segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Salmo 1 a 100

Salmo 1

Este Salmo ensina que aqueles que amam a Deus e à Sua Palavra, não devem praticar as mesmas obras que costumam praticar aqueles que vivem na impiedade.
Estes que se guardam das obras das trevas e que se santificam ao Senhor, darão no tempo oportuno, o fruto espiritual esperado por Deus, porque o caminho dos que andam na justiça evangélica é caminho de vida, que conduz à glória eterna, mas o caminho dos ímpios é caminho de morte que os conduzirá à morte eterna, porque estes se recusam a vir para a luz de Jesus para serem justificados e salvos.

“Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa.  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos.  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.”



Salmo 2

Este Salmo se refere a Jesus como o Messias e o Rei de Israel que há de reger sobre todas as nações da terra.
Mas, que na formação gradual do Seu reino, pela obtenção de súditos santos, através do trabalho da Igreja, há uma resistência dos povos e dos reis da terra, conforme havia sido determinado pelo conselho eterno de Deus, que o reino do Seu Filho seja estabelecido em meio a resistências e oposições, para que o Seu nome seja glorificado.
Há uma referência a este Salmo em Atos 4.26.
Todavia, como o Messias é um Rei bom e justo, bem fará todo aquele que em vez de persegui-lo, se juntar a Ele, porque aqueles que se Lhe opuserem permanecerão debaixo da ira de Deus, por causa do pecado não perdoado deles, o qual só pode ser expiado pela fé em Jesus Cristo, por causa do sangue que Ele derramou por nós na cruz.




“Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:  Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.  Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.  Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.  Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião.  Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.  Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.  Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro.  Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.  Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.  Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.”


Salmo 3

Salmo de Davi, quando fugia de Absalão

Neste Salmo Davi expressa a sua completa confiança no Senhor, e recebeu dEle paz e força de espírito para não temer a nenhum dos milhares de inimigos que se levantaram contra ele em todo Israel, por causa da conspiração de seu próprio filho Absalão. Ele pede ao Senhor proteção contra os ímpios que se levantaram contra Ele para o matar, mas ao mesmo tempo pede que Deus destruísse os ímpios que intentavam contra a sua vida.

“SENHOR, como tem crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam contra mim. São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele.  Porém tu, SENHOR, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça.  Com a minha voz clamo ao SENHOR, e ele do seu santo monte me responde. Deito-me e pego no sono; acordo, porque o SENHOR me sustenta. Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados. Levanta-te, SENHOR! Salva-me, Deus meu, pois feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras os dentes. Do SENHOR é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção.”


Salmo 4

Salmo de Davi

“Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração.  Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? Sabei, porém, que o SENHOR distingue para si o piedoso; o SENHOR me ouve quando eu clamo por ele.  Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai. Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no SENHOR. Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem? SENHOR, levanta sobre nós a luz do teu rosto. Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho. Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro.”

Comentário:

Neste Salmo Davi expressa a repulsa da sua alma pela atitude daqueles que amam a vaidade e buscam a mentira, e que se gloriavam nisto, contra a sua piedade e devoção sincera que eles viam que ele tinha pelo Senhor. Ele os concita a se converterem, porque possivelmente se tratava de pessoas da sua própria corte, e lhes concita a orarem ao Senhor, tal com ele fazia, porque em resposta às suas orações Deus sempre o livrava da angústia, e lhe dava paz para dormir sossegado, com uma boa consciência, enquanto os ímpios não conseguiam discernir que o Senhor distingue para si o piedoso que lhe oferece sacrifícios de justiça e que confia somente nEle. Davi sabia que não há nenhum verdadeiro bem fora do Senhor, enquanto os incrédulos buscam se alegrar com a prosperidade especialmente de comida e de bebida. Mas a alegria de Davi era muito maior do que a deles porque não consistia nisto, porque era uma alegria espiritual resultante da sua comunhão com o Senhor.



Salmo 5

Salmo de Davi

“Dá ouvidos, SENHOR, às minhas palavras e acode ao meu gemido.  Escuta, Rei meu e Deus meu, a minha voz que clama, pois a ti é que imploro.  De manhã, SENHOR, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando. Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal. Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam a iniquidade. Tu destróis os que proferem mentira; o SENHOR abomina ao sanguinário e ao fraudulento;  porém eu, pela riqueza da tua misericórdia, entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor.  SENHOR, guia-me na tua justiça, por causa dos meus adversários; endireita diante de mim o teu caminho;  pois não têm eles sinceridade nos seus lábios; o seu íntimo é todo crimes; a sua garganta é sepulcro aberto, e com a língua lisonjeiam.  Declara-os culpados, ó Deus; caiam por seus próprios planos. Rejeita-os por causa de suas muitas transgressões, pois se rebelaram contra ti.  Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome.  Pois tu, SENHOR, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência.”

Comentário:

Davi sabia que a proteção e a bênção do Senhor era exclusiva para os justos (os que são justificados pela fé, e que são impelidos pelo Espírito Santo, à prática da justiça do evangelho). Ele sabia que suas orações eram ouvidas por causa da misericórdia do Senhor, mas sabia também que esta misericórdia não seria eficaz caso se vivesse na prática da iniquidade. Davi pedia ao Senhor que o guiasse na justiça e que endireitasse os seus caminhos, para que pudesse prevalecer contra os seus muitos inimigos. Ele estava convicto que o Senhor destrói os arrogantes e os que praticam a mentira, assim como abomina ao sanguinário e ao fraudulento.  Ele sabia que não há sinceridade nos lábios do ímpios e que só há crimes no íntimo deles, e a garganta deles é como sepulcro quando lisonjeiam, pois sabia discernir as más intenções daqueles que o bajulavam pois era rei em Israel. Somente ser prudente diante deles não bastaria, por isso ele clama pela proteção de Deus neste salmo.


Salmo 6

Salmo de Davi

Se houve um homem neste mundo que soube o que é ter inimigos por causa do seu amor a Deus e à verdade, este homem foi Davi.
Tal era a perseguição que empreendiam contra a sua alma santa e justa, e não apenas Saul, que ele expressa neste salmo toda a grande perturbação em que a sua alma se encontrava a ponto de ter forças somente para chorar, e por isso pediu ao Senhor que não o repreendesse na Sua ira, e que nem o castigasse no Seu furor, por estar daquela maneira, e não alegre e forte na Sua presença.
Então pediu ao Senhor que tivesse misericórdia dele, porque se sentia enfraquecido, e que o curasse, e que livrasse a sua alma da angústia, por meio da Sua graça.
Deus ouviu o seu lamento e o fortaleceu a ponto dele ter repulsado todos os que praticavam a iniquidade, porque o Senhor ouviu o seu lamento, e sabia de que em vez de ser oprimido por seus inimigos como estava se sentindo até então, percebeu que eles seriam envergonhados, perturbados e cobertos de vexame pelo Senhor, em atendimento à sua causa.




”SENHOR, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor. Tem compaixão de mim, SENHOR, porque eu me sinto debilitado; sara-me, SENHOR, porque os meus ossos estão abalados. Também a minha alma está profundamente perturbada; mas tu, SENHOR, até quando? Volta-te, SENHOR, e livra a minha alma; salva-me por tua graça.  Pois, na morte, não há recordação de ti; no sepulcro, quem te dará louvor? Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago. Meus olhos, de mágoa, se acham amortecidos, envelhecem por causa de todos os meus adversários.  Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o SENHOR ouviu a voz do meu lamento; o SENHOR ouviu a minha súplica; o SENHOR acolhe a minha oração.  Envergonhem-se e sejam sobremodo perturbados todos os meus inimigos; retirem-se, de súbito, cobertos de vexame.”


Salmo 7

Salmo de Davi

Davi sabia que um Deus justo só pode ser servido de uma única maneira, a saber, andando nós também em justiça.
Este é o único modo de se contar com a sua salvação e livramentos.
Davi dá o seu próprio exemplo de retidão neste salmo, inclusive poupando a vida daqueles que o oprimiam, por causa do seu temor da justiça do Senhor, que nos impõe um caminhar em retidão em Sua presença.
Tão certo estava Davi, pelo Espírito, do seu modo digno de viver diante do Senhor, que sempre buscava refúgio nEle, para ser salvo de todos os que lhe perseguiam com a fúria do leão, para destruí-lo.
Davi renderia graças e cantaria louvores ao grande nome do Senhor porque sabia que Ele tem uma contenda com os que permanecem na prática da impiedade.


“SENHOR, Deus meu, em ti me refugio; salva-me de todos os que me perseguem e livra-me;  para que ninguém, como leão, me arrebate, despedaçando-me, não havendo quem me livre.  SENHOR, meu Deus, se eu fiz o de que me culpam, se nas minhas mãos há iniquidade,  se paguei com o mal a quem estava em paz comigo, eu, que poupei aquele que sem razão me oprimia,  persiga o inimigo a minha alma e alcance-a, espezinhe no chão a minha vida e arraste no pó a minha glória. Levanta-te, SENHOR, na tua indignação, mostra a tua grandeza contra a fúria dos meus adversários e desperta-te em meu favor, segundo o juízo que designaste. Reúnam-se ao redor de ti os povos, e por sobre eles remonta-te às alturas.  O SENHOR julga os povos; julga-me, SENHOR, segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim. Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas a mente e o coração, ó justo Deus.  Deus é o meu escudo; ele salva os retos de coração. Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias.  Se o homem não se converter, afiará Deus a sua espada; já armou o arco, tem-no pronto; para ele preparou já instrumentos de morte, preparou suas setas inflamadas. Eis que o ímpio está com dores de iniquidade; concebeu a malícia e dá à luz a mentira. Abre, e aprofunda uma cova, e cai nesse mesmo poço que faz. A sua malícia lhe recai sobre a cabeça, e sobre a própria mioleira desce a sua violência. Eu, porém, renderei graças ao SENHOR, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do SENHOR Altíssimo.”


Salmo 8

Salmo de Davi

Trechos deste salmo são citados em várias passagens do Novo Testamento.
Nele Davi exalta o Senhor pela majestade e maravilha do Seu nome, que podem ser vistas na própria criação.
A ponto de crianças de peito o louvarem na presença de seus inimigos deixando-os emudecidos.
Deus fez o universo com uma imensidão insondável para que o homem, que é dado a se elevar, se lembre que não tem motivo algum para pretender se comparar com o Deus que é infinitamente grande e majestoso.




“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.  Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador. Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,  que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:  ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;  as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.  Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!”



Salmo 9

Salmo de Davi

Davi havia vencido muitas guerras. Havia subjugado muitas nações ímpias, inimigas de Israel. Todavia, ele reconhece que todas aquelas vitórias foram, não propriamente suas, mas do Senhor. E ao mesmo tempo reconhece que Ele não é Deus sanguinário, que se agrade da violência e da injustiça. De maneira que foi com justiça  e equidade que Davi empreendeu todas as guerras em que teve que se empenhar. Quão diferentemente disto costumam agir todos os demais governantes da terra, que se esquecem do Senhor, da justiça e da benignidade, e que usam da impiedade nas guerras para o aumento da glória do próprio nome deles.



“Louvar-te-ei, SENHOR, de todo o meu coração; contarei todas as tuas maravilhas.  Alegrar-me-ei e exultarei em ti; ao teu nome, ó Altíssimo, eu cantarei louvores. Pois, ao retrocederem os meus inimigos, tropeçam e somem-se da tua presença;  porque sustentas o meu direito e a minha causa; no trono te assentas e julgas retamente. Repreendes as nações, destróis o ímpio e para todo o sempre lhes apagas o nome. Quanto aos inimigos, estão consumados, suas ruínas são perpétuas, arrasaste as suas cidades; até a sua memória pereceu. Mas o SENHOR permanece no seu trono eternamente, trono que erigiu para julgar. Ele mesmo julga o mundo com justiça; administra os povos com retidão.  O SENHOR é também alto refúgio para o oprimido, refúgio nas horas de tribulação. Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, SENHOR, não desamparas os que te buscam.  Cantai louvores ao SENHOR, que habita em Sião; proclamai entre os povos os seus feitos.  Pois aquele que requer o sangue lembra-se deles e não se esquece do clamor dos aflitos.  Compadece-te de mim, SENHOR; vê a que sofrimentos me reduziram os que me odeiam, tu que me levantas das portas da morte;  para que, às portas da filha de Sião, eu proclame todos os teus louvores e me regozije da tua salvação. Afundam-se as nações na cova que fizeram, no laço que esconderam, prendeu-se-lhes o pé. Faz-se conhecido o SENHOR, pelo juízo que executa; enlaçado está o ímpio nas obras de suas próprias mãos. Os perversos serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus. Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente. Levanta-te, SENHOR; não prevaleça o mortal. Sejam as nações julgadas na tua presença. Infunde-lhes, SENHOR, o medo; saibam as nações que não passam de mortais.”


Salmo 10

Este Salmo retrata fielmente qual é a condição real das relações que existem na terra, em qualquer nível de convivência, mas especialmente as de caráter governamental, empresarial, ou de todos aqueles que em qualquer escalão, detêm alguma forma de poder sobre outros, especialmente sobre os pobres e oprimidos. Estes, quando não pessoas piedosas, agem sem qualquer temor de Deus, porque não veem uma retribuição de castigo imediato de seus maus atos porque Deus não somente é longânimo como tem determinado um dia em que julgará tanto a vivos quanto a mortos. Então se sentem encorajados a prosseguirem em suas falsidades e maldades contra o próximo julgando que não há Deus, e até mesmo ridicularizando a pessoa de Deus, porque pensam que Ele não se importa com nada do que se faça de mal na terra.
O salmista clama então para que Deus manifeste a Sua justiça contra eles, especialmente contra a arrogância dos ímpios que urgem tramas, e que se gloriam na sua perversidade, e que acumulando bens e logrando prosperidade material se tornam avarentos e maldizem o Senhor e blasfemam contra Ele, porque sempre terão alguns dos Seus servos a lhes lembrar que o Senhor é juiz e que se vingará de todas estas coisas.
Contudo Deus é o defensor dos órfãos e quebranta a seu tempo o braço  do perverso e do malvado, e lhes esquadrinha a maldade até que ela não se ache mais sobre a terra. Porque é rei eterno, e diante dele as nações se dissolvem e já não mais são, quando exerce os Seus juízos contra a impiedade delas.
Isto ocorria de modo muito frequente com juízos de Deus nos dias do Velho Testamento, dos quais Davi fora testemunha, inclusive sendo usado por Deus muitas vezes para ser a sua espada de juízo contra as nações ímpias.
Ficou marcado portanto, de modo muito patente que Deus é Juiz, e há de se levantar depois do fechamento da presente dispensação da graça para julgar todas as pessoas que viveram impiamente. Deus não julga de modo imediato por causa da longanimidade que tem demonstrado para com todos em razão do evangelho, mas isto não significa que o juízo tem sido cancelado. Ele é apenas adiado.

“Por que, SENHOR, te conservas longe? E te escondes nas horas de tribulação? Com arrogância, os ímpios perseguem o pobre; sejam presas das tramas que urdiram.  Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele. O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações.  São prósperos os seus caminhos em todo tempo; muito acima e longe dele estão os teus juízos; quanto aos seus adversários, ele a todos ridiculariza. Pois diz lá no seu íntimo: Jamais serei abalado; de geração em geração, nenhum mal me sobrevirá.  A boca, ele a tem cheia de maldição, enganos e opressão; debaixo da língua, insulto e iniquidade.  Põe-se de tocaia nas vilas, trucida os inocentes nos lugares ocultos; seus olhos espreitam o desamparado.  Está ele de emboscada, como o leão na sua caverna; está de emboscada para enlaçar o pobre: apanha-o e, na sua rede, o enleia. Abaixa-se, rasteja; em seu poder, lhe caem os necessitados.  Diz ele, no seu íntimo: Deus se esqueceu, virou o rosto e não verá isto nunca. Levanta-te, SENHOR! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres. Por que razão despreza o ímpio a Deus, dizendo no seu íntimo que Deus não se importa? Tu, porém, o tens visto, porque atentas aos trabalhos e à dor, para que os possas tomar em tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor do órfão. Quebranta o braço do perverso e do malvado; esquadrinha-lhes a maldade, até nada mais achares. O SENHOR é rei eterno: da sua terra somem-se as nações.  Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás,  para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror.”

 

Salmo 11

Salmo de  Davi

Os salmistas, assim como Davi, por serem homens santos e justos, recebiam do Senhor a capacidade de discernirem o mal que há no mundo, especialmente nos corações das pessoas. Deus pode nos dar o dom de discernimento, pela Sua Palavra, e Espírito, de discernir não somente os pensamentos, como também as intenções dos corações das pessoas, sejam eles bons ou maus  (Hb 4.12). Por isso, enquanto os ímpios procuravam amedrontá-lo e ameaçá-lo, ele buscava refúgio no Senhor, com a firme certeza de que acharia segura proteção, porque não andava nos mesmos passos deles, e sabia que o Senhor se agrada de quem vive na prática da justiça, e é a cidadela forte dos tais, no dia da angústia, e não somente isto, permite-lhes que vejam a Sua face em espírito, a saber, que discirnam e sintam a Sua presença, mas, quanto aos perversos que amam a violência, os abomina e fará chover sobre eles brasas de fogo e enxofre e vento abrasador, pelo derramar dos Seus juízos sobre eles.



“No SENHOR me refugio. Como dizeis, pois, à minha alma: Foge, como pássaro, para o teu monte? Porque eis aí os ímpios, armam o arco, dispõem a sua flecha na corda, para, às ocultas, dispararem contra os retos de coração. Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo? O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. O SENHOR põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina.  Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será a parte do seu cálice.  Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face.”



Salmo 12

Salmo de Davi

Este Salmo é um retrato perfeito do mundo atual no qual a vileza tem sido exaltada pela sociedade corrompida em que vivemos, de maneira que os perversos andam por todos os lugares da terra, multiplicando-se mais e mais. Não admira que tão poucos estejam dispostos a dar ouvidos e a seguirem a sã doutrina, mesmo em igrejas fiéis. Eles se escandalizam com a verdade e com a chamada à santidade, e à crucificação do ego, porque amam somente a prosperidade, pela qual alimentam os prazeres de suas luxúrias carnais.  Não podem mais abrir mão disto porque é um vício que está terrivelmente apegado às suas almas. Então o que prevalece é o falar com falsidade, enganando-se mutuamente, para sobrepujarem o próximo em todas as coisas terrenas (fama, poder, dinheiro, posição etc). Usam de bajulação com um coração fingido para destruírem aqueles que eles invejam, e para galgarem “posições mais elevadas” à vista de outros, para alimentarem o seu orgulho e vaidade. Desconhecem o que seja submissão e obediência à autoridade, porque são senhores da própria vontade, e julgam que seja liberdade verdadeira abrir a boca para falarem o que bem desejam, ainda que seja para destruir a reputação do próximo. No entanto, o Senhor se levantará do Seu trono para julgar toda a opressão e todo o gemido que é produzido na terra por tais ímpios, que se recusam a se converter a Ele e à justiça. Mas salvará a todo aquele que suspira por isto.

“Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. Corte o SENHOR todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente,  pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?  Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira.  As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes. Sim, SENHOR, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre. Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada.”


Salmo 13

Salmo de Davi

Este Salmo é um retrato perfeito do mundo atual no qual a vileza tem sido exaltada pela sociedade corrompida em que vivemos, de maneira que os perversos andam por todos os lugares da terra, multiplicando-se mais e mais. Não admira que tão poucos estejam dispostos a dar ouvidos e a seguirem a sã doutrina, mesmo em igrejas fiéis. Eles se escandalizam com a verdade e com a chamada à santidade, e à crucificação do ego, porque amam somente a prosperidade, pela qual alimentam os prazeres de suas luxúrias carnais.  Não podem mais abrir mão disto porque é um vício que está terrivelmente apegado às suas almas. Então o que prevalece é o falar com falsidade, enganando-se mutuamente, para sobrepujarem o próximo em todas as coisas terrenas (fama, poder, dinheiro, posição etc). Usam de bajulação com um coração fingido para destruírem aqueles que eles invejam, e para galgarem “posições mais elevadas” à vista de outros, para alimentarem o seu orgulho e vaidade. Desconhecem o que seja submissão e obediência à autoridade, porque são senhores da própria vontade, e julgam que seja liberdade verdadeira abrir a boca para falarem o que bem desejam, ainda que seja para destruir a reputação do próximo. No entanto, o Senhor se levantará do Seu trono para julgar toda a opressão e todo o gemido que é produzido na terra por tais ímpios, que se recusam a se converter a Ele e à justiça. Mas salvará a todo aquele que suspira por isto.

“Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. Corte o SENHOR todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente,  pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?  Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira.  As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes. Sim, SENHOR, tu nos guardarás; desta geração nos livrarás para sempre. Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada.”


Salmo 14

Salmo de Davi

Davi aspira pela manifestação da glória futura de Israel junto com o Messias, quando o ímpio já não mais prevalecerá na terra. Quando não mais haverá insensatos para afirmarem que Deus não existe, por causa da corrupção deles e da prática das suas abominações, e não se dispõem à prática do bem. A tal ponto se multiplicou a iniquidade que não havia quem fizesse o bem e que invocasse o Senhor. Todos se extraviaram e se corromperam por causa da iniquidade que se multiplicou em seus corações. Todavia não serão tidos por inocentes na presença do Senhor, antes, serão tomados por grande pavor, porque Deus está somente do lado daqueles que foram justificados, porque buscaram graça nEle para viverem na prática da justiça. Estes ímpios que ridicularizam os conselhos dos humildes, porque se têm na conta de mais sábios e espertos do que eles, serão consumidos pelo Senhor, mas Ele será o refúgio destes humildes de coração que são desprezados na terra.


“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem.  Do céu olha o SENHOR para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus.  Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Acaso, não entendem todos os obreiros da iniquidade, que devoram o meu povo, como quem come pão, que não invocam o SENHOR? Tomar-se-ão de grande pavor, porque Deus está com a linhagem do justo. Meteis a ridículo o conselho dos humildes, mas o SENHOR é o seu refúgio.  Tomara de Sião viesse já a salvação de Israel! Quando o SENHOR restaurar a sorte do seu povo, então, exultará Jacó, e Israel se alegrará.”


Salmo 15

Salmo de Davi

“Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?  O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade;  o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho;  o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata;  o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.”

Comentário:

Este Salmo revela quão puro era o caráter de Davi, e por isso Deus se referiu a ele como sendo um homem que era segundo o Seu coração.
Aqui Davi, fala com certeza, no Espírito, qual é também o caráter de todos os demais que haverão de habitar na morada do santo monte do Senhor.
Não necessitamos repetir as qualificações que ele enumera no texto para não sermos repetitivos, porque são muito claras por si mesmas.


Davi não está dizendo que a justificação que dá a salvação da alma do pecador é obtida pela prática destas obras, mas que elas são a evidência de uma verdadeira salvação naqueles que as praticam de fato, porque estes jamais serão abalados, porque sabemos que foram justificados simplesmente pela sua fé em Cristo.  



Salmo 16

Salmo de Davi

“Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio.  Digo ao SENHOR: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente.  Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer.  Muitas serão as penas dos que trocam o SENHOR por outros deuses; não oferecerei as suas libações de sangue, e os meus lábios não pronunciarão o seu nome. O SENHOR é a porção da minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança. Bendigo o SENHOR, que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina. O SENHOR, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado. Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.”

Comentário:

Tal era a alegria de Davi em Deus, pela sua plena comunhão com Ele, e a sua confiança nEle, expressada neste salmo, para livrá-lo de toda sorte de perigos e tribulações, que lhe foi dado da parte do Senhor, por revelação, que este cuidado seria manifestado em relação a Jesus Cristo em Seus sofrimentos e morte, porque até mesmo do Seu corpo o Pai cuidaria, de maneira que não entrasse em decomposição.
É certo que o corpo do próprio Davi entrou em decomposição depois da sua morte, então não poderia estar falando de si mesmo, senão de um outro, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo.




Salmo 17

Salmo de Davi

Davi tinha um relacionamento pessoal e íntimo com Deus.
Ele amava ao Senhor com todas as forças da sua alma.
Ele não confiava apenas em Deus como alguém que poderia livrá-lo do poder dos seus inimigos, mas como quem era a razão de ser da sua própria vida e existência.
Davi não era devotado a Deus simplesmente porque o livrava dos seus muitos inimigos, mas sabia que era livrado deles, justamente porque era devotado ao Senhor.
E não permanecia devotado simplesmente pelo interesse de continuar sendo livrado, mas porque amava de fato ao Senhor de todo o seu coração, muito mais do que amava a si mesmo, conforme expressa nas palavras deste belo e profundo salmo.
Ele amou ao Senhor de tal maneira, demonstrando ter um amor sincero por Ele, porque Deus não o poupou de perseguições e de terríveis tribulações, a ponto de se sentir cercado por laços de morte, torrentes de impiedade que o aterrorizavam, cadeias infernais e tramas de morte que o surpreendiam.
Mas em tudo isto, ele nunca deixou de buscar socorro no Seu Deus, na certeza de que o encontraria, porque nunca viveu para desapontá-lo e nunca escondeu suas faltas dEle, antes as confessou e buscou um sincero arrependimento que o livrasse de todas elas.
Então sabia que podia contar com o favor deste Deus temível e santo.
Ele sabia que o Senhor salva o que é humilde na Sua presença e lhe concede graça, mas que abate aqueles que são de olhos altivos.
Que é o Senhor que acende a lâmpada que ilumina a nossa alma com alegria, e que expulsa todas as trevas do pecado.
Que tendo a Ele por companheiro, exércitos da impiedade são desbaratados, e fazemos proezas, conforme nos concede pela Sua graça.
Davi sabia que não há nenhum outro Deus senão somente o Senhor, e que Ele é um escudo impenetrável para todos aqueles que buscam refúgio nEle.
Somente Ele aperfeiçoa o caminho dos Seus santos para adestrá-los para o combate espiritual que têm que enfrentar contra as forças do mal.
Este Deus tremendo é poderoso para livrar aqueles que nEle confiam, não somente dos seus muitos inimigos, como também das insídias, das perfídias, das traições, das maquinações e tramas das pessoas ímpias.
E todos os justos reinarão sobre as nações juntamente com Cristo, por ocasião da sua segunda vinda.
Deus abateu nos dias de Davi, e também abaterá nos últimos dias todas as fortificações que os ímpios têm levantado neste mundo, para se sentirem seguros, enquanto continuam na prática da iniquidade, sejam elas de qual natureza for.
O Senhor tomará vingança contra as nações que andam na impiedade, e que não O temem e os Seus mandamentos.    



“Eu te amo, ó SENHOR, força minha.  O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte. Invoco o SENHOR, digno de ser louvado, e serei salvo dos meus inimigos. Laços de morte me cercaram, torrentes de impiedade me impuseram terror.  Cadeias infernais me cingiram, e tramas de morte me surpreenderam.  Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos.  Então, a terra se abalou e tremeu, vacilaram também os fundamentos dos montes e se estremeceram, porque ele se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e fogo devorador, da sua boca; dele saíram brasas ardentes.  Baixou ele os céus, e desceu, e teve sob os pés densa escuridão. Cavalgava um querubim e voou; sim, levado velozmente nas asas do vento. Das trevas fez um manto em que se ocultou; escuridade de águas e espessas nuvens dos céus eram o seu pavilhão. Do resplendor que diante dele havia, as densas nuvens se desfizeram em granizo e brasas chamejantes. Trovejou, então, o SENHOR, nos céus; o Altíssimo levantou a voz, e houve granizo e brasas de fogo. Despediu as suas setas e espalhou os meus inimigos, multiplicou os seus raios e os desbaratou.  Então, se viu o leito das águas, e se descobriram os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, SENHOR, pelo iroso resfolgar das tuas narinas.  Do alto me estendeu ele a mão e me tomou; tirou-me das muitas águas. Livrou-me de forte inimigo e dos que me aborreciam, pois eram mais poderosos do que eu.  Assaltaram-me no dia da minha calamidade, mas o SENHOR me serviu de amparo. Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque ele se agradou de mim. Retribuiu-me o SENHOR, segundo a minha justiça, recompensou-me conforme a pureza das minhas mãos.  Pois tenho guardado os caminhos do SENHOR e não me apartei perversamente do meu Deus.  Porque todos os seus juízos me estão presentes, e não afastei de mim os seus preceitos.  Também fui íntegro para com ele e me guardei da iniquidade.  Daí retribuir-me o SENHOR, segundo a minha justiça, conforme a pureza das minhas mãos, na sua presença.  Para com o benigno, benigno te mostras; com o íntegro, também íntegro.  Com o puro, puro te mostras; com o perverso, inflexível.  Porque tu salvas o povo humilde, mas os olhos altivos, tu os abates. Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas.  Pois contigo desbarato exércitos, com o meu Deus salto muralhas. O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam. Pois quem é Deus, senão o SENHOR? E quem é rochedo, senão o nosso Deus? O Deus que me revestiu de força e aperfeiçoou o meu caminho,  ele deu a meus pés a ligeireza das corças e me firmou nas minhas alturas.  Ele adestrou as minhas mãos para o combate, de sorte que os meus braços vergaram um arco de bronze. Também me deste o escudo da tua salvação, a tua direita me susteve, e a tua clemência me engrandeceu. Alargaste sob meus passos o caminho, e os meus pés não vacilaram.  Persegui os meus inimigos, e os alcancei, e só voltei depois de haver dado cabo deles.  Esmaguei-os a tal ponto, que não puderam levantar-se; caíram sob meus pés. Pois de força me cingiste para o combate e me submeteste os que se levantaram contra mim.  Também puseste em fuga os meus inimigos, e os que me odiaram, eu os exterminei.  Gritaram por socorro, mas ninguém lhes acudiu; clamaram ao SENHOR, mas ele não respondeu. Então, os reduzi a pó ao léu do vento, lancei-os fora como a lama das ruas.  Das contendas do povo me livraste e me fizeste cabeça das nações; povo que não conheci me serviu.  Bastou-lhe ouvir-me a voz, logo me obedeceu; os estrangeiros se me mostram submissos. Sumiram-se os estrangeiros e das suas fortificações saíram, espavoridos.  Vive o SENHOR, e bendita seja a minha rocha! Exaltado seja o Deus da minha salvação,  o Deus que por mim tomou vingança e me submeteu povos;  o Deus que me livrou dos meus inimigos; sim, tu que me exaltaste acima dos meus adversários e me livraste do homem violento. Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome.  É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre.”



Salmo 18

Salmo de Davi

Davi tinha um relacionamento pessoal e íntimo com Deus.
Ele amava ao Senhor com todas as forças da sua alma.
Ele não confiava apenas em Deus como alguém que poderia livrá-lo do poder dos seus inimigos, mas como quem era a razão de ser da sua própria vida e existência.
Davi não era devotado a Deus simplesmente porque o livrava dos seus muitos inimigos, mas sabia que era livrado deles, justamente porque era devotado ao Senhor.
E não permanecia devotado simplesmente pelo interesse de continuar sendo livrado, mas porque amava de fato ao Senhor de todo o seu coração, muito mais do que amava a si mesmo, conforme expressa nas palavras deste belo e profundo salmo.
Ele amou ao Senhor de tal maneira, demonstrando ter um amor sincero por Ele, porque Deus não o poupou de perseguições e de terríveis tribulações, a ponto de se sentir cercado por laços de morte, torrentes de impiedade que o aterrorizavam, cadeias infernais e tramas de morte que o surpreendiam.
Mas em tudo isto, ele nunca deixou de buscar socorro no Seu Deus, na certeza de que o encontraria, porque nunca viveu para desapontá-lo e nunca escondeu suas faltas dEle, antes as confessou e buscou um sincero arrependimento que o livrasse de todas elas.
Então sabia que podia contar com o favor deste Deus temível e santo.
Ele sabia que o Senhor salva o que é humilde na Sua presença e lhe concede graça, mas que abate aqueles que são de olhos altivos.
Que é o Senhor que acende a lâmpada que ilumina a nossa alma com alegria, e que expulsa todas as trevas do pecado.
Que tendo a Ele por companheiro, exércitos da impiedade são desbaratados, e fazemos proezas, conforme nos concede pela Sua graça.
Davi sabia que não há nenhum outro Deus senão somente o Senhor, e que Ele é um escudo impenetrável para todos aqueles que buscam refúgio nEle.
Somente Ele aperfeiçoa o caminho dos Seus santos para adestrá-los para o combate espiritual que têm que enfrentar contra as forças do mal.
Este Deus tremendo é poderoso para livrar aqueles que nEle confiam, não somente dos seus muitos inimigos, como também das insídias, das perfídias, das traições, das maquinações e tramas das pessoas ímpias.
E todos os justos reinarão sobre as nações juntamente com Cristo, por ocasião da sua segunda vinda.
Deus abateu nos dias de Davi, e também abaterá nos últimos dias todas as fortificações que os ímpios têm levantado neste mundo, para se sentirem seguros, enquanto continuam na prática da iniquidade, sejam elas de qual natureza for.
O Senhor tomará vingança contra as nações que andam na impiedade, e que não O temem e os Seus mandamentos.    



“Eu te amo, ó SENHOR, força minha.  O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte. Invoco o SENHOR, digno de ser louvado, e serei salvo dos meus inimigos. Laços de morte me cercaram, torrentes de impiedade me impuseram terror.  Cadeias infernais me cingiram, e tramas de morte me surpreenderam.  Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos.  Então, a terra se abalou e tremeu, vacilaram também os fundamentos dos montes e se estremeceram, porque ele se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e fogo devorador, da sua boca; dele saíram brasas ardentes.  Baixou ele os céus, e desceu, e teve sob os pés densa escuridão. Cavalgava um querubim e voou; sim, levado velozmente nas asas do vento. Das trevas fez um manto em que se ocultou; escuridade de águas e espessas nuvens dos céus eram o seu pavilhão. Do resplendor que diante dele havia, as densas nuvens se desfizeram em granizo e brasas chamejantes. Trovejou, então, o SENHOR, nos céus; o Altíssimo levantou a voz, e houve granizo e brasas de fogo. Despediu as suas setas e espalhou os meus inimigos, multiplicou os seus raios e os desbaratou.  Então, se viu o leito das águas, e se descobriram os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, SENHOR, pelo iroso resfolgar das tuas narinas.  Do alto me estendeu ele a mão e me tomou; tirou-me das muitas águas. Livrou-me de forte inimigo e dos que me aborreciam, pois eram mais poderosos do que eu.  Assaltaram-me no dia da minha calamidade, mas o SENHOR me serviu de amparo. Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque ele se agradou de mim. Retribuiu-me o SENHOR, segundo a minha justiça, recompensou-me conforme a pureza das minhas mãos.  Pois tenho guardado os caminhos do SENHOR e não me apartei perversamente do meu Deus.  Porque todos os seus juízos me estão presentes, e não afastei de mim os seus preceitos.  Também fui íntegro para com ele e me guardei da iniquidade.  Daí retribuir-me o SENHOR, segundo a minha justiça, conforme a pureza das minhas mãos, na sua presença.  Para com o benigno, benigno te mostras; com o íntegro, também íntegro.  Com o puro, puro te mostras; com o perverso, inflexível.  Porque tu salvas o povo humilde, mas os olhos altivos, tu os abates. Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas.  Pois contigo desbarato exércitos, com o meu Deus salto muralhas. O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam. Pois quem é Deus, senão o SENHOR? E quem é rochedo, senão o nosso Deus? O Deus que me revestiu de força e aperfeiçoou o meu caminho,  ele deu a meus pés a ligeireza das corças e me firmou nas minhas alturas.  Ele adestrou as minhas mãos para o combate, de sorte que os meus braços vergaram um arco de bronze. Também me deste o escudo da tua salvação, a tua direita me susteve, e a tua clemência me engrandeceu. Alargaste sob meus passos o caminho, e os meus pés não vacilaram.  Persegui os meus inimigos, e os alcancei, e só voltei depois de haver dado cabo deles.  Esmaguei-os a tal ponto, que não puderam levantar-se; caíram sob meus pés. Pois de força me cingiste para o combate e me submeteste os que se levantaram contra mim.  Também puseste em fuga os meus inimigos, e os que me odiaram, eu os exterminei.  Gritaram por socorro, mas ninguém lhes acudiu; clamaram ao SENHOR, mas ele não respondeu. Então, os reduzi a pó ao léu do vento, lancei-os fora como a lama das ruas.  Das contendas do povo me livraste e me fizeste cabeça das nações; povo que não conheci me serviu.  Bastou-lhe ouvir-me a voz, logo me obedeceu; os estrangeiros se me mostram submissos. Sumiram-se os estrangeiros e das suas fortificações saíram, espavoridos.  Vive o SENHOR, e bendita seja a minha rocha! Exaltado seja o Deus da minha salvação,  o Deus que por mim tomou vingança e me submeteu povos;  o Deus que me livrou dos meus inimigos; sim, tu que me exaltaste acima dos meus adversários e me livraste do homem violento. Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome.  É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre.”


Salmo 19

Salmo de Davi

Há muitos santos na terra, mas quantos sábios segundo Deus e a Sua Palavra podemos contar entre eles? Se achará na terra igrejas que tenham na totalidade de seus membros pessoas que sejam consagradas inteiramente ao Senhor?  Todavia, temos que ter a humildade e a sabedoria de reconhecer que muitas vezes o próprio Senhor impõe, a cristãos individualmente falando, a igrejas, e até mesmo a nações inteiras, o que os puritanos costumavam chamar de “a noite escura da alma” quando Ele se faz ausente para nos ensinar que é dEle que procede o expulsar as trevas das almas dos homens, e até mesmo no melhor dos santos. Poderíamos dizer muitas coisas sobre isto, mas a que consideramos mais importante delas, é que neste período Ele nos prova a buscá-lo mais intensamente para recebermos luz, e não a cruzarmos os braços dando toda a possibilidade de uma verdadeira santidade e espiritualidade como perdidas. Veja por exemplo como Ele derramou luz em Israel nos dias do pastorzinho que era segundo o Seu coração chamado Davi. Depois de longas trevas, aprouve ao Senhor fazer dos dias de Davi, dias de avivamento para a Sua exclusiva glória. E o avivamentos com Cristo e os apóstolos que se seguiu ao longo período de silêncio de Deus, chamado Interbíblico, que teve cerca de 400 anos de duração? E o que diríamos dos Wesley, de Whitefield, de Edwards, de Howeell Harris, em suas próprias terras, sendo visitados e muitos com eles, para uma vida de  grande santidade, depois de ter havido um longo período de trevas e de ampla iniquidade em suas nações antes deles? Deixaríamos de crer, à luz destes exemplos, que o Senhor é a nossa luz e salvação, e que é Ele que expulsa as nossas trevas, por estarmos vivendo em dias de densas trevas, tais como os nossos? 

Neste Salmo nós vemos não apenas o apreço que Davi tinha pela Palavra de Deus, mas a sua real experiência com ela, por meio da qual a sua vida era santificada. Ele sabia que a Palavra do Senhor revelada por Deus desde o céu à terra, era uma evidência maior e melhor da Sua majestade e santidade do que o próprio universo que com toda a sua grandeza proclama a existência de Deus, mas que não pode pronunciar a nós quais sejam os Seus atributos e caráter, especialmente o que se refere aos poderes graciosos que operam relativamente à nossa salvação. É por tais testemunhos que nos foram dados pela graça de Deus que podemos discernir as nossas faltas, os nossos pecados. Somente o Senhor pode nos absolver dos pecados ocultos, a saber, daquilo que Ele abomina e que não sabemos que exista em nós. Somente Ele pode guardar o nosso coração da soberba, para que sejamos irrepreensíveis e assim sejamos livrados de grande transgressão. Para tanto é necessário buscar que as palavras dos nossos lábios e o meditar do nosso coração sejam agradáveis na presença do Senhor, que é a nossa rocha e redentor.       Há muitos santos na terra, mas quantos sábios segundo Deus e a Sua Palavra podemos contar entre eles? Se achará na terra igrejas que tenham na totalidade de seus membros pessoas que sejam consagradas inteiramente ao Senhor?  Todavia, temos que ter a humildade e a sabedoria de reconhecer que muitas vezes o próprio Senhor impõe, a cristãos individualmente falando, a igrejas, e até mesmo a nações inteiras, o que os puritanos costumavam chamar de “a noite escura da alma” quando Ele se faz ausente para nos ensinar que é dEle que procede o expulsar as trevas das almas dos homens, e até mesmo no melhor dos santos. Poderíamos dizer muitas coisas sobre isto, mas a que consideramos mais importante delas, é que neste período Ele nos prova a buscá-lo mais intensamente para recebermos luz, e não a cruzarmos os braços dando toda a possibilidade de uma verdadeira santidade e espiritualidade como perdidas. Veja por exemplo como Ele derramou luz em Israel nos dias do pastorzinho que era segundo o Seu coração chamado Davi. Depois de longas trevas, aprouve ao Senhor fazer dos dias de Davi, dias de avivamento para a Sua exclusiva glória. E o avivamentos com Cristo e os apóstolos que se seguiu ao longo período de silêncio de Deus, chamado Interbíblico, que teve cerca de 400 anos de duração? E o que diríamos dos Wesley, de Whitefield, de Edwards, de Howeell Harris, em suas próprias terras, sendo visitados e muitos com eles, para uma vida de  grande santidade, depois de ter havido um longo período de trevas e de ampla iniquidade em suas nações antes deles? Deixaríamos de crer, à luz destes exemplos, que o Senhor é a nossa luz e salvação, e que é Ele que expulsa as nossas trevas, por estarmos vivendo em dias de densas trevas, tais como os nossos? 
Neste Salmo nós vemos não apenas o apreço que Davi tinha pela Palavra de Deus, mas a sua real experiência com ela, por meio da qual a sua vida era santificada. Ele sabia que a Palavra do Senhor revelada por Deus desde o céu à terra, era uma evidência maior e melhor da Sua majestade e santidade do que o próprio universo que com toda a sua grandeza proclama a existência de Deus, mas que não pode pronunciar a nós quais sejam os Seus atributos e caráter, especialmente o que se refere aos poderes graciosos que operam relativamente à nossa salvação. É por tais testemunhos que nos foram dados pela graça de Deus que podemos discernir as nossas faltas, os nossos pecados. Somente o Senhor pode nos absolver dos pecados ocultos, a saber, daquilo que Ele abomina e que não sabemos que exista em nós. Somente Ele pode guardar o nosso coração da soberba, para que sejamos irrepreensíveis e assim sejamos livrados de grande transgressão. Para tanto é necessário buscar que as palavras dos nossos lábios e o meditar do nosso coração sejam agradáveis na presença do Senhor, que é a nossa rocha e redentor.        



“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.  Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som;  no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,  o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.  A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos.  O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.  Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa.  Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.  Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!”  




Salmo 20

Salmo de Davi

A confiança de Davi para a manutenção da glória do seu reino, não se encontrava nos cavalos e carros dos seus exércitos, mas unicamente no Senhor.
Era mantendo o culto de devoção devido a Ele que se podia achar o Seu favor e as vitórias que dava ao Seu povo.

As vitórias de Davi e de Israel eram celebradas por ele como sendo vitórias do Senhor, como eram de fato, e disso dá testemunho toda a história dos reis de Israel, porque somente triunfaram aqueles que nEle confiaram e o serviram com um coração reto. 



“O SENHOR te responda no dia da tribulação; o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança.  Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha. Lembre-se de todas as tuas ofertas de manjares e aceite os teus holocaustos. Conceda-te segundo o teu coração e realize todos os teus desígnios.  Celebraremos com júbilo a tua vitória e em nome do nosso Deus hastearemos pendões; satisfaça o SENHOR a todos os teus votos.  Agora, sei que o SENHOR salva o seu ungido; ele lhe responderá do seu santo céu com a vitoriosa força de sua destra.  Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus.  Eles se encurvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé. Ó SENHOR, dá vitória ao rei; responde-nos, quando clamarmos.”


Salmo 21

Salmo de Davi

A alegria que enchia a alma de Davi não era carnal, mas espiritual.
Não era nas coisas mundanas que ele achava motivo de alegria, apesar de ser rei em Israel.
Ele havia provado a alegria do Senhor, pela força que lhe dava nas suas grandes tribulações, e especialmente nas perseguições injustas que teve que sofrer por longos anos, da parte de Saul.
Então pôde aprender que a verdadeira alegria, ainda que de um rei como ele, era proveniente da força da graça do Senhor, que lhe era suprida abundantemente.
Ele sabia que era pela misericórdia do Senhor que lhe era concedida, que ele jamais vacilaria, especialmente diante das decisões que devia tomar em decorrência da sua posição de líder de todo Israel, pois o Senhor o chamara para ser rei sobre o Seu povo.
Davi estava convicto de que o Senhor mesmo sempre lutaria por Ele e pelos justos interesses de Israel, de modo que a Sua mão poderosa pesaria sobre todos aqueles que O odiavam, por serem Seus inimigos.
Eles seriam devorados pelo fogo do Juízo do Senhor.
Nem o maior ajuntamento de poderosos da terra nada pode fazer contra o forte braço do Senhor.
Davi sabia disto por experiência pessoal, e por isso exultava no Deus da sua salvação, e louvava o Seu grande poder.
Se um cristão, não tiver a mesma experiência de Davi, vivenciando as vitórias que o Senhor pode lhe dar sobre toda a força das potestades e dos principados das trevas, que se levantam sempre em batalha contra a sua alma, não poderá, de modo algum, entender a que Davi está se referindo neste salmo.   




“Na tua força, SENHOR, o rei se alegra! E como exulta com a tua salvação!  Satisfizeste-lhe o desejo do coração e não lhe negaste as súplicas dos seus lábios. Pois o supres das bênçãos de bondade; pões-lhe na cabeça uma coroa de ouro puro.  Ele te pediu vida, e tu lha deste; sim, longevidade para todo o sempre.  Grande lhe é a glória da tua salvação; de esplendor e majestade o sobrevestiste.  Pois o puseste por bênção para sempre e o encheste de gozo com a tua presença.  O rei confia no SENHOR e pela misericórdia do Altíssimo jamais vacilará.  A tua mão alcançará todos os teus inimigos, a tua destra apanhará os que te odeiam. Tu os tornarás como em fornalha ardente, quando te manifestares; o SENHOR, na sua indignação, os consumirá, o fogo os devorará. Destruirás da terra a sua posteridade e a sua descendência, de entre os filhos dos homens.  Se contra ti intentarem o mal e urdirem intrigas, não conseguirão efetuá-los; porquanto lhes farás voltar as costas e mirarás o rosto deles com o teu arco.  Exalta-te, SENHOR, na tua força! Nós cantaremos e louvaremos o teu poder.” 




Salmo 22

Salmo de Davi

Como Davi foi levantado por Deus para ser rei, para que fosse um tipo do reinado do Messias, foi-lhe dada em revelação os sofrimentos que Jesus experimentaria em Seu ministério terreno, antes que seja entronizado como rei de Israel, depois da sua segunda vinda.
De igual modo, Davi havia sido submetido a sofrimentos, antes de reinar em Israel, para que também se cumprisse nisto o propósito de Deus de que ele fosse um tipo de Cristo, que descenderia segundo a carne, de Davi, porque o Senhor fizera boas e fiéis promessas de misericórdia para com a casa espiritual de Davi, sobre a qual Cristo governará eternamente.
Para ser rei sobre o povo que tem redimido pelo Seu sangue, nosso Senhor teria que carregar os pecados deles na cruz, motivo porque se sentiria desamparado pelo Pai naquela hora em que o peso do sofrimento esmagasse a sua alma, a ponto de ter-se sentido desamparado por Deus, e foi dado a Davi por revelação quais palavras seriam proferidas por Jesus na cruz, para expressar tal sentimento de desamparo e dor, logo no início deste salmo:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Este salmo responde à pergunta irônica e cheia de malícia dirigida a Jesus quando ele se encontrava na cruz, por que não descia dela pelo auxílio de Deus,  uma vez que havia dito que Ele era seu Pai?
Eles queriam registrar que Ele era um mentiroso e uma fraude com aquela ironia ácida.
Todavia, muitos séculos antes, cerca de 1.000 anos, Deus revelou a Davi, que apesar dos grandes sofrimentos de Cristo por nossa causa,  Ele não o desampararia, como podemos ver isto expressado nas seguintes palavras, que traduzem quais os reais pensamentos de Cristo naquela grande hora de sofrimento:
“Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste.  A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos.”.
Não foi o Pai que desprezou o Filho em Seus sofrimentos, mas os pecadores, conforme retratado pelo salmista, na zombaria que lhe dirigiram, todavia o Senhor afirmava a Sua inteira confiança no Pai.
Os homens que crucificaram nosso Senhor eram como cães e uma súcia de malfeitores que o rodeavam, e lhe traspassaram as mãos e os pés, contudo seus ossos não foram atingidos, para que se cumprissem as Escrituras.
Davi viu as vestes de nosso Senhor sendo repartidas pelos romanos através de sortes.
O clamor do Senhor em Sua agonia e sofrimento foi ouvido pelo Pai, e Ele não lhe virou a face, porque pelo trabalho penoso da Sua alma muitos viriam a se converter a Ele de todas as famílias das nações.
Dele nasceria um povo (a Igreja) e a Sua posteridade o serviria, e o Seu nome seria anunciado às gerações vindouras pelos seus discípulos, que anunciariam principalmente a Sua justiça, com a qual os pecadores que creem no Seu nome, são justificados e salvos da condenação eterna, por causa do pecado.      

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido?  Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.  Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel.  Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste.  A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos.  Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo.  Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça:  Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer.  Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe.  A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus. Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda.  Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam.  Contra mim abrem a boca, como faz o leão que despedaça e ruge.  Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.  Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte.  Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés.  Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim.  Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes.  Tu, porém, SENHOR, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me.  Livra a minha alma da espada, e, das presas do cão, a minha vida.  Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes.  A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação;  vós que temeis o SENHOR, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel.  Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro.  De ti vem o meu louvor na grande congregação; cumprirei os meus votos na presença dos que o temem.  Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o SENHOR os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração.  Lembrar-se-ão do SENHOR e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações.  Pois do SENHOR é o reino, é ele quem governa as nações.  Todos os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele, até aquele que não pode preservar a própria vida.  A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura.  Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez.”



Salmo 23

Salmo de Davi

Este é talvez o mais conhecido e citado de todos os salmos.
Há em suas poucas palavras uma melodia espiritual que encanta a alma e que a faz se sentir segura e em repouso na presença do Senhor, como a ovelha que se sente segura por ser apascentada pelo seu próprio pastor.
Aqui é declarado o cuidado perfeito, desta ato de Jesus em apascentar as suas ovelhas, quanto a governá-las, alimentá-las, curá-las, enfim, em realizar tudo o que um pastor faz para que seu rebanho se sinta saudável e seguro.
Todavia, ao falar do Senhor como sendo o seu próprio pastor, Davi, não estava concentrando a sua atenção em cuidados meramente terrenos, mas sobretudo nos caminhos da justiça evangélica pelos quais o Senhor conduz o Seu rebanho, por amor do Seu próprio nome, porque não pode negar a Si mesmo, e deve se revelar como fiel Pastor que é, em todas as coisas que realiza para cuidar perfeitamente das Suas ovelhas, especialmente nos combates espirituais que são travados com os principados e as potestades do mal. .
De modo que estando debaixo do Seu cuidado, não há de se temer o vale da sombra da morte, ou qualquer mal, porque a Sua presença é garantia de segurança e de vida eterna para nós.
O seu bordão e cajado de governo é um consolo para o Seu rebanho, porque sabemos que estando submissos e obedientes à Sua vontade, não nos desviando da Sua presença, podemos ter a certeza de achar o conforto, o consolo, que Ele nos dá através do Seu Santo Espírito.
Tal é a segurança que temos na nossa comunhão com o nosso amado Pastor que ainda que estejamos num mundo rodeados de inimigos por todos os lados, o Senhor sempre nos preparará uma mesa na presença deles, com toda a sorte de provisões que nos sejam necessárias, especialmente o óleo da unção com o qual unge a nossa cabeça, fazendo com que o cálice da nossa vida transborde com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais juntamente com Ele.
A Sua graça, na qual estamos firmes, nos dá a segurança de que isto não é apenas para alguns momentos, mas para todos os dias da nossa vida, com a bondade e a misericórdia do Senhor sempre nos seguindo, e estando acessíveis a nós, para que possamos habitar para sempre em Sua presença, em Sua casa celestial, por meio de nosso amado Pastor, nosso Senhor Jesus Cristo.    

“O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.
Ele me faz repousar em pastos verdejantes.
Leva-me para junto das águas de descanso;  refrigera-me a alma.
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.
 Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.


Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre.”



Salmo 24

Salmo de Davi

“Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.  Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu. Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar?  O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente.  Este obterá do SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua salvação. Tal é a geração dos que o buscam, dos que buscam a face do Deus de Jacó. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas.  Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é esse Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória.”


Comentário:

O salmista declara a posse de Deus da terra, de todas as coisas que ela contém e de todos os que nela habitam.
Ele considera como o Senhor fez surgir a porção seca dos continentes a partir das águas, para que esta ficasse firmemente estabelecida.
Mas tão logo fizera tal consideração, o seu coração foi movido para uma morada ainda mais firme do que a própria terra.
Deus havia estabelecido o seu templo no monte Sião em Jerusalém para ser um sinal da Sua morada eterna.
Não podiam entrar no Seu santuário terreno em Israel (o tabernáculo e o templo) senão somente aqueles que fossem considerados limpos pela Lei, e isto serviu de ilustração para a grande verdade de que  no templo eterno celestial, que não é deste mundo, poderão entrar para lá permanecer para sempre, somente aqueles que são limpos de mãos e puros de coração, e que não entregam a sua alma à falsidade e que não juram com dolo.
O salmista não cita a pureza de atos e de intenções do coração,  para se referir à perfeição moral absoluta, mas à necessidade de se levar a sério a causa da justiça, do amor e da bondade, que se encontram em Deus, buscando o perdão do pecado pela fé nEle, e a retidão espiritual que é implantada nos que o temem, pelo Espírito Santo.


Ao ter feito posteriormente, um cântico de exaltação ao Rei da Glória, parece que Davi o compôs quando trouxe a arca de volta a Jerusalém, e que o tenha cantado quando esta se aproximou das portas de Jerusalém, ordenando que estas fossem levantadas para que entrasse Aquele que era representado pela presença da arca no meio do Seu povo, o Senhor que habita na glória.    



Salmo 25

Salmo de Davi

“A ti, SENHOR, elevo a minha alma.
Deus meu, em ti confio; não seja eu envergonhado, nem exultem sobre mim os meus inimigos.
Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado; envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente.
Faze-me, SENHOR, conhecer os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas.
Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia.
Lembra-te, SENHOR, das tuas misericórdias e das tuas bondades, que são desde a eternidade.
Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões.
Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia, por causa da tua bondade, ó SENHOR.
Bom e reto é o SENHOR, por isso, aponta o caminho aos pecadores.
Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho.
Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos.
Por causa do teu nome, SENHOR, perdoa a minha iniquidade, que é grande.
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve escolher.
Na prosperidade repousará a sua alma, e a sua descendência herdará a terra.
A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.
Os meus olhos se elevam continuamente ao SENHOR, pois ele me tirará os pés do laço. Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito.
Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias.
Considera as minhas aflições e o meu sofrimento e perdoa todos os meus pecados.
Considera os meus inimigos, pois são muitos e me abominam com ódio cruel.
Guarda-me a alma e livra-me; não seja eu envergonhado, pois em ti me refugio.
Preservem-me a sinceridade e a retidão, porque em ti espero.
Ó Deus, redime a Israel de todas as suas tribulações.”

Comentário:

O salmista apela para a bondade e misericórdia do Senhor, porque as conhecia por experiência própria, e como se achava debaixo de grande pressão e luta espiritual buscando ter a convicção da sua plena aprovação por parte de Deus, ele se esforça para elevar a sua alma até à Sua presença, declarando a Sua confiança nEle, para que não fosse envergonhado, e nem que os seus inimigos exultassem sobre ele.
Estava convicto de que todos os que esperam de fato no Senhor, com a expectativa de receberem dEle auxílio, e quando não andam procedendo traiçoeiramente sem causa, Ele jamais deixará que sejam envergonhados, mas deixará que isto suceda àqueles que têm um mal proceder.
O desejo do salmista era andar nos caminhos de Deus e por isso pedia que lhe ensinasse acerca destes caminhos que ele já conhecia, mas sabia que há neles uma profundidade insondável, que só pode ser conhecida, caso nos seja revelada por Deus.
Assim, sendo, sabia que havia pecado em sua mocidade fazendo coisas das quais não se lembrava para poder confessá-las agora ao Senhor, e que também havia transgressões que eram ocultas aos seus olhos, todavia era muito grande e sincero o seu desejo de viver segundo os retos caminhos do Altíssimo, e por isso lhe pediu que não o tratasse conforme estas transgressões que lhe eram ocultas, mas por causa da Sua própria bondade e misericórdia divinas.
Ele sabia por experiência própria que o Senhor é bom e reto, e assim é dever dos pecadores andarem nos Seus caminhos de retidão, que Ele lhes ensina.
Todavia, é necessário ter o espírito certo para se aprender do Senhor, que nos impõe contrição de coração e pobreza de espírito, para que possa nos encher com o conhecimento da Sua vontade.
Por isso guia na justiça os que são humildes, e ensina o seu caminho aos mansos, ou seja, aos que são submissos e obedientes à Sua vontade.
Assim, somente os que guardam a aliança do Senhor, temendo e obedecendo os Seus mandamentos, podem conhecer que os caminhos do Senhor são de misericórdia e verdade.
Que não há nEle qualquer falsidade, e portanto, os Seus filhos devem se despojar dos seus pecados.
Diante da grandeza da santidade do Senhor e do grande brilho da glória da Sua majestade, nós clamamos como o profeta Isaías: “Ai de nós”, porque ainda que amemos a Deus,  percebemos que somos pessoas de lábios impuros e que grande é a nossa iniquidade, por mais santos que sejamos, porque enquanto neste mundo, estamos sujeitos à natureza terrena e ao pecado que nos assedia tão de perto, por termos uma tal natureza, ainda que estejamos sinceramente nos despojando dela, para termos ainda mais da nova natureza que recebemos pela fé em Cristo.
Por isso o Senhor não nos tratará segundo os nossos pecados, ou seja, não se relacionará conosco na base de termos uma completa perfeição em santidade, porque enquanto neste mundo, nenhum dos Seus santos a possuirá, por maior que seja o grau de santificação que possam ter alcançado, então a base da nossa aproximação dEle será sempre por causa da Sua misericórdia, e da obediência perfeita e méritos de Cristo obtidos para nós.
Então o Senhor tomará o nosso sincero desejo de sermos santos, como o próprio fato de estarmos santificados, e nos instruirá no caminho que devemos escolher, enquanto andarmos debaixo do Seu temor.
Estes que são submissos ao Senhor haverão de herdar a terra, e não os violentos e poderosos.
Eles alcançarão a verdadeira prosperidade que consiste no descanso de suas almas.
Somente estes que temem assim ao Senhor, em verdadeiro desejo de cumprir a Sua Palavra, tal como está registrada na Bíblia, e não como nos é ensinada pela conveniência dos homens, ou entendida conforme a nossa própria conveniência, que desfrutarão da Sua intimidade, porque Ele mesmo se manifestará a eles, porque têm o verdadeiro temor da Sua pessoa e vontade.
Estes saberão qual é o caráter da aliança que têm com Deus, na qual Ele é amigo, mas é sobretudo Senhor, e por isso deve ser temido e honrado.
Sabendo disso, o salmista sempre elevava continuamente os seus olhos espirituais ao Senhor, na expectativa de que receberia livramento dEle, de todos os laços que fossem atirados aos seus pés.
Não há Outro que possa nos valer na hora da grande angústia, quando nos sentimos sós e aflitos, não por não termos nenhuma pessoa ao nosso lado, mas porque somente Deus pode nos valer em tais horas, aliviando-nos de todas as tribulações do coração, e livrando a alma da angústia.
Não é porque estejamos em profundezas, que possam ter sido até mesmo ocasionadas por pecados que nos sejam ocultos, que devemos cruzar os braços e esperar que as coisas se resolvam por si mesmas, ou então buscarmos auxílio nos homens.
Não. Um abismo chama outro abismo.
E somente o Senhor pode nos livrar disto, de maneira que é nEle que devemos concentrar todas as nossas expectativas de livramento tal como fazia Davi em seus dias, com humildade, pedindo a Deus que perdoasse todos os seus pecados.
Ele pedia a Deus que levasse em conta os inimigos sem conta que ele tinha, justamente pelo fato de amar o Senhor e andar nos Seus caminhos, então ele argumentava com Deus, pedindo-Lhe que guardasse a sua alma e o livrasse, e que não permitisse que fosse envergonhado porque era nEle, no Senhor, que sempre buscava refúgio.
Ele não queria afinal, como o grande objetivo de toda a Sua busca de Deus, que apenas fosse livrado dos seus inimigos, mas que Ele o preservasse na sinceridade e na retidão.          




Salmo 26

Salmo de Davi

É afirmado no Novo Testamento que fomos salvos pela graça, mediante a fé, para as boas obras.
Serão então estas boas obras, não a causa da salvação, mas a melhor evidência de que fomos de fato salvos (justificados e regenerados).
O justo referido por Davi no Salmo não é portanto apenas aquele que foi justificado pela fé, mas que também tem oferecido os seus membros para a prática da justiça, para a santificação, conforme se ordena em Rom 6.
Este justo aqui referido não tem somente a justiça atribuída, imputada, mas também tem recebido a implantação da justiça de Cristo em sua vida, pela transformação do Seu caráter, e pelo Seu bom procedimento espiritual segundo a Palavra, mediante o poder do Espírito.
Assim, podem contar com a bênção de Deus em suas vidas, no viver diário.
Estes que andam na retidão e que confiam no Senhor, sem vacilar, podem não somente pedir que o Senhor lhes faça justiça, como também se submeterem a um juízo do Senhor, que examine a condição de seus corações e pensamentos, para que se regozijem na Sua aprovação do Seu proceder na verdade.
Estes fitarão a benignidade do Senhor e não a Sua ira.
Tal como ensinado no Salmo 1, Davi não se permitia andar no ajuntamento de homem ímpios, falsos, dissimuladores, no mesmo procedimento deles.
Não era com tais homens que buscava conselho.
Ao contrário, sua alma aborrecia a súcia de malfeitores e por isso não se assentava na roda dos ímpios para compartilhar da sua impiedade.
Ele sabia perfeitamente, pelas Escrituras, pela Lei de Moisés, o quanto o Senhor se aborrece daqueles que vivem na prática da maldade.
Davi, apesar de ser um homem de guerra, se norteava por princípios retos, e segundo os mandamentos do Senhor, e prestava ao Senhor verdadeiro culto de devoção, tendo as suas mãos lavadas na inocência, porque não as usava para a prática do mal.
Ele tinha prazer em louvar ao Senhor com voz alta, para que todos o ouvissem proclamando todas as maravilhas do Senhor.
Ele amava o lugar da habitação do Senhor porque era ali que Ele manifestava a Sua glória.
Davi não era sanguinário, e não era dado aos crimes e subornos aos quais eram dados os reis das nações pagãs da antiguidade.
Ao contrário, ele sempre andava na sua integridade, e por isso podia pedir ao Senhor com confiança, que o livrasse e tivesse misericórdia da sua vida.
Ele não andava em terrenos escorregadios de pecados, mas na Rocha firme da nossa salvação, no próprio Senhor, e por isso bendizia o Seu santo nome nas congregações nas quais o Senhor era adorado.

“Faze-me justiça, SENHOR, pois tenho andado na minha integridade e confio no SENHOR, sem vacilar.  Examina-me, SENHOR, e prova-me; sonda-me o coração e os pensamentos.
Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua verdade.
Não me tenho assentado com homens falsos e com os dissimuladores não me associo.
Aborreço a súcia de malfeitores e com os ímpios não me assento.
Lavo as mãos na inocência e, assim, andarei, SENHOR, ao redor do teu altar,  para entoar, com voz alta, os louvores e proclamar as tuas maravilhas todas.
Eu amo, SENHOR, a habitação de tua casa e o lugar onde tua glória assiste.
Não colhas a minha alma com a dos pecadores, nem a minha vida com a dos homens sanguinários,  em cujas mãos há crimes e cuja destra está cheia de subornos.
Quanto a mim, porém, ando na minha integridade; livra-me e tem compaixão de mim.
O meu pé está firme em terreno plano; nas congregações, bendirei o SENHOR.”



Salmo 27

Salmo de Davi

O grande desejo da alma de David Brainerd, primeiro missionário entre os índios selvagens americanos, não era o de ter um lugar destacado de honra no céu, mas ir para lá para poder servir a Deus com perfeição continuamente, com um perfeito amor.
A mim, me parece, ter tido o rei Davi expressado o mesmo sentimento com as palavras deste salmo.
Ele sabia que não há nada mais precioso do que a manifestação da presença do próprio Senhor na nossa vida.
Mas não poderemos ter isto em perfeição de plenitude aqui neste mundo, por causa das nossas limitações e imperfeições, as quais Davi pedia ao Senhor para não tê-las em consideração, de modo que não viesse a ficar privado da Sua santa presença.
Afinal quem era a luz e a salvação de Davi não era o próprio Senhor, segundo suas palavras proferidas no início deste salmo?
Não era o Senhor mesmo a fortaleza da sua vida?
Assim, de quem teria ele medo tendo o Senhor ao Seu lado e por castelo forte?
Ele estava convicto de que por ter tal comunhão com Deus, qualquer levante inimigo que viesse contra ele para destruí-lo é que tropeçaria e cairia diante do poder do Senhor.
Mesmo que fosse um exército que o sitiasse, ou que viessem contra ele num ataque frontal de uma guerra, ele nunca temia porque o Senhor lhe concedia coragem e firmeza de coração por meio da Sua graça, que era derramada abundantemente sobre sua vida.
O seu único interesse era cuidar dos interesses de Israel, segundo a vontade do Senhor, e como Ele poderia abandoná-lo quando se empenhava de modo tão diligente para cuidar dos próprios interesses de Deus?
Aqueles que servem a Deus deste mesmo modo, experimentam também o mesmo cuidado que Ele tivera em relação a Davi.
Todavia, ele sabia que isto não ocorria de modo natural e espontâneo, porque havia aprendido que o Senhor deve ser buscado com diligência para que seja achado.
Ele não se revelará a nós caso não o busquemos com a mesma diligência com a qual Davi o buscava.
Não meramente para resolver problemas. Mas, sobretudo, por  um sincero desejo de contemplar a Sua face divina.
Era a manifestação da presença do próprio Senhor que Davi buscava. E se empenhava inteiramente nisto, porque sabia que pai e mãe podem falhar no amparo que devem a seus filhos, mas o amparo de Deus nunca falha, porque sempre acolherá de bom grado àqueles que o buscarem com um coração sincero e reto.
Como Davi sabia que esta manifestação da presença do Senhor era dependente de um caminhar em retidão, então ele sempre Lhe pedia que lhe ensinasse o seu caminho e que o guiasse por uma vereda plana, porque desejava dar um bom testemunho de fidelidade à Sua santa vontade, diante de todos os que lhe espreitavam.
Num mundo em que há adversários do amor, da bondade, da verdade e da justiça,  dependemos inteiramente de esperar pelo Senhor, tendo bom ânimo nas aflições, fortificando os nossos corações com a Sua graça.

“O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo?
O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?
Quando malfeitores me sobrevêm para me destruir, meus opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem.
Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei confiança.
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo.
Pois, no dia da adversidade, ele me ocultará no seu pavilhão; no recôndito do seu tabernáculo, me acolherá; elevar-me-á sobre uma rocha.
Agora, será exaltada a minha cabeça acima dos inimigos que me cercam.
No seu tabernáculo, oferecerei sacrifício de júbilo; cantarei e salmodiarei ao SENHOR.
Ouve, SENHOR, a minha voz; eu clamo; compadece-te de mim e responde-me.  Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, SENHOR, a tua presença.
Não me escondas, SENHOR, a tua face, não rejeites com ira o teu servo; tu és o meu auxílio, não me recuses, nem me desampares, ó Deus da minha salvação.
Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me acolherá.
Ensina-me, SENHOR, o teu caminho e guia-me por vereda plana, por causa dos que me espreitam.  Não me deixes à vontade dos meus adversários; pois contra mim se levantam falsas testemunhas e os que só respiram crueldade.
Eu creio que verei a bondade do SENHOR na terra dos viventes.
Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo SENHOR.”



Salmo 28

Salmo de Davi

Sendo rei, e antes mesmo de ser rei, tendo vivido na corte do pérfido Saul, Davi conhecia muito bem, não por praticar, mas por ver nas vidas dos cortesãos, o que era a perversidade, especialmente das dissimulações daqueles que falam de paz ao seu próximo, enquanto tramam perversidades em seus corações contra ele.
Num mundo de lobos, temos que pedir ao Senhor, tal como Davi, que ouça as nossas súplicas por socorro, para que não sejamos arrastados pela maldade dos ímpios. Não devemos nos vingar a nós mesmos em nenhuma situação, mas devemos dar lugar à ira de Deus, que prometeu tomar em Suas mãos as nossas causas, e nos vingar, Ele mesmo, dos nossos inimigos. Ainda que nada lhes sobrevenha diretamente da parte de Deus neste mundo, a destruição deles é certa, e terão que prestar contas ao Senhor de todos os seus atos, no dia do Juízo Final. Nenhum cristão que esteja sofrendo injustamente neste mundo, tem portanto, motivo para concentrar a sua atenção ou preocupação naqueles que lhe perseguem ou que intentam o mal contra as suas vidas, como paga do bem que deles recebem, ou por causa do seu bom testemunho em Cristo, mas devem concentrar seus pensamentos e atenção somente no Senhor, porque é dEle que virá o seu livramento. Davi chama por isso o Senhor de sua força e escudo. Força para agir contra o mal, e escudo para nos proteger das suas maldades.

“A ti clamo, ó SENHOR; rocha minha, não sejas surdo para comigo; para que não suceda, se te calares acerca de mim, seja eu semelhante aos que descem à cova. Ouve-me as vozes súplices, quando a ti clamar por socorro, quando erguer as mãos para o teu santuário.  Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniquidade; os quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade. Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas mãos, retribui-lhes o que merecem.  E, visto que não atentam para os feitos do SENHOR, nem para o que as suas mãos fazem, ele os derribará e não os reedificará.  Bendito seja o SENHOR, porque me ouviu as vozes súplices!  O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso, o meu coração exulta, e com o meu cântico o louvarei.  O SENHOR é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido.  Salva o teu povo e abençoa a tua herança; apascenta-o e exalta-o para sempre.”


Salmo 29

Salmo de Davi

Todos os filhos de Deus têm uma grande dívida para com Ele, a qual deve ser paga com adoração verdadeira, em santidade, em espírito. Ele deve ser amado com todas as nossas forças, ou seja, com todo o empenho da nossa mente e espírito, em cumprimento da Sua vontade. Devemos pagar-lhe o tributo da devida glorificação do Seu nome, praticando obras de justiça diante de todos os homens, especialmente por lhes pregar o evangelho, para que o Seu nome seja glorificado, pelas obras poderosas que Ele realizar na presença deles por nosso intermédio. Para tais boas obras é necessário ouvir o que o Espírito diz às igrejas. É preciso ouvir a poderosa voz do Senhor, que está representada em figura nos fenômenos da natureza que produzem fortes sons como por exemplo os trovões e as ondas do mar. Com a liberação da Palavra de ordem o Senhor não somente pode destruir, como também gerar vida. Ele pode purificar como fogo. Ele sobre tudo preside e se nossos ouvidos espirituais estiverem apurados nós ouviremos a Sua poderosa voz, e automaticamente  diremos: Glória! A teologia do silêncio permanente como forma de expressar reverência a Deus, não se sustenta nos corações daqueles que tal como Davi, ouvem a voz do Senhor, porque não podem conter o mover que o Espírito produz no interior deles, e o traduzirão em brados de glórias e aleluias a Deus.



“Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força. Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade. Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas.  A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade.  A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano.  Ele os faz saltar como um bezerro; o Líbano e o Siriom, como bois selvagens. A voz do SENHOR despede chamas de fogo.  A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. A voz do SENHOR faz dar cria às corças e desnuda os bosques; e no seu templo tudo diz: Glória! O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre.  O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo.”



Salmo 30

Salmo de Davi

Davi havia acabado de receber um grande livramento da parte do Senhor, de uma grande investida de seus inimigos, de modo que não lhes permitiu que se regozijassem contra o Seu ungido.
Contudo, Davi revela que este livramento não lhe veio espontaneamente pelo simples fato de ser justo, de ser um santo de Deus, mas porque Lhe havia clamado por socorro, e o Senhor o curou preservando-lhe a vida, para que não descesse prematuramente à sepultura.
Davi reconhecia que aquela vitória não fora somente por amor a ele, mas por amor e para o benefício de todo o Israel, e por isso conclamou todos os santos do Senhor a salmodiá-lo com louvores, e a darem graças ao Seu santo nome.
O Senhor havia se levantado várias vezes para corrigir os pecados dos israelitas, permitindo que nações inimigas viessem contra eles para oprimi-los, mas nos dias de Davi, por causa da sua grande fidelidade para com Ele, a Sua ira era momentânea, e maior era o Seu favor para com Israel naqueles dias do que as Suas repreensões, de modo que Davi afirmou que o Seu favor divino dura a vida inteira, e que o choro pode vir à noite, mas a alegria do Senhor o expulsará pela manhã, ou seja, não seria de grande duração a tristeza produzida pelas Suas repreensões, porque debaixo do governo justo de Davi, Israel não demoraria para chegar ao arrependimento.
Davi estava experimentado nas coisas de Deus e na forma correta de se relacionar com Ele e com as coisas deste mundo.
Por um breve momento ele havia  deixado que o seu coração o enganasse se elevando com toda a prosperidade que o Senhor lhe havia dado, a ponto de julgar que nunca mais seria abalado.
No entanto, não foi necessário que o Senhor removesse a sua prosperidade, à qual ele chama de minha montanha, mas simplesmente voltou o seu rosto da direção de Davi, manifestando-Lhe o Seu desagrado, e logo ele ficou conturbado, porque viu que a verdadeira segurança não vem dos muitos bens que possuímos, mas de termos um coração aprovado por Deus.
Davi conhecia todos os segredos para se chegar ao coração de Deus.
Ele sabia que o Senhor é achado somente quando é buscado de toda a nossa alma, mente e coração.
Que isto deve ser feito com clamores mesmo quando estamos em grandes angústias, ainda que em perigos de morte.
Se o fizermos, o Senhor se manifestará em nosso favor, porque recompensa o tipo de fé que prevalece nas tribulações, e não somente nos livra da morte, como converte o nosso pranto em alegria espiritual, de modo que o nosso espírito passa a lhe cantar louvores e a lhe dar graças continuamente.  

“Eu te exaltarei, ó SENHOR, porque tu me livraste e não permitiste que os meus inimigos se regozijassem contra mim.
SENHOR, meu Deus, clamei a ti por socorro, e tu me saraste.
SENHOR, da cova fizeste subir a minha alma; preservaste-me a vida para que não descesse à sepultura.
Salmodiai ao SENHOR, vós que sois seus santos, e dai graças ao seu santo nome.
Porque não passa de um momento a sua ira; o seu favor dura a vida inteira.
Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.
Quanto a mim, dizia eu na minha prosperidade: jamais serei abalado.
Tu, SENHOR, por teu favor fizeste permanecer forte a minha montanha; apenas voltaste o rosto, fiquei logo conturbado.
Por ti, SENHOR, clamei, ao Senhor implorei.
Que proveito obterás no meu sangue, quando baixo à cova? Louvar-te-á, porventura, o pó?
Declarará ele a tua verdade?
Ouve, SENHOR, e tem compaixão de mim; sê tu, SENHOR, o meu auxílio.
Converteste o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria,  para que o meu espírito te cante louvores e não se cale.


SENHOR, Deus meu, graças te darei para sempre.”



Salmo 31

Salmo de Davi

Temos aqui mais uma das orações modelares de Davi que ele costumava fazer quando se encontrava debaixo de aflições e de angústias. Faríamos bem em seguir-lhe os passos toda vez em que nos encontramos nas mesmas condições que ele havia experimentado, quando por causa do Seu amor pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às ocultas, e nas quais sempre fazia do Senhor a sua fortaleza, e entregava o seu espírito nas Suas mãos para ser livrado.  Ele sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber livramento. Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que adoram ídolos. Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível cuja vontade está revelada na Bíblia. Ele somente se alegrava e se regozijava quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade livrando-o das mãos dos inimigos, que angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando os seus pés num lugar espiritual espaçoso, em que já não podia mais estar sendo oprimido em sua alma. Tal era a fidelidade de Davi caminhando em retidão com o Senhor que o diabo tinha uma fome de devorar a sua alma justa muito maior do que a fome que nós temos de pão. Davi e o testemunho de sua vida era um espinho na carne de Satanás, porque por ele, Deus podia calar o diabo com os seus argumentos até mesmo para cristãos, que uma vida de santidade plena com Deus é algo impossível, levando muitos destes portanto, a duvidarem até mesmo da real existência de Deus. Mas o testemunho de Davi era um cala boca nos argumentos do diabo, e ele tentaria então tirar a sua vida por todos os modos e meios, ou então levá-lo a um tal desespero em que já não fosse possível manter o mesmo testemunho de retidão, santidade, amor e prática da verdade. Todavia ele não podia levar vantagem sobre Davi, levantando exércitos contra ele, conspiradores, e toda sorte de perseguidores, porque ele sempre, se voltava para buscar socorro no Senhor, por maior que fosse a angústia da sua alma, tal como a que ele expressa neste salmo. A misericórdia do Senhor para com ele era tão grande, que mesmo quando Davi chegava a desesperar da vida, pensando que Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus inimigos, o Senhor sempre se manifestava no fim, dando-lhe livramento. De modo que a sua fé nEle, na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via como Ele envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém. Davi aprendeu que Deus sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle. Por isso Davi conclama todos os que são santos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si, para que o amem e o sirvam, mas retribui com largueza o soberbo com os Seus juízos. Os que amam o Senhor devem portanto buscar estarem fortalecidos com a Sua graça, e terem o coração revigorado por Ele, para que o sirvam do único modo pelo qual Ele é digno de ser servido e amado.  
 
“Em ti, SENHOR, me refugio; não seja eu jamais envergonhado; livra-me por tua justiça.  Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa; sê o meu castelo forte, cidadela fortíssima que me salve.  Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás.  Tirar-me-ás do laço que, às ocultas, me armaram, pois tu és a minha fortaleza. Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade. Aborreces os que adoram ídolos vãos; eu, porém, confio no SENHOR. Eu me alegrarei e regozijarei na tua benignidade, pois tens visto a minha aflição, conheceste as angústias de minha alma  e não me entregaste nas mãos do inimigo; firmaste os meus pés em lugar espaçoso. Compadece-te de mim, SENHOR, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu corpo.  Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem.  Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim.  Estou esquecido no coração deles, como morto; sou como vaso quebrado.  Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida.  Quanto a mim, confio em ti, SENHOR. Eu disse: tu és o meu Deus.  Nas tuas mãos, estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores.  Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia.  Não seja eu envergonhado, SENHOR, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte.  Emudeçam os lábios mentirosos, que falam insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém.  Como é grande a tua bondade, que reservaste aos que te temem, da qual usas, perante os filhos dos homens, para com os que em ti se refugiam!  No recôndito da tua presença, tu os esconderás das tramas dos homens, num esconderijo os ocultarás da contenda de línguas.  Bendito seja o SENHOR, que engrandeceu a sua misericórdia para comigo, numa cidade sitiada!  Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro.  Amai o SENHOR, vós todos os seus santos. O SENHOR preserva os fiéis, mas retribui com largueza ao soberbo.  Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR.”


Salmo 32

Salmo de Davi

Este Salmo revela simultaneamente a bem-aventurança já alcançada de uma vez para todo o sempre quando se é justificado pelo Senhor, quando Ele perdoa o nosso pecado para sempre por causa de Jesus Cristo.
De modo que em vez de nos atribuir, imputar iniquidade, Ele nos atribui a justiça do próprio Cristo, para que sejamos justificados, isto é, declarados justos, absolvidos de nossas culpas perante Ele, para todo o sempre.
Todavia, mesmo naqueles que alcançam tal bem-aventurança, simplesmente pela fé, assim como era o caso de Davi, ele cita o seu próprio exemplo, quando deixou de confessar seus pecados ao Senhor.
Ele usa uma metáfora forte para poder expressar os sentimentos que o dominavam naquela condição.
Ele diz que era como que os seus ossos tivessem envelhecido, ou seja, ele perdeu o seu vigor e força, por causa da tristeza profunda que o pecado produzia todos os dias no seu coração.
Debaixo dos seus pecados não confessados, ele sentia a mão de Deus não como mão consoladora, mas como uma mão corretiva e disciplinadora, que estava sobre ele dia e noite, tirando-lhe todo o vigor espiritual.
Todavia, ele sabia que estas tristezas produzidas por Deus são para conduzir ao arrependimento, que trará de volta a alegria e a paz espirituais que haviam sido perdidas.
Por isso se dispôs a confessar o seu pecado e não mais ocultar a sua iniquidade de Deus.
Ele o fizera e foi perdoado pelo Senhor.
Veja que ele está falando de alguém que já havia sido justificado, de alguém que chamou de homem piedoso, o qual sempre fará súplicas ao Senhor para encontrá-lo, porque aquele que O conhece de fato, já não pode mais  suportar viver longe da Sua presença, e quem produz tal afastamento, sempre é o pecado, nas suas mais variadas formas.
São estes que se arrependem continuamente, e que confessam suas faltas ao Senhor, que são consolados pelo Espírito, porque Ele não consola quem está no pecado, senão apenas quem está santificado, porque é Espírito consolador, mas também é Espírito santificador.
Ele primeiro santifica, e depois consola.
Os que levam o pecado a sério, e que procuram se apresentar  diante de Deus aprovados, sempre serão livrados por Ele, mesmo quando transbordarem as muitas águas da aflição, porque estas não conseguirão afogar o amor e o fogo do zelo de suas almas.
O Senhor os preservará nas tribulações e lhes cercará com cânticos de livramento.
Instruirá e ensinará o caminho pelo qual devem seguir, e lhes dará conselhos estando com Seus olhos fixados neles.
Contudo o que permanece rebelde contra o Senhor, em vez de ser instruído com mansidão, será dominado com a força de freios e cabrestos tal como se faz com o cavalo ou a mula, que não têm entendimento.
Estes terão que curtir sofrimentos sem consolações.
Mas os que confiam no Senhor, serão assistidos pela Sua misericórdia, e se alegrarão nEle, no espírito, e se regozijarão na sua justiça, porque são retos de coração.      

“Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto.
Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo.
Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.
Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.
Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei.
Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.
Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te.
Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão.
Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento.
Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho.
Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem.
Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no SENHOR, a misericórdia o assistirá.

Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração.”



Salmo 33

Este Salmo celebra ao Senhor como criador de todas as coisas.
E os retos de coração têm o dever de louvá-lo por suas grandes obras, porque a eles é revelado pelo Espírito, quem foi que tudo criou, e que nada existiria se Deus não tivesse determinado trazer todas as coisas à existência.
E o melhor de tudo, Ele não é meramente Criador, mas alguém que ama a justiça e o direito, e que manifestou na criação grandes provas da Sua grande bondade.
Além disso exerce domínio sobre tudo o que criou, a ponto de frustrar os desígnios das nações e anular os intentos dos povos, porque no final, a história seguirá o rumo que Ele tem determinado para ela, e conforme já revelou em suas profecias escatológicas na Bíblia.
Então, somente o conselho do Senhor é eterno, porque tem fixado todas as coisas desde antes da criação do mundo.
Ele criou o homem para que fosse servido e temido por ele, de modo que feliz é a nação que o tem como Senhor, e o povo que Ele escolheu para sua herança, a saber, a nação de Israel, que é composta por todos aqueles que são realmente convertidos a Ele de coração.
Ainda que possa não parecer a muitos, a pura realidade é que o governo de tudo que há no mundo segue debaixo do comando do Senhor, de maneira que não é por exércitos e por poderio bélico que as nações prevalecerão, porque somente o Senhor pode livrar da morte, conservar a vida no tempo da fome.
Somente Ele é auxílio e escudo permanente.
De modo que é também Ele a nossa única fonte de eterna alegria.
 
“Exultai, ó justos, no SENHOR!
Aos retos fica bem louvá-lo.
Celebrai o SENHOR com harpa, louvai-o com cânticos no saltério de dez cordas.
Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo.
Porque a palavra do SENHOR é reta, e todo o seu proceder é fiel.
Ele ama a justiça e o direito; a terra está cheia da bondade do SENHOR.
Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles.
Ele ajunta em montão as águas do mar; e em reservatório encerra as grandes vagas.
Tema ao SENHOR toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo.
Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.
O SENHOR frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos.
O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações.
Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que ele escolheu para sua herança.
O SENHOR olha dos céus; vê todos os filhos dos homens;  do lugar de sua morada, observa todos os moradores da terra,  ele, que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.
Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem por sua muita força se livra o valente.
O cavalo não garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar.
Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia,  para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes a vida.
Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo.
Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome.
Seja sobre nós, SENHOR, a tua misericórdia, como de ti esperamos.”


Salmo 34

Salmo de Davi
(quando se fingiu de louco na presença de Abimeleque)

“Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios.  Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão.  Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome.  Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame.  Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações.  O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.  Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.  Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem.  Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará.  Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR.  Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?  Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente.  Aparta-te do mal e pratica o que é bom; procura a paz e empenha-te por alcançá-la.  Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor.  O rosto do SENHOR está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória.  Clamam os justos, e o SENHOR os escuta e os livra de todas as suas tribulações.  Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.  Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra.  Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado.  O infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados.  O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam nenhum será condenado.”

No comentário deste salmo, nós usaremos um texto de autoria de Spurgeon, em domínio público, na Internet, que traduzimos do original inglês, intitulado: O ensino das Crianças:

 “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” (Sl 34.11)

É uma coisa singular que os homens piedosos descubram frequentemente seu dever quando estão situados nas condições mais humilhantes. Nunca em sua vida, Davi estivera em pior perigo do que o que lhe inspirou este Salmo. É, como lemos no seu começo “Salmo de Davi, quando se fizera amalucado na presença de Abimeleque, e, por este expulso, ele se foi”.  Davi foi levado diante do Rei Aquis, o Abimeleque da Filistia, a fim de tentar escapar, ele simulou estar louco, com uns sintomas muito degradantes que bem podiam confirmar sua loucura. Foi expulso do palácio, e, como é normal quando tais pessoas passam pela rua, um certo número de crianças deve ter se reunido ao seu redor. Em dias posteriores, ao cantar louvores a Deus, e recordando como havia chegado a ser o palhaço de criancinhas, pareceu dizer: “Tenho me rebaixado na estima das gerações vindouras, por minha insensatez nas ruas diante das crianças. Agora tratarei de desfazer este mal.”. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.  
É muito possível que se Davi nunca houvesse se encontrado nestas circunstâncias, nunca haveria pensado neste dever, porque não encontro nenhum outro Salmo no qual ele dissesse: “Vinde, filhos, e escutai-me; e vos ensinarei o temor do Senhor.”. Teria o cuidado de suas cidades, províncias e nação pressionando-o, e pôde prestar pouca atenção à educação dos jovens. Porém aqui, levado à mais humilde posição que alguém possa ocupar, havendo chegado a ser como privado da razão, recorda seu dever. O cristão exaltado e próspero nem sempre se lembra dos cordeiros; esta tarefa geralmente recai sobre os Pedros, cuja confiança e soberba têm sido vencidas, e que se regozijam em responder assim de uma maneira prática a pergunta: “Tu me amas ?”.
De nosso texto extrairei primeiro uma doutrina, em segunda lugar, dois alentos, em terceiro, três instruções, em quarto, quatro instruções, e em quinto lugar cinco temas para crianças, tudo isto tomado do texto.

I.  Primeiro, UMA DOUTRINA. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. A doutrina é que as crianças são capazes de receber o ensino do temor do Senhor. Os homens são em geral tanto mais sábios quanto mais insensatos têm sido. Davi havia sido sumamente insensato, e agora se transformou em extremamente sábio. E ao sê-lo, não era provável que expressasse sentimentos insensatos, nem que desse instruções que fossem ditadas por uma mente débil.
Temos ouvido falar de alguns que as crianças não podem compreender os grandes mistérios da Palavra de Deus. Inclusive sabemos de alguns mestres da Escola Dominical que cautelosamente evitam mencionar as grandes doutrinas do evangelho, porque creem que as crianças não estão preparadas para recebê-las. O mesmo erro se tem introduzido no púlpito, porque atualmente se crê, entre certa classe de pregadores, que muitas das doutrinas da palavra de Deus, ainda que corretas, não são adequadas para serem ensinadas ao povo, porque seriam confundidos para a própria destruição deles. Fora com esse sacerdotalismo, que é o mesmo erro em que incorrem os católicos romanos ! Tudo o que o meu Deus revelou deve ser pregado. Tudo o que tem revelado, ainda que não possa compreendê-lo, seguirei crendo, e pregando. Mantenho que não há nenhuma doutrina da Palavra de Deus que uma criança, se é capaz de salvação, não seja capaz de receber. Queria que as crianças fossem ensinadas em todas as grandes doutrinas da verdade sem uma só exceção, para que em tempos posteriores possam aferrar-se a elas. Posso dar testemunho de que as crianças podem compreender as Escrituras, porque estou seguro de que quando era somente um menino podia discutir acerca de muitos pontos intrincados de controvérsia teológica, no círculo de amigos de meu pai. De fato, as crianças são capazes de compreender algumas coisas nas primeiras etapas da vida, que dificilmente compreendemos posteriormente. As crianças têm de maneira eminente a simplicidade da fé. A simplicidade é equivalente ao mais alto conhecimento; em realidade, não podemos dizer que haja muita diferença entre a simplicidade de um menino e o gênio de mente mais profunda. O que recebe as coisas com simplicidade, como criança, terá frequentemente ideias que o homem propenso a fazer um silogismo com todas as coisas nunca chegará a alcançar.
Se querem saber se é possível ensinar as crianças, lhes apontarei muitos exemplos em nossas igrejas, e em famílias piedosas: não prodígios, senão meninos que vemos com frequência: Timóteos e Samuéis, e também meninas pequenas, que têm chegado a conhecer muito cedo o amor do Salvador. Assim como um menino é capaz de ser condenado ainda cedo, também é capaz de ser salvo. Tão cedo como um menino pode pecar, este menino pode, se lhe assiste a graça de Deus, crer e receber a Palavra de Deus. Tenham a certeza de que tão cedo como o menino pode conhecer o mal, é competente, sob a condução do Espírito Santo, para aprender o bem. Nunca vá à sua classe com o pensamento de que as crianças não podem compreender, porque se não lhes faz compreenderem é porque não compreende você mesmo. Se não lhes ensina os caminhos que deseja, é porque você não é adequado para a tarefa; você deveria falar palavras mais simples, mais adequadas para sua capacidade, e logo descobrirá que não era culpa da criança, senão do adulto, que ela não aprendesse. Mantenho que as crianças são capazes de salvação. O Senhor, que em sua soberania divina resgata ao encanecido pecador do horror de seus pecados, pode converter um menino de suas tolices juvenis. O que na hora undécima encontra a alguns ociosos na praça do mercado, e os envia à sua vinha, pode chamar a homens no amanhecer do dia de suas vidas para trabalharem para ele. O que pode mudar o curso de um rio quando corre abaixo em seu curso, e fazê-lo grande em seu crescimento, pode controlar um riacho que acabou de brotar, e fazer que corra pelo canal que deseja. Pode fazer todas as coisas. Pode operar no coração das crianças como lhe apraz, porque tudo está sob seu controle.
Temo que muitos de vocês não esperem ouvir acerca de crianças que são salvas. Por todas as igrejas tenho dado conta de uma espécie de repugnância contra qualquer piedade temporã, infantil Assusta-nos a ideia de uma criança que ame a Cristo; e se ouvimos de uma menina seguindo ao Salvador, dizemos que é imaginação infantil, uma impressão temporã que logo se desvanecerá. Queridos amigos, lhes rogo, nunca tratem a piedade infantil com suspeitas. É uma planta tenra, não a manuseiem demasiadamente. Ouvi algo que creio é uma narração genuína. Uma menina de uns cinco a seis anos, que amava verdadeiramente a Jesus, pediu à sua mãe para unir-se à igreja. A mãe lhe disse que era muito pequena. A menina muito triste, e certo tempo depois sua mãe, observou que havia piedade em seu coração, e contou o fato a um pastor. Este falou com a menina, e disse à sua mãe: “Estou totalmente convencido de sua piedade, porém não posso permitir que participe dos cultos porque é muito pequena.”. Quando a menina ouviu isto, uma estranha sombra cobriu seu rosto, no dia seguinte, quando sua mãe foi à sua cama, encontrou-a com lágrimas nos olhos, morta de dor, seu coração havia se partido, porque não lhe deixaram seguir a seu Salvador e fazer como ele lhe havia convidado. Eu não haveria assassinado aquela menina por todo um mundo ! Tenham cuidado como tratam com a piedade juvenil. Sejam ternos com ela. Creiam que as crianças podem ser salvas, tanto quanto vocês. Quando veem um jovem coração trazido ao Senhor, não o coloquem de lado, falando duro, e desconfiando de tudo. É melhor às vezes ser enganados que ser o meio de destruição de alguém. Que Deus envie a seu povo uma convicção mais firme de que os pequeninos brotos da graça são dignos de todo o cuidado.

II. Em segundo lugar, dar-lhes-ei DOIS ALENTOS, em encontrarão a ambos no texto. O primeiro alento é o do exemplo piedoso. Davi disse: ““Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Não te envergonharás de seguir os passos de Davi, verdade ? Não porás objeções para seguir o exemplo de alguém que foi o primeiro eminente em santidade, e logo eminente em grandeza. Acaso o pastorzinho, o matador do gigante, o salmista de Israel e o monarca, haveriam ido pelos passos que tu tenhas demasiado orgulho para seguir ? Ah não! Estou seguro de que te sentirás feliz de ser com era Davi. Porém se queres um exemplo maior, inclusive que o de Davi, escuta ao Filho de Davi, como saem doces palavras de sua boca: “Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino dos céus.”. Estou seguro de que lhes animaria se pensassem sempre nestes exemplos. Vocês ensinam a crianças, e isso não os desonra. Alguns dizem de vocês que são meramente mestres da Escola Dominical, porém vocês são personagens nobres, com um cargo honroso, e têm ilustres predecessores. Encanta-nos ver pessoas de uma certa posição na sociedade tendo interesse na Escola Dominical. Um grande fato em muitas de nossas igrejas é que as crianças são deixadas aos jovens para serem cuidados, e que dentre os membros mais velhos, com maior sabedoria, se preocupam porém muitos poucos deles, e muito frequentemente os membros mais acomodados da igreja se acham de lado como se o ensino dos pobres não fosse a especial atividade dos ricos. Espero o dia em que os fortes de Israel sejam achados ajudando nesta grande batalha contra o inimigo. Tenho ouvido que nos Estados Unidos há presidentes, juízes, membros do Congresso, e pessoas nas mais altas posições, não condescendendo, porque desdenho empregar esta palavra, senão honrando-se em ensinar às crianças nas Escolas Dominicais. O que ensina uma classe na Escola Dominical tem ganhado um bom título. Antes preferiria ter o título de M.E.D. (Mestre da Escola Dominical) do que uma licenciatura ou um diploma ou qualquer outra honra que se possa conferir.
Permitam que lhes rogue que se animem, porque seus deveres são assim honrosos. Que o régio exemplo de Davi, que o nobre e piedoso exemplo de Jesus, lhes inspirem com uma renovada diligência e um crescente ardor, com uma perseverança confiada e permanente, para prosseguir em sua poderosa obra, dizendo, como disse Davi: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.
O segundo alento que lhes darei é o alento de um grande êxito. Davi disse:  “ Vinde filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Não disse: “Talvez lhes ensinarei o temor do Senhor”, senão que “vos ensinarei”. Teve êxito, e se ele não o teve, outros o têm tido. O êxito das Escolas Dominicais. Ali onde as hostes estelares cantam perpetuamente seu grande louvor, ali  onde as multidões em vestiduras brancas permanentemente lançam suas coroas ao pés do Redentor, poderemos contemplar o êxito das Escolas Dominicais. Ali, também, onde milhões de crianças se reúnem domingo após domingo para louvar ao Senhor Jesus, vemos com alegria o êxito das Escolas Dominicais. E aqui acima, em quase cada púlpito  de nossa terra, e ali nos bancos onde se sentam os diáconos, e de onde os piedosos membros se unem no culto, vemos o êxito das Escolas Dominicais. E remotamente, do outro lado do oceano, nas ilhas dos mares do Sul, em terras onde moram os que antes se prostravam ante ídolos de madeira e pedra, temos missionários salvos nas Escolas Dominicais, de onde milhares, remidos por meio de seus labores, contribuem tanto para a poderosa corrente de um imenso, incalculável êxito, quase diria que infinito, e em todo caso sem paralelo, da instrução das Escolas Dominicais.
Prossigam! Prossigam! Muito é o que se tem feito, mais se fará ainda. Que todas as suas vitórias do passado lhes inflamem com ardor; que a recordação de campanhas de triunfo e de campos de batalha ganhos para o seu Salvador nos reinos da salvação e da paz, sejam o alento de vocês para um  renovado cumprimento do dever.

III. Agora, em terceiro lugar, lhes darei TRÊS ADMOESTAÇÕES: A primeira é: recordem a quem estão ensinando. Trata-se de crianças. “Vinde filhos”. Creio que deveríamos ter sempre respeito para com a nossa audiência, não no sentido de termos que ter cuidado quanto ao que estamos pregando ao senhor Fulano de Tal, ao Senhor Isso, ou ao Magistrado Aquilo, porque diante de Deus isto é uma vaidade. Porém devemos recordar que estamos pregando a homens e mulheres que têm almas, de maneira que não deveríamos ocupar seu tempo com coisas que não valham à pena de serem ouvidas. Agora, quando vocês ensinam na Escola Dominical, estão, se é possível, numa situação mais responsável ainda do que a de um pastor, porque este prega a pessoas adultas, a homens com juízo, que se não lhes agrada o que ele prega, têm a opção de ir para alguma outra parte. Vocês ensinam a crianças que não têm a opção de irem para algum outro lugar. Se ensinam mal às crianças, elas o crerão, se lhes ensinarem heresias, elas as receberão. O que lhes ensinarem agora, nunca mais esquecerão. Vocês não estão semeando numa terra virgem, como alguns dizem, porque tem estado muito tempo ocupada pelo diabo; porém, estão semeando sobre uma terra mais fértil agora que jamais o será, que produzirá agora o fruto de melhor forma do que em tempos futuros; estão semeando em um coração jovem, e o que semeiam é bastante certo que permanecerá ali, especialmente se ensinam o mal, porque isto nunca será esquecido. Cuidado com o que farão a eles. Não os escandalizem. Muitas crianças são tratadas como as crianças da Índia, nas quais colocam pratos de cobre sobre suas cabeças para que nunca cresçam. Há muitos que agora sabem que são simples, porque quando estiveram ao seu cuidado quando eram pequeninos nunca lhes deram a oportunidade para alcançar conhecimento, de modo que quando se fizeram adultos já não lhes importava nada. Tenham cuidado acerca dos seus objetivos; vocês estão ensinando crianças, vigiem então o que estão fazendo. Se puserem veneno no manancial, impregnarão toda a corrente. Tenham cuidado com o que fazem ! Se torcerem o arbusto a velha árvore ficará torta. Tenham cuidado! É a alma de uma criança que estão manipulando. É a alma de uma criança o que estão preparando para a eternidade, se Deus está com vocês. Faço-lhes uma solene admoestação em nome de cada criança. Certamente, se é traição administrar veneno aos moribundos, será muito mais criminoso administrar veneno à vida jovem. Se é mal extraviar aos de cabelos brancos, há de ser muito pior conduzir o coração jovem a um caminho de erro no qual poderá caminhar para sempre. Daí a severa admoestação de Cristo aos que viessem a escandalizar a qualquer dos pequeninos.
A segunda é, lembrem que estão ensinando para Deus. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” Se vocês, como mestres, ensinassem somente geografia, estou seguro de que não haveria muito problema se dissessem a seus alunos que o pólo Norte está próximo do Equador. Porém não estão ensinando geografia, nem matemática, nem uma profissão deste mundo, estão ensinando, no melhor da sua capacidade, para Deus. Vocês lhes dizem: “crianças venham aqui para que se lhes ensine a palavra de Deus, venham aqui, para que sejamos os instrumentos de salvação de suas almas.”. Tenham cuidado quanto ao seu objetivo quando estão lhes ensinando para Deus. Atem as mãos deles, se o desejarem, porém, por amor a Deus, não ataquem seus corações. Decidam o que quiserem sobre as coisas temporais, porém lhes rogo, em questões espirituais, tenham cuidado com a maneira pela qual os conduzem. Tenham cuidado em lhes inculcar a verdade, e somente a verdade ! E agora, quão solene se torna o trabalho de vocês ! O que está fazendo um trabalho para si mesmo, que o faça como quiser, porém o que está trabalhando para outro, que tenha cuidado acerca de como faz seu trabalho. O que está agora ao serviço de um rei, que tenha cuidado de como leva a cabo seus deveres, porém o que trabalha para Deus, deve tremer, se faz mal o seu trabalho, pois a palavra diz:”maldito aquele que faz descuidadamente a obra do Senhor”. Ah! Temo que muitos entre nós, estão longe de ter esta perspectiva!
A terceira admoestação é: recordem que suas crianças necessitam de ensino. O texto implica isso, quando diz, “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Isto faz que seu trabalho seja tanto mais solene. Se as crianças não necessitassem de ensino não me sentiria tão inquieto pelo que estão lhes ensinando de maneira correta, porque as obras não necessárias os homens podem fazê-las como bem lhes pareça. Porém esta obra é necessária. Teu filho necessita de ensino. Nasceu em iniquidade, em pecado foi concebido por sua mãe. Tem um coração mau. Não conhece a Deus, e jamais o conhecerá se você não ensiná-lo. Não é como alguma boa terra que possua uma boa semente oculta em suas entranhas. Ao contrário, tem má semente em seu coração. Deus pode colocar a boa semente ali. Vocês que professam serem seus instrumentos para espalhar a semente no coração da criança, lembrem: se esta semente não for semeada, ficará perdida para sempre, sua vida será uma vida alienada de Deus, e a sua morte será inevitável, e a sua parte será no fogo eterno. Tenha cuidado então, de como ensina, recordando a premente necessidade do caso. Esta não é uma casa incendiada necessitando da sua ajuda na bomba de água, nem um barco naufragando no mar, que necessita do teu remo no bote salva-vidas, mas um espírito imortal que clama a você: “Passa aqui e ajuda-nos.”. Rogo-lhes, ensinem “no temor do Senhor” e somente isto, tenham desejo de dizer, e dizer com verdade, “no temor do Senhor os instruirei.”.

IV. Isto me leva ao quarto ponto, a QUATRO INSTUÇÕES, e estas estão todas no texto.
   A primeira é: faz com que as crianças venham à tua escola. “Vinde filhos.”. A grande queixa de parte de muitos hoje, é que não podem conseguir crianças. Vão buscá-las. Em Londres estamos indo de casa em casa, esta é uma boa ideia, e se deveria ir de casa em casa por todos os povoados, por todas as cidades, por todas as ruas, e conseguir o maior número possível de crianças, porque Davi disse, “Vinde filhos”. Assim, meu conselho é que consigam que venham as crianças, e que façam qualquer coisa para levá-lo a cabo. Mas não seja muito detalhista no modo de como trará as crianças à escola, porque, se eu não pudesse ter pregadores trajando casacos pretos para pregar à minha congregação, eu os teria  em uniforme militar, mas eu teria uma congregação de certo modo. É melhor fazer coisas estranhas como esta do que ter uma igreja  vazia, ou uma sala de aula vazia.
    Quando eu estava para ir à Escócia, nós enviamos antes, um pastor para obter ouvintes, e o plano foi muito bem sucedido.
    Evite meios ilícitos, mas faça tudo o que for possível para atrair as crianças à escola. Eu tenho ouvido de ministros que saíram pelas ruas à tarde no dia do Senhor e falaram às crianças que estavam brincando nas proximidades, e as convidaram a virem para a escola. Isto é o que um professor sério fará; ele dirá, "João, venha à nossa escola; você não pode imaginar que  lugar agradável é.". A seguir, ele conduz as crianças à escola e em sua maneira amável, ele lhes conta estórias e anedotas sobre meninas e meninos que amaram o Senhor, e desta forma, a escola  fica repleta de alunos. Vá e pegue as crianças. Não há nenhuma lei contra isto, tudo é justo na guerra contra o diabo. Assim minha primeira instrução é, conquiste as crianças, e faça-o por todos os modos que você possa fazê-lo.
          Em seguida, conquiste o amor das crianças, se você puder fazê-lo. "Deixai vir a mim as criancinhas”.  “Oh!”. Pensam as crianças, “como é agradável ter um professor assim, um professor que  nos deixa chegar perto dele, um professor que não diz: “ Vão!”, mas “Venham!”. A falha de muitos professores é que eles não deixam suas crianças chegarem perto deles; mas esforçam-se para criar em seus alunos um tipo de respeito temeroso.
    Antes que você possa ensinar  as crianças, você deve tomar a chave de prata da bondade para abrir seus corações, e assim obter sua atenção. Diga, "venham a mim crianças.".  Nós temos conhecido alguns bons homens que eram objeto de aversão às crianças. Você conhece a história de dois meninos aos quais haviam perguntado um dia se eles gostariam de ir para o céu? Para muita surpresa do seu professor, disseram que não o desejavam realmente. Quando lhes perguntaram, "porque não?" um deles disse, "eu não gostaria  de ir para o céu porque o vovô está lá, e ele certamente diria: “Fiquem longe meninos, quero estar distante de vocês!” Por isso eu não gostaria de estar no céu com meu avô.”. Portanto, se um menino tem um professor que fala de Jesus, mas que sempre tem um olhar amargo, o que o menino pensará? “Eu quero saber se Jesus é como você; se Ele for eu não gostaria dele.". Então há um outro professor, que, se for sempre assim perturbado, os ouvidos das crianças permanecerão fechados; ao mesmo tempo, que ele ensina que deveriam perdoar-se mutuamente, e que devem ser amáveis com ele. “Bem”, pensa o jovem, "que é muito bonito de ouvir não há nenhuma dúvida, mas meu professor não é um exemplo para mim para que eu possa fazê-lo.". Se você se mantiver distante de uma das suas crianças, o seu poder sobre ela terá ido embora, e você não será capaz de ensinar-lhe qualquer coisa. É de nenhum proveito tentar ensinar àqueles que não lhe amam; assim, tente fazer-lhes  amar você, e então  eles aprenderão qualquer coisa que lhes ensinar.
      Em seguida, ganhe a atenção das crianças. "Venham crianças, venham ouvir-me.". Se elas não lhe escutarem, você pode falar, mas você falará para nenhuma finalidade. Se não escutarem, você realizará seu trabalho como uma tarefa penosa desprovida de propósito para si próprio e para seus alunos. Você nada poderá fazer sem obter antes a atenção deles. Bem, isso depende de você mesmo; se você lhes der alguma coisa de importância para se ocuparem, eles certamente o escutarão. Dê-lhes algo de valor para ouvirem e eles certamente ouvirão. Esta regra pode não ser universal, mas é muito proveitosa. Não se esqueça de contar-lhes algumas coisas engraçadas. As anedotas são muito objetadas pelos críticos dos sermões, que dizem que não devem ser usadas no púlpito; mas alguns de nós sabem  melhor do que esses, nós sabemos o que acordará uma congregação; nós podemos testemunhar com base em nossa experiência, que umas poucas anedotas aqui e ali são coisas de primeira qualidade para se obter a atenção inicial das pessoas que não escutarão a doutrina secamente. Tente colecionar  boas ilustrações, tantas quanto lhe seja possível; sempre que for ministrar, se você for realmente um professor sábio, você sempre poderá encontrar ilustrações dentro de um conto para dizer às suas crianças. Então, quando seus alunos começarem a achar o ensino maçante, e você estiver perdendo a sua atenção, diga-lhes: “Vocês conhecem os Cinco Sinos ?" Se houver tal lugar onde residam, todos dirigirão sua atenção para a sua pergunta, “Vocês conhecem a volta do Leão Vermelho?”. Diga-lhes então algo que você leu ou  ouviu sobre isto, e certamente poderá fixar sua atenção à lição. Uma criança uma vez disse, "Pai, eu gosto de ouvir o Sr. Fulano pregar, porque diz muitas coisas engraçadas em seus sermões”. Sim, as crianças sempre amam as “coisas engraçadas".
     Faça parábolas, retratos, figuras para eles, e você progredirá sempre. Eu estou convicto, será que eu  seria um menino atento a tudo o que você disse, caso você não apresentasse um conto agora e de vez em quando, você veria frequentemente a parte de trás da minha cabeça, e eu não sei, se eu me sentaria em uma sala de aula quente, mas cochilaria e iria dormir, ou iria brincar com o Juca à minha esquerda, e faria muitas coisas estranhas como descansar, se você não se esforçasse em despertar o meu interesse.
 Lembre-se então de fazer com que seus alunos lhe deem ouvidos.
A quarta admoestação é, tenham cuidado com o que ensinam às crianças: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.

V. Em quinto lugar, quero dar-lhes CINCO LIÇÕES DE ESCOLA DOMINICAL, cinco temas para ensinar às suas crianças, e estes se encontram nos versículos que se seguem ao nosso texto: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” (Sl 34.11). A primeira coisa que se deve ensinar é A MORALIDADE. "Quem é o homem que ama a vida, e quer longevidade para ver o bem ? Refreia a tua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, e pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.” (Sl 34.12-14; I Pe 3.10b,11). A segunda coisa a ensinar  é A PIEDADE, e uma constante crença na vigilância de DEUS; “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e atentos os seus ouvidos ao clamor deles.”(Sl 34.15). A terceira é A MALDADE DO PECADO. “O rosto do Senhor está contra os que praticam o mal, para cortar da terra a memória deles.” (Sl 34.16). “Clamam os justo, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas tribulações.” (Sl 34.17). A quarta é A NECESSIDADE DE UM CORAÇÃO QUEBRANTADO. “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido.”. A quinta é A INESTIMÁVEL  BÊNÇÃO DE SER UM FILHO DE DEUS: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra.” (Sl 34.19). “Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles será quebrado.”(Sl 34.20). “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado.”(Sl 34.22)..
Tenho lhes dados estas divisões, e agora tratemos de uma por uma: Aqui, pois, temos uma lição modelo para vocês : “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Davi começa com uma pergunta: “Quem é o homem que deseja ver dias felizes ?”. Às crianças agrada este pensamento, lhes agrada a ideia de viverem até serem velhos. Com esta introdução começa ele o ensino sobre moralidade: "Refreie a sua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.”.
   Nós nunca ensinamos a moralidade como forma de  salvação. Deus proíbe que nós   confundamos as obras do homem, sob qualquer forma com o redenção que está em Cristo Jesus! "pela graça é que temos conservado a fé, e isso não vem de nós, é dom de Deus." Contudo nós ensinamos a  moralidade quando nós ensinamos a espiritualidade; e eu descobri que o evangelho sempre produz a  melhor moralidade em todo o mundo. Eu tive um professor da escola dominical que ministrava muito sobre moralidade aos meninos e meninas sob seu cuidado, falando a eles muito particularmente acerca daqueles pecados que são os mais comuns à juventude. Podem honesta e convenientemente dizer muitas coisas às suas crianças que ninguém mais pode dizer, especialmente  lembrá-las dos pecados que se encontram, comumente em crianças, a saber, pecados de pequenos roubos, ou de desobediência aos pais, ou de quebra do dia de descanso. Eu mandaria o professor ser muito particular em mencionar estes males um por um; para ele é de pouco proveito falar-lhes  sobre pecados no atacado. Você deve fazer exame de um por um, assim como Davi. Primeiro aponte para o  cuidado com a  língua: " Refreie a sua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente.". Depois, então, em segundo lugar, aponte para a conduta total:. “aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.". Se a alma da criança não for preservada por outras partes do ensino, esta parte pode ter um efeito benéfico sobre a sua vida, e somente isto, e não além. A moralidade, entretanto, por si é comparativamente uma coisa pequena. A melhor parte do que você ensina é a santidade. Eu não disse "religião," mas santidade. Muitos povos são religiosos de alguma forma, sem serem santos. Muitos têm todos os sinais externos da santidade, toda a parte externa da piedade; tais homens que nós  chamamos  de "religiosos," mas não têm nenhum pensamento correto sobre  Deus. Pensam sobre seu lugar de adoração, seu domingo, seus livros, mas nada sobre Deus. Que não respeita Deus, não ora a Deus, não ama a Deus, é um homem sem santidade, o que quer que sua religião externa possa ser. Trabalhe para ensinar sempre a criança a ter um olho em Deus; escreva em sua memória estas palavras, "Deus está me vendo". Auxilie-a a recordar que cada ato e  pensamento seus estão sob o olhar atento de Deus. Não deve o professor da EBD desconsiderar que não é um dever menor colocar constantemente ênfase sobre o fato que há um Deus que observa tudo que acontece. Oh, que sejamos mais santos;  e que nós falemos mais da santidade , e que  amemos de fato a santidade! A terceira lição é o mal do pecado. Se a criança não aprender isto, nunca aprenderá como se chega ao céu. Nenhum de nós sempre soube quem era o salvador Jesus Cristo até que viemos a saber a coisa má que  é o pecado. Se o Espírito Santo não nos ensinasse que somos pecadores jamais conheceríamos a bênção da salvação. Deixe-nos procurar sua graça, então, quando nós ensinamos, que nós devemos  sempre colocar a ênfase sobre a natureza abominável do pecado. "o rosto do Senhor é contra aqueles que praticam o mal, para cortar a sua lembrança da terra". Não poupe, sua criança; deixe-a saber a que o pecado conduz. Não,  aja como algumas pessoas, que são receosas do discurso claramente e amplamente relativo às consequências do pecado. Eu ouvi de um pai, um cujo filho, um rapaz novo, muito ímpio, morreu de maneira muito repentina. O pai não fez, como alguns costumam fazer, ao dirigir a seguinte palavra à sua  família: "nós esperamos que seu irmão tenha ido para o céu.". Mas não; superando seus sentimentos naturais, foi-lhe concedido, pela graça de Deus, sentar junto às suas crianças, e dizer-lhes: "meus filhos; e filhas, seu irmão estava perdido; eu temo que ele esteja no inferno. Vocês souberam sobre sua vida e conduta, vocês viram como se comportou; e  Deus tem-no agora afastado em seus pecados.". Então disse-lhes solenemente que do lugar do sofrimento, que cria, para onde tinha ido, deveria estar implorando para evitar  e fugir da ira do porvir. Assim, usou o meio necessário para trazer suas crianças ao pensamento sério. Mas, se ao contrário se deixasse vencer pela ternura de coração e tivesse dito que esperava que seu filho tivesse ido para o céu, o que as outras crianças diriam ? "se ele foi para o céu, não há nenhuma necessidade para nós temermos; nós poderemos viver do modo que quisermos.". Não. Não.  Eu não penso que não seja cristão afirmar que alguns homens estão indo para o inferno, quando nós vimos que suas vidas foram vidas infernais. Mas perguntamos: "pode você julgar suas criaturas?" Ó Não ! Mas podemos conhecê-los pelos seus frutos. Eu não os julgo, ou  os condeno; pois julgam-se a si mesmos. Eu vi seus pecados antes do julgamento, e eu não duvido do que ocorrerá em seguida. "Mas não podem ser salvos na décima primeira hora?". Eu ouvi sobre alguém que foi, mas eu não sei que sempre haverá outro, e eu não posso dizer que sempre haverá. Seja honesto, a seguir, com suas crianças, e ensine-as, pela ajuda de Deus, que o "mal mata o mau." Mas você não terá feito parcialmente bastante a menos que você ensine com cuidado a quarta lição, a necessidade absoluta de  uma mudança do coração. "o senhor está perto dos que têm  um coração quebrantado; e salva os que têm um espírito contrito.". Oh! Possa Deus permitir-nos manter constantemente, isto nas mentes dos alunos, que importa antes, ser de um coração quebrantado e um espírito contrito, e que as boas obras  serão de nenhum proveito a menos que haja uma natureza nova, que todos os deveres e os mais árduos  e sérios trabalhos serão como nada, a menos que haja um arrependimento verdadeiro e completo em relação ao pecado, e total abandono do pecado através da atuação da graça e da misericórdia de Deus! Esteja certo: o que quer que você ensine às crianças, nunca deixe faltar os três “R”, — Ruína (estado do homem sujeito ao pecado),  Redenção e  Regeneração. Diga às crianças que são arruinadas pela queda, e que só há  salvação para elas se forem  redimidas pelo sangue de Jesus Cristo, e serem regeneradas pelo Espírito Santo. Mantenha constantemente diante delas estas verdades vitais, e então você terá a tarefa agradável de dizer-lhes o assunto doce da lição de fechamento. Em quinto lugar, diga às criança sobre a alegria e a bênção de ser cristão. “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado". Eu não necessito dizer-lhe como falar sobre esse tema. É verdadeiro o dito: "abençoado é o homem cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto.". "Abençoado é o homem que faz do Senhor sua confiança." Sim, verdadeiramente é abençoado o homem,  a mulher, a criança que confia no senhor Jesus Cristo, e cuja  esperança está nele colocada, sempre dando acima de tudo, ênfase a este ponto —  que os justificados são um povo abençoado da família escolhida de Deus, redimida pelo sangue e conservada pelo poder, sendo pessoas abençoadas aqui em baixo, e que serão abençoadas para sempre no céu. Deixe suas crianças verem que você pertence àquela companhia abençoada. Se souberem que você está com problemas, mas se for possível, vir à sua classe com um rosto alegre, de modo que seus alunos possam  dizer: o "professor é um homem abençoado embora esteja curvado sob seus problemas.". Sempre buscando manter uma expressão regozijante, seus meninos e meninas  saberão que sua religião é uma realidade abençoadora. Deixe isto ser o ponto principal de seu ensino, o de que embora "sejam muitas as aflições do justo," contudo "Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado...O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado". Assim tenho lhes dado cinco lições; e deixe-me agora dizer solenemente, que em toda a instrução que você seja capaz de dar às suas crianças, você deve estar profundamente consciente que você não é capaz de fazer qualquer coisa em prol da salvação da criança, mas que é Deus, ele mesmo que, do primeiro ao último, quem tudo faz. Você é simplesmente uma pena; e Deus pode escrever com você, mas você não deve escrever qualquer coisa de si mesmo. Você é uma espada; Deus pode  matar o pecado da criança usando você, mas você não pode matar o seu próprio pecado. Tenha portanto sempre consciência disto, que você deve ser então o primeiro a ser ensinado por Deus e que você deve pedir a Deus para usá-lo como professor; a menos que o maior Mestre do que você o instrua, e instrua às crianças, elas perecerão. Não é sua lição que pode salvar as almas das crianças; é a bênção de Deus, o Espírito Santo acompanhando seus labores. Possa Deus abençoar e coroar seus esforços com abundante sucesso!
Ele fará isto se você gastar tempo em oração e súplica constantes.


Nunca o trabalho do professor e pregador sério será em vão no Senhor, e nunca se viu que o pão lançado sobre as águas se tivesse perdido.



Salmo 34

Salmo de Davi
(quando se fingiu de louco na presença de Abimeleque)

“Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios.  Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão.  Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome.  Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame.  Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações.  O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.  Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.  Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem.  Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará.  Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR.  Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?  Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente.  Aparta-te do mal e pratica o que é bom; procura a paz e empenha-te por alcançá-la.  Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor.  O rosto do SENHOR está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória.  Clamam os justos, e o SENHOR os escuta e os livra de todas as suas tribulações.  Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.  Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra.  Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado.  O infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados.  O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam nenhum será condenado.”

No comentário deste salmo, nós usaremos um texto de autoria de Spurgeon, em domínio público, na Internet, que traduzimos do original inglês, intitulado: O ensino das Crianças:

 “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” (Sl 34.11)

É uma coisa singular que os homens piedosos descubram frequentemente seu dever quando estão situados nas condições mais humilhantes. Nunca em sua vida, Davi estivera em pior perigo do que o que lhe inspirou este Salmo. É, como lemos no seu começo “Salmo de Davi, quando se fizera amalucado na presença de Abimeleque, e, por este expulso, ele se foi”.  Davi foi levado diante do Rei Aquis, o Abimeleque da Filistia, a fim de tentar escapar, ele simulou estar louco, com uns sintomas muito degradantes que bem podiam confirmar sua loucura. Foi expulso do palácio, e, como é normal quando tais pessoas passam pela rua, um certo número de crianças deve ter se reunido ao seu redor. Em dias posteriores, ao cantar louvores a Deus, e recordando como havia chegado a ser o palhaço de criancinhas, pareceu dizer: “Tenho me rebaixado na estima das gerações vindouras, por minha insensatez nas ruas diante das crianças. Agora tratarei de desfazer este mal.”. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.  
É muito possível que se Davi nunca houvesse se encontrado nestas circunstâncias, nunca haveria pensado neste dever, porque não encontro nenhum outro Salmo no qual ele dissesse: “Vinde, filhos, e escutai-me; e vos ensinarei o temor do Senhor.”. Teria o cuidado de suas cidades, províncias e nação pressionando-o, e pôde prestar pouca atenção à educação dos jovens. Porém aqui, levado à mais humilde posição que alguém possa ocupar, havendo chegado a ser como privado da razão, recorda seu dever. O cristão exaltado e próspero nem sempre se lembra dos cordeiros; esta tarefa geralmente recai sobre os Pedros, cuja confiança e soberba têm sido vencidas, e que se regozijam em responder assim de uma maneira prática a pergunta: “Tu me amas ?”.
De nosso texto extrairei primeiro uma doutrina, em segunda lugar, dois alentos, em terceiro, três instruções, em quarto, quatro instruções, e em quinto lugar cinco temas para crianças, tudo isto tomado do texto.

I.  Primeiro, UMA DOUTRINA. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. A doutrina é que as crianças são capazes de receber o ensino do temor do Senhor. Os homens são em geral tanto mais sábios quanto mais insensatos têm sido. Davi havia sido sumamente insensato, e agora se transformou em extremamente sábio. E ao sê-lo, não era provável que expressasse sentimentos insensatos, nem que desse instruções que fossem ditadas por uma mente débil.
Temos ouvido falar de alguns que as crianças não podem compreender os grandes mistérios da Palavra de Deus. Inclusive sabemos de alguns mestres da Escola Dominical que cautelosamente evitam mencionar as grandes doutrinas do evangelho, porque creem que as crianças não estão preparadas para recebê-las. O mesmo erro se tem introduzido no púlpito, porque atualmente se crê, entre certa classe de pregadores, que muitas das doutrinas da palavra de Deus, ainda que corretas, não são adequadas para serem ensinadas ao povo, porque seriam confundidos para a própria destruição deles. Fora com esse sacerdotalismo, que é o mesmo erro em que incorrem os católicos romanos ! Tudo o que o meu Deus revelou deve ser pregado. Tudo o que tem revelado, ainda que não possa compreendê-lo, seguirei crendo, e pregando. Mantenho que não há nenhuma doutrina da Palavra de Deus que uma criança, se é capaz de salvação, não seja capaz de receber. Queria que as crianças fossem ensinadas em todas as grandes doutrinas da verdade sem uma só exceção, para que em tempos posteriores possam aferrar-se a elas. Posso dar testemunho de que as crianças podem compreender as Escrituras, porque estou seguro de que quando era somente um menino podia discutir acerca de muitos pontos intrincados de controvérsia teológica, no círculo de amigos de meu pai. De fato, as crianças são capazes de compreender algumas coisas nas primeiras etapas da vida, que dificilmente compreendemos posteriormente. As crianças têm de maneira eminente a simplicidade da fé. A simplicidade é equivalente ao mais alto conhecimento; em realidade, não podemos dizer que haja muita diferença entre a simplicidade de um menino e o gênio de mente mais profunda. O que recebe as coisas com simplicidade, como criança, terá frequentemente ideias que o homem propenso a fazer um silogismo com todas as coisas nunca chegará a alcançar.
Se querem saber se é possível ensinar as crianças, lhes apontarei muitos exemplos em nossas igrejas, e em famílias piedosas: não prodígios, senão meninos que vemos com frequência: Timóteos e Samuéis, e também meninas pequenas, que têm chegado a conhecer muito cedo o amor do Salvador. Assim como um menino é capaz de ser condenado ainda cedo, também é capaz de ser salvo. Tão cedo como um menino pode pecar, este menino pode, se lhe assiste a graça de Deus, crer e receber a Palavra de Deus. Tenham a certeza de que tão cedo como o menino pode conhecer o mal, é competente, sob a condução do Espírito Santo, para aprender o bem. Nunca vá à sua classe com o pensamento de que as crianças não podem compreender, porque se não lhes faz compreenderem é porque não compreende você mesmo. Se não lhes ensina os caminhos que deseja, é porque você não é adequado para a tarefa; você deveria falar palavras mais simples, mais adequadas para sua capacidade, e logo descobrirá que não era culpa da criança, senão do adulto, que ela não aprendesse. Mantenho que as crianças são capazes de salvação. O Senhor, que em sua soberania divina resgata ao encanecido pecador do horror de seus pecados, pode converter um menino de suas tolices juvenis. O que na hora undécima encontra a alguns ociosos na praça do mercado, e os envia à sua vinha, pode chamar a homens no amanhecer do dia de suas vidas para trabalharem para ele. O que pode mudar o curso de um rio quando corre abaixo em seu curso, e fazê-lo grande em seu crescimento, pode controlar um riacho que acabou de brotar, e fazer que corra pelo canal que deseja. Pode fazer todas as coisas. Pode operar no coração das crianças como lhe apraz, porque tudo está sob seu controle.
Temo que muitos de vocês não esperem ouvir acerca de crianças que são salvas. Por todas as igrejas tenho dado conta de uma espécie de repugnância contra qualquer piedade temporã, infantil Assusta-nos a ideia de uma criança que ame a Cristo; e se ouvimos de uma menina seguindo ao Salvador, dizemos que é imaginação infantil, uma impressão temporã que logo se desvanecerá. Queridos amigos, lhes rogo, nunca tratem a piedade infantil com suspeitas. É uma planta tenra, não a manuseiem demasiadamente. Ouvi algo que creio é uma narração genuína. Uma menina de uns cinco a seis anos, que amava verdadeiramente a Jesus, pediu à sua mãe para unir-se à igreja. A mãe lhe disse que era muito pequena. A menina muito triste, e certo tempo depois sua mãe, observou que havia piedade em seu coração, e contou o fato a um pastor. Este falou com a menina, e disse à sua mãe: “Estou totalmente convencido de sua piedade, porém não posso permitir que participe dos cultos porque é muito pequena.”. Quando a menina ouviu isto, uma estranha sombra cobriu seu rosto, no dia seguinte, quando sua mãe foi à sua cama, encontrou-a com lágrimas nos olhos, morta de dor, seu coração havia se partido, porque não lhe deixaram seguir a seu Salvador e fazer como ele lhe havia convidado. Eu não haveria assassinado aquela menina por todo um mundo ! Tenham cuidado como tratam com a piedade juvenil. Sejam ternos com ela. Creiam que as crianças podem ser salvas, tanto quanto vocês. Quando veem um jovem coração trazido ao Senhor, não o coloquem de lado, falando duro, e desconfiando de tudo. É melhor às vezes ser enganados que ser o meio de destruição de alguém. Que Deus envie a seu povo uma convicção mais firme de que os pequeninos brotos da graça são dignos de todo o cuidado.

II. Em segundo lugar, dar-lhes-ei DOIS ALENTOS, em encontrarão a ambos no texto. O primeiro alento é o do exemplo piedoso. Davi disse: ““Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Não te envergonharás de seguir os passos de Davi, verdade ? Não porás objeções para seguir o exemplo de alguém que foi o primeiro eminente em santidade, e logo eminente em grandeza. Acaso o pastorzinho, o matador do gigante, o salmista de Israel e o monarca, haveriam ido pelos passos que tu tenhas demasiado orgulho para seguir ? Ah não! Estou seguro de que te sentirás feliz de ser com era Davi. Porém se queres um exemplo maior, inclusive que o de Davi, escuta ao Filho de Davi, como saem doces palavras de sua boca: “Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino dos céus.”. Estou seguro de que lhes animaria se pensassem sempre nestes exemplos. Vocês ensinam a crianças, e isso não os desonra. Alguns dizem de vocês que são meramente mestres da Escola Dominical, porém vocês são personagens nobres, com um cargo honroso, e têm ilustres predecessores. Encanta-nos ver pessoas de uma certa posição na sociedade tendo interesse na Escola Dominical. Um grande fato em muitas de nossas igrejas é que as crianças são deixadas aos jovens para serem cuidados, e que dentre os membros mais velhos, com maior sabedoria, se preocupam porém muitos poucos deles, e muito frequentemente os membros mais acomodados da igreja se acham de lado como se o ensino dos pobres não fosse a especial atividade dos ricos. Espero o dia em que os fortes de Israel sejam achados ajudando nesta grande batalha contra o inimigo. Tenho ouvido que nos Estados Unidos há presidentes, juízes, membros do Congresso, e pessoas nas mais altas posições, não condescendendo, porque desdenho empregar esta palavra, senão honrando-se em ensinar às crianças nas Escolas Dominicais. O que ensina uma classe na Escola Dominical tem ganhado um bom título. Antes preferiria ter o título de M.E.D. (Mestre da Escola Dominical) do que uma licenciatura ou um diploma ou qualquer outra honra que se possa conferir.
Permitam que lhes rogue que se animem, porque seus deveres são assim honrosos. Que o régio exemplo de Davi, que o nobre e piedoso exemplo de Jesus, lhes inspirem com uma renovada diligência e um crescente ardor, com uma perseverança confiada e permanente, para prosseguir em sua poderosa obra, dizendo, como disse Davi: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.
O segundo alento que lhes darei é o alento de um grande êxito. Davi disse:  “ Vinde filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Não disse: “Talvez lhes ensinarei o temor do Senhor”, senão que “vos ensinarei”. Teve êxito, e se ele não o teve, outros o têm tido. O êxito das Escolas Dominicais. Ali onde as hostes estelares cantam perpetuamente seu grande louvor, ali  onde as multidões em vestiduras brancas permanentemente lançam suas coroas ao pés do Redentor, poderemos contemplar o êxito das Escolas Dominicais. Ali, também, onde milhões de crianças se reúnem domingo após domingo para louvar ao Senhor Jesus, vemos com alegria o êxito das Escolas Dominicais. E aqui acima, em quase cada púlpito  de nossa terra, e ali nos bancos onde se sentam os diáconos, e de onde os piedosos membros se unem no culto, vemos o êxito das Escolas Dominicais. E remotamente, do outro lado do oceano, nas ilhas dos mares do Sul, em terras onde moram os que antes se prostravam ante ídolos de madeira e pedra, temos missionários salvos nas Escolas Dominicais, de onde milhares, remidos por meio de seus labores, contribuem tanto para a poderosa corrente de um imenso, incalculável êxito, quase diria que infinito, e em todo caso sem paralelo, da instrução das Escolas Dominicais.
Prossigam! Prossigam! Muito é o que se tem feito, mais se fará ainda. Que todas as suas vitórias do passado lhes inflamem com ardor; que a recordação de campanhas de triunfo e de campos de batalha ganhos para o seu Salvador nos reinos da salvação e da paz, sejam o alento de vocês para um  renovado cumprimento do dever.

III. Agora, em terceiro lugar, lhes darei TRÊS ADMOESTAÇÕES: A primeira é: recordem a quem estão ensinando. Trata-se de crianças. “Vinde filhos”. Creio que deveríamos ter sempre respeito para com a nossa audiência, não no sentido de termos que ter cuidado quanto ao que estamos pregando ao senhor Fulano de Tal, ao Senhor Isso, ou ao Magistrado Aquilo, porque diante de Deus isto é uma vaidade. Porém devemos recordar que estamos pregando a homens e mulheres que têm almas, de maneira que não deveríamos ocupar seu tempo com coisas que não valham à pena de serem ouvidas. Agora, quando vocês ensinam na Escola Dominical, estão, se é possível, numa situação mais responsável ainda do que a de um pastor, porque este prega a pessoas adultas, a homens com juízo, que se não lhes agrada o que ele prega, têm a opção de ir para alguma outra parte. Vocês ensinam a crianças que não têm a opção de irem para algum outro lugar. Se ensinam mal às crianças, elas o crerão, se lhes ensinarem heresias, elas as receberão. O que lhes ensinarem agora, nunca mais esquecerão. Vocês não estão semeando numa terra virgem, como alguns dizem, porque tem estado muito tempo ocupada pelo diabo; porém, estão semeando sobre uma terra mais fértil agora que jamais o será, que produzirá agora o fruto de melhor forma do que em tempos futuros; estão semeando em um coração jovem, e o que semeiam é bastante certo que permanecerá ali, especialmente se ensinam o mal, porque isto nunca será esquecido. Cuidado com o que farão a eles. Não os escandalizem. Muitas crianças são tratadas como as crianças da Índia, nas quais colocam pratos de cobre sobre suas cabeças para que nunca cresçam. Há muitos que agora sabem que são simples, porque quando estiveram ao seu cuidado quando eram pequeninos nunca lhes deram a oportunidade para alcançar conhecimento, de modo que quando se fizeram adultos já não lhes importava nada. Tenham cuidado acerca dos seus objetivos; vocês estão ensinando crianças, vigiem então o que estão fazendo. Se puserem veneno no manancial, impregnarão toda a corrente. Tenham cuidado com o que fazem ! Se torcerem o arbusto a velha árvore ficará torta. Tenham cuidado! É a alma de uma criança que estão manipulando. É a alma de uma criança o que estão preparando para a eternidade, se Deus está com vocês. Faço-lhes uma solene admoestação em nome de cada criança. Certamente, se é traição administrar veneno aos moribundos, será muito mais criminoso administrar veneno à vida jovem. Se é mal extraviar aos de cabelos brancos, há de ser muito pior conduzir o coração jovem a um caminho de erro no qual poderá caminhar para sempre. Daí a severa admoestação de Cristo aos que viessem a escandalizar a qualquer dos pequeninos.
A segunda é, lembrem que estão ensinando para Deus. “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” Se vocês, como mestres, ensinassem somente geografia, estou seguro de que não haveria muito problema se dissessem a seus alunos que o pólo Norte está próximo do Equador. Porém não estão ensinando geografia, nem matemática, nem uma profissão deste mundo, estão ensinando, no melhor da sua capacidade, para Deus. Vocês lhes dizem: “crianças venham aqui para que se lhes ensine a palavra de Deus, venham aqui, para que sejamos os instrumentos de salvação de suas almas.”. Tenham cuidado quanto ao seu objetivo quando estão lhes ensinando para Deus. Atem as mãos deles, se o desejarem, porém, por amor a Deus, não ataquem seus corações. Decidam o que quiserem sobre as coisas temporais, porém lhes rogo, em questões espirituais, tenham cuidado com a maneira pela qual os conduzem. Tenham cuidado em lhes inculcar a verdade, e somente a verdade ! E agora, quão solene se torna o trabalho de vocês ! O que está fazendo um trabalho para si mesmo, que o faça como quiser, porém o que está trabalhando para outro, que tenha cuidado acerca de como faz seu trabalho. O que está agora ao serviço de um rei, que tenha cuidado de como leva a cabo seus deveres, porém o que trabalha para Deus, deve tremer, se faz mal o seu trabalho, pois a palavra diz:”maldito aquele que faz descuidadamente a obra do Senhor”. Ah! Temo que muitos entre nós, estão longe de ter esta perspectiva!
A terceira admoestação é: recordem que suas crianças necessitam de ensino. O texto implica isso, quando diz, “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Isto faz que seu trabalho seja tanto mais solene. Se as crianças não necessitassem de ensino não me sentiria tão inquieto pelo que estão lhes ensinando de maneira correta, porque as obras não necessárias os homens podem fazê-las como bem lhes pareça. Porém esta obra é necessária. Teu filho necessita de ensino. Nasceu em iniquidade, em pecado foi concebido por sua mãe. Tem um coração mau. Não conhece a Deus, e jamais o conhecerá se você não ensiná-lo. Não é como alguma boa terra que possua uma boa semente oculta em suas entranhas. Ao contrário, tem má semente em seu coração. Deus pode colocar a boa semente ali. Vocês que professam serem seus instrumentos para espalhar a semente no coração da criança, lembrem: se esta semente não for semeada, ficará perdida para sempre, sua vida será uma vida alienada de Deus, e a sua morte será inevitável, e a sua parte será no fogo eterno. Tenha cuidado então, de como ensina, recordando a premente necessidade do caso. Esta não é uma casa incendiada necessitando da sua ajuda na bomba de água, nem um barco naufragando no mar, que necessita do teu remo no bote salva-vidas, mas um espírito imortal que clama a você: “Passa aqui e ajuda-nos.”. Rogo-lhes, ensinem “no temor do Senhor” e somente isto, tenham desejo de dizer, e dizer com verdade, “no temor do Senhor os instruirei.”.

IV. Isto me leva ao quarto ponto, a QUATRO INSTUÇÕES, e estas estão todas no texto.
   A primeira é: faz com que as crianças venham à tua escola. “Vinde filhos.”. A grande queixa de parte de muitos hoje, é que não podem conseguir crianças. Vão buscá-las. Em Londres estamos indo de casa em casa, esta é uma boa ideia, e se deveria ir de casa em casa por todos os povoados, por todas as cidades, por todas as ruas, e conseguir o maior número possível de crianças, porque Davi disse, “Vinde filhos”. Assim, meu conselho é que consigam que venham as crianças, e que façam qualquer coisa para levá-lo a cabo. Mas não seja muito detalhista no modo de como trará as crianças à escola, porque, se eu não pudesse ter pregadores trajando casacos pretos para pregar à minha congregação, eu os teria  em uniforme militar, mas eu teria uma congregação de certo modo. É melhor fazer coisas estranhas como esta do que ter uma igreja  vazia, ou uma sala de aula vazia.
    Quando eu estava para ir à Escócia, nós enviamos antes, um pastor para obter ouvintes, e o plano foi muito bem sucedido.
    Evite meios ilícitos, mas faça tudo o que for possível para atrair as crianças à escola. Eu tenho ouvido de ministros que saíram pelas ruas à tarde no dia do Senhor e falaram às crianças que estavam brincando nas proximidades, e as convidaram a virem para a escola. Isto é o que um professor sério fará; ele dirá, "João, venha à nossa escola; você não pode imaginar que  lugar agradável é.". A seguir, ele conduz as crianças à escola e em sua maneira amável, ele lhes conta estórias e anedotas sobre meninas e meninos que amaram o Senhor, e desta forma, a escola  fica repleta de alunos. Vá e pegue as crianças. Não há nenhuma lei contra isto, tudo é justo na guerra contra o diabo. Assim minha primeira instrução é, conquiste as crianças, e faça-o por todos os modos que você possa fazê-lo.
          Em seguida, conquiste o amor das crianças, se você puder fazê-lo. "Deixai vir a mim as criancinhas”.  “Oh!”. Pensam as crianças, “como é agradável ter um professor assim, um professor que  nos deixa chegar perto dele, um professor que não diz: “ Vão!”, mas “Venham!”. A falha de muitos professores é que eles não deixam suas crianças chegarem perto deles; mas esforçam-se para criar em seus alunos um tipo de respeito temeroso.
    Antes que você possa ensinar  as crianças, você deve tomar a chave de prata da bondade para abrir seus corações, e assim obter sua atenção. Diga, "venham a mim crianças.".  Nós temos conhecido alguns bons homens que eram objeto de aversão às crianças. Você conhece a história de dois meninos aos quais haviam perguntado um dia se eles gostariam de ir para o céu? Para muita surpresa do seu professor, disseram que não o desejavam realmente. Quando lhes perguntaram, "porque não?" um deles disse, "eu não gostaria  de ir para o céu porque o vovô está lá, e ele certamente diria: “Fiquem longe meninos, quero estar distante de vocês!” Por isso eu não gostaria de estar no céu com meu avô.”. Portanto, se um menino tem um professor que fala de Jesus, mas que sempre tem um olhar amargo, o que o menino pensará? “Eu quero saber se Jesus é como você; se Ele for eu não gostaria dele.". Então há um outro professor, que, se for sempre assim perturbado, os ouvidos das crianças permanecerão fechados; ao mesmo tempo, que ele ensina que deveriam perdoar-se mutuamente, e que devem ser amáveis com ele. “Bem”, pensa o jovem, "que é muito bonito de ouvir não há nenhuma dúvida, mas meu professor não é um exemplo para mim para que eu possa fazê-lo.". Se você se mantiver distante de uma das suas crianças, o seu poder sobre ela terá ido embora, e você não será capaz de ensinar-lhe qualquer coisa. É de nenhum proveito tentar ensinar àqueles que não lhe amam; assim, tente fazer-lhes  amar você, e então  eles aprenderão qualquer coisa que lhes ensinar.
      Em seguida, ganhe a atenção das crianças. "Venham crianças, venham ouvir-me.". Se elas não lhe escutarem, você pode falar, mas você falará para nenhuma finalidade. Se não escutarem, você realizará seu trabalho como uma tarefa penosa desprovida de propósito para si próprio e para seus alunos. Você nada poderá fazer sem obter antes a atenção deles. Bem, isso depende de você mesmo; se você lhes der alguma coisa de importância para se ocuparem, eles certamente o escutarão. Dê-lhes algo de valor para ouvirem e eles certamente ouvirão. Esta regra pode não ser universal, mas é muito proveitosa. Não se esqueça de contar-lhes algumas coisas engraçadas. As anedotas são muito objetadas pelos críticos dos sermões, que dizem que não devem ser usadas no púlpito; mas alguns de nós sabem  melhor do que esses, nós sabemos o que acordará uma congregação; nós podemos testemunhar com base em nossa experiência, que umas poucas anedotas aqui e ali são coisas de primeira qualidade para se obter a atenção inicial das pessoas que não escutarão a doutrina secamente. Tente colecionar  boas ilustrações, tantas quanto lhe seja possível; sempre que for ministrar, se você for realmente um professor sábio, você sempre poderá encontrar ilustrações dentro de um conto para dizer às suas crianças. Então, quando seus alunos começarem a achar o ensino maçante, e você estiver perdendo a sua atenção, diga-lhes: “Vocês conhecem os Cinco Sinos ?" Se houver tal lugar onde residam, todos dirigirão sua atenção para a sua pergunta, “Vocês conhecem a volta do Leão Vermelho?”. Diga-lhes então algo que você leu ou  ouviu sobre isto, e certamente poderá fixar sua atenção à lição. Uma criança uma vez disse, "Pai, eu gosto de ouvir o Sr. Fulano pregar, porque diz muitas coisas engraçadas em seus sermões”. Sim, as crianças sempre amam as “coisas engraçadas".
     Faça parábolas, retratos, figuras para eles, e você progredirá sempre. Eu estou convicto, será que eu  seria um menino atento a tudo o que você disse, caso você não apresentasse um conto agora e de vez em quando, você veria frequentemente a parte de trás da minha cabeça, e eu não sei, se eu me sentaria em uma sala de aula quente, mas cochilaria e iria dormir, ou iria brincar com o Juca à minha esquerda, e faria muitas coisas estranhas como descansar, se você não se esforçasse em despertar o meu interesse.
 Lembre-se então de fazer com que seus alunos lhe deem ouvidos.
A quarta admoestação é, tenham cuidado com o que ensinam às crianças: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”.

V. Em quinto lugar, quero dar-lhes CINCO LIÇÕES DE ESCOLA DOMINICAL, cinco temas para ensinar às suas crianças, e estes se encontram nos versículos que se seguem ao nosso texto: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” (Sl 34.11). A primeira coisa que se deve ensinar é A MORALIDADE. "Quem é o homem que ama a vida, e quer longevidade para ver o bem ? Refreia a tua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, e pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.” (Sl 34.12-14; I Pe 3.10b,11). A segunda coisa a ensinar  é A PIEDADE, e uma constante crença na vigilância de DEUS; “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e atentos os seus ouvidos ao clamor deles.”(Sl 34.15). A terceira é A MALDADE DO PECADO. “O rosto do Senhor está contra os que praticam o mal, para cortar da terra a memória deles.” (Sl 34.16). “Clamam os justo, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas tribulações.” (Sl 34.17). A quarta é A NECESSIDADE DE UM CORAÇÃO QUEBRANTADO. “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido.”. A quinta é A INESTIMÁVEL  BÊNÇÃO DE SER UM FILHO DE DEUS: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra.” (Sl 34.19). “Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles será quebrado.”(Sl 34.20). “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado.”(Sl 34.22)..
Tenho lhes dados estas divisões, e agora tratemos de uma por uma: Aqui, pois, temos uma lição modelo para vocês : “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”. Davi começa com uma pergunta: “Quem é o homem que deseja ver dias felizes ?”. Às crianças agrada este pensamento, lhes agrada a ideia de viverem até serem velhos. Com esta introdução começa ele o ensino sobre moralidade: "Refreie a sua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.”.
   Nós nunca ensinamos a moralidade como forma de  salvação. Deus proíbe que nós   confundamos as obras do homem, sob qualquer forma com o redenção que está em Cristo Jesus! "pela graça é que temos conservado a fé, e isso não vem de nós, é dom de Deus." Contudo nós ensinamos a  moralidade quando nós ensinamos a espiritualidade; e eu descobri que o evangelho sempre produz a  melhor moralidade em todo o mundo. Eu tive um professor da escola dominical que ministrava muito sobre moralidade aos meninos e meninas sob seu cuidado, falando a eles muito particularmente acerca daqueles pecados que são os mais comuns à juventude. Podem honesta e convenientemente dizer muitas coisas às suas crianças que ninguém mais pode dizer, especialmente  lembrá-las dos pecados que se encontram, comumente em crianças, a saber, pecados de pequenos roubos, ou de desobediência aos pais, ou de quebra do dia de descanso. Eu mandaria o professor ser muito particular em mencionar estes males um por um; para ele é de pouco proveito falar-lhes  sobre pecados no atacado. Você deve fazer exame de um por um, assim como Davi. Primeiro aponte para o  cuidado com a  língua: " Refreie a sua língua do mal, e evite que os seus lábios falem dolosamente.". Depois, então, em segundo lugar, aponte para a conduta total:. “aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.". Se a alma da criança não for preservada por outras partes do ensino, esta parte pode ter um efeito benéfico sobre a sua vida, e somente isto, e não além. A moralidade, entretanto, por si é comparativamente uma coisa pequena. A melhor parte do que você ensina é a santidade. Eu não disse "religião," mas santidade. Muitos povos são religiosos de alguma forma, sem serem santos. Muitos têm todos os sinais externos da santidade, toda a parte externa da piedade; tais homens que nós  chamamos  de "religiosos," mas não têm nenhum pensamento correto sobre  Deus. Pensam sobre seu lugar de adoração, seu domingo, seus livros, mas nada sobre Deus. Que não respeita Deus, não ora a Deus, não ama a Deus, é um homem sem santidade, o que quer que sua religião externa possa ser. Trabalhe para ensinar sempre a criança a ter um olho em Deus; escreva em sua memória estas palavras, "Deus está me vendo". Auxilie-a a recordar que cada ato e  pensamento seus estão sob o olhar atento de Deus. Não deve o professor da EBD desconsiderar que não é um dever menor colocar constantemente ênfase sobre o fato que há um Deus que observa tudo que acontece. Oh, que sejamos mais santos;  e que nós falemos mais da santidade , e que  amemos de fato a santidade! A terceira lição é o mal do pecado. Se a criança não aprender isto, nunca aprenderá como se chega ao céu. Nenhum de nós sempre soube quem era o salvador Jesus Cristo até que viemos a saber a coisa má que  é o pecado. Se o Espírito Santo não nos ensinasse que somos pecadores jamais conheceríamos a bênção da salvação. Deixe-nos procurar sua graça, então, quando nós ensinamos, que nós devemos  sempre colocar a ênfase sobre a natureza abominável do pecado. "o rosto do Senhor é contra aqueles que praticam o mal, para cortar a sua lembrança da terra". Não poupe, sua criança; deixe-a saber a que o pecado conduz. Não,  aja como algumas pessoas, que são receosas do discurso claramente e amplamente relativo às consequências do pecado. Eu ouvi de um pai, um cujo filho, um rapaz novo, muito ímpio, morreu de maneira muito repentina. O pai não fez, como alguns costumam fazer, ao dirigir a seguinte palavra à sua  família: "nós esperamos que seu irmão tenha ido para o céu.". Mas não; superando seus sentimentos naturais, foi-lhe concedido, pela graça de Deus, sentar junto às suas crianças, e dizer-lhes: "meus filhos; e filhas, seu irmão estava perdido; eu temo que ele esteja no inferno. Vocês souberam sobre sua vida e conduta, vocês viram como se comportou; e  Deus tem-no agora afastado em seus pecados.". Então disse-lhes solenemente que do lugar do sofrimento, que cria, para onde tinha ido, deveria estar implorando para evitar  e fugir da ira do porvir. Assim, usou o meio necessário para trazer suas crianças ao pensamento sério. Mas, se ao contrário se deixasse vencer pela ternura de coração e tivesse dito que esperava que seu filho tivesse ido para o céu, o que as outras crianças diriam ? "se ele foi para o céu, não há nenhuma necessidade para nós temermos; nós poderemos viver do modo que quisermos.". Não. Não.  Eu não penso que não seja cristão afirmar que alguns homens estão indo para o inferno, quando nós vimos que suas vidas foram vidas infernais. Mas perguntamos: "pode você julgar suas criaturas?" Ó Não ! Mas podemos conhecê-los pelos seus frutos. Eu não os julgo, ou  os condeno; pois julgam-se a si mesmos. Eu vi seus pecados antes do julgamento, e eu não duvido do que ocorrerá em seguida. "Mas não podem ser salvos na décima primeira hora?". Eu ouvi sobre alguém que foi, mas eu não sei que sempre haverá outro, e eu não posso dizer que sempre haverá. Seja honesto, a seguir, com suas crianças, e ensine-as, pela ajuda de Deus, que o "mal mata o mau." Mas você não terá feito parcialmente bastante a menos que você ensine com cuidado a quarta lição, a necessidade absoluta de  uma mudança do coração. "o senhor está perto dos que têm  um coração quebrantado; e salva os que têm um espírito contrito.". Oh! Possa Deus permitir-nos manter constantemente, isto nas mentes dos alunos, que importa antes, ser de um coração quebrantado e um espírito contrito, e que as boas obras  serão de nenhum proveito a menos que haja uma natureza nova, que todos os deveres e os mais árduos  e sérios trabalhos serão como nada, a menos que haja um arrependimento verdadeiro e completo em relação ao pecado, e total abandono do pecado através da atuação da graça e da misericórdia de Deus! Esteja certo: o que quer que você ensine às crianças, nunca deixe faltar os três “R”, — Ruína (estado do homem sujeito ao pecado),  Redenção e  Regeneração. Diga às crianças que são arruinadas pela queda, e que só há  salvação para elas se forem  redimidas pelo sangue de Jesus Cristo, e serem regeneradas pelo Espírito Santo. Mantenha constantemente diante delas estas verdades vitais, e então você terá a tarefa agradável de dizer-lhes o assunto doce da lição de fechamento. Em quinto lugar, diga às criança sobre a alegria e a bênção de ser cristão. “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado". Eu não necessito dizer-lhe como falar sobre esse tema. É verdadeiro o dito: "abençoado é o homem cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto.". "Abençoado é o homem que faz do Senhor sua confiança." Sim, verdadeiramente é abençoado o homem,  a mulher, a criança que confia no senhor Jesus Cristo, e cuja  esperança está nele colocada, sempre dando acima de tudo, ênfase a este ponto —  que os justificados são um povo abençoado da família escolhida de Deus, redimida pelo sangue e conservada pelo poder, sendo pessoas abençoadas aqui em baixo, e que serão abençoadas para sempre no céu. Deixe suas crianças verem que você pertence àquela companhia abençoada. Se souberem que você está com problemas, mas se for possível, vir à sua classe com um rosto alegre, de modo que seus alunos possam  dizer: o "professor é um homem abençoado embora esteja curvado sob seus problemas.". Sempre buscando manter uma expressão regozijante, seus meninos e meninas  saberão que sua religião é uma realidade abençoadora. Deixe isto ser o ponto principal de seu ensino, o de que embora "sejam muitas as aflições do justo," contudo "Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado...O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado". Assim tenho lhes dado cinco lições; e deixe-me agora dizer solenemente, que em toda a instrução que você seja capaz de dar às suas crianças, você deve estar profundamente consciente que você não é capaz de fazer qualquer coisa em prol da salvação da criança, mas que é Deus, ele mesmo que, do primeiro ao último, quem tudo faz. Você é simplesmente uma pena; e Deus pode escrever com você, mas você não deve escrever qualquer coisa de si mesmo. Você é uma espada; Deus pode  matar o pecado da criança usando você, mas você não pode matar o seu próprio pecado. Tenha portanto sempre consciência disto, que você deve ser então o primeiro a ser ensinado por Deus e que você deve pedir a Deus para usá-lo como professor; a menos que o maior Mestre do que você o instrua, e instrua às crianças, elas perecerão. Não é sua lição que pode salvar as almas das crianças; é a bênção de Deus, o Espírito Santo acompanhando seus labores. Possa Deus abençoar e coroar seus esforços com abundante sucesso!
Ele fará isto se você gastar tempo em oração e súplica constantes.


Nunca o trabalho do professor e pregador sério será em vão no Senhor, e nunca se viu que o pão lançado sobre as águas se tivesse perdido.



Salmo 35

Salmo de Davi

Este é um dos chamados salmos de imprecação contra os inimigos, proferido por Davi. No entanto, deve ser notado que ele nunca buscou o mal dos seus inimigos que se levantavam contra ele injustamente, com tramas terríveis, para destruí-lo e virem a se regozijarem com o fato de terem dado cabo daquele que era o campeão de Deus nas Suas batalhas. Então muito mais do que para defender a sua própria honra, senão a do Senhor, Davi pede-Lhe que se levantasse e desse o pago aos seus inimigos. Ele mantinha a sua confiança no Senhor para que fosse livrado daqueles que impiamente tramavam contra a sua vida. Então ele orou para que eles próprios caíssem nos laços que haviam preparado para ele. Não eram pessoas de nações inimigas que estavam buscando o seu mal, mas pessoas que ele havia tratado com bondade e amizade. Eram muitos os que lhe tinham ódio, não porque lhes tivesse feito algum mal, mas porque era devotado ao Senhor, e não desejavam ter por governante alguém que não lhes satisfizesse às luxúrias carnais, e muito menos quem lhes exigisse o cumprimento dos mandamentos de Deus. Este foi o motivo que fizera com que se tornassem seus inimigos mortais. Por isso procuraram usar todos os meios fraudulentos para removê-lo da sua posição de governante. Para tal propósito se reuniram em conselho contra Davi quando viram que ele estava enfraquecido, e sem que lhe dessem tréguas rangiam os dentes contra ele em festim, e tramavam enganos não somente contra ele, mas contra todos os pacíficos da terra. Eles já tinham dado por certo que haviam conseguido arruiná-lo e diziam entre si: “Pegamos! Pegamos”. Como que a dizer: ”Finalmente conseguimos derrubá-lo”.  Então Davi não entregou os pontos mas clamou ao Senhor naquela hora pedindo-Lhe que o julgasse segundo a Sua justiça e que não permitisse que tais ímpios se regozijassem contra ele. Que os Senhor os cobrisse então de vergonha e ignomínia, e que cantassem de júbilo e se alegrassem os que tinham prazer na retidão de Davi, ao reconhecerem que Deus lhe havia feito justiça, dando o pago aos seus inimigos, glorificando sempre ao Senhor. O vigor das palavras deste salmo incomoda aos “profetas” que julgam que a bondade de Jesus Cristo, exclui a virilidade que existe nEle e que é tantas vezes expressada nas páginas da Bíblia, especialmente nas cartas que dirigiu às sete igrejas do Apocalipse, e do modo como tratou os escribas e fariseus. A pretexto de desejarem ver a doçura de Jesus nos pastores, muitas ovelhas, equivocadamente, pensam que falta neles o amor e a bondade do Senhor, quando são repreendidas por eles, por causa dos seus pecados. No entanto, isto é uma exigência bíblica, e encontra-se em perfeita consonância com o caráter de Cristo que é ao mesmo tempo cordeiro e leão; exaltado e humilde; servo e rei, e que tem em suas mãos as chaves da morte e do inferno, e que tem recebido do Pai toda autoridade tanto no céu quanto na terra, não somente para introduzir os santos no Seu reino, como também para subjugar todos os seus inimigos a um sofrimento eterno no inferno.


“Contende, SENHOR, com os que contendem comigo; peleja contra os que contra mim pelejam.  Embraça o escudo e o broquel e ergue-te em meu auxílio.  Empunha a lança e reprime o passo aos meus perseguidores; dize à minha alma: Eu sou a tua salvação.  Sejam confundidos e cobertos de vexame os que buscam tirar-me a vida; retrocedam e sejam envergonhados os que tramam contra mim.  Sejam como a palha ao léu do vento, impelindo-os o anjo do SENHOR. Torne-se-lhes o caminho tenebroso e escorregadio, e o anjo do SENHOR os persiga.  Pois sem causa me tramaram laços, sem causa abriram cova para a minha vida. Venha sobre o inimigo a destruição, quando ele menos pensar; e prendam-no os laços que tramou ocultamente; caia neles para a sua própria ruína. E minha alma se regozijará no SENHOR e se deleitará na sua salvação. Todos os meus ossos dirão: SENHOR, quem contigo se assemelha? Pois livras o aflito daquele que é demais forte para ele, o mísero e o necessitado, dos seus extorsionários. Levantam-se iníquas testemunhas e me argúem de coisas que eu não sei.  Pagam-me o mal pelo bem, o que é desolação para a minha alma.  Quanto a mim, porém, estando eles enfermos, as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração me reclinava sobre o peito, portava-me como se eles fossem meus amigos ou meus irmãos; andava curvado, de luto, como quem chora por sua mãe. Quando, porém, tropecei, eles se alegraram e se reuniram; reuniram-se contra mim; os abjetos, que eu não conhecia, dilaceraram-me sem tréguas;  como vis bufões em festins, rangiam contra mim os dentes.  Até quando, Senhor, ficarás olhando? Livra-me a alma das violências deles; dos leões, a minha predileta. Dar-te-ei graças na grande congregação, louvar-te-ei no meio da multidão poderosa. Não se alegrem de mim os meus inimigos gratuitos; não pisquem os olhos os que sem causa me odeiam.  Não é de paz que eles falam; pelo contrário, tramam enganos contra os pacíficos da terra. Escancaram contra mim a boca e dizem: Pegamos! Pegamos! Vimo-lo com os nossos próprios olhos. Tu, SENHOR, os viste; não te cales; Senhor, não te ausentes de mim. Acorda e desperta para me fazeres justiça, para a minha causa, Deus meu e Senhor meu. Julga-me, SENHOR, Deus meu, segundo a tua justiça; não permitas que se regozijem contra mim. Não digam eles lá no seu íntimo: Agora, sim! Cumpriu-se o nosso desejo! Não digam: Demos cabo dele! Envergonhem-se e juntamente sejam cobertos de vexame os que se alegram com o meu mal; cubram-se de pejo e ignomínia os que se engrandecem contra mim.  Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja o SENHOR, que se compraz na prosperidade do seu servo!  E a minha língua celebrará a tua justiça e o teu louvor todo o dia.”



Salmo 36

Salmo de Davi

A inclinação para o mal, ainda que dissimulada, pode dar ao que é dominado por ela, a falsa sensação de que jamais será descoberto, nem odiado, porque o seu orgulho lhes engana, e não permite enxergarem como perversidade abominável a Deus, as obras que eles praticam, as quais preferem chamar de estratagemas políticos, lampejos de grande inteligência, de argúcia, e outros adjetivos pomposos com o fim de se auto justificarem, só que Deus sempre as chamará de falsidade e obra de iniquidade.
É somente na luz do conhecimento do caráter de Deus e da Sua santa vontade, que se pode discernir a corrupção do coração, e além da luz da graça pô-la a descoberto, também tem o poder de extirpá-la e fazer com que em vez de trevas, tenhamos luz em nosso espírito e alma, que nos habilita a fazer o que é bom.
Mas ao que foge da luz de Jesus, e ama as trevas da iniquidade, até mesmo quando se deita em sua cama, não concilia o sono porque fica maquinando a perversidade, e ao levantar não poderá andar por caminhos retos, e nem ter neles prazer, porque está apegado ao mal.
Todavia, o Senhor permanece imutável em Seu caminho de fidelidade, benignidade e justiça, pelas quais a terra e o que ela contém são preservados.
O salmista cita o cuidado do Senhor até mesmo pelos animais; e isto é um fato notório, que todo aquele que é sensível para o bem, tem um sentimento terno para com toda a criação e procura preservá-la e amá-la.
Somente o Senhor é o manancial de toda a vida, e só é possível ver a luz das coisas espirituais andando na luz do Senhor,que é Ele próprio.
Lembremos que Jesus disse de Si mesmo, ser a luz do mundo.
Por isso a benignidade e a justiça do Senhor só podem ser conhecidas pelos que são retos de coração, e que O conhecem por uma experiência pessoal e íntima com Ele.
Todavia, os obreiros da iniquidade serão tombado e destruídos, pelos juízos de Deus, e não lhes será dado poderem se levantar, porque isto não lhes será permitido pelo Senhor, que os sujeitará a uma condenação eterna, como retribuição a todo o mal que praticaram contra o próximo e contra a preservação das obras das Suas mãos, das quais o homem é apenas mordomo em sua breve passagem neste mundo.

“Há no coração do ímpio a voz da transgressão; não há temor de Deus diante de seus olhos.
Porque a transgressão o lisonjeia a seus olhos e lhe diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta, nem detestada.
As palavras de sua boca são malícia e dolo; abjurou o discernimento e a prática do bem.
No seu leito, maquina a perversidade, detém-se em caminho que não é bom, não se despega do mal.
A tua benignidade, SENHOR, chega até aos céus, até às nuvens, a tua fidelidade.
A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo.
Tu, SENHOR, preservas os homens e os animais.
Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade!
Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas.
Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber.
Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz.
Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça, aos retos de coração.
Não me calque o pé da insolência, nem me repila a mão dos ímpios.
Tombaram os obreiros da iniquidade; estão derruídos e já não podem levantar-se.”


Salmo 37

Salmo de Davi

Davi era de fato um homem sábio e um grande santo, conforme podemos ver das palavras proferidas por ele neste salmo.
Ele não era meramente sábio segundo a letra das Escrituras, mas segundo tudo o que pôde aprender da experiência prática da vida, em sua intima comunhão com o Senhor.
Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em muitos cristãos de nossos dias, porque ele se dispôs a viver inteiramente para o agrado de Deus, buscando viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus fez com que ele encontrasse a ambos, e que os percorresse de modo que se tornava cada vez mais sábio e mais santo.
Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro sucesso não consiste na realização de nossos próprios projetos, e de se acumular muitos bens, fama e poder neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, por fim tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível juízo aguardando por aqueles que fizeram de tais coisas o deus deles, e que não colocaram por conseguinte a sua confiança inteiramente no Senhor.
Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, riquezas e poder, e no entanto, não permitiu que seu coração e desígnios fossem dirigidos pelo que possuía, ou mesmo pelo desejo que é muito comum de aumentá-los, quando se anda segundo a carne e não segundo o espírito.
Davi diz aos homens que façam o bem, e que se alimentem da verdade, agradando-se do Senhor, porque somente assim fazendo, o coração poderá achar a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os desejos que serão achados no coração serão somente os desejos que são aprovados por Ele, e ali colocados por Ele próprio.
Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a Ele e temos uma fé verdadeira que conduzirá tudo a bom termo no que se refere à nossa caminhada.
Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos ímpios, mas que fazem do próprio Senhor o grande objetivo de suas vidas, verão por fim que é esta a condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa justiça como a luz, e o nosso direito como o sol do meio-dia.
Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as nossas causas, de modo que podemos achar nEle descanso e paz para as nossas almas, sem que tenhamos que nos irritar com aqueles que prosperam em seus caminhos à custa de levarem a cabo os seus maus intentos.
O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja feita pelo diabo, quer diretamente, quer indiretamente por meio dos seus instrumentos, e deve manter a paz de mente e de espírito em toda e qualquer circunstância.
Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver impacientemente por coisa alguma, porque no fim o resultado nunca será bom.
O cristão deve ter o temor do Senhor permanentemente, e não imitar as obras das trevas, porque Ele tem um juízo determinado contra todos os que praticam o mal, mas os que esperam no Senhor herdarão a terra, conforme a Sua promessa.
Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do Monte aos mansos?
Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, pensando que o ímpio há de prevalecer, porque o Senhor é longânimo e paciente, e tem determinado um dia em que julgará toda a carne.
Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os justos a receberão por herança, e viverão numa perfeita paz juntamente com o Senhor e  uns com os outros.
Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais que este lhe persiga, porque este se encontra debaixo de uma terrível condenação da qual poderá ser livrado somente caso se converta ao Senhor.
Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do que a abundância de muitos ímpios, porque esta de nada lhes valerá no dia do Juízo.
Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante a fé, nos torna herdeiros de uma herança eterna.
Deus havia feito promessas específicas em tal sentido para os fiéis da sua casa, de que usaria de bondade eterna para com eles, conforme podemos ver em outras passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o Senhor firma os passos do homem bom de tal modo que se cair não ficará prostrado, porque o segura pela sua mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo.
Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha a ter fome, não mendigará o pão jamais, porque o Senhor o sustentará.
Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o bem, que a morada deles será perpétua, isto é, eterna.
Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e os preservará para sempre, conforme tem prometido de não lançar fora a nenhum que venha a Ele.
Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra mas que habitarão nela para sempre; porque o Senhor não os deixará nas mãos do perverso, e nem os condenará no juízo.
Davi estava falando de coisas escatológicas pelo Espírito, porque disse que o Senhor exaltaria o justo para possuir a terra, e que ele presenciaria isto quando os ímpios fossem exterminados, e que eles serão exterminados a um só tempo juntamente com a descendência deles, ou seja, os que são tão ímpios quanto eles.
Vale a pena inserir no comentário deste salmo a promessa que Deus fez a Davi quanto à segurança eterna da salvação, conforme palavras de II Samuel 23.1-7:              
 “1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do Deus de Jacó, o suave salmista de Israel.
2 O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha língua.
3 Falou o Deus de Israel, a Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus,
4 será como a luz da manhã ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor do sol, a erva brota da terra.
5 Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?
6 Porém os ímpios todos serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles;
7 mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados no mesmo lugar.”
As últimas palavras proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo em todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo, que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito, pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança, participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
Na verdade, não há outra esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi.
Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no seu lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a corrupção e não a graça, que corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar sobre a Sua casa.
E esta segurança é garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e consumador da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é segura, porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.
Uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo. Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias prometidas aos aliançados são seguras, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque e suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende.

“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.
Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.
Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.
Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.
Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia.
Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.
Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.
Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra.
Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás.
Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz.
Trama o ímpio contra o justo e contra ele ringe os dentes.
Rir-se-á dele o Senhor, pois vê estar-se aproximando o seu dia.
Os ímpios arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para matar os que trilham o reto caminho.
A sua espada, porém, lhes traspassará o próprio coração, e os seus arcos serão espedaçados.
Mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios.
Pois os braços dos ímpios serão quebrados, mas os justos, o SENHOR os sustém.
O SENHOR conhece os dias dos íntegros; a herança deles permanecerá para sempre.
Não serão envergonhados nos dias do mal e nos dias da fome se fartarão.
Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do SENHOR serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça.
O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá.
Aqueles a quem o SENHOR abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa.
O SENHOR firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz;  se cair, não ficará prostrado, porque o SENHOR o segura pela mão.
Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.
É sempre compassivo e empresta, e a sua descendência será uma bênção.
Aparta-te do mal e faze o bem, e será perpétua a tua morada.
Pois o SENHOR ama a justiça e não desampara os seus santos; serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada.
Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.
A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo.
No coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão.
O perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida.
Mas o SENHOR não o deixará nas suas mãos, nem o condenará quando for julgado.
Espera no SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra; presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados.
Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano.
Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado.
Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade.
Quanto aos transgressores, serão, à uma, destruídos; a descendência dos ímpios será exterminada.
Vem do SENHOR a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação.
O SENHOR os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nele buscam refúgio.”



Salmo 38

Salmo de Davi

Este salmo revela o modo muito sério que Davi considerava o pecado.
Não o reputava como coisa pequena, sem importância, como os que se desculpam por causa da fraqueza da natureza terrena.
Ele não fazia isto porque bem conhecia qual é o poder muito superior da graça de Deus, ao poder do pecado, de forma que nunca se permitiria ficar vencido pelo pecado, sabendo que seria uma grande afronta para o Senhor rejeitar a concessão de tão grande graça que Ele mantém a disposição de todos os Seus filhos.
Isto era também grande em Davi, porque se podemos dizer dele que teve uma vida cheia de percalços, podemos também dizer que foi grande em se arrepender diante do Senhor.
Com isto, ele achava até mesmo em suas fraquezas, oportunidade de exaltar e engrandecer o Senhor, por se diminuir a seus próprios olhos, e reconhecer a sua total pobreza de espírito, ao mesmo tempo que recorria à graça do Senhor para ser perdoado.
É preciso aprendermos com ele nesta parte, porque muitos se deixam atormentar por seus pecados, não por causa de terem entristecido ao Senhor, mas porque se sentem desonrados por si mesmos, e se entregam a auto-comiserações que são na verdade altas expressões de justiça própria e de incredulidade na bondade, misericórdia, amor e poder de Deus, em nos perdoar e aceitar.
Davi, ao contrário disto, reconhecia a sua culpa, e tinha o Senhor sempre por justo em tudo o que lhe sucedia, no entanto, se entregava inteiramente ao Seu cuidado, sabendo que é muito bondoso e misericordioso, e isto é fé na prática, é honra na prática, e disto o Senhor se agrada.

“Não me repreendas, SENHOR, na tua ira, nem me castigues no teu furor.
Cravam-se em mim as tuas setas, e a tua mão recai sobre mim.
Não há parte sã na minha carne, por causa da tua indignação; não há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado.
Pois já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças.
Tornam-se infectas e purulentas as minhas chagas, por causa da minha loucura.
Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo.
Ardem-me os lombos, e não há parte sã na minha carne.
Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração.
Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta.
Bate-me excitado o coração, faltam-me as forças, e a luz dos meus olhos, essa mesma já não está comigo.
Os meus amigos e companheiros afastam-se da minha praga, e os meus parentes ficam de longe.
Armam ciladas contra mim os que tramam tirar-me a vida; os que me procuram fazer o mal dizem coisas perniciosas e imaginam engano todo o dia.
Mas eu, como surdo, não ouço e, qual mudo, não abro a boca.
Sou, com efeito, como quem não ouve e em cujos lábios não há réplica.
Pois em ti, SENHOR, espero; tu me atenderás, Senhor, Deus meu.
Porque eu dizia: Não suceda que se alegrem de mim e contra mim se engrandeçam quando me resvala o pé.
Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está sempre perante mim.
Confesso a minha iniquidade; suporto tristeza por causa do meu pecado.
Mas os meus inimigos são vigorosos e fortes, e são muitos os que sem causa me odeiam.
Da mesma sorte, os que pagam o mal pelo bem são meus adversários, porque eu sigo o que é bom.
Não me desampares, SENHOR; Deus meu, não te ausentes de mim.
Apressa-te em socorrer-me, Senhor, salvação minha.”



Salmo 39

Salmo de Davi

Davi era um grande rei. Fez proezas com o Senhor e estendeu as fronteiras de Israel para além das nações pagãs ímpias.
Todavia, sua alma era como a de uma criança na presença do Senhor, não no que tange a fazer criancices, mas como quem se colocava debaixo do cuidado de Deus inteiramente, tal como um bebê no colo de sua mãe.
Chega a comover o nosso coração tão grande humildade, e ainda por cima na pessoa de um rei.
Seu coração era muito diferente do de muitos governantes, que cegados pelo poder, esquecem até mesmo que morrerão um dia, e por isso vivem na prepotência e arrogância como se fossem viver para sempre neste mundo, e que não terão que prestar contas a ninguém de seus atos, mesmo ao Criador.
Contudo, como Davi era um rei segundo o coração de Deus, recebeu dEle sabedoria para que seu coração não se exaltasse, e  sabia que a sua vida, apesar de ser rei, seria breve neste mundo como a de qualquer outro mortal, pois é tal como nuvem que passa.
Não era a velhice e nem o ter que partir deste mundo que o amedrontava, mas o fato de não viver com isto em perspectiva, de modo que viesse a perder o temor devido ao Senhor.
Ele sabia que depois desta vida a sua única herança seria a mesma que ele havia tido enquanto em vida, a saber, o próprio Senhor.
Deus era a sua herança neste mundo e era a única herança que ele desejava ter consigo quando daqui partisse.
Então ele pediu ao Senhor que lhe desse reconhecer sempre qual era a sua fragilidade.
Como era o próprio Senhor a sua única esperança, então lhe pediu também que o livrasse de todas as suas iniquidades, para que não se tornasse o opróbrio do insensato.
Como agradava a Davi se rebaixar diante do Senhor, por isso Ele o exaltou sobremaneira, porque a quem se humilha, Ele dá mais graça.
Ele não queria viver pecando, nem naquelas coisas que muitos consideram mínimas.
Ele não queria pecar por falta de prudência quando estivesse na presença do ímpio, quando instigados por eles podemos falar coisas que não convêm a santos, e o dito da nossa boca passa a ser precipitado.
Por isso Davi decidiu colocar uma mordaça em sua boca quando estivesse na presença do ímpio.

“Disse comigo mesmo: guardarei os meus caminhos, para não pecar com a língua; porei mordaça à minha boca, enquanto estiver na minha presença o ímpio.
Emudeci em silêncio, calei acerca do bem, e a minha dor se agravou.
Esbraseou-se-me no peito o coração; enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a própria língua: Dá-me a conhecer, SENHOR, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade.
Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada.
Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade.
Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará.
E eu, Senhor, que espero?
Tu és a minha esperança.
Livra-me de todas as minhas iniquidades; não me faças o opróbrio do insensato.
Emudeço, não abro os lábios porque tu fizeste isso.
Tira de sobre mim o teu flagelo; pelo golpe de tua mão, estou consumido.
Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso.
Com efeito, todo homem é pura vaidade.
Ouve, SENHOR, a minha oração, escuta-me quando grito por socorro; não te emudeças à vista de minhas lágrimas, porque sou forasteiro à tua presença, peregrino como todos os meus pais o foram.
Desvia de mim o olhar, para que eu tome alento, antes que eu passe e deixe de existir.”


Salmo 40

Salmo de Davi

“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR.  Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira. São muitas, SENHOR, Deus meu, as maravilhas que tens operado e também os teus desígnios para conosco; ninguém há que se possa igualar contigo. Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar.  Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres.  Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito;  agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei. Proclamei as boas novas de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu o sabes, SENHOR.  Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade. Não retenhas de mim, SENHOR, as tuas misericórdias; guardem-me sempre a tua graça e a tua verdade. Não têm conta os males que me cercam; as minhas iniquidades me alcançaram, tantas, que me impedem a vista; são mais numerosas que os cabelos de minha cabeça, e o coração me desfalece. Praza-te, SENHOR, em livrar-me; dá-te pressa, ó SENHOR, em socorrer-me.  Sejam à uma envergonhados e cobertos de vexame os que me demandam a vida; tornem atrás e cubram-se de ignomínia os que se comprazem no meu mal. Sofram perturbação por causa da sua ignomínia os que dizem: Bem-feito! Bem-feito! Folguem e em ti se rejubilem todos os que te buscam; os que amam a tua salvação digam sempre: O SENHOR seja magnificado! Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!”


Comentário:

Davi era tipo de Jesus não somente quanto ao Seu governo justo, como também por ser um rei justo que se desviava do mal. Guardadas as devidas proporções, o reino de Davi era um tipo do reino de Cristo, que não é deste mundo.
Como o reino do Senhor não vem com aparência visível, porque é eminentemente espiritual em nossos corações, então,  aqueles que andam por vista e não por fé, jamais verão tal reino, e não poderão compreender as realidades e virtudes espirituais que o compõem, que são, no entanto, a coisa mais real e imutável para aqueles que são participantes do reino, porque sabem que tudo o mais passará, mas as realidades para as quais as palavras de Cristo apontam, jamais passarão.
Por isso Davi podia ter tal convicção em relação às coisas futuras, pertencentes ao reino do Senhor, porque estas lhes eram reveladas por Deus ao seu espírito.
Por isso dispunha seu coração a se inclinar sempre para as coisas de Deus, para a justiça, para a pureza, para a bondade, para a santidade, porque bem sabia que não é para o Senhor que pende a confiança dos arrogantes e afeiçoados à mentira.
E ao se referir a estas coisas estava pensando na maldade extrema que está apegada ao coração dos perversos, e que por fim será a própria espada que os destruirá no dia do grande Juízo de Deus.
Tão identificado estava em figura o reinado de Davi com o de Cristo, pelo desígnio de Deus, que lhe foi dado ter uma revelação específica neste salmo, como em outros, acerca da total devoção de Jesus ao Pai, para fazer a Sua vontade, quanto a reinar sobre o Seu povo, tal como Davi fizera em seus dias:
Isto demonstra então claramente que esta questão de ser um rei segundo o coração de Deus, tal como Davi e Jesus, não é devida a meras atitudes externas que expressem decisões justas, mas ter a lei de Deus escrita no próprio coração, e se agradar em fazer a Sua vontade, para proclamar as boas novas da salvação, que é mediante a justificação pela graça, mediante a fé, à grande congregação dos justos, ou seja, daqueles que crerão na pregação destas boas novas para que sejam salvos.
Jesus não tinha pecado, mas Davi estava sujeito ao pecado e não escondeu este fato em seus salmos, mas ele tinha por alvo o mesmo alvo de Cristo, que era o de glorificar o nome de Deus, pelo seu testemunho de boas obras de justiça diante dos homens, e por isso levava tão a sério os seus pecados, porque não deixava que criassem raízes e se alastrassem, antes mortificava a todos eles, orando insistentemente ao Senhor que fizesse nele tal trabalho de purificação, para que o Seu nome fosse magnificado, pelo testemunho de sua própria vida santificada por Deus, diante de todos os homens.              



Salmo 41

Salmo de Davi

Neste Salmo, Davi se encontrava enfermo, e mesmo na fraqueza que é produzida pela doença, não se deixou agradar pelas palavras vãs dos falsos consoladores, porque mesmo em fraqueza a sua alma justa abominava o pecado.
Agradava-lhe a companhia dos santos e dos justos.
Ele conhecia o que era a maldade no coração do homem, porque mesmo aqueles que lhe visitavam, por motivo de cumprimento de uma mera norma social, mas não por um sincero desejo do coração, falavam mal dele pelas costas, logo que saíam da sua presença, e se regozijavam pelo fato de estar muito enfermo.
Possivelmente deveriam diagnosticar a causa da enfermidade como sendo falta de fé, ou algum pecado cometido por Davi, com o intuito de lhe infamar o nome.
Contudo, o Senhor assistia a Davi no seu leito de enfermidade e lhe afofava a cama.
Mais do que ser sarado do corpo Davi aspirava ser sarado em sua alma, sendo perdoado dos seus pecados, para que os seus inimigos não tivessem motivo para falar mal dele.
Mas quando foi que ele havia deixado de acudir ao necessitado?
Então, necessitado que ele estava naquela hora, tinha a certeza, de que o Senhor, cuja bondade era maior do que a dele, lhe acudiria também, tal como ele havia acudido a outros.
E portanto, lhe protegeria e preservaria a vida, contrariando as expectativas de seus inimigos em relação a ele.
Eles o odiavam a ponto de rosnarem como cães, e apostavam na sua morte.
Mesmo o seu amigo íntimo, em quem havia depositado a sua confiança, e que comia à sua mesa, havia levantado contra ele o seu calcanhar, tal como Judas havia feito com nosso Senhor.
Homens cobiçosos passam por amigos até o dia em que vêem surgir alguma oportunidade para assumirem a posição de honra daqueles que se fizeram “amigos” por conveniência interesseira.
Davi estava bem instruído acerca disto e pôde se acautelar deles nas orações que dirigia ao Senhor para livrá-lo de tais homens.
Mas aqueles que são ingênuos, crédulos, e que não podem discernir nem as próprias faltas, bem como as más intenções de outros, certamente haverão de cair nos laços que lhes forem armados por tais ímpios, tal logo observem o menor sinal de fraqueza neles.

“Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o SENHOR o livra no dia do mal.
O SENHOR o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos.
O SENHOR o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama.
Disse eu: compadece-te de mim, SENHOR; sara a minha alma, porque pequei contra ti.
Os meus inimigos falam mal de mim: Quando morrerá e lhe perecerá o nome?
Se algum deles me vem visitar, diz coisas vãs, amontoando no coração malícias; em saindo, é disso que fala.
De mim rosnam à uma todos os que me odeiam; engendram males contra mim, dizendo: Peste maligna deu nele, e: Caiu de cama, já não há de levantar-se.
Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.
Tu, porém, SENHOR, compadece-te de mim e levanta-me, para que eu lhes pague segundo merecem.
Com isto conheço que tu te agradas de mim: em não triunfar contra mim o meu inimigo.
Quanto a mim, tu me susténs na minha integridade e me pões à tua presença para sempre.


Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, da eternidade para a eternidade! Amém e amém!”


Salmo 42

Salmo dos filhos de Coré

“Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem continuamente: O teu Deus, onde está?  Lembro-me destas coisas - e dentro de mim se me derrama a alma - de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa. Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu. Sinto abatida dentro de mim a minha alma; lembro-me, portanto, de ti, nas terras do Jordão, e no monte Hermom, e no outeiro de Mizar. Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida. Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?  Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”

Comentário:

Este salmo mistura as alegrias das visitações da presença de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições e injúrias que sofremos neste mundo, por causa do nosso amor a Ele.
Esta, é na verdade, a experiência de todos os que andam de fato na presença de Deus.
Somente andando com Deus se pode entender porque o salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” referindo-se às provações e tribulações, e logo após diz: “contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida”; e ainda, imediatamente depois: “Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?  Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”, e finalmente, logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”
Sem comunhão com Deus não se pode entender isto, porque sua bênção não significa ausência de tribulações.
Ao contrário, importa que todo aquele que crê em Cristo e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por meio de muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo Paulo, porque é com elas que a alma é quebrantada, o ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à de Cristo, para que se possa experimentar as doces consolações da presença do Senhor, que são tão vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas são estas visitações de Deus, que não as trocaríamos por nenhuma riqueza deste mundo, nem mesmo por todas elas.
Por isso o salmista declara no início deste salmo que havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor, da mesma forma que a corça sedenta procura pelas correntes das águas.
Porque a sua sede é do Deus vivo, e não propriamente das  bênçãos que Ele possa lhe dar, porque nem mesmo estas podem saciar a sede da alma, senão somente a Sua própria presença.
A alma não acha descanso ou sossego quando o Senhor não manifesta a Sua presença nela.
Deste modo, o salmista sente saudades dos momentos de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se dirigiam para louvar ao Senhor na Sua casa.
Contudo, ele repreendia as tristezas da sua alma pela ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo na Sua presença, porque Ele não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam e O amam com um coração sincero, com fome e sede de justiça, porque tem prazer em saciar aos tais, conforme tem prometido fazer.


Salmo 43





Salmo 44

“Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa contra a nação contenciosa; livra-me do homem fraudulento e injusto. Pois tu és o Deus da minha fortaleza. Por que me rejeitas? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?  Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos.  Então, irei ao altar de Deus, de Deus, que é a minha grande alegria; ao som da harpa eu te louvarei, ó Deus, Deus meu. Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”

Comentário:



A alma justa e santa não pode achar conforto longe dos louvores de Deus. Afinal, não foi criada para estar debaixo de  desassossegos, temores e inseguranças, mas para estar quieta, tranqüila e sossegada na fortaleza que é o nosso Deus. Então o salmista expressa os sentimentos de sua alma abatida pela ausência temporária que estava sentindo da presença de Deus, enquanto debaixo das opressões produzidas por seus inimigos. Contudo, o salmista repreendeu as tristezas da sua alma, porque tinha a convicção de que haveria de estar de novo diante dEle, porque não tem prazer em se manter ausente daqueles que O buscam com um coração sincero.



Salmo 44

Salmo dos filhos de Core

O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus para o livramento do Seu povo, e para lhe dar vitória sobre as nações inimigas, porque ele queria se fortalecer para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse o Seu povo das atuais condições de opressão que eles estavam sofrendo por parte do inimigo. Isto serve de exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas angústias presentes, deve trazer em recordação os grandes feitos de Deus do passado, para que possa ter esperança de que os terá também no presente. O jugo pesado da opressão não pode pesar por muito tempo naqueles que temem verdadeiramente ao Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as suas angústias. Ele o fará conforme as orações que Lhe forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe livramento, para que reconheçam que é pela força do Seu próprio braço que eles são livrados e amparados, de modo que o Seu grande nome seja glorificado por eles. Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar nossa mente e coração somente com os grandes feitos que o Senhor tem operado nos nossos próprios dias, mas também com aqueles que Ele operou no passado, porque os fizera para o nosso conhecimento, de modo que não apenas o glorifiquemos, como também a nossa fé nEle possa ser aumentada.



“Ouvimos, ó Deus, com os próprios ouvidos; nossos pais nos têm contado o que outrora fizeste, em seus dias.  Como por tuas próprias mãos desapossaste as nações e os estabeleceste; oprimiste os povos e aos pais deste largueza. Pois não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e sim a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto, porque te agradaste deles. Tu és o meu rei, ó Deus; ordena a vitória de Jacó. Com o teu auxílio, vencemos os nossos inimigos; em teu nome, calcamos aos pés os que se levantam contra nós.  Não confio no meu arco, e não é a minha espada que me salva.  Pois tu nos salvaste dos nossos inimigos e cobriste de vergonha os que nos odeiam. Em Deus, nos temos gloriado continuamente e para sempre louvaremos o teu nome.  Agora, porém, tu nos lançaste fora, e nos expuseste à vergonha, e já não sais com os nossos exércitos. Tu nos fazes bater em retirada à vista dos nossos inimigos, e os que nos odeiam nos tomam por seu despojo.  Entregaste-nos como ovelhas para o corte e nos espalhaste entre as nações. Vendes por um nada o teu povo e nada lucras com o seu preço. Tu nos fazes opróbrio dos nossos vizinhos, escárnio e zombaria aos que nos rodeiam. Pões-nos por ditado entre as nações, alvo de meneios de cabeça entre os povos. A minha ignomínia está sempre diante de mim; cobre-se de vergonha o meu rosto,  ante os gritos do que afronta e blasfema, à vista do inimigo e do vingador. Tudo isso nos sobreveio; entretanto, não nos esquecemos de ti, nem fomos infiéis à tua aliança.  Não tornou atrás o nosso coração, nem se desviaram os nossos passos dos teus caminhos,  para nos esmagares onde vivem os chacais e nos envolveres com as sombras da morte. Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus ou tivéssemos estendido as mãos a deus estranho, porventura, não o teria atinado Deus, ele, que conhece os segredos dos corações? Mas, por amor de ti, somos entregues à morte continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro.  Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta! Não nos rejeites para sempre! Por que escondes a face e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está abatida até ao pó, e o nosso corpo, como que pegado no chão. Levanta-te para socorrer-nos e resgata-nos por amor da tua benignidade.”



Salmo 45

Salmo dos filhos de Core

O autor de Hebreus (1.9) aplica este Salmo a nosso Senhor Jesus Cristo, sendo entronizado pelo Pai com uma unção que a nenhum  outro foi concedida, e revela que a majestade de Jesus Cristo exige que para se estar debaixo do Seu governo, é necessário deixar a dependência de pais e mães, tal qual os nubentes que deixam o lar paterno, para se unirem em casamento.
Aqui está declarado de modo evidente o mesmo que Jesus ensinou quanto a que o nosso amor por Ele deve ser maior do que o amor que temos por pai, mãe ou qualquer outro familiar, e até mesmo pela nossa própria vida, para que sejamos achados dignos de sermos Seus discípulos.
Ninguém e nada deve ser portanto, colocado pelos seus servos, em maior estima do que a que é devida a Ele.
Na verdade não se trata de uma comparação de pessoas ou coisas, mas de se ter um grande amor ao Senhor, à sua majestade e formosura real.
Então o salmista declara que é ao Rei Jesus que está dedicando esta composição que ele fizera em Sua honra.
O motivo deste grande Rei ser exaltado é declarado: por Ele cavalgar prosperamente pela causa da verdade e da justiça, e não para pilhar reinos para aumentar suas riquezas terrenas, como costumam fazer os reis terrenos; suas flechas não são disparadas para produzir mortes, mas para submeter o coração dos Seus inimigos em todos os povos, a Ele, porque o Seu trono é para todo o sempre, porque Ele é Deus, e o cetro com que rege as nações é de equidade, porque não faz acepção de pessoas, porque ama a justiça e odeia a iniquidade.
É citada no salmo as bodas do Cordeiro, que é Rei, com a Sua igreja, e estas serão um ato solene e de grande honra ao qual estarão presentes as virgens vigilantes que tinham óleo em suas lâmpadas para aguardarem o Noivo.
As nações o servirão quando estabelecer o Seu trono de justiça na terra, e lhe trarão riquezas e presentes, e aqueles que estiverem a Seu lado reinarão juntamente com Ele para sempre.


“De boas palavras transborda o meu coração.
Ao Rei consagro o que compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor.
Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre.
Cinge a espada no teu flanco, herói; cinge a tua glória e a tua majestade!
E nessa majestade cavalga prosperamente, pela causa da verdade e da justiça; e a tua destra te ensinará proezas.
As tuas setas são agudas, penetram o coração dos inimigos do Rei; os povos caem submissos a ti.
O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino.
Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros.
Todas as tuas vestes recendem a mirra, aloés e cássia; de palácios de marfim ressoam instrumentos de cordas que te alegram.
Filhas de reis se encontram entre as tuas damas de honra; à tua direita está a rainha adornada de ouro finíssimo de Ofir.
Ouve, filha; vê, dá atenção; esquece o teu povo e a casa de teu pai.
Então, o Rei cobiçará a tua formosura; pois ele é o teu senhor; inclina-te perante ele.
A ti virá a filha de Tiro trazendo donativos; os mais ricos do povo te pedirão favores.
Toda formosura é a filha do Rei no interior do palácio; a sua vestidura é recamada de ouro.
Em roupagens bordadas conduzem-na perante o Rei; as virgens, suas companheiras que a seguem, serão trazidas à tua presença.
Serão dirigidas com alegria e regozijo; entrarão no palácio do Rei.
Em vez de teus pais, serão teus filhos, os quais farás príncipes por toda a terra.
O teu nome, eu o farei celebrado de geração a geração, e, assim, os povos te louvarão para todo o sempre.”




Salmo 46

Salmo dos filhos de Core

Este salmo contrasta a firmeza e solidez eterna do reino de Deus, com a instabilidade dos reinos deste mundo, e até mesmo da própria terra.
A firmeza das coisas terrenas, que são naturais e que se desgastam pelo uso, não pode sequer ser comparada com a cidade celestial cujo fundamento é Deus, sendo Ele próprio o nosso refúgio e fortaleza, e socorro sempre presente nas tribulações, daqueles que buscam refúgio nEle.
O Senhor não somente protege dos perigos externos, como também fortalece com graça o nosso coração, para que não tema qualquer circunstância difícil.
E eleva o espírito às regiões celestiais onde há alegria e paz, à visão do rio de água viva que está meio da cidade onde habita o Altíssimo.
A morada de Deus não pode ser abalada, porque Ele está no meio dela.
Quando o cristão está assentado nas regiões celestes juntamente com Cristo, por uma real comunhão com Ele, estando arrebatado em espírito para além dos tumultos e incertezas deste mundo, ele fica aquietado porque sabe que o Senhor está exaltado entre as nações e em toda a terra, sendo Ele o auxílio, socorro e refúgio do Seu povo.  


“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.
Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares;  ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam.
Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã.
Bramam nações, reinos se abalam; ele faz ouvir a sua voz, e a terra se dissolve.
O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
Vinde, contemplai as obras do SENHOR, que assolações efetuou na terra.
Ele põe termo à guerra até aos confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança; queima os carros no fogo.
Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.
O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.”



Salmo 47

Salmo dos filhos de Core

Este salmo é uma profecia relativa ao reino futuro do Messias sobre toda a terra, porque nunca se viu antes, e não será visto até que Jesus volte, todas as nações submetidas a Ele.
O salmo prenuncia os louvores e aclamações que ocorrerão por ocasião da entronização de nosso Senhor diante de todas as nações, quando estas se reunirão ao  povo de Deus, para adorarem o Rei de toda a terra no milênio.

“Batei palmas, todos os povos; celebrai a Deus com vozes de júbilo.
Pois o SENHOR Altíssimo é tremendo, é o grande rei de toda a terra.
Ele nos submeteu os povos e pôs sob os nossos pés as nações.
Escolheu-nos a nossa herança, a glória de Jacó, a quem ele ama.
Subiu Deus por entre aclamações, o SENHOR, ao som de trombeta.
Salmodiai a Deus, cantai louvores; salmodiai ao nosso Rei, cantai louvores.
Deus é o Rei de toda a terra; salmodiai com harmonioso cântico.
Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono.
Os príncipes dos povos se reúnem, o povo do Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos da terra; ele se exaltou gloriosamente.”



Salmo 48

SALMO 48 – Salmo dos filhos de Core
SALMO 49 – Salmo dos filhos de Core

Estaremos comentando estes salmos em conjunto.
Quão duro e corrompido é o coração carnal para que possa entender qual é a verdadeira natureza da glória. O homem se aplica a fazer coisas grandiosas, espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que seu coração seja inteiramente dominado pela glória destas coisas terrenas que ele fabrica pela sua própria imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há uma glória ao redor dele, criada pelo próprio Deus, numa grandiosidade que não pode ser igualada, quer na sua variedade e formas, quer na sua própria essência. Veja as estrelas do céu. O próprio firmamento. As árvores, suas flores e frutos. Os animais que enchem tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em sua grande variedade e preciosidade. Tão grandes e numerosas são as obras de Deus que não podem ser mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se glorie nelas, porque afinal, não são obras de suas próprias mãos. Então, endurecido para a beleza da criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras criadas pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de idolatria. Da pior das idolatrias, porque está centrada no culto de si mesmo, de sua própria inteligência, capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o grande alerta de Deus pronunciado pelo profeta em Sua Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jer 9.23,24). Na verdade o homem, em sua presente condição de estar sujeito ao pecado, não tem nada do que se gloriar em si mesmo, senão do que se envergonhar e se humilhar diante do Senhor para que seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo preservado, e mantendo o seu coração na humildade, possa fazer uma justa avaliação da verdadeira glória, que se encontra somente no próprio Senhor. Como diz o salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de ser louvado na sua cidade, no seu monte belo e sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o monte Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber, Jerusalém. É somente naquilo que se refere a Deus e que pertence ao Seu culto, que devemos nos gloriar, assim como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor, não propriamente pelas edificações propriamente ditas, mas por ser o lugar dedicado ao Seu serviço e adoração. Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo que o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos nos gloriar somente nEle. É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos, quando maravilhados lhe falavam acerca da beleza do templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não está interessado na beleza exterior das coisas que fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso corpo e vestimentas, senão no interior do nosso coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando. É neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira glória, e não na das coisas que são passageiras, como por exemplo a da própria flor, que tem a sua glória, mas não devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que: “Porque: Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor;” (I Pe 1.24). Falando de flores, os homens costumam usá-las como adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam grandes somas de dinheiro, para se gloriarem não propriamente no que fizeram, mas  uns sobre os outros, na superação que não tem limite de se desejar mostrar que se é mais do que os outros, naquilo que realizam. Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar, porque as mesmas flores que adornam seus festejos carnais, são também usadas para adornarem suas sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso, porque o seu coração não está ligado continuamente na simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que eles consideram grandes, e que aos olhos de Deus não passam de abominação, por causa do desejo de glória que há em seus corações pervertidos pela soberba. A glória efêmera das torres, dos palácios, das naus terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição que virá da parte do Senhor sobre toda a terra. Deveríamos ser então sensatos e não colocarmos o nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que são do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na terra, haverão de ser abatidos pelo Senhor, e aos mansos fará com que herdem a terra para sempre.              


Salmo 48

“Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus.
Seu santo monte, belo e sobranceiro, é a alegria de toda a terra; o monte Sião, para os lados do Norte, a cidade do grande Rei.
Nos palácios dela, Deus se faz conhecer como alto refúgio.
Por isso, eis que os reis se coligaram e juntos sumiram-se;  bastou-lhes vê-lo, e se espantaram, tomaram-se de assombro e fugiram apressados.
O terror ali os venceu, e sentiram dores como de parturiente.
Com vento oriental destruíste as naus de Társis.
Como temos ouvido dizer, assim o vimos na cidade do SENHOR dos Exércitos, na cidade do nosso Deus.
Deus a estabelece para sempre.
Pensamos, ó Deus, na tua misericórdia no meio do teu templo.
Como o teu nome, ó Deus, assim o teu louvor se estende até aos confins da terra; a tua destra está cheia de justiça.
Alegre-se o monte Sião, exultem as filhas de Judá, por causa dos teus juízos.
Percorrei a Sião, rodeai-a toda, contai-lhe as torres;  notai bem os seus baluartes, observai os seus palácios, para narrardes às gerações vindouras  que este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até à morte.”



Salmo 49

“Povos todos, escutai isto; dai ouvidos, moradores todos da terra,  tanto plebeus como os de fina estirpe, todos juntamente, ricos e pobres.  Os meus lábios falarão sabedoria, e o meu coração terá pensamentos judiciosos.  Inclinarei os ouvidos a uma parábola, decifrarei o meu enigma ao som da harpa.  Por que hei de eu temer nos dias da tribulação, quando me salteia a iniquidade dos que me perseguem,  dos que confiam nos seus bens e na sua muita riqueza se gloriam? Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre.),  para que continue a viver perpetuamente e não veja a cova;  porquanto vê-se morrerem os sábios e perecerem tanto o estulto como o inepto, os quais deixam a outros as suas riquezas.  O seu pensamento íntimo é que as suas casas serão perpétuas e, as suas moradas, para todas as gerações; chegam a dar seu próprio nome às suas terras. Todavia, o homem não permanece em sua ostentação; é, antes, como os animais, que perecem. Tal proceder é estultícia deles; assim mesmo os seus seguidores aplaudem o que eles dizem. Como ovelhas são postos na sepultura; a morte é o seu pastor; eles descem diretamente para a cova, onde a sua formosura se consome; a sepultura é o lugar em que habitam.  Mas Deus remirá a minha alma do poder da morte, pois ele me tomará para si. Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa;  pois, em morrendo, nada levará consigo, a sua glória não o acompanhará.  Ainda que durante a vida ele se tenha lisonjeado, e ainda que o louvem quando faz o bem a si mesmo,  irá ter com a geração de seus pais, os quais já não verão a luz. O homem, revestido de honrarias, mas sem entendimento, é, antes, como os animais, que perecem.”


Salmo 50

Salmo de Asafe

É de fato admirável, que sem a iluminação do Espírito Santo, o homem não pode entender esta carta escrita por Deus para a humanidade que é a Bíblia.
São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz contra aqueles que colocam sua confiança em ritos e cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira vida piedosa, de um coração transformado e santificado; e todavia muitos não se dão por avisados e continuam pensando que estão agradando a Deus por meramente se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos.
O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um conforme as Suas obras, quando julgar o mundo por meio do padrão da vida de Jesus Cristo.
Não era portanto nos animais que eram oferecidos por Israel no Velho Testamento, que eles deveriam fazer o fim mesmo do ato de culto deles a Deus, porque todos os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a carne deles e nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício no qual eles deveriam concentrar a atenção deles era nas ações de graças e nos votos que tinham para com o Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento dos Seus mandamentos. Somente agindo assim, invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam livrados por Ele, e em consequência O glorificariam, como é do Seu propósito em relação ao Seu povo. Mas não deviam contar com isto, enquanto colocassem a confiança deles meramente nos sacrifícios de animais que Lhe ofereciam, e nos demais cultos externos exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não eram acompanhados por uma verdadeira piedade de coração. Quanto aos ímpios então, nem sequer lhes daria qualquer atenção quando repetiam os Seus preceitos e afirmavam de boca que estavam aliançados ao Senhor, porque aborreciam a disciplina e rejeitavam as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no adultério, eram maldizentes e difamadores, e como poderiam esperar contar com o favor de Deus enquanto permaneciam escravizados a estes pecados e a outros? Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações de graças, pelo reconhecimento de tudo o que o Senhor tem feito, e que preparam o seu caminho para andarem somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que vissem a Sua salvação.



“Fala o Poderoso, o SENHOR Deus, e chama a terra desde o Nascente até ao Poente.  Desde Sião, excelência de formosura, resplandece Deus. Vem o nosso Deus e não guarda silêncio; perante ele arde um fogo devorador, ao seu redor esbraveja grande tormenta. Intima os céus lá em cima e a terra, para julgar o seu povo. Congregai os meus santos, os que comigo fizeram aliança por meio de sacrifícios.  Os céus anunciam a sua justiça, porque é o próprio Deus que julga. Escuta, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu testemunharei contra ti. Eu sou Deus, o teu Deus. Não te repreendo pelos teus sacrifícios, nem pelos teus holocaustos continuamente perante mim.  De tua casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus apriscos. Pois são meus todos os animais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e são meus todos os animais que pululam no campo.  Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém.  Acaso, como eu carne de touros? Ou bebo sangue de cabritos? Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo;  invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.  Mas ao ímpio diz Deus: De que te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança,  uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas as minhas palavras? Se vês um ladrão, tu te comprazes nele e aos adúlteros te associas. Soltas a boca para o mal, e a tua língua trama enganos. Sentas-te para falar contra teu irmão e difamas o filho de tua mãe. Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista. Considerai, pois, nisto, vós que vos esqueceis de Deus, para que não vos despedace, sem haver quem vos livre.  O que me oferece sacrifício de ações de graças, esse me glorificará; e ao que prepara o seu caminho, dar-lhe-ei que veja a salvação de Deus.”


Salmo 51

Salmo de Davi quando Natã veio ter com ele depois de ter pecado com Bate-Seba

Este salmo revela a profundidade da graça de Deus, que é oferecida  para perdoar os nossos pecados, por mais terríveis que eles sejam, tal como o de Davi, ao qual se reporta.
A mão potente do Senhor que pesou sobre Davi por mais de onze meses, desde o seu pecado de adultério com Bate-Seba, se transformou em mão de graça perdoadora, sem que Davi nada fizesse de meritório para tal, senão somente reconhecer e confessar o seu pecado, o que não havia feito naqueles onze meses, não meramente porque estivesse endurecido, mas porque não lhe foi concedido graça para arrependimento pelo Senhor, para que ele pudesse sair de debaixo da tristeza e opressão de espírito, em que se encontrava, as quais ele descreve neste salmo.
Davi sabia que o adultério era pecado.
Que o que havia feito a Urias foi um ato covarde e abominável de assassinato traiçoeiro.
Todavia, conseguiu crer que havia de fato sido perdoado por Deus, conforme lhe havia declarado o profeta Natã, depois dele ter confessado o seu pecado.
Temos que crer na bondade de Deus para perdoar os nossos pecados, ainda que nossa alma tenha permanecido em densas trevas por um longo período, nos impedindo que pudéssemos dar um só passo adiante na nossa comunhão com o Senhor.
A perseverança nos impõe que creiamos mesmo contra a esperança. Porque é assim fazendo que se chega a agradar a Deus, e que se move o Seu coração em nosso favor.  
Quando Natã disse a Davi que ele não morreria porque a sua transgressão havia sido perdoada por Deus, apesar das muitas terríveis consequências e sequelas que seriam decorrentes da mesma, Davi não se limitou a dizer a Deus muito obrigado.
Ou então a ficar simplesmente contente com a notícia de que havia sido perdoado.
Ele necessitava sentir a restauração da sua comunhão com o Senhor, pela testificação do Espírito Santo se movendo no seu interior, e voltando a lhe dar a antiga unção e alegria que ele havia perdido por causa do seu pecado.
Então ele se pôs a clamar e a orar pedindo a Deus que tivesse misericórdia dele, segundo a Sua benignidade e segundo a multidão das Suas misericórdias, e que apagasse as suas transgressões, por meio da manifestação de tal benignidade e misericórdia.
Ele pediu além disso que o Senhor o lavasse completamente da sua iniquidade e que o purificasse do seu pecado.
Porque ele conhecia agora a profundidade do seu pecado, porque este estivera sempre diante dele, e foi um pecado contra Deus, porque era uma ofensa contra as suas leis relativas ao adultério e ao homicídio, de modo que Deus seria justo no que julgasse contra ele, que havia agido como um malfeitor.
Ele não tinha como se justificar diante do Senhor, e não havia nada que pudesse desculpá-lo perante Ele, pelos seus atos, porque como todo homem, era pecador, concebido em pecado desde o ventre de sua mãe.
Mas Deus se compraz na verdade no íntimo e no recôndito lhe fez conhecer a sabedoria, porque sondou o seu coração e por meio do profeta Natã, revelou o que ele havia ocultado a seus próprios olhos, pensando que tinha direito de fazer tais coisas por causa da autoridade que tinha como rei.
Ele sabia que não poderia ter alegria espiritual, e ser livrado do sentimento de que seus ossos haviam sido esmagados pelo juízo de Deus, caso Ele não o purificasse, e o lavasse, para que ficasse mais alvo do que a neve.
Por isso pediu ao Senhor que escondesse o rosto dos seus pecados, não para não levá-los em conta, mas para que os esquecesse através do perdão, que apagaria todas as suas iniquidades, e criaria nele um coração puro, e renovaria mais uma vez nele um espírito inabalável, qual como o que possuía antes de ter pecado.
Como ele havia perdido a alegria da salvação, por ter entristecido (apagado) o Espírito Santo, se sentia repelido da presença do Senhor, e por isso Lhe pediu humildemente que restaurasse a sua vida espiritual, criando nele o mesmo espírito voluntário com o qual sempre Lhe havia servido.
Se o Senhor lhe concedesse esta bênção, então ele poderia ensinar aos transgressores os caminhos de Deus, e eles se converteriam a Ele, pelo próprio testemunho de lhe ter sido perdoado tão horrível pecado.
Não para incentivá-los a continuarem pecando contando com o perdão, porque bem sabia que de Deus não se zomba, e nem pode ser enganado, mas para que soubessem que há disponibilidade de graça e perdão suficientes para perdoar a todos os que buscarem viver em retidão perante Ele.
Jesus pagou o preço altíssimo para o nosso perdão, sofrendo a terrível pena em nosso lugar, quando morreu na cruz.
Então, sucedeu a Davi, o mesmo que ocorreria com Paulo no futuro, em seus argumentos para encorajar as pessoas a crerem no perdão de Jesus, porque se ele, perseguidor da Igreja, que era o principal dos pecadores, foi perdoado por Ele, então isto comprovava que estava disposto a perdoar a qualquer um que confiasse nEle como Salvador.
Tal foi o horror gerado no espírito de Davi pelos juízos que o Senhor havia trazido sobre ele, e agora o grande constrangimento pelo Seu amor, que em vez de ordenar a sua morte por apedrejamento, conforme exigia a Lei, usando de graça para com ele, perdoando o seu pecado, que Davi pediu que o Senhor o livrasse para o futuro de cometer crimes de sangue, tal como fizera com Urias, para que a sua língua pudesse exaltar a justiça do Senhor, que tem uma demanda com os homicidas.
Davi orou também pedindo a Deus que abrisse de novo os seus lábios para que o louvasse, compondo hinos de louvor, conforme lhe eram dados pelo Espírito, porque naqueles onze meses, a sua harpa ficou desafinada e os seus lábios permaneceram emudecidos, porque o Espírito já não se movia nele, lhe dando motivos para louvar ao seu Deus.
Assim, ele ofereceu a Deus o seu espírito quebrantado e o seu coração compungido e contrito, porque sabia que não seriam desprezados pelo Senhor, como sucederia com sacrifícios de animais que não fossem acompanhados por tal quebrantamento de espírito.
Finalmente, ele lembra que não se tratava apenas de restaurar a sua vida, mas a da própria nação de Israel que era liderada por ele, e que certamente ficara impactada negativamente por causa do desagrado de Deus em relação ao seu pecado, e por isso lhe pediu que fizesse bem a Sião, segundo a Sua boa vontade.
E uma vez restaurada a religião do coração tanto dele, quanto da nação, então poderiam se empenhar no culto cerimonial de apresentação de holocaustos e sacrifícios, que seriam então, agora, agradáveis a Deus.
O Senhor conhecia perfeitamente a Davi.
Sabia quão grande e sincero era o seu desejo de agradá-lO em tudo.
E viu como não podendo o diabo tentá-lo e fazê-lo cair no orgulho pelas vitórias de Davi nas guerras; pela grande prosperidade que o Senhor lhe havia dado em todo o seu reino; aproveitou-se e levou vantagem sobre ele quando o fez fixar seus olhos numa mulher que tomava banho nua à frente da sacada do seu palácio real.
O Senhor vira como por todos os meios o diabo tentara a Davi por longos anos, especialmente nas grandes perseguições e traições que recebeu da parte de Saul e de muitos dos seus conterrâneos, e como Davi resistira bravamente a tudo aquilo por amor do Seu nome, e para que este fosse glorificado ainda que à custa dos grandes sofrimentos que teve que suportar, então o Senhor se compadeceu dele, e Seu coração se encheu de misericórdia pelo Seu mavioso salmista, que agora se encontrava esmagado debaixo do peso do seu pecado.
Por isso não pôde resistir por muito tempo e lhe enviou o profeta Natã para que fosse restaurado e levantado novamente por Ele.
O mesmo o Senhor Jesus tem feito com todos aqueles do Seu povo que O amam sinceramente, e que desejam servi-lO acima dos seus próprios interesses.
Ele os levantará se porventura caírem, porque se compadecerá deles, tal como havia se compadecido de Davi no passado.          


“Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões.
Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado.
Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar.
Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.  Eis que te comprazes na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste.
Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.
Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito.
Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.
Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti.
Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça.
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores.
Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos.
Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.  Faze bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém.
Então, te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; e sobre o teu altar se oferecerão novilhos.”


Salmo 52

Salmo de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote Aimeleque

“Por que te glorias na maldade, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus dura para sempre. A tua língua urde planos de destruição; é qual navalha afiada, ó praticadora de enganos!  Amas o mal antes que o bem; preferes mentir a falar retamente.  Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta!  Também Deus te destruirá para sempre; há de arrebatar-te e arrancar-te da tua tenda e te extirpará da terra dos viventes.  Os justos hão de ver tudo isso, temerão e se rirão dele, dizendo:  Eis o homem que não fazia de Deus a sua fortaleza; antes, confiava na abundância dos seus próprios bens e na sua perversidade se fortalecia.  Quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante, na Casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para todo o sempre.  Dar-te-ei graças para sempre, porque assim o fizeste; na presença dos teus fiéis, esperarei no teu nome, porque é bom.”

Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel 22, cujo texto e comentário estamos apresentando adiante:
I SAMUEL 22
“1 Depois Davi, retirando-se desse lugar, escapou para a caverna de Adulão. Quando os seus irmãos e toda a casa de seu pai souberam disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez chefe deles; havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe de Moabe; e disse ao rei de Moabe: Deixa, peço-te, que meu pai e minha mãe fiquem convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de Moabe; e ficaram com ele por todo o tempo que Davi esteve neste lugar seguro.
5 Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques neste lugar seguro; sai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu, e foi para o bosque de Herete.
6 Ora, ouviu Saul que já havia notícias de Davi e dos homens que estavam com ele. Estava Saul em Gibeá, sentado debaixo da tamargueira, sobre o alto, e tinha na mão a sua lança, e todos os seus servos estavam com ele.
7 Então disse Saul a seus servos que estavam com ele: Ouvi, agora, benjamitas! Acaso o filho de Jessé vos dará a todos vós terras e vinhas, e far-vos-á a todos chefes de milhares e chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais conspirado contra mim, e não haja ninguém que me avise de ter meu filho, feito aliança com o filho de Jessé, e não haja ninguém dentre vós que se doa de mim, e me participe o ter meu filho sublevado meu servo contra mim, para me armar ciladas, como se vê neste dia?
9 Então respondeu Doegue, o edomita, que também estava com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele ao Senhor, e lhe deu mantimento, e lhe deu também a espada de Golias, o filisteu.
11 Então o rei mandou chamar a Aimeleque, o sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu pai, isto é, aos sacerdotes que estavam em Nobe; e todos eles vieram ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho de Aitube! E ele lhe disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então lhe perguntou Saul: Por que conspirastes contra mim, tu e o filho de Jessé, pois lhe deste pão e espada, e consultaste por ele a Deus, para que ele se levantasse contra mim a armar-me ciladas, como se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque ao rei dizendo: Quem há, entre todos os teus servos, tão fiel como Davi, o genro do rei, chefe da tua guarda, e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que comecei a consultar por ele a Deus? Longe de mim tal coisa! Não impute o rei coisa nenhuma a mim seu servo, nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo não soube nada de tudo isso, nem muito nem pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás de morrer, Aimeleque, tu e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua guarda que estavam com ele: Virai-vos, e matai os sacerdotes do Senhor, porque também a mão deles está com Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo fizeram saber. Mas os servos do rei não quiseram estender as suas mãos para arremeter contra os sacerdotes do Senhor.
18 Então disse o rei a Doegue: Vira-te e arremete contra os sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam éfode de linho.
19 Também a Nobe, cidade desses sacerdotes, passou a fio de espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de peito, e até os bois, jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
20 Todavia um dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.
22 Então Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que, estando ali Doegue, o edomita, não deixaria de o denunciar a Saul. Eu sou a causa da morte de todos os da casa de teu pai.
23 Fica comigo, não temas; porque quem procura a minha morte também procura a tua; comigo estarás em segurança.” (I Sm 22.1-23)

Davi havia se refugiado na caverna de Adulão, quando deixou a cidade de Nobe.
Este capítulo de I Samuel começa com Davi na citada caverna e que seus pais e irmãos vieram ter com ele naquele lugar (v. 1) e que se juntaram a ele todos os que estavam em aperto, todos os endividados e amargurados de espírito, cerca de quatrocentos homens, que deveriam também estar sob algum tipo de ameaça de Saul, assim como também o estava agora a família de Davi (v. 2).
E deste modo, ele começa o seu governo sobre os homens de Israel pelos injustiçados, desamparados, marginalizados.
Nisto ele é tipo de Jesus, que governa sobre os pecadores e especialmente sobre os que choram, sobre os perseguidos, sobre os que têm fome e sede de justiça.
Um rei segundo o coração de Deus não se isolará no conforto do seu palácio, de onde passará apenas a dar ordens tirânicas e autoritariamente, mas será alguém que estará junto do Seu povo, sofrendo e lutando juntamente com ele as batalhas contra o reino espiritual da maldade.
Era exatamente isto que Davi estava aprendendo das circunstâncias que estava vivendo.
Ele teria que se humilhar para prover segurança para os seus pais, e por isso teve que pedir a um rei de uma terra estrangeira, o rei de Moabe, que cuidasse deles até que soubesse o que Deus viria a fazer da sua vida (v. 3, 4).
Nós vemos que o profeta Gade o acompanhava na ocasião do seu período de fuga (v. 5), o qual, provavelmente, por uma revelação divina aconselhou Davi a deixar a segurança da terra de Moabe e que voltasse para a tribo de Judá, na qual ficava a sua cidade de Belém (v. 5). E atendendo às suas palavras, Davi se dirigiu para lá e foi se refugiar no bosque de Herete.
Saul estava acusando Davi injustamente de estar conspirando contra a sua vida e acusou o seu próprio filho Jônatas quanto a ter feito uma aliança com Davi neste sentido.
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus para ser rei sobre todo Israel.
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, e aquela acusação não era procedente de modo nenhum.
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de Saul, com o risco de sua própria vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia sobre o assunto de que Davi esta fugindo do rei, porque como vimos antes, Davi lhe havia mentindo que estava em missão secreta naquela região a mando de Saul.
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul como uma mentira, em razão do grande ódio que ele vinha alimentando contra Davi e considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua alegada conspiração contra ele.
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e transgressão, pois não somente ordenou a morte de todos os sacerdotes, e não somente matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que fugira e foi ter com Davi, como também matou à espada homens, mulheres, meninos e até mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade.
O rei que deveria cuidar da segurança do povo do Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o seu cargo.
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos, como viria a ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo que o Senhor determinara sobre ele.
Doegue não somente denunciou a Saul que Davi estivera em Nobe com os sacerdotes (v. 9), quando Saul se encontrava em sua cidade de Gibeá, na tribo de Benjamim, como também se encarregou de matar os oitenta e cinco sacerdotes que compareceram à presença de Saul em Gibeá quando os seus soldados israelitas se negaram a fazê-lo por temerem ao Senhor.
O temor que faltava ao rei foi achado nos seus servos.
Isto mostra que a sede de sangue de Saul não teria mais limites por causa do seu ódio a Davi, tanto que ele não se satisfez simplesmente em matar os sacerdotes, como também ordenou que suas tropas se dirigissem a Nobe, para fazer aquela grande assolação à cidade sacerdotal, a que já nós referimos anteriormente.
Os israelitas não somente se negaram a informar a Saul o paradeiro de Davi, como se negaram a matar os sacerdotes do Senhor.
Entretanto, um edomita fez  a ambos porque aqueles que não conhecem o temor de Deus não têm as suas consciências perturbadas pelas injustiças que possam cometer, porque a falta do conhecimento do Senhor produz tal cauterização da consciência e dureza de coração.  
Estes sacerdotes foram mortos por causa do pecado dos seus pais, porque todos eles eram da casa de Eli, sobre os quais Deus havia pronunciado um juízo, dizendo que todos os da sua casa viriam a ser mortos pela espada, e que não chegariam a envelhecer (I Sm 2.31-33; 3.11-13).
Assim, nós temos uma grande injustiça e impiedade de Saul ao fazer o que ele fez, mas Deus continuou justo ao permitir que tal acontecesse por causa deste juízo que havia sido pronunciado contra a grande impiedade que a casa de Eli praticou contra o ofício sacerdotal.
As consequências do pecado deles estava ainda alcançando os seus descendentes e familiares pertencentes à casa de Eleazar, de modo que todo Israel poderia entender o grande temor e reverência que devia ser prestado ao ofício sagrado do tabernáculo.
 Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer juízos sobre os ímpios que intentavam contra a sua vida.

Nós vemos que a providência divina inspirou tais palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou na verdade a escrita deste Salmo, mas a verdade que ele contém é uma verdade universal e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso a de Doegue.


Salmo 53

Salmo de Davi

Este Salmo revela as opressões que existem na terra por causa daqueles que não temem a Deus, porque na sua insensatez produzida pelo endurecimento do pecado, pensam que Deus não existe, e por isso se corrompem e praticam a iniquidade, em tão grande proporção que o salmista chega a afirmar que ao contemplar a terra desde o céu, Deus não encontra um só que faça o bem dentre estes que atacam o Seu povo.
Mas estes que a ninguém temem são tomados de grande pavor porque o Senhor lhes sitia e os dispersa e envergonha, porque os tem rejeitado.
Davi sabia que haverá uma restauração na terra, quando o Messias estiver entronizado em Sião, quando todos os obreiros da iniquidade serão exterminados por Deus, e expulsos da terra, e por isso ele suspira nesta salmo pela chegada deste dia, quando Deus restaurará a sorte dos justos, para que exultem e se alegrem na Sua presença.


“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus.
Corrompem-se e praticam iniquidade; já não há quem faça o bem.
Do céu, olha Deus para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus.
Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem sequer um.
Acaso, não entendem os obreiros da iniquidade?
Esses, que devoram o meu povo como quem come pão?
Eles não invocam a Deus.
Tomam-se de grande pavor, onde não há a quem temer; porque Deus dispersa os ossos daquele que te sitia; tu os envergonhas, porque Deus os rejeita.
Quem me dera que de Sião viesse já o livramento de Israel!


Quando Deus restaurar a sorte do seu povo, então, exultará Jacó, e Israel se alegrará.”


Salmo 54

Salmo de Davi quando os zifeus o delataram a Saul

“Ó Deus, salva-me, pelo teu nome, e faze-me justiça, pelo teu poder.  Escuta, ó Deus, a minha oração, dá ouvidos às palavras da minha boca.  Pois contra mim se levantam os insolentes, e os violentos procuram tirar-me a vida; não têm Deus diante de si.  Eis que Deus é o meu ajudador, o SENHOR é quem me sustenta a vida.  Ele retribuirá o mal aos meus opressores; por tua fidelidade dá cabo deles.  Oferecer-te-ei voluntariamente sacrifícios; louvarei o teu nome, ó SENHOR, porque é bom.  Pois me livrou de todas as tribulações; e os meus olhos se enchem com a ruína dos meus inimigos.”

Nós temos o registro de duas delações realizadas pelos zifeus, a saber, em I Samuel 23.19-29, e em I Samuel 26.1:

“19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.19-29)

Quando Davi se encontrava numa região do deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em Deus (v. 16) e lhe disse da sua convicção de que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria também a morrer numa batalha contra os filisteus juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul quando assumisse o reino, e isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que  teve que reinar em princípio, somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda a nação.
 Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue Saul insistiu na perseguição e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor Davi não  tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto Davi estava sendo duramente espiado pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras deste Salmo 54 e as do Salmo 63, nos quais vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e interesseiros se levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os perversos.

Vejamos agora o texto de I Samuel 26.1-11:
“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro do acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.” (I Sm 26.1-11)

Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui de novo em perseguição a ele, pois foi incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar o local em que Davi se encontrava.
E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao local onde estavam acampados e pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um só golpe, porque aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus, entregando Saul nas mãos de Davi.
Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da Palavra, pois a nenhum israelita era dado por Deus agir contra aqueles que Ele havia constituído como autoridade sobre eles e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer dos homens que haviam se juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra direta da parte de Deus, como foi o caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural, ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a grande lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer pessoa permanece debaixo da exclusiva autoridade de Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido de autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo qual deve morrer.        
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas para matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser surpreendido por eles, e também para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria à Sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros servos de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou se procurarão se vingar deles quando têm oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo Testamento:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Temos portanto esta ordem de não nos vingarmos, da parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lO, não dando o devido acatamento à Sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do homem (Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus.
E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19 que Saul saiu em perseguição a Davi desta vez mais pela incitação dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que pela sua própria iniciativa, e por isso Davi impôs um anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois quando Satanás perde um instrumento de perseguição ele tentará reavivá-la em outros.
Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é contra carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar com alguns de seus inimigos, que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se encontra na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos demônios, que se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam também debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo permitido atuar contra os santos senão naquilo que lhes for permitido por Deus.
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença do Senhor, para que indo buscar refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar por força das circunstâncias os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse acusado de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar homenagens aos seus deuses.
É sob esta perspectiva que nós podemos entender o significado das palavras que ele proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.”.
Como não era certamente o Senhor quem estava incitando aquela perseguição, então esta somente poderia estar sendo movida pelos seus inimigos.



Salmo 55

Salmo de Davi

É bem provável que Davi tenha escrito este salmo quando Aitofel e seu filho Absalão conspiravam contra a sua vida para lhe tomarem o reino.
Aitofel foi o Judas do Velho Testamento, que figurava entre os principais conselheiros de Davi, e que frequentemente ia com ele ao templo para acompanhar as devoções de Davi ao Senhor.
No entanto, Aitofel era um hipócrita bem disfarçado, tal como Judas, que na verdade odiava as devoções de Davi, tanto quanto Judas odiava as do Senhor Jesus.
Então, logo se lhe deparara a oportunidade para levantar o seu calcanhar contra Davi, entrou em conspiração com Absalão contra ele, dando-lhe o conselho de se deitar com as concubinas de seu pai, e que lhe desse o comando das tropas para que pessoalmente matasse Davi, que se encontrava exausto com seus homens, na fuga que estava empreendendo no deserto.
Conselho este que foi transtornado pela providência de Deus, por intermédio de Husai, que aconselhou Absalão a aguardar um pouco mais, e que ele próprio, e não Aitofel comandasse o exército que perseguiria Davi.
Este contexto bem explica o lamento que é expressado neste salmo, por um coração terrivelmente traído e perseguido pela crueldade e falsidade dos homens.
As palavras de lisonja de Aitofel, que Davi chama de palavras mais brandas que o azeite, procedentes de uma boca mais macia que a manteiga, escondiam na verdade a guerra que estava no seu coração contra ele e Israel, e eram portanto como espadas desembainhadas prontas a matar.
Então Davi estaria orando incessantemente a Deus naquela hora de grande crise, fazendo-o pela manhã, ao meio-dia e à tarde, para colocar diante dEle as suas queixas e lamentações, porque sabia que o Senhor ouviria a sua voz.
E a pior dor que Davi sentia naquela hora era a da traição de Aitofel, a quem ele havia feito somente o bem, e a quem confiara a intimidade da sua alma, e então expressou sua tristeza e decepção com as seguintes palavras:
“Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me esconderia;  mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus.”.
Contudo não se deixaria vencer por tais sentimentos e buscaria renovo de forças no Seu Deus, conforme o expressou tanto no início deste salmo quanto na sua parte final, na qual declarou:
 “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado. Tu, porém, ó Deus, os precipitarás à cova profunda; homens sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos seus dias; eu, todavia, confiarei em ti.”.
   

“Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração; não te escondas da minha súplica.
Atende-me e responde-me; sinto-me perplexo em minha queixa e ando perturbado, por causa do clamor do inimigo e da opressão do ímpio; pois sobre mim lançam calamidade e furiosamente me hostilizam.
Estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de mim.
Então, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e acharia pouso.
Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto. Dar-me-ia pressa em abrigar-me do vendaval e da procela.
Destrói, Senhor, e confunde os seus conselhos, porque vejo violência e contenda na cidade.  Dia e noite giram nas suas muralhas, e, muros a dentro, campeia a perversidade e a malícia;  há destruição no meio dela; das suas praças não se apartam a opressão e o engano.
Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me esconderia;  mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo.
Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus.
A morte os assalte, e vivos desçam à cova! Porque há maldade nas suas moradas e no seu íntimo.
Eu, porém, invocarei a Deus, e o SENHOR me salvará.
À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.
Livra-me a alma, em paz, dos que me perseguem; pois são muitos contra mim.
Deus ouvirá e lhes responderá, ele, que preside desde a eternidade, porque não há neles mudança nenhuma, e não temem a Deus.
Tal homem estendeu as mãos contra os que tinham paz com ele; corrompeu a sua aliança.
A sua boca era mais macia que a manteiga, porém no coração havia guerra; as suas palavras eram mais brandas que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas.
Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado.
Tu, porém, ó Deus, os precipitarás à cova profunda; homens sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos seus dias; eu, todavia, confiarei em ti.”




Salmo 56

Salmo de Davi quando os filisteus o prenderam em Gate

“Em me vindo o temor hei de confiar em Ti” (Sl 56.3)

A experiência de Davi, expressada neste, e em outros salmos, revela a condição de perseguição a que estão sujeitos todos os que procuram servir fielmente ao Senhor.
Satanás se levanta em grande fúria contra eles procurando lhes neutralizar o testemunho, para que não venha a sofrer perdas de almas no seu reino infernal.
Os perigos de morte física que  Davi enfrentou da parte dos homens, incitados contra ele pelo diabo, são os mesmos perigos que sempre enfrentamos no mundo espiritual, ainda que isto não se traduza em ameaças à nossa integridade física.
E tal como Davi fazia debaixo dessas perseguições, devemos também fazer, porque ele clamava ao Senhor por livramento da maldade dos homens.
Ele havia se determinado a confiar em Deus, mesmo quando lhe sobreviesse o temor, porque colocando a sua confiança no Senhor nada temeria.
O que poderia lhe fazer o mortal estando ele debaixo da proteção de um Deus poderoso e imortal?
Além disso nossos sofrimentos suportados com paciência, perseverando e confiando no Senhor, aperfeiçoam a nossa fé, nos ensinam perseverança e longanimidade, e estão registrados em Sua memória, para a nossa honra e galardão, de maneira que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus.
Os inimigos de Cristo, do evangelho, da verdade, do amor, da paz e da justiça, estão cooperando para que a nossa fé seja aperfeiçoada e aumentado o nosso galardão.
E sendo nisto aperfeiçoados podemos perseverar em lhes fazer o bem, especialmente às suas almas, orando por eles, para que sejam livrados das garras do Inimigo, e por fim, venham a achar a libertação e a salvação em Jesus Cristo, nosso Senhor.


“Tem misericórdia de mim, ó Deus, porque o homem procura ferir-me; e me oprime pelejando todo o dia.
Os que me espreitam continuamente querem ferir-me; e são muitos os que atrevidamente me combatem.
Em me vindo o temor, hei de confiar em ti.
Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei.
Que me pode fazer um mortal?
Todo o dia torcem as minhas palavras; os seus pensamentos são todos contra mim para o mal.
Ajuntam-se, escondem-se, espionam os meus passos, como aguardando a hora de me darem cabo da vida.
Dá-lhes a retribuição segundo a sua iniquidade. Derriba os povos, ó Deus, na tua ira!
Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?
No dia em que eu te invocar, baterão em retirada os meus inimigos; bem sei isto: que Deus é por mim.
Em Deus, cuja palavra eu louvo, no SENHOR, cuja palavra eu louvo,  neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei.
Que me pode fazer o homem?
Os votos que fiz, eu os manterei, ó Deus; render-te-ei ações de graças.
Pois da morte me livraste a alma, sim, livraste da queda os meus pés, para que eu ande na presença de Deus, na luz da vida.”


Salmo 57

Salmo de Davi quando fugia de Saul na caverna

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.  Clamarei ao Deus Altíssimo, ao Deus que por mim tudo executa.  Ele dos céus me envia o seu auxílio e me livra; cobre de vergonha os que me ferem. Envia a sua misericórdia e a sua fidelidade.  Acha-se a minha alma entre leões, ávidos de devorar os filhos dos homens; lanças e flechas são os seus dentes, espada afiada, a sua língua.  Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória.  Armaram rede aos meus passos, a minha alma está abatida; abriram cova diante de mim, mas eles mesmos caíram nela.  Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores.  Desperta, ó minha alma! Despertai, lira e harpa! Quero acordar a alva.  Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações.  Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens.  Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória.”

Nós usaremos como comentário deste salmo o sermão que Spurgeon escreveu sobre o mesmo, e que estamos apresentando a seguir em forma adaptada:

Quando Davi fez a oração deste Salmo ele estava fugindo de Saul, que o procurava com o exército de Israel para tirar-lhe a vida. Ele estava na caverna de Adulão, onde se juntaram a ele seus pais, seus irmãos e todos os homens que se achavam em aperto, e os endividados e todos os amargurados de espírito – cerca de quatrocentos homens  (I Sm 22.1,2).

“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e o abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” (Is 57;15). O Senhor habita no terceiro céu, mas habita também nos corações dos contritos e abatidos de espírito na terra, que se humilham perante Ele e o buscam. Isto não renova a tua esperança em meio aos teus sofrimentos e problemas? O Altíssimo vem ao teu encontro para te dar livramento. Davi  começa muitos Salmos com lágrimas mas os termina com louvor e alegria, isto porque Deus nos visita no meio da nossa tribulação, no meio do nosso clamor angustiado, e nos livra dando-nos um cântico de vitória e de alegria.
Davi orou quando estava na caverna.
Deus ouvirá a oração que for feita na terra, no mar e até no  fundo do mar. Ele não é somente Deus das montanhas, mas também dos vales. O trono de graça do Senhor sempre está acessível aos que o buscam com um coração sincero e contrito.
As melhores orações são feitas nas cavernas da aflição porque vêm do profundo do nosso coração. Se alguém esta noite encontra-se em posição em que sua alma esteja angustiada, e sentindo nuvens a cercar o seu coração, este é um momento especial para comunhão e intercessão que prevaleça, para provar a fidelidade de Deus à sua promessa de estar junto do abatido e contrito de coração.
O Salmo 142 começa com Davi dizendo que pediria misericórdia a Deus com sua voz.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O primeiro está na acomodação ao mal. Na nossa descrença pensando que Deus não está interessado em fortalecer o nosso coração e alegrar a nossa alma. Com isto, não clamamos por socorro como fez Davi. Não oramos. Não confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor. E tocarmos a vida com o coração atribulado julgando que somos mais fortes do que qualquer problema. Davi não tinha vergonha de assumir e reconhecer que há situações que o nosso inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que for, é mais forte do que nós. E não temos outra alternativa senão a de recorrer ao auxílio do Altíssimo, do Todo Poderoso. Há um mistério nisto, que Paulo bem conheceu: quando somos fracos então somos fortes. A graça do Senhor se revela poderosa na nossa fraqueza. O ato de prosseguir tentando parecer ser mais fortes do que as forças que nos oprimem e deprimem, pode fazer com que nós, nesta nossa auto-confiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos, obstinados e frios. O poder não é nosso e nem das forças que nos assolam, mas é exclusivo de Jesus Cristo. Todo o poder Lhe foi dado nos céus e na terra, Ele tem autoridade sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos quando clamamos por socorro.
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas dúvidas e temores. Se tens de sair do teu estado atual de depressão, corra imediatamente para Deus, como fez Davi. Ele diz nos dois primeiros versículos do Salmo 142:
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor.
2.  Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Se não tens força para clamar com tua voz, ou não há um lugar adequado para tal, clama com o coração, grita com a tua alma, fala com o Senhor em silêncio, mas não deixes de clamar. Contempla somente ao Senhor, porque somente nele há esperança.
Se tens pecado contra Deus, saiba que Ele está disposto a perdoar. Ele pode perdoar completamente a maior das ofensas.  Lembra que Jesus pagou com sua morte o preço exigido para o perdão de todos os nossos pecados.
Basta apenas confessar. Davi confessou que estava com o seu espírito abatido. Mas determinou-se não ocultar nada de Deus. Faça o mesmo. Ele diz nos versos 2 e 3 do nosso Salmo.
2.  Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No  caminho em que ando me ocultam armadilha.
Quando estamos na caverna da aflição não são palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são meras palavras que temos que falar, mas colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal como uma criança devemos dizer ao Senhor todas as nossas angústias, nossas queixas, nossas misérias, temores. Se lhe confessarmos tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande alívio, pois tem prometido libertar do cativeiro a alma que lhe clama por socorro na angústia (Sl 50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na caverna. Deus pode levantar homens para virem em nosso auxílio, mas devemos reconhecer que eles não viriam e não agiriam bem em nosso favor se o Senhor não os dirigisse em tal sentido.
 É importante destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio que era a  caverna de Adulão, e estava em companhia de seus familiares e de quatrocentos homens que haviam feito dele o seu chefe, mas Davi sabia que não há segurança confiável em nada neste mundo. E dispôs-se a buscar o único e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso Deus.
 É preciso reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos 4 e 5:
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
 As tribulações aprisionam a nossa alma, colocam-na no cárcere. Ali perdemos a alegria da salvação, porque a alma é como um pássaro que só canta em liberdade. Os grilhões da maldade, da perseguição do inimigo que busca aprisionar a nossa alma, não podem resistir ao poder de Jesus que quebra todas as cadeias que nos prendem, e nos dá perfeita liberdade. Podemos caminhar livremente em Jesus. E por isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes  do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles agradecem e louvam à pessoa que os libertou. Muito mais nós devemos adorar e louvar a Jesus pela liberdade que Ele nos dá. Devemos glorificar o seu santo nome porque somente ele é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele primeiro a quebra em pedaços.
Deus queria fazer de Jacó, um príncipe, o que fez o Senhor? Saiu numa noite e lutou com ele até raiar o dia. E lhe tocou no nervo da coxa de forma que ficou manco antes de mudar seu nome para   Israel, que significa príncipe de Deus. A luta era para retirar-lhe as próprias forças, e quando estas se esgotaram o chamou de príncipe.
Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde passava o caminho para o trono de Davi? Pela caverna de Adulão. Deveria ir para lá, perseguido por Saul, como um pária, um proscrito, porque esse era o caminho que o levaria a ser o rei que era segundo o coração de Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que cada vez que Deus vai dar-lhes um crescimento, para lhes levar a uma esfera maior de serviço, ou nível mais elevado na vida espiritual, que primeiro vocês são derrubados? Por isso a Palavra diz que devemos ter por motivo de toda a alegria o passar por várias provações. Porque esta é a maneira de Deus trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome antes de dar-nos de comer.  Desnuda-nos antes de vestir-nos. Faz de nós nada, antes de fazer algo de nós.
Por que devemos passar pela caverna como Davi? Primeiro porque para sermos uma pessoa de grande utilidade, Deus precisa antes ensinar-nos a orar. Se chegarmos a ser grandes sem orar, nossa grandeza será nossa ruína. A caverna nos ensina que dependemos inteiramente de Deus e que vão é o socorro do homem e nenhuma é a nossa força.
Há situações na vida em que ficamos totalmente entregues nas mãos de Deus. Dependentes da sua misericórdia e auxílio. Com isso quer nos ensinar a não confiarmos em nós mesmos, em nossa própria força, sabedoria, capacidade.
Mais, acima de tudo isso, o Senhor deseja ser conhecido. Quer que aprendamos que Ele é o nosso melhor amigo. Quer que aprendamos que somente a Ele pertence todo o poder. Quer que aprendamos que Ele é totalmente bondoso, misericordioso, amoroso e fiel.
Por isso Davi disse:
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Na aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a valorizar o sofrimento dos nossos irmãos e compartilhamos com eles as suas lutas, intercedendo por eles e socorrendo-os em suas tribulações.
 Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas coisas, e por isso somos exortados a sermos gratos a Deus por tudo, e a entender que todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da caverna, uma vez cessado o perigo, ou por termos recebido forças para enfrentá-lo, devemos vigiar para não sairmos nos lamentando da experiência que passamos, ao contrário o Senhor quer que o louvemos pelo Seu poderoso livramento, porque os que cantam são os que seguem adiante. Fora com todo o pessimismo e nuvens de tristeza que venham sobre nós, depois que temos sido libertados por Deus. Que se encontrem somente palavras de louvor e gratidão em nossos lábios, e outros se juntarão a nós, para receberem da mesma alegria e unção. Davi agia assim e devemos agir do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.


Salmo 58

Salmo de Davi

Provavelmente Davi ainda se encontrava debaixo das perseguições de Saul, quando escreveu este salmo.
Como não havia ainda assumido o reinado, é também provável que Saul tenha subornado os juízes de Israel para pronunciarem uma sentença formal contra Davi, sob a acusação de ser um traidor de Israel.
Então Davi indaga a estes juízes se o que eles estavam afirmando era verdadeiramente justiça.
Era uma prática comum por vários séculos entre os juízes de Israel darem sentenças por suborno, e oprimirem os pobres para favorecerem os ricos e poderosos.
No entanto, não foi para isto que haviam sido colocados na magistratura.
Eles haviam ali sido colocados para julgarem segundo os retos mandamentos da Lei do Senhor.
Àqueles que cabia exercerem juízo e justiça, não somente transgrediam suas atribuições, como engendravam iniquidades no seu íntimo, e distribuíam sentenças de violência na terra de Israel através das suas mãos.
Eles eram como serpentes peçonhentas, surdos como a víbora aos clamores da justiça, para os quais haviam tapado seus ouvidos, por conveniência, agradando a si mesmos e aos poderosos, para que nunca fossem afastados da posição de regalia em que se encontravam.
Tão corrompidos estavam em sua função, que Davi orou ao Senhor para que lhes quebrasse os dentes em suas bocas e que lhes arrancasse os queixos, que desse sumiço neles, e que as flechas de injustiça que eles lançavam sobre muitos ficassem embotadas e não lhes produzisse qualquer dano.
Que o Senhor manifestasse contra eles a força do Seu braço e que fossem arrebatados da terra como por um redemoinho, e com isso o justo veria que há recompensa para ele, porque há um Deus que julga com justiça, mesmo quando os juízes da terra prevaricam.
Não é lícito sequer pensarmos que é bom que venham males para que Deus possa manifestar o seu conforto, justiça e misericórdia, a um mundo cheio de injustiças e todo tipo de pecados.
Todavia, sabemos que do mal, o Senhor sabe tirar o bem, especialmente pelo fato de possibilitar aos que são justos, o aprendizado de amarem e desejarem muito a justiça, tal como ocorria no coração de Davi, por verem e experimentarem quão coisa terrível e dolorosa é a injustiça.
Este amor pela justiça nos remete imediatamente a Jesus Cristo, que é Rei justo, e que sempre julga com justiça perfeita a todos os homens.
E isto será revelado em plenitude quando for instalado o grande tribunal de Deus, naquele Dia que já tem determinado e escolhido, para dar a cada um conforme as suas obras, sejam boas ou más.
Há pelo menos Um que governa com justiça, e que por fim há de se levantar sobre toda a terra.
Confortemo-nos nesta esperança, de que o mal, e nem o bem ficarão sem a justa retribuição.
Para quem praticou o bem glória eterna.
Para quem praticou o mal, vergonha e horror eternos.


“Falais verdadeiramente justiça, ó juízes?
Julgais com retidão os filhos dos homens?
Longe disso; antes, no íntimo engendrais iniquidades e distribuís na terra a violência de vossas mãos.
Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.
Têm peçonha semelhante à peçonha da serpente; são como a víbora surda, que tapa os ouvidos,  para não ouvir a voz dos encantadores, do mais fascinante em encantamentos.
Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca; arranca, SENHOR, os queixais aos leõezinhos.
Desapareçam como águas que se escoam; ao dispararem flechas, fiquem elas embotadas.
Sejam como a lesma, que passa diluindo-se; como o aborto de mulher, não vejam nunca o sol.
Como espinheiros, antes que vossas panelas sintam deles o calor, tanto os verdes como os que estão em brasa serão arrebatados como por um redemoinho.
Alegrar-se-á o justo quando vir a vingança; banhará os pés no sangue do ímpio.
Então, se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo; há um Deus, com efeito, que julga na terra.”




Salmo 59

Salmo de Davi quando Saul mandou sitiar sua casa para o matar

Neste salmo, Davi clamou a Deus para que o livrasse dos seus inimigos, e que o colocasse além do alcance deles, porque estavam no seu encalço, quando se encontrava em sua própria casa, com sua esposa Mical, que teve que usar de um estratagema para fugir dos perseguidores que foram enviados por Saul para matá-lo.
Ele que era o mais leal capitão do exército de Saul, estava sendo acusado por este falsamente, de traidor, por motivo de inveja, porque temia perder o reino para ele.
Não foram poucas as ciladas que Saul armou para tentar apanhar Davi, tal como as que Satanás emprega para pegar os servos da Igreja de Cristo.
O diabo também o faz por inveja, porque tem ódio mortal dos filhos de Deus aos quais Ele ama, enquanto ele, que tinha grande honra no céu, foi de lá banido para sempre e se encontra debaixo de um sentença condenatório de prisão eterna no lago de fogo e enxofre no qual ficará por toda a eternidade, a qual já é certa e líquida, e apenas aguarda pelo tempo da sua execução, tal como Deus havia retirado o reino de Saul e dado o mesmo a Davi, só que este teve que aguardar pelo tempo de Deus para o cumprimento de tal determinação.
E Saul, tal como Satanás, ficou também debaixo de um juízo de morte do Senhor,  depois de ter sido banido do reino, por causa das injustiças e iniquidades que praticara contra aqueles que amavam sinceramente ao Senhor, tendo inclusive determinado a morte de sacerdotes.
Certamente, que nenhum cristão devem usar das mesmas imprecações que Davi usou contra os obreiros da perversidade, naquela Antiga Aliança, em que isto era permitido.
Temos o dever perante Deus, nesta Nova Aliança, no sangue de Cristo, de bendizer os que nos maldizem, orar pelos nossos perseguidores, e amar os nossos inimigos.
Ao Senhor pertence toda a justiça e retribuição.
Somente a Ele cabe julgar todas as injustiças sofridas por aqueles que O amam.


“Livra-me, Deus meu, dos meus inimigos; põe-me acima do alcance dos meus adversários.
Livra-me dos que praticam a iniquidade e salva-me dos homens sanguinários,  pois que armam ciladas à minha alma; contra mim se reúnem os fortes, sem transgressão minha, ó SENHOR, ou pecado meu.
Sem culpa minha, eles se apressam e investem; desperta, vem ao meu encontro e vê.
Tu, SENHOR, Deus dos Exércitos, és o Deus de Israel; desperta, pois, e vem de encontro a todas as nações; não te compadeças de nenhum dos que traiçoeiramente praticam a iniquidade.
Ao anoitecer, uivam como cães, à volta da cidade.
Alardeiam de boca; em seus lábios há espadas.
Pois dizem eles: Quem há que nos escute?
Mas tu, SENHOR, te rirás deles; zombarás de todas as nações.
Em ti, força minha, esperarei; pois Deus é meu alto refúgio.
Meu Deus virá ao meu encontro com a sua benignidade, Deus me fará ver o meu desejo sobre os meus inimigos.
Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; dispersa-os pelo teu poder e abate-os, ó Senhor, escudo nosso.
Pelo pecado de sua boca, pelas palavras dos seus lábios, na sua própria soberba sejam enredados e pela abominação e mentiras que proferem.
Consome-os com indignação, consome-os, de sorte que jamais existam e se saiba que reina Deus em Jacó, até aos confins da terra.
Ao anoitecer, uivam como cães, à volta da cidade.
Vagueiam à procura de comida e, se não se fartam, então, rosnam.
Eu, porém, cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria a tua misericórdia; pois tu me tens sido alto refúgio e proteção no dia da minha angústia.
A ti, força minha, cantarei louvores, porque Deus é meu alto refúgio, é o Deus da minha misericórdia.”


Salmo 60

Salmo de Davi

O texto deste salmo 60 parece ter sido escrito em plena batalha que foi empreendida em várias frentes.
Assim, enquanto Davi clamava para que Deus não os rejeitasse e dispersasse as forças dos exércitos de Israel por algum motivo de indignação da Sua parte, de modo que em vez disto, os restabelecesse, e que no meio dos revezes que havia feito o Seu povo experimentar, que lhes desse um estandarte, para fazer com que os inimigos de Israel batessem em retirada.
Estas batalhas empreendidas por Davi ilustram a nossa vida neste mundo, em que nossas alegrias nas vitórias que o Senhor nos concede estão misturadas aos revezes constantes que sofremos por causa das investidas do Inimigo.
Somente o Senhor pode libertar o Seu povo dos ataques do Inimigo, e por isso Davi lhe pediu que respondesse à sua oração, e que os salvasse com a Sua destra.
E Deus falou a Davi que guardaria o Seu povo, mas que de Moabe faria uma bacia de lavar, e sobre Edom lançaria a sua sandália, e que jubilaria sobre a queda da Filistia.
Davi soube então que faria proezas no Senhor, porque era Ele que lutava por Israel, calcando aos pés os seus adversários.
Muitos indagam por que Deus permite estes ataques do Inimigo sobre aqueles que O amam e que praticam a justiça.
Por que não lhes provê uma paz perfeita neste mundo, sem os reveses a que temos nos referido?
Importa que os que amam a verdade e a justiça sejam aperfeiçoados na sua confiança no Senhor, e que também sejam refinados em seu caráter, ganhando a resistência e rejeição ao mal, e a escolha e acolhida ao bem.
Importa ganhar a qualidade do amor a Deus e ao próximo, que resista a qualquer circunstância contrária ao amor, à verdade e à justiça.
E isto, certamente, só pode ser forjado pelas tribulações que sofremos.
Então são justamente elas (as tribulações) a prova do grande amor de Deus para conosco, porque visam ao nosso aperfeiçoamento e amadurecimento espiritual, de forma que, ao final de todo este processo, não somente Deus ficará satisfeito, como também nós, com o bom efeito produzido em nossas vidas.
É nas vitórias da fé no Senhor, que vencemos todos os nossos inimigos espirituais (Satanás e suas hostes), os quais são representados no Salmo, em figura, pelos povos inimigos de Israel.

“Ó Deus, tu nos rejeitaste e nos dispersaste; tens estado indignado; oh! Restabelece-nos!
Abalaste a terra, fendeste-a; repara-lhe as brechas, pois ela ameaça ruir.
Fizeste o teu povo experimentar reveses e nos deste a beber vinho que atordoa.
Deste um estandarte aos que te temem, para fugirem de diante do arco.
Para que os teus amados sejam livres, salva com a tua destra e responde-nos.
Falou Deus na sua santidade: Exultarei; dividirei Siquém e medirei o vale de Sucote.
Meu é Gileade, meu é Manassés; Efraim é a defesa de minha cabeça; Judá é o meu cetro.
Moabe, porém, é a minha bacia de lavar; sobre Edom atirarei a minha sandália; sobre a Filístia jubilarei.
Quem me conduzirá à cidade fortificada?
Quem me guiará até Edom?
Não nos rejeitaste, ó Deus? Tu não sais, ó Deus, com os nossos exércitos!
Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro do homem.
Em Deus faremos proezas, porque ele mesmo calca aos pés os nossos adversários.”



Salmo 61

Salmo de Davi

Neste salmo Davi suplicou a Deus que elevasse a sua alma à Sua presença, porque o seu coração estava abatido, e somente na Rocha elevada que é o Senhor, podem os homens fiéis encontrar refúgio contra o Inimigo.
Davi desejava que o Senhor produzisse em seu espírito aquela condição de paz e segurança que nos leva a sentir que estaremos para sempre na Sua presença, na Sua morada eterna, debaixo do esconderijo das Suas asas, que nos abrigam.
Ele sabia que não deixaria de existir, e que as boas e fiéis promessas feitas pelo Senhor para ele e para a sua casa, de estarem para sempre na Sua presença, teriam cabal cumprimento.
Por isso, apesar do abatimento do seu coração, pelas aflições que o atingiam, ao mesmo tempo podia exultar no Senhor com este sentimento de que lhe acrescentaria dias, de modo que os seus anos durariam gerações após gerações, porque a bondade e a fidelidade do Senhor lhe concederiam que fosse preservado; motivo porque salmodiaria o Seu nome para sempre, para cumprir, dia após dia, os seus votos, de que O serviria para sempre.
E o faria com um espírito pronto e voluntário, porque aos que oram ao Senhor e o buscam de todo o coração, Ele concede que participem da sua própria natureza virtuosa divina.
E assim, no lugar da ira haverá a longanimidade. Do espírito turbado, o coração em praz. A alegria espiritual no lugar da tristeza. A força espiritual no do abatimento. E assim, em relação a tudo o que é mau e negativo, por aquilo que é bom e positivo.
Em Deus fazemos proezas, especialmente a de ver sendo implantado em nós, pelo poder do Espírito Santo, traços do próprio caráter de Cristo.


“Ouve, ó Deus, a minha súplica; atende à minha oração.
Desde os confins da terra clamo por ti, no abatimento do meu coração.
Leva-me para a rocha que é alta demais para mim;  pois tu me tens sido refúgio e torre forte contra o inimigo.
Assista eu no teu tabernáculo, para sempre; no esconderijo das tuas asas, eu me abrigo.
Pois ouviste, ó Deus, os meus votos e me deste a herança dos que temem o teu nome.
Dias sobre dias acrescentas ao rei; duram os seus anos gerações após gerações.
Permaneça para sempre diante de Deus; concede-lhe que a bondade e a fidelidade o preservem.
Assim, salmodiarei o teu nome para sempre, para cumprir, dia após dia, os meus votos.”


Salmo 62

Salmo de Davi

Davi expressa neste salmo, como na maioria dos que são da sua autoria, a sua total confiança no Senhor, de modo que mantinha a sua alma em expectativa silenciosa de receber dEle livramento dos ataques que recebia dos seus muitos inimigos.
Não seria de se estranhar que estes se encontrassem também dissimuladamente na sua própria corte,    mas fazendo do Senhor o seu alto refúgio, ainda que pudesse ser abalado    pelos ataques que eles lhes desferiam, contudo, não poderia ser muito abalado, porque tinha o Senhor por sua defesa.
Os pérfidos agem contra os justos como se fossem uma parede que está prestes a cair, porque pensam erroneamente que não terão muito trabalho para derrubá-lo, porque não se entrega às mesmas práticas malignas que eles.
Com isso pensam que não poderão receber qualquer dano da parte dos justos, como de fato não podem receber, mas se esquecem que receberão o pago devido de suas más obras diretamente das mãos de Deus, que é o vingador dos Seus servos.
Então as mentiras nas quais os ímpios se comprazem para derribar o justo, e a falsidade de bendizê-lo com a boca, enquanto o    maldizem em seus corações, não triunfará, porque o Senhor peleja pelo Seu povo.
Era por isso que Davi, na hora da tribulação, sempre ordenava à sua alma que esperasse silenciosa, na esperança de receber o devido socorro do Senhor, que nunca lhe faltara, e nem a nós, se andarmos em fidelidade na Sua presença, tal como Davi andava.
Ninguém mais além de Deus, era rocha de abrigo e socorro, porque era somente dEle que vinha a sua salvação, de modo que sabia que jamais seria abalado.
Assim, ele conclama o povo do Senhor a confiar nEle em todo o tempo, e a derramar perante Ele os seus corações, porque somente Deus é o nosso refúgio.
Quanto aos homens, eles são vaidade, ou seja, nada podem fazer para manter suas almas em perfeita paz e segurança, porque sejam plebeus ou nobres, quando juntados pesam menos que uma pluma, quanto mais se poderia compará-los à Rocha que é o Senhor.
Por isso os homens não devem confiar nas extorsões que    praticam, e nem se vangloriarem em suas rapinas, porque se as riquezas deles prosperarem não é nelas em que deve estar posto o coração, senão somente no Senhor, porque se lhes tornarão ídolos e laços, nos quais por fim serão apanhados, porque Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras, porque é somente a Ele que pertence tanto o poder quanto a graça.                


“Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação.
Só ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei muito abalado.
Até quando acometereis vós a um homem, todos vós, para o derribardes, como se fosse uma parede pendida ou um muro prestes a cair?
Só pensam em derribá-lo da sua dignidade; na mentira se comprazem; de boca bendizem, porém no interior maldizem. Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança.
Só ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado.
De Deus dependem a minha salvação e a minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e o meu refúgio.
Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio.
Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade.
Não confieis naquilo que extorquis, nem vos vanglorieis na rapina; se as vossas riquezas prosperam, não ponhais nelas o coração.
Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus,    e a ti, Senhor, pertence a graça, pois a cada um retribuis segundo as suas obras.”


Salmo 63

Salmo de Davi quando no deserto de Judá

“Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água.
Assim, eu te contemplo no santuário, para ver a tua força e a tua glória.
Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam.
Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver; em teu nome, levanto as mãos.
Como de banha e de gordura farta-se a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva, no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite.
Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso.
A minha alma apega-se a ti; a tua destra me ampara.
Porém os que me procuram a vida para a destruir abismar-se-ão nas profundezas da terra.
Serão entregues ao poder da espada e virão a ser pasto dos chacais.
O rei, porém, se alegra em Deus; quem por ele jura gloriar-se-á, pois se tapará a boca dos que proferem mentira.”


Davi está num deserto, mas não murmurava como haviam feito os israelitas nos dias de Moisés, depois de terem deixado o Egito.
O deserto só servia para aumentar a sua devoção ao Senhor, porque era grande a sede que Ele tinha da Sua presença.
Então, a aridez do deserto, e a exaustão produzida pela escassez de água, só servia para aumentar a sede de Deus que tinha a sua alma.
A Davi não importavam as adversidades externas, porque em toda e qualquer circunstância estava acostumado a achar refrigério no Seu Deus.
Por isso podia dizer que a graça do Senhor lhe era melhor do que a própria vida, porque era por meio dela que era fortalecido na fraqueza, tal como Paulo viria a aprender depois dele, em seus dias.
Esta era a razão porque podia louvar ao Senhor e lhe bendizer o nome em todos os momentos da sua vida, e que o faria enquanto vivesse, porque tinha esta convicção de que a graça de Deus sempre o fortaleceria.
Então a sua alma estava saudável, assim como o gado gordo nos pastos, e podia com grande alegria expressar louvores a Deus com a sua boca, mesmo quando estava deitado em seu leito, e meditava em Deus na vigília da noite.
Ele podia dormir sossegado porque sabia que tinha o Senhor por seu auxílio, e assim, se sentindo à sombra das Suas asas de proteção divinas cantava jubilosamente.
A alma de Davi estava apegada a Deus, e por isso era amparada pela Sua mão direita.
Então aqueles que procurassem destruir a sua vida ficariam abismados nas profundezas da terra, porque o Senhor os lançaria lá, por amor do Seu servo.
Os que intentassem tirar a sua vida pela espada, seriam entregues por Deus ao poder da espada, e seus corpos mortos serviriam de pasto aos chacais, porque os que confiam no Senhor, recebem dele paz e segurança para permanecerem sossegados, mesmo diante das ameaças injustas que sofrem neste mundo.


A boca de Davi se abriria sempre em alegres louvores, e sempre se gloriaria no Senhor, porque Deus taparia a boca dos mentirosos, que falavam contra a sua vida caluniosamente.  



Salmo 64

Salmo de Davi

O grande número de salmos que Davi escreveu pedindo a Deus que fosse Seu refúgio contra os ataques que lhes eram desferidos pelos seus inimigos, revela quão atribulada foi a sua vida, mesmo antes de assumir o reinado de Israel, quando empreendia as batalhas contras os povos inimigos sob Saul, e depois sendo perseguido pelo próprio Saul, e por fim tendo que lutar contra muitos povos para manter Israel em segurança em todas as suas fronteiras, as quais ele ampliou, de maneira, que Salomão pôde governar tendo paz por todos os lados, em relação às demais nações, porque Deus levantara Davi para subjugar os inimigos de Israel, como por exemplo os jebuseus e os filisteus, e para firmar Israel como um reino sólido diante dos demais povos e nações.
Israel trazia os testemunhos do Senhor, para o bem de todas as nações, e importava então que fossem firmados em paz em sua própria terra.
Satanás sempre se opusera a isto, com o fim de anular tal testemunho.
Mas Deus preservaria o Seu povo dos ataques do Inimigo, com o fim de destruí-lo, por amor do Seu próprio Nome, e para o cumprimento do Seu propósito de salvar pessoas em todas as nações, determinado desde antes da criação.
Foi com grandes tribulações, aflições e sofrimentos, para não citar os que Davi teve em sua própria casa, que tudo isto foi feito.
De igual modo, grandes obras realizadas pelo Senhor na Igreja, pelas quais triunfa poderosamente sobre o Inimigo, são também feitas pelos Seus servos, debaixo de condições semelhantes às que Davi experimentara em seus dias, porque terão que enfrentar a grande fúria do Inimigo, que tudo fará para que o propósito de Deus não seja cumprido.
Então os sofrimentos de Davi não eram decorrentes daquilo que buscava para si mesmo, mas por estar a serviço do Senhor.
Servir a Deus e honrar o Seu nome, fazendo toda a Sua vontade, era o único e grande objetivo da vida de Davi.
Isto e somente isto era todo o seu prazer.
Então nós o vemos mais uma vez neste salmo, orando e clamando a Deus para que ouvisse a sua voz nas suas perplexidades, e que lhe preservasse a vida do terror do inimigo.
Que o escondesse da conspiração dos malfeitores e do tumulto dos que praticam a iniquidade, cujas línguas são afiadas como espadas, e que são apontadas como flechas, disparando palavras amargas, para que às ocultas atinjam aqueles que são retos.
Eles não têm nenhum temor diante de seus olhos, e por isso teimam no seu mau propósito falando secretamente para armar ciladas, pensando que ninguém os verá.
Eles próprios não sabem, mas seus propósitos malignos são na verdade inspirados pelo Inimigo, visando frustrar o plano de Deus relativo à salvação da humanidade.
No entanto, Davi sabia o quanto estavam enganados, porque nada foge dos olhos oniscientes de Deus, o qual desferirá contra eles os Seus juízos como setas, quando menos eles esperarem, e assim são levados a tropeçar, e o mal que haviam proferido com suas línguas se voltará contra eles próprios, de forma que todos os que virem a sua condição de ruína menearão suas cabeças, e passarão a temer os juízos de Deus e anunciarão as Suas obras, porque entenderão agora o que Ele faz para promover a justiça.
Por isso o justo se alegra no Senhor e confia nEle, e todos os retos de coração se gloriam nEle, porque os Seus caminhos são de justiça e paz.


“Ouve, ó Deus, a minha voz nas minhas perplexidades; preserva-me a vida do terror do inimigo.
Esconde-me da conspiração dos malfeitores e do tumulto dos que praticam a iniqüidade,
os quais afiam a língua como espada e apontam, quais flechas, palavras amargas,
para, às ocultas, atingirem o íntegro; contra ele disparam repentinamente e não temem.
Teimam no mau propósito; falam em secretamente armar ciladas; dizem: Quem nos verá?
Projetam iniqüidade, inquirem tudo o que se pode excogitar; é um abismo o pensamento e o coração de cada um deles.
Mas Deus desfere contra eles uma seta; de súbito, se acharão feridos.
Dessarte, serão levados a tropeçar; a própria língua se voltará contra eles; todos os que os vêem meneiam a cabeça.
E todos os homens temerão, e anunciarão as obras de Deus, e entenderão o que ele faz.


O justo se alegra no SENHOR e nele confia; os de reto coração, todos se gloriam.”



Salmo 65

Salmo de Davi

Neste salmo Davi declara o perdão de pecados por causa da eleição de Deus. Estes eleitos virão ao Senhor para terem as suas iniquidades perdoadas por Ele. São bem-aventurados porque são escolhidos pelo Senhor para se aproximarem dEle, e para que assistam nos Seus átrios, e ficam satisfeitos com a bondade da casa do Senhor, o Seu santo templo. Estes eleitos de Deus não se encontram apenas em Israel, mas eles vêm do Oriente e do Ocidente, de todos os confins da terra, porque eles veem os sinais do Senhor, e Ele os faz exultar de júbilo. Deus abençoa o Seu povo tornando-o fértil e frutífero, com as chuvas do Espírito, assim como Ele faz com a própria terra regando-a com chuvas e fertilizando-a copiosamente, de modo, que os rebanhos nos campos, e os vales vestidos de espigas, parecem exultar de alegria e cantar diante de Deus e dos homens. Tal é a vida destes eleitos de Deus que também crescem, vicejam e frutificam pelo Seu próprio poder que lhes concede tal graça.


“A ti, ó Deus, confiança e louvor em Sião! E a ti se pagará o voto.  Ó tu que escutas a oração, a ti virão todos os homens,  por causa de suas iniquidades. Se prevalecem as nossas transgressões, tu no-las perdoas. Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa - o teu santo templo. Com tremendos feitos nos respondes em tua justiça, ó Deus, Salvador nosso, esperança de todos os confins da terra e dos mares longínquos;  que por tua força consolidas os montes, cingido de poder;  que aplacas o rugir dos mares, o ruído das suas ondas e o tumulto das gentes. Os que habitam nos confins da terra temem os teus sinais; os que vêm do Oriente e do Ocidente, tu os fazes exultar de júbilo. Tu visitas a terra e a regas; tu a enriqueces copiosamente; os ribeiros de Deus são abundantes de água; preparas o cereal, porque para isso a dispões,  regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas. Tu a amoleces com chuviscos e lhe abençoas a produção. Coroas o ano da tua bondade; as tuas pegadas destilam fartura,  destilam sobre as pastagens do deserto, e de júbilo se revestem os outeiros. Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de espigas; exultam de alegria e cantam.”



Salmo 66

Neste salmo toda a terra é conclamada a salmodiar a glória do nome do Senhor, e a dar glória ao Seu louvor.
Os grandes feitos de Deus devem ser exaltados e proclamados.
O salmista passa em revista as grandes obras de Deus do passado para que Ele seja salmodiado por elas, tais como a abertura do Mar Vermelho nos dias de Moisés, e a travessia a pé seco dos israelitas no Rio Jordão, nos dias Josué, e Israel se alegrou sobremaneira nEle em ambas ocasiões.
Como é Onisciente e governa eternamente, os rebeldes das nações não deveriam se exaltar, mas temer.
É o Senhor que não permite que nossos pés resvalem, e assim preserva a nossa alma.
Contudo, põe à prova o Seu povo, tal como a prata é provada pelo fogo.
Ele permite que sejam afligidos pelos homens ímpios, e que passem pelo fogo, tal como sucedeu aos três amigos de Daniel, e pela água, mas no final da provação, conduz o Seu povo a um lugar espaçoso onde são aliviados das suas opressões.
À vista de tal poder e bondade do Senhor, o salmista se dispôs a ir ao templo para oferecer holocaustos e pagar os votos que fizera com os seus lábios no dia da angústia.
O salmista queria dar testemunho no templo daquilo que Deus havia feito à sua alma, dos clamores que havia feito, e dos louvores que havia entoado.
E o Senhor ouviu suas orações porque não havia vaidade no seu coração.
Então ele encerra o salmo bendizendo o Senhor por ter ouvido suas orações, e por não lhe ter deixado desprovido da Sua graça.


“Aclamai a Deus, toda a terra. Salmodiai a glória do seu nome, dai glória ao seu louvor.
Dizei a Deus: Que tremendos são os teus feitos!
Pela grandeza do teu poder, a ti se mostram submissos os teus inimigos.
Prostra-se toda a terra perante ti, canta salmos a ti; salmodia o teu nome.
Vinde e vede as obras de Deus: tremendos feitos para com os filhos dos homens!
Converteu o mar em terra seca; atravessaram o rio a pé; ali, nos alegramos nele.
Ele, em seu poder, governa eternamente; os seus olhos vigiam as nações; não se exaltem os rebeldes.
Bendizei, ó povos, o nosso Deus; fazei ouvir a voz do seu louvor;  o que preserva com vida a nossa alma e não permite que nos resvalem os pés.
Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata.
Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas;  fizeste que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso.
Entrarei na tua casa com holocaustos; pagar-te-ei os meus votos,  que proferiram os meus lábios, e que, no dia da angústia, prometeu a minha boca.
Oferecer-te-ei holocaustos de vítimas cevadas, com aroma de carneiros; imolarei novilhos com cabritos.
Vinde, ouvi, todos vós que temeis a Deus, e vos contarei o que tem ele feito por minha alma.
A ele clamei com a boca, com a língua o exaltei.
Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido.
Entretanto, Deus me tem ouvido e me tem atendido a voz da oração.
Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça.”


Salmo 67

O salmista ora para que Deus continue sendo gracioso para com o Seu povo, e que o abençoe fazendo resplandecer sobre ele o Seu rosto, porque queria dar o testemunho da vida abençoada que o Senhor concedia a Israel, a todas as nações da terra, para que estes também exultassem no Senhor e louvassem o Seu nome.
Ele estava bem cônscio que Israel foi eleita pelo Senhor para ser uma bênção para todos os povos, porque seria através de Israel que revelaria a Sua vontade, e que traria o Salvador ao mundo.
Vemos assim, que quando Davi pedia a Deus que não permitisse que prosperasse a causa dos inimigos de Israel, isto nada tinha a ver com sentimento nacionalista e exclusivismo religioso, mas cooperar com Deus na missão da salvação de pessoas em todo o mundo.
O que seria de nós, de toda a terra, se prevalecesse a causa do mal?
O que sucederia se Satanás fosse vitorioso no seu intento de deter a pregação da justiça e da verdade?


“Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto;  para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação.
Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos.
Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com equidade e guias na terra as nações.
Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos.
A terra deu o seu fruto, e Deus, o nosso Deus, nos abençoa.
Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão.”


Salmo 68

Salmo de Davi

Este Salmo possui palavras proféticas de difícil interpretação, entre outras que conhecemos a quem se aplicam, a saber, a nosso Senhor Jesus Cristo, em Seu trabalho de redenção dos pecadores.
Como por exemplo, a profecia: “Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o SENHOR Deus habite no meio deles.”, constante deste salmo, e que é citada em Ef 4.8.
Homens são recebidos por dádivas pelo Pai, porque Jesus pagou o preço exigido para o resgate deles, e lhes concedeu os dons do Espírito, até mesmo àqueles que foram antes rebeldes à vontade de Deus, mas que agora lhe eram obedientes por terem se convertido a Ele.
O salmista vê então, logo no início do salmo, aqueles que não se juntam a Cristo, espalhados, e que não sendo por Ele, são contra Ele, e por isso são dissipados pelo Senhor tal como a fumaça, e como cera que é derretida pelo fogo, porque à presença de Deus perecem todos os ímpios que não foram justificados.
Enquanto isto os justos se regozijam e exultam na presença do Senhor com grande alegria.
Por isso deve ser louvado e salmodiado o nome daquele que cavalga sobre as nuvens, isto é, que é espírito, e deve portanto ser adorado também em espírito.
Ele é Senhor de tudo e todos, mas é o Pai dos órfãos e o juiz das viúvas.
E faz com que o solitário more na Sua família, e livra os que estavam no cativeiro do pecado e dos poderes das trevas para a prosperidade de uma vida fértil numa terra fértil, o que os rebeldes não podem experimentar, porque habitam na terra estéril onde não existe o fruto do Espírito Santo.
O Senhor guiou e cuidou do Seu povo, inclusive de todos os necessitados dele.
Este Deus é tremendo mas carrega dia a dia o fardo do Seu povo, porque é a salvação deles.


“Levanta-se Deus; dispersam-se os seus inimigos; de sua presença fogem os que o aborrecem.
Como se dissipa a fumaça, assim tu os dispersas; como se derrete a cera ante o fogo, assim à presença de Deus perecem os iníquos.
Os justos, porém, se regozijam, exultam na presença de Deus e folgam de alegria.
Cantai a Deus, salmodiai o seu nome; exaltai o que cavalga sobre as nuvens.
SENHOR é o seu nome, exultai diante dele.
Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada.
Deus faz que o solitário more em família; tira os cativos para a prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril.
Ao saíres, ó Deus, à frente do teu povo, ao avançares pelo deserto, tremeu a terra; também os céus gotejaram à presença de Deus; o próprio Sinai se abalou na presença de Deus, do Deus de Israel.
Copiosa chuva derramaste, ó Deus, para a tua herança; quando já ela estava exausta, tu a restabeleceste.
Aí habitou a tua grei; em tua bondade, ó Deus, fizeste provisão para os necessitados.
O Senhor deu a palavra, grande é a falange das mensageiras das boas-novas.
Reis de exércitos fogem e fogem; a dona de casa reparte os despojos.
Por que repousais entre as cercas dos apriscos? As asas da pomba são cobertas de prata, cujas penas maiores têm o brilho flavo do ouro.
Quando o Todo-Poderoso ali dispersa os reis, cai neve sobre o monte Zalmom.
O monte de Deus é Basã, serra de elevações é o monte de Basã.
Por que olhais com inveja, ó montes elevados, o monte que Deus escolheu para sua habitação?
O SENHOR habitará nele para sempre.
Os carros de Deus são vinte mil, sim, milhares de milhares. No meio deles, está o Senhor; o Sinai tornou-se em santuário.
Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o SENHOR Deus habite no meio deles.
Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação.
O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o SENHOR, está o escaparmos da morte.
Sim, Deus parte a cabeça dos seus inimigos e o cabeludo crânio do que anda nos seus próprios delitos.
Disse o Senhor: De Basã os farei voltar, fá-los-ei tornar das profundezas do mar,  para que banhes o pé em sangue, e a língua dos teus cães tenha o seu quinhão dos inimigos.
Viu-se, ó Deus, o teu cortejo, o cortejo do meu Deus, do meu Rei, no santuário.
Os cantores iam adiante, atrás, os tocadores de instrumentos de cordas, em meio às donzelas com adufes. Bendizei a Deus nas congregações, bendizei ao SENHOR, vós que sois da estirpe de Israel.
Ali, está o mais novo, Benjamim, que os precede, os príncipes de Judá, com o seu séquito, os príncipes de Zebulom e os príncipes de Naftali.
Reúne, ó Deus, a tua força, força divina que usaste a nosso favor, oriunda do teu templo em Jerusalém. Os reis te oferecerão presentes.
Reprime a fera dos canaviais, a multidão dos fortes como touros e dos povos com novilhos; calcai aos pés os que cobiçam barras de prata.
Dispersa os povos que se comprazem na guerra.
Príncipes vêm do Egito; a Etiópia corre a estender mãos cheias para Deus.
Reinos da terra, cantai a Deus, salmodiai ao Senhor,  àquele que encima os céus, os céus da antiguidade; eis que ele faz ouvir a sua voz, voz poderosa.
Tributai glória a Deus; a sua majestade está sobre Israel, e a sua fortaleza, nos espaços siderais.
Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários; o Deus de Israel, ele dá força e poder ao povo. Bendito seja Deus!”



Salmo 69

Salmo de Davi

Neste salmo, Davi usa a metáfora das profundezas em que se encontrava, e aqui ele diz que era no lamaçal e na água, mas não do pecado, mas das muitas dificuldades que tinha que enfrentar da parte dos seus inimigos, e que lhe estavam impedindo os passos, tal como um exército que fica submergido pelo lamaçal ou pelas águas e não pode progredir no avanço contra o inimigo.
Eram tantos os inimigos de Davi que sem razão (motivo justificável) o oprimiam que ele clamou por livramento ao Senhor a ponto de ter ficado com a garganta seca.
Ele se encontrava exausto e os seus olhos desfaleciam de tanto esperar pelo socorro de Deus.
Seus inimigos eram poderosos tal como os poderes das trevas que operam contra o avanço da Igreja.
Davi estava sendo acusado de ladrão injustamente e estava sendo obrigado a fazer restituições de coisas que não havia furtado.
Ele era um pecador como qualquer outra pessoa, mas estava inocente naquele negócio em que estava sendo acusado e que seria motivo de vergonha para os santos, caso viessem a dar crédito a tais argumentos mentirosos.
Davi temia ser uma pedra de tropeço para eles, caso o Senhor não julgasse a sua causa, para que vissem que ele era inocente das acusações que lhe haviam dirigido.
Por amor ao Senhor ele havia suportado afrontas e o seu rosto estava coberto de vexame.
Até mesmo seus irmãos o tinham como um estranho, um desconhecido.
Neste ponto do salmo, Davi recebeu uma revelação que expressou em palavras quanto às injúrias que Cristo sofreria por causa do zelo da casa de Deus.
Nisto, toda a experiência que Davi havia sofrido, tinha-lhe tornado um tipo de Cristo, que foi acusado injustamente de faltas que não havia praticado, e teve que pagar com seus sofrimentos e morte, por pecados que nunca havia cometido, ao contrário, foram nossas próprias transgressões e culpas que recaíram sobre Ele, para que pudéssemos ser justificados, pela fé nele.
Davi colocou um pano de saco sobre si e se tornou o objeto de escárnio dos seus inimigos, a ponto de ser motivo para canções  de ébrios.
Todavia, nada disto o abalava porque continuava orando ao Senhor, para que lhe respondesse pela riqueza da Sua graça, e pela Sua fidelidade em socorrer, livrando-lhe daquele tremedal para que não afundasse nele, e fosse salvo dos que o odiavam e das profundezas das águas geladas da opressão, que tentavam apagar o fogo do seu fervor no Espírito.
Nesta altura do salmo foi dado mais uma vez a Davi contemplar a afronta e a vergonha de Cristo na cruz, onde não havia ninguém para Lhe consolar, e quando Lhe deram vinagre em vez de água para saciarem a Sua sede.
Em vez de ajudarem a quem Deus havia ferido e golpeado, por amor de nós, lhe perseguiram e lhe acrescentaram dores, em vez de demonstrarem compaixão.
Assim, a casa deles ficaria deserta, tal como o Senhor Jesus havia confirmado tal profecia dada a Davi, porque se voltaria para os gentios, e Israel seria expulso de sua própria terra.
Estes que assim rejeitaram a Cristo, seriam riscados do Livro da Vida, porque não participariam da Sua salvação.
E quanto aos amargurados e aflitos, aos contritos de coração, o Senhor os socorreria, pondo-lhes em alto refúgio, onde entoariam louvores e ações de graças.
Que todos os aflitos se alegrem nisto, quanto aos que são reavivados porque buscam a Deus, porque é somente nEle que há salvação, e estes que foram salvos habitarão para sempre com Ele em Sião.                

“Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem até à alma.
Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas das águas, e a corrente me submerge.
Estou cansado de clamar, secou-se-me a garganta; os meus olhos desfalecem de tanto esperar por meu Deus.
São mais que os cabelos de minha cabeça os que, sem razão, me odeiam; são poderosos os meus destruidores, os que com falsos motivos são meus inimigos; por isso, tenho de restituir o que não furtei.
Tu, ó Deus, bem conheces a minha estultice, e as minhas culpas não te são ocultas.
Não sejam envergonhados por minha causa os que esperam em ti, ó SENHOR, Deus dos Exércitos; nem por minha causa sofram vexame os que te buscam, ó Deus de Israel.
Pois tenho suportado afrontas por amor de ti, e o rosto se me encobre de vexame.
Tornei-me estranho a meus irmãos e desconhecido aos filhos de minha mãe.
Pois o zelo da tua casa me consumiu, e as injúrias dos que te ultrajam caem sobre mim.
Chorei, em jejum está a minha alma, e isso mesmo se me tornou em afrontas.
Pus um pano de saco por veste e me tornei objeto de escárnio para eles.
Tagarelam sobre mim os que à porta se assentam, e sou motivo para cantigas de beberrões.
Quanto a mim, porém, SENHOR, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração.
Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela tua fidelidade em socorrer,  livra-me do tremedal, para que não me afunde; seja eu salvo dos que me odeiam e das profundezas das águas.
Não me arraste a corrente das águas, nem me trague a voragem, nem se feche sobre mim a boca do poço.
Responde-me, SENHOR, pois compassiva é a tua graça; volta-te para mim segundo a riqueza das tuas misericórdias.
Não escondas o rosto ao teu servo, pois estou atribulado; responde-me depressa.
Aproxima-te de minha alma e redime-a; resgata-me por causa dos meus inimigos.
Tu conheces a minha afronta, a minha vergonha e o meu vexame; todos os meus adversários estão à tua vista.
O opróbrio partiu-me o coração, e desfaleci; esperei por piedade, mas debalde; por consoladores, e não os achei.
Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre.
Sua mesa torne-se-lhes diante deles em laço, e a prosperidade, em armadilha.
Obscureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam; e faze que sempre lhes vacile o dorso.
Derrama sobre eles a tua indignação, e que o ardor da tua ira os alcance.
Fique deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas.
Pois perseguem a quem tu feriste e acrescentam dores àquele a quem golpeaste.
Soma-lhes iniquidade à iniquidade, e não gozem da tua absolvição.
Sejam riscados do Livro dos Vivos e não tenham registro com os justos.
Quanto a mim, porém, amargurado e aflito, ponha-me o teu socorro, ó Deus, em alto refúgio.
Louvarei com cânticos o nome de Deus, exalta-lo-ei com ações de graças.
Será isso muito mais agradável ao SENHOR do que um boi ou um novilho com chifres e unhas.
 Vejam isso os aflitos e se alegrem; quanto a vós outros que buscais a Deus, que o vosso coração reviva.
Porque o SENHOR responde aos necessitados e não despreza os seus prisioneiros.
Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo quanto neles se move.
Porque Deus salvará Sião e edificará as cidades de Judá, e ali habitarão e hão de possuí-la.
Também a descendência dos seus servos a herdará, e os que lhe amam o nome nela habitarão.”


Salmo 70

Salmo de Davi

Muitos hão de se indagar a si mesmos como pôde um  Deus justo permitir que a alma que se inteirou tanto da causa da justiça como Davi, e do qual Deus mesmo declarou ser um homem segundo o Seu próprio coração, passasse por tantos sofrimentos?
A resposta imediata para tal pergunta é que Ele faz o mesmo com todos aqueles aos quais muito ama, e que os distingue em seu grande amor também por Ele, com tais sofrimentos com os quais, lhes identifica com o Seu Filho unigênito, que foi também submetido a terríveis sofrimentos por amor de nós.
O que diremos de Paulo?
Acaso foi pouco amado por Deus por causa de tudo o que sofreu? E de Jeremias? E de tantos outros, tanto dos dias bíblicos, quanto do período da história da Igreja?
Então ter muitos sofrimentos quando nos consagramos inteiramente ao Senhor não significa que Ele nos ame menos do que a outros que são poupados, e que têm menos sofrimentos.
Ao contrário é prova de Sua confiança nestes que sofrem, os quais podem ser provados tal como fizera com Jó, para que seja glorificado pela firmeza de fé dEles e da sua permanência na fidelidade, paciência e no amor a Ele, mesmo em face do risco de perderem a própria vida.
“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.” (Apo 12.11).
Então não é de se admirar que em toda a sua fidelidade a Deus, vejamos Davi mais uma vez lhe clamando por socorro.
E para que envergonhasse aqueles que lhe demandavam a vida e que se compraziam no seu mal.
Mas que se rejubilassem no Senhor todos os que O buscavam e que amavam a Sua salvação.
Que estes tivessem sempre palavras pelas quais magnificassem o nome de Deus.
Davi, apesar de rei, declara-se pobre de espírito e necessitado do auxílio de Deus, e reconhecendo a sua pequenez perante Ele, e clamou para que se apressasse em lhe valer naquela hora difícil, e que fosse o seu amparo e libertador.  


“Praza-te, ó Deus, em livrar-me; dá-te pressa, ó SENHOR, em socorrer-me.
Sejam envergonhados e cobertos de vexame os que me demandam a vida; tornem atrás e cubram-se de ignomínia os que se comprazem no meu mal.
Retrocedam por causa da sua ignomínia os que dizem: Bem-feito! Bem-feito!
Folguem e em ti se rejubilem todos os que te buscam; e os que amam a tua salvação digam sempre: Deus seja magnificado!
Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador.
SENHOR, não te detenhas!”


Salmo 71

Este salmo foi escrito por Davi na sua velhice, e muitos pensam que o fizera na ocasião em que Absalão se rebelara contra ele.
Davi já se encontrava velho mas continuava aprendendo de Deus e não cessava de lhe clamar pedindo proteção contra os seus muitos inimigos.
Alguns podem pensar que Davi era paranoico, mas na verdade, todo servo fiel de Deus terá o mesmo sentimento e necessidade iguais aos de Davi, porque o Inimigo acompanha bem de perto, sem dar tréguas a todo aquele que for fiel e estiver empenhado numa verdadeira obra do Senhor, tal como estivera Davi em seus dias.
Todavia, temos que ressaltar que as imprecações e os pedidos de retribuição constantes deste, e de outros salmos, e passagens do Velho Testamento, não devem ser feitos na dispensação da graça, na qual nos encontramos.
É lícito que peçamos a Deus que nos livre do mal, conforme nosso Senhor nos ensinou na Oração Dominical, mas não somos autorizados a usar da espada, conforme lutava Israel nos dias do Velho Testamento, nem mesmo a espada da língua, quer ferindo diretamente as pessoas, ou então pedindo a Deus que as fira, por causa de injustiças e perseguições que nos façam.
Sequer devemos pedir que o Senhor nos vingue dos que se colocam como nossos inimigos, por causa do nosso amor a Ele.
Antes devemos orar pelo bem deles, abençoá-los, e amá-los, sem lhes fechar a porta da possibilidade de serem salvos por Cristo.
Quando isto sucede, o amor tem triunfado e Deus é glorificado, na sua grande luta espiritual, para arrancar pessoas das trevas para a luz, do domínio do mal para o do bem.
E quanto as que resistem a isto, e permanecem na prática da iniquidade, somente a Ele cabe todo o julgamento, quanto ao que se lhes será feito.


“Em ti, SENHOR, me refugio; não seja eu jamais envergonhado.
Livra-me por tua justiça e resgata-me; inclina-me os ouvidos e salva-me.
Sê tu para mim uma rocha habitável em que sempre me acolha; ordenaste que eu me salve, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza.
Livra-me, Deus meu, das mãos do ímpio, das garras do homem injusto e cruel.
Pois tu és a minha esperança, SENHOR Deus, a minha confiança desde a minha mocidade.
Em ti me tenho apoiado desde o meu nascimento; do ventre materno tu me tiraste, tu és motivo para os meus louvores constantemente.
Para muitos sou como um portento, mas tu és o meu forte refúgio.
Os meus lábios estão cheios do teu louvor e da tua glória continuamente.
Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares.
Pois falam contra mim os meus inimigos; e os que me espreitam a alma consultam reunidos,  dizendo: Deus o desamparou; persegui-o e prendei-o, pois não há quem o livre.
Não te ausentes de mim, ó Deus; Deus meu, apressa-te em socorrer-me.
Sejam envergonhados e consumidos os que são adversários de minha alma; cubram-se de opróbrio e de vexame os que procuram o mal contra mim.
Quanto a mim, esperarei sempre e te louvarei mais e mais.
A minha boca relatará a tua justiça e de contínuo os feitos da tua salvação, ainda que eu não saiba o seu número.
Sinto-me na força do SENHOR Deus; e rememoro a tua justiça, a tua somente.
Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas.
Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às vindouras o teu poder.
Ora, a tua justiça, ó Deus, se eleva até aos céus.
Grandes coisas tens feito, ó Deus; quem é semelhante a ti?
Tu, que me tens feito ver muitas angústias e males, me restaurarás ainda a vida e de novo me tirarás dos abismos da terra.
Aumenta a minha grandeza, conforta-me novamente.
Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade, ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel.
Os meus lábios exultarão quando eu te salmodiar; também exultará a minha alma, que remiste.
Igualmente a minha língua celebrará a tua justiça todo o dia; pois estão envergonhados e confundidos os que procuram o mal contra mim.”


Salmo 72

Salmo de Salomão

Neste salmo de autoria de Salomão, é proclamada a justiça do reino do Messias, do qual o seu reino pacífico era uma figura. O próprio nome Salomão, que foi um nome dado por Deus ao filho de Davi, significa pacífico; indicando isto que o reino do Messias, que é da casa de Davi será um reino de paz e justiça, tal como foi o reino de Salomão, até antes dele ter se desviado dos caminhos do Senhor.



“Concede ao rei, ó Deus, os teus juízos e a tua justiça, ao filho do rei.  Julgue ele com justiça o teu povo e os teus aflitos, com equidade.  Os montes trarão paz ao povo, também as colinas a trarão, com justiça. Julgue ele os aflitos do povo, salve os filhos dos necessitados e esmague ao opressor. Ele permanecerá enquanto existir o sol e enquanto durar a lua, através das gerações.  Seja ele como chuva que desce sobre a campina ceifada, como aguaceiros que regam a terra. Floresça em seus dias o justo, e haja abundância de paz até que cesse de haver lua.  Domine ele de mar a mar e desde o rio até aos confins da terra.  Curvem-se diante dele os habitantes do deserto, e os seus inimigos lambam o pó.  Paguem-lhe tributos os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes. E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam. Porque ele acode ao necessitado que clama e também ao aflito e ao desvalido.  Ele tem piedade do fraco e do necessitado e salva a alma aos indigentes.  Redime a sua alma da opressão e da violência, e precioso lhe é o sangue deles.  Viverá, e se lhe dará do ouro de Sabá; e continuamente se fará por ele oração, e o bendirão todos os dias. Haja na terra abundância de cereais, que ondulem até aos cimos dos montes; seja a sua messe como o Líbano, e das cidades floresçam os habitantes como a erva da terra. Subsista para sempre o seu nome e prospere enquanto resplandecer o sol; nele sejam abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado.  Bendito seja o SENHOR Deus, o Deus de Israel, que só ele opera prodígios. Bendito para sempre o seu glorioso nome, e da sua glória se encha toda a terra. Amém e amém!  Findam as orações de Davi, filho de Jessé.”



Salmo 73

Salmo de Asafe

Este salmo revela de modo muito claro que apesar de Deus continuar sendo bom para com aqueles cujos corações foram purificados pela fé nele, todavia, é possível que haja no meio deles alguém que, como o salmista, possa ser achado eventualmente não tão firmado na convicção desta bondade divina, de forma que pode se sentir invejoso da prosperidade que têm muitos daqueles que não amam a Deus, e que não são afligidos tanto quanto são os justos.
Este é um fato inegável, que tal prosperidade dos ímpios, produz inveja e incomoda a muitos que não estão firmados na fé, e no Seu amor pelo Senhor, por não terem aprendido a se gloriarem como Paulo em todas as circunstâncias, até mesmo a sentir prazer nas injúrias, nas necessidades e nas perseguições, por amor de Cristo.
No entanto, não há nenhum motivo para se invejar os arrogantes e perversos, quanto à prosperidade mundana que eles possuem, e não pe necessário atinar com o fim que eles terão no dia do Juízo, tal como ocorreu ao salmista posteriormente, para que se possa ser livrado do sentimento invejoso em relação a eles, porque, apesar de não serem afligidos como os demais homens, e terem abundantes riquezas, fama e poder, no entanto são exatamente estas coisas nas quais colocam a sua confiança, que se tornam num laço de perdição eterna para eles, porque as idolatram, e estão tão apegados a elas, que se recusam a deixar qualquer espaço em seus corações para se devotarem a Deus.
Deste modo, as coisas que possuem não lhes dão qualquer vantagem diante dos demais homens, antes, os coloca em grande desvantagem, porque não podem atinar com a condição de perigo espiritual tanto presente, quanto eterno, na qual se encontram.
Eles são mais tentados que os demais a se tornarem presas da soberba, em razão da sua grande prosperidade mundana.
E da soberba tendem a serem arrogantes e violentos, por causa do falso sentimento de superioridade que sentem em relação às demais pessoas.
Não será nenhuma maravilha ou surpresa ver a falta de quase total temor a Deus que têm tais pessoas, e isto pode ser visto pela sua conversação maliciosa, e do seu falar altivo e opressivo.
Eles falam mal das coisas espirituais, celestiais e divinas, porque julgam que isto é coisa para pobre e para pessoas sem personalidade ou imaginação.
Como Deus não apressa o juízo sobre eles, por ser longânimo,  chegam à conclusão que Deus não chega a tomar conhecimento de seus projeto iníquos, mas serão apanhados repentinamente pelo Seu juízo, quanto menos esperarem.
Como aumentam suas riquezas sem experimentar as tribulações dos justos, são uma grande fonte de tentação para estes, tal como foram para o salmista, que pensava que de nada lhe valeu conservar puro o coração e permanecer na prática do bem.
Deus corrige diariamente a Seus filhos visitando-os com aflições, mas os ímpios não são participantes destas correções porque não O amam e não conhecem o seu caráter justo e santo.
Até ter uma melhor revelação sobre o destino eterno dos ímpios, que é totalmente diferente do destino dos santos, o salmista achava uma tarefa muito pesada o só refletir sobre as razões de Deus afligir os justos, e permitir que os ímpios tenham uma prosperidade tranquila neste mundo.
Então o salmista reconhece finalmente que foi por causa da sua ignorância e embrutecimento, que havia ficado com o coração amargurado e com as entranhas abaladas.
Com isto, estava agindo de maneira irracional diante de Deus, apesar de estar sempre em comunhão com Ele, se sentindo sustentado pela sua destra.
Deus instrui Seus filhos até conduzi-los à glória do porvir, mas os ímpios não têm qualquer participação nisto.
Deus crucifica o ego dos Seus filhos com as aflições, especialmente para que possam ter uma maior participação da Sua santidade, e por conseguinte uma maior comunicação e comunhão com Ele, conforme é do Seu desejo.
Afinal é Ele próprio todo o motivo de alegria de Seus filhos na terra, e a porção deles no céu.
O salmista havia aprendido finalmente esta grande lição de que não importa que o nosso coração e a nossa carne desfaleçam por causa das aflições, porque Deus é a fortaleza do nosso coração e herança eterna.
Quando somos fracos, então Ele tem a oportunidade de nos mover segundo a Sua própria força e poder.
As tribulações sofridas com paciência têm esta faculdade de nos aproximarem mais e mais de Deus, e nos tornar semelhantes a Ele quanto à paciência, longanimidade e misericórdia.


“Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo.
Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos.
Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.
Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio.
Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens.
Daí, a soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto.
Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias.
Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez.
Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra.
Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos.
E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?
Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranquilos, aumentam suas riquezas.
Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência.
Pois de contínuo sou afligido e cada manhã, castigado.
Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de teus filhos.
Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim;  até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles.
Tu certamente os pões em lugares escorregadios e os fazes cair na destruição.
Como ficam de súbito assolados, totalmente aniquilados de terror!
Como ao sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, ao despertares, desprezarás a imagem deles.
Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença.
Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita.
Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória.
Quem mais tenho eu no céu?
Não há outro em quem eu me compraza na terra.
Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.
Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo.


Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos.”



Salmo 74

Salmo de Asafe

Este salmo de Asafe bem poderia ser unido ao livro das Lamentações de Jeremias, porque trata não somente do  mesmo assunto das assolações feitas contra os judeus bem como contra o templo do Senhor.
Assim, este lamento pode ser aplicado à destruição de Jerusalém nos dias de Nabucodonosor, como a qualquer outra assolação sofrida pelos judeus e o seu culto ao Senhor, em qualquer época da história de Israel. O salmista pergunta por que Deus estava rejeitando o Seu povo, no entanto, ele sabia qual era o motivo de tal rejeição, ainda que não de todos os judeus, mas da grande maioria que lhe era infiel. É o sentimento nacionalista que fala neste salmo. Todavia, Deus não age com base nos nossos sentimentos nacionalistas, ou nos de qualquer outra natureza, senão somente baseado na justiça e na verdade. Israel lhe havia virado as costas por séculos, e na Sua bondade sempre chamou o povo ao arrependimento, e lhes advertiu de que suas cidades seriam assoladas e seriam levados em cativeiro caso não se arrependessem, e foi de fato o que Ele fez, e que agora levava Asafe a lamentar pela condição de ruína a que fora deixada a nação de Israel. Asafe argumentou com o Senhor para que se lembrasse da aliança que havia feito com o Seu povo, no entanto, não foi Ele quem fora infiel à aliança, mas Israel. Eles haviam anulado a aliança que havia sido feita através de Moisés, e então já estava em andamento, para ser inaugurada, uma Nova Aliança, conforme havia sido prometida desde Abraão e aos profetas. Deus tornaria a restaurar os judeus que se arrependessem e tornaria a fazer-lhes bem em sua própria terra, tal como tem feito tantas vezes na história daquela nação, todavia, eles experimentariam antes, todo o Seu desagrado para com as suas apostasias.      

“Por que nos rejeitas, ó Deus, para sempre? Por que se acende a tua ira contra as ovelhas do teu pasto?  Lembra-te da tua congregação, que adquiriste desde a antiguidade, que remiste para ser a tribo da tua herança; lembra-te do monte Sião, no qual tens habitado.  Dirige os teus passos para as perpétuas ruínas, tudo quanto de mal tem feito o inimigo no santuário. Os teus adversários bramam no lugar das assembleias e alteiam os seus próprios símbolos. Parecem-se com os que brandem machado no espesso da floresta,  e agora a todos esses lavores de entalhe quebram também, com machados e martelos.  Deitam fogo ao teu santuário; profanam, arrasando-a até ao chão, a morada do teu nome. Disseram no seu coração: Acabemos com eles de uma vez. Queimaram todos os lugares santos de Deus na terra. Já não vemos os nossos símbolos; já não há profeta; nem, entre nós, quem saiba até quando. Até quando, ó Deus, o adversário nos afrontará? Acaso, blasfemará o inimigo incessantemente o teu nome? Por que retrais a mão, sim, a tua destra, e a conservas no teu seio? Ora, Deus, meu Rei, é desde a antiguidade; ele é quem opera feitos salvadores no meio da terra. Tu, com o teu poder, dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a cabeça dos monstros marinhos. Tu espedaçaste as cabeças do crocodilo e o deste por alimento às alimárias do deserto. Tu abriste fontes e ribeiros; secaste rios caudalosos. Teu é o dia; tua, também, a noite; a luz e o sol, tu os formaste.  Fixaste os confins da terra; verão e inverno, tu os fizeste. Lembra-te disto: o inimigo tem ultrajado ao SENHOR, e um povo insensato tem blasfemado o teu nome. Não entregues à rapina a vida de tua rola, nem te esqueças perpetuamente da vida dos teus aflitos.  Considera a tua aliança, pois os lugares tenebrosos da terra estão cheios de moradas de violência. Não fique envergonhado o oprimido; louvem o teu nome o aflito e o necessitado.  Levanta-te, ó Deus, pleiteia a tua própria causa; lembra-te de como o ímpio te afronta todos os dias.  Não te esqueças da gritaria dos teus inimigos, do sempre crescente tumulto dos teus adversários.”



Salmo 75

Salmo de Asafe

Este salmo pode ter sido composto provavelmente no tempo em que Davi assumiu o trono de Israel, quando todos os seus inimigos, especialmente os da casa de Saul, haviam sido subjugados pelo Senhor. Então, pela pena de Asafe, Davi rendeu graças ao Senhor e invocou o Seu nome e declarou as Suas maravilhas, pois havia cumprido tudo o que lhe havia prometido fazer no tempo determinado, julgando retamente a sua causa, especialmente a que tinha em relação a Saul, que o perseguiu injustamente, e lhe injuriou e caluniou chamando-o de traidor. Deus é tão reto Juiz que ainda que a terra vacile e todos os seus moradores, no entanto, ainda assim, o Senhor é poderoso para firmar as suas colunas, tal como estava firmando Israel debaixo do trono de justiça de Davi, depois de tantos anos de conturbação sob Saul. Sendo um Deus poderoso que julga assim com justiça, todo soberbo deveria meditar para não ser arrogante, e os ímpios a não confiarem na sua própria força. Pelo mesmo motivo, ninguém deve andar altivamente, falando com insolência contra o Senhor, porque Ele é uma Rocha que não pode ser derrubada. Não é de nenhuma parte da terra que nos vem o auxílio quando debaixo de grande aflição, porque vem da mão do próprio Senhor o abater e o exaltar a quem quer, porque é o Juiz de toda a terra. É da sua mão que é dado de beber o cálice do vinho da amargura a todos os ímpios do mundo. Por isso Davi reinaria em justiça tal como o Seu Deus, abatendo a força dos ímpios, mas exaltando a força dos justos.      

“Graças te rendemos, ó Deus; graças te rendemos, e invocamos o teu nome, e declaramos as tuas maravilhas.  Pois disseste: Hei de aproveitar o tempo determinado; hei de julgar retamente.  Vacilem a terra e todos os seus moradores, ainda assim eu firmarei as suas colunas. Digo aos soberbos: não sejais arrogantes; e aos ímpios: não levanteis a vossa força. Não levanteis altivamente a vossa força, nem faleis com insolência contra a Rocha. Porque não é do Oriente, não é do Ocidente, nem do deserto que vem o auxílio.  Deus é o juiz; a um abate, a outro exalta.  Porque na mão do SENHOR há um cálice cujo vinho espuma, cheio de mistura; dele dá a beber; sorvem-no, até às escórias, todos os ímpios da terra.  Quanto a mim, exultarei para sempre; salmodiarei louvores ao Deus de Jacó.  Abaterei as forças dos ímpios; mas a força dos justos será exaltada.”


Salmo 76

Salmo de Asafe

Este salmo foi composto por ocasião de grande vitória dada por Deus a algum rei de Judá, contra uma investida de uma nação inimiga que viera contra eles com carros e cavalos. Mas Deus lhes tirou o ânimo forte e lhes fez vir um sono profundo que nenhum dos valentes inimigos pôde usar suas próprias mãos na batalha. Deus fizera um milagre notório aos olhos de Judá, e por isso se vestiu das cinzas da ira de Seus inimigos, porque o ódio deles contra o Seu povo foi a causa da própria ruína deles, e as cinzas do que lhes restara da guerra eram a prova do grande poder do Senhor para livrar, e não somente isto, exaltavam o Seu nome.

“Conhecido é Deus em Judá; grande, o seu nome em Israel.  Em Salém, está o seu tabernáculo, e, em Sião, a sua morada.  Ali, despedaçou ele os relâmpagos do arco, o escudo, a espada e a batalha. Tu és ilustre e mais glorioso do que os montes eternos.  Despojados foram os de ânimo forte; jazem a dormir o seu sono, e nenhum dos valentes pode valer-se das próprias mãos. Ante a tua repreensão, ó Deus de Jacó, paralisaram carros e cavalos. Tu, sim, tu és terrível; se te iras, quem pode subsistir à tua vista? Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; tremeu a terra e se aquietou,  ao levantar-se Deus para julgar e salvar todos os humildes da terra. Pois até a ira humana há de louvar-te; e do resíduo das iras te cinges. Fazei votos e pagai-os ao SENHOR, vosso Deus; tragam presentes todos os que o rodeiam, àquele que deve ser temido.  Ele quebranta o orgulho dos príncipes; é tremendo aos reis da terra.”



Salmo 77

Salmo de Asafe

Neste salmo é descrito o estado no qual é muito comum em se achar a alma abatida: ela recusa ser consolada e busca se alimentar ainda mais das amarguras que lhe têm abatido.
Todos passam de algum modo por esta experiência, uns mais e outros menos.
Caso a pessoa não traga à memória que há no Senhor boa vontade para perdoar, restaurar, animar e levantar, certamente não poderá sair de tal estado.
Por isso o salmista passou em revista os poderosos feitos do Senhor e da Sua grande misericórdia manifestada para com Israel no passado, especialmente nos dias de Moisés e Arão, e achou nisto ajuda, para que seu ânimo no Senhor fosse renovado; e pôde entender que Deus nunca procurará nos desanimar, e por isso nos tem dado um Espírito que é chamado de Consolador e não de Desanimador.
Se não fosse Seu propósito que sejamos sempre achados de bom ânimo em Sua presença, Jesus não nos teria advertido para termos bom ânimo nas aflições.

“Elevo a Deus a minha voz e clamo, elevo a Deus a minha voz, para que me atenda.
No dia da minha angústia, procuro o Senhor; erguem-se as minhas mãos durante a noite e não se cansam; a minha alma recusa consolar-se.
Lembro-me de Deus e passo a gemer; medito, e me desfalece o espírito.
Não me deixas pregar os olhos; tão perturbado estou, que nem posso falar.  Penso nos dias de outrora, trago à lembrança os anos de passados tempos.
De noite indago o meu íntimo, e o meu espírito perscruta.
Rejeita o Senhor para sempre?
Acaso, não torna a ser propício?
Cessou perpetuamente a sua graça?
Caducou a sua promessa para todas as gerações?
Esqueceu-se Deus de ser benigno?
Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias?
Então, disse eu: isto é a minha aflição; mudou-se a destra do Altíssimo.
Recordo os feitos do SENHOR, pois me lembro das tuas maravilhas da antiguidade.
Considero também nas tuas obras todas e cogito dos teus prodígios.
O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus?
Tu és o Deus que operas maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o teu poder.
Com o teu braço remiste o teu povo, os filhos de Jacó e de José.
Viram-te as águas, ó Deus; as águas te viram e temeram, até os abismos se abalaram.
Grossas nuvens se desfizeram em água; houve trovões nos espaços; também as suas setas cruzaram de uma parte para outra.
O ribombar do teu trovão ecoou na redondeza; os relâmpagos alumiaram o mundo; a terra se abalou e tremeu.
Pelo mar foi o teu caminho; as tuas veredas, pelas grandes águas; e não se descobrem os teus vestígios.


O teu povo, tu o conduziste, como rebanho, pelas mãos de Moisés e de Arão.”


Salmo 78

Salmo de Asafe

Este salmo é profético e histórico.
É uma narrativa das grandes misericórdias de Deus em relação a Israel, apesar do quanto eles Lhe tinham provocado com os seus pecados, e de o Senhor ter trazido sobre eles várias demonstrações do Seu desgosto por causa dos pecados deles.
Asafe começa o salmo no estilo dos profetas, convocando o povo de Israel a ouvir a Lei do Senhor e a prestar atenção às palavras da Sua boca.
E, como era Deus que falava por ele, deu-lhe que profetizasse acerca do modo pelo qual falaria a Seu povo em dias futuros, por intermédio de Jesus, uma vez que eles sempre eram achados por Ele endurecidos em seus pecados.
Ele lhes falaria por parábolas e falaria das coisas ocultas em mistério deste antes da fundação do mundo, para que ouvissem mas não entendessem, já que haviam se tornado endurecidos para ouvir a Sua voz.
Para que se prevenisse de tal endurecimento contra o Senhor, Israel foi alertado desde os dias de Moisés, que se contasse sucessivamente às gerações de Israel todos os sinais e maravilhas que o Senhor havia feito, e como havia escolhido a Jacó para formar através dele um povo que fosse exclusivamente Seu, para amá-lO e servi-lO.
Então, não deveriam se esquecer dos grandes feitos de Deus, para que não viessem a lhe virar as costas e a ficarem insensíveis e endurecidos, a ponto de não poderem ouvir a Sua voz.
Por isso deveriam colocar, através de todas as gerações de Israel, a sua confiança inteiramente no Senhor, e não esquecerem dos Seus feitos, como também dos Seus mandamentos, para não seguirem o mesmo exemplo de seus pais, aquela geração que havia saído do Egito com Moisés, que era uma geração obstinada, rebelde, de coração inconstante, e que portanto, cujo espírito não foi fiel ao Senhor.
Efraim, filho de José, que apesar de não ser o primogênito, havia sido escolhido pelo Senhor para ser grande em Israel, mas não andou fielmente com o Senhor, e não se portou bem perante Ele, especialmente nos dias dos Juízes, e depois, quando o reino foi dividido em Reino do Sul e do Norte.
Por isso foi levado para o cativeiro pelos assírios juntamente com as demais nove tribos do Reino do Norte.
Todavia, o Senhor havia feito prodígios na presença dos seus antepassados na terra do Egito, e apesar de toda a bondade que lhes manifestara, quando os conduzia no deserto, se rebelaram contra Ele.
Antes de serem levados em cativeiro, o Senhor lhes perdoou os pecados por séculos, quando se voltavam para Ele e O buscavam arrependidos.
Todavia, era um arrependimento superficial, somente de boca, porque o coração não estava firme no Senhor, e assim mentiam para si mesmos e para Deus, quando pensavam que estavam votando para Ele, quando na verdade estavam apenas procurando escapar dos Seus juízos, especialmente das nações inimigas que lhes oprimiam.
Mesmo quando o Senhor lhes deu herança em Canaã, expulsando as nações ímpias de diante deles, nem assim guardaram os Seus testemunhos, e não somente tentaram ao Senhor como resistiram à Sua vontade.
Foi por isso que Deus havia abandonado o tabernáculo em Siló, e permitiu que a arca da aliança fosse capturada pelos filisteus, e permitiu que fossem mortos na guerra que haviam feito contra os filisteus.
E como nunca se firmaram na presença do Senhor, Efraim foi rejeitado, e o Senhor escolheu a tribo de Judá, para cumprir o Seu propósito de apascentar a Israel através de Davi, escolhendo a Jerusalém, para ser o local do Seu templo.      


“Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca.
Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos.
O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez.
Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos,  a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes;  para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos; e que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus.
Os filhos de Efraim, embora armados de arco, bateram em retirada no dia do combate. Não guardaram a aliança de Deus, não quiseram andar na sua lei; esqueceram-se das suas obras e das maravilhas que lhes mostrara.
Prodígios fez na presença de seus pais na terra do Egito, no campo de Zoã.
Dividiu o mar e fê-los seguir; aprumou as águas como num dique. Guiou-os de dia com uma nuvem e durante a noite com um clarão de fogo.
No deserto, fendeu rochas e lhes deu a beber abundantemente como de abismos.
Da pedra fez brotar torrentes, fez manar água como rios.
Mas, ainda assim, prosseguiram em pecar contra ele e se rebelaram, no deserto, contra o Altíssimo.
Tentaram a Deus no seu coração, pedindo alimento que lhes fosse do gosto.
Falaram contra Deus, dizendo: Pode, acaso, Deus preparar-nos mesa no deserto?
Com efeito, feriu ele a rocha, e dela manaram águas, transbordaram caudais.
Pode ele dar-nos pão também?
Ou fornecer carne para o seu povo?
Ouvindo isto, o SENHOR ficou indignado; acendeu-se fogo contra Jacó, e também se levantou o seu furor contra Israel;  porque não creram em Deus, nem confiaram na sua salvação.
Nada obstante, ordenou às alturas e abriu as portas dos céus; fez chover maná sobre eles, para alimentá-los, e lhes deu cereal do céu.
Comeu cada qual o pão dos anjos; enviou-lhes ele comida a fartar.
Fez soprar no céu o vento do Oriente e pelo seu poder conduziu o vento do Sul.
Também fez chover sobre eles carne como poeira e voláteis como areia dos mares.
Fê-los cair no meio do arraial deles, ao redor de suas tendas. Então, comeram e se fartaram a valer; pois lhes fez o que desejavam.
Porém não reprimiram o apetite. Tinham ainda na boca o alimento,  quando se elevou contra eles a ira de Deus, e entre os seus mais robustos semeou a morte, e prostrou os jovens de Israel.
Sem embargo disso, continuaram a pecar e não creram nas suas maravilhas.
Por isso, ele fez que os seus dias se dissipassem num sopro e os seus anos, em súbito terror. Quando os fazia morrer, então, o buscavam; arrependidos, procuravam a Deus.
Lembravam-se de que Deus era a sua rocha e o Deus Altíssimo, o seu redentor.
Lisonjeavam-no, porém de boca, e com a língua lhe mentiam. Porque o coração deles não era firme para com ele, nem foram fiéis à sua aliança.
Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação. Lembra-se de que eles são carne, vento que passa e já não volta.
Quantas vezes se rebelaram contra ele no deserto e na solidão o provocaram!
Tornaram a tentar a Deus, agravaram o Santo de Israel.
Não se lembraram do poder dele, nem do dia em que os resgatou do adversário;  de como no Egito operou ele os seus sinais e os seus prodígios, no campo de Zoã;  e converteu em sangue os rios deles, para que das suas correntes não bebessem.
Enviou contra eles enxames de moscas que os devorassem e rãs que os destruíssem.
Entregou às larvas as suas colheitas e aos gafanhotos, o fruto do seu trabalho.
Com chuvas de pedra lhes destruiu as vinhas e os seus sicômoros, com geada.
Entregou à saraiva o gado deles e aos raios, os seus rebanhos.
Lançou contra eles o furor da sua ira: cólera, indignação e calamidade, legião de anjos portadores de males.
Deu livre curso à sua ira; não poupou da morte a alma deles, mas entregou-lhes a vida à pestilência.  Feriu todos os primogênitos no Egito, as primícias da virilidade nas tendas de Cam.
Fez sair o seu povo como ovelhas e o guiou pelo deserto, como um rebanho.  Dirigiu-o com segurança, e não temeram, ao passo que o mar submergiu os seus inimigos.
Levou-os até à sua terra santa, até ao monte que a sua destra adquiriu.
Da presença deles expulsou as nações, cuja região repartiu com eles por herança; e nas suas tendas fez habitar as tribos de Israel.
Ainda assim, tentaram o Deus Altíssimo, e a ele resistiram, e não lhe guardaram os testemunhos.
Tornaram atrás e se portaram aleivosamente como seus pais; desviaram-se como um arco enganoso.
Pois o provocaram com os seus altos e o incitaram a zelos com as suas imagens de escultura.
Deus ouviu isso, e se indignou, e sobremodo se aborreceu de Israel.
Por isso, abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda de sua morada entre os homens,  e passou a arca da sua força ao cativeiro, e a sua glória, à mão do adversário.
Entregou o seu povo à espada e se encolerizou contra a sua própria herança.
O fogo devorou os jovens deles, e as suas donzelas não tiveram canto nupcial.
Os seus sacerdotes caíram à espada, e as suas viúvas não fizeram lamentações.
Então, o Senhor despertou como de um sono, como um valente que grita excitado pelo vinho; fez recuar a golpes os seus adversários e lhes cominou perpétuo desprezo.
Além disso, rejeitou a tenda de José e não elegeu a tribo de Efraim.
Escolheu, antes, a tribo de Judá, o monte Sião, que ele amava.
E construiu o seu santuário durável como os céus e firme como a terra que fundou para sempre.
Também escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas;  tirou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó, seu povo, e de Israel, sua herança.


E ele os apascentou consoante a integridade do seu coração e os dirigiu com mãos precavidas.”


Salmo 79

Salmo de Asafe

Este salmo é semelhante ao salmo 74, também de autoria de Asafe, e descreve as assolações feitas contra os judeus bem como contra o templo do Senhor, nos dias de Nabucodonosor, de Babilônia. Neste, a destruição de Jerusalém é citada diretamente, tendo a cidade sido feita um montão de ruínas, e muitos de seus habitantes foram mortos na ocasião, a ponto de se dizer que seus corpos serviram de pasto para as aves de rapina e às feras da terra, e tantos eram eles, que não foi possível dar-lhes um sepultamento digno. Os judeus se tornaram motivo de zombaria para as nações vizinhas. O salmista clama para que Deus vingasse as assolações de Judá dando o devido pago às nações ímpias que a haviam destruído. E clamou pela misericórdia do Senhor para que não visitasse neles as iniquidades dos seus ancestrais, que em seus pecados, haviam dado ocasião àquelas assolações que lhes vieram da parte do Senhor. Ele clamou por misericórdia porque estavam sobremodo abatidos. Além de clamar por misericórdia, também orou pedindo que os pecados do povo de Judá fossem perdoados, e que o Senhor os livrasse por amor do Seu nome. Que Ele fizesse este bem ao Seu povo para que as nações não escarnecessem do próprio Deus, dizendo que nada fizera por eles. As nações ímpias estavam se gloriando contra o próprio Deus, e por isso o salmista pediu-lhe que lhes retribuísse sete vezes tanto, o opróbrio com o qual Lhe estavam vituperando; enquanto eles, ovelhas do Seu rebanho continuariam Lhe dando graças de geração em geração proclamando os Seus louvores.        


“Ó Deus, as nações invadiram a tua herança, profanaram o teu santo templo, reduziram Jerusalém a um montão de ruínas.  Deram os cadáveres dos teus servos por pasto às aves dos céus e a carne dos teus santos, às feras da terra.  Derramaram como água o sangue deles ao redor de Jerusalém, e não houve quem lhes desse sepultura.  Tornamo-nos o opróbrio dos nossos vizinhos, o escárnio e a zombaria dos que nos rodeiam.  Até quando, SENHOR? Será para sempre a tua ira? Arderá como fogo o teu zelo?  Derrama o teu furor sobre as nações que te não conhecem e sobre os reinos que não invocam o teu nome. Porque eles devoraram a Jacó e lhe assolaram as moradas.  Não recordes contra nós as iniquidades de nossos pais; apressem-se ao nosso encontro as tuas misericórdias, pois estamos sobremodo abatidos.  Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu nome; livra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome.  Por que diriam as nações: Onde está o seu Deus? Seja, à nossa vista, manifesta entre as nações a vingança do sangue que dos teus servos é derramado.  Chegue à tua presença o gemido do cativo; consoante a grandeza do teu poder, preserva os sentenciados à morte.  Retribui, Senhor, aos nossos vizinhos, sete vezes tanto, o opróbrio com que te vituperaram. Quanto a nós, teu povo e ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças; de geração em geração proclamaremos os teus louvores.”



Salmo 80

Salmo de Asafe

O teor deste salmo é o mesmo do anterior, só que aqui não se faz uma referência direta a Judá ou a Jerusalém, mas a José, a Efraim, ou seja, à porção do Norte de Israel que havia sido levada em cativeiro pelos assírios. Mas o clamor é o mesmo do salmo anterior, tanto em relação aos israelitas quanto aos seus inimigos.

“Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor. Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o teu poder e vem salvar-nos. Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando estarás indignado contra a oração do teu povo? Dás-lhe a comer pão de lágrimas e a beber copioso pranto. Constituis-nos em contendas para os nossos vizinhos, e os nossos inimigos zombam de nós a valer.  Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste. Dispuseste-lhe o terreno, ela deitou profundas raízes e encheu a terra.  Com a sombra dela os montes se cobriram, e, com os seus sarmentos, os cedros de Deus.  Estendeu ela a sua ramagem até ao mar e os seus rebentos, até ao rio. Por que lhe derribaste as cercas, de sorte que a vindimam todos os que passam pelo caminho? O javali da selva a devasta, e nela se repastam os animais que pululam no campo. Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha; protege o que a tua mão direita plantou, o sarmento que para ti fortaleceste. Está queimada, está decepada. Pereçam os nossos inimigos pela repreensão do teu rosto. Seja a tua mão sobre o povo da tua destra, sobre o filho do homem que fortaleceste para ti. E assim não nos apartaremos de ti; vivifica-nos, e invocaremos o teu nome. Restaura-nos, ó SENHOR, Deus dos Exércitos, faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.”



Salmo 81

Salmo de Asafe

O teor deste salmo é o mesmo do anterior, só que aqui não se faz uma referência direta a Judá ou a Jerusalém, mas a José, a Efraim, ou seja, à porção do Norte de Israel que havia sido levada em cativeiro pelos assírios. Mas o clamor é o mesmo do salmo anterior, tanto em relação aos israelitas quanto aos seus inimigos.

“Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor. Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o teu poder e vem salvar-nos. Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando estarás indignado contra a oração do teu povo? Dás-lhe a comer pão de lágrimas e a beber copioso pranto. Constituis-nos em contendas para os nossos vizinhos, e os nossos inimigos zombam de nós a valer.  Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste. Dispuseste-lhe o terreno, ela deitou profundas raízes e encheu a terra.  Com a sombra dela os montes se cobriram, e, com os seus sarmentos, os cedros de Deus.  Estendeu ela a sua ramagem até ao mar e os seus rebentos, até ao rio. Por que lhe derribaste as cercas, de sorte que a vindimam todos os que passam pelo caminho? O javali da selva a devasta, e nela se repastam os animais que pululam no campo. Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha; protege o que a tua mão direita plantou, o sarmento que para ti fortaleceste. Está queimada, está decepada. Pereçam os nossos inimigos pela repreensão do teu rosto. Seja a tua mão sobre o povo da tua destra, sobre o filho do homem que fortaleceste para ti. E assim não nos apartaremos de ti; vivifica-nos, e invocaremos o teu nome. Restaura-nos, ó SENHOR, Deus dos Exércitos, faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.”


Salmo 82

Salmo de Asafe

Neste salmo Deus contende com os magistrados, não somente de Israel, mas de toda a terra.
Os juízes são chamados no Velho Testamento, pela mesma palavra usada muitas vezes para designar o próprio Deus, ou seja Elohiym, que significa pluralidade de majestades ou divindades.
O Senhor lhes deu esta honra de serem assim chamados, porque lhes deu poder para julgarem entre a causa justa e injusta, e até mesmo para dispor das vidas dos malfeitores, sentenciando contra eles cerceamento de liberdade, e até mesmo decidirem sobre a cessação de suas vidas.
Daí serem chamados de deuses, porque receberam poder de libertar ou soltar, de deixar viver ou de matar.
Contudo, deveriam agir com justiça e debaixo do temor do Senhor, e regerem conforme as Suas leis santas e justas.
Mas o salmista revela que eles estavam julgando injustamente e sendo parciais para com a causa dos ímpios.
Todavia deveriam fazer justiça ao fraco e ao órfão, proceder retamente para com o aflito e o desamparado.
Socorrer o fraco e o necessitado e tirá-los das mãos dos ímpios.
Contudo, tais magistrados corrompidos nada sabiam disso, nem podiam entender tais coisas, porque vagueavam nas trevas, e por isso vacilavam os fundamentos da terra, porque não era praticada nela a justiça, e nem era defendida por aqueles que têm o dever de fazê-lo.
Por isso, apesar de chamá-los de Elohiym (deuses), o Senhor tinha uma contenda com eles, e sucumbiriam como homens que eram e são.
Em face de uma justiça terrena falha, o salmista clama para que Deus mesmo exerça juízo na terra.  


“Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento.
Até quando julgareis injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios?
Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado. Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.
Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas; vacilam todos os fundamentos da terra.
Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo.
Todavia, como homens, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de sucumbir.
Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois a ti compete a herança de todas as nações.”


Salmo 83

Salmo de Asafe

Como nos demais salmos de autoria de Asafe, neste também vemos a exaltação do nome do Senhor, em contraste com os pedidos de juízos contra os inimigos de Israel.
Este salmo expressa o sentimento de Israel neste mundo, sempre ameaçado por muitos inimigos, e sempre dependente do livramento do Senhor para não ser riscado de entre as nações, conforme é do desejo de Satanás contra os israelitas, já tendo em diversas ocasiões da história da humanidade, tentado exterminar Israel, mas a proteção do Senhor jamais desamparará o Seu povo, conforme promessa feita aos seus patriarcas, e importa que Israel permaneça como nação até a volta de Cristo, quando então serão libertados das opressões que têm sofrido, para todo o sempre.  

“Ó Deus, não te cales; não te emudeças, nem fiques inativo, ó Deus!
Os teus inimigos se alvoroçam, e os que te odeiam levantam a cabeça.
Tramam astutamente contra o teu povo e conspiram contra os teus protegidos.
Dizem: Vinde, risquemo-los de entre as nações; e não haja mais memória do nome de Israel.
Pois tramam concordemente e firmam aliança contra ti  as tendas de Edom e os ismaelitas, Moabe e os hagarenos,  Gebal, Amom e Amaleque, a Filístia como os habitantes de Tiro;  também a Assíria se alia com eles, e se constituem braço forte aos filhos de Ló.  Faze-lhes como fizeste a Midiã, como a Sísera, como a Jabim na ribeira de Quisom; os quais pereceram em En-Dor; tornaram-se adubo para a terra.
Sejam os seus nobres como Orebe e como Zeebe, e os seus príncipes, como Zeba e como Zalmuna,  que disseram: Apoderemo-nos das habitações de Deus.
Deus meu, faze-os como folhas impelidas por um redemoinho, como a palha ao léu do vento.
Como o fogo devora um bosque e a chama abrasa os montes, assim, persegue-os com a tua tempestade e amedronta-os com o teu vendaval.
Enche-lhes o rosto de ignomínia, para que busquem o teu nome, SENHOR.
Sejam envergonhados e confundidos perpetuamente; perturbem-se e pereçam.
E reconhecerão que só tu, cujo nome é SENHOR, és o Altíssimo sobre toda a terra.”



Salmo 84

Salmo dos filhos de Core

Apesar de o nome de Davi não constar no título deste salmo, é bem provável que ele tenha sido o autor do mesmo, porque nós vemos aqui o mesmo espírito que movia o grande e mavioso salmista de Israel.
Ele começa com uma declaração maravilhosa e monumental, ao se referir com o seu coração santificado e exultante, aos tabernáculos do Senhor, ou seja, às habitações do Senhor, nas quais Ele era encontrado.
Não propriamente que Deus esteja amarrado a qualquer lugar na terra, mas quando estabelece encontros com o Seu povo, em determinados locais, tanto eles, quanto o local da reunião pode ser chamado de tabernáculo, habitação, ou casa de Deus.
Para os pardais, para as andorinhas, Deus preparou ninhos como  o local de habitação deles, mas para os Seus santos, proveu os altares nos quais derramam seus corações perante Ele, e estes podem ser chamados de as moradas do espírito apropriadamente, porque é nestes encontros com o Senhor que os cristãos encontram o seu verdadeiro habitat, a saber o próprio Deus.
Daqueles que estão em comunhão espiritual com o Senhor, pode se dizer deles que estão na habitação do Senhor dos Exércitos, do Rei e Deus de suas vidas.
Estes que habitam na casa do Senhor são bem-aventurados, porque acham força espiritual na pessoa do próprio Deus, e o louvarão perpetuamente, e o Senhor faz com que os seus corações tenham caminhos retos e planos.
Estando assim ligados a Deus, quando passam pelo vale árido da tribulação, fazem com que seja transformado num manancial de bênçãos.
Eles aumentam em força porque são transformados de glória em glória, em graus cada vez maiores de semelhança com o próprio Deus em que habitam, que é uma fortaleza indestrutível.
O salmista sabia que esta condição de bem-aventurança depende de oração constante, perseverante, e por isso pedia ao Senhor para ouvir a sua oração e contemplasse o rosto do seu ungido, porque para ele, um só dia nos Seus átrios valia mais do que mil, e preferia estar ainda que fosse à porta da casa do Senhor, do que permanecer nas tendas dos perversos.
Ele sabia que Deus é como a luz e o calor do sol e um escudo impenetrável de proteção para os Seus amados que andam retamente na Sua presença.
Além disso Ele concede a estes graça e glória, sem a qual eles não podem mais viver.
Deste modo, o homem que é realmente feliz é aquele que confia de tal modo no Senhor, tal como o salmista.


“Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!
A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!
O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!
Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente.
Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados,  o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva.
Vão indo de força em força; cada um deles aparece diante de Deus em Sião.
SENHOR, Deus dos Exércitos, escuta-me a oração; presta ouvidos, ó Deus de Jacó!
Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido.
Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade.


Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente.  Ó SENHOR dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia.”


Salmo 85

Salmo dos filhos de Core

Provavelmente este salmo tenha sido escrito depois do retorno dos judeus do cativeiro em Babilônia.
Então nós temos aqui a manifestação de gratidão por Deus ter favorecido o Seu povo restaurando-o em sua própria terra, e por ter perdoado a sua iniquidade, depois de terem passado setenta anos no cativeiro.
Deus havia se desviado do ardor da Sua indignação e do furor da Sua ira, depois de tê-los corrigido numa terra estrangeira de aflição.
Todavia, foi para uma terra desolada e queimada que eles haviam retornado.
Haveria necessidade de reconstruir tudo o que havia sido destruído pelos babilônios, e havia muitos inimigos que estavam se opondo ao retorno deles, especialmente os samaritanos.
Por isso, ao mesmo tempo que orava agradecendo a Deus pela restauração, o salmista lhe pediu também que os restabelecesse completamente e que retirasse de sobre eles a Sua ira, vivificando-lhes com o regozijo da Sua presença e misericórdia, concedendo-lhes a Sua salvação.
O salmista não orava como quem duvida, porque tinha a plena certeza de que o Senhor ouviria as orações de Seu povo e que voltaria a lhes falar de paz, e preservaria os Seus santos para que não caíssem em insensatez.
Tal seria o caráter da salvação que Deus manifestaria a Israel, especialmente nos dias do Messias, que haveria um encontro da graça com a verdade; e a justiça e paz se beijariam, isto é, estariam conciliadas.
A graça de Jesus faria com que a verdade brotasse na terra, e a justiça baixaria o seu olhar desde os céus, porque muitos seriam justificados aos olhos de Deus, desde os céus, com a própria justiça de Jesus.
E o fruto desta graça e justiça seria o fruto do Espírito Santo, do qual o salmista ressaltou a bondade.
Isto sucederia porque a justiça do Senhor iria adiante dEle, e Suas pegadas formariam caminhos retos para que o Seu povo ande por ele.
Isto significa que o Senhor não trataria com o Seu povo, na base da própria justiça deles, mas com base na justiça de Seu Filho Jesus Cristo.    
Todavia, esta justiça lhes seria dada e atribuída para que vivessem na prática da justiça, a qual também seria neles implantada progressivamente pelo Espírito Santo.


“Favoreceste, SENHOR, a tua terra; restauraste a prosperidade de Jacó.
Perdoaste a iniquidade de teu povo, encobriste os seus pecados todos.
A tua indignação, reprimiste-a toda, do furor da tua ira te desviaste.
Restabelece-nos, ó Deus da nossa salvação, e retira de sobre nós a tua ira.
Estarás para sempre irado contra nós?
Prolongarás a tua ira por todas as gerações?
Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?
Mostra-nos, SENHOR, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação.
Escutarei o que Deus, o SENHOR, disser, pois falará de paz ao seu povo e aos seus santos; e que jamais caiam em insensatez.
Próxima está a sua salvação dos que o temem, para que a glória assista em nossa terra.
Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.
Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar.
Também o SENHOR dará o que é bom, e a nossa terra produzirá o seu fruto.
A justiça irá adiante dele, cujas pegadas ela transforma em caminhos.”



Salmo 86

Salmo de Davi

Davi era um homem segundo o coração de Deus porque ele conhecia todos os segredos para se chegar ao coração do Senhor, e tinha um espírito cheio das virtudes do próprio Cristo, que nele haviam sido implantadas pelo Espírito Santo.
.Nós o encontramos pedindo logo no início deste salmo, que o Senhor inclinasse os Seus ouvidos e que lhe respondesse porque se encontrava aflito e necessitado.
E logo em seguida ele afirma o motivo porque esperava ser ouvido: porque era piedoso e confiava na salvação do Senhor.
Ele misturava a piedade à fé.
Mas não era por confiar na sua própria piedade que contava ser ouvido por Deus, porque sabia que a piedade e a fé são necessárias, mas se não clamarmos, se não pedirmos, se não batermos à porta, se não buscarmos ao Senhor, nós não O encontraremos.
Precisamos saber fazer tal distinção como Davi havia aprendido a fazer.
Sabia que era necessário andar em retidão, mas sabia que não poderia ter esta retidão se não a buscasse continuamente em oração no Senhor, que é a fonte de todo o bem.
Não era confiado na sua própria justiça que ele sabia que seria ouvido por Deus, mas por saber que é  grande a Sua misericórdia, de modo que sempre Lhe pedia que se compadecesse dele.
Sua expectativa quando orava, era a de que Deus gerasse alegria espiritual em sua alma, porque é esta alegria do Espírito Santo que é a nossa força, para que possamos fazer a obra de Deus.
Davi sabia que era necessário elevar a alma na busca do Senhor para que fosse alegrado com tal alegria espiritual.
Fazia isto com total confiança porque sabia perfeitamente quão bom e misericordioso é o Senhor, e grande em benignidade para com todos os que invocam o Seu nome.
Davi não ficava esperando as coisas melhorarem por si mesmas no dia da angústia.
Ao contrário, era exatamente nestas horas que ele mais clamava a Deus buscando por livramento, e tinha plena convicção de que seria respondido, porque o Senhor sempre atendia aos seus clamores.
Davi sabia que todas as nações ainda se prostrariam diante do Senhor, porque não há quem possa realizar as obras que somente Ele pode fazer, sendo grandes as Suas maravilhas.
Não havia em Davi um coração presunçoso, porque apesar de toda a experiência que tinha nos assuntos divinos, sabia que dependia inteiramente do Senhor para que continuasse a lhe ensinar o Seu caminho e a capacitá-lo a andar na Sua verdade.
Por isso Davi sempre dava graças a Deus por tudo, e de todo o seu coração.
Os muitos inimigos de Davi nunca conseguiram prevalecer contra ele, porque grande era a misericórdia de Deus que sempre o livrava do poder da morte.
A vida é mais forte do que a morte.
E o nosso Deus é a própria vida.
Deus era o ajudador e o consolador de Davi, e o favor de Deus para com ele, sempre envergonhava aqueles que o aborreciam.              


“Inclina, SENHOR, os ouvidos e responde-me, pois estou aflito e necessitado.
Preserva a minha alma, pois eu sou piedoso; tu, ó Deus meu, salva o teu servo que em ti confia.
Compadece-te de mim, ó Senhor, pois a ti clamo de contínuo.
Alegra a alma do teu servo, porque a ti, Senhor, elevo a minha alma.
Pois tu, Senhor, és bom e compassivo; abundante em benignidade para com todos os que te invocam.
Escuta, SENHOR, a minha oração e atende à voz das minhas súplicas.
No dia da minha angústia, clamo a ti, porque me respondes.
Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor; e nada existe que se compare às tuas obras.
Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome.
Pois tu és grande e operas maravilhas; só tu és Deus!
Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome.
Dar-te-ei graças, Senhor, Deus meu, de todo o coração, e glorificarei para sempre o teu nome.
Pois grande é a tua misericórdia para comigo, e me livraste a alma do mais profundo poder da morte.
Ó Deus, os soberbos se têm levantado contra mim, e um bando de violentos atenta contra a minha vida; eles não te consideram.
Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande em misericórdia e em verdade.
Volta-te para mim e compadece-te de mim; concede a tua força ao teu servo e salva o filho da tua serva.
Mostra-me um sinal do teu favor, para que o vejam e se envergonhem os que me aborrecem; pois tu, SENHOR, me ajudas e me consolas.”


Salmo 87

Salmo dos filhos de Coré

Este salmo exalta a excelência de Jerusalém sobre todas as demais cidades de Israel, e de todas as nações, porque Deus a escolheu para estabelecê-la para sempre, para ser a fonte da Sua revelação, pela qual são gerados filhos para Ele em todas as nações.

“Fundada por ele sobre os montes santos, o SENHOR ama as portas de Sião mais do que as habitações todas de Jacó. Gloriosas coisas se têm dito de ti, ó cidade de Deus! Dentre os que me conhecem, farei menção de Raabe e da Babilônia; eis aí Filístia e Tiro com Etiópia; lá, nasceram. E com respeito a Sião se dirá: Este e aquele nasceram nela; e o próprio Altíssimo a estabelecerá. O SENHOR, ao registrar os povos, dirá: Este nasceu lá. Todos os cantores, saltando de júbilo, entoarão: Todas as minhas fontes são em ti.”


Salmo 88

Salmo dos filhos de Core

Neste salmo, o salmista chora na presença do Senhor pela condição de abatimento extremo da sua alma. Ele sofre pela ausência da comunhão com o Senhor, e pelo sentir da repreensão da Sua ira. Ele sofre porque em vez de se achar em tal condição como se estivesse morto, o seu desejo era o de louvar e exaltar o nome do Senhor. Por isso orou para que os ouvidos do Senhor atendessem ao Seu clamor e que a sua oração chegasse à Sua presença. O salmista encontrava-se solitário, porque até mesmo do consolo da presença dos seus amigos Ele havia sido privado, e considerava que isto havia sido feito pelo próprio Deus. Assim, orava para que fosse libertado de tais sentimentos e para que sua alma voltasse a achar paz e descanso no Senhor.  



“Ó SENHOR, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti. Chegue à tua presença a minha oração, inclina os ouvidos ao meu clamor. Pois a minha alma está farta de males, e a minha vida já se abeira da morte.  Sou contado com os que baixam à cova; sou como um homem sem força,  atirado entre os mortos; como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais já não te lembras; são desamparados de tuas mãos. Puseste-me na mais profunda cova, nos lugares tenebrosos, nos abismos.  Sobre mim pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas. Apartaste de mim os meus conhecidos e me fizeste objeto de abominação para com eles; estou preso e não vejo como sair.  Os meus olhos desfalecem de aflição; dia após dia, venho clamando a ti, SENHOR, e te levanto as minhas mãos.  Mostrarás tu prodígios aos mortos ou os finados se levantarão para te louvar?  Será referida a tua bondade na sepultura? A tua fidelidade, nos abismos?  Acaso, nas trevas se manifestam as tuas maravilhas? E a tua justiça, na terra do esquecimento? Mas eu, SENHOR, clamo a ti por socorro, e antemanhã já se antecipa diante de ti a minha oração.  Por que rejeitas, SENHOR, a minha alma e ocultas de mim o rosto? Ando aflito e prestes a expirar desde moço; sob o peso dos teus terrores, estou desorientado. Por sobre mim passaram as tuas iras, os teus terrores deram cabo de mim. Eles me rodeiam como água, de contínuo; a um tempo me circundam.  Para longe de mim afastaste amigo e companheiro; os meus conhecidos são trevas.”



Salmo 89

Salmo de Etã

“Cantarei para sempre as tuas misericórdias, ó SENHOR; os meus lábios proclamarão a todas as gerações a tua fidelidade.  Pois disse eu: a benignidade está fundada para sempre; a tua fidelidade, tu a confirmarás nos céus, dizendo:  Fiz aliança com o meu escolhido e jurei a Davi, meu servo:  Para sempre estabelecerei a tua posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração. Celebram os céus as tuas maravilhas, ó SENHOR, e, na assembleia dos santos, a tua fidelidade.  Pois quem nos céus é comparável ao SENHOR? Entre os seres celestiais, quem é semelhante ao SENHOR?  Deus é sobremodo tremendo na assembleia dos santos e temível sobre todos os que o rodeiam.  Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, quem é poderoso como tu és, SENHOR, com a tua fidelidade ao redor de ti?!  Dominas a fúria do mar; quando as suas ondas se levantam, tu as amainas.  Calcaste a Raabe, como um ferido de morte; com o teu poderoso braço dispersaste os teus inimigos.  Teus são os céus, tua, a terra; o mundo e a sua plenitude, tu os fundaste.  O Norte e o Sul, tu os criaste; o Tabor e o Hermom exultam em teu nome.  O teu braço é armado de poder, forte é a tua mão, e elevada, a tua destra.  Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem.  Bem-aventurado o povo que conhece os vivas de júbilo, que anda, ó SENHOR, na luz da tua presença.  Em teu nome, de contínuo se alegra e na tua justiça se exalta,  porquanto tu és a glória de sua força; no teu favor avulta o nosso poder.  Pois ao SENHOR pertence o nosso escudo, e ao Santo de Israel, o nosso rei. Outrora, falaste em visão aos teus santos e disseste: A um herói concedi o poder de socorrer; do meio do povo, exaltei um escolhido. Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi.  A minha mão será firme com ele, o meu braço o fortalecerá.  O inimigo jamais o surpreenderá, nem o há de afligir o filho da perversidade.  Esmagarei diante dele os seus adversários e ferirei os que o odeiam.  A minha fidelidade e a minha bondade o hão de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu poder. Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita, sobre os rios.  Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação.  Fa-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra. Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha aliança.  Farei durar para sempre a sua descendência; e, o seu trono, como os dias do céu. Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos,  se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos, então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniquidade.  Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade. Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram.  Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):  A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço. Tu, porém, o repudiaste e o rejeitaste; e te indignaste com o teu ungido.  Aborreceste a aliança com o teu servo; profanaste-lhe a coroa, arrojando-a para a terra. Arrasaste os seus muros todos; reduziste a ruínas as suas fortificações.  Despojam-no todos os que passam pelo caminho; e os vizinhos o escarnecem.  Exaltaste a destra dos seus adversários e deste regozijo a todos os seus inimigos.  Também viraste o fio da sua espada e não o sustentaste na batalha.  Fizeste cessar o seu esplendor e deitaste por terra o seu trono.  Abreviaste os dias da sua mocidade e o cobriste de ignomínia. Até quando, SENHOR? Esconder-te-ás para sempre? Arderá a tua ira como fogo? Lembra-te de como é breve a minha existência! Pois criarias em vão todos os filhos dos homens! Que homem há, que viva e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro? Que é feito, Senhor, das tuas benignidades de outrora, juradas a Davi por tua fidelidade? Lembra-te, Senhor, do opróbrio dos teus servos e de como trago no peito a injúria de muitos povos, com que, SENHOR, os teus inimigos têm vilipendiado, sim, vilipendiado os passos do teu ungido.  Bendito seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!”

O salmista proclama a benignidade do Senhor para com a casa de Davi, conforme a promessa que lhe fizera, ao mesmo tempo que lamenta as presentes condições do seu tabernáculo (casa) que se encontrava caído. Ele ora para que o Senhor restaurasse a casa de Davi, no entanto, isto seria feito somente a partir da manifestação de Jesus Cristo em carne, que é Aquele que carrega a promessa de restaurar tal tabernáculo caído (Amós 9.11).
“Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas ruínas, restaura-lo-ei como fora nos dias da antiguidade;” (Am 9.11).
Esta profecia fala em levantar, reparar e restaurar.
A profecia de Amós concentrou-se mais em Israel, mas também falou das assolações que viriam sobre Judá, e sabemos que estas ocorreram com o cativeiro babilônico.
Então, temos aqui uma promessa para dias distantes, quando não somente Judá seria de novo restaurada em sua terra nos dias de Zorobabel, mas quando estariam para sempre seguros com o Messias, que é aquele que restaura a casa caída de Davi, porque é desta casa segundo a carne, e é nEle que se cumprem as boas e fiéis promessas feitas a Davi e á sua casa.
A profecia se refere ao Israel de Deus unido a nosso Senhor porque a promessa afirma que quando Israel habitasse nas cidades assoladas que seriam reedificadas, plantariam vinhas e beberiam o seu vinho, e fariam pomares e lhes comeriam o fruto, e depois de plantados na sua terra, que lhes foi dada pelo Senhor, jamais seriam arrancados dela.
Quando eles retornaram de Babilônia sob Zorobabel, tornaram a ser arrancados da terra pelos romanos em 70 d. C. e para lá retornaram somente no século XX, mas ainda há muitos judeus dispersos pelo mundo, e Jerusalém ainda sofrerá uma nova assolação sob o Anticristo, quando os judeus serão perseguidos e dispersos, mas por ocasião da volta do Senhor, Ele estabelecerá o Seu reino para sempre e dará cumprimento à profecia antiga de que faria de Israel uma nação e reino sacerdotal.
A profecia aponta portanto para a volta de Jesus.
Deste modo, apesar de o Senhor ter profetizado em quase todo o livro de Amós, e no princípio deste último capítulo, que efetuaria grande destruição em Israel, no entanto, deixou registrado que isto não significava que deixaria de ser fiel à promessa que havia feito aos patriarcas de que Israel estaria perpetuamente diante dEle.
Todavia, Ele revelou quais serão estes que habitarão para sempre no tabernáculo de Davi que Ele mesmo restauraria, a saber, aqueles que fossem lavados de seus pecados, porque conforme o Senhor afirmou no verso 10, todos os pecadores do seu povo morreriam à espada, a saber, aqueles que estavam confiados que o juízo do Senhor nunca os alcançaria, e por isso permaneceriam deliberadamente na prática do pecado.
Isto serve de grande alerta para muitas pessoas que se encontram agregadas à Igreja de Cristo, mas que não fazem parte do tabernáculo (casa) de Davi, porque nunca foram purificados dos seus pecados pelo sangue de Jesus.
Seguem confiantes que pelo simples fato de se dizerem pertencentes a Cristo, que nenhum juízo lhes sobrevirá da parte de Deus, apesar de viverem na prática deliberada do pecado.
Quanto às fiéis promessas feitas da Davi e à sua casa, citadas neste salmo, estas constam de II Samuel  7, cujo comentário transcrevemos a seguir:

II SAMUEL 7

“1 Ora, estando o rei Davi em sua casa e tendo-lhe dado o Senhor descanso de todos os seus inimigos em redor,
2 disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda.
3 Respondeu Natã ao rei: Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo.
4 Mas naquela mesma noite a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:
5 Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar?
6 Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo.
7 E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?
8 Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel;
9 e fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a todos os teus inimigos diante de ti; e te farei um grande nome, como o nome dos grandes que há na terra.
10 Também designarei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei ali, para que ele habite no seu lugar, e não mais seja perturbado, e nunca mais os filhos da iniquidade o aflijam, como dantes,
11 e como desde o dia em que ordenei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti, porém, darei descanso de todos os teus inimigos. Também o Senhor te declara que ele te fará casa.
12 Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens;
15 mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16 A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.
17 Conforme todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.
18 Então entrou o rei Davi, e sentou-se perante o Senhor, e disse: Quem sou eu, Senhor Jeová, e que é a minha casa, para me teres trazido até aqui?
19 E isso ainda foi pouco aos teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da casa do teu servo para tempos distantes; e me tens mostrado gerações futuras, ó Senhor Jeová?
20 Que mais te poderá dizer Davi. pois tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.
21 Por causa da tua palavra, e segundo o teu coração, fizeste toda esta grandeza, revelando-a ao teu servo.
22 Portanto és grandioso, ó Senhor Jeová, porque ninguém há semelhante a ti, e não há Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.
23 Que outra nação na terra é semelhante a teu povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste resgatar para te ser povo, para te fazeres um nome, e para fazeres a seu favor estas grandes e terríveis coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste para ti do Egito, desterrando nações e seus deuses?
24 Assim estabeleceste o teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu Deus.
25 Agora, pois, ó Senhor Jeová, confirma para sempre a palavra que falaste acerca do teu servo e acerca da sua casa, e faze como tens falado,
26 para que seja engrandecido o teu nome para sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos é Deus sobre Israel; e a casa do teu servo será estabelecida diante de ti.
27 Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se animou a fazer-te esta oração.
28 Agora, pois, Senhor Jeová, tu és Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este bem.
29 Sê, pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a casa do teu servo será, abençoada para sempre.” (II Sm 7.1-29).

Depois de longas e sucessivas guerras com as nações inimigas de Israel, e estando subjugados os povos inimigos dos israelitas, principalmente os filisteus, Davi estava enfim desfrutando em sua vida de um período da paz que ele tanto amava (Sl 120.7).
Em sua meditação sobre a pessoa de Deus ele se sentiu constrangido por estar residindo no palácio suntuoso que Hirão, rei de Tiro, construiu para ele, enquanto a arca ainda permanecia na tenda que ele havia preparado para ela em Jerusalém.
Davi estava descansado de seus inimigos em sua casa, mas não achou descanso em sua alma porque lhe pesava esta preocupação em edificar um templo para o Senhor, e ele compartilha o peso de sua preocupação com o  profeta Natã, e este o encorajou a fazer tudo quanto estava no seu coração, porque o Senhor era com ele (v. 2,3).
Porém na noite daquele mesmo dia, Deus se manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não lhe edificaria nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar de reconhecer que havia feito bem em ter-se preocupado em honrar o seu Deus ao pensar em construir um templo para Ele (I Rs 8.18).
Natã havia portanto, incentivado Davi a construir o templo, lhe falando como um amigo, mas não da parte de Deus.
E estava enganado neste particular quanto à vontade do Senhor para Davi, que teve que ser-lhe revelada por Deus, pois Davi havia sido separado para estender e consolidar as fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior parte do  tempo do seu reinado na construção de um templo, que já estava assentado nos desígnios de Deus como sendo algo para ser levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso que ele foi citado na mesma palavra que o Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.
Além disso, Deus não havia dado nenhuma autorização ou fizera qualquer pedido, desde a saída de Israel do Egito, até então, para que fosse construído um templo, e não cabia portanto a Davi ou a qualquer outro, tomar uma iniciativa em relação a algo que o Senhor não havia ordenado.
Se Davi não estava confortado em saber que a arca permanecia habitando em tendas, Deus não estava nem um pouco desconfortável, porque qual é a habitação, por mais suntuosa que seja, que os homens possam edificar para o Senhor, que possa ser digna e estar à altura da Sua Majestade? Se o próprio céu é obra das mãos dEle, tudo o que o homem possa edificar neste mundo com ouro, prata, pedras e madeiras preciosas e nobres, será mais do que nada para Aquele que não habita em moradas fabricadas por homens, pois nem o céu dos céus pode contê-lo (II Crôn 2.6).
Mas Deus mandou dizer a Davi que o templo que ele intentava erigir seria edificado pelo seu filho (v. 13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão, quanto a Cristo, que é o descendente de Davi que está edificando a Igreja, para ser templo para a habitação de Deus no Espírito.
Deus não pode habitar naquilo que o homem edifica, mas criou o próprio homem para ser lugar da Sua habitação.
E é dito que aquele que edificaria o templo seria filho de Deus (isto se aplica a Salomão e a Jesus), e a parte da profecia que afirma que se ele viesse a transgredir, seria castigado por Ele, mas não retiraria dele a Sua misericórdia como fizera com Saul (v. 14,15) se aplica óbvia e exclusivamente a Salomão.
Isto fala da segurança da promessa feita de que o trono de Davi seria firmado, ainda que Salomão, seu filho, viesse a falhar, bem como os seus descendentes, porque o cetro permaneceria na casa de Davi, e seria firmado para sempre em Cristo, que é da sua casa.
A casa de Saul foi rejeitada por Deus e não foi confirmada.
Mas a Davi, o Senhor estava prometendo que a sua casa permaneceria no trono para sempre (v. 16).
Aqui está pois referido o caráter da aliança da graça que é feita para aqueles que participarão do reino de Cristo pela fé nEle.
Esta promessa de que serão firmados no reino, ainda que venham a transgredir, é garantida pelo próprio Deus conforme revelou a Davi através do profeta Natã.
Esta é uma aliança para sempre que o Senhor jamais revogará, porque prometeu não remover a Sua misericórdia daqueles que fazem parte da casa de Davi.
Não da casa terrena, pois esta promessa não alcançou Absalão e a outros que eram da sua casa, mas a casa espiritual, daqueles que tivessem a mesma fé dele e que fossem eleitos por Deus para a salvação.
Isto não é maravilhoso?
E temos isto confirmado nas palavras dos profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo, como por exemplo em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez 34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34; 15.16; Apo 3.7.
Com a ida de Israel para o cativeiro, o tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída (Amós 9.11), porque foi interrompida a sucessão de reis em Judá, da sua descendência, mas quando Cristo estiver reinando, o tabernáculo de Davi estará plenamente restaurado, e a promessa que Deus lhe fez estará vigorando para sempre em toda a sua plenitude.
Diante da grandiosidade da promessa que Deus lhe fizera quanto à casa que edificaria para ele, Davi se retirou da presença de Natã e foi adorar e agradecer ao Senhor diante da tenda onde se encontrava a arca (v. 18 a 29).

É importante destacar que Deus disse que edificaria tal casa a Davi para o bem de seu povo Israel (v. 8 a 11), e é com o mesmo propósito que Cristo foi exaltado com um nome que é sobre todo o nome, a saber, para dar descanso para o Seu povo.



Salmo 90

Salmo de Moisés

Neste salmo de autoria de Moisés, se declara a eternidade de Deus, de forma que pode ser o refúgio de todas as gerações.
Sendo Ele eterno e infinito, a vida do homem, na terra, aos olhos do Senhor é menos que um sopro, porque para Ele mil anos são como um único dia.
E dentre os homens em geral, mesmo os mais vigorosos,  não é comum se ultrapassar oitenta anos de idade, e quando se alcança esta idade, já se encontram enfadados e cansados.
Moisés chama portanto, a todos os homens a ponderarem esta verdade, para não consumirem os seus dias na terra de maneira não sábia, e que não seja, por conseguinte, segundo a vontade de Deus.
Os anos de existência do homem na terra foram abreviados por Ele, em razão do pecado.
Moisés conheceu bem de perto o que é o atributo da ira de Deus contra o pecado, quando teve que peregrinar com uma geração de israelitas incrédulos e rebeldes, por quarenta anos no deserto, e vendo não raras vezes, a ira do Senhor se acendendo contra os pecados deles.
Ele havia entendido que o homem não pode, de si mesmo, agradar a Deus se Ele não lhe manifestar o Seu favor e graça, para que  seja ensinado a contar (considerar devidamente) os seus dias, de modo a alcançar um coração sábio.
Mas sem o temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria, ninguém poderá ser ensinado sobre qual seja o caminho em que deve andar, porque isto é feito pela iluminação do Espírito, e não somente através da vontade divina revelada escrita, conforme esta havia sido passada a Moisés através dos mandamentos e de outras formas de revelação do Senhor.
Se Deus não dispuser o coração do homem para  que possa conhecê-lO, todo o seu conhecimento teológico será em vão, porque Deus não é um conceito, mas uma pessoa viva.
Por isso Moisés lhe rogava que se manifestasse ao Seu povo, e que tivesse misericórdia deles, saciando-os com a Sua benignidade, para que seus corações fossem movidos com louvores de júbilo, por todos os dias de suas vidas.
Moisés orou para que o número de anos em que haviam sido afligidos suportando a adversidade, debaixo da ira do Senhor, fosse o mesmo com o qual Ele alegrasse os seus corações, manifestando as Suas obras e glória aos Seus filhos.
E finalmente, orou pedindo que o Senhor derramasse sobre eles a Sua graça e confirmasse as obras das suas mãos.
 
 
“Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração.
Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus.
Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens.
Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite.
Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que floresce de madrugada;  de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca.
Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados.
Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos.
Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento.
Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos.
Quem conhece o poder da tua ira?
E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?
Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.
Volta-te, SENHOR!
Até quando?
Tem compaixão dos teus servos.
Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias.
Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade.
Aos teus servos apareçam as tuas obras, e a seus filhos, a tua glória.


Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos.”



Salmo 91

Este é um dos salmos mais conhecidos e apreciados em todo o mundo, porque fala da segurança que há para aqueles que têm habitado no esconderijo do Altíssimo, e que por conseguinte, descansam à sombra do Onipotente, de modo que Lhe declaram: “Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.”
 Estes podem descansar no Senhor porque Ele os livra do laço do passarinheiro e da peste perniciosa, ou seja tanto de pragas, quanto das armadilhas dos homens e do diabo.
E esta proteção é obtida porque se encontram abrigados no próprio Deus, qual os pintainhos da águia debaixo de suas asas.
E as asas que os protegem são a verdade em que se encontram e na qual vivem, porque esta é para eles tal como um escudo.
Espantos noturnos não podem assustar quem está abrigado de tal forma em Deus, e nem sequer perigos de morte durante o dia, quer seja na forma de agressões violentas físicas ou espirituais, ou pestes e mortandades produzidas pela maldade dos homens, porque ainda que muitos sejam atingidos ao seu redor, no entanto, a proteção do Senhor, sob a qual tal pessoa se encontra será o fator que impedirá que ela seja atingida.
Os que fizeram do Deus Altíssimo o seu refúgio e morada poderão não somente serem livrados do mal e de pragas em suas casas, como também contemplarão com os seus próprios olhos o castigo dos ímpios que se levantam contra o Senhor, no dia do grande juízo final.
Há um exército de anjos trabalhando sob as ordens de Deus, para que guardem os santos em todos os seus caminhos.
Eles podem estar certos que mesmo que o caminho seja aplanado, por ser de justiça e de verdade, no entanto, ao receberem ataques dos espíritos das trevas não tropeçarão, porque os anjos do Senhor lhes sustentarão nas suas mãos.
E o próprio cristão fiel receberá autoridade da parte de Deus para pisar a cabeça do diabo, representado neste salmo pelo leão que ruge, e pela áspide, porque se apegou ao Senhor com amor, e esta é a razão de poder contar com a Sua salvação e livramento.
Todos os que conhecem o Senhor, e que buscam refúgio nEle, andando na Sua verdade, lhe invocarão no dia da angústia, e o Senhor lhes responderá e livrará, porque nos tem feito tal promessa.
Ele será a nossa companhia na tribulação e há de nos glorificar e de nos saciar, dando-nos longevidade por nos mostrar a Sua salvação.          

“O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente  diz ao SENHOR: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.
Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa.
Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo.
Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia,  nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido.
Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios.
Pois disseste: O SENHOR é o meu refúgio.
Fizeste do Altíssimo a tua morada.
Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.
Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome.
Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livra-lo-ei e o glorificarei.
Sacia-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação.”


Salmo 92

O salmista está alegre e rendendo graças ao Senhor e cantando louvores ao Seu nome, proclamando a Sua misericórdia a cada manhã, e a Sua fidelidade a cada noite, usando instrumentos de cordas para louvá-lO.
Deus havia alegrado o seu coração com os Seus feitos e por isso ele exultava nas obras das mãos do Senhor.
E quão grandes obras são estas!
Ele estava encantado com a profundidade dos pensamentos do Senhor, que lhe haviam sido revelados em espírito.
E as coisas de Deus relativas ao Seu reino são vistas somente por aqueles que O conhecem.
O ímpio não pode conhecer isto, antes, há um juízo de destruição eterno para os que vivem na prática da iniquidade.
Deste modo, não era por coisas que havia recebido de Deus, por causa de possíveis interesses egoístas, que o salmista havia sido alegrado pelo Senhor, mas porque o próprio Deus havia se manifestado a ele e lhe dado compreensão das Suas obras de misericórdia, justiça e fidelidade.
Fortalecido pela unção do Senhor se sentia revigorado para poder enfrentar as investidas dos ímpios contra a sua alma justa.
Ele sabia que os seus inimigos, eram na verdade inimigos de Deus e da Sua verdade, e por isso seriam visitados no tempo próprio pelos Seus juízos divinos, mas quanto aos justos, tal como ele, sabia que estes florescerão como a palmeira e crescerão como o cedro do  Líbano.
Representam assim os santos que recebem o seu crescimentos e frutificação diretamente da parte de Deus.
Os justos são como tais árvores plantadas na casa do Senhor e que florescem nos Seus átrios.
E tal como o cedro e a palmeira, eles não cessarão de dar frutos espirituais para Deus, mesmo quando forem velhos, porque estarão ainda cheios da seiva e do verdor da graça de Jesus, para anunciarem que Ele é reto, e a nossa rocha e justiça.  


“Bom é render graças ao SENHOR e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo,  anunciar de manhã a tua misericórdia e, durante as noites, a tua fidelidade,  com instrumentos de dez cordas, com saltério e com a solenidade da harpa.
Pois me alegraste, SENHOR, com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos.
Quão grandes, SENHOR, são as tuas obras!
Os teus pensamentos, que profundos!
O inepto não compreende, e o estulto não percebe isto:  ainda que os ímpios brotam como a erva, e florescem todos os que praticam a iniquidade, nada obstante, serão destruídos para sempre; tu, porém, SENHOR, és o Altíssimo eternamente.
Eis que os teus inimigos, SENHOR, eis que os teus inimigos perecerão; serão dispersos todos os que praticam a iniquidade.
Porém tu exaltas o meu poder como o do boi selvagem; derramas sobre mim o óleo fresco.
Os meus olhos veem com alegria os inimigos que me espreitam, e os meus ouvidos se satisfazem em ouvir dos malfeitores que contra mim se levantam.
O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano.
Plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus.
Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o SENHOR é reto.


Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça.”



Salmo 93

Este salmo celebra o reino eterno do Senhor, e a glória da majestade deste grande Rei cujos testemunhos são fidelíssimos, e a cuja casa convém a santidade para sempre.

“Reina o SENHOR.
Revestiu-se de majestade; de poder se revestiu o SENHOR e se cingiu.
Firmou o mundo, que não vacila.
Desde a antiguidade, está firme o teu trono; tu és desde a eternidade.
Levantam os rios, ó SENHOR, levantam os rios o seu bramido; levantam os rios o seu fragor.
Mas o SENHOR nas alturas é mais poderoso do que o bramido das grandes águas, do que os poderosos vagalhões do mar.
Fidelíssimos são os teus testemunhos; à tua casa convém a santidade, SENHOR, para todo o sempre.”



Salmo 94

Este salmo, como todos os demais salmos chamados imprecatórios, ou amaldiçoadores dos ímpios, somente podem ser compreendidos quando sabemos qual foi o povo que os produziu, a saber a nação de Israel, que desde a sua formação a partir de Abraão, tem sofrido duras perseguições de todas as nações, especialmente no período do Velho Testamento, quando as sofreu no contexto de guerras constantes contra as nações vizinhas. Tal era a crueldade que eles sofreram de tais nações que isto deixou uma marca muito característica neles, que é a de sendo um povo pequeno, de recorrerem sempre a Deus para que não somente os defendesse de seus implacáveis inimigos, como também, que desse cabo deles. O Senhor havia dado aos israelitas, desde Abraão, costumes para serem guardados por eles, totalmente diferentes dos das nações pagãs, e também lhes proibiu que se misturassem com eles, para não serem contaminados por suas práticas, especialmente o que se referia à idolatria. Sendo diferentes foram e têm sido perseguidos, da mesma maneira que o mundo persegue os cristãos que sustentam um testemunho verdadeiramente fiel a Cristo.    



“Ó SENHOR, Deus das vinganças, ó Deus das vinganças, resplandece. Exalta-te, ó juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando, SENHOR, os perversos, até quando exultarão os perversos? Proferem impiedades e falam coisas duras; vangloriam-se os que praticam a iniquidade. Esmagam o teu povo, SENHOR, e oprimem a tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro e aos órfãos assassinam. E dizem: O SENHOR não o vê; nem disso faz caso o Deus de Jacó. Atendei, ó estúpidos dentre o povo; e vós, insensatos, quando sereis prudentes? O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será que não enxerga?  Porventura, quem repreende as nações não há de punir? Aquele que aos homens dá conhecimento não tem sabedoria?  O SENHOR conhece os pensamentos do homem, que são pensamentos vãos. Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei,  para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova para o ímpio. Pois o SENHOR não há de rejeitar o seu povo, nem desamparar a sua herança. Mas o juízo se converterá em justiça, e segui-la-ão todos os de coração reto.  Quem se levantará a meu favor, contra os perversos? Quem estará comigo contra os que praticam a iniquidade?  Se não fora o auxílio do SENHOR, já a minha alma estaria na região do silêncio. Quando eu digo: resvala-me o pé, a tua benignidade, SENHOR, me sustém. Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma. Pode, acaso, associar-se contigo o trono da iniquidade, o qual forja o mal, tendo uma lei por pretexto?  Ajuntam-se contra a vida do justo e condenam o sangue inocente. Mas o SENHOR é o meu baluarte e o meu Deus, o rochedo em que me abrigo. Sobre eles faz recair a sua iniquidade e pela malícia deles próprios os destruirá; o SENHOR, nosso Deus, os exterminará.”



Salmo 95

Partes deste salmo são citadas no texto de Hebreus 3.7-11; 15; 4.7. O autor de Hebreus se  valeu deste salmo para ilustrar e afirmar que a incredulidade impede a entrada no descanso do Senhor, que é Ele próprio.
Todo cristão genuíno será portanto identificado pelo fato de não endurecer o seu coração quando ouvir a voz do Senhor, pelo Espírito Santo, conforme se afirma nos versos  7 e 8 de Hb 3.
Os israelitas cujos corpos ficaram prostrados no deserto, durante a jornada de 40 anos rumo a Canaã, nos dias de Moisés, provaram que eram incrédulos, pelo comportamento deles, provocando e tentando o Senhor no deserto, colocando-o à prova por diversas vezes, para que mostrasse que Ele estava de fato no meio deles, porque consideravam que Ele estivesse ausente em razão das dificuldades que estavam enfrentando.
Por esta razão é afirmado que aqueles que são de Cristo estão identificados com os Seus sofrimentos e não duvidarão do Seu amor e bondade para com eles, por causa das aflições que experimentam neste mundo por amor ao Seu nome e ao evangelho.
Estes que se rebelam contra o Senhor por causa dos seus sofrimentos, e que vivem sempre à busca de que seja feita a sua própria vontade, segundo os seus interesses egoístas, nunca poderão conhecer os caminhos de Deus, como se afirma no verso 10, e ficam sujeitados aos Seus juízos quanto a não conhecerem o descanso que há nEle para as suas almas, como se afirma no verso 11.
Aqueles que se recusam a tomar o jugo de Jesus não podem experimentar o descanso que Ele pode e quer nos dar quando estamos sobrecarregados e cansados pelas circunstâncias difíceis desta vida, conforme sua promessa em Mt 11.28-30.
Não é dado a nenhum cristão, pela vontade de Deus, que venha a apostatar da fé, a ter um coração mau e infiel, porque Ele é digno de receber honra, glória, louvor e paciência e perseverança em todos os nossos sofrimentos por amor a Ele.
Não fazê-lo é imputar-lhe uma grande desonra, porque afirmamos por nosso comportamento infiel que Ele não é poderoso, bondoso e fiel para nos guardar e consolar.
Daí se exigir que nos exortemos mutuamente, ou seja, que nos incentivemos, todos os dias, para que não sejamos endurecidos pelo pecado. Não pela falta de poder em Deus para nos firmar, mas por causa da nossa própria fraqueza e da perversidade da natureza terrena da qual devemos nos despojar, que nos inclina a nos afastarmos do Deus vivo.
Não é portanto por causa de Deus que devemos nos exortar, porque Ele é fiel em cumprir o que tem prometido, mas por causa da nossa própria fraqueza.
Se o cristão não se permite ser exortado pela Palavra, e não dobra a sua cerviz, para reconhecer seus pecados e fraquezas, de maneira que peça humildemente ao Senhor que o fortaleça com a Sua graça, é bem certo que ele cairá da graça e da firmeza que tinha em Cristo, porque entristecerá o Espírito Santo com o seu endurecimento à verdade, e uma vez entristecido o Espírito, o Seu fogo que nos santifica, purifica e consola, se apaga, e sem este fogo não podemos viver de acordo com a vontade de Deus, e sermos os cristãos espirituais que devemos ser, para estarmos habilitados a fazer a Sua obra.
Cristãos não são pintinhos que vivem amontoados piando sem parar pedindo por alimento. Eles são filhotes de águias que aguardam pelo seu alimento com confiança, que será recebido com toda a certeza pela provisão de seus pais.
Deus não se agrada portanto daqueles que se aproximam dEle apenas com a expectativa de receberem coisas para gastarem em seus próprios interesses, mas daqueles que se dispõem a receberem crescimento dEle para que possam servi-lo.
Mas, para isto é necessário fazer o que se diz no verso 14, lembrando sempre daqueles israelitas que não entraram no repouso do Senhor por causa de um viver na incredulidade.
Faziam parte do povo de Deus mas eram incrédulos.
Não deram a devida honra e glória a Ele, por demonstrações práticas de fé em suas vidas, especialmente por obedecerem toda a Sua vontade, dispondo-se principalmente a entrarem em Canaã e lutarem para conquistar aquilo que lhes havia sido dado por promessa.
Por isso o autor de Hebreus diz no verso 14 do terceiro capítulo da referida epístola:
“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos”.
Jesus não nos chamou simplesmente para nos livrar da condenação eterna no fogo do inferno, mas para efetuarmos conquistas sobre o reino das trevas, sobretudo resgatando almas das garras do diabo.
Para isto é necessário fazer renúncias ao ego, consagrar-se a Ele, usar a armadura de Deus e lutar contra o Inimigo todos os dias, fazendo valer um testemunho valoroso de bons soldados de Cristo.
É por isso que se diz que confirmamos que somos de fato participantes da vida ressurrecta de Cristo, pelo Seu poder operante em nossas vidas, todos os dias, até o fim, e desde o início da confiança que depositamos nEle desde o dia da nossa conversão.
Para prevenir uma possível apostasia, o salmista começa esta salmo convidando o povo a cantar ao Senhor com júbilo e a celebrá-lO porque é o Rochedo da salvação do seu povo.
Ele deve ser buscado com ações de graças e louvado com salmos; porque é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses. Ele é o Criador que sustenta todas as coisas.


“Vinde, cantemos ao SENHOR, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação.
Saiamos ao seu encontro, com ações de graças, vitoriemo-lo com salmos.
Porque o SENHOR é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses.
Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe pertencem.
Dele é o mar, pois ele o fez; obra de suas mãos, os continentes.
Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou.
Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão.
Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto,  quando vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, não obstante terem visto as minhas obras.
Durante quarenta anos, estive desgostado com essa geração e disse: é povo de coração transviado, não conhece os meus caminhos.


Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso.”



Salmo 96

O salmista conclama a todos os povos que louvem ao Senhor com um cântico novo, bendizendo o Seu nome, e proclamando a Sua salvação todos os dias.
Ele os conclama profeticamente para que seja anunciada em todas as nações a glória do Senhor, e entre todos os povos as Suas maravilhas, porque isto viria a ser feito nos dias do evangelho.
Seria pouco que um Deus tão grande fosse louvado apenas em Israel, porque somente Ele é o criador de todas as coisas.
A glória e majestade que iam adiante dEle, e a Sua força e formosura, podiam ser notadas no Seu santuário.
Todas as nações e povos devem tributo de louvor ao Senhor e a glória devida ao Seu nome, cultuando-O na forma que tem estabelecido: no templo de Jerusalém no Antigo Testamento, e na Igreja na presente dispensação da graça.
Deus deve ser adorado na beleza da Sua santidade, e todos devem tremer diante dEle.
Às nações deve ser proclamado que Ele é Rei, e isto tem sido feito especialmente pela Igreja de Cristo.
Os céus e a terra se alegrarão e exultarão na presença do Senhor, porque restaurará todas as coisas na Sua vinda, para julgar o mundo, e então a criação já não mais gemerá por causa do pecado.


“Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR, todas as terras.
Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; proclamai a sua salvação, dia após dia.
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas.
Porque grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível mais que todos os deuses.
Porque todos os deuses dos povos não passam de ídolos; o SENHOR, porém, fez os céus.
Glória e majestade estão diante dele, força e formosura, no seu santuário.
Tributai ao SENHOR, ó famílias dos povos, tributai ao SENHOR glória e força.
Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios.
Adorai o SENHOR na beleza da sua santidade; tremei diante dele, todas as terras.
Dizei entre as nações: Reina o SENHOR. Ele firmou o mundo para que não se abale e julga os povos com equidade.
Alegrem-se os céus, e a terra exulte; ruja o mar e a sua plenitude.


Folgue o campo e tudo o que nele há; regozijem-se todas as árvores do bosque, na presença do SENHOR, porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade.”




Salmo 97

Este salmo é profético e prenuncia as condições reinantes por ocasião da volta de Jesus para estabelecer juízo em toda a terra.
Quando Ele estiver entronizado em Sião todas as nações, inclusive as ilhas de toda a terra se alegrarão.
Os inimigos do Senhor serão abatidos por ocasião da Sua volta,   então este Dia será de densas nuvens e trevas para eles, e um fogo consumidor que os devorará.
Naquele dia por vir haverá sinais no céu e na terra, e todos os povos verão o Senhor vindo com grande poder e glória.
Os que adoram ídolos serão confundidos.
Mas em Sião haverá grande alegria por causa da justiça do Senhor, que reinará sobre toda a terra.
Então, todos os que amam a volta do Senhor devem viver de modo santo, detestando o mal, porque é assim que serão achados dignos de estarem de pé na Sua presença, por ocasião do Seu Retorno.


“Reina o SENHOR.
Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas.
Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça e juízo são a base do seu trono.
Adiante dele vai um fogo que lhe consome os inimigos em redor.
Os seus relâmpagos alumiam o mundo; a terra os vê e estremece.
Derretem-se como cera os montes, na presença do SENHOR, na presença do Senhor de toda a terra.
Os céus anunciam a sua justiça, e todos os povos vêem a sua glória.
Sejam confundidos todos os que servem a imagens de escultura, os que se gloriam de ídolos; prostrem-se diante dele todos os deuses.
Sião ouve e se alegra, as filhas de Judá se regozijam, por causa da tua justiça, ó SENHOR.
Pois tu, SENHOR, és o Altíssimo sobre toda a terra; tu és sobremodo elevado acima de todos os deuses.
Vós que amais o SENHOR, detestai o mal; ele guarda a alma dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios.
A luz difunde-se para o justo, e a alegria, para os retos de coração.
Alegrai-vos no SENHOR, ó justos, e dai louvores ao seu santo nome.”


Salmo 98

Como os dois salmos precedentes, este também é um prenúncio do futuro reino glorioso do Messias, quando todas as nações da terra o servirão.



“Cantai ao SENHOR um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória. O SENHOR fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações. Lembrou-se da sua misericórdia e da sua fidelidade para com a casa de Israel; todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus. Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores.  Cantai com harpa louvores ao SENHOR, com harpa e voz de canto;  com trombetas e ao som de buzinas, exultai perante o SENHOR, que é rei.  Ruja o mar e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam.  Os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes, na presença do SENHOR, porque ele vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com equidade.”



Salmo 99

Como nos salmos precedentes, neste também, todas as nações da terra são conclamadas a honrarem e a louvarem o Senhor, quando Ele estiver reinando em Sião. Servos fiéis do passado que serviram ao Senhor, são aqui citados (Moisés, Arão, Samuel) porque clamavam ao Senhor e eram por Ele ouvidos. São citados para que sigamos o exemplo deles, guardando os Seus mandamentos, porque aos que temem assim ao Senhor, têm os seus pecados perdoados, tal como estes grandes servos do passado tiveram, e assim, a esperança de salvação é segura e garantirá que estejamos de pé, de modo digno diante do Senhor, quando Ele estiver reinando.


“Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra. O SENHOR é grande em Sião e sobremodo elevado acima de todos os povos.  Celebrem eles o teu nome grande e tremendo, porque é santo. És rei poderoso que ama a justiça; tu firmas a equidade, executas o juízo e a justiça em Jacó. Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo. Moisés e Arão, entre os seus sacerdotes, e, Samuel, entre os que lhe invocam o nome, clamavam ao SENHOR, e ele os ouvia. Falava-lhes na coluna de nuvem; eles guardavam os seus mandamentos e a lei que lhes tinha dado. Tu lhes respondeste, ó SENHOR, nosso Deus; foste para eles Deus perdoador, ainda que tomando vingança dos seus feitos. Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o seu santo monte, porque santo é o SENHOR, nosso Deus.”


Salmo 100

Este salmo não contém qualquer imprecação contra as nações, ao contrário convida-as a celebrarem com júbilo ao Senhor, no Seu santo templo.
Ele é típico do próprio convite do evangelho e da graça de Cristo aos pecadores em todas as nações para que se aproximem dEle e alcancem a salvação que lhes está oferecendo tão gentil e graciosamente, conforme vemos expressado nas palavras deste salmo.
A base da confiança da nossa aproximação do Senhor consiste no fato de que Ele é bom, e que a sua misericórdia e fidelidade, duram de geração a geração.

“Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico.
Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.
Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade.”



























































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