isto. Lã por causa do frio do inverno.  Linho, por causa dos dias quentes. O linho era usado no verão e a lã era usada no inverno.  A agulha e o fuso serviram à família, e ela trabalhou com as suas mãos de bom grado, com alegria.
Não há nenhuma reclamação sobre isto. Ela acha alegria neste trabalho.  Por que?  Porque ela ama as pessoas para as quais ela faz isto. É o amor dela que a dirige. A versão Siríaca diz isto: “as mãos dela buscam ativas o prazer do seu coração". Não é duro para ela fazer estas coisas, não é algo que a desgosta. Por causa da devoção profunda ao seu marido e filhos, ela se nega de boa vontade e assume a mais servil das tarefas com o maior  prazer.
No verso 14 lemos: “E como o navio mercante, de longe traz o seu pão.”. Alguns de vocês estão dizendo: "Bem, essa é a minha esposa.  Ela acha estes cupons e dirige 30 milhas para adquirir uma pechincha em suco de laranja! Ela caminhou distâncias muito tempo para achar algo que a família dela desfrutaria. Ela é como um navio mercante, ela tem que caminhar muito para achar comida barata para sua família, para fazer economia, e faz isto com prazer e boa vontade por estar provendo isto para a sua família. Ela acha sua satisfação completa na alegria de servir. Ela está comprometida, você vê, em planejamento, administração cuidadosa, mas não é simplista, não é só pão e água; há pequenas coisas que ela considera para tornar isto rico e agradável, até mesmo se ela tem que ir longe para adquirir isto.
O verso 15 diz mais sobre a devoção dela como uma dona de casa: “É ainda noite, e já se levanta, e dá mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas.”. Um abajur sempre estava iluminando antigamente, em casas orientais, e era dever da esposa mantê-lo aceso. Antes de amanhecer, à luz do abajur, ela moía o milho para as refeições do dia seguinte, de modo que tudo estivesse preparado para o seu marido, filhos e para os demais da casa.
Ela tinha algumas meninas jovens que trabalhavam para ela - este é um quadro típico de uma propriedade grande – lembre-se que esta mãe está falando com o filho dela que será um rei, e assim há os criados lá.  Mas esta mulher, embora ela fosse uma rainha não é indolente ou preguiçosa - ela trabalha; e a palavra “reparte", ou “dá tarefa”, na Septuaginta, é “erga” no grego, que significa "trabalho".  Quer dizer que ela administra todas as tarefas que as moças deveriam fazer durante o dia. Assim ela se levanta literalmente pela manhã para planejar as atividades do dia, prepara a comida do dia, distribui as tarefas a todas as moças que vão ajudá-la.  Ela realmente administra a casa.  Ela também é empresarial.  Olhe no verso 16: “Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma vinha com as rendas do seu trabalho.”. Note isto, ela sabe que o campo está à venda e ela reflete nisto.  Ela avalia o preço e o valor do campo e o benefício que poderia trazer à família dela, e ela decide que é uma coisa apropriada para fazer--note a independência disto.  Ela considera isto, ela reflete isto, e ela faz a compra.  Você diz, bem onde ela adquire este dinheiro?  Ela não vive dos recursos do seu marido ? Não, esta é uma senhora muito empreendedora.  Ela compra o campo dos seus salários, e então ela tem bastante para plantar um vinhedo nele. Ela decide que este seria um grande campo para plantar uvas e que isso beneficiaria bem a sua casa. Bem, onde ela adquiriu este  dinheiro?  Vemos isto no verso 24. Ela tinha um pequeno empreendimento.   Esta é uma senhora empresarial, e o que ela está fazendo, de acordo com verso 24, são artigos de vestuário de linho e os está vendendo, e cintas para os mercadores. E à medida que ela vendia, ela ia juntando e economizando, até ter  dinheiro suficiente para comprar um campo e plantar nele uma vinha. Que certamente também serviria para aumentar os rendimentos da família. Ela faz investimentos sábios. É maravilhoso quando uma mulher for empreendedora e se ela tem o tempo e a inclinação e os talentos e habilidades para fazer coisas na casa que pode beneficiar a família-isso é uma coisa maravilhosa. Agora, a coisa triste é quando uma mulher decide que ela vai ir ter uma carreira às custas da família, às custas dos filhos, às custas do marido e da casa.
O verso 17 nos conta um pouco mais sobre esta mulher: “Cinge os seus lombos de força, e fortalece os seus braços.”. Isto não significa que ela foi para uma academia de ginástica. Isto quer dizer que ela não é madame deslumbrada e ociosa na vaidade. Ela é forte, e o que a faz forte é o seu esforço nas tarefas diárias. Olhe agora o verso 19: “Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca.”. Ela pode fazer aquele trabalho de mão.  Ela pode trabalhar com as suas mãos, fazendo até cobertas para ela (verso 24).  Então lemos no verso 18: “Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada não se apaga de noite.”. O que significa que "ela sente que o ganho dela é bom"? Que tudo deste esforço e bondade produtora é para a família.  Ela vê que o que ela faz é benéfico para todo o mundo e ela vive para eles.  Ela está incentivada pela bondade daquele esforço, a bondade para todo o mundo ao redor dela.  Ela é incitada -não através da auto-realização, ela é incitada pela bondade inerente do que ela está fazendo nas vidas de todo o mundo que ela ama. Para realizar tudo aquilo que está no coração dela, o seu abajur não é apagado à noite.".  Isto é notável. Ela acha trabalho durante as horas de escuridão, e você teria que fazer um tipo especial de trabalho.  Seria difícil de fazer trabalho de costura antigamente sem lâmpadas incandescentes, para a luz de um abajur de óleo.  Seria difícil ficar aquecido à noite durante o inverno, porque o único modo que você poderia esquentar o interior do quarto seria com uma panela de carvão no meio do quarto (que é o que eles faziam).
Lemos no verso 21: “No tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate.”. É interessante que eles são escarlate; ela os tinge com fundo vermelho.  Por que?  Artigos de vestuário de lã, com fundo vermelho reteriam mais calor. Tais artigos de vestuário eram dignos; eles eram bonitos; eles foram bem feitos; eles eram funcionais, mas eles eram vermelhos de forma que eles poderiam ter um pouco de beleza.  Ela não se preocupou com as coisas básicas -ela se preocupou com o prazer da família dela. No verso 22, “faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de púrpura.”. O que significa que "ela faz cobertas para ela"? poderia recorrer a um casaco, um capote, um mantô, algum tipo de envoltura; também pode recorrer a travesseiros, mantas, ou cobertas de cama.  Ela fez cobertas para ela.  A implicação aqui é que ela arrumava a cama dela de forma bonita.  A prostituta fazia isso para seduzir o homem; aqui é a mulher piedosa fazendo da cama um lugar de encanto e conforto.  Ela adorna as camas da sua casa, para ela e para sua família - para conforto e para beleza. E então, a roupa dela é de linho fino e de púrpura. Isto significa que a sua vida não era um fardo para ela. Ela era requintada apesar de todo o trabalho de sua vida empreendedora que a levava mesmo a virar as noites se dedicando a trabalhar em favor de sua família. Nada é desgastante para ela porque esta mulher aprecia a beleza que Deus lhe deu.  Ela aprecia o fato que o seu marido se alegra na sua beleza e a desfruta.  Assim, ela tem muito cuidado e ela tem certeza que a roupa dela deve ser elegante. Esta mulher cuida da sua aparência pessoal, não é descuidada. E ela faz isto para o seu marido.
Esta é uma senhora maravilhosa.  O caráter dela como uma esposa: singular; a devoção dela como uma dona de casa: exemplar.
3. A generosidade dela como um vizinho.
Em terceiro lugar, a generosidade dela como um vizinho, que vemos no verso 20: “Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado.”. Não é que eles vêm a ela, pois é ela que vai até eles. Ela não só demonstra uma devoção especial para a casa dela, mas compaixão para esses não são afortunados o bastante para estar na sua casa. Ela demonstra compaixão para com o pobre e o infeliz que têm necessidades. Quando diz que ela estende a mão dela para o pobre, significa ela está envolvida na vida deles; ela provê o que eles precisam - talvez fosse comida, talvez fosse dinheiro, talvez roupa. Ela estende as suas mãos para o necessitado. Ela procura as pessoas em necessidade para ajudá-las. Ela é uma mulher totalmente abnegada.
4. A influência dela como uma professora
A influência dela como uma mestra é vista nos versos 25 e 26: “A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações. Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua.”. O verso 25 apresenta a plataforma para o ensino dela: “A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações.”. A base do se ensino está fundamentada no seu testemunho de vida. Porque ela está vestida no seu interior de força e dignidade diante de Deus, que lhe traz a paz de espírito que a faz descansar com fé no Senhor, confiada no seu trabalho e no cuidado de Deus, de modo que não fica ansiosa com o amanhã. Ela é prudente, econômica, sábia, empreendedora, e este é o seu melhor ensino. A sua própria vida. O que significa aquela palavra "dignidade?" Recorre ao fato de que ela está elevada acima das coisas triviais da terra. A vida dela não gira em torno de coisas supérfluas e que não têm real importância. Ela tem verdadeira classe, verdadeira virtude. Ela tem caráter religioso.  Ela é espiritualmente forte e se elevou aos assuntos mais nobres. E ela tem o poder do verdadeiro caráter, o que é expressado no fato de que ela sorri ao futuro.  Ela não tem nenhum medo.  Por que?  Porque ela sabe que a vida dela está certa com Deus, e isso afiança a bênção dele no futuro. Você não deveria temer o futuro, você não deveria se preocupar sobre o futuro.  Se sua vida for certa com Deus, a promessa de Deus está sobre você.  Ela sabe que a vida dela está certa. Ela é fiel, ela é pura, e então ela pode se encantar em o que está à frente. Aqueles que temem o futuro são aqueles que sofrem culpa no presente. Se você está sobrecarregado pelo peso do seu próprio pecado e deslealdade, então você tem toda razão em temer o futuro, porque a Bíblia promete castigo. Esta mulher, por causa da virtude da sua vida, pode sorrir ao futuro e pode conhecer a promessa de Deus para abençoar. Assim, baseada em força espiritual, e baseada em virtude, e tendo elevado os pensamentos dela acima das coisas comuns, coisas mundanas, coisas triviais, coisas terrenas lemos no verso 26 que ela "fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua.”, e ela tem credibilidade por causa da sua vida, que está conforme com aquilo que ela ensina. E o que é que ela ensina ? A bondade.  A sua sabedoria vem com bondade. Ela guia a vida diária da sua família, incluindo o seu marido, com palavras de sabedoria da lei de Deus. Provérbios 1:8 diz a um homem jovem que siga a lei da sua mãe. O peso do ensino de uma mulher está na sua própria casa. A lei de Deus é lei de bondade. Assim ela ensina a lei de Deus para a sua família -com graça. Com fala agradável, amável, sábia. Esta é a mulher nobre, excelente.
5. A bem-aventurança dela como mãe.
Nós a vimos como uma esposa, como dona de casa, como vizinha e como professora. Por quinto, a veremos como mãe, a bem-aventurança dela como uma mãe. No verso 27 lemos: “Atende ao bom andamento da sua casa, e não come o pão da preguiça.”. E por causa daquela devoção para a casa dela,  que ela não é preguiçosa, mas ela dá a sua vida por eles, e no verso 28 vemos que os seus filhos e marido se levantam e a elogiam. Seus filhos a chamam de ditosa, e seu marido diz que muitas mulheres procedem virtuosamente, mas ela a todas sobrepuja. Há a recompensa. Ela exerce, de acordo com verso 27, vigilância cuidadosa sobre tudo.
Ela administra seus filhos; ela administra a casa; ela não é preguiçosa; ela não está comendo o produto de preguiça, mas o pão de amar o trabalho duro. E então a real satisfação vem a ela; vem das pessoas que ela mais ama. Ela deu tudo a eles e o que volta a ela? Eles se levantam e a abençoam e eles a elogiam. Eles literalmente a reverenciam, eles a honram, eles a têm em alta estima, e até mesmo o marido dela, porque ela pôs de lado o próprio conforto dela em prol do dele - ela recebe dele a bênção suprema. Afinal de contas os anos de vida, ele a ama mais que ele alguma vez a amou, porque ele entende o caráter dela agora melhor que ele já entendeu antes. É tão óbvio que quando você se casa com alguém, no princípio há muitas atrações químicas e algumas atrações sociais, e algumas outras coisas que o atraem, mas você não tem ainda como avaliar o caráter de alguém. Mas à medida que ela amadurece, que os filhos crescem, eles a apreciarão cada vez mais, e também o seu marido, por causa do sacrifício dela; e ela será honrada por eles porque está vivendo segundo a vontade de Deus para ela. Ela está na verdade não somente servindo ao seu lar, mas sobretudo ao Senhor, por isso faz todas as coisas com amor e como se as estivesse fazendo não para homens mas para o próprio Senhor.
6.  A excelência dela como uma santa.
Isto vemos nos versos 30 e 31: “Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e de público a louvarão as suas obras.”.

Assim, a mãe de Lemuel diz, "Ache uma mulher que teme o Senhor, nisso está o princípio da sabedoria.".  Ela será louvada; dai-lhe do fruto das suas mãos, e de público a louvarão as suas obras.”. O que são os produtos das mãos dela?  Todo o bem que ela fez a outros; voltará agora a ela.  Todo o sacrifício será dela pelo o resto da sua vida. Tudo o que ela fez em privado voltará em público como eles a elogiam nos portões, no meio da cidade. Ela será famosa pela sua feminilidade religiosa -isso é a recompensa dela.

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